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Autoras: Profa. Juliane Gomes de Almeida Lucareli Profa. Vanessa Vieira Pereira Colaboradores: Prof. Cristiano Schiavinato Baldan Profa. Kelly Cristina Sanches Fisioterapia Geriátrica e Gerontológica Professoras conteudistas: Juliane Gomes de Almeida Lucareli / Vanessa Vieira Pereira Juliane Gomes de Almeida Lucareli Graduada em Fisioterapia pela Universidade Paulista (2001). Especialista em Fisioterapia Neurológica pela Universidade Metodista de São Paulo (2002). Mestre em Ciências da Reabilitação Neuromotora pela Universidade Bandeirante de São Paulo (2005). Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Paulista desde 2005. Vanessa Vieira Pereira Fisioterapeuta pela Universidade de Santo Amaro (2000), com especialização/aprimoramento em Atendimento Multidisciplinar em Geriatria e Gerontologia (2002). Mestre em Ciências da Saúde pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (2012). Aperfeiçoamento em Hidroterapia no National Institute of Allied Health Professions, Holanda (1999). Coordenadora da Especialização em Fisioterapia Gerontológica do Instituto Imparare/Universidade Paulista desde 2017. Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Paulista desde 2013. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) L932f Lucareli, Juliane Gomes de Almeida. Fisioterapia Geriátrica e Gerontológica / Juliane Gomes de Almeida Lucareli, Vanessa Vieira Pereira. – São Paulo: Editora Sol, 2023. 132 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Envelhecimento. 2. Doença. 3. Avaliação. I. Lucareli, Juliane Gomes de Almeida. II. Pereira, Vanessa Vieira. III. Título. CDU 615.8-053.9 U518.48 – 23 Profa. Sandra Miessa Reitora Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração e Finanças Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora das Unidades Universitárias Profa. Silvia Gomes Miessa Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal Profa. Laura Ancona Lee Vice-Reitora de Relações Internacionais Prof. Marcus Vinícius Mathias Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária UNIP EaD Profa. Elisabete Brihy Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. M. Deise Alcantara Carreiro Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Ricardo Duarte Bruna Baldez Fisioterapia Geriátrica e Gerontológica APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 PRINCIPAIS CONCEITOS EM GERIATRIA E GERONTOLOGIA ..............................................................9 1.1 Envelhecimento .................................................................................................................................... 10 1.1.1 Senescência ............................................................................................................................................... 10 1.1.2 Senilidade ....................................................................................................................................................11 1.2 Considerações gerais sobre o envelhecimento......................................................................... 11 2 ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO ............................................................................... 17 2.1 Composição e forma do corpo ....................................................................................................... 17 2.2 Envelhecimento do sistema tegumentar .................................................................................... 17 2.3 Envelhecimento do sistema ósseo................................................................................................. 18 2.4 Envelhecimento do sistema articular ........................................................................................... 19 2.5 Envelhecimento do sistema muscular ......................................................................................... 20 2.6 Envelhecimento do sistema cardiovascular .............................................................................. 21 2.7 Envelhecimento do sistema respiratório .................................................................................... 22 2.8 Envelhecimento do sistema nervoso ............................................................................................ 23 2.9 Envelhecimento do sistema geniturinário ................................................................................. 24 2.10 Envelhecimento do sistema imunológico ................................................................................ 25 3 ALTERAÇÕES POSTURAIS E MARCHA DA PESSOA IDOSA ............................................................... 25 3.1 Alterações posturais ............................................................................................................................ 25 3.2 Marcha da pessoa idosa .................................................................................................................... 26 4 MANIFESTAÇÕES CINESIOPATOLÓGICAS, NEUROMUSCULARES E NEUROLÓGICAS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E INTERVENÇÕES TERAPÊUTICAS ..................................... 29 4.1 Envelhecimento musculoesquelético e alterações venosas................................................ 29 4.1.1 Fraqueza muscular ................................................................................................................................. 29 4.1.2 Síndrome da fragilidade ....................................................................................................................... 30 4.1.3 Síndrome do imobilismo ...................................................................................................................... 32 4.1.4 Osteoporose .............................................................................................................................................. 33 4.1.5 Osteoartrite ............................................................................................................................................... 36 4.1.6 Trombose venosa profunda ................................................................................................................ 37 4.1.7 Insuficiência venosa crônica e úlcera varicosa ........................................................................... 40 4.1.8 Erisipela ....................................................................................................................................................... 41 4.2 Demência ................................................................................................................................................. 42 4.2.1 Doença de Alzheimer ............................................................................................................................ 45 Sumário 4.2.2 Demência vascular .................................................................................................................................48 4.2.3 Demência frontotemporal ou de Pick ............................................................................................ 50 4.2.4 Demência por corpúsculos de Lewy ................................................................................................ 51 4.2.5 Demência associada à doença de Parkinson ............................................................................... 52 4.2.6 Abordagem diagnóstica das demências ........................................................................................ 53 4.2.7 Tratamento das demências ................................................................................................................. 56 Unidade II 5 CAPACIDADE FUNCIONAL DA PESSOA IDOSA E AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA ................. 63 5.1 Capacidade funcional ......................................................................................................................... 63 5.2 Instrumentos de avaliação ............................................................................................................... 66 5.2.1 Índice de Katz ........................................................................................................................................... 66 5.2.2 Brazilian OARS Multidimensional Functional Assessment Questionnaire ....................... 67 5.2.3 Medida de Independência Funcional .............................................................................................. 68 5.2.4 Atividades Instrumentais da Vida Diária ....................................................................................... 70 5.3 Processo de avaliação e tratamento fisioterapêutico ........................................................... 72 6 EQUILÍBRIO, QUEDAS E ADAPTAÇÕES AMBIENTAIS .......................................................................... 73 6.1 Definições ................................................................................................................................................ 73 6.2 Avaliações funcionais de equilíbrio e risco de queda ............................................................ 79 6.2.1 Escala de Equilíbrio de Berg ............................................................................................................... 80 6.2.2 Índice de Marcha Dinâmica ................................................................................................................ 87 6.2.3 Timed Up and Go Test ........................................................................................................................... 91 6.2.4 Teste Clínico para Interação Sensorial no Equilíbrio ................................................................ 92 6.3 Prevenção de quedas: atuação da equipe interdisciplinar .................................................. 93 7 CUIDADOS PALIATIVOS ...............................................................................................................................103 7.1 Princípios dos cuidados paliativos ..............................................................................................103 7.2 O fisioterapeuta na equipe de cuidados paliativos ..............................................................106 8 ENVELHECIMENTO ATIVO ...........................................................................................................................107 8.1 Atendimento em grupo terapêutico ..........................................................................................111 7 APRESENTAÇÃO Esta disciplina busca mostrar de que modo o processo de envelhecimento fisiológico e patológico pode influenciar na capacidade funcional e na qualidade de vida da pessoa idosa. Os objetivos específicos são: • fornecer subsídios teóricos e práticos para que o aluno considere o processo de envelhecimento nas dimensões biológicas, psicológicas e socioculturais; • discutir as propostas fisioterapêuticas em face do envelhecimento; • estudar as alterações funcionais do processo de envelhecimento, além das intervenções fisioterapêuticas nas principais síndromes geriátricas; • abordar as modalidades de assistência à pessoa idosa. Neste livro-texto, o aluno vai estudar o processo de envelhecimento num contexto biológico, psicológico e social, sendo instrumentalizado para usar recursos fisioterapêuticos que reabilitem a pessoa idosa e potencializem suas habilidades motoras. INTRODUÇÃO Nesta disciplina, veremos o processo fisiológico e patológico do envelhecimento, que acontece em todos os órgãos e sistemas do corpo e tem início em diferentes fases da vida. Serão discutidos conceitos importantes para compreender esse processo e, em seguida, aspectos epidemiológicos presentes no envelhecimento. Após um panorama geral sobre o envelhecimento em diferentes lugares do mundo e a comparação entre homens e mulheres, abordaremos o processo fisiológico do envelhecimento de forma mais específica nos sistemas tegumentar, ósseo, articular, muscular, cardiovascular, respiratório, nervoso, geniturinário e imunológico. Na sequência, estudaremos o processo patológico, considerando algumas afecções mais frequentes na pessoa idosa, como as alterações posturais e de marcha, determinantes para compreender o processo de envelhecimento no paciente idoso e as respectivas abordagens fisioterapêuticas. Trataremos ainda das alterações cognitivas, que com frequência compõem o quadro clínico das demências. Veremos a importância do diagnóstico diferencial entre demência e depressão, e demência e delirium. A demência mais comum é a doença de Alzheimer, sendo 50% mais frequente que as demais, seguida pela demência de origem vascular, a demência por corpúsculos de Lewy, a demência frontotemporal ou de Pick e a demência associada à doença de Parkinson. Discutiremos o diagnóstico e o tratamento nas demências. Em seguida, discorreremos sobre a capacidade funcional da pessoa idosa e questões associadas a equilíbrio e queda, abordando os testes usados para avaliar esses pontos. Por fim, veremos os cuidados paliativos e a noção de envelhecimento ativo. 9 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Unidade I 1 PRINCIPAIS CONCEITOS EM GERIATRIA E GERONTOLOGIA Como você já deve saber, o envelhecimento populacional é um fenômeno que vem crescendo no mundo todo nas últimas décadas, em especial nos países em desenvolvimento. Esse fenômeno exigiu que os profissionais da área da saúde procurassem mais conhecimento sobre o envelhecimento e suas implicações na capacidade motora e funcional da pessoa idosa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2025 haverá cerca de 1,2 bilhão de pessoas no mundo com mais de 60 anos (WHO, 2005). No Brasil, de acordo com o Estatuto da Pessoa Idosa (Brasil, 2003), consideram-se pessoas idosas aquelas com 60 anos ou mais, mas é importante ressaltar que há diferença entre idade cronológica e idade biológica. A idade cronológica, usada para bases legais e trabalhos científicos, é determinada por meio dos anos em tempo real que as pessoas têm segundo sua data de nascimento. Já a idade biológica refere-se a quantos anos de idade as pessoas aparentam ter, o que se relaciona com a independência funcional, uma vez que um medidor para avaliar a saúde da pessoa idosa seria sua capacidade funcional e autonomia. A autonomia, conceito importante em geriatria, é a capacidade humana de determinar e seguir suas próprias regras, dentro dos conceitos morais estabelecidos pelas leis de onde vive. Freitas e Py (2006, p. 9) definem: “O envelhecimento (processo), a velhice (fase da vida) e o velho ou idoso (resultado final) constituem um conjunto, cujos componentes estão intimamente relacionados”. É interessante saber que a fisioterapia passou a reconhecer sua atuação na geriatria e na gerontologia em janeiro de 2017, ou seja, é algo bem recente. Isso se deu através das Resoluções n. 476 e n. 477 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito), que regulamentaram aespecialidade de fisioterapia em gerontologia, seguindo a estimativa de que o envelhecimento populacional aumentará nos próximos anos. O fisioterapeuta faz parte de uma equipe multiprofissional que visa assegurar um envelhecimento ativo e bem-sucedido por meio da manutenção e da recuperação funcional da pessoa idosa, diminuindo suas limitações e melhorando sua qualidade de vida. 10 Unidade I Lembrete Autonomia é a capacidade de tomar as próprias decisões, de fazer as coisas pelos próprios meios, com independência. 1.1 Envelhecimento Papaléo Netto (2002) define o envelhecimento como um processo progressivo e dinâmico, no qual acontecem alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, que modificam o organismo de forma lenta e gradual até a morte. O envelhecimento não é igual para todas as pessoas; ele pode variar de indivíduo para indivíduo. Para alguns, o envelhecimento pode ser mais lento e gradativo; para outros, esse processo pode ser mais acelerado. Essas variações dependem de fatores como estilo de vida, condições socioeconômicas e doenças crônicas (Fechine; Trompieri, 2012). Pessoa idosa com envelhecimento bem-sucedido é aquela que tem reservas funcionais, associadas com hábitos alimentares saudáveis, prática de atividade física regular e condição socioeconômica e cultural favorável. O envelhecimento não tem a ver com cronologia, mas com biologia. Isso explica por que algumas pessoas aparentam ser mais jovens do que outras. O estudo do envelhecimento pode ser subdividido em dois momentos: a senescência e a senilidade. Primeiro, porém, vamos diferenciar os termos geriatria e gerontologia (Brasil; Batista, 2015). • Geriatria: é uma especialidade médica. O termo, criado em 1909 por Ignatz L. Nascher, representa o estudo do tratamento clínico do envelhecimento. • Gerontologia: é uma disciplina científica que investiga as características do envelhecimento como fase do desenvolvimento humano, bem como o processo e as determinantes do envelhecimento. Do grego gero (envelhecimento) + logia (estudo/ciência), o termo foi criado em 1903 por Ilya I. Mechnikov. 1.1.1 Senescência Podemos pensar no envelhecimento como um processo dinâmico e progressivo, caracterizado por alterações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas. Essas alterações determinam a progressiva perda da capacidade de adaptação ao meio ambiente e a maior incidência de processos patológicos, que acabam por levar o indivíduo à morte (Freitas; Py, 2006). Comfort (1979) diz que o envelhecimento é a redução da capacidade de adaptação homeostática diante de situações de sobrecarga funcional do organismo. 11 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA O envelhecimento é um processo natural e esperado. No entanto, no envelhecimento patológico, considerado por muitos autores um envelhecimento malsucedido, há alterações que implicam perdas motoras, funcionais e cognitivas. Observação Alterações cognitivas estão relacionadas com a perda de funções mentais devido à perda de neurônios. O indivíduo apresenta, por exemplo, deterioração da sua capacidade de memória e alteração de comportamento. Senescência é um termo que se refere às alterações que acontecem no organismo humano ao longo da vida e que não são consideradas doenças, ou seja, trata-se do processo fisiológico do envelhecimento, que ocorre em todos os órgãos, sistemas e células do corpo humano. Portanto, a senescência, apesar de estar relacionada com o envelhecimento, não provoca danos à saúde. É esperada para todos e acontece antes de os indivíduos serem reconhecidos como pessoas idosas. Abordaremos adiante as alterações fisiológicas nos diferentes órgãos e sistemas (Freitas; Py, 2006). Exemplo de aplicação Imagine duas pessoas idosas da mesma faixa etária, porém com processo de envelhecimento distinto: um com aparência mais jovem e saudável, o outro com aparência mais velha e doenças instaladas. Reflita sobre as diferenças entre pessoas na mesma faixa etária. Associe idade cronológica e idade biológica com o conceito de reservas funcionais. 1.1.2 Senilidade A senilidade pode ser considerada um envelhecimento malsucedido. Devido aos maus hábitos de vida e à falta de reservas funcionais, causada principalmente pela inatividade, os indivíduos apresentam um envelhecimento patológico, caracterizado pelo aparecimento de várias comorbidades, como as doenças crônicas (hipertensão e diabetes, por exemplo). Cabe ressaltar a dificuldade de perceber o momento em que o envelhecimento fisiológico acaba e o patológico começa – de determinar que o processo de senescência deixou de existir e a senilidade passou a se instalar. Podemos dizer que a senilidade se inicia quando a pessoa idosa apresenta dificuldade para realizar suas atividades diárias. 1.2 Considerações gerais sobre o envelhecimento O crescimento populacional é considerado um fenômeno mundial, tendo sido observado em todos os países, em especial naqueles em desenvolvimento. Nesta seção vamos descrever os fatores que influenciaram a transição demográfica no Brasil e no mundo. 12 Unidade I Tabela 1 – Projeção da população com mais de 60 anos até 2025 Países População (000.000) Classificação em 1950 1950 1975 2000 2025 Classificação em 2025 China 1º 42 73 134 284 1º Índia 2º 32 29 65 146 2º URSS 4º 16 34 54 71 3º EUA 3º 18 31 40 67 4º Japão 8º 6 13 26 33 5º Brasil 16º 2 6 14 32 6º Indonésia 10º 4 7 15 31 7º Paquistão 11º 3 3 7 18 8º México 25º 1 3 6 17 9º Bangladesh 14º 2 3 6 17 10º Nigéria 27º 1 2 6 16 11º Fonte: World Health Organization (1979, 1982 apud Kalache; Veras; Ramos, 1987, p. 201). Segundo Vasconcelos e Gomes (2012), em 1970 o perfil demográfico brasileiro se modificou. Mudanças como o avanço da medicina e da tecnologia, a migração de pessoas do meio rural para o urbano, a redução do número de filhos por casal e o aumento da expectativa de vida contribuíram para uma sociedade com um número maior de pessoas idosas. É preciso entender cada uma dessas mudanças que, ao longo das décadas, foram responsáveis pela mencionada transição demográfica. Observemos a pirâmide etária do Brasil na década de 1940, que apresentava base mais larga, com maior número de indivíduos jovens, e ápice mais estreito, com menor número de pessoas idosas. 10.000.000 80+ 75 a 79 70 a 74 55 a 59 40 a 44 65 a 69 50 a 54 35 a 39 60 a 64 45 a 49 30 a 34 20 a 24 10 a 14 25 a 29 15 a 19 5 a 9 0 a 4 8.000.000 6.000.000 0 6.000.0004.000.000 2.000.000 8.000.0002.000.000 4.000.000 10.000.000 Homens Mulheres Figura 1 – Pirâmide etária absoluta no Brasil, de acordo com o censo de 1940 13 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA As mulheres têm expectativa de vida maior em comparação com os homens devido a fatores como menor exposição ambiental, menor envolvimento em acidentes de trabalho e de trânsito e em situações de violência, menor consumo de álcool e cigarro, e maior procura por serviços de saúde. 10 10 105 5 50 0 05 5 510 10 10 151515 População (em milhões) Brasil: população em 1950 Homens Homens HomensMulheres Mulheres Mulheres Brasil: população em 1985 Brasil: população em 2020 Id ad e 15 0 10 20 50 80 30 60 90 40 70 100 Figura 2 – Pirâmide populacional (distribuição por sexo e idade) do Brasil: 1950, 1985 e 2020 Adaptada de: https://bit.ly/2QVFJA7. Acesso em: 2 jun. 2021. Com os anos, a pirâmide foi se modificando em razão de uma série de fatores, como aumento da expectativa de vida, novos arranjos familiares e ampliação dos rendimentos, o que pode ser observado na figura a seguir. 10 1086422468 10 108642246810 1086422468 75 a 79 80 a 84 85 a 89 Mais de 90 2013Idade Homens Homens HomensMulheres Mulheres Mulheres 2040 2060 70 a 74 55 a 59 40 a 44 65 a 69 50 a 54 35 a 39 60 a 64 45 a 49 30 a 34 20 a 24 10 a 14 25 a 29 15 a 19 5 a 9 1 a 4 0 a 1 Milhões de pessoas Figura 3 – Pirâmides etárias absolutas para homens e mulheres no Brasil até 2060. Segundo projeção do IBGE (2013), pessoas com idadesuperior a 65 anos serão mais de um quarto dos brasileiros em 2060 Os principais indicadores da transição demográfica no Brasil são mortalidade, expectativa de vida, fecundidade e migração. 14 Unidade I Mortalidade A mortalidade da população idosa pode ser estudada por meio de alguns indicadores de saúde, como o índice de mortalidade e a expectativa de vida. Uma das maiores mudanças demográficas do mundo foi a redução das taxas de mortalidade. Isso fez com que tivéssemos aumento da esperança de vida ao nascer. Expectativa de vida Esse termo equivale à esperança de vida que as pessoas têm ao nascer e está associado historicamente a uma melhor qualidade de vida. Apesar de as conquistas médico-tecnológicas possibilitarem a prevenção e a cura de muitas doenças, milhões de pessoas continuam vivendo em situações de pobreza em todo o mundo. No Brasil, no início do século XX, a expectativa de vida ao nascer era de 33,7 anos, tendo atingido 43,2 na década de 1950. No decorrer da década de 1960 a expectativa de vida aumentou em quase 8 anos (55,9). Na década de 1970 passou a 57,1 e em 1980 atingiu 63,5 anos (Kalache; Veras; Ramos, 1987). Atualmente o Brasil tem expectativa de vida de 76,6 anos, segundo dados do IBGE de 2019 (Em 2019…, 2020). 1940 1960 1980 2000 20101950 1970 1990 2008 2015 2019 40 50 60 70 80 45,5 76,6 Figura 4 – Evolução da expectativa de vida no Brasil (em anos) Adaptada de: Mota (2017). Como já indicado, a expectativa de vida da mulher é maior que a dos homens em praticamente todos os países desenvolvidos ou em desenvolvimento, havendo uma diferença de aproximadamente 7,5 anos. 15 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Tabela 2 – Expectativa de vida ao nascimento para homens e mulheres de 1960 até 2025 nos países desenvolvidos Países 1960/5 1980/5 2000/5 2020/5 H M H M H M H M Todos os países desenvolvidos 66,6 72,8 69,4 76,9 72,3 79,7 73,8 80,8 Japão 66,5 71,6 74,0 79,4 75,0 80,6 75,0 81,4 Austrália e Nova Zelândia 67,9 74,1 70,9 77,7 73,0 80,2 74,2 81,0 América do Norte 66,9 73,5 70,4 78,1 72,8 80,3 74,0 81,1 Europa Ocidental 67,8 73,8 70,5 77,9 72,9 80,2 74,1 81,1 Europa Oriental 66,5 71,3 68,5 75,1 71,8 78,8 73,4 80,5 URSS 65,5 73,2 66,5 75,4 70,7 78,9 73,0 80,5 Fonte: United Nations (1984 apud Kalache; Veras; Ramos, 1987, p. 203). Tabela 3 – Expectativa de vida ao nascimento para homens e mulheres de 1960 até 2025 nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento Países 1960/5 1980/5 2000/5 2020/5 H M H M H M H M Todos os países subdesenvolvidos 44,9 46,5 55,5 57,7 61,9 64,6 67,2 70,7 China 42,7 45,6 65,5 69,4 70,0 73,9 73,2 76,9 Ásia do Sul 45,1 45,0 53,5 53,8 61,9 64,6 67,2 70,7 América Latina 54,6 58,4 61,8 66,5 66,8 72,0 69,6 75,0 Brasil 54,0 57,8 60,9 66,0 65,7 71,6 69,1 75,3 África 40,3 43,0 48,2 51,3 55,9 59,4 63,0 66,8 África do Norte 45,8 47,3 54,8 57,0 63,6 66,6 68,9 73,2 Fonte: United Nations (1985 apud Kalache; Veras; Ramos, 1987, p. 204). 1920 0% 10% 20% 30% 1950 1970 1990 2010 20301940 1960 1980 2000 2020 2040 Mulheres muito idosas Homens muito idosos Homens idosos Mulheres idosas Figura 5 – Proporção da população brasileira idosa e muito idosa por sexo Adaptada de: Freitas e Py (2006, p. 136). 16 Unidade I Fecundidade Outro indicador importante para essa transição demográfica é a taxa de fertilidade, que na maioria dos países está em declínio. Esse fato decorre dos novos arranjos familiares e da entrada das mulheres no mercado de trabalho, com menos tempo para a família e o casamento. Ramos, Veras e Kalache (1987) mostram que no Brasil houve um decréscimo da taxa de fertilidade em mais de um terço entre 1970 e 1980. Embora a vida média do brasileiro tenha aumentado no fim do século XX, as altas taxas de fertilidade do passado ainda se refletirão nas pirâmides populacionais das próximas décadas. O gráfico da figura a seguir mostra a taxa de fecundidade total, no Brasil e no mundo, de 1950 até 2100, segundo novas projeções da Organização das Nações Unidas (UN, 2019). 19 50 -1 95 5 19 80 -1 98 5 20 10 -2 01 5 20 40 -2 04 5 20 70 -2 07 5 19 60 -1 96 5 19 90 -1 99 5 20 20 -2 02 5 20 50 -2 05 5 20 80 -2 08 5 19 70 -1 97 5 20 00 -2 00 5 20 30 -2 03 5 20 60 -2 06 5 20 95 -2 10 0 19 55 -1 96 0 19 85 -1 99 0 20 15 -2 02 0 20 45 -2 05 0 20 75 -2 08 0 19 65 -1 97 0 19 95 -2 00 0 20 25 -2 03 0 20 55 -2 06 0 20 90 -2 09 5 20 85 -2 09 0 19 75 -1 98 0 20 05 -2 01 0 20 35 -2 04 0 20 65 -2 07 0 0 1 2 3 4 5 6 7 TF T = fil ho s p or m ul he r Mundo Brasil Figura 6 – Taxa de fecundidade total (TFT), no Brasil e no mundo, de 1950 até 2100 Migração O movimento migratório tende a englobar um número maior de jovens, parcela da população que deixa seu país de origem em busca de melhores oportunidades. Atualmente esse movimento no Brasil é menor do que em décadas anteriores, o que não altera a pirâmide etária. Essas mudanças foram mais expressivas entre os anos de 1871 e 1900, quando houve uma grande entrada de imigrantes, o que contribuiu para o crescimento da população de 65 anos ou mais até 1980. Existe uma migração interna entre o campo e as grandes cidades, em que o migrante é jovem e motivado por desemprego rural, diferenças salariais entre campo e cidade, concentração de serviços públicos no ambiente urbano e influência da mídia. 17 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA 2 ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 2.1 Composição e forma do corpo Com o envelhecimento, sofremos mudanças anatômicas, posturais e estruturais. Há aumento do diâmetro do crânio, tanto em homens quanto em mulheres, e crescimento do nariz e do pavilhão auditivo, caracterizando a conformação típica da face da pessoa idosa. Os cabelos vão se tornando brancos devido à perda dos melanócitos. Pode aparecer ainda a calvície, principalmente no sexo masculino. Também são importantes as alterações anatômicas da coluna vertebral, que causam redução da estatura em 1 cm por década após os 40 anos e que se intensificam a partir dos 70 anos (figura a seguir). Isso acontece por causa do aumento da curvatura da cifose torácica e do achatamento dos discos intervertebrais e dos arcos plantares. Podemos observar ainda na postura da pessoa idosa o aumento do diâmetro anteroposterior do tronco, o que leva a um tronco mais curto. Idade de 55 anos Idade de 65 anos Idade de 75 anos Figura 7 – Deformidade gradativa da coluna vertebral e diminuição da estatura Fonte: Freitas e Py (2006, p. 902). Além disso, há mudança na forma e na composição do corpo. Podemos observar maior depósito de tecido adiposo e diminuição de tecido muscular. A distribuição de tecido adiposo é mais acentuada na região central do corpo. Portanto, há maior concentração de gordura no tronco e menor nos membros. 2.2 Envelhecimento do sistema tegumentar A pele da pessoa idosa sofre muitas alterações ao longo de todo o processo de envelhecimento. Isso ocorre pela diminuição na produção das células epiteliais, levando a um adelgaçamento de 20% a 30% na espessura da epiderme e à redução da sudorese pela diminuição das glândulas sudoríparas. A derme desidrata, e a pele vai perdendo elasticidade, tornando-se menos elástica e mais friável, ficando enrugada (Freitas; Py, 2006). 18 Unidade I Figura 8 – Perda da elasticidade da pele e aparecimento de rugas Surgem manchas senis, com coloração amarronzada. Estão presentes principalmente na face, no dorso das mãos e nos antebraços, devido a alterações da coloração da pele. Figura 9 – Manchas senis no dorso das mãos 2.3 Envelhecimento do sistema ósseo O tecido ósseo sofre várias alterações desde a sua formação, após o nascimento, sendo um sistema orgânico em constante remodelação. Na criança, os ossos se formam mais rápido do que são reabsorvidos. Assim, há maior atuação de osteoblastos (células que fazem a síntese dos componentes orgânicos da matriz óssea) e menor atuação de osteoclastos(células que fazem a reabsorção óssea). Estima-se que chegamos a 90% de massa óssea aos 18 anos de idade, alcançamos seu pico por volta dos 35 anos e atingimos um platô até mais ou menos a quarta década de vida, ou seja, osteoblastos 19 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA e osteoclastos trabalham em equilíbrio. A partir dessa idade, tais células sofrem um desequilíbrio, e os osteoclastos passam a trabalhar mais que os osteoblastos, havendo maior reabsorção óssea (Rossi, 2008). Quando chegamos ao desequilíbrio mencionado, acontece uma diminuição progressiva de massa óssea. Esse processo é chamado de osteopenia e faz parte da senescência. A diminuição óssea não é igual: até os 50 anos, a perda é maior nos ossos trabeculares; após essa idade, perde-se mais osso cortical. Lembrete Senescência é o processo fisiológico de envelhecimento. 2.4 Envelhecimento do sistema articular As articulações também sofrem alterações com o processo de envelhecimento. A cartilagem articular perde água e proteoglicanos, e sua capacidade reparadora diminui, aumentando-se a chance do aparecimento de processos degenerativos. Observamos também a degradação do colágeno tipo II e a redução progressiva dos condrócitos, perdendo-se assim a sua capacidade de manter e reparar a cartilagem articular. Essas alterações permitem compreender o aparecimento de doenças articulares em pessoas idosas. Com o aumento na espessura das fibras colágenas, a cartilagem torna-se mais fina, com rachaduras e fendas na superfície. Com o envelhecimento, os discos intervertebrais sofrem degeneração, desidratação e diminuição da capacidade de absorver o impacto entre as vértebras, o que leva ao desgaste entre os ossos. A degeneração discal compreende rupturas estruturais e alterações na composição da matriz. Há evidências de que sobrecargas mecânicas moderadas e repetidas, sobretudo nos discos de indivíduos de 50 a 70 anos, possam ser a causa inicial do processo (Rossi, 2008). As articulações sinoviais são as que predominam nos membros, caracterizadas por terem membrana sinovial, cápsula articular e líquido sinovial, importante para nutrir e lubrificar a articulação, os ligamentos, os meniscos e os discos. Para manterem sua integridade e funcionalidade, as articulações sinoviais recebem irrigação sanguínea de artérias articulares formadas por redes próximas à membrana sinovial. Mesmo sendo protegidas para resistir ao desgaste, a sobrecarga excessiva, o aumento de peso e as alterações posturais que aparecem ao longo dos anos favorecem o desenvolvimento de alterações degenerativas (Araújo; Bertolini; Martins Júnior, 2014). Durante o envelhecimento articular, há diminuição da produção de líquido sinovial e adelgaçamento do tecido. Além disso, os tendões e ligamentos tornam-se menores e menos flexíveis, o que implica redução da amplitude do movimento articular. As articulações sinoviais, como joelhos, quadris, punhos e cotovelos, são mais afetadas durante o envelhecimento. Isso acontece devido ao grau de liberdade dessas articulações, que realizam movimentos repetidamente durante toda a vida do indivíduo (Ribeiro; Alves; Meira, 2009). 20 Unidade I Segundo Esquinazi, Silva e Guimarães (2014), a partir dos 35 anos de idade acontecem alterações fisiológicas na cartilagem articular que podem levar à diminuição da flexibilidade e da função locomotora, aumentando o risco de lesão degenerativa das articulações sinoviais. Saiba mais Para ampliar seu conhecimento sobre o envelhecimento do sistema osteoarticular, leia o artigo a seguir: ROSSI, E. Envelhecimento do sistema osteoarticular. Einstein, São Paulo, v. 6, supl. 1, p. S7-S12, 2008. Disponível em: https://bit.ly/3gcgwv6. Acesso em: 2 jun. 2021. 2.5 Envelhecimento do sistema muscular Durante o envelhecimento, há uma perda lenta e progressiva da massa muscular, que passa a ser substituída por tecido conjuntivo e gorduroso. Segundo Freitas e Py (2006), o músculo diminui aproximadamente 50% dos 20 aos 90 anos ou 40% dos 30 aos 80 anos. Essa perda está associada à excreção urinária de creatinina após os 30 anos de idade. Tais perdas vão acarretar diminuição da secção transversa do músculo e maior substituição ou acúmulo de colágeno ou tecido gorduroso. Isso decorre da redução do número de fibras musculares, que na pessoa idosa é aproximadamente 20% menor que num adulto jovem. A diminuição é maior nas fibras musculares do tipo II. Chamamos de sarcopenia a perda fisiológica de fibras musculares do tipo I e do tipo II. Massa óssea Tecido adiposo subcutâneo Massa muscular Figura 10 – Ressonância magnética da coxa de uma pessoa de 21 anos e de uma pessoa de 63 anos, respectivamente Fonte: Silva et al. (2006, p. 391). 21 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA A redução de massa muscular está diretamente relacionada com a perda da força muscular. Estudos mostram que a força do músculo quadríceps aumenta progressivamente até os 30 anos; depois dos 50, ela começa a diminuir, o que se acentua após os 70. Outros estudos indicam que a força muscular diminui aproximadamente 15% a cada década de vida, até a sétima década, e cerca de 30% após a oitava década (Kent-Braun; Ng, 2000; Rossi, 2008). A sarcopenia é multifatorial. Ela deriva de alterações endócrinas e no metabolismo do músculo, fatores nutricionais, mitocondriais e genéticos, condições ambientais e sedentarismo. O que vai determinar o grau de sarcopenia serão as já mencionadas reservas funcionais da pessoa. Estima-se que, após os 60 anos, a prevalência da sarcopenia seja de aproximadamente 30%, aumentando progressivamente com o envelhecimento. A partir dos 75 anos, ela passa a ser um dos indicadores da chance de sobrevivência do indivíduo (Larsson; Ramamurthy, 2000). A avaliação do grau da sarcopenia é difícil, uma vez que ela faz parte da fisiologia do envelhecimento natural, sendo portanto considerada senescência. Na prática clínica, podemos avaliar quando essa perda de massa muscular começa a causar uma diminuição de força muscular que compromete a capacidade funcional da pessoa idosa, a sua marcha e o seu equilíbrio, passando a ser senilidade. Alguns estudos mostram que é possível definir a pessoa idosa com prejuízos motores devido à sarcopenia quando a razão da soma da massa muscular apendicular (kg) pela altura ao quadrado (m2) é superior a dois ou mais desvios padrão (dp) em relação ao esperado para uma população jovem saudável. A avaliação da massa muscular apendicular total é realizada pelo estudo da composição corporal, por meio da densitometria de corpo total, porém ficamos limitados pela falta de dados de referência de normalidade para a população brasileira (Baumgartner et al., 1998; Rossi, 2008; Silva et al., 2006). 2.6 Envelhecimento do sistema cardiovascular O sistema cardiovascular sofre muitas alterações durante o envelhecimento, com redução da sua capacidade funcional, principalmente pelo fato de que mais de 50% das pessoas idosas com 60 anos ou mais apresentam cardiopatias (Ferrigno, 2002). As alterações mais expressivas ocorrem no miocárdio e nos vasos sanguíneos. No miocárdio acontece uma diminuição das fibras musculares, os miócitos. Quando perdidas, essas fibras são substituídas por tecido conjuntivo colágeno e tecido gorduroso, e também há presença de lipofuscina. As fibras musculares remanescentes sofrem hipertrofia. Observação A lipofuscina, conhecida como pigmento senil, é um indicador que serve para detectar a idade da célula: quanto mais lipofuscina, mais velha é a célula. Essas alterações levam à redução da complacência ventricular, ao prolongamento do relaxamento ventricular e ao aumento da pós-carga, contribuindo para a diminuição da fase de enchimento rápido do ventrículo no início da diástole (Dangelo; Fattini, 1988). 22 Unidade I Alterações das valvas Com o envelhecimento, observa-se um enrijecimento dos vasos em razão da perda de elastina. O vaso se torna menos flexível, o que faz a passagem do sangue sermais difícil, e há um aumento de placas de ateroma no interior do vaso. Chamamos essas alterações de: • Arteriosclerose: processo de envelhecimento natural do vaso devido ao seu enrijecimento. • Aterosclerose: acúmulo de tecido adiposo ou aumento do depósito de placas de ateroma no interior do vaso. Essas alterações explicam o aumento da pós-carga, uma vez que o miocárdio vai precisar aumentar a força de ejeção. A calcificação e degeneração mais expressivas acometem principalmente as valvas mitral e aórtica. O envelhecimento determina modificações estruturais que levam à diminuição da reserva funcional durante a atividade física. 2.7 Envelhecimento do sistema respiratório Durante o envelhecimento natural, o sistema respiratório apresenta modificações anatômicas e funcionais que poderão afetar a função pulmonar. Essas modificações podem ser agravadas por influência ambiental: poluição, tabagismo, exposição profissional, doenças pulmonares, diferenças socioeconômicas e raciais etc. As alterações que fazem parte do processo natural do envelhecimento respiratório afetam os pulmões, a caixa torácica e a musculatura respiratória, o que vai atingir toda a mecânica respiratória da pessoa idosa. Entre essas alterações, podemos citar a perda das propriedades elásticas dos pulmões, o que favorecerá o aumento da complacência pulmonar. Com isso, os alvéolos ficam mais flácidos, o tamanho das vias aéreas e dos bronquíolos diminui, os ductos alveolares aumentam, e os sacos alveolares sofrem um achatamento. Essas alterações, apesar de muito semelhantes a um enfisema pulmonar (senilidade), fazem parte do processo de senescência, sendo conhecidas como enfisema senil. Vale ressaltar as mudanças que ocorrem no sistema de defesa mucociliar devido à redução do número e da atividade das células mucociliares do epitélio de revestimento brônquico, o que pode facilitar a entrada de agentes patogênicos. Esse processo, conhecido como clearance (clareamento) mucociliar, ocasiona elevada incidência de infecções respiratórias em pessoas idosas. A diminuição dos reflexos protetores das vias aéreas pode levar à aspiração brônquica e à dificuldade de uma tosse efetiva, principalmente pela diminuição da força dos músculos respiratórios, que também vai comprometer o sistema de limpeza das vias aéreas inferiores em pessoas idosas. 23 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Na parede torácica, observamos um enrijecimento do gradeado costal, com redução da complacência torácica, ou seja, o tórax da pessoa idosa fica mais rígido. Isso está associado às mudanças decorrentes das alterações posturais, como o aumento da curvatura da cifose torácica e do diâmetro anteroposterior do gradil costal, o que modifica a mecânica respiratória da pessoa idosa. Os músculos respiratórios também sofrem alterações por causa da sarcopenia, como a diminuição de fibras musculares e sua substituição por tecido conjuntivo e gordura, acarretando uma redução de força e endurance (resistência) muscular. Quando comparado ao de um indivíduo jovem, o diafragma de uma pessoa idosa tem de 13% a 25% menos de força muscular, o que não provoca repercussões numa pessoa idosa saudável (Freitas; Py, 2006). As mudanças derivadas do diâmetro das vias aéreas e do aumento da complacência pulmonar levam a maior acúmulo de ar retido nos alvéolos, o que contribui para o aumento do espaço morto, diminuindo a troca gasosa. Observação Espaço morto é o espaço onde não há troca gasosa. Com o envelhecimento, as vias aéreas aumentam, e isso compromete a eficiência das trocas gasosas. A redução da complacência torácica, o aumento da complacência pulmonar e a redução da força dos músculos respiratórios produzem diminuição da capacidade vital (CV). Outra alteração importante decorrente do aumento da complacência pulmonar é o aumento da capacidade residual funcional (CRF) e do volume residual (VR), que dizem respeito aos gases que ficam retidos no interior dos alvéolos após uma expiração forçada. Já a capacidade pulmonar total (CPT) e o volume corrente (VC) quase não sofrem alteração. A capacidade aeróbica máxima diminui com a idade. As pessoas idosas fisicamente ativas têm capacidade semelhante à de jovens ativos. Dessa maneira, o exercício pode modificar alguns processos fisiológicos que diminuem com a idade, melhorando a eficiência cardíaca, a função pulmonar e os níveis de cálcio. O sedentarismo acarreta menor capacidade de adaptação ao exercício, com aumento da necessidade de gasto energético e de consumo de O2 e redução do débito cardíaco (Hayflick, 1997). 2.8 Envelhecimento do sistema nervoso No envelhecimento, um dos sistemas mais acometidos é o sistema nervoso central (SNC), responsável por sensações, movimentos, cognição e funções biológicas internas. Com o envelhecimento, o SNC apresenta alterações como redução no número de neurônios, diminuição na velocidade de condução nervosa e dos reflexos, e restrição das respostas motoras, do poder de reação e da capacidade de coordenação (De Vitta, 2000). 24 Unidade I Até a segunda década de vida, o encéfalo pesa em média 1,350 kg. Depois da metade dessa década, ele sofre um declínio ponderal progressivo, de 1,4% a 1,7% por década. Nas mulheres, o declínio é mais precoce que nos homens. Entre as principais alterações anatômicas do SNC no envelhecimento estão a atrofia do parênquima cerebral – mais intensa a partir dos 60 anos para as mulheres e dos 70 anos para os homens – e o alargamento e aprofundamento dos sulcos corticais e giros, mostrando uma atrofia maior nos lobos frontal e temporal e o aparecimento de placas senis. A substância branca sofre alterações após a sétima década de vida devido à desmielinização das células nervosas. Isso pode ser visto em exames como a tomografia cerebral; ali é possível observar áreas de densidade diminuída na substância branca (leucoaraiose), sendo esse um achado fisiológico do envelhecimento, e não algo relacionado com uma alteração patológica. Observação Hachinski, Potter e Merskey (1987) introduziram o conceito de leucoaraiose – do grego leuko (branco) + araios (redução) – para se referirem a uma alteração da substância branca dos hemisférios cerebrais observada nas imagens de tomografia computadorizada e de ressonância magnética cerebral. O processo de desmielinização resulta numa diminuição das sinapses, mais evidente a partir da oitava década de vida. É encontrado também o pigmento lipofuscina, que tem coloração acastanhada e é indicativo de desgaste celular. As alterações vasculares no SNC derivam da diminuição do fluxo sanguíneo que pode acontecer devido à ateromatose. Lembrete Quanto maior a concentração de lipofuscina, mais velha será a célula. 2.9 Envelhecimento do sistema geniturinário Na fase adulta, os rins pesam de 230 a 250 gramas. A partir da quarta década de vida, há uma perda lenta e progressiva desse peso, que pode atingir cerca de 180 gramas. Com a redução da área de filtração glomerular e consequentemente da função fisiológica, vai ocorrer uma diminuição gradual da velocidade com que os rins filtram o sangue. A diminuição dos rins se deve ao fato de que as artérias que os suprem ficam estreitas. Isso acarreta redução do suprimento de sangue suficiente para os rins. Os ureteres não se modificam muito com a idade. As alterações mais evidentes acontecem na bexiga e na uretra. 25 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA A quantidade de urina que permanece na bexiga após a micção, chamada de urina residual, aumenta, levando a maior frequência de micção e maior risco de infecção do trato urinário. Nos homens, a glândula prostática aumenta com a idade, e isso muda a estrutura anatômica do trato geniturinário, produzindo um bloqueio do fluxo de urina. 2.10 Envelhecimento do sistema imunológico Durante o envelhecimento, há um declínio da ação do sistema imune, o que acarreta um aumento de infecções na população idosa. A resposta imune é mediada por células controladas peloslinfócitos T, que se proliferam em resposta à entrada de um organismo estranho (antígeno). Os linfócitos são produzidos na medula óssea e migram para o timo. Estudos mostram que os linfócitos T sofrem mudanças com o processo de envelhecimento, tendo sua ação reduzida devido às alterações que ocorrem no fenótipo dessas células (Freitas; Py, 2006). As mudanças não acontecem da mesma forma para todos os componentes celulares do sistema imune. Por exemplo, a concentração de leucócitos, granulócitos e monócitos não é muito alterada com o envelhecimento; os linfócitos totais apenas diminuem em idades mais avançadas; os linfócitos B apresentam ligeira redução; e os linfócitos NK se mantêm estáveis ou até aumentam. Os linfócitos T não apenas diminuem em quantidade; a própria função dessas células parece ser afetada, evidenciando-se menor capacidade proliferativa em comparação com o que se observa em indivíduos jovens (Shephard; Shek, 1995). Outra alteração importante acontece nas células de memória. As células que apresentam maior longevidade são as que ainda não encontraram nenhum antígeno, o que diminui a capacidade de defesa do corpo diante de novos antígenos. Esse é o principal fator da imunossenescência, que poderá contribuir para a maior incidência de doenças infecciosas, neoplásicas e autoimunes em pessoas idosas (Freitas; Py, 2006; Pawelec et al., 1995). 3 ALTERAÇÕES POSTURAIS E MARCHA DA PESSOA IDOSA 3.1 Alterações posturais A postura é a forma como mantemos o nosso corpo em relativo alinhamento. São frequentes as alterações posturais, o que ocasiona mudanças no equilíbrio e na marcha. A manutenção da postura em equilíbrio é uma tarefa complexa, que depende das informações integradas dos sistemas vestibular, visual e somatossensorial, bem como do processamento realizado pelo SNC e pelo órgão efetor, que é o sistema musculoesquelético. A postura pode se modificar ao longo dos anos, sendo influenciada por fatores como hábitos e vícios posturais. Com o passar do tempo, a inatividade do corpo reduz a capacidade muscular de sustentação 26 Unidade I corporal, o que favorece a acentuação das curvas vertebrais, encontradas com frequência em pessoas idosas (Akima et al., 2001). As alterações posturais mais comuns incluem o aumento da cifose torácica, geralmente associado às mudanças no sistema musculoesquelético. Na coluna vertebral, observa-se hipercifose torácica combinada com protusão de ombros e cabeça, retificação da lordose lombar associada a retroversão pélvica, aumento do ângulo de flexão do joelho, maior deslocamento da articulação coxofemoral para trás e inclinação do tronco para a frente. 3.2 Marcha da pessoa idosa A marcha, uma das atividades mais complexas que o corpo humano realiza, se altera em decorrência do envelhecimento de vários sistemas responsáveis pelo controle motor. Não existe um padrão para descrever a marcha da pessoa idosa, como acontece na marcha dos pacientes com sequela de acidente vascular cerebral. Na pessoa idosa, alterações podem ou não acontecer, o que depende do processo de envelhecimento de cada um, ou seja, de suas reservas funcionais. A marcha é descrita como um ciclo dividido em duas fases: apoio e balanço. A fase de apoio compreende o momento em que os pés estão apoiados no chão, e a fase de balanço consiste no momento em que uma das pernas está no ar. Na fase de apoio, há contato inicial, resposta à carga, apoio médio, apoio final e pré-balanço. Na fase de balanço, há balanço inicial, balanço médio e balanço final. Dois momentos são importantes durante o ciclo: aquele em que os dois pés estão apoiados no chão, denominado duplo apoio, e aquele em que há apenas um pé no apoio, chamado de apoio simples. Contato inicial Resposta à carga Apoio médio Apoio final Pré- balanço Balanço inicial Balanço médio Balanço final Duplo apoio Apoio simples Duplo apoio Fase de apoio Fase de balanço Figura 11 – Ciclo da marcha completo, com suas fases e subfases Fonte: Santos (2016, p. 116). 27 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Saiba mais Para ampliar seu conhecimento sobre a marcha normal, leia: SUTHERLAND, D. H.; KAUFMAN, K. R.; MOITOZA, J. R. Cinemática da marcha humana normal. In: ROSE, J.; GAMBLE, J. Marcha humana. 2. ed. São Paulo: Premier, 1998. p. 23-44. Na marcha da pessoa idosa, é possível observar o aumento da fase de duplo apoio e a redução do balanço dos braços e da rotação pélvica e do joelho. Pessoas idosas apresentam diminuição no comprimento e na altura do passo, permanecem mais tempo na fase de apoio e menos tempo na fase de balanço, e mostram diminuição da velocidade da marcha, o que para muitos estudiosos está diretamente associado com a taxa de sobrevivência e mortalidade de pessoas idosas, além de ser um dos critérios levados em consideração para avaliar sua fragilidade. Observamos também alterações como a redução nos movimentos do tronco para as respostas respiratórias e motoras. A diminuição da amplitude de movimento da abdução escapular, que altera o movimento escápulo-umeral normal, pode provocar afecções dolorosas para o ombro, e a projeção da cabeça para a frente, que acompanharia o aumento da cifose torácica, visando à manutenção do olhar no horizonte, leva a um aumento da lordose cervical. A combinação dessas alterações favorece: • a redução da lordose lombar fisiológica, que por sua vez modifica a localização do centro de gravidade e leva o indivíduo a buscar um novo posicionamento na postura ereta; • a redução da extensão do tronco e do quadril para as passadas da marcha, diminuindo o tamanho do passo e produzindo uma semiflexão dos joelhos. Há alterações nos parâmetros temporoespaciais da marcha, a saber, comprimento do passo e da passada (figura a seguir), largura da base, altura do passo, velocidade da marcha, cadência e dissociação de cinturas. Passo Passada Figura 12 – Comprimento do passo e da passada (ciclo completo da marcha) 28 Unidade I Para uma boa avaliação da marcha na pessoa idosa, são consideradas normais estas medidas para os parâmetros mencionados: • Comprimento do passo: de 35 a 45 cm. • Comprimento da passada: 70 cm. • Largura da base: de 8 a 10 cm. • Altura do passo: usa-se como referência a altura do maléolo medial contralateral. • Velocidade da marcha: aproximadamente 80 m/s. • Cadência (número de passos por minuto): de 113 a 120 passos/minuto. • Dissociação de cinturas: incluem-se os movimentos normais dos braços e a rotação pélvica. Observação A avaliação desses parâmetros possibilita uma análise das alterações presentes na marcha da pessoa idosa. Lembramos que não há um padrão específico de marcha para essa população. As alterações mais observadas são diminuição do comprimento e da altura do passo, redução do impulso devido à fraqueza do músculo tríceps sural, diminuição da cadência, alargamento da base de sustentação, aumento do tempo de duplo apoio e diminuição da dissociação de cinturas, uma vez que a pessoa idosa tem uma postura mais cifótica. A porcentagem de tempo de duplo apoio varia de 18% em adultos jovens para ≥ 26% em pessoas idosas saudáveis. Pessoas idosas podem aumentar mais o tempo de duplo apoio quando andam em superfícies irregulares ou escorregadias, quando têm o equilíbrio prejudicado ou quando têm medo de cair. Exemplo de aplicação Considerando o ciclo da marcha normal, suas fases e subfases, observe uma pessoa idosa andando. Quais parâmetros citados podem ser identificados numa avaliação observacional da marcha? 29 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA 4 MANIFESTAÇÕES CINESIOPATOLÓGICAS, NEUROMUSCULARES E NEUROLÓGICAS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E INTERVENÇÕES TERAPÊUTICAS 4.1 Envelhecimento musculoesquelético e alterações venosas 4.1.1 Fraqueza muscular O envelhecimento produz um declínio de todos os órgãos e sistemas, e isso implica a diminuição das capacidades funcionais e físicas da pessoa idosa, entre elas a força muscular. Em 1989, Rosenberg definiua sarcopenia – do grego sarx (carne) + penia (perda) – como a perda de massa muscular esquelética decorrente do envelhecimento. Ela aumenta o risco de perda funcional e de incapacidade, mais em mulheres do que em homens, numa proporção de 2 × 3. Essa perda progressiva de massa muscular é mais expressiva após os 40 anos de idade, sendo 8% por década até os 70 anos. Depois dessa idade, a perda aumenta para 15% por década (Grimby et al., 1982). Durante esse processo, há diminuição do diâmetro da secção transversa dos músculos. A perda acarreta uma redução de força de 15% nos membros inferiores após os 70 anos, podendo chegar a 40%. A sarcopenia é um marcador importante da síndrome da fragilidade da pessoa idosa, assunto que vamos discutir adiante. A fraqueza muscular está relacionada com prejuízos na execução das atividades da vida diária, no equilíbrio corporal e na marcha, sendo responsável por quedas frequentes, uma das maiores causas de morbidade e mortalidade na população idosa (Massud; Morris, 2001). Pessoas idosas sedentárias, com maior inatividade física, tendem a sofrer mais com a sarcopenia – sua massa muscular é menor do que as ativas. Pessoas idosas acamadas são as que mais sofrem com essa perda, que passa a ser mais acelerada. Para diagnosticar a sarcopenia, é possível utilizar instrumentos como medidas antropométricas, força de preensão palmar e velocidade da marcha. Nas medidas antropométricas, tem sido usada com referência a medida da panturrilha; um diâmetro menor que 31 cm pode estar associado à sarcopenia. Já o resultado do teste de preensão palmar é considerado baixo quando a força de preensão palmar apresenta valores menores que 20 kg para mulheres e 30 kg para homens. A velocidade da marcha indica a diminuição de força nos membros inferiores; uma velocidade inferior a 0,8 m/s em um percurso de 6 m pode indicar prejuízo na capacidade funcional da pessoa idosa (Cruz-Jentoft et al., 2010). 30 Unidade I Normal Ausência de sarcopenia Baixa Sarcopenia Baixa Medida da força de preensão Medida da massa muscular total > 0,8 m/s ≤ 0,8 m/s Medida da velocidade da marcha Pessoa idosa (> 65 anos) Normal Ausência de sarcopenia Figura 13 – Fluxograma para identificação de sarcopenia em pessoas idosas Adaptada de: Cruz-Jentoft et al. (2010, p. 420). A prática de atividade física regular ajuda a manter o pico de massa muscular adequado para desacelerar esse processo e, segundo muitos autores, a prevenção é a melhor forma de retardar a perda (Silva et al., 2006). O treinamento de força muscular em pessoas idosas melhora as habilidades físicas e a qualidade de vida, proporciona o aumento da massa muscular, preserva a capacidade funcional e a independência da pessoa idosa, além de diminuir a incidência de quedas (Matsudo; Matsudo; Barros Neto, 2001). 4.1.2 Síndrome da fragilidade Em razão do envelhecimento, a incidência da síndrome da fragilidade aumenta de 10% a 25% em pessoas acima de 60 anos e 46% em pessoas acima de 85 anos. A pessoa idosa é considerada frágil se sofreu um declínio funcional devido aos efeitos da própria idade e também de um processo patológico de envelhecimento. O aumento do risco de fragilidade se associa a baixo nível socioeconômico, antecedentes de doenças crônicas, fraturas e depressão (Perracini; Fló, 2019). A síndrome da fragilidade é definida como a diminuição da capacidade de reserva homeostática do organismo e da resistência aos estressores, o que produz declínio funcional em múltiplos sistemas fisiológicos, causando vulnerabilidade e alterações patológicas. A diminuição de energia, taxa metabólica, força, gasto energético e mobilidade se relaciona com fatores biológicos, sociais, psicológicos e cognitivos presentes ao longo da vida. 31 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA São considerados com fragilidade indivíduos que apresentem vulnerabilidade aos fatores estressores e comprometimento da capacidade de manter a homeostase, bem como dependência parcial ou total em atividades da vida diária (AVDs) e maior presença de comorbidades ou debilitações (Lana; Schneider, 2014). A sarcopenia é considerada a maior causa da fragilidade. Suas características estruturais promovem com o tempo o declínio da potência muscular, refletida na não realização das atividades funcionais que necessitam de velocidade. O indivíduo acometido apresenta alto risco de quedas e fraturas, dependência, hospitalização e mortalidade. Além de serem reservas de proteínas, utilizadas para a produção de anticorpos e energia, os músculos também são local de metabolização de alguns hormônios (Perracini; Fló, 2019). Alterações imunológicas – por exemplo, o aumento de citocinas como a interleucina-6 (IL-6) – têm relação com a sarcopenia e o desenvolvimento da síndrome da fragilidade. Elas reduzem a capacidade de realizar as atividades da vida diária e aumentam a mortalidade (Macedo; Gazzola; Najas, 2008; Perracini; Fló, 2019). 2019). O quadro clínico da síndrome da fragilidade envolve uma série de sinais e sintomas e depende de uma boa avaliação. Segue-se a escala de classificação da fragilidade para determinar o fenótipo da idosa. Deve-se avaliar dependência nas atividades básicas e instrumentais, vulnerabilidade ao estresse do ambiente, patologias e quedas. Para um diagnóstico clínico da fragilidade, a pessoa idosa é classificada em: • Frágil: apresenta três ou mais componentes do fenótipo. • Pré-frágil: apresenta até três componentes do fenótipo. • Não frágil: não apresenta nenhum dos componentes do fenótipo. Os componentes do fenótipo são: • perda de peso não intencional; • diminuição da força de preensão palmar; • fadiga; • baixo nível de atividade física; • diminuição da velocidade da marcha. A fragilidade é um processo que se inicia com uma fase subclínica, também chamada de pré-frágil, e evolui para manifestações clínicas, havendo maior potencial para a prevenção no estágio anterior às manifestações. É importante identificar os estados anteriores ao declínio funcional em pessoas idosas, 32 Unidade I contribuindo para o desenvolvimento de programas que facilitem a prevenção e o tratamento da síndrome (Assumpção; Dias, 2009). As consequências da síndrome da fragilidade são quedas, lesões, doenças agudas, hospitalizações, incapacitação, dependência, institucionalização e morte. A prática de exercícios físicos auxilia na prevenção e retarda a fragilidade. Nesse contexto, a fisioterapia tem como objetivo aumentar a amplitude de movimento, melhorar o desempenho nas AVDs, a velocidade da marcha e o equilíbrio, e reduzir o número de quedas. Exercícios resistidos são os mais indicados para aumentar a força e a massa muscular, bem como a potência, pois há aumento na síntese de proteínas e redução de alguns mediadores inflamatórios presentes no organismo da pessoa idosa. O treinamento de força deve ser realizado pelo menos duas vezes por semana, com um mínimo de 48 horas de repouso entre as sessões, para a recuperação da musculatura e a prevenção do supertreinamento. Recomenda-se realizar de 8 a 10 exercícios, com 8 a 12 repetições em cada série (Macedo; Gazzola; Najas, 2008). 4.1.3 Síndrome do imobilismo As consequências do imobilismo podem acontecer tanto em jovens como em pessoas idosas, por motivos multifatoriais e sistêmicos, que levam à alteração de todos os órgãos e sistemas em decorrência de imobilidade prolongada no leito. No entanto, as alterações são mais frequentes em pessoas idosas, em razão de maior fragilidade, desenvolvimento de doenças crônicas degenerativas, perda de força, perda de massa muscular e óssea, e perda de equilíbrio e percepção espacial. Algumas alterações vêm da senescência; outras, da senilidade. A síndrome do imobilismo é definida como um complexo de sinais e sintomas resultantes da supressão de todos os movimentos articulares e, por conseguinte, da incapacidade de mudança postural. É caracterizada por diversas alterações nos sistemas tegumentar, musculoesquelético,urinário, gastrintestinal, vascular, respiratório e neuropsíquico. Acomete pessoas acamadas, confinadas ao leito por um período prolongado. Esse quadro produz a diminuição das capacidades funcionais, assim como da independência e da autonomia, afetando a qualidade de vida. Tais limitações favorecem ainda a depressão, as crises de ansiedade, a apatia e o isolamento social. As causas da síndrome do imobilismo são variadas e incluem situações clínicas como trombose venosa profunda, insuficiência arterial, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), insuficiência cardíaca congestiva (ICC), cardiopatia isquêmica, desnutrição, depressão, acidente vascular encefálico (AVE), Parkinson, demências, esclerose múltipla, osteoartrite, osteoporose, fraturas, metástases, cegueira, surdez, úlceras, neuropatias periféricas, e uso de ansiolíticos, hipnóticos e anti-hipertensivos (Freitas et al., 2011). Por abranger diferentes patologias, não há características específicas da síndrome do imobilismo. O paciente precisa estar necessariamente restrito ao leito, com déficits cognitivos ou múltiplas contraturas. Pode apresentar sintomas como comprometimento da irrigação sanguínea nos músculos, 33 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA diminuição da síntese proteica, atrofia das fibras musculares, perda de coordenação por fraqueza muscular, e contraturas musculares e articulares. Quanto maior o tempo de imobilidade, maiores podem ser as complicações e a evolução desse quadro. Antes de estudar o quadro clínico, é importante lembrar o seguinte: pacientes submetidos ao leito de 7 a 10 dias são considerados em repouso; de 10 a 15 dias, em imobilização; por mais de 15 dias, em decúbito de longa duração. Não podemos afirmar, porém, que todos os pacientes confinados ao leito evoluirão com a síndrome, uma vez que é necessária a adoção de dois tipos de critério para o diagnóstico: • Critérios maiores: déficit cognitivo de médio a grave e múltiplas contraturas. • Critérios menores: sinais de comprometimento cutâneo, ou úlceras de decúbito, disfagia leve a grave, dupla incontinência e afasia. Podemos definir o paciente com síndrome do imobilismo quando ele apresenta as características dos critérios maiores e pelo menos duas dos critérios menores. Figura 14 – Síndrome do imobilismo da pessoa idosa Fonte: Freitas e Py (2006, p. 973). A fisioterapia auxilia na prevenção das consequências do imobilismo através de exercícios físicos, posicionamento adequado dos pacientes no leito (com o uso de coxins para evitar deformidades e úlceras de decúbito) e exercícios respiratórios para a prevenção de complicações respiratórias. 4.1.4 Osteoporose Alterações epidemiológicas como queda da mortalidade (principalmente a infantil), redução da fecundidade e aumento da expectativa de vida favorecem o processo de envelhecimento da população e aumento das taxas de doenças crônico-degenerativas, como a osteoporose (Frazão; Naveira, 2006). 34 Unidade I Osteoporose significa “osso poroso”. É considerada uma das doenças crônicas mais prevalentes na população idosa. Por ser assintomática e pouco diagnosticada, costuma ser identificada após uma queda com fratura. É um distúrbio osteometabólico caracterizado por perda de massa óssea e desarranjo de sua microarquitetura, o que eleva a fragilidade dos ossos, resultando em mudanças esqueléticas como deformações e diminuição da estatura, podendo acarretar dependência e até morte. Doença crônica e progressiva, a osteoporose acomete tanto homens quanto mulheres. De causa multifatorial, atinge mais as mulheres devido à menopausa. A osteoporose é classificada em primária, subdivida em tipo I e tipo II, ou secundária, conforme descrito no quadro a seguir. Quadro 1 – Classificação da osteoporose Primária tipo I Primária tipo II Secundária Mulheres na menopausa Ambos os sexos Endocrinopatias Perda acelerada do osso trabecular Compromete o osso cortical e o trabecular Drogas (glicocorticoides, antiácidos, hormônios etc.) Fraturas vertebrais comuns Fraturas vertebrais e de fêmur Doenças genéticas, como osteogênese imperfeita Artrite reumatoide Doenças gastrintestinais Transplante de órgãos Imobilização prolongada Mieloma múltiplo Câncer de mama Anemias crônicas Mastocitose Tratamento prolongado com heparina Fonte: Freitas e Py (2006, p. 799). O osso é uma forma rígida de tecido conjuntivo, constituído pelas células denominadas osteócitos, osteoblastos e osteoclastos. Essas células estão na matriz proteica de fibras colágenas, cheias de sais minerais, como o fosfato de cálcio. A matriz óssea é constituída por ossos orgânicos e inorgânicos. No osso orgânico há colágeno, proteínas e glicosaminoglicanos; no osso inorgânico há principalmente fosfato de cálcio e, em menor quantidade, outros minerais. Os osteoblastos e osteoclastos são encontrados no periósteo e no endósteo. O esqueleto é composto de aproximadamente 80% de osso cortical ou compacto, parte do osso mais resistente, e 20% de osso trabecular ou esponjoso, parte do osso mais frágil. O processo de remodelação 35 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA óssea é realizado por osteoblastos e osteoclastos. Os osteoblastos atuam na formação do osso, e os osteoclastos fazem a reabsorção óssea, sobretudo na face interna do osso. O processo de remodelação acontece em algumas fases. Primeiro temos a ativação óssea, em que os pré-osteoclastos, estimulados pelas forças mecânicas, transformam-se em osteoclastos, que vão fazer a reabsorção óssea. Estes secretam substância ácida e digerem as matrizes orgânica e mineral do osso, processo que leva de 14 a 21 dias. A próxima fase é a de inversão (de 7 a 10 dias), em que será feita a cobertura da cavidade por células derivadas de monócitos, que constituem uma superfície que previne a erosão óssea. Essa fase é mediada por fatores de crescimento e interleucinas liberados pela matriz óssea. A última fase é a de formação óssea (150 dias), em que os osteoblastos preenchem a lacuna com osteoide, mineralizado progressivamente. Na infância, o osso cresce longitudinalmente. Ele para de crescer com o fechamento das epífises, perto dos 20 anos. Atingimos o pico de massa óssea perto dos 30 anos de idade. Nesse momento, a remodelação óssea é a principal atividade metabólica do esqueleto. A partir daí, a reabsorção e a reposição óssea não acontecem mais de forma equilibrada. A reabsorção óssea passa a ser maior devido ao aumento da atividade osteoclástica ou à diminuição da atividade osteoblástica, o que é mais observado nas mulheres. Os fatores de risco para a osteoporose incluem idade, genética, fatores ambientais, doenças crônicas e hormonais e características físicas do osso. Com frequência, observa-se uma associação desses fatores. O sexo é determinante na incidência da osteoporose, uma vez que as mulheres têm maior prejuízo na remodelação óssea após a menopausa; a queda dos hormônios acaba levando a uma diminuição mais acentuada de massa óssea, enquanto nos homens essa diminuição é gradual (Freitas; Py, 2006). O quadro a seguir aponta os principais fatores de risco para a osteoporose. Quadro 2 – Fatores de risco para a osteoporose Fatores maiores Fatores menores Sexo feminino Amenorreia primária ou secundária Baixa massa óssea Hipogonadismo primário ou secundário em homens Histórico de fratura Perda de peso após os 25 anos ou baixo índice de massa corpórea (IMC < 19) Raça asiática ou caucásica Tabagismo, alcoolismo, sedentarismo Idade avançada Tratamento com drogas que induzem à perda de massa óssea Histórico familiar Imobilização prolongada Menopausa precoce (antes dos 40 anos) Dieta pobre em cálcio Tratamento com corticoides Doenças que induzem à perda de massa óssea Fonte: Freitas e Py (2006, p. 801). 36 Unidade I Os locais de maior incidência de fraturas são as vértebras, o punho e a região proximal do fêmur. O diagnóstico é realizado através de anamnese e exame físico, embora não haja uma sintomatologia significativa.Alguns exames, como a densitometria óssea, são importantes na confirmação do diagnóstico. O tratamento inclui dieta rica em cálcio, ingestão de vitamina D e alguns outros minerais, e a prática de exercícios com carga para estimular o efeito piezoelétrico. Observação O efeito piezoelétrico é um processo que gera uma carga elétrica pela aplicação de força mecânica. 4.1.5 Osteoartrite A osteoartrite (OA), doença degenerativa que afeta as articulações sinoviais, é mais frequente em pessoas idosas. Acredita-se que 85% das pessoas com mais de 65 anos apresentem evidências radiográficas de OA. São muitos os fatores que podem levar a uma OA, como idade, genética, traumas, estresse repetitivo, obesidade, alterações morfológicas da articulação, instabilidade articular e alterações da cartilagem articular. A fisiopatologia acontece devido aos processos de destruição e reparação da cartilagem, que se encontram alterados. Isso decorre da insuficiência do condrócito em manter o equilíbrio entre reparação e destruição tecidual, prevalecendo a destruição. Por essa razão, a cartilagem articular apresenta fissuras em sua estrutura, o que favorece a perda funcional da articulação e reduz a capacidade de absorção do impacto e da mobilidade articular. Além de lesões cartilaginosas, ocorre intensa remodelação do osso subcondral devido à sobrecarga articular, promovendo o aparecimento de osteófitos nas margens articulares, e até mesmo deformidades ósseas (Rodrigues; Camargo, 2015). O quadro clínico é insidioso, lento e progressivo. Cerca de 4% da população brasileira é acometida por osteoartrite, sendo as articulações da coluna vertebral as mais atingidas, seguidas das articulações do joelho e do quadril (Rodrigues; Camargo, 2015). A degeneração da articulação do joelho tem maior incidência em mulheres e está associada a alterações biomecânicas dos membros inferiores, como varo e valgo, e à presença de outros fatores de risco, entre eles a sobrecarga sofrida pela articulação. No Brasil, estima-se que 65% das causas de incapacidade funcional estão relacionadas com a osteoartrite (Vasconcelos; Dias; Dias, 2006). Os pacientes apresentam dor na região da articulação acometida durante o movimento e alívio no repouso. Para aqueles que convivem há mais tempo com a OA, não há alívio da dor durante o repouso. Outros sintomas incluem rigidez matinal, crepitação e estalidos, e diminuição da amplitude de movimento. 37 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA O tratamento clínico está baseado no tratamento farmacológico, através de analgésicos e anti-inflamatórios não hormonais. A abordagem cirúrgica só é recomendada em caso de comprometimento articular grave e perda da capacidade funcional pelo indivíduo, principalmente nas suas atividades da vida diária (Rosis; Massabki; Kairalla 2010). O tratamento fisioterapêutico é realizado com a cinesioterapia, a fim de minimizar a dor e melhorar a força muscular e a amplitude do movimento articular, contribuindo assim para a capacidade funcional do indivíduo. Outros fisioterapêuticos, como eletroterapia, hidroterapia, plataforma vibratória e terapia manual, também apresentam resultados na capacidade funcional do indivíduo (Rodrigues; Camargo, 2015). 4.1.6 Trombose venosa profunda A trombose venosa profunda (TVP) e a embolia pulmonar (EP) são doenças frequentes e responsáveis por grande morbidade e mortalidade de em pessoas idosas. Conforme a população envelhece, a TVP aumenta sua incidência. Pessoas idosas são mais suscetíveis por apresentarem muitos fatores de risco para o seu desenvolvimento. A TVP é uma oclusão total ou parcial de veia profunda ou superficial devido à presença de um trombo, com reação inflamatória da parede do vaso. Pode afetar qualquer membro do corpo, porém é mais comum nos membros inferiores, com maior gravidade nas veias profundas. A fisiopatologia acontece em razão da tríade de Virchow: • lesão endotelial; • fluxo sanguíneo anormal; • hipercoagulabilidade. Fluxo sanguíneo anormal Hipercoagulabilidade Lesão endotelial Trombose Figura 15 – Tríade descrita por Virchow em 1856 38 Unidade I A lesão endotelial ocorre por causa do processo inflamatório reparador. Células sanguíneas promovem agregação e liberação plaquetária e ativação de fatores de coagulação, além de formação de trombina e fibrina, levando à estabilização do núcleo do trombo. O trombo acaba se aderindo à parede do vaso, e os fatores de crescimento permitem que o trombo aumente até obstruir parcial ou totalmente o vaso. Há alterações no fluxo sanguíneo normal. Sua diminuição (estase venosa) causa um fluxo turbulento, com redemoinhos, aumentando a presença de células sanguíneas e fatores de coagulação. A hipercoagulabilidade é qualquer alteração nas vias de coagulação, e pode ser primária (genética) ou secundária (adquirida). Algumas causas de TVP são: • cirurgias pélvicas e abdominais de grande porte; • câncer; • envelhecimento; • gravidez; • obesidade; • veias varicosas; • infecção; • imobilidade; • doenças cardíacas; • DPOC; • tabagismo; • desidratação. Os sintomas clássicos incluem edema unilateral nas proximidades das veias femoral inferior e poplítea, dor ou hipersensibilidade no local e aumento da temperatura da pele. 39 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Edema (inchaço) na perna afetada Dificuldade de locomoção Mudança na cor da pele no local, que começa a ficar com aparência vermelha ou azul Dor nas pernas, principalmente nas panturrilhas, podendo chegar até o tornozelo Sensação de queimação na região afetada Varizes extensas Figura 16 – Principais sintomas da TVP Outro sintoma importante em pacientes com TVP é o sinal de Homans, que ocorre em 50% dos casos. Vale ressaltar que alguns pacientes podem ter sintomas leves e até ser assintomáticos. Observação O sinal de Homans é caracterizado por dor ao movimento de dorsiflexão passiva do tornozelo, com o joelho posicionado em extensão. O diagnóstico é baseado no quadro clínico do paciente, pelo sinal de Homans positivo. Exames como ultrassonografia venosa com doppler auxiliam na confirmação do diagnóstico. Vale ressaltar que devemos inspecionar atentamente os pacientes com fatores de risco associados à TVP, principalmente na presença de imobilidade ou inatividade, muito comum em pessoas idosas, em especial naquelas que vivem em instituições de longa permanência. No tratamento clínico são administrados trombolíticos e antiplaquetários para a dissolução do trombo. O tratamento fisioterapêutico deve ocorrer de forma preventiva e após a dissolução do trombo, sendo baseado em exercícios terapêuticos. 40 Unidade I A fisioterapia vascular vem ganhando espaço pelo tratamento não invasivo da cinesioterapia. Exercícios de alongamento são importantes, pois favorecem a recuperação da amplitude do movimento e melhoram a função corporal (Carolyn, 2009). Os exercícios de mobilização ativa do tornozelo provocam aumento do fluxo sanguíneo através da estimulação da bomba muscular da panturrilha (BMP) (Lima et al., 2002; Machado; Leite; Pitta, 2008; Meyer; Chacon; Lima, 2006). A associação entre a cinesioterapia vascular e a postura em elevação de membros inferiores (MMII) é capaz de evitar o aparecimento da dor e de complicações decorrentes de doença venosa crônica (DVC). O treino da marcha também deve ser realizado, sobretudo em hospitais, no pré-cirúrgico, como forma de prevenção, e no pós-cirúrgico, como deambulação precoce. 4.1.7 Insuficiência venosa crônica e úlcera varicosa A insuficiência venosa crônica é a incapacidade de manutenção do equilíbrio entre o fluxo de sangue arterial que chega ao membro inferior e o fluxo de sangue venoso que retorna ao átrio direito. Decorre da incompetência do sistema venoso superficial e/ou profundo (Carmo et al., 2007). A formação da úlcera venosa ou varicosa acontece por causa de uma insuficiência venosa crônica, e pode estar associada ao acúmulo de líquido e ao depósito de fibrinano interstício, formando manguitos. A deficiência de nutrientes e oxigênio pode acarretar ulcerações e necrose (Carmo et al., 2007). Os sinais clínicos da insuficiência venosa crônica são: • edema; • dermatite; • hiperpigmentação; • dermatofibrose; • linfedema secundário; • exsudato abundante, com hiperemia e hipertermia, podendo surgir erisipela de repetição; • relato de dor que melhora com a elevação dos MMII e piora com o ortostatismo prolongado; • dormência, cãibras e edema vespertino; • edema pós-parto, pós-operatório ou fraturas de MMII. 41 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA O tratamento é baseado em drenagem venosa e curativos. Algumas orientações importantes são a higienização das úlceras, o repouso prolongado e a elevação dos membros para corrigir a hipertensão venosa. Na abordagem farmacológica são prescritos antibióticos e também compressão elástica. Na fisioterapia, além da drenagem venosa, a cinesioterapia contribui para a amplitude de movimento da articulação tibiotársica, melhorando os movimentos do tornozelo, a flexão plantar e, por conseguinte, a função da bomba muscular. O laser é outro recurso que pode auxiliar. Não é um método invasivo, é seguro e de baixo custo, e há evidências científicas de que ajuda no processo de cicatrização tecidual (Brassolatti et al., 2018). São utilizados os lasers de hélio-neônio (HeNe), arseneto de gálio (AsGa), alumínio-gálio-índio-fósforo (AlGaInP) e arseneto-gálio-alumínio (AsGaAl), conhecidos como lasers terapêuticos, de baixa intensidade ou de baixa potência (Andrade; Lima; Albuquerque, 2010). Eles atuam na cicatrização pelo aumento do metabolismo, da maturação, da proliferação celular e da quantidade de granulação de tecido, e pela diminuição dos seis mediadores inflamatórios. Além de ação anti-inflamatória, também apresentam efeito analgésico, que poderá ajudar no reparo tecidual e no alívio da dor do indivíduo (Pinto et al., 2009). 4.1.8 Erisipela Doença infecciosa cutânea aguda e recidivante, a erisipela é causada por bactérias que acometem principalmente os vasos linfáticos, podendo atingir até o tecido celular subcutâneo. A fisiopatologia ocorre por meio da entrada de bactérias do gênero Streptococcus, e outras bactérias podem estar associadas. A bactéria penetra numa pele com micoses, arranhões, rachaduras, bolhas por calçados e corte de calos. Quando atinge os vasos linfáticos, ocorre propagação da infecção (Caetano; Amorim, 2005). Os sinais e sintomas incluem: • hiperemia; • edema superficial; • dor e febre; • mal-estar; • cefaleia, náuseas e vômitos; • bolhas extensas; 42 Unidade I • abscesso; • necrose. Além desses sintomas, pode haver outras complicações, como linfedema e TVP. No tratamento, utiliza-se: • antibioticoterapia, por se tratar de uma infecção bacteriana; • repouso absoluto, com elevação das pernas (enfaixamento da perna); • tratamento das lesões de pele e frieiras para eliminar a porta de entrada das bactérias; • limpeza adequada da pele; • medicação de apoio, como anti-inflamatórios, analgésicos e antifebris, para aliviar os sintomas causados pela doença infecciosa. Observação A erisipela é uma doença infecciosa, mas não contagiosa, não havendo risco de contaminar outras pessoas por contato ou proximidade. 4.2 Demência Em quase todo o mundo, a população que mais cresce é aquela com idade igual ou superior a 60 anos. Como visto, segundo a OMS, a população mundial com mais de 60 anos de idade será de 1,2 bilhão em 2025, podendo chegar a aproximadamente 2 bilhões em 2050 (WHO, 2005). No Brasil, estudos demográficos apontam em 2020 a existência de uma população de 29,8 milhões de pessoas com 60 anos ou mais e de 4,7 milhões de pessoas acima de 80 anos, significando, respectivamente, um acréscimo de 9,2 milhões e 1,7 milhão de indivíduos nessas faixas etárias em comparação com o contingente de 2010 (Burlá et al., 2013). A prevalência de demências é maior com a idade, principalmente depois dos 65 anos, aumentando em 4,1% após os 70 anos e em 47,2% após os 85 anos. A demência é uma síndrome caracterizada pelo declínio progressivo das funções cognitivas e sociais, que se associa a alterações de comportamento e/ou personalidade e compromete a memória, a linguagem (afasia) e a capacidade de realizar movimentos coordenados voluntários (apraxia), o que diminui progressivamente a qualidade de vida da pessoa idosa afetada (Mourão, 2013). 43 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Entre as principais causas de demência estão doenças neurodegenerativas, cerebrovasculares e nutricionais, infecções, intoxicações, trauma cranioencefálico e neoplasias. Exemplos de doença neurodegenerativa: • doença de Alzheimer; • demência por corpúsculos de Lewy; • demência frontotemporal; • doença de Parkinson. Exemplos de doença cerebrovascular: • demência por múltiplos infartos; • infartos lacunares. Exemplos de doença nutricional: • deficiência de vitamina B12; • deficiência de ácido fólico. Exemplos de infecção: • aids; • neurossífilis. Exemplos de intoxicação: • alcoolismo; • alumínio. As funções cognitivas afetadas são: • inteligência geral; • aprendizagem e memória; • linguagem; 44 Unidade I • solução de problemas; • orientação tempo/espaço; • percepção; • atenção e concentração; • habilidades funcionais e sociais. Para que se estabeleça um critério diagnóstico, o paciente deve apresentar comprometimento da memória combinado a distúrbios como afasia, apraxia e agnosia, distúrbios de funções executivas e declínio na atividade social ou profissional. Também é preciso excluir condições (diagnóstico diferencial) como depressão e delirium, que podem confundir no diagnóstico das demências (Gallucci Neto; Tamelini; Forlenza, 2005). A depressão é uma das condições que mais geram confusão no momento de estabelecer um diagnóstico diferencial de demência, embora seja possível encontrar os dois quadros no mesmo paciente, sendo importante a compreensão de suas diferenças clínicas (Gallucci Neto; Tamelini; Forlenza, 2005). Para um diagnóstico adequado, é fundamental investigar a história de episódios depressivos, geralmente associados a alguma perda ou a algo que cause tristeza profunda. Vale lembrar que em pessoas idosas as perdas são frequentes – de um ente querido, do emprego etc. Outra característica que pode provocar confusão é a apresentação clínica da depressão, muito parecida com a demência, por se tratar de sintomas cognitivos, como a disfunção executiva, o déficit de atenção (que acaba sendo muito enfatizado pelo paciente ou pelo cuidador), a lentidão do processamento das informações e a apatia (Bottino et al., 2011). Quadro 3 – Características clínicas que contribuem para o diagnóstico diferencial entre depressão e demência Depressão Demência Início agudo Início insidioso Sintomas geralmente de curta duração Sintomas geralmente de longa duração Humor persistentemente deprimido Flutuação de humor e de comportamento Respostas do tipo “não sei” Justificativa dos erros cometidos (Hiper)valorização dos déficits Minimização dos déficits pelo paciente Flutuação dos déficits cognitivos Déficits cognitivos relativamente estáveis Fonte: Forlenza e Nitrini (2001, p. 109-111). 45 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA O delirium é um quadro agudo de confusão, frequente em pessoas com mais de 65 anos e associado ao aumento de mortalidade e morbidade. É desencadeado por doença cerebral ou sistêmica. Quadro 4 – Características clínicas que contribuem para o diagnóstico diferencial entre delirium e demência Delirium Demência Curso em 24h Flutuante com exacerbação noturna Estável Consciência e atenção Reduzida e globalmente desordenada Clara e normal Cognição Globalmente desordenada Globalmente diminuída Alucinações Frequentes, visuais e/ou auditivas Ausentes Ideias delirantes Usuais Ausentes Atividade psicomotora Hiper ou hipoatividade Normal Fala Incoerente, muita lenta ou muito rápida Dificuldade para encontraras palavras Movimentação Frequentemente, asterixes ou tremor grosseiro Normal Fonte: Freitas e Py (2006, p. 267). 4.2.1 Doença de Alzheimer A doença de Alzheimer (DA) é uma doença cerebral neurodegenerativa mais frequentemente associada à idade, cujas manifestações cognitivas e neuropsiquiátricas resultam numa deficiência progressiva e numa eventual incapacitação, sendo a mais comum das demências. Há um crescente interesse investigativo para firmar o diagnóstico precoce e exato da doença, em vista dos avanços terapêuticos potenciais e estudos clínico-terapêuticos em progresso. Os déficits cognitivos mais precoces envolvem a memória recente (memória do dia a dia e novos aprendizados), enquanto as lembranças remotas são preservadas até certo estágio da doença. Há dificuldades na atenção, na fluência verbal, na capacidade de fazer cálculos, nas habilidades visuoespaciais e na capacidade de usar objetos comuns e ferramentas. A fraqueza motora não é observada, embora as contraturas musculares sejam uma característica quase universal nos estágios avançados da patologia. A progressão até a demência plena poderá levar vários anos (Burlá et al., 2014). O conhecimento sobre as formas de memória é necessário para compreender o estágio da demência do paciente: • Memória de curta duração: memória que pode durar alguns segundos ou dias para fatos irrelevantes. • Memória de longa duração: memória que pode durar alguns meses ou a vida toda. Subdivide-se em: — memória implícita, que pode ser verbalizada e requer consciência; 46 Unidade I — memória implícita, de procedimentos, que não pode ser expressa em palavras; é considerada uma memória automática e não requer consciência, embora dependa de aprendizado (andar de bicicleta, dirigir um carro etc.). A fisiopatologia vem sendo muito estudada nas últimas décadas. Mesmo assim, seus mecanismos patológicos são pouco conhecidos. Os principais achados são a formação de “placas senis” extracelulares contendo proteína beta-amiloide e a presença de emaranhados neurofibrilares intercelulares contendo proteína tau hiperfosforilada, o que vai acarretar a diminuição da densidade sináptica e, como consequência, a morte neuronal. Neurônio saudável Dendritos Axônio Proteína tau Microtúbulos Placa amiloide Neurônio doente Desintegração do microtúbulo Grave retração cortical Ventrículo severamente alargado Grave encolhimento do hipocampo Hipocampo encolhido Ventrículo moderadamente alargado Retração cortical Hipocampo Córtex cerebral Cérebro saudável Doença de Alzheimer leve Doença de Alzheimer severa Figura 17 – Esquema da atrofia cerebral aliada à presença de placas neuríticas Fonte: Alzheimer’s Disease Research (apud Molari, 2011, p. 17). Um diagnóstico provável da DA é caracterizado por presença de demência – estabelecida por exame clínico e avaliação do estado mental –, déficit em duas ou mais áreas de cognição, piora progressiva, ausência de rebaixamento de consciência, início após os 60 anos (antes dos 60 anos, DA familiar) e ausência de doenças sistêmicas ou cerebrais que expliquem os déficits (Gallucci Neto; Tamelini; Forlenza, 2005). 47 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Para um diagnóstico definitivo de DA, deve ser realizado um estudo anatomopatológico, ou seja, uma análise histopatológica do tecido cerebral post mortem, em que serão observadas evidência histopatológica com deposição de proteína beta-amiloide, presença de placas senis e emaranhados neurofibrilares contendo proteína tau e morte neuronal (Gallucci Neto; Tamelini; Forlenza, 2005). O quadro clínico da DA se inicia frequentemente após os 60 anos por ser uma doença com piora contínua, que apresenta progressão variável de 2 a 20 anos, sendo mais comum uma evolução entre 10 e 12 anos. O quadro pode ser dividido em três estágios: • Estágio inicial ou leve (2-3 anos) — prejuízo de memória recente e de aprendizado; — memória remota levemente prejudicada; — desorientação e perda de habilidade visuoespacial; — anomia, dificuldade em geração de listas de palavras; — erros de cálculo; — irritação, agressividade, medo e indiferença; — sintomas de depressão; — prejuízo às AVDs. • Estágio moderado ou intermediário (2-10 anos) — prejuízo às AVDs (perda funcional); — prejuízo mais severo de memória recente e remota; — desorientação; — dificuldade maior de aprendizado e de realização de tarefas complexas; — alteração de julgamento, planejamento e abstração; — isolamento social; — perda da independência familiar; — distúrbios psiquiátricos, como delírios e alucinações; 48 Unidade I — anomia e parafasia; — afasia, apraxia, agnosia e alterações visuoespaciais; — sintomas psicológicos e comportamentais. • Estágio grave ou avançado (8-10 anos) — grave comprometimento de todas as funções cognitivas; — incapacidade total para as AVDs (totalmente dependente); — dupla incontinência; — vocabulário ininteligível, mutismo; — perda da deambulação, imobilidade; — restrição ao leito em posição fetal; — complicações clínicas. Observação Anomia é a dificuldade de nomear ou recordar o nome dos objetos, mesmo sabendo qual é sua função. Parafasia é um distúrbio da fala caracterizado pela produção involuntária de sílabas. 4.2.2 Demência vascular A demência vascular é a segunda mais comum, perdendo apenas para a DA. Caracteriza-se por início abrupto dos déficits e declínio em “degraus”, em que as capacidades dos pacientes pioram e se estabilizam até o próximo acidente vascular cerebral. Os pacientes têm risco de acometimento vascular, o que se evidencia em exames de neuroimagem. Há maior prevalência no sexo masculino (Román, 2002). A demência vascular decorre de doença cerebrovascular, sendo também denominada demência por múltiplos infartos ou demência arteriosclerótica. Pode ser causada tanto por episódios cerebrais isquêmicos quanto por episódios cerebrais hemorrágicos, independentemente da presença de múltiplos infartos ou de arteriosclerose. Um infarto único, se localizado em posição estratégica no interior encefálico, pode levar à demência. 49 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Os fatores de risco para a demência vascular são os mesmos para o acidente vascular cerebral: idade avançada, tabagismo, etilismo, sexo masculino, hipertensão arterial sistêmica, hiperlipidemia, cardiopatia, entre outros. Em exames de imagem, é possível observar a presença de uma grande área acometida ou de vários infartos lacunares em áreas estratégicas do cérebro. Figura 18 – Imagem de demência vascular com duas áreas de infarto cerebral Fonte: Freitas e Py (2006, p. 232). Há alterações cognitivas que podem causar confusão com a DA, uma vez que, em sua maioria, os diagnósticos são estabelecidos com base na história clínica do paciente. O quadro clínico depende da extensão e da localização da lesão. Podemos encontrar alterações como: • hemiparesia; • hemiplegia; • sincinesias; • sinais cerebelares (alterações de equilíbrio, dismetria, decomposição de movimentos, tremor de intenção); • hiper-reflexia profunda; • espasticidade; • alteração de pares cranianos (paralisia facial central, alterações de motricidade ocular, disartria, disfagia, paralisia pseudobulbar); • liberação de reflexos primitivos. 50 Unidade I A avaliação clínica pode ser feita por meio de uma escala conhecida como Escore Isquêmico (Hachinski et al., 1975), mostrada no quadro a seguir, cujo objetivo é diferenciar clinicamente a DA e a demência vascular. Essa escala, porém, apresenta sensibilidade e especificidade de 70% a 80% (Chui et al., 1992). Quadro 5 – Escore Isquêmico Evento Pontos Início abrupto 2 Evolução lenta 1 Curso flutuante 2 Confusão noturna 1 Relativa conservação da personalidade 1 Depressão 1 Queixas somáticas 1 Labilidade emocional 1 História de hipertensão arterial 1 AVC prévio 2 Evidência de aterosclerose 1 Sintomas neurológicos focais 2 Sinais neurológicos focais 2 Pontuação > 7: indica probabilidadede etiologia vascular Pontuação < 4: indica demências degenerativas, como a de Alzheimer Fonte: Freitas e Py (2006, p. 297). 4.2.3 Demência frontotemporal ou de Pick A demência frontotemporal foi descrita por Arnold Pick no final do século XIX. É rara e acomete pessoas idosas. Seu início é mais precoce (antes dos 65 anos de idade) e atinge ambos os sexos, com evolução entre 2 e 10 anos. Cerca de 20% dos casos apresentam um padrão de herança autossômica dominante (Freitas; Py, 2006). Acontece uma deterioração progressiva do encéfalo, caracterizada por afasia grave e distúrbios comportamentais. Os pacientes apresentam uma atrofia mais severa das áreas frontal e temporal. O quadro clínico vai depender da localização dessa atrofia. Na atrofia focal em lobo frontal, há alterações comportamentais e distúrbio de personalidade; na atrofia focal do lobo temporal, há alterações de linguagem (afasia progressiva). As alterações de memória aparecem tardiamente e podem dificultar o diagnóstico. Nas fases mais avançadas, há presença de sinais parkinsonianos, como hipocinesia, rigidez, tremor de repouso e liberação de reflexos primitivos. 51 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA O diagnóstico pode ser feito a partir do quadro clínico do paciente e de exame de imagem, que permitirá observar uma atrofia focal dos lobos frontal e temporal. O diagnóstico definitivo é histopatológico. 4.2.4 Demência por corpúsculos de Lewy A demência por corpúsculos de Lewy (DCL) foi descrita por Friedrich H. Lewy entre 1912 e 1913. Ele observou placas senis e emaranhados neurofibrilares corticais associados aos corpúsculos de Lewy no tronco encefálico. Os corpúsculos de Lewy fazem parte das proteínas alfa-sinucleínas, que aumentam de forma exponencial em algumas pessoas (Förstl, 1999). Observação Alfa-sinucleínas são proteínas presentes no cérebro que têm a função de protegê-lo de danos externos. A DCL é uma doença neurodegenerativa encontrada em pessoas idosas. Representa 20% dos casos de demência pelo mundo. Seu principal diagnóstico diferencial é a doença de Alzheimer, a doença de Parkinson e algumas formas de parkinsonismo atípico (Hogan et al., 2016). Tem um curso mais lento. A expectativa de vida é de 5 a 8 anos após o início dos sintomas, que incluem (Marin, 2008): • flutuações cognitivas; • distúrbios do sono; • síndrome do movimento parkinsoniano; • alucinações visuais; • hipersensibilidade aos neurolépticos; • rigidez; • bradicinesia; • fácies em máscara; • tremor; • marcha festinante. 52 Unidade I Os corpúsculos de Lewy são as lesões marcantes de neurônios degenerados nos pacientes com DCL. Localizam-se principalmente em neurônios da substância negra, no córtex cerebral ou na estrutura límbica, e levam a um comprometimento significativo da neurotransmissão. O diagnóstico clínico é realizado quando há demência de pelo menos 6 meses de duração, com declínio cognitivo flutuante; períodos de confusão mental; alucinações; quedas frequentes; e sinais extrapiramidais, como rigidez e bradicinesia. Muitas vezes, pode ter seu diagnóstico confundido com a demência associada à doença de Parkinson. 4.2.5 Demência associada à doença de Parkinson A doença de Parkinson (DP) é uma das doenças degenerativas mais frequentes do sistema nervoso central. Caracteriza-se por acometimento de neurônios da zona compacta da substância negra, com presença de corpúsculos de Lewy, e diminuição da produção de dopamina, resultando em desordens do movimento. Trata-se de uma doença progressiva, de evolução crônica, de etiologia idiopática e altamente incapacitante. Estimam-se de 85 a 187 casos a cada 100 mil habitantes. A faixa etária mais acometida se situa entre 50 e 70 anos, com pico aos 60 anos. A incidência em homens é maior que em mulheres (Santos et al., 2010). As alterações no controle motor são muito características. Há tremor de repouso, hipertonia plástica (com sinal positivo para roda denteada), bradicinesia, alteração postural, déficit na realização das atividades de vida diária, falta de expressão facial, dificuldade de deglutição, disartria, distúrbio do equilíbrio, importante congelamento motor e marcha com diminuição no comprimento dos passos. Pode ocorrer também um declínio das funções cognitivas, em especial as executivas. Outros sinais incluem incapacidade de iniciar espontaneamente atividades funcionais, fala monótona e micrografia. Os indivíduos com DP podem gerar movimentos normais quando se concentram na atividade que estão exercendo. Ou seja, quando pensam para executar o movimento, ativam a região do córtex pré-motor – que se encontra intacta –, sem recorrer à região com déficit dos núcleos da base (Christofoletti et al., 2009). Aqui vamos nos atentar mais às alterações decorrentes da demência associada à doença de Parkinson, na qual o paciente apresenta um diagnóstico semelhante ao da DCL. No caso da demência associada à doença de Parkinson, os sintomas motores precedem os sintomas cognitivos. A prevalência de demência entre as pessoas com Parkinson não está bem definida. Estima-se algo entre 10% e 50%, com média de 30% (Emre, 2003). O quadro clínico é muito importante para diferenciar as duas condições. O termo demência associada à doença de Parkinson refere-se à demência que se desenvolve, pelo menos, 12 meses após a instalação das alterações motoras. Quando a demência se desenvolve nos primeiros 12 meses de evolução da doença, o diagnóstico mais provável é de DCL (Caixeta; Vieira, 2008). 53 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA O diagnóstico depende da identificação da doença de Parkinson – do quadro clínico motor que é caracterizado por rigidez, bradicinesia, tremor de repouso, marcha festinante e boa reposta à terapia com levodopa. As alterações mais comuns na demência associada à doença de Parkinson concentram-se nas habilidades visuoespaciais e nas funções executivas. Nesses casos, o quadro clínico motor vai aparecer após as alterações cognitivas. Ambas as doenças apresentam um mesmo processo patológico subjacente, causado pela presença dos corpúsculos de Lewy, o qual se supõe estar relacionado à desregulação de uma proteína da sinapse, a alfa-sinucleína. Essas alterações fisiopatológicas encontram-se na substância negra pars reticulata (Burn, 2006). 4.2.6 Abordagem diagnóstica das demências A busca por diagnóstico e tratamento nos casos de demência geralmente parte dos cuidadores dos pacientes, e as queixas típicas incluem dificuldade em encontrar palavras, comprometimento da memória, declínio nos cuidados pessoais, dificuldade em cuidar das finanças ou no desempenho profissional, mudanças de personalidade e/ou humor, retraimento social ou comportamento incaracterístico. A anamnese deve ser feita com o paciente e o cuidador, com este especificando os sintomas, seu início, sua duração e sua evolução. Deve-se avaliar o comprometimento funcional, os fatores de risco, a história familiar e a presença de sintomas depressivos, excluindo-se delirium e outras doenças que causem confusão diagnóstica, além de listar os medicamentos utilizados pelo paciente. A história geralmente é contada pelo cônjuge, um parente ou um amigo próximo. Pode ser feita a investigação separadamente entre o paciente e o cuidador, sendo esse um aspecto importante na consulta, uma vez que os pacientes tendem a subestimar o problema ou não achar que existe algo errado. Os acompanhantes podem compensar o déficit nas respostas do paciente com um sinal de cabeça, evitando desmenti-lo e constrangê-lo durante a anamnese. Algumas perguntas-chave ajudam durante a investigação, uma vez que os cuidadores são leigos e perguntas simples facilitam o entendimento. Por exemplo: • Quando começaram os problemas cognitivos? • Como progrediram? • Quais são as dificuldades atuais? Testes clínicos podem ser utilizados durante a investigação diagnóstica, como o Miniexame do Estado Mental, o Montreal Cognitive Assessment, o Teste de Fluência Verbal e o Testedo Relógio. 54 Unidade I O teste mais conhecido e utilizado é o Miniexame do Estado Mental (Meem) – Mini-Mental State Examination (Folstein; Folstein; Mchugh, 1975) –, uma avaliação simples (requer treinamento mínimo), de rápida aplicação (em torno de 10 minutos), que foi validada para a população brasileira. Tem influência do grau de escolaridade. Quadro 6 – Miniexame do Estado Mental (Meem) Orientação temporal (5 pontos) Qual é a hora aproximada? Em que dia da semana estamos? Que dia do mês é hoje? Em que mês estamos? Em que ano estamos? Orientação espacial (5 pontos) Em que local estamos? Que local é este aqui? Em que bairro nós estamos ou qual é o endereço daqui? Em que cidade nós estamos? Em que estado nós estamos? Registro (3 pontos) Repetir: carro, vaso, tijolo Atenção e cálculo (5 pontos) Subtrair: 100 – 7 = 93 – 7 = 86 – 7 = 79 – 7 = 72 – 7 = 65 Memória de evocação (3 pontos) Quais são os três objetos perguntados anteriormente? Nomear dois objetos (2 pontos) Relógio e caneta Repetir (1 ponto) Nem aqui, nem ali, nem lá Comando de estágios (3 pontos) Apanhe esta folha de papel com a mão direita, dobre-a ao meio e coloque-a no chão Escrever uma frase completa (1 ponto) Escreva uma frase que tenha sentido Ler e executar (1 ponto) Feche seus olhos Copiar diagrama (1 ponto) Copie dois pentágonos com intersecção Adaptado de: Bertolucci et al. (1994, p. 3). O Montreal Cognitive Assessment (MoCA) (Nasreddine et al., 2005) é um instrumento de rastreio cognitivo mais sensível que o Meem, principalmente para os comprometimentos cognitivos leves (CCL). É um instrumento privilegiado na questão da detecção precoce. 55 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA O MoCA acessa vários domínios do cognitivo, como atenção, concentração, funções executivas, memória, linguagem, habilidades visuoconstrutivas, conceituação, cálculo e orientação. O tempo de aplicação também é rápido (em torno de 10 minutos). Figura 19 – Montreal Cognitive Assessment (MoCA) Disponível em: https://bit.ly/3fsAykA. Acesso em: 2 jun. 2021. 56 Unidade I No Teste de Fluência Verbal (Brucki et al., 1997), o avaliador solicita à pessoa que diga o maior número de itens de uma mesma categoria (geralmente, nomes de animais) durante um espaço de tempo definido (geralmente, 1 minuto), sendo considerado normal o valor ≥ 13 nomes em 1 minuto (> 9 nomes para escolaridade inferior a 8 anos). Esse teste também leva em consideração o grau de escolaridade. No Teste do Relógio (Critchley, 1953), solicita-se à pessoa que desenhe um relógio com todos os números e coloque os ponteiros marcando 2h45min. A pontuação vai de 1 a 10, onde: • 10 = relógio e números corretos, hora certa; • 05 = números em ordem inversa ou concentrados; • 01 = não tentou ou não conseguiu. Pessoa saudável Pessoa com Alzheimer Figura 20 – Teste do Relógio 4.2.7 Tratamento das demências A fisioterapia é fundamental na prevenção e no tratamento das alterações motoras e cognitivas que surgem com a progressão das demências, tendo como objetivo a manutenção da funcionalidade e da independência durante o maior tempo possível (Lima et al., 2016). Entre as técnicas utilizadas pela fisioterapia, a estimulação cognitiva é um processo que visa estimular e reabilitar as funções físicas, psicológicas e sociais do indivíduo. São realizadas práticas de funções mentais complexas, envolvendo memória, linguagem e funções cognitivas em geral. Outra forma de tratamento para minimizar a progressão das demências são os exercícios físicos, considerados uma estratégia para prevenir o declínio cognitivo em pessoas idosas. Estudos recentes mostram que a atividade física de leve a moderada pode diminuir a probabilidade do aparecimento de demências, principalmente da DA. Muitos estudos estão sendo realizados para buscar práticas voltadas a programas específicos de atividade física, com o objetivo de manter os aspectos cognitivos de pessoas com demências. 57 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA A cinesioterapia tem por fim prevenir as complicações decorrentes do envelhecimento. Exercícios aeróbicos, de alongamento muscular, mobilização articular e fortalecimento se destacam na prevenção de problemas osteomioarticulares e cardiovasculares (Busse et al., 2008; Landinez Parra; Contreras Valencia; Castro Villamil, 2012; Silva; Santos; Almeida, 2015). A prática de exercício físico regular e supervisionado reduz sintomas neuropsiquiátricos inerentes aos pacientes com demência. Essa redução é associada ao aumento do fluxo sanguíneo e da oxigenação cerebral, induzindo assim a uma melhor funcionalidade neural (Carvalho Filho; Papaléo Netto, 2006; Christofoletti et al., 2009). Outro aspecto relevante do tratamento fisioterapêutico é a melhora do desempenho cognitivo. Muitos autores observam que o exercício físico, como abordagem terapêutica não farmacológica para as demências, pode produzir efeitos positivos na cognição e reduzir distúrbios de comportamento (Garuffi et al., 2011; Tavares et al., 2014). Viola et al. (2011) realizaram um estudo para avaliar os efeitos de um programa de reabilitação multidisciplinar sobre a cognição, a qualidade de vida e os sintomas neuropsiquiátricos em 41 pacientes idosos com doença de Alzheimer leve. Os pacientes foram distribuídos em grupos e submetidos a 24 sessões durante 12 semanas consecutivas de reabilitação cognitiva, terapia ocupacional, fisioterapia, exercício aeróbico e estimulação cognitiva com jogos de leitura e de lógica. Os resultados evidenciaram benefícios na qualidade de vida dos pacientes. A intervenção multidisciplinar é importante também para a família e o cuidador do paciente. Com a progressão do quadro, haverá a necessidade de adaptar os objetivos e as condutas terapêuticas. Além da solicitação dos exercícios, o fisioterapeuta pode contar com algumas estratégias que o auxiliarão durante a intervenção terapêutica. Essas estratégias incluem: • usar técnica de espelhamento; • estabelecer contato visual e explicar o procedimento, tendo cuidado com o contato físico; • conhecer e controlar os mecanismos defensivos do paciente (angústia, medo de errar, negação, agressividade); • estimular a memória; • interpretar as emoções; • estabelecer planos de educação para cuidadores; • evitar o esgotamento de propostas terapêuticas. 58 Unidade I Observação A técnica de espelhamento consiste numa maneira de os pacientes replicarem a postura e o movimento das atividades propostas pelo fisioterapeuta durante o atendimento. O fisioterapeuta realiza as atividades, e o paciente o imita. Isso facilita o entendimento por parte dos pacientes que apresentam dificuldade de linguagem, como nos casos de afasia de compreensão, e aumenta a conexão entre paciente e fisioterapeuta. Os cuidados com os pacientes com demências fazem parte da intervenção fisioterapêutica e envolvem: • estabelecer rotinas; • incentivar a independência; • manter a dignidade; • evitar confrontos; • fazer perguntas simples; • manter o senso de humor e a segurança da casa; • ajudar nas habilidades pessoais e na comunicação; • utilizar artifícios para facilitar a memória. A abordagem farmacológica tem como objetivo principalmente tratar os sintomas. Para isso são utilizados inibidores da colinesterase (tacrina, donepezil, rivastigmina, galantamina), substâncias com o efeito de melhorar a cognição, a rotina, a capacidade funcional e os problemas comportamentais. 59 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Resumo A fisioterapia é uma profissão que apresenta diferentes áreas de atuação, como neurologia, ortopedia, cardiorrespiratória, dermatofuncional, geriatria e gerontologia. É frequente o paciente idoso necessitar da atuação de profissionais dessas áreas. Vamos nos deparar com pacientes idosos em clínicas, hospitais, domicílios e instituições de longa permanência. O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, que se encerra com a morte. Nestaunidade foi possível aprender como é complexo e diversificado esse processo. Muito se tem falado nos últimos anos sobre o envelhecimento populacional, sendo esse fenômeno também observado no Brasil. Até pouco tempo atrás, o nosso país era considerado jovem, ou seja, a maioria da população era de pessoas jovens. Nas últimas décadas, porém, nossa pirâmide populacional mudou de forma, e atualmente, devido à melhora da qualidade de vida, ao avanço da tecnologia e à diminuição da mortalidade infantil, a população conseguiu envelhecer. Vimos que o envelhecimento natural nos diferentes órgãos e sistemas é chamado de senescência – conceito importante para entendermos as diferenças entre idade cronológica e biológica – e que o envelhecimento bem-sucedido depende das reservas funcionais, ligadas a hábitos e estilo de vida de cada um, alimentação saudável e prática regular de atividade física. Por outro lado, o envelhecimento associado a patologias é chamado de senilidade. Abordamos algumas manifestações cinesiopatológicas e venosas comuns em pessoas idosas, como fraqueza muscular, síndrome da fragilidade, síndrome do imobilismo, osteoporose, osteoartrite e alterações venosas. Outro tema discutido nesta unidade foi a demência, uma das maiores preocupações em saúde pública. Estima-se que nos próximos anos teremos uma incidência muito elevada desse diagnóstico em todo o mundo. A demência é caracterizada por perda de memória e por pelo menos mais um déficit cognitivo. Consideramos os tipos mais frequentes de demência: doença de Alzheimer, demência vascular, demência por corpúsculos de Lewy, demência frontotemporal e demência associada à doença de Parkinson. Como há quadros clínicos semelhantes, há necessidade de diagnóstico diferencial. O tratamento fisioterapêutico nas demências é importante para retardar a progressão das perdas motoras e cognitivas, que vão influenciar na diminuição das capacidades funcionais. Isso permite manter os pacientes independentes para realizarem suas atividades da vida diária por mais tempo e assim melhorar sua qualidade de vida. 60 Unidade I Exercícios Questão 1. A mudança na distribuição etária da população brasileira observada na figura a seguir evidencia um fenômeno caracterizado pelo aumento do número e da proporção de pessoas de mais idade, o que é explicado pelo fato de que as pessoas estão vivendo mais, algo verificado nos países europeus e nos EUA nas últimas décadas. 10 1086422468 10 108642246810 1086422468 75 a 79 80 a 84 85 a 89 Mais de 90 2013Idade Homens Homens HomensMulheres Mulheres Mulheres 2040 2060 70 a 74 55 a 59 40 a 44 65 a 69 50 a 54 35 a 39 60 a 64 45 a 49 30 a 34 20 a 24 10 a 14 25 a 29 15 a 19 5 a 9 1 a 4 0 a 1 Milhões de pessoas Figura 21 – Pirâmides etárias absolutas Sobre esse fenômeno na população brasileira, avalie as afirmativas a seguir. I – Segundo as projeções feitas na figura, em 2060 teremos quantidades equivalentes de homens e de mulheres com mais de 60 anos. II – A observação da figura mostra que, no Brasil, são os homens que estão vivendo mais e com melhora na expectativa de vida. III – Fatores como mais acesso à saúde, mais saneamento básico e melhores condições de qualidade de vida explicam o aumento da expectativa de vida no Brasil nos últimos anos. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) III, apenas. C) II e III, apenas. D) I e III, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa B. 61 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: no terceiro gráfico da figura, referente à projeção para 2060, vemos que a soma da largura das barras horizontais relativas às mulheres com mais de 60 anos (na cor rosa) resulta em valor maior do que a soma da largura das barras horizontais relativas aos homens com mais de 60 anos (na cor azul). Logo, segundo as projeções feitas na figura, em 2060 teremos quantidade maior de mulheres com mais de 60 anos do que de homens com mais de 60 anos. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: o gráfico mostra que, ao longo dos últimos anos, houve aumento global na expectativa de vida da população brasileira, e esse aumento é destacado sobretudo para o sexo feminino. III – Afirmativa correta. Justificativa: os fatores mencionados na afirmativa são preditores que auxiliaram na melhora da expectativa de vida da população brasileira. Questão 2. O envelhecimento é um processo natural e complexo, caracterizado por eventos fisiológicos presentes em todos os sistemas orgânicos. Pode ser saudável quando influenciado pelas reservas funcionais da pessoa idosa como bons hábitos de alimentação e prática de atividade física. Trata-se do chamado envelhecimento bem-sucedido. Em relação às alterações fisiológicas observadas durante o envelhecimento, assinale a alternativa correta: A) A partir dos 40 anos, há redução, década a década, na estatura, devido à redução ou ao achatamento dos arcos plantares, ao aumento da cifose dorsal e à perda de funções cognitivas, como a memória. B) Com o envelhecimento, há diminuição de absorção de massa óssea devido ao aumento da atividade dos osteoblastos. C) Alterações na homeostase favorecem o aumento na temperatura corporal da pessoa idosa. Trata-se de processos que não interferem na atividade enzimática de suas células. D) Devido às alterações dos receptores sensoriais cutâneos, pode ocorrer aumento da sensibilidade dolorosa e tátil. E) O aumento da gordura corporal observado principalmente na região abdominal da pessoa idosa é um fator que pode contribuir para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Resposta correta: alternativa E. 62 Unidade I Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: com o passar dos anos, observa-se redução na estatura da pessoa idosa, e esse processo se inicia, em média, após os 40 anos. Fatores musculoesqueléticos, como aumento da curvatura cifótica da coluna e achatamento dos discos intervertebrais e dos arcos plantares, estão envolvidos nessa redução. No entanto, a perda de memória não está relacionada à redução da estatura. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a redução de absorção de massa óssea é resultado do aumento da atividade das células denominadas osteoclastos. Esse evento favorece o desenvolvimento de osteoporose e o risco de quedas. C) Alternativa incorreta. Justificativa: com o processo de envelhecimento do sistema nervoso central, a pessoa idosa pode evoluir com níveis variados de disfunção neurológica, como perda da função cognitiva e dificuldades no controle da homeostase, o que favorece a perda da temperatura corporal. D) Alternativa incorreta. Justificativa: nas alterações encontradas no sistema nervoso periférico, a diminuição da velocidade de condução nervosa e de alguns receptores pode levar à redução da sensibilidade dolorosa e tátil da pessoa idosa. E) Alternativa correta. Justificativa: o aumento da concentração de tecido adiposo é observado sobretudo na região abdominal da pessoa idosa. sendo esse um fator que o predispõe ao desenvolvimento de doenças de natureza cardiovascular.