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■ INTRODUÇÃO Este artigo sumariza as evidências da mobilização precoce na unidade de terapia intensiva (UTI), focando os aspectos de segurança, as barreiras para implementação do exercício físico e os mais recentes protocolos de progressão do exercício durante a internação. A mobilização precoce é uma estratégia utilizada na UTI e está intimamente associada à redução da imobilidade, resultando, assim, na diminuição da fraqueza muscular do doente crítico. O estabelecimento dessa condição acaba por restringir a qualidade de vida dos pacientes e sua funcionalidade, e aumenta o tempo de internação na UTI e hospitalar e a mortalidade. A prescrição do exercício físico na UTI deve levar em consideração a avaliação adequada dos pacientes e o tipo de protocolo a ser utilizado. As alternativas para sua implementação são diversas e podem estar associadas a ferramentas, como eletroestimulação, cicloergômetro ativo e passivo, prancha ortostática, entre outros. Diversos fatores podem influenciar diretamente os resultados obtidos com o exercício físico, como o perfil e a gravidade dos pacientes internados e o tempo de início do protocolo de exercícios. Destaca-se que o conhecimento das principais barreiras para realização de exercícios na UTI é de extrema importância para implementação adequada dos protocolos. Associado a isso, deve-se buscar que o exercício seja realizado em quantidade adequada para o paciente crítico — nem abaixo da necessária nem acima daquela considerada segura. Em função disso, o fisioterapeuta deverá individualizar a frequência, a intensidade e a periodicidade das intervenções para alcançar os resultados esperados. VINICIUS ZACARIAS MALDANER DA SILVA BRUNO PRATA MARTINEZ LUIZ ALBERTO FORGIARINI JUNIOR PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIO FÍSICO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA 129 | P RO FIS IO | F IS IO TE RA PI A EM TE RA PI A IN TE NS IVA A DU LT O | Ci clo 8 | Vo lum e 2 | ■ OBJETIVOS Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de: ■ reconhecer as principais evidências da mobilização precoce na UTI; ■ discutir os principais aspectos de segurança para iniciar programas de exercício na UTI; ■ identificar as barreiras para implementação do exercício físico na UTI; ■ prescrever programas fisioterapêuticos com foco no exercício físico para pacientes críticos. ■ ESQUEMA CONCEITUAL Evidências da mobilização na unidade de terapia intensiva Segurança para realização do exercício físico em pacientes críticos Barreiras para realização do exercício físico em pacientes críticos Prescrição de programas fi sioterapêuticos com foco no exercício físico para pacientes críticos Considerações fi nais Caso clínico 130 PR ES CR IÇÃ O D E E XE RC ÍCI O F ÍSI CO NA UN IDA DE DE TE RA PIA IN TE NS IVA | ■ EVIDÊNCIAS DA MOBILIZAÇÃO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA As evidências relacionadas à mobilização precoce na UTI aumentaram significativamente ao longo dos anos, como demonstrado pelas duas revisões sistemáticas de autoria da fisioterapeuta australiana Katy Stiller, publicadas em 2000 e 2013.1,2 O objetivo inicial dos protocolos de mobilização precoce na UTI é principalmente minimizar os efeitos da inatividade, como perda de massa e de força muscular, além do declínio da mobilidade, em especial, em pacientes com maior risco, como aqueles em ventilação mecânica (VM).3 Após esse declínio, a equipe tem como meta a progressão dos níveis de mobilização, com foco no retorno ao estado anterior à mobilidade. Apesar de já existirem vários ensaios clínicos randomizados publicados, muitos protocolos diferem quanto à progressão dos exercícios, às técnicas utilizadas e ao tempo de início, além de a maioria dos estudos avaliar os resultados dos protocolos e não de intervenções específicas. Nos protocolos descritos na literatura, aplicados a pacientes agudos, as técnicas utilizadas nos exercícios incluem cinesioterapia, posicionamento e treino de mobilidade, com destaque para os estudos de Morris e colaboradores4 e de Schweickert e colaboradores.5 O principal resultado encontrado no estudo de Morris e colaboradores, no grupo submetido ao programa de mobilização, foi a redução do tempo de internação na UTI e hospitalar, sem associar-se a aumento de custos.4 Schweickert e colaboradores,5 identificaram retorno mais precoce à independência funcional no momento da alta hospitalar, além de menor frequência de delirium. LEMBRAR Recentemente, Schaller e colaboradores6 avaliaram pacientes com perfil cirúrgico e demonstraram que a aplicação de um algoritmo, denominado escore ótimo de mobilização, promoveu melhora na mobilidade funcional no momento da alta hospitalar, além da redução do tempo de internação nas UTIs cirúrgicas. 131 | P RO FIS IO | F IS IO TE RA PI A EM TE RA PI A IN TE NS IVA A DU LT O | Ci clo 8 | Vo lum e 2 | O escore ótimo de mobilização é baseado na capacidade de o indivíduo realizar algumas atividades de mobilização, tendo, como graduação, a seguinte escala numérica: ■ 0 (sem mobilização); ■ 1 (mobilização passiva de membros); ■ 2 (sedestação); ■ 3 (ortostase); ■ 4 (deambulação). Diferentemente, em um dos primeiros estudos realizados com pacientes críticos portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), Nava,7 em 1998, adicionaram ao protocolo de mobilização (bicicleta ergométrica: 20 minutos, 15 watts; treino de escada: 25 degraus, cinco séries; esteira ergométrica: 30 minutos, 2 vezes ao dia, por 3 semanas) o treinamento muscular inspiratório (Threshold®: TMI, 10 minutos, 2 vezes ao dia, 50% da pressão inspiratória máxima— Pimáx). Os principais achados foram a melhora no desempenho no teste de caminhada de seis minutos (TC6), melhora da Pimáx e redução do grau de dispneia, sem diferença significativa em relação ao tempo de permanência na UTI. Ao longo do tempo, alguns estudos testaram os efeitos da cicloergometria e da estimulação elétrica neuromuscular (NMES, do inglês neuromuscular electrical stimulation) em pacientes agudos, com resultados promissores. Burtin e colaboradores8 avaliaram o uso de cicloergômetro de membros inferiores (MMII) por 20 minutos ao dia associado a outras intervenções de mobilização e identificaram maior força muscular isométrica de quadríceps, melhor desempenho no TC6 e aumento no domínio estado funcional do questionário de qualidade de vida Short-Form 36 (SF-36) no grupo que utilizou essa combinação. Entretanto, não foi observada diferença significativa na força de preensão manual, no tempo de permanência na UTI e hospitalar e na mortalidade após um ano da alta hospitalar. Em relação à técnica de eletroestimulação funcional aplicada aos pacientes críticos, uma recente metanálise, publicada em 2016, descreveu efeitos positivos relacionados ao ganho de força muscular e efeitos potenciais para preservação da massa muscular e redução das limitações de atividade.9 Uma das dificuldades descritas pelo estudo para mensurar os resultados ao longo do tempo é a falta de padronização de métodos não volitivos (independentes da colaboração do paciente) para avaliação da força muscular. Entretanto, dois ensaios clínicos randomizados e uma revisão sistemática não mostraram resultados positivos, em relação à mobilização precoce de pacientes críticos. 132 PR ES CR IÇÃ O D E E XE RC ÍCI O F ÍSI CO NA UN IDA DE DE TE RA PIA IN TE NS IVA | Moss e colaboradores10 compararam um programa de assistência fisioterapêutica intensiva (realizados nos 7 dias da semana – tempo médio de mobilização de 408 minutos no total) com intervenção padrão (realizados nos 3 dias por semana – tempo médio de mobilização de 83 minutos no total) e observaram que a assistência fisioterapêutica realizada sete vezes por semana melhorava a função física após alta da UTI. Esse estudo não encontrou diferenças entre os grupos de assistência fisioterapêutica intensiva e de intervenção padrão, porém alguns fatorespodem justificar os resultados encontrados, como o efeito chão (indivíduos que têm um escore mínimo no teste realizado) do instrumento de medida utilizado, a não existência de validação do instrumento para a população estudada, além de o grupo de mobilização intensiva apresentar mais idade, ser mais fraco e com menor mobilidade, em relação aos pacientes submetidos à mobilização padrão. Outro grande estudo, envolvendo 2.083 pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) buscou comparar os efeitos da mobilização padrão/usual aos de um programa de mobilização precoce intensiva, aplicado nas primeiras 24 horas de internação. Nesse estudo, o grupo que realizou a mobilização precoce intensiva em relação ao grupo de mobilização padrão/usual apresentou menor chance de retorno à mobilidade após 3 meses do AVC.11 Uma recente metanálise, que incluiu seis ensaios clínicos randomizados, também identificou que a mobilização precoce não esteve associada à melhoria dos resultados funcionais, à qualidade de vida e ao uso de cuidados de saúde na UTI, apesar da melhora na capacidade de andar sem assistência.12 Um fator que pode ter influenciado esses resultados foram os instrumentos de avaliação funcional utilizados nos estudos (escalas de Katz e Barthel), os quais não são específicos para o ambiente de UTI. O índice de Barthel, por exemplo, não é um instrumento que apresenta elevada sensibilidade para reconhecer mudanças nos diversos domínios de independência funcional dos pacientes. Além disso, muitos instrumentos apresentam os efeitos “chão” e “teto” (indivíduos que têm um escore máximo no teste realizado), influenciando a não identificação das respostas. De forma geral, os programas de mobilização precoce, que direcionam a assistência para populações-alvo específicas, como aquelas com fraqueza adquirida e excitabilidade neuromuscular preservada, podem conseguir efeitos mais positivos com o tratamento. Além disso, o melhor momento para iniciar o programa de mobilização e a análise dose-resposta de diferentes populações de UTI deve ser investigado com instrumentos fidedignos e com propriedades diagnósticas adequadas para mensuração das respostas. 133 | P RO FIS IO | F IS IO TE RA PI A EM TE RA PI A IN TE NS IVA A DU LT O | Ci clo 8 | Vo lum e 2 | ATIVIDADES 1. Observe as alternativas a seguir sobre o objetivo inicial dos protocolos de mobilização na UTI. I — Minimizar os efeitos da inatividade. II — Minimizar o declínio de mobilidade. III — Propiciar a progressão dos níveis de mobilização. IV — Possibilitar o retorno ao estado prévio de mobilidade. Quais estão corretas? A) Apenas a I e a II. B) Apenas a II e a III. C) Apenas a II e a IV. D) Apenas a III e a IV. Resposta no final do artigo 2. Sabendo que o escore ótimo de mobilização é baseado na capacidade de o indivíduo realizar algumas atividades de mobilização, tendo como graduação uma escala numérica, correlacione as colunas. (1) Graduação 0 (2) Graduação 1 (3) Graduação 2 (4) Graduação 3 (5) Graduação 4 ( ) Sedestação ( ) Deambulação ( ) Mobilização passiva de membros ( ) Sem mobilização ( ) Ortostase Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) 5 — 2 — 1 — 4 — 3 B) 2 — 5 — 3 — 4 — 1 C) 4 — 1 — 3 — 2 — 5 D) 3 — 5 — 2 — 1 — 4 Resposta no final do artigo 134 PR ES CR IÇÃ O D E E XE RC ÍCI O F ÍSI CO NA UN IDA DE DE TE RA PIA IN TE NS IVA | 3. A técnica de eletroestimulação funcional aplicada a pacientes críticos demostrou dificuldade para mensurar os resultados em relação a qual área a seguir? A) Preservação da massa muscular. B) Avaliação da força muscular. C) Redução das limitações de atividade. D) Aumento das limitações de atividade. Resposta no final do artigo ■ SEGURANÇA PARA REALIZAÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO EM PACIENTES CRÍTICOS Os programas de assistência fisioterapêutica centrados nos protocolos de mobilização aplicados aos pacientes críticos durante a internação na UTI podem melhorar a função física e reduzir o tempo de VM e de internação na UTI. Apesar de esses benefícios serem descritos na literatura, uma frequente preocupação dos profissionais que trabalham nessas unidades é a segurança para realizar esses procedimentos, incluindo mudanças nos parâmetros fisiológicos (hipotensão, hipoxemia, etc.) ou retirada/perda de dispositivos (sondas, cateteres, tubos orotraqueais — TOTs, etc.).13 Uma recente revisão sistemática sintetizou dados de mais de 7.500 pacientes submetidos a mais de 22.000 sessões de mobilização precoce nas UTIs. Essa análise demonstrou que as sessões de mobilização e reabilitação, nessas unidades, parecem seguras, com incidência cumulativa de eventos de risco potenciais de 2,6% e consequências clínicas raras com a ocorrência de eventos adversos 0,6%.14 Hodgson e colaboradores15 desenvolveram, por meio de um consenso de especialistas, um guia prático para identificar os critérios de segurança que devem ser considerados antes de mobilizar o paciente crítico. Esse consenso utilizou um sistema de cores similar a um semáforo para ajudar os profissionais na decisão de mobilizar ou não o paciente — a cor verde significa baixo risco de eventos adversos; o amarelo identifica que a mobilização é possível, desde que seja discutida com a equipe multidisciplinar e que esta aprove a realização da mobilização; o vermelho indica alto risco de eventos adversos para mobilização precoce. 135 | P RO FIS IO | F IS IO TE RA PI A EM TE RA PI A IN TE NS IVA A DU LT O | Ci clo 8 | Vo lum e 2 | As Figuras 1 a 4, a seguir, demonstram as considerações respiratórias, cardiovasculares, neurológicas e médicas/clínicas avaliadas antes da mobilização precoce dos pacientes críticos de acordo com o sistema de cores. Considerações respiratórias Exercícios no leito Exercícios fora do leito Tubo orotraqueal Cânula endotraqueal FiO2 < 0,6 FiO2 > 0,6 SpO2 > 90% SpO2 < 90% FR < 30ipm FR > 30ipm PEEP < 10cmH20 PEEP > 10cmH2O Assincronia paciente-ventilador Posição prona Óxido nítrico Figura 1 — Considerações respiratórias avaliadas antes da mobilização precoce. FiO2 = fração inspirada de oxigênio; SpO2 = saturação periférica de oxigênio; FR = frequência respiratória; PEEP = pressão positiva expiratória final; ipm = incursões por minuto Fonte: Adaptada de Hodgson e colaboradores (2014).15 136 PR ES CR IÇÃ O D E E XE RC ÍCI O F ÍSI CO NA UN IDA DE DE TE RA PIA IN TE NS IVA | Considerações cardiovasculares Exercícios no leito Exercícios fora do leito Terapia anti-hipertensiva em emergência hipertensiva PAM abaixo do valor sugerido e causando sintomas PAM abaixo do valor sugerido com drogas vasoativas PAM maior do que o limite inferior sugerido com baixa dose de drogas PAM maior do que o limite inferior sugerido com moderada dose de drogas PAM maior do que o limite inferior sugerido com alta dose de drogas Hipertensão pulmonar grave Bradicardia aguardando colocação de marca-passo Bradicardia que não necessita de colocação de marca-passo Marca-passo transvenoso ou epicárdico ritmo dependente Marca-passo transvenoso ou epicárdico ritmo não dependente estável Taquiarritmia ventricular (FC >150bpm) Taquiarritmia ventricular (FC entre 120 e 150bpm) Taquiarritmia ventricular (FC <120bpm) Balão intra-aórtico femoral ECMO femoral ou subclávia ECMO bicaval ou em vaso central Dispositivo de assistência ventricular Cateter de Swan-Ganz Lactato ≥ 4mmol Estenose aórtica (suspeita ou já diagnosticada) Isquemia cardíaca com ou sem dor torácica típica Figura 2 — Considerações cardiovasculares antes da realização da mobilização precoce. PAM = pressão arterial média; FC = frequência cardíaca; bpm = batimentos por minuto; ECMO = oxigenação por membrana extracorpórea; mmol = milimol Fonte: Adaptada de Hodgson e colaboradores(2014).15 137 | P RO FIS IO | F IS IO TE RA PI A EM TE RA PI A IN TE NS IVA A DU LT O | Ci clo 8 | Vo lum e 2 | Consideraçõesneurológicas Exercícios no leito Exercícios fora do leito Paciente sonolento, calmo e em repouso Paciente levemente agitado ou sedado Paciente muito sedado (RASS < -2) Paciente agitado ou combativo Hipertensão intracraniana fora do valor alvo desejado Paciente com monitorização da pressão intracraniana Craniectomia Dreno lombar aberto não clampeado Dreno subgaleal Lesão da coluna sem devida fi xação Hemorragia subaracnoide com aneurisma não clampeado Vasoespasmo após clipagem de aneurisma Tonturas e síncopes não controladas Figura 3 — Considerações neurológicas antes da realização da mobilização precoce. RASS = escala de sedação e agitação de Richmond Fonte: Adaptada de Hodgson e colaboradores(2014).15 138 PR ES CR IÇÃ O D E E XE RC ÍCI O F ÍSI CO NA UN IDA DE DE TE RA PIA IN TE NS IVA | Considerações médicas e clínicas Exercícios no leito Exercícios fora do leito Fratura instável de pelve, ossos longos do membro inferior e coluna Grande ferida cirúrgica aberta Sangramento ativo não controlado Suspeita ou risco de sangramento ativo Paciente febril Fraqueza muscular adquirida na UTI Cateter femoral arterial ou venoso Cateter dialítico Outros tipos de drenos e cateteres (dreno torácico, sonda nasoenteral ou gástrica, sonda vesical, dreno intercostal, dreno de ferida extensa) Figura 4 — Considerações médicas e clínicas antes da realização da mobilização precoce. Fonte: Adaptada de Hodgson e colaboradores(2014).15 ■ BARREIRAS PARA REALIZAÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO EM PACIENTES CRÍTICOS Atualmente, na literatura, são crescentes as evidências que confirmam a segurança, a viabilidade e o benefício funcional da realização da mobilização precoce quando iniciada dentro das primeiras 48 horas de instituição da VM e mantida durante toda a internação na UTI.16,17 Apesar dos potenciais benefícios e da segurança da técnica, a realização efetiva de mobilização precoce não é amplamente realizada nas UTIs. Estudos realizados com pacientes sob VM demonstraram baixa prevalência de mobilização fora do leito.18,19 LEMBRAR São muitas as barreiras que dificultam a transposição dos achados obtidos nos estudos para a prática clínica. Uma recente revisão publicada relatou 28 barreiras para realização da mobilização precoce na UTI e, entre elas, citam-se:20 ■ relacionadas ao paciente, incluindo sintomas e condições clínicas; ■ estruturais, como recursos humanos e técnicos; ■ relacionadas à cultura da UTI, incluindo hábitos e atitudes próprias de cada instituição; ■ relacionadas ao processo, desde a falta de coordenação até a ausência de regras que determinem a distribuição de tarefas e responsabilidades. 139 | P RO FIS IO | F IS IO TE RA PI A EM TE RA PI A IN TE NS IVA A DU LT O | Ci clo 8 | Vo lum e 2 | Os autores ainda destacam que estratégias sistematizadas para modificação cultural da UTI, a fim de priorizar a mobilização precoce com abordagem multiprofissional e múltiplas estratégias, são componentes para o sucesso de sua implementação.20 A criação e a implementação de uma equipe treinada e dedicada à mobilização dos pacientes na UTI também pode ser uma alternativa para aumentar sua mobilidade e tem demonstrado ser um processo seguro e viável. Segundo Frazer e colaboradores, essa alternativa reduziu em 2,5 dias a saída dos pacientes do leito, sem eventos adversos associados, resultando em melhores desfechos clínicos e independência funcional, além de reduzir os custos hospitalares. As frequentes barreiras relatadas pelos profissionais são:20 ■ autorrisco de lesão musculoesquelética; ■ estresse físico-emocional; ■ carga horária de trabalho insuficiente. Embora as evidências demonstrem que a mobilização precoce é segura e viável para os pacientes, não há estudos que abordem a segurança da equipe, e isso pode representar uma barreira importante para realização da mobilização precoce na UTI.14 Os fatores relacionados à carência de equipamentos e de profissionais podem constituir importante barreira à mobilização precoce na UTI. Aplicam-se, nesse contexto, as diferenças culturais e regionais na formação dos “times” de mobilização precoce e no estabelecimento de protocolos. O fisioterapeuta deve ser o responsável pela prescrição do programa de mobilização, e os demais profissionais da equipe devem estar associados de forma a colaborar para execução da terapêutica. No entanto, é comum, em alguns países, o enfermeiro associar-se à execução de exercícios nos estágios iniciais de um protocolo de mobilização precoce. Nos Estados Unidos, associa-se a figura do terapeuta respiratório ao “time” responsável pelo gerenciamento da VM durante o processo.21 Um estudo realizado no Brasil demonstrou que a maioria dos exercícios era realizada pelos pacientes restritos ao leito (55%), enquanto as atividades fora do leito, como sentar e caminhar, eram bem menos realizadas (29%). Nesse estudo, os autores não conseguiram determinar se o baixo percentual de mobilização fora do leito foi consequência da sedação, da falta de cultura de mobilização pelos fisioterapeutas ou se o fator tempo foi determinante.22 A avaliação adequada e o estabelecimento do diagnóstico fisioterapêutico são primordiais para indicação e estabelecimento de possíveis critérios de contraindicação à mobilização precoce. Segundo Hickmann e colaboradores,23 existem apenas cinco contraindicações absolutas ao estabelecimento da mobilização nas primeiras 24 horas de internação na UTI, que são: ■ infarto agudo do miocárdio (IAM); ■ sangramento ativo; ■ aumento e instabilidade da pressão; ■ fraturas pélvicas instáveis; ■ interrupção do tratamento. 140 PR ES CR IÇÃ O D E E XE RC ÍCI O F ÍSI CO NA UN IDA DE DE TE RA PIA IN TE NS IVA | Os parâmetros hemodinâmicos foram raramente afetados durante a mobilização, causando interrupção em apenas 0,8% de todas as atividades, principalmente em virtude da hipotensão reversível ou da arritmia. Os autores demonstraram que a mobilização precoce é viável na grande maioria dos pacientes críticos, independentemente da necessidade de VM, elevada FiO2, fármacos vasopressores ou terapia renal substitutiva. ■ PRESCREVER DE PROGRAMAS FISIOTERAPÊUTICOS COM FOCO NO EXERCÍCIO FÍSICO PARA PACIENTES CRÍTICOS A prescrição do exercício terapêutico em UTI é extremamente desafiadora. Enquanto na literatura há um número crescente de publicações relatando o efeito do exercício físico precoce no paciente crítico, ainda não há uma clara evidência da dose-resposta dessa intervenção nesse grupo de pacientes. Um dos primeiros estudos a analisar a avaliação funcional como base para prescrição de exercício foi realizado por Denehy e colaboradores.24 Nesse ensaio clínico randomizado, a escala Physical Function for Intensive Care Unit (PFIT), avaliada no despertar do paciente, serviu como base para prescrição da sessão de fisioterapia. O protocolo de Denehy e colaboradores consistia dos seguintes critérios:24 ■ três séries de 70% do tempo máximo de marcha estacionária com a cadência encontrada durante a avaliação da escala PFIT; ■ não conseguindo permanecer em marcha estacionária, era solicitado ao paciente o treino de sentar e levantar até obter-se 15 minutos de terapia; ■ não conseguindo as duas estratégias anteriores, realizavam-se exercícios de flexão de ombro até obter-se os 15 minutos. A Tabela 1, a seguir, detalha a escala PFIT. Tabela 1 ESCALA PHYSICAL FUNCTION FOR INTENSIVE CARE UNIT Assistência Cadência Força nos ombros Força nos joelhos 0 = incapaz 0 = incapaz 0 = graus 0, 1, 2 0 = graus 0, 1, 2 1 = assistência x 2 1 ≥ 0–49 1 = grau 3 1 = grau 3 2 = assistência x 1 2 = 50–79 2 = grau 4 2 = grau 4 3 = sem assistência 3 ≥ 80 3 = grau 5 3 = grau 5 Pontuação total: 12 Fonte: Adaptada de Denehy e colaboradores (2013).24 A terapia era realizada seis vezes por semana, uma vez ao dia, com o paciente sob VM, e duas vezes ao dia, quando o desmame fosse efetivado. A progressão doexercício visava ao aumento gradual do tempo de exercício para 30 e, posteriormente, para 60 minutos. Ao se aplicar esse protocolo, os pacientes conseguiram aumentar a cadência de passos, o tempo total de marcha e o valor total da escala PFIT após a intervenção. 141 | P RO FIS IO | F IS IO TE RA PI A EM TE RA PI A IN TE NS IVA A DU LT O | Ci clo 8 | Vo lum e 2 | Outro estudo desenvolvido por Hodgson e colaboradores25 utilizou a terapia física baseada no instrumento Intensive care unit (ICU) mobility scale (IMS), recentemente traduzido e adaptado para a língua portuguesa (Quadro 1).26 Quadro 1 INTENSIVE CARE UNIT MOBILITY SCALE Classificação Definição 0 Nada (deitado no leito) O paciente é rolado passivamente ou exercitado passivamente pela equipe, mas não se movimentando ativamente 1 Sentado no leito, exercícios no leito (sem sair do leito ou sentado à beira do leito) Qualquer atividade no leito, incluindo rolar, ponte, exercícios ativos, cicloergômetro e exercícios ativos assistidos 2 Transferido passivamente para a cadeira (sem ortostatismo) Transferência para a cadeira por meio de guincho, elevador ou passante, sem ortostatismo ou sem sentar à beira do leito 3 Sentado à beira do leito O paciente pode ser auxiliado pela equipe, mas envolve sentar ativamente à beira do leito e com algum controle de tronco 4 Ortostatismo Sustentação do peso sobre os pés na posição ortostática, com ou sem ajuda. O uso de guincho ou prancha ortostática pode ser considerado 5 Transferência do leito para a cadeira Ser capaz de dar passos ou arrastar os pés na posição em pé até a cadeira. Isso envolve transferir ativamente o peso de uma perna para outra para ir até a cadeira. Se o paciente já ficou em pé com o auxílio de algum equipamento médico, ele deve andar até a cadeira (não aplicável se o paciente é levado por algum equipamento de elevação) 6 Marcha estacionária (à beira do leito) Ser capaz de realizar marcha estacionária erguendo os pés de forma alternada (deve ser capaz de caminhar, no mínimo, quatro passos, dois em cada pé), com ou sem auxílio 7 Deambular com o auxílio de duas ou mais pessoas O paciente consegue se distanciar, pelo menos, 5m do leito/cadeira com o auxílio de duas ou mais pessoas 8 Deambular com o auxílio de uma pessoa O paciente consegue se distanciar, pelo menos, 5m do leito/cadeira com o auxílio de uma pessoa 9 Deambular independente, com o auxílio de um dispositivo de marcha O paciente consegue se distanciar, pelo menos, 5m do leito/cadeira com o uso de dispositivos de marcha, mas sem o auxílio de outra pessoa. Em indivíduos cadeirantes, esse nível de atividade implica se locomover com a cadeira de rodas de forma independente por 5m para longe do leito/cadeira 10 Deambular independente, sem o auxílio de um dispositivo de marcha O paciente consegue se distanciar, pelo menos, 5m do leito/cadeira sem o uso de dispositivos de marcha ou o auxílio de outra pessoa Fonte: Kawaguchi e colaboaradores (2016).26 142 PR ES CR IÇÃ O D E E XE RC ÍCI O F ÍSI CO NA UN IDA DE DE TE RA PIA IN TE NS IVA | Caso o paciente apresentasse: ■ IMS = 0 — eram realizados apenas exercícios no leito (15 a 30 minutos); ■ IMS entre 1 e 2 — programava-se 30 minutos diários de exercícios ativos no leito pelo máximo de tempo suportado pelo paciente; ■ IMS = 3 — iniciava-se o treino de equilíbrio na posição sentado, com apoio e sem apoio, o máximo de tempo possível, por até 30 minutos diários; ■ IMS entre 4 e 6 — colocava-se o paciente em pé e mantinha-se pelo máximo de tempo possível, acompanhado de treino de sentar e levantar e equilíbrio estático (aqui o planejamento terapêutico já atinge 45 minutos); ■ IMS entre 7 e 10 — o treinamento seria composto de andar o máximo possível dentro do tempo planejado de 45 minutos. Esse protocolo reduziu o tempo para o paciente ficar em pé e aumentou o percentual daqueles que conseguiram ficar em pé durante a internação na UTI. Um recente estudo conduzido por Schaller e colaboradores6 desenvolveu uma ferramenta específica para pacientes pós-cirúrgicos, denominada Surgical ICU Optimal Mobilization Score (SOMS), a qual é dividida em cinco níveis: ■ nível 0 — o paciente não realiza atividade, provavelmente, por instabilidade vertebral, por hipertensão intracraniana ou pela possibilidade de morte nas próximas 24 horas; ■ nível 1 — mobilização passiva — caso o paciente apresente contração ativa, atenda a, pelo menos, um comando verbal e não apresente derivação ventricular externa (DVE) ou cateter de diálise contínua, passa-se para o próximo nível; ■ nível 2 — sentado — se o paciente apresenta força muscular graus 3 a 5 em MMII, controle de tronco e nenhuma restrição para descarga de peso, passa-se para o próximo nível; ■ nível 3 — em pé — ortostatismo sem assistência bilateral: passa para o último nível; ■ nível 4 — deambulação com e sem auxílio. O resultado do estudo demonstrou que a utilização da SOMS reduziu o tempo de internação e melhorou a capacidade funcional quando comparada ao grupo-controle. Outra intervenção que pode contribuir para progressão da mobilidade é a ventilação não invasiva (VNI) em pacientes crônicos agudizados. Apesar de não existir evidência forte sobre seu uso na UTI como coadjuvante para a mobilização, existe uma metanálise recente que demonstra resultados satisfatórios em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva durante o treino resistido e aeróbico.27 Dessa forma, em um paciente crônico com dispneia aos esforços na UTI, a indicação da VNI pode ser uma alternativa para que ele não fique totalmente restrito aos manuseios. 143 | P RO FIS IO | F IS IO TE RA PI A EM TE RA PI A IN TE NS IVA A DU LT O | Ci clo 8 | Vo lum e 2 | Antes de instituí-la, é importante que sejam descartadas as contraindicações para a mobilização nesse perfil de pacientes. Alguns critérios podem ser utilizados para controlar a dose/intensidade durante a prática do exercício no ambiente de UTI. Denehy e colaboradores24 estabeleceram os seguintes critérios para progressão e dose do exercício: ■ percepção subjetiva do esforço (PSE) medida pela escala modificada de Borg (0–10, em que 0 seria o mínimo esforço e 10, o máximo esforço percebido) entre 3 e 5; ■ FC entre 50 e 70% da máxima predita pela idade (FCmáx = 220 - idade) ou com valor mínimo de 40bpm e valor máximo de 140bpm; ■ PAM entre 60 e 90mmHg. Em relação ao treino de força muscular na UTI, sugere-se utilizar a carga máxima que o paciente consiga realizar entre 8 e 12 repetições de determinado exercício para os grandes grupos musculares (flexores de ombro e de cotovelo, flexores de quadril, extensores de joelho e flexor plantar), sendo essa carga gerada pelo peso corporal, pela resistência elástica ou pelos pesos livres. ATIVIDADES 4. Em relação aos critérios cardiovasculares, a mobilização precoce pode ser realizada em qual das seguintes situações? A) Isquemia cardíaca com ou sem dor torácica típica. B) Bradicardia aguardando colocação de marca-passo. C) Terapia anti-hipertensiva em emergência hipertensiva. D) Não há contraindicação absoluta para esse caso. Resposta no final do artigo 5. Entre as considerações neurológicas que impedem a saída do paciente do leito para realizar a mobilização, pode-se citar A) dreno subgaleal. B) craniectomia. C) paciente agitado ou combativo. D) paciente com cateter de pressão intracraniana. Resposta no final do artigo 144 PR ES CR IÇÃ O D E E XE RC ÍCI O F ÍSI CO NA UN IDA DE DE TE RA PIA IN TE NS IVA | 6. Assinale a alternativa correta em relação à consideração clínica que contraindica a mobilização precoce. A) Febre com temperatura > 38°C. B) Sangramento ativo não controlado. C) Cateter dialítico. D) Leucopenia acentuada. Resposta no final do artigo 7. Em relação às barreiras para implementação da mobilização precoce em pacientes críticos, analise as afirmativasa seguir. I — Os parâmetros hemodinâmicos são os principais fatores para interrupção da mobilização precoce nesses pacientes. II — O número de eventos adversos associados à mobilização precoce é baixo, independentemente da utilização de fármacos vasopressores ou de terapia renal substitutiva. III — Os fatores relacionados às condições de trabalho dos profissionais da UTI são importantes barreiras para implementar a mobilização precoce nesses pacientes. IV — O TOT ainda é uma importante barreira para a mobilização precoce, relacionada principalmente à questão cultural de não se retirar do leito pacientes nessa situação. Quais estão corretas? A) Apenas a I e a II. B) Apenas a II e a III. C) Apenas a III e a IV. D) Apenas a II, a III e a IV. Resposta no final do artigo 8. Sobre as barreiras mais frequentes relatadas pelos profissionais para a não realização da mobilização precoce, assinale a alternativa correta. A) Pouca estrutura para a mobilização e falta de verbas para investimento. B) Autorrisco de lesão musculoesquelética, não cooperação dos colegas e sedação excessiva. C) Sedação, desconhecimento da equipe para mobilizar e perfil do paciente. D) Autorrisco de lesão musculoesquelética, estresse físico-emocional e carga horária de trabalho insuficiente. Resposta no final do artigo 145 | P RO FIS IO | F IS IO TE RA PI A EM TE RA PI A IN TE NS IVA A DU LT O | Ci clo 8 | Vo lum e 2 | ■ CASO CLÍNICO Paciente do sexo feminino, 18 anos de idade, no 10º dia de internação na UTI, admitida por insuficiência respiratória aguda (IRpA), em função de pneumonia/síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). Após resolução da IRpA e posterior desmame ventilatório, foi identificada fraqueza muscular do doente crítico. A paciente evolui contactante, estável hemodinamicamente, com PA= 126x71mmHg e FC = 105bpm, sem uso de drogas vasoativas, em ventilação espontânea com oxigênio sob cateter nasal (5L/min), SpO2 = 96%, sem sinais de aumento de trabalho respiratório ao repouso, porém com dispneia aos médios esforços, Pimáx = 50% do predito, redução de força muscular global (grau III), Medical Research Council Sum Score (MRC) total = 36, com importante perda de massa muscular. Necessita de auxílio do fisioterapeuta para realizar as transferências de decúbito dorsal para lateral (auxílio leve), decúbito dorsal para sentada (auxílio moderado) e ortostase (auxílio moderado). A partir do que foi visto neste artigo e das informações descritas no caso clínico, responda às questões a seguir. ATIVIDADES 9. Qual o diagnóstico fisioterapêutico dessa paciente? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo 10. Descreva o planejamento fisioterapêutico indicado a essa paciente. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo 11. Descreva os pontos que devem ser levados em consideração para maior segurança na assistência fisioterapêutica a ser ofertada, com base no consenso de Hodgson citado ao longo do texto. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo 146 PR ES CR IÇÃ O D E E XE RC ÍCI O F ÍSI CO NA UN IDA DE DE TE RA PIA IN TE NS IVA | 12. Qual a média de tempo de atendimento a partir do provável escore IMS? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo ■ CONSIDERAÇÕES FINAIS Para a sua prática clínica, os fisioterapeutas possuem forte evidência para guiar a prática de exercício físico nos pacientes críticos. Entretanto, ainda não está bem estabelecida qual a melhor intervenção, o momento certo de início e a melhor dose de exercício para prevenir ou atenuar a fraqueza muscular adquirida na UTI. ■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 1 Resposta: A Comentário: O objetivo inicial dos protocolos de mobilização precoce na UTI é, principalmente, minimizar os efeitos da inatividade, como perda de massa e de força muscular, além do declínio da mobilidade, em especial, em pacientes com maior risco, como aqueles em VM. Após esse declínio, a equipe tem como meta a progressão dos níveis de mobilização, com foco no retorno ao estado anterior à mobilidade. Portanto, as afirmações III e IV não fazem parte do objetivo inicial dos protocolos de mobilização na UTI. Atividade 2 Resposta: D Comentário: O escore ótimo de mobilização promoveu melhora na mobilidade funcional no momento da alta hospitalar, além da redução do tempo de internação nas UTIs cirúrgicas. A graduação 0 do escore ótimo de mobilização caracteriza-se por ser sem mobilização; a graduação 1, por mobilização passiva de membros; a graduação 2, por sedestação; a graduação 3, por ortostase; e a graduação 4, por deambulação. Atividade 3 Resposta: B Comentário: Em relação à técnica de eletroestimulação funcional aplicada aos pacientes críticos, uma recente metanálise, publicada em 2016, descreveu efeitos positivos relacionados ao ganho de força muscular, além de efeitos potenciais para preservação da massa muscular e redução das limitações de atividade. Uma das dificuldades descritas pelo estudo para mensurar os resultados ao longo do tempo é a falta de padronização de métodos não volitivos (independentes da colaboração do paciente) para avaliação da força muscular. Atividade 4 Resposta: A Comentário: A isquemia cardíaca, com ou sem dor típica, permite a mobilização leve no leito, conforme as recomendações de segurança propostas por Hodgson e colaboradores. 147 | P RO FIS IO | F IS IO TE RA PI A EM TE RA PI A IN TE NS IVA A DU LT O | Ci clo 8 | Vo lum e 2 | Atividade 5 Resposta: C Comentário: O paciente agitado ou combativo apresenta contraindicação absoluta para realizar mobilização, em função do risco de lesões ou eventos adversos que possam ocorrer. Atividade 6 Resposta: B Comentário: O sangramento ativo não controlado aumenta o risco de ocorrências de eventos adversos para mobilização precoce. Atividade 7 Resposta: D Comentário: Os parâmetros hemodinâmicos foram raramente afetados durante a mobilização precoce empacientes críticos, causando interrupção em apenas 0,8% de todas as atividades, principalmente em virtude da hipotensão reversível ou da arritmia. Atividade 8 Resposta: D Comentário: Segundo Morris e colaboradores, as principais barreiras para a implementação da mobilização precoce relatadas por parte dos profissionais são autorrisco de lesão musculoesquelética, estresse físico-emocional e carga horária de trabalho insuficiente. Além disso, estudos mais recentes demonstram outras barreiras, não relacionadas ao profissional. Atividade 9 Resposta: O diagnóstico fisioterapêutico da paciente é alteração funcional respiratória (fraqueza muscular respiratória por inatividade/doença crítica) e neuromioarticular (redução de força e de massa muscular por sarcopenia secundária à fraqueza muscular do doente crítico), com limitação para transferências de decúbito dorsal para lateral, decúbito dorsal para sentada e ortostase. Atividade 10 Resposta: A proposta de planejamento terapêutico indicada para essa paciente é: manhã — treino de transferência do decúbito dorsal para sentada e cinesioterapia de MMII associada à eletroestimulação funcional; à tarde, ortostase assistida com apoio bilateral ou prancha ortostática; cinesioterapia ativa para membros superiores (MMSS). Se a dispneia limitar a mobilização, a instituição da VNI pode ser uma alternativa. Apesar de não existirem ensaios clínicos demonstrando a aplicação da VNI de forma rotineira na UTI, existem evidências do uso da VNI para melhora da dispneia e da qualidade de vida em pacientes crônicos. Deve-se avaliar, posteriormente, a necessidade de TMI. O planejamento terapêutico não é fechado, porém deve ter como objetivo tratar as alterações encontradas no diagnóstico fisioterapêutico. Atividade 11 Resposta: A paciente apresenta sinal verde para mobilização com base nas condições neurológica, hemodinâmica, respiratória e em outros fatores relatadosno texto. Entretanto, atenção deve existir em relação aos prováveis acessos periféricos presentes e às alterações hemodinâmicas e respiratórias ao longo da mobilização, já que a paciente apresenta uma reserva respiratória reduzida. Atividade 12 Resposta: O escore IMS da paciente é 4, pois ela está realizando ortostase com auxílio, sendo o tempo médio de seu atendimento de 45 minutos, segundo referências citadas neste artigo. 148 PR ES CR IÇÃ O D E E XE RC ÍCI O F ÍSI CO NA UN IDA DE DE TE RA PIA IN TE NS IVA | ■ REFERÊNCIAS 1. Stiller K. Physiotherapy in intensive care: towards an evidence-based practice. Chest. 2000 Dec;118(6):1801–13. 2. Stiller K. Physiotherapy in intensive care: an updated systematic review. Chest. 2013 Sep;144(3):825–47. 3. 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(Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 2). 150 PR ES CR IÇÃ O D E E XE RC ÍCI O F ÍSI CO NA UN IDA DE DE TE RA PIA IN TE NS IVA |
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