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ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA PORTUÁRIA E AEROPORTUÁRIA AULA 3 Prof. Leonardo Mercher 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, trataremos da gestão de portos e aeroportos, desde as operações usuais até os agentes envolvidos. Não será um conteúdo sobre operações alfandegárias, mas sim uma observação sobre os setores e os eixos da gestão – processos que impactam diretamente as questões de desembaraço de carga e outras práticas de importação e exportação. O objetivo é apresentar o cenário de funções e as variáveis, internas e externas, presentes na gestão, assim como as áreas que requerem maior atenção. Isso possibilitará a você, como futuro profissional, definir por quais áreas das operações portuárias ou aeroportuárias você mais se interessa, da logística à execução de equipamentos, ou mesmo escolher lidar com variáveis externas. CONTEXTUALIZANDO Portos e aeroportos são ambientes complexos, em que diversas atividades e operações ocorrem. Marcados por decisões difíceis, como as trade- off (quando uma decisão precisa ser tomada para beneficiar uma carga, mas isso prejudica outra), os profissionais que lidam com a gestão de operações portuárias e aeroportuárias estão sempre sob pressão. Tempo, segurança, trâmites legais e logística do translado das cargas são fatores que precisam ser geridos da melhor forma possível. É por isso que, em portos e aeroportos, não existe a figura de uma única pessoa que cuidará de todas as operações, mas sim gestores e outros funcionários e profissionais que são alocados de acordo com suas especialidades. Operações no mar, em terra e de carga nos portos ou em operações aéreas formam os grandes grupos de atividades que investigaremos nesta aula. Variáveis externas à gestão também serão identificadas para que você possa visualizar melhor todo o cenário que compõe o dia a dia de portos e dos aeroportos no Brasil e no mundo. Iniciaremos, então, com algumas das variáveis de gestão de portos e de aeroportos, seguindo pelos principais agentes presentes nesses espaços até chegarmos em uma síntese sobre as proximidades e as diferenças entre ambos. 3 TEMA 1 – GESTÃO E VARIÁVEIS IMPACTANTES NOS PORTOS A gestão de portos lida com as atividades burocráticas, financeiras, tecnológicas e estratégicas, de recursos humanos e do próprio funcionamento das operações portuárias no dia a dia. A natureza da gestão de portos pode ser de capital público (governo e empresas arrendatárias) e privado. Contudo, no fim das contas, os desafios e a organização da gestão portuária se mostram semelhantes aos portos privados e públicos. Com a empresa (pública ou privada) à frente de um porto, temos a divisão de áreas de gestão: de um lado a gestão burocrático-administrativa; de outro, a gestão de operações portuárias. No âmbito burocrático-administrativo, estamos falando de processos decisórios dos diretores, gestores e outros profissionais do corpo executivo da empresa, concentrando estratégias de melhorias, investimentos e investidores, ações no mercado e distribuição orçamentária. Já o âmbito das operações portuárias, que será o nosso foco aqui, trata da logística, do manuseio de carga, equipamentos e de passageiros, dos serviços portuários e do diálogo com órgãos fiscalizadores. As operações portuárias, em sua administração, podem também ser dividias em três eixos: operações de mar, operações de terra e operações de carga (ou do produto). As operações de mar requerem que os gestores (geralmente diretores, supervisores e operários) tenham conhecimento dos modais, dos agentes, da infraestrutura da economia marítima e dos custos. As operações terrestres requerem dos profissionais o conhecimento de como funcionam os terminais portuários e seus equipamentos, bem como das regras de segurança e de como lidar com os trabalhadores do pátio. Ainda na gestão das operações de terra, são atribuições dos gestores o cuidado com os fluxos dos modais terrestres (guindastes, empilhadeiras, esteiras etc.), dos trade-offs logísticos (escolhas de perda e ganho, como priorizar o embarque de uma carga em detrimento da outra) e da tecnologia da informação de dados para o monitoramento da carga e das atividades. Por fim, na gestão do produto, os gestores portuários, nesse eixo de atividades, precisam conhecer a infraestrutura para as cargas em seu porto e, consequentemente, os tipos de cargas a serem manejadas (granel, sólida, líquida, gasosa, radioativa, em contêiner etc.). Também precisam dominar diretrizes básicas do comércio internacional para lidar com os trâmites legais e 4 de transportes internacionais, por meio dos quais a carga será despachada ou desembaraçada (agenciamento e nacionalização da carga). É muito comum que, nesse eixo de gestão, encontrem-se os profissionais mais aptos para lidarem com os tramites legais da importação e exportação, valorização de carga (preço no mercado internacional) e armazenagem, para realizar boas escolhas em situações de trade-off. Com isso, podemos elencar as principais variáveis de gerenciamento portuário em: controle dos modais e tipos de embarcações e equipamentos necessários para carregar/descarregar as mercadorias; qualificação dos funcionários em terra e no mar; controle dos agentes envolvidos (que estudaremos mais adiante); funcionamento dos terminais (armazéns, pátio, cais e píer); controle da segurança dos funcionários e da carga; controle dos custos e das melhores escolhas em trade-off; controle dos trâmites legais, das operações do mar e em terra; e dados de informação e sistemas de comunicação para que a logística ocorra da melhor forma possível. Como variáveis externas que impactam a gestão portuária, estão: o clima, os desastres ambientais, os tsunamis, os terremotos, as pandemias, o vazamento de óleo, o naufrágio, a pirataria e os saques em alto mar; como variáveis internas, temos: greves internas e externas, acessibilidade aos terminais por vias e infraestruturas regionais (se as vias estão livres e se são capazes de permitir o escoamento da carga até o porto), fechamento de fronteiras comerciais e diplomáticas com outras nações, crises políticas, preço do combustível e outros riscos e incidentes que podem diminuir ou paralisar as atividades. Atualmente, vazamentos de óleo, água de lastro contaminada, documentos incompletos para desembarque e pirataria são os maiores incidentes que podem paralisar os modais aquaviários. Para todas elas, os gestores devem ter planos de antemão para não serem pegos de surpresa. TEMA 2 – GESTÃO E VARIÁVEIS IMPACTANTES NOS AEROPORTOS Assim como os portos, os aeroportos possuem uma gestão complexa que trata de temas da empresa concessionária, como disposição financeira, decisões estratégicas e de mercado, até a gestão de operações aeroportuárias. É da gestão de operações aeroportuárias que trataremos aqui. Nas operações aeroportuárias, existem dois eixos: as operações de passageiros e as operações de carga. Nas de passageiros, estamos falando de 5 funcionários de empresas aéreas, estacionamento, lojas, duty-free, terminais, bagagens e outros serviços. Já no eixo de operações aeroportuárias de carga, do qual trataremos aqui, temos alguns grupos de dinâmicas que requerem gestão mais especializada. Vamos começar pela gestão do aeródromo (gestão aérea e de terra), incluindo, aqui, pistas, pousos e decolagens, pátio de estacionamento, hangar e manutenção das aeronaves. Nesse setor, no Brasil, parte dos profissionais é de origem civil e parte de origem militar. Esse quadro pode mudar em outros países, mas, de modo geral, as atividades são as mesmas. Parte fica na torre de controle e nos radares e parte fica na pista orientando manobras das aeronaves. A gestão dessas operações se volta para a aeronave. Ainda na gestão em terra, temos: as operações de logísticas dacarga, como o recebimento da carga no aeroporto, sua fiscalização, acomodação para embarque e gestão dos armazéns; o transporte da carga em terra até a aeronave; operações no pátio (carga e descarga da mercadoria nas aeronaves); gestão dos equipamentos de carga, como loader, e os de fiscalização, como os raios-x e detectores de radioatividade; e outros trâmites legais. Por fim, temos as operações de carga, que, assim como nos portos, tratam da tipificação da carga e seu armazenamento (sólida, líquida, contêineres, bagagens etc.), trâmites de segurança e os legais, para desembaraço da mercadoria. A logística deve ser gerida de forma integrada, tanto nas operações de carga e nas de terra quanto nas aéreas – todas as etapas devem ser claras e integrar um banco de dados que otimize os processos de despacho/liberação da carga. Como já mencionamos, os trâmites em aeroportos quase sempre exigem alta velocidade dos embarques, visto que o modal aéreo possui a velocidade de entrega da carga ao seu destino final como um de seus grandes diferenciais se comparado ao modal marítimo. Contudo, mesmo nessa correria, a fiscalização da carga é muito importante e o gestor de carga tem a responsabilidade de conhecer os agentes envolvidos (dos quais trataremos mais adiante), bem como dos crimes e das seguranças ambientais, sanitárias e de segurança às aeronaves. Por exemplo, conhecer que cargas explosivas dificilmente podem embarcar é de responsabilidade do cliente, mas também dos gestores de carga, pois estes devem informar às transportadoras as regras vigentes – internacionais e nacionais – daquele aeroporto. Crimes de desvio de cargas e roubos devem 6 ser monitorados com maior intensidade, haja vista que os serviços de postagem aérea e de carga, muitas vezes, tratam de materiais de alto valor. Dificilmente um conjunto de joias irá para outro país dentro de um contêiner de navio, mas facilmente pode ser enviado por via aérea e chegar rapidamente ao seu destinatário. É por isso que as polícias (civil, militar e federal) se fazem presentes nos aeroportos. Contudo, a segurança da carga, em primeiro nível, deve ser de responsabilidade das empresas transportadoras e dos funcionários e gestores do aeroporto. Além de gerir a segurança e o transporte da carga, as operações aeroportuárias de carga também lidam com as companhias aéreas e os protocolos de importação e exportação. Por isso, os gestores de carga precisam conhecer os trâmites da parametrização, as declarações nos sistemas comerciais do governo (Siscomex e Siscoserv), bem como lidar com despachantes aduaneiros de um lado e fiscais federais aduaneiros do outro. O trade-off também pode ocorrer nas decisões de gestão dos aeroportos, ou seja, a escolha entre o embarque de uma carga em detrimento de outra que terá que ser entregue posteriormente e, consequentemente, haverá atraso no seu recebimento final. Todas as escolhas difíceis que tomamos nos portos também tomamos na gestão de um aeroporto ou da carga em suas vias. Enquanto variáveis externas, há o clima, o tráfego aéreo, a infraestrutura de transportes por terra (acesso ao aeroporto por estradas e outras vias), o custo do combustível (pautado por variação internacional), os fechamentos de espaços aéreos em alguns países por crises políticas ou ambientais, a greve de funcionários do aeroporto ou de outros segmentos da sociedade, como de motoristas de caminhão, bem como outros acontecimentos que interferem no funcionamento pleno desse modal. Para todos esses acontecimentos, os gestores devem ter estratégias claras de ação já predefinidas. Assim, quando ocorrerem, todos já saberão o que fazer. TEMA 3 – ATORES ENVOLVIDOS NA GESTÃO PORTUÁRIA Quando mencionamos que os gestores e os profissionais portuários precisam saber lidar com os demais agentes e órgãos é porque, sem um bom convívio e uma boa relação, todas as atividades de carga e do porto podem ser comprometidas. Conhecer os trâmites legais das cargas e quais agentes são responsáveis por cada atividade é algo que o mercado demanda em sua atuação 7 profissional. Cada porto no mundo possui agentes distintos e, dada a grande diversidade mundial, vamos focar nos portos brasileiros para que possamos ter uma percepção média do que ocorre também em outras partes do mundo. Como autarquias, ou seja, autoridades sobre atividades portuárias, encontramos a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e a Marinha do Brasil. A Antaq tem sede em Brasília (governo federal), e suas principais funções são: orientações quanto às práticas portuárias; orientações de serviços, como certificados de liberação de carga prescrita e notificações eletrônicas de atos processuais; integração de sistemas de dados portuários; emissão de relatórios sobre portos no Brasil; participação pública em debates políticos e jurídicos da área; entre outras. Já a Marinha do Brasil, como autoridade de segurança nacional, cuida de toda a costa brasileira e, consequentemente, acaba por dialogar com portos comerciais e orientar regras e procedimentos às embarcações da marinha mercante. De modo geral, tanto a Antaq quanto a Marinha se colocam como agentes de orientação e diálogo com as práticas portuárias no Brasil. Além dessas duas, existem as instituições representativas, como a Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), os sindicatos dos operadores portuários estaduais e a Federação Nacional dos Operadores Portuários (Fenop). Essas instituições debatem o presente e o futuro das atividades portuárias de forma mais estrutural, o que também interfere diretamente as atividades do dia a dia. Uma paralização dos operadores portuários sob orientação dos sindicatos ou da Fenop por direitos trabalhistas desrespeitados gera uma variável que intervém no funcionamento do modal. Já nos trâmites de averiguação, fiscalização, segurança e combate a crimes, estão a Receita Federal, a Guarda Portuária e as demais polícias, com destaque para a Polícia Federal. Esses agentes podem averiguar a carga, exigir os processos de declarações e recolhimento de taxas e outras medidas para liberarem/desembaraçarem carga, passageiros e tripulação. Os espaços e as atividades alfandegadas dispõem, por exemplo, de função direta dos funcionários da Receita Federal sobre importação e exportação. 8 Figura 1 – Receita Federal apreendendo carga Crédito: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo/Folhapress. Outros órgãos, como o Ministério da Agricultura, e os fiscais sanitários, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), também estão presentes nos portos cujas cargas possuem obrigatoriedades em lei de serem avaliadas ou terem declarações de origem, qualidade e de risco pelos órgãos competentes. Para além dos órgãos e instituições, temos as empresas transportadoras e de logística, que oferecem serviços e monitoram as cargas de seus clientes, bem como as seguradoras e, em alguns casos, as organizações sociais, que monitoram impactos ambientais e trabalhistas dentro e nas proximidades da zona portuária. Todos esses agentes e muitos outros compõem o cenário de funcionamento de um porto no Brasil. Em outros países, muitos portos possuem 9 instituições semelhantes à nossa Receita Federal e à Marinha, bem como uma polícia ou um departamento governamental que fiscalizam e mantêm a segurança do espaço para que crimes como o narcotráfico e ambientais não ocorram. A própria Organização Marítima Internacional (fundada em 1948), como agência especializada das Nações Unidas, pode fazer vistorias pontuais ou ter representações fixadas por determinado tempo em portos ao redor do mundo, contribuindo para o combate a práticas discriminatórias e desleais por parte das empresas de navegação. TEMA 4 – ATORES ENVOLVIDOS NA GESTÃO AEROPORTUÁRIA Em aeroportos do Brasil e do mundo,existem diversos departamentos públicos e agências de fiscalização para analisar o que entra e o que sai. Aqui no Brasil, a gestão de operações conta com uma diversidade de funcionários e profissionais que lidam com cargas e passageiros. Esses profissionais, incluindo futuramente você, precisam estar cientes da presença de alguns atores importantes. Começamos com a Aeronáutica do Brasil, visto que o espaço aéreo brasileiro também faz parte da soberania nacional, assim como de qualquer outra nação. A Aeronáutica possui historicamente seus integrantes responsáveis especialmente pelo tráfego aéreo e pela segurança das rotas. É comum observarmos militares da Aeronáutica em diversos espaços de um aeroporto civil. Nesse sentido, a Aeronáutica cuida da segurança nacional aeroespacial e, por isso, mantém atividades e diálogos diretamente com as administradoras e demais operações em aeroportos. No entanto, no âmbito civil, desde 2005, existe a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que substituiu o Departamento de Aviação Civil (DAC). A Anac busca orientar as atividades públicas e privadas da aviação e se coloca como agente governamental que incentiva a modernização e os debates sobre o tema junto à sociedade civil. Como instituição de orientação e diálogo, a Agência tem presença confirmada em muitos aeroportos do país. Contudo, ao nos aproximarmos ainda mais das operações de cargas, encontramos, assim como nos portos, a Receita Federal e as Polícias Federal, Civil e Militar – as duas últimas por questões de segurança e possíveis crimes e investigações dos indivíduos. Já a Receita Federal e a Polícia Federal estão ali para fiscalizar as cargas, cuidar dos trâmites documentais e coibir crimes 10 nacionais e internacionais, como tráfico de drogas, de pessoas e de animais silvestres. Mais precisamente, a Receita Federal cuida das operações alfandegárias de importação e exportação – mas lembre-se: os trâmites de parametrização e desembaraço/liberação de mercadorias no Brasil devem iniciar com as declarações virtuais e com o recolhimento das guias de impostos e contribuições pagas. Não basta chegar com sua carga e tentar resolver tudo no espaço do aeroporto para exportação; isso poderá lhe causar muitos transtornos. Existem, ainda, órgãos fazendários governamentais, como as do Ministério da Agricultura (Anvisa e demais fiscalizações sanitárias), ambientais e de segurança. Também existem os institutos de estudos do clima e de meteorologia, órgãos de proteção ao consumidor, órgãos estaduais e municipais, representações de empresas de aviação, empresas transportadoras, distribuidoras de combustíveis, como a BR Distribuidora, Correios e outras empresas de malotes e courier. No caso das operadoras aéreas, é a Anac que busca orientar suas práticas e responsabilidades em compasso com a jurisdição brasileira e com as convenções internacionais. Funcionários da administradora do aeroporto, bem como terceirizados e as companhias aéreas de carga e de taxi aéreo, acabam criando redes de diálogos por sistemas de comunicação interna, como redes de intranet, radiocomunicadores e outros dispositivos. Por isso, em cada aeroporto do mundo, os atores relevantes variam, assim como as ferramentas de comunicação e de fiscalização. Uma dúvida frequente entre os profissionais em formação é: aeroportos privados possuem órgãos públicos? A resposta é sim. A Anac, a Receita Federal, as demais polícias e órgãos necessários para controle de carga também se fazem presentes em aeroportos internacionais de administração privada. O que pode ocorrer é que, em pequenos aeroportos privados, sem caráter internacional, alguns dos órgãos não se façam presentes, mas o registro de sua existência e os meios de comunicação devem estar livres para a vistoria das instituições governamentais competentes. Ao lidar com importação e exportação por via aérea no Brasil, deve-se seguir sempre as orientações da Anac e da Receita Federal para operações de cargas, a fim de iniciar as atividades de forma correta. 11 TEMA 5 – CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DOS TIPOS DE GESTÃO PORTUÁRIA E AEROPORTUÁRIA Vimos, nesta aula, que portos e aeroportos, mais uma vez, possuem características semelhantes e distintas. No âmbito da gestão portuária, o grande volume de carga determina a forma como as operações em terra e mar ocorrem. Já no caso dos aeroportos, apesar de geralmente possuírem menor volume de carga, o fluxo de carga e descarga é muito mais intenso e rápido, o que também impacta as operações e a gestão em terra e no controle do tráfego aéreo. Tanto a Receita Federal como a Polícia Federal estão presentes como atores importantes das atividades. Contudo, a instância de orientação do governo e a regulação das atividades nos portos são de responsabilidade da Antaq; enquanto, nos aeroportos, são da Anac. Nos portos e aeroportos, também temos a presença das Forças Armadas do Brasil, como a Marinha e a Aeronáutica, respectivamente, cuidando da segurança nacional. Além dos órgãos governamentais, temos as empresas de transportes, de logística de cargas, para importação e exportação e outras movimentações, e as distribuidoras. Com isso, podemos apontar outras características de gestão dos portos e aeroportos: a inovação e a modernização. A inovação pode ser confundida com a modernização, mas são conceitos distintos. Enquanto a inovação significa criar algo novo, especialmente soluções para desafios; a modernização significa adotar novos meios de operações, como adquirir máquinas, softwares e treinamentos de funcionários para otimizar os resultados. Isso é importante para a gestão, pois cabe aos gestores e funcionários apontarem desafios e, em conjunto, buscarem inovações de práticas para solucioná-los ou minimizar seus efeitos. Um exemplo de solução por inovação foi o aceite jurídico das retroáreas ou retroportos no Brasil, o que facilitou a logística de carga em processos alfandegários mesmo fora do porto tradicional. Já na modernização, é preciso criar meios de incentivar a pesquisa científica e profissional no espaço portuário/aeroportuário, bem como se conectar com os avanços tecnológicos ao redor do mundo. Atualmente, a maioria dos portos e aeroportos no Brasil e no mundo já passou pelos processos de informatização dos dados em sistemas virtuais. Muitos também compartilham seus dados com outros portos/aeroportos no mundo e com órgãos nacionais. 12 Contudo, a tecnologia avança de forma rápida, e esses espaços precisam sempre ter uma gestão financeira e tecnológica capaz de seguir o ritmo do desenvolvimento do resto do mundo. Caso contrário, o porto/aeroporto pode ficar com equipamentos e atividades defasados, o que acaba afastando clientes e aumentando a ociosidade comercial do estabelecimento. A competitividade em mercados livres é um ponto a ser pensado pelos gestores e funcionários. TROCANDO IDEIAS Chegou o momento de reflexão sobre o conteúdo. Por isso, selecionamos dois artigos para você ler e, se possível, debater sobre o tema com seus colegas e profissionais da área. O intuito das leituras é fomentar sua percepção crítica e analítica sobre o tema. O primeiro artigo, de Lourenço e Asmus (2015), intitulado “Gestão ambiental portuária: fragilidades, desafios e potencialidades no porto do Rio Grande, RS, Brasil”, traz a experiência da gestão ambiental sobre uma variável externa que interfere nas atividades do porto. O artigo está disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/pdf/rgci/v15n2/v15n2a07.pdf>. O segundo, de Pessoa et al. (2020), intitulado “Cargas de trabalho na saúde do controlador de tráfego aéreo”, traz um pouco do dia a dia dos profissionais que trabalham em aeroportos e lidam com o tráfego aéreo, hoje com sérios problemas de gargalo logístico na capacidade de pouso e decolagem das aeronaves. O artigo estádisponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpot/v20n1/v20n1a06.pdf>. Ambos os artigos ajudarão você a pensar a relação entre o trabalho e o trabalhador nesses modais. Tente refletir sobre os pontos críticos para que, no futuro, você possa lidar bem com os desafios apresentados. NA PRÁTICA Como atividade prática para fixar o conhecimento sobre o tema, busque ler ou assistir a algumas entrevistas – na televisão, no Youtube, em blogs ou outras mídias – que tragam informações e relatos de profissionais que atuam em portos ou aeroportos, nacionais ou estrangeiros, e desenvolva sua percepção sobre os impactos das operações e das atividades diárias da profissão. Para melhor organizar a prática, siga os passos a seguir: 13 • Busque em uma mídia entrevistas de profissionais de portos ou aeroportos; pode ser apenas uma entrevista, mas é preciso que ela tenha relatos profissionais de atuação no dia a dia. • Esse profissional pode atuar em qualquer área do porto ou aeroporto; recomendamos que defina sua busca pelas áreas que você mais se interessa. • Faça um resumo das principais ideias, reclamações, elogios e sentimentos (positivos ou negativos) do profissional. • Com essas informações, busque traçar um comparativo com o que você acredita que é positivo e negativo caso viesse a assumir o trabalho do profissional em questão. • Se possível, compartilhe o relato com seus colegas, tendo em mente que o objetivo é refletir sobre as práticas portuárias/aeroportuárias junto a você enquanto futuro profissional. FINALIZANDO Nesta aula, vimos os principais pontos de gestão, tanto internos como externos, de portos e aeroportos, especialmente no que tange às operações e seus segmentos de atividades. Apresentamos, ainda, uma série de atores que se fazem presentes nos espaços portuários e aeroportuários do Brasil, reforçando que, em cada nação, apesar de os atores mudarem, segue-se mais ou menos o mesmo padrão: fiscais, empresas de serviços, representações governamentais e de segurança. Além disso, estudamos as semelhanças e as diferenças na gestão de portos e aeroportos, bem como desafios de gestão a fatos e acontecimentos externos, como preço de combustível e intempéries climáticas. Uma série de fatores e acontecimentos interfere no dia a dia dos portos e aeroportos no Brasil e no mundo. Com isso, é possível entender com clareza os setores de atividades e operações, como também criar estratégias de gestão eficiente quando você for trabalhar em algum desses ambientes. O tema é complexo, e nem tudo cabe aqui. Por isso, aconselhamos que você busque maiores informações em sites oficiais do governo, de empresas administrativas e concessionárias de portos e aeroportos de sua região. 14 REFERÊNCIAS LOURENÇO, A. V.; ASMUS, M. L. Gestão Ambiental Portuária: fragilidades, desafios e potencialidades no porto do Rio Grande, RS, Brasil. Revista de Gestão Costeira Integrada, Lisboa, v. 15. N. 2, p. 225-235, 2015. Disponível em: < http://www.scielo.mec.pt/pdf/rgci/v15n2/v15n2a07.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2020. PESSOA, Y. S. R. Q. et al. Cargas de Trabalho na Saúde do Controlador de Tráfego Aéreo. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, Brasília, v. 20, n. 1, p. 899-905, 2020. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpot/v20n1/v20n1a06.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2020.
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