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Fisioterapia Aplicada à Geriatria e Gerontologia

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AN02FREV001/REV 4.0 
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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
FISIOTERAPIA APLICADA À 
GERIATRIA E GERONTOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
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CURSO DE 
FISIOTERAPIA APLICADA À 
GERIATRIA E GERONTOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
 
MÓDULO I 
INTRODUÇÃO 
1 HISTÓRICO 
2 GERONTOLOGIA COMO DISCIPLINA E CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO 
3 DIVISÕES DA CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO 
4 DEFINIÇÃO DE ENVELHECIMENTO 
5 TEORIAS BIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO 
5.1 TEORIAS ESTOCÁSTICAS 
5.2 TEORIAS DE USO E DESGASTE 
5.3 PROTEÍNAS ALTERADAS 
5.4 MUTAÇÕES SOMÁTICAS 
5.5 ERRO CATASTRÓFICO 
5.6 DESDIFERENCIAÇÃO 
5.7 DANOS OXIDATIVOS E RADICAIS LIVRES 
5.8 MUDANÇAS PÓS-TRADUÇÃO EM PROTEÍNAS 
5.9 TEORIAS METABÓLICAS 
5.10 TEORIAS GENÉTICAS 
5.11 OUTRAS TEORIAS 
6 PREVENÇÃO: GERIATRIA PREVENTIVA 
6.1 PRIMÁRIA 
6.2 SECUNDÁRIA 
6.3 TERCIÁRIA 
6.4 PLANEJAMENTO E ADAPTAÇÃO DE AMBIENTES PARA IDOSOS 
6.5 IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO 
 
 
MÓDULO II 
7 EPIDEMIOLOGIA 
 
 
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7.1 EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA 
7.2 CAUSAS DO ENVELHECIMENTO 
7.3 OS EFEITOS DA EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA 
7.4 A EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER 
7.5 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA 
7.6 QUALIDADE DE VIDA 
7.6.1 Instrumentos de Avaliação de Qualidade de Vida na Velhice 
7.7 AVALIAÇÃO DO IDOSO 
7.7.1 Anamnese 
7.7.2 Exame Físico 
 
 
MÓDULO III 
8 FISIOPATOLOGIA DO ENVELHECIMENTO 
8.1 SISTEMA NERVOSO 
8.2 SISTEMA CARDIOVASCULAR 
8.2.1 Alterações Morfológicas 
8.2.1.1 Pericárdio 
8.2.1.2 Endocárdio 
8.2.1.3 Miocárdio 
8.2.2 Alterações das Valvas 
8.2.3 Alterações do Sistema de Condução ou Específico 
8.2.4 Alterações da Aorta 
8.2.5 Alterações das Artérias Coronárias 
8.3 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO 
8.4 SISTEMA RESPIRATÓRIO 
8.4.1 Alterações Estruturais do Sistema Respiratório 
8.4.1.1 Pulmão 
8.4.1.2 Parede torácica 
8.4.1.3 Músculos respiratórios 
8.4.1.4 Alterações da função pulmonar 
8.5 SISTEMA DIGESTÓRIO 
8.6 SISTEMA ENDÓCRINO 
 
 
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8.7 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO 
8.8 SISTEMA URINÁRIO 
8.8.1 Envelhecimento da Bexiga 
8.9 ENVELHECIMENTO CUTÂNEO 
 
 
MÓDULO IV 
9 PATOLOGIAS E TRATAMENTO FISIOTERÁPICO 
9.1 IDOSOS PORTADORES DE DOENÇAS REUMÁTICAS 
9.1.1 Osteoartrose 
9.1.2 Tratamento Fisioterápico 
9.2 OSTEOPOROSE 
9.2.1 Sintomas 
9.2.2 Tratamento Fisioterápico 
9.3 SARCOPENIA 
9.3.1 Tratamento Fisioterápico 
9.4 DISFUNÇÕES NEUROLÓGICAS 
9.4.1 Demências 
9.4.1.1 Tratamento fisioterápico 
9.4.2 Doença de Alzheimer 
9.4.3 Delirium 
9.4.4 Depressão no Idoso 
9.4.5 Acidente Vascular Encefálico (AVE) 
9.4.6 Doença de Parkinson (DP) 
9.4.6.1 Tratamento fisioterápico 
9.5 DISFUNÇÕES CARDIOCIRCULATÓRIAS 
9.5.1 Principais Doenças da Artéria Coronária 
9.5.2 Infarto Agudo do Miocárdio 
9.5.3 Hipertensão 
9.5.4 Programa de Exercícios 
9.6 DISFUNÇÕES RESPIRATÓRIAS 
9.6.1 Doenças Pulmonares que mais Acometem o Idoso 
9.6.1.1 Infecções 
 
 
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9.6.1.2 DPOC 
9.6.2 Tratamento Ambulatorial e Reabilitação Pulmonar 
9.7 DISFUNÇÕES URINÁRIAS E SEXUAIS 
9.7.1 Técnicas Fisioterapêuticas para Revitalização Geriátrica 
GLOSSÁRIO 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MÓDULO I 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O processo de envelhecimento e sua consequência natural, a velhice, é uma 
das preocupações da humanidade desde o início da civilização. A história demonstra 
que as ideias sobre a velhice são tão antigas quanto à origem da humanidade. 
Feitas essas ressalvas, é preciso deixar claro que realmente o século XX marcou 
grandes avanços na ciência do envelhecimento, graças aos conhecimentos 
adquiridos por meio dos estudos que se desenvolveram desde que os pioneiros 
Metchhnickoff e Nascher, em 1903 e 1909, respectivamente, estabeleceram os 
fundamentos da gerontologia e geriatria. 
 
 
1 HISTÓRICO 
 
O século XX marcou a importância do estudo da velhice, fruto, de um lado, 
da natural tendência de crescimento do interesse em pesquisar o processo de 
envelhecimento, que já se anunciava nos séculos anteriores. Por outro lado, o 
aumento do número de pessoas idosas de todo o mundo exerceu pressão passiva 
sobre os desenvolvimentos desse campo. (NETTO, 1996). 
Foi no início desse século, mais precisamente em 1903, que Elie 
Metchnikoff, sucessor de Pasteur, defendeu a ideia da criação de uma nova 
especialidade, a gerontologia, denominação obtida a partir das expressões gero 
(velhice) e logia (estudo). Esse autor previa que esta área de estudo seria um dos 
ramos mais importantes da ciência, em virtude das modificações que ocorrem no 
curso do último período da vida humana. 
Em vez de aceitar a inevitabilidade da decadência e da degeneração do ser 
humano com o avançar dos anos, Metchnikoff pensava que algum dia uma velhice 
fisiológica normal poderia ser alcançada pelos homens. Em 1909, a especialidade 
passou a ser denominada geriatria, ou o estudo clínico da velhice, como propôs 
 
 
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Ignatz L. Nascher, médico vienense radicado nos EUA. Esse estudioso, que 
estimulou pesquisas sociais e biológicas dentro do envelhecimento e que, por esse 
motivo, foi considerado pai da geriatria, fundou a sociedade de geriatria de Nova 
Iorque em 1912. 
Desde essa época, até 1930, a gerontologia ficou praticamente restrita aos 
aspectos biológicos do envelhecimento e da velhice. Em 1930, Warren delineou os 
primórdios da avaliação multidimensional e a importância da interdisciplinaridade. 
Entre 1969 e 1979, a pesquisa na área aumentou 270%. Entre 1980 e 1990, 
abriram-se novas áreas de interesse geradas pelas necessidades sociais 
associadas ao envelhecimento populacional e à longevidade, como, por exemplo, o 
apoio a familiares que cuidam de idosos dependentes, os custos dos sistemas de 
saúde e previdenciário, a necessidade de formação dos recursos humanos, a 
necessidade de ofertas educacionais e ocupacionais para idosos e pessoas de 
meia-idade. (NÉRI, 2001). 
Existem razões para a lentidão do processo, principalmente com relação a 
pesquisas na área. E nos países em desenvolvimento a política que domina a 
sociedade industrializada e urbanizada sempre teve mais interesse na assistência 
materno-infantil e dirigida aos jovens. Além disso, os idosos constituem um grupo 
bastante frágil e sem representatividade política. Hoje, cresce o número de 
gerontologistas, mesmo porque a população idosa está crescendo 
proporcionalmente. (PAPALEO NETTO e PONTE, 1996). 
No Brasil, o impacto social é com alguma frequência mais importante que o 
biológico. Paralelamente às mudanças demográficas que estão ocorrendo, cresce 
também a necessidade de profundas modificações socioeconômicas do país do 
Terceiro Mundo, que, além de ser política e economicamente dependente de outras 
nações, possui uma estrutura socioeconômica antiga, que privilegia alguns em 
detrimento da maioria. 
O quadro atual, de crescimento da população idosa acompanhado de falta 
de disponibilidade de riqueza, ou, o que é mais comum, de sua perversa distribuição 
de renda, contrasta, por exemplo, com o que existe na Inglaterra, onde o 
envelhecimento da população já se evidenciava após o início da Revolução 
Industrial, quando o estado e a sociedade puderam dispor de recursos para suprir a 
demanda que a população idosa exigia.AN02FREV001/REV 4.0 
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À precária condição socioeconômica associam-se múltiplas afecções 
concomitantes, perdas não raras da autonomia e independência e dificuldade de 
adaptação do idoso a exigências do mundo moderno que, em conjunto, levam o 
velho ao isolamento social. A sociedade moderna encontra-se hoje diante de uma 
situação contraditória. De um lado, defronta-se com o crescimento acelerado da 
população de idosos, e de outro, omite-se perante a velhice ou adota atitudes 
preconceituosas contra a pessoa idosa, retardando a implementação de ações que 
buscam minorar o pesado fardo dos que ingressaram na terceira idade. 
A Revolução Industrial mudou o conceito de valorização intelectual que o 
idoso tinha antigamente, ou seja, passou a ser rejeitado pela incapacidade. Outro 
aspecto que constitui a história da velhice no Brasil foi o rápido processo migratório 
e de urbanização. Hoje, três quartos da população brasileira vivem em áreas 
urbanas, o que acarreta problemas sociais ainda mais graves para os idosos e para 
toda população. 
Outro aspecto que tem sido motivo de interesse é o estudo da velhice 
relacionado ao sexo. Segundo o mesmo autor, o aspecto econômico tem levado a 
uma crescente participação da mulher na força de trabalho, a fim de contribuir 
financeiramente no orçamento doméstico, ocasionando a ausência, na família, de 
alguém que cuide do idoso em caso de doença e ou incapacidade física. Por outro 
lado, em razão da maior duração de vida da mulher em relação ao homem, ela está 
exposta por períodos mais longos a doenças crônicas degenerativas, à viuvez e à 
solidão. 
Acrescenta-se que as mulheres idosas têm tido, em nossa experiência, uma 
participação qualitativa e quantitativamente maior nas atividades relacionadas a 
políticas de saúde ao idoso, como fóruns de gerontologia, conselhos municipais e 
estaduais de idosos, e também nos cursos e universidade da terceira idade. 
Em 1961, foi fundada a Sociedade Brasileira de Geriatria, que teve como 
primeiro presidente Roberto Segadas. O processo interdisciplinar acentuou-se 
nitidamente na década de 90, principalmente na Região Sudeste em cursos de pós-
graduação. 
 
 
 
 
 
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FIGURA 1 – NÚMERO DE TRABALHOS NA ÁRE DE CIÊNCIAS DO 
ENVELHECIMENTO APRESENTADOS EM CONGRESSOS NO BRASIL E NO 
EXTERIOR 
 
FONTE: FREITAS et al., 2006. 
 
 
Para finalizar esse resumo histórico, é importante ressaltar que as 
ciências do envelhecimento, apesar da sua curta existência, ou seja, menos de 
um século, têm hoje produção científica invejável. 
 
 
2 GERONTOLOGIA COMO DISCIPLINA E CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO 
 
Antes de definir o campo de atuação da gerontologia, devemos 
relembrar o significado do termo disciplina e se a mesma pode ser considerada 
como tal. O Dicionário Aurélio define disciplina como: “qualquer ramo do 
conhecimento artístico, científico, histórico, etc.; matéria de ensino; conjunto de 
conhecimentos que se processam em cada cadeira de um estabelecimento de 
ensino”. 
Apesar de os significados serem por si mesmos bastante expressivos, 
justificando-se a inclusão da gerontologia nos currículos acadêmicos, o assunto 
é motivo de questionamentos. Ou seja, não há necessidade de se criar uma 
nova área de investimento, pelo fato de o assunto ser ministrado em outras 
disciplinas. 
 
 
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A própria definição da especialidade finaliza os questionamentos. Assim, 
gerontologia define-se como disciplina científica multi e interdisciplinar, cujas 
finalidades são o estudo das pessoas idosas, as características da velhice 
enquanto fase final do ciclo de vida, o processo de envelhecimento e seus 
determinantes biopsicossociais. 
 
 
3 DIVISÕES DA CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO 
 
 
- Gerontologia Social: que se detêm aos aspectos orgânicos 
antropológicos psicológicos, legais, sociais, ambientais, econômicos, éticos e 
políticos de saúde. 
- Geriatria: a geriatria tem sob seus domínios os aspectos curativos e 
preventivos da atenção à saúde e, para realizar este mister, tem uma relação 
estreita com disciplinas da área médica, como neurologia, cardiologia, 
psiquiatria, pneumologia, entre outras, que deram origem à criação de 
subespecialidades, como a neurogeriatria, a psicogeriatria, a cardiogeriatria e a 
neuropsicogeriatria, entre outras. Além disso, mantém íntima conexão com 
disciplinas não pertencentes ao currículo médico, embora profundamente 
relacionadas, como nutrição e enfermagem. 
- Fisioterapia: terapia ocupacional, fonoaudiologia, odontologia e 
assistência ocupacional. 
- Gerontologia biomédica: tem como eixo principal o estudo do 
envelhecimento, do ponto de vista molecular e celular, enveredando pelos 
caminhos de estudos populacionais e de prevenção de doenças associadas; ou 
seja, sobre uma base genética atuariam fatores extrínsecos (ambiente e estilo 
de vida) e intrínsecos como as alterações celulares e moleculares, que 
acarretaria a diminuição da capacidade de manutenção do equilíbrio de 
homeostase e predispõe a doenças. 
 
 
 
 
 
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4 DEFINIÇÃO DE ENVELHECIMENTO 
 
 
O envelhecimento pode ser definido como: 
 
Processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações 
morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a 
perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, 
ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos 
patológicos que terminam por levá-lo à morte. (PAPALÉO NETTO, 
1996, p3). 
 
A distinção entre senescência ou senectude, que resulta do somatório 
de alterações orgânicas, funcionais e psicológicas próprias do envelhecimento 
normal, e a senilidade, que é caracterizada por modificações determinadas por 
afecções que frequentemente acometem a pessoa idosa, é, por vezes, 
extremamente difícil. O exato limite entre estes dois estados não é preciso e 
caracteristicamente apresenta zonas de transição frequentes, o que dificulta 
discriminar cada um deles. 
Autonomia define-se como a capacidade de decisão, de comando; e 
independência como a capacidade de realizar algo com seus próprios meios. 
Por exemplo: uma senhora com fratura de fêmur, que, estando acamada, e 
dependente, ainda assim pode exercer sua autonomia. O que se procura é a 
manutenção da autonomia e o máximo de independência possível. 
 
 
5 TEORIAS BIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO 
 
Durante séculos, o estudo da longevidade e do envelhecimento foi 
relegado a um papel acessório nas diferentes disciplinas da biologia. No século 
XX, esse papel iria mudar, principalmente porque nunca, em toda a história da 
humanidade, populações apresentaram expectativas de vida tão altas, fruto 
principalmente, da implantação de políticas de saúde pública e medicina 
 
 
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preventiva, tais como vacinação de diversas moléstias infectocontagiosas e 
planejamento e controle sanitário. 
Esses foram os principais fatores que impulsionaram o desenvolvimento 
da assim chamada biologia do envelhecimento. Essa abordagem deu-se 
primeiramente sob o ponto de vista fisiológico, e mais tarde bioquímico. Ou 
seja, com o avanço do conhecimento genético, cresceu também a busca por 
padrões de hereditariedade da longevidade. 
O envelhecimento não é somente a soma de patologias juntas e de 
danos induzidos por doenças. Inversamente, nem todas as alterações na 
estrutura e função dependentes da idade podem ser consideradas como 
mudanças fundamentais ligadas à idade por si só. Em um esforço para 
incorporar esse rigor dentro de uma definição, foi proposto que as mudanças 
fundamentais relacionadas com a idade devem obedecer a essas condições: 
 
 Devem ser deletérias, ou seja, devem diminuir a funcionalidade. 
 Devem ser progressivas, isto é, devem concretizar-se gradualmente. 
 Devem ser intrínsecas, isto é, não devem resultar de um 
componente ambiental modificável.Cabe ressaltar, aqui, que o 
ambiente tem forte influência sobre o aparecimento e velocidade 
dessas mudanças, apesar de não ser a causa. 
 Devem ser universais: todos os membros de uma espécie devem 
mostrar tais alterações graduais com o avanço da idade. 
 
 
5.1 TEORIAS ESTOCÁSTICAS 
 
Parece improvável que um processo tão ordenado como o 
envelhecimento se deva a fatores aleatórios ou estocásticos. Contudo, essa 
ideia é a base das teorias que postulam ser a deterioração associada à idade 
avançada em razão da acumulação de danos moleculares que ocorrem ao 
acaso. Tais macromoléculas defeituosas poderiam se acumular por meio de 
diferentes mecanismos: falha em reparar danos ou erros causados 
 
 
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aleatoriamente na síntese de macromoléculas. Em ambos os casos, haveria 
perda de função e de informações vitais para as células. 
A quantidade dessas macromoléculas incorretas alcançaria um nível em 
que algumas ou todas as células de um ser vivo estariam tão deficientes, 
metabolicamente, a ponto de causarem a morte do próprio organismo. Porém, é 
necessário estabelecer quais células, tecidos ou organismos possuiriam tipos 
específicos de moléculas que são particularmente sensíveis a certos tipos de 
dano; e é necessário assumir que espécies de vida longa são mais capazes de 
tolerar tais danos, que espécies de vida curta. 
 
 
5.2 TEORIAS DE USO E DESGASTE 
 
 
As teorias classificadas como “uso e desgaste” são, provavelmente, as 
mais antigas precursoras do conceito de falha de reparo. O acúmulo de 
agressões ambientais no dia a dia levaria ao decréscimo gradual da eficiência 
do organismo e, por fim, à morte. Todos os organismos são constantemente 
expostos a infecções, ferimentos e agressões que causam danos leves às 
células, aos tecidos e aos órgãos. 
Uma fratura pode sarar, mas o osso não voltará a ser tão resistente 
quanto antes de o ferimento ocorrer. Atualmente, motivos lógicos contribuem 
para o descrédito dessas teorias. Primeiro animais criados em ambientes livres 
de patógenos ou de ferimentos não apenas envelhecem como também não 
apresentam qualquer aumento em sua longevidade máxima; muitos danos 
menores postulados pela teoria do uso e desgaste são mudanças dependentes 
do tempo, que provocam aumento na probabilidade de morte, mas não servem 
como mecanismos causais para o processo de envelhecimento. 
Por exemplo, a perda de dentes em elefantes pode levar à morte por 
inanição, sem que estes apresentem, contudo, mudanças significativas em 
estrutura e função de outros órgãos e tecidos no mesmo período. Os avanços 
atuais em biologias celulares e moleculares reformularam o conceito de “uso e 
 
 
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desgaste”, mostrando que ele não constitui uma teoria, mas sim o componente 
de outra. 
 
5.3 PROTEÍNAS ALTERADAS 
 
 
Essa teoria esclarece que mudanças que ocorrem em moléculas 
proteicas após a tradução, e que são dependentes do tempo, provocariam 
mudanças conformacionais e alterariam a atividade enzimática, comprometendo 
a eficiência da célula. Possivelmente, as enzimas que foram mudadas são 
moléculas de longa vida, isto é, com baixa taxa de turnover, e situam na célula 
por um tempo longo o bastante para sofrerem uma desnaturação sutil no 
ambiente citoplasmático. Estima-se que entre 30 e 50% do total de proteína em 
um animal idoso pode ser composto de proteína oxidada. 
 
 
5.4 MUTAÇÕES SOMÁTICAS 
 
O acúmulo de mutações somáticas no decorrer da vida alteraria a 
informação genética e reduziria a eficiência da célula até um nível incompatível 
com a vida. A literatura mostra um aumento de certas anormalidades 
cromossômicas em células somáticas ao longo da vida, principalmente em 
resposta à radiação ou a mutagênicos, mas não há evidências de que tais 
alterações tenham efeitos funcionais. Ao se considerar o envelhecimento como 
um todo, há pouco suporte experimental para a teoria da mutação somática. 
 
 
5.5 ERRO CATASTRÓFICO 
 
Processos incorretos de transcrição e/ou de tradução dos ácidos 
nucleicos reduziriam a eficiência celular a um nível incompatível com a vida. 
Mesmo que o genoma não contenha mutação somática ou dano no DNA, erros 
poderiam acontecer durante o processo de tradução. Um erro catastrófico 
 
 
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deveria acontecer quando a frequência de erros alcançasse um valor em que um 
ou mais processos vitais para a célula assumissem uma ineficiência letal. Se 
morrerem células em número suficiente para causar esse efeito, o resultado 
seria o decréscimo na capacidade funcional que formaliza o envelhecimento. 
 
 
5.6 DESDIFERENCIAÇÃO 
 
 
Essa abordagem sugere que o envelhecimento normal de um organismo 
resultaria do fato de as células que o compõem se desviarem de seu estado 
apropriado de diferenciação. A teoria da desdiferenciação supõe que mudanças 
estocásticas que ocorrem no aparato de regulação gênica resultariam em 
mudanças na expressão gênica. 
Dados experimentais obtidos com células cultivadas indicam que os 
mecanismos de controle genético não parecem relaxar com a idade. A despeito 
da ausência de comprovação experimental, essa hipótese ainda permanece sob 
investigação, em razão da possibilidade de testes em nível molecular. 
 
 
5.7 DANOS OXIDATIVOS E RADICAIS LIVRES 
 
 
A teoria do dano oxidativo postula que todas as deficiências fisiológicas 
características de mudanças realmente relacionadas com a idade, ou a maioria 
delas, podem ser atribuídas aos danos intracelulares produzidos pelos radicais 
livres. Apesar de plausível, esse conceito não pode ser claramente provado ou 
negado por um único experimento. Diversos tipos de evidências têm sido 
buscados para testar essa teoria, mas ainda existem muitas controvérsias. 
Apesar disso, a composição entre oxidação, substâncias antioxidantes e 
envelhecimento, mesmo sem comprovação definitiva, têm servido de suporte 
para justificar o uso de suplementações e a prática de terapias supostamente 
“antienvelhecimento”. 
 
 
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Lipofuscina é o acúmulo de detritos em sua forma mais simples. A teoria 
dos detritos propõe que o envelhecimento da célula é causado pelo acúmulo 
intracelular de produtos do metabolismo que não podem ser destruídos, exceto 
pelo processo de divisão celular. Acredita-se que Iipofuscinas geralmente 
surgem como resultado de auto-oxidação, induzida por radicais livres em 
componentes celulares, principalmente estruturas de membrana que contenham 
lipídios insaturados. 
Entretanto, nenhuma evidência sugere que a Iipofuscina em si seja 
danosa. Mas produtos de metabolismo podem provocar substâncias que podem 
ser danosas, prejudicando pelo espaço tomado, a função da célula. 
 
 
5.8 MUDANÇAS PÓS-TRADUÇÃO EM PROTEÍNAS 
 
 
Modificações dependentes de processos químicos do tempo, ocorrendo 
em macromoléculas importantes (como o colágeno e a elastina) 
comprometeriam as funções dos tecidos e diminuiriam a eficiência celular, 
culminando na morte. Já que um terço do conteúdo total de proteínas de um 
mamífero é composto por colágeno, as mudanças nessa molécula, à medida 
que o indivíduo envelhece, têm repercussões importantes em praticamente 
todos os aspectos morfológicos e fisiológicos do organismo. 
 
 
5.9 TEORIAS METABÓLICAS 
 
 
Sabe-se, de longo tempo, que animais maiores apresentam longevidade 
maior do que a de seus parentes taxonômicos de tamanho menor, e que sua taxa 
metabólica seria inversamente proporcional ao peso do seu corpo. A ligação entre 
esses dois fatos leva à ideia de que a longevidade e o metabolismo estariam juntos 
em uma relação causal. Em alguns organismos, mudanças da taxa metabólica 
induzidas por temperatura e/ou dieta produziriam alterações correspondentes na 
 
 
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longevidade. Além disso, há dados fortes mostrando que a taxa metabólica tende a 
diminuir coma idade avançada. 
Essas e outras observações iguais levaram à hipótese segundo a qual a 
longevidade pode ser mais bem entendida como função do declínio metabólico. 
(PACHECO et al., 2009). 
 
 
5.10 TEORIAS GENÉTICAS 
 
As teorias desse grupo sugerem que mudanças na expressão gênica 
causariam modificações senescentes nas células. As mudanças poderiam ser gerais 
ou específicas, podendo atuar em nível intra ou extracelular. A interpretação mais 
realista desse cenário seria a de que, dentro do contexto de um dado genótipo com 
uma longevidade particular, alterações na atividade desses poucos genes seriam o 
suficiente para deslocar o equilíbrio das funções genômicas para uma longevidade. 
Contudo, a avaliação experimental é lenta em razão do imenso número de variáveis 
e da limitação das técnicas de exploração disponíveis. 
 
 
5.11 OUTRAS TEORIAS 
 
 
Apoptose (morte celular induzida por sinais extracelulares), fagocitose 
(destruição de células por outras), neuroendócrinas (falência progressiva de células 
que levaria ao colapso da homeostasia corporal, à senescência e à morte), 
imunológicas (reduções qualitativas e quantitativas na resposta imune seria direta ou 
indiretamente em razão da involução inicial e ao envelhecimento do timo), também 
são teorias que poderiam explicar o início do envelhecimento, mas sempre 
apresentam restrições em alguma parte do estudo. 
 
 
 
 
 
 
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6 PREVENÇÃO: GERIATRIA PREVENTIVA 
 
6.1 PRIMÁRIA 
 
Dentro da geriatria preventiva primária, encontram-se todas as ações 
voltadas a diminuir ou retardar o aparecimento de disfunções e morbidades crônico-
degenerativas associadas à idade. A questão associada seria quando, então, 
começa a geriatria preventiva? Desde a infância seria a resposta mais correta. Ela 
engloba o controle e adequação de variáveis relacionadas ao estilo de vida do 
indivíduo e da população. 
Consta de nutrição saudável, atividade física, evitar a obesidade, afastar o 
estresse e evitar o cigarro. O tempo de repouso também é fundamental, ou seja, 
dormir de sete a oito horas por dia e fazer trinta minutos de “sesta”. 
 
 
6.2 SECUNDÁRIA 
 
A ação principal para fazermos geriatria preventiva secundária é o 
estabelecimento de revisões periódicas que contribuem para a detecção precoce de 
doenças crônico-degenerativas. Esses programas são de mais baixo custo quando 
comparados com o custo de tratamento daquele em que a doença já se instalou. 
Estima-se ser em torno de 10%. 
 
6.3 TERCIÁRIA 
 
Na parcela da população afetada por doenças crônico-degenerativas e/ou 
disfunções associadas também há necessidade de fazermos geriatria preventiva. 
Deste modo, para indivíduos afetados por doenças como neoplasias ou 
coronariopatias, o médico e o sistema de saúde precisam adotar programas de 
reeducação de estilo de vida e de prevenção que garantam a estabilização da saúde 
do paciente. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 20 
 
 
6.4 PLANEJAMENTO E ADAPTAÇÃO DE AMBIENTES PARA IDOSOS 
 
Com o envelhecimento crescente da população, torna-se cada vez mais 
urgente o planejamento e a adequação dos ambientes para pessoas idosas. As 
pessoas que envelhecem fazem parte de uma minoria, mas também devem ser 
atendidos em suas necessidades de conforto, segurança e atividade. Os idosos 
exprimem o desejo de viver em ambientes seguros, nos quais possam exercer 
controle personificado. 
Querem que esses locais propiciem autonomia, mas com certo grau de 
cuidado e de especificidade, o que traz a necessidade de adaptação dos espaços a 
capacidades físicas e sensoriais diminuídas. Espaços planejados para receber 
idosos portadores de incapacidades físicas, psicocognitivas e sensoriais determinam 
o aumento da independência funcional, diminuição de estados de apatia, restrição 
no número de queixas de saúde. 
 
 
6.5 IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO 
 
Segundo Williamson (2008), existem quatro aspectos importantes na 
prevenção primária: 
 
 A imunização e alguns tipos de vacinas para o idoso, para evitar 
determinadas doenças como a gripe em epidemias, em grupos confinados a 
instituições, etc. 
 A manutenção e promoção de saúde na velhice. Cuidados básicos contra 
a obesidade, tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, prevenção das doenças do 
trabalho e acidentes caseiros, etc. 
 Esclarecimento de fatores de risco precursores de doenças, 
principalmente em indivíduos assintomáticos, para as doenças familiares, bem como 
estar atento para as possíveis características do idoso para as múltiplas patologias. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 21 
 Esclarecimento da hipertensão arterial na velhice. A prevenção 
secundária inclui o diagnóstico precoce das condições reversíveis, ou em estágios 
iniciais, ou nos pacientes mais jovens. A manifestação de sintomas é, muitas vezes, 
inespecífica e atípica. Assim, no idoso, quedas, estados confusionais, 
incontinências, entre outros, devem ser avaliados em profundidade. Ainda segundo 
Williamson é muito importante o treinamento dos médicos e profissionais de saúde, 
para saberem separar os acontecimentos decorrentes de doenças, daqueles 
oriundos do processo do envelhecimento propriamente dito. 
E a prevenção terciária implica a detecção das doenças crônicas e 
incapacitantes estabelecidas no idoso. Oferecendo a chance de tratamento mais 
precoce e mais efetivo possível. Determinados eventos são comuns na velhice. 
Besdine (2008) relacionou por ordem de importância, os seguintes 
acontecimentos: 
 
- Quedas; 
- Fraturas de quadril; 
- Incontinência urinária; 
- Incontinência fecal; 
- Escaras de decúbito; 
- Diminuição das acuidades visual e auditiva; 
- Acidentes vasculares cerebrais; 
- Síndrome da demência; 
- Parkinsonismo; 
- Hidrocefalia de pressão normal; 
- Polimialgia reumática/artrite células de gigantes (art. temporal); 
- Osteoporose; 
- Osteoartrite; 
- Doença de Paget; 
- Síndrome do túnel do carpo; 
- Estenose do canal medular; 
- Coma diabético hiperosmolar não etótico; 
- Secreção inadequada de hormônio antidiurético; 
- Hipotermia acidental; 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 22 
- Leucemia linfática crônica; 
- Carcinoma de células basais; 
- Linfo adenopatia imunoblástica; 
- Tumores sólidos; 
- Tuberculose; 
- Herpes zoster; 
- Arteriosclerose; 
- Amiloidose; 
- Angiodisplasia de cólon; 
- Hipertensão sistólica; 
- Hipotensão postural. 
 
Doenças cujo principal fator de risco continua sendo a própria idade tende a 
assumir dimensões epidêmicas com o envelhecimento populacional. Um exemplo 
ilustrativo é a Doença de Alzheimer (DA). Pode-se dizer que a prevalência de 
demência quase dobra a cada cinco anos após os 65 anos, e quase 50% dos casos 
de demências são de Alzheimer. Por ser uma doença evolutiva, extremamente 
incapacitante e sem medidas terapêuticas eficazes, ainda que paliativas, pode ser 
considerada um dos grandes problemas de saúde pública no mundo. 
Existem evidências de que o grau de desenvolvimento intelectual possa ser 
um fator de risco para perdas cognitivas. Em um país com uma enorme massa de 
analfabetos, a preocupação é muito grande, prevendo-se o boom que está por vir. 
Na verdade, o que está em jogo na velhice é sua autonomia. Qualquer pessoa que 
chegue aos oitenta anos capaz de gerar sua própria vida e determinar quando, onde 
e como se darão suas atividades de lazer, convívio social e trabalho (produção em 
qualquer nível), certamente pode ser considerada saudável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 23 
 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 25 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
FISIOTERAPIA APLICADA À 
GERIATRIA E GERONTOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 26CURSO DE 
FISIOTERAPIA APLICADA À 
GERIATRIA E GERONTOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 27 
 
 
MÓDULO II 
 
 
7 EPIDEMIOLOGIA 
 
 
“Todas as coisas têm o seu tempo e todas elas passam debaixo do céu 
segundo o tempo que a cada um foi prescrito. Há tempo de nascer e há tempo de 
morrer”. (ECLESIASTES, cap. III, v. 1 e 2). 
 
 
7.1 EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA 
 
 
Os seres vivos são regidos por um determinismo biológico: todos nascem, 
crescem, amadurecem, envelhecem, declinam e morrem. O tempo e a forma que se 
processam essas fases dependem de cada indivíduo, da programação genética de 
sua espécie e de fatores ambientais (habitat, modus vivendi e de agressões que 
tenha sofrido no decorrer de sua existência). O que tem aumentado 
significativamente é a esperança de vida ao nascer, que hoje, em alguns países, já 
está na nona década de vida. 
Atualmente, vive-se mais, ocorrendo menos óbitos em grupos etários mais 
baixos e após os 60 anos. Consequentemente, ao se analisar o crescimento 
demográfico por grupos etários, o grupo que apresenta, proporcionalmente, maior 
crescimento, é o de 60 anos ou mais. A cada década acima, o crescimento tem-se 
mostrado maior. 
Deve-se destacar a importância crescente que vem sendo dada à “quarta 
idade”, ou a dos “velhos muito velhos”, que é uma parcela muito significativa da 
população idosa nos países desenvolvidos, formada por indivíduos de 80 anos ou 
mais. Esse aumento do número de anos de vida do homem, entretanto, nem sempre 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 28 
está acompanhado pela melhoria ou manutenção da sua qualidade. É aqui que se 
encontra um dos grandes desafios da Gerontologia. 
 
 
7.2 CAUSAS DO ENVELHECIMENTO 
 
 
Para Thomas (2008), a causa do envelhecimento demográfico da população 
é complexa, ressaltando alguns fatores: 
 Qualquer declínio significativo e constante na fertilidade produz o 
envelhecimento da população; 
 Redução da taxa de mortalidade na segunda metade da vida; 
 A migração dos jovens pode resultar em um envelhecimento ainda maior 
de populações de determinadas regiões. A transição de uma população jovem para 
uma envelhecida deu-se originariamente na Europa, onde a fecundidade declinou 
marcadamente, muito antes de qualquer método anticoncepcional científico estar 
disponível. Fruto do desenvolvimento social gerado pela Revolução Industrial houve 
uma queda gradual na mortalidade, que, em longo prazo, levou a uma queda na 
fecundidade, e, consequentemente ao envelhecimento da população. 
Atualmente, países como a Alemanha, por exemplo, têm taxas de 
fecundidade abaixo do limite de reposição, ou seja, menos de dois filhos em média 
por casal, uma situação em que as mortes passam a exceder os nascimentos e a 
população começa a diminuir. Em geral, os países da Europa iniciam o século em 
curso com mais de um quarto da população na faixa dos 65 anos ou mais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 29 
FIGURA 3 – ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO TOTAL POR FAIXA ETÁRIA 
E SEXO 
 
FONTE: Guccione, 2002. 
 
 
7.3 OS EFEITOS DA EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA 
 
 
Na América Latina, o processo vem sendo desenvolvido de uma maneira 
mais drástica, pois não é resultado de desenvolvimento social e sim de um processo 
maciço de urbanização desordenado. Alteram-se, com isso, as estruturas de 
trabalho da família, com a mulher sendo progressivamente incorporada à força de 
trabalho e sendo obrigada a delegar funções de cuidados da casa a familiares, sem 
que haja uma estrutura de apoio. 
Na verdade, a expectativa aumentou mais por causa de redução das 
doenças infecciosas, mas as condições de alimentação e estruturas fazem com que 
o latino tenha que cuidar das doenças que passam a ser degenerativas. Se a 
população mundial vem crescendo, também vem envelhecendo progressivamente. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 30 
Assim, em apenas 60 anos, a população mundial crescera duas vezes e meia, 
enquanto a população acima de 65 anos quatro vezes e a com mais de 80 anos 
crescera um pouco mais de cinco vezes. Em 1950, o Brasil ocupava o 16º lugar 
entre os países de maior população geriátrica, devendo ser o sexto em 2025. 
 
 
7.4 A EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER 
 
 
No Brasil, mostra-se um significativo aumento nos anos de vida. O que era 
em torno de 33,7 anos em 1900, passou para 50,99 em 1950/55 e deverá ser de 
72,08 em 2020/25. Estudos demonstram que as mulheres vivem mais que os 
homens. Em 1950/55 viviam 3,43 anos mais que os homens, em 1990/95 viviam 
5,56 anos mais e em 2020/25 viverão 6,21 anos mais. Entretanto, essas 
expectativas são avaliações e projeções em um determinado período e contexto, 
pois se considerarmos as pessoas que nasceram no início do século e sobrevivem 
até hoje, seguramente já viveram muito mais que os anos previstos na época de seu 
nascimento. 
Contudo, o número de pessoas idosas inválidas nos países em 
desenvolvimento é maior que o número dos países desenvolvidos, em consequência 
da má nutrição, más condutas assistenciais, más condições de trabalho e de 
doenças no decorrer da vida. (CANÇADO, 1994). 
Portanto, a invalidez na velhice tem como substrato importante os efeitos 
cumulativos dos acidentes, das doenças crônico-degenerativas, das doenças 
agudas e das carências. Assim, uma atuação preventiva na área de saúde reduziria 
as consequências desastrosas de diversas doenças desde a morbidade até a 
mortalidade, diminuindo o número de incapacitações e invalidez e contribuindo para 
a melhoria do padrão de qualidade de vida do indivíduo em geral. 
São números impressionantes que mostram a necessidade urgente de um 
planejamento de assistência à população idosa, sem entrar no aspecto do 
planejamento familiar, melhor distribuição de rendas e outros. O baixo nível de vida, 
o desemprego, o analfabetismo, os salários e as aposentadorias defasados e 
insuficientes para manter um nível de vida digno vêm corroendo mais ainda o padrão 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 31 
de vida do brasileiro. Tanto a Previdência quanto o Sistema de Saúde no Brasil 
estão falidos. Se hoje temos apenas um contribuinte (30.649.419, dos quais três 
porcento com 60 anos ou mais) para cada não contribuinte (29.967.836, dos quais 
sete porcento são de 60 anos ou mais) a tendência é a situação se agravar. 
No período de 1950 a 1980, houve, também, um significativo decréscimo no 
percentual de pessoas idosas economicamente ativas em relação ao total da 
população, especialmente entre a população masculina. Em 1998, houve uma 
melhora na condição dos rendimentos do idoso, desde os últimos 10 anos. 
(CAMARANO e EL GHAOURI, 1999). Essa melhoria foi resultado da 
Universalização da Previdência Social, da ampliação da cobertura rural e da 
legislação da assistência social estabelecidas pela Constituição de 1988, que 
garante aos idosos carentes maiores de 70 anos um salário mínimo mensal. 
Com isso, os idosos passaram a ser chefes de família, reduzindo o risco de 
proceder a demências (às vezes, eles abrigam filhos separados, desempregados e 
com gravidez precoce). Na sucessão de fatos, qualquer mudança previdenciária vai 
surtir efeito numa parcela importante de famílias brasileiras. 
 
 
7.5 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA 
 
 
Assim, esse século se caracterizou por uma queda significativa nas taxas de 
mortalidade em todo o mundo. Nos países desenvolvidos, essa diminuição é 
consequência principalmente das melhorias nas condições básicas de vida, como 
higiene, saneamento, urbanização adequada,vacinas, nutrição, melhoria das 
condições no trabalho, moradia, etc. 
A descoberta da cura de doenças agudas e infecciosas, na metade do 
século, teve pequena importância no aspecto geral do processo, pois uma queda 
drástica já vinha acontecendo há vários anos. Segundo Soldo e Manton (2000), 
depois de diminuído o risco de morte por doenças agudas e infecciosas nos Estados 
Unidos, a expectativa de vida naquele país passou por um período de estabilidade. 
A partir da década de 70, novamente se notou um significativo aumento da 
expectativa de vida em virtude, principalmente, da diminuição dos riscos de morte 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 32 
por doenças crônicas. É comprovado que três quartos de todos os idosos morrem 
em razão de três tipos de doenças crônicas: cardiovasculares, cerebrovasculares e 
neoplasias. 
A doença cardiovascular é responsável pela morte de 50% de todos os 
indivíduos com mais de 65 anos. Merece destaque o significativo aumento de vida 
para ambos os sexos, tanto em pacientes que sofrem de doença cardíaca quanto de 
câncer, pelo adiamento do impacto mortal da doença crônica. 
No Brasil, está acontecendo uma mudança nas causas de mortalidade, se 
considerarmos as principais causas de morte nas capitais brasileiras entre 1930 e 
1980. Em 1930, as causas principais de morte eram as doenças infecciosas, 
parasitárias, cardiovasculares, respiratórias, as causas de origem perinatal, as 
neoplasias e as causas externas. 
Em 1980, passam a ser as cardiovasculares, as infecciosas e parasitárias, 
as neoplasias, as respiratórias, as causas externas e as causas de origem perinatal, 
respectivamente, na ordem de montante. Já nos países desenvolvidos, em geral, as 
principais causas de morte são as doenças cardiovasculares (coração e 
cerebrovascular), as neoplasias e as causas externas. 
Proporcionalmente, merece destaque o fato de que após os 80 anos as 
neoplasias cedem lugar às doenças do aparelho respiratório, provocadas por 
broncopneumonias, pneumonias, enfisema pulmonar, outras obstruções crônicas 
causadas pelo tipo de vida e condições ambientais em que viveu o indivíduo e pela 
diminuição progressiva de sua defesa imunológica. 
Para os idosos, entre as causas externas, nota-se a importância crescente 
das fraturas. Muitos fatores de risco agem ocasionando as fraturas, como as 
doenças: osteoporose, AVC, hipotensão e instabilidade postural, diminuição de 
acuidade visual e auditiva. As fraturas podem também ser causadas pelas condições 
inadequadas nas cidades: veículos com degraus altos ou estacionados 
erroneamente, atropelamentos, assaltos e agressões, calçadas esburacadas e 
escorregadias, etc. 
Outra causa externa importante para fraturas são as condições inadequadas 
dos domicílios: assoalhos encerados, tapetes, sapatos, degraus, banheiros, etc. 
Para se ter uma noção do custo de assistência correta à população idosa, tem-se 
que recorrer a dados estrangeiros, uma vez que no Brasil quase nada se faz por 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 33 
essa faixa etária da população, dadas as prioridades de um país em 
desenvolvimento, com graves problemas na área da infância, adolescência, etc. 
Nos Estados Unidos, por exemplo, embora os idosos representem 11% da 
população, ocupam 33% dos leitos hospitalares destinados a agudos, compram 25% 
de todas as prescrições medicamentosas e consomem 30% do orçamento de saúde 
(de um fabuloso montante de mais de 300 bilhões de dólares). 
Ainda nos Estados Unidos, entre os cidadãos com mais de 65 anos, cerca 
de um quarto está sujeito a passar algum tempo de suas vidas em algum tipo de 
instituição social antes de morrer. E dos que ultrapassarem os 80 anos, a metade 
morrerá num asilo, cujo número de leitos já ultrapassa os leitos de casos agudos 
existentes. 
Neste mesmo país, 25% dos idosos que vivem em comunidade não têm 
parentes vivos, ficando sós. O organismo, além de ser consequência da sua 
programação genética, sofre, também, as sequelas dos impactos, hábitos e do meio 
ambiente a que foi submetido. 
 
 
7.6 QUALIDADE DE VIDA 
 
 
A longevidade cada vez maior do ser humano acarreta uma situação 
ambígua, o desejo de viver cada vez mais e, ao mesmo tempo, o temor de viver em 
meio a incapacidades e dependência. 
Wood-Dauphinee (1999) relata que o termo qualidade de vida foi 
mencionado pela primeira vez em 1920, por Pigou, em um livro sobre economia e 
bem-estar material. Com a evolução, parecia necessário avaliar a qualidade de vida 
percebida pelas pessoas e o quanto estavam satisfeitas ou insatisfeitas com a 
situação e qualidade de suas vidas. 
O conceito estendeu-se para os campos das artes, do lazer, do emprego, 
dos transportes, da moradia, da conservação e da preservação do meio ambiente e 
da educação. Além disso, determinantes históricos e culturais definem a relatividade 
da noção desta qualidade de vida. Os padrões e concepções de bem-estar são 
estratificados, pois em sociedades em que as desigualdades são muito importantes, 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 34 
a qualidade de vida está relacionada ao bem-estar dos estratos superiores e a 
passagem de um estrato a outro. 
O grupo de especialistas em qualidade de vida da Organização Mundial da 
Saúde (OMS) que elaborou um instrumento genérico de avaliação de qualidade de 
vida, usando um enfoque transcultural (The WHOQOL Group, 1995), considera que, 
embora não haja definição consensual de qualidade de vida, há concordância 
considerável entre os pesquisadores acerca de algumas características do 
construto. 
A definição de qualidade de vida apresentada pelo The WHOQOL é a 
seguinte: “Qualidade de vida é a percepção do indivíduo acerca de sua posição na 
vida, de acordo com o contexto cultural e sistema de valor com os quais convive e 
em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. 
Segundo Nery (2001), com relação à qualidade de vida na idade mais 
avançada, na velhice, pode ser designada como a avaliação multidimensional 
referenciada a critérios socionormativos e intrapessoais, a respeito das relações 
atuais, passadas e prospectivas entre o indivíduo idoso e o seu ambiente. 
Estereótipos em relação à velhice comprometem a possibilidade de uma 
qualidade de vida melhor. Em nosso meio, a velhice é comumente associada a 
perdas, incapacidade, dependência, impotência, decrepitude, doença, desajuste 
social, baixos rendimentos, solidão, viuvez, cidadania de segunda classe, e assim 
por diante. 
O idoso é chato, rabugento, implicante, triste, demente e oneroso. 
Generalizam-se as características de algumas pessoas idosas para todo o universo. 
Essa visão estereotipada, junto à dificuldade de distinguir entre envelhecimento 
normal e patológico, senescência e senilidade, leva à negação daquilo que ocorre, 
ou à negligência de suas necessidades, vontades. Talvez por esses motivos, os 
idosos tendem a ignorar sintomas como a tristeza, a dor ou o cansaço. 
Profissionais tentam explicar os sintomas ou as queixas trazidos pelos 
idosos como fazendo parte do processo natural do envelhecimento, o que se traduz 
em omissão e em negligência, impedindo o tratamento e a reabilitação. (ORY & 
COX, 1994). Em razão disso, muitas idosas não se queixam de incontinência 
urinária por vergonha ou por acharem normal. Algumas se acostumam, apesar de 
ser uma causa de isolamento social e secundariamente de depressão. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 35 
7.6.1 Instrumentos de Avaliação de Qualidade de Vida na Velhice 
 
 
Existem relativamente poucos instrumentos específicos de avaliação da 
qualidade de vida de pessoas idosas. Entre eles podem ser citados os seguintes: 
 Life Satisfection Index - LSI (NEUGARTEN, HAVIGHURST, 1960). 
 KATZEL at al., 1963. 
 Multilevel Assessment Instrument - MAI (LAWTON et al., 1982). 
 Philadelphia geriatric Center Morale Scale - Morale ScaIe (LAWTON e 
BRODY, 1969). 
 OARS Multidimensional Functional Assesment Questionnaire– OMFAQ 
(Older Americans Resourses and Services of Duke University) 
(FILLEMBAUM e SMYER, 1981). 
 Memorial University of Newfoundland Scale of Happiness – MUNSH 
(Multilevel Assesment Instrument, KOZMA e STONES, 1980). 
 Geriatric Quality of Life Quetionaire, desenhado para o idoso fragilizado 
(GUYATT et al., 1993). 
 
 
7.7 AVALIAÇÃO DO IDOSO 
 
7.7.1 Anamnese 
 
A abordagem da história clínica e do exame físico precisa ser modificada na 
avaliação de pacientes idosos e fragilizada. Normalmente, grande parte deles 
apresenta problemas múltiplos de saúde, o que requer uma equipe para avaliação 
completa. Para os pacientes que apresentam necessidades médicas, fisioterápicas, 
psicológicas e sociais complexas, as equipes são mais eficientes para avaliar o 
quadro e estabelecer um plano de tratamento que profissionais atuando de modo 
isolado. 
Estabelecer objetivos comuns e cotejar funções e responsabilidades são a 
melhor maneira de se obter os resultados esperados para um trabalho em equipe 
com profissionais de diversas áreas do conhecimento fisioterápico e de outras áreas 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 36 
afins. O processo de tomada de decisões clínicas envolvendo idosos deve 
apresentar como objetivo principal a melhoria na sua qualidade de vida. 
O fisioterapeuta deve realizar a anamnese com o paciente e com o 
acompanhante separadamente. O exame físico deve ser realizado em horários 
diferentes, principalmente em virtude da fadiga que o paciente pode sentir, não se 
descartando também a necessidade de mais de uma sessão para o exame físico. 
Deficiências sensoriais (alterações auditivas ou visuais) são muito comuns 
em idosos e podem interferir no processo de avaliação. Além disso, os idosos 
podem não relatar sintomas durante a anamnese (crises dispneicas, perda de visão 
ou audição, problemas com a memória, incontinência urinária, tonturas, quedas, 
etc.), os quais são considerados normais por esses pacientes. 
Nesse aspecto, é importante lembrar que nenhum sintoma deve ser 
considerado normal para o paciente idoso. Em virtude da disfunção cognitiva, os 
idosos podem apresentar dificuldades para lembrar-se de todas as doenças 
passadas, as hospitalizações, as cirurgias e o uso de medicamentos, sendo que 
esses dados devem ser obtidos pelo fisioterapeuta por meio de outras fontes 
alternativas (membros da família, enfermeira domiciliar, registros médicos). 
Entretanto, a queixa principal do paciente pode diferir muito do ponto de vista da 
família em relação ao foco principal do problema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 37 
 
FIGURA 4 – REVISÃO DE REGIÕES E SISTEMAS CORPÓREOS 
 
FONTE: Rebelatto, 2007. 
 
 
A compreensão da avaliação do status funcional em geriatria deve pautar-se 
na revisão da maior parte das habilidades funcionais, aqui divididas em duas 
categorias: as atividades de vida diária (AVDs) e as atividades instrumentais de vida 
diária (AIVDs). O conceito de atividades de vida diária é talvez um dos únicos 
conceitos em que há consenso geral. Existem muitas revisões sobre o conceito de 
AVDs e suas medidas, mas o mecanismo de medida das AVDs melhor padronizado 
e mais utilizado mundialmente é o Barthel ADL Index. 
Como a avaliação e o tratamento de pacientes idosos não deve apenas 
concentrar-se nas atividades de vida diária, é importante considerar outros aspectos 
das deficiências, como a comunicação, a interação social, as atividades domésticas, 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 38 
o trabalho, o lazer e as atividades cotidianas. 
Esses outros mecanismos de avaliação podem ser chamados de atividades 
instrumentais de vida diária (AIVDs) ou de extensão das atividades de vida diária 
(EAVDs). Um instrumento eficiente e confiável para avaliar as AIVDs é a escala de 
Lawton para AIVDs. 
 
 
FIGURA 5 – ÍNDICE DE BARTHEL PARA AVDS 
 
FONTE: Rebelatto, 2007. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 39 
FIGURA 6 – ÍNDICE DE BARTHEL E ESCALA DE LAWTON 
 
FONTE: Rebelatto, 2007. 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 40 
FIGURA 7 – FORMULÁRIO DO ESTADO MINIMENTAL ADOTADO 
 
FONTE: Rebelatto, 2007. 
 
 
A história familiar dever ser focalizada para doenças típicas de idosos com 
padrões hereditários (doença de Alzheimer, câncer, diabetes). A idade de início 
dessas doenças nos familiares deve ser anotada. Inicialmente a história social do 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 41 
paciente inclui a avaliação do padrão da habitação deste indivíduo. Devemos 
observar o número de quartos, presença ou não de água encanada, esgoto, casa 
térrea ou sobrado, presença ou não de escadas, elevadores, aquecedores, ar-
condicionado, etc. 
A ergonomia da casa deve ser analisada, principalmente em relação aos 
objetos que podem provocar quedas. Problemas com a arquitetura e as condições 
ergonômicas da casa devem ser identificados para que alterações sejam sugeridas 
como parte do protocolo de tratamento. 
A descrição de um dia normal, incluindo atividades como leitura, trabalho, 
exercícios, televisão, interação com outras pessoas, proporciona valiosas 
informações. O paciente deve ser questionado sobre a frequência e a natureza de 
seus contatos sociais (amigos, grupos da terceira idade), visita de familiares, 
participação religiosa ou espiritual. O grau de independência do paciente em realizar 
essas atividades deve ser checado. 
O tipo de relacionamento conjugal (solteiro, casado, divorciado, amasiado) 
também deve ser observado. Nesse aspecto do comportamento social, o padrão 
sexual do paciente deve ser questionado com bastante tato e sensibilidade, mas as 
informações que podem ser obtidas podem auxiliar na observação do 
comportamento psicológico (grau de satisfação pessoal, por exemplo) e avaliação 
de possíveis doenças sexualmente transmissíveis. 
É necessária a avaliação da dor em idosos que relatam dor frequentemente, 
pois apresentam múltiplos problemas de saúde e fontes potenciais de dores 
variadas, tornando o diagnóstico e o tratamento da dor mais dificultoso. A 
comunicação da dor pelo idoso aos familiares e aos profissionais que o assistem 
pode estar prejudicada por disfunções cognitivas. Dor envolve consciência, 
abstração seletiva, interpretação e aprendizado. É um processo perceptual que 
integra a modulação de um grande número de fenômenos. 
 
 
7.7.2 Exame Físico 
 
Todas as informações obtidas no exame físico devem ser direcionadas para 
definir o perfil funcional da intervenção geriátrica, ou seja, o exame físico com 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 42 
pacientes idosos deve ser direcionado para se descobrir potencialidades que 
permitam colaborar para melhorar o grau de morbidade e independência dos 
mesmos. Portanto, o exame, tanto no nível dos impedimentos físicos (exame da 
força muscular) como no nível funcional (deambulação) é o aspecto mais importante 
no processo de tomada de decisão clínica em fisioterapia geriátrica. 
 
 Exame do Sistema Musculoesquelético 
 
O exame físico em geriatria tem como objetivo principal detalhar achados 
que possibilitem um mapeamento dos sistemas musculoesquelético e neurológico 
periférico. Deve-se detalhar na busca de informações clínicas objetivas que 
possibilitem identificar impedimentos físicos (primários ou secundários) que estejam 
envolvidos no processo de formação do distúrbio funcional. 
 
 Sinais Vitais 
 
Como medida obrigatória para a avaliação de pacientes idosos, deve-se 
verificar a frequência cardíaca, a pressão sanguínea, a frequência respiratória e a 
temperatura. A frequência cardíaca (FC) e a pressão arterial (PA) devem ser 
verificadas em ambos os braços. Como vários fatores podem interferir na pressão 
arterial, diversas verificações devem ser realizadas na condição de repouso. 
A pressão arterial pode estar superestimada em pacientes idosos 
principalmente pela rigidez arterial muito comum nesse tipo de paciente. Essa 
condição de pseudo-hipertensãoarterial deve ser checada quando o paciente 
apresentar tanto a pressão sistólica como a diastólica elevada. Hipotensão 
ortostática pode ser muito comum entre pacientes idosos que não são hipertensivos. 
Todos os pacientes devem ser checados nesse tipo de comportamento da pressão 
arterial. 
Após a PA ser verificada com o paciente em supino, o paciente deve ser 
observado por aproximadamente três minutos em posição ortostática; o resultado é 
positivo quando a PA sistólica tem uma queda igual ou maior que 20 mmHg. A 
frequência respiratória normal para pacientes idosos deve estar entre 16 e 25 
respirações por minuto. Uma frequência maior que 25 respirações por minuto pode 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 43 
ser um sinal de infecção do trato respiratório inferior, insuficiência cardíaca 
congestiva ou algum distúrbio que será seguido por outros sinais e sintomas. 
 
 Estado Mental 
 
A avaliação do estado mental torna-se importante para o avaliador 
determinar a confiabilidade das informações obtidas, mesmo as relativas aos 
exames objetivos. Deve-se, portanto, avaliar a orientação temporal, espacial e 
pessoal do paciente. Observação: verificar tabela Minimental citada acima. 
 
 Inspeção 
 
Constituem-se aspectos relevantes na inspeção do paciente idoso: avaliação 
postural normal (triplanar); observação de possíveis posturas antálgicas; observação 
da face; medidas de circunferências (membros superiores e inferiores, pescoço, 
ombros, quadris, etc.); observação de edemas de tecidos moles; efusões articulares; 
estado da pele; estado das unhas e espasmos musculares. 
 
 Palpação 
 
Deve ser realizada de forma sutil e precisa, para que não se mascare ou se 
reproduza um sintoma já preestabelecido. A palpação tem por objetivo: 
 Avaliar a sensibilidade, a flexibilidade e a densidade do tecido mole; 
 Determinar a localização exata do sintoma doloroso; 
 Determinar áreas de espasmos musculares adjacentes ao processo 
doloroso que possam contribuir para a manutenção do mesmo; 
 Encontrar pontos de edema ou efusão articular; 
 Verificar a temperatura da pele na região afetada (sempre com o dorso 
da mão). 
 
 Amplitude de Movimento 
 
A amplitude de movimento (ADM) ativa e passiva deve ser avaliada para se 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 44 
observar a contribuição da articulação no impedimento primário ou secundário do 
movimento. A unidade funcional do sistema musculoesquelético é a articulação e 
suas estruturas associadas, membrana sinovial e cápsula, ligamentos e músculos 
que cruzam a articulação. Por isso, a ADM tem um papel fundamental na 
compreensão dos problemas relacionados com o sistema musculoesquelético. 
 
Além de se quantificar a ADM, deve-se observar: 
 Presença de padrões capsulares versus não capsulares de restrição 
dos movimentos; 
 Sensação terminal e resposta à dor durante a ADM passiva ao aplicar 
superpressão; 
 Movimentos articulares acessórios, sua sensação terminal e a resposta 
à dor. 
 
 Força Muscular 
 
A avaliação da força muscular, por meio dos testes manuais, é um 
instrumento importante do diagnóstico, do prognóstico e do tratamento dos 
distúrbios do sistema musculoesquelético, contribuindo decisivamente para a 
seleção dos testes funcionais. Existem vários sistemas de graduação dos testes de 
força muscular disponíveis na literatura especializada. 
Adotaremos o sistema proposto por Stolove Hays (2000), que se baseia na 
habilidade do músculo de mover, contra a força da gravidade, a parte onde ele está 
ligado: 
 
 Grau 5: Força normal. O músculo move a articulação que ele cruza na 
amplitude total do movimento contra a gravidade e contra a “resistência 
completa” aplicada pelo examinador. 
 Grau 4: Força boa. O músculo move a articulação que ele cruza na 
amplitude total de movimento contra a gravidade apenas com 
“resistência moderada” aplicada pelo examinador. 
 Grau 3: Força regular. O músculo move a articulação que ele cruza na 
amplitude total do movimento apenas contra a gravidade. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 45 
 Grau 2: Força mínima. O músculo move a articulação que ele cruza na 
amplitude total do movimento se o membro estiver posicionado de modo 
que a força da gravidade não esteja resistindo ao movimento. 
 Grau 1: Traço de força. A contração muscular pode ser vista ou palpada, 
mas a força é insuficiente para produzir movimento mesmo com a 
eliminação da gravidade. 
 Grau 0: Força zero. Paralisia completa. Sem contração visível ou 
palpável. 
 
 Exame do Sistema Neurológico 
 
O exame neurológico de um paciente idoso, similar a qualquer exame de um 
adulto, avalia os nervos cranianos, os nervos periféricos, a função motora, a função 
sensorial e o status mental. 
Nervos cranianos: a avaliação pode ser complexa. Os idosos normalmente 
apresentam pupilas diminuídas; o reflexo das pupilas à ação da luz pode estar mais 
lento e a resposta mitótica pupilar para a visão próxima pode estar diminuída. Os 
desvios do olhar para cima, a uma distância pequena, e para baixo podem estar 
levemente limitados. 
O movimento dos olhos, quando seguem o dedo do fisioterapeuta durante a 
avaliação do campo visual, pode apresentar-se irregular e com solavancos. Os 
idosos apresentam frequentemente uma diminuição no olfato, principalmente pelos 
inúmeros casos de infecção respiratória que ocorrem nesse período. O paladar 
também pode estar alterado devido à diminuição do olfato, ou também pelo uso 
constante de medicamentos, alguns dos quais diminuem a salivação. A audição 
pode estar diminuída pelas dificuldades normais com os órgãos finais. 
Função motora: a avaliação inclui a força, a coordenação, o andar e os 
reflexos. Os idosos normalmente podem parecer fracos durante os testes de rotina, 
por isso, durante o exame físico, o fisioterapeuta pode facilmente sobrepor uma 
força para a contração sustentada das extremidades. Tanto o tônus muscular, 
mensurado por meio dos reflexos tendinosos profundos, como o volume de massa 
muscular podem estar diminuídos, o que é comum, mas não quando acompanha 
uma perda significativa da função motora. Com a idade, o tempo de reação motora 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 46 
aumenta, particularmente em virtude da condução mais lenta nos nervos periféricos. 
A coordenação motora também diminui em razão de mecanismos centrais, mas, 
normalmente, essa diminuição ocorre subitamente e não causa deficiência. Também 
com a idade, os reflexos posturais podem estar prejudicados, tornando-se uma das 
causas das quedas. 
Função sensorial: as formas básicas de sensação avaliadas rotineiramente 
em pacientes idosos são sensação tátil superficial (toque leve), dor superficial, 
temperatura e vibração. Essas sensações normalmente estão comprometidas nos 
idosos, podendo prejudicar a função motora. 
Apresentamos a seguir testes válidos e confiáveis para a aplicação clínica 
em consultórios, ambulatórios, centros de reabilitação e hospitais, que podem 
direcionar o processo de avaliação física do paciente idoso, tornando, dessa forma, 
mais exato e confiável todo o processo de tomada de decisões clínicas envolvendo o 
idoso. 
As dimensões avaliadas são as funções motoras fina e grossa do membro 
superior, o equilíbrio, a mobilidade, a coordenação e a resistência. As AVDs 
específicas incluem: comer, transferir-se e vestir-se. Em adição, os testes também 
mensuram as capacidades necessárias para outras AIVDs que são difíceis de 
avaliar nos consultórios; por exemplo, a força muscular do membro superior é 
necessária para avaliar a performance do ato de lavar roupa; subir escadas é 
essencial para o uso do transporte público. 
 
 Teste de equilíbrio de Berg - BBT (BERG et aI., 1989) 
 
Foi desenvolvido para ser uma medida de avaliação do equilíbrio destinada 
aos pacientes idosos com o objetivo de ser aplicada de forma segura, simples e, 
principalmente, replicável. Constitui-se em 14 tarefasrelacionadas com as atividades 
básicas e instrumentais de vida diária que necessitam de equilíbrio para serem 
realizadas: transferir-se, sentar-se, levantar-se, manter-se em pé, inclinar-se para 
frente, girar 360 graus, sustentar-se em apenas uma perna, caminhar passo a 
passo. 
As tarefas são pontuadas numa escala de cinco pontos (O a 4), 
considerando 4 como “performance normal” e O como “tarefa não realizada”; a 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 47 
pontuação total varia de O (equilíbrio prejudicado severamente) a 56 (excelente 
equilíbrio). Os idosos institucionalizados e os idosos que vivem em comunidades são 
o público-alvo desse teste. O teste é utilizado para monitorar o status funcional 
referente ao equilíbrio, para avaliar o curso da doença e a resposta ao tratamento, e 
para predizer o risco de quedas e a expectativa de vida (ou a probabilidade de 
morte). 
 
 Teste cronometrado de levantar-se e ir - TUG 
 
Mensura o tempo que o indivíduo consome para levantar-se de uma cadeira 
com braços, caminhar três metros, virar-se de frente para a cadeira (giro de 180 
graus), voltar para a cadeira e sentar-se novamente. A mensuração do teste ocorre 
em razão do tempo percorrido (normalmente em segundos) para completar a tarefa. 
Esse teste é aplicado em idosos institucionalizados e idosos que vivem em 
comunidades, tendo como finalidade monitorar a habilidade de mobilidade funcional 
de idosos, avaliar o nível de equilíbrio e predizer o risco de quedas. 
 
 Teste de caminhada de seis minutos - 6MW 
 
É uma modificação do teste originalmente desenvolvido por Cooper, um 
teste de campo para determinar o consumo máximo de oxigênio (VO2 máx). É um 
teste submáximo de medida da capacidade aeróbia. De fácil administração, o teste 
consiste em mensurar a distância máxima percorrida pelo indivíduo em seis minutos. 
Deve ser aplicado em idosos institucionalizados e idosos que vivem em 
comunidades, saudáveis ou portadores de distúrbios cardiovasculares e 
respiratórios. O teste tem como objetivo avaliar e monitorar o nível de resistência 
aeróbia de idosos saudáveis e predizer o grau de morbidade e mortalidade de 
pacientes que apresentam distúrbios cardiovasculares e respiratórios (como as 
disfunções ventriculares, as insuficiências cardíacas avançadas e as doenças 
pulmonares obstrutivas crônicas). 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 48 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO II 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 49 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
FISIOTERAPIA APLICADA À 
GERIATRIA E GERONTOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
FISIOTERAPIA APLICADA À 
GERIATRIA E GERONTOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO III 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 51 
 
MÓDULO III 
 
 
8 FISIOPATOLOGIA DO ENVELHECIMENTO 
 
 
8.1 SISTEMA NERVOSO 
 
 
FIGURA 8 - 
 
FONTE: Disponível em: <http://bluesnake49.blogspot.com.br/2011/02/o-que-e-perfeicao.html> 
Acesso em: 18 Maio. 2012. 
 
 
 
O processo de envelhecimento na vida dos indivíduos permanece, ainda, 
como um dos pontos mais complexos, obscuros e críticos para a ciência, apesar dos 
grandes esforços que vêm sendo feitos, especialmente desde a segunda metade do 
século XX. Sendo esse processo inevitável e silencioso no início, mas progressivo e 
inexorável, não se descobriu, até o presente momento, como ele se desenvolve e 
evolui nos diferentes órgãos, tecidos e células do organismo como um todo, 
especialmente, quais os mecanismos que o desencadeiam ou o que possam 
retardar, já que o processo não se faz de uma maneira uniforme. 
Existem evidências de que o processo do envelhecimento seja, em sua 
essência, de natureza multifatorial, dependente da programação genética e das 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 52 
alterações que vão ocorrendo em nível celular e molecular, que resultarão em sua 
aceleração ou desaceleração, com redução de massa celular ativa, diminuição da 
capacidade funcional das áreas afetadas e sobrecarga, em menor ou maior grau, 
dos mecanismos de controle homeostático. (FREITAS et al., 2006). 
Como é um fenômeno biológico normal na vida de todos os seres vivos, não 
deve ser considerado como doença. Apesar de as doenças crônico-degenerativas, 
que podem acometer os indivíduos ao longo de suas vidas, estarem paralelamente 
associadas ao processo do envelhecimento, não seguem a mesma linha de 
inexorabilidade. Do envelhecimento ninguém escapa até o presente momento, mas 
isso não significa que todo idoso venha a ter uma ou várias doenças crônico-
degenerativas. 
O sistema nervoso central (SNC) é o sistema biológico mais comprometido 
com o processo do envelhecimento, pois é o responsável pela vida de relação 
(sensações, movimentos, funções psíquicas, entre outros) e pela vida vegetativa 
(funções biológicas internas). Sua perda é fundamental para o desequilíbrio da 
senescência. 
O comprometimento do SNC é preocupante pelo fato de não dispor de 
capacidade reparadora. São unidades morfofuncionais pós-mitóticas, sem 
possibilidade reprodutora, ficando sujeitas ao processo do envelhecimento por meio 
de fatores intrínsecos (genético, sexo, circulatório, metabólico, radicais livres, etc.) e 
extrínsecos (ambiente, sedentarismo, tabagismo, drogas, radiações, etc.), que não 
deixam de exercer uma ação deletéria com o decorrer do tempo. 
Sintomas psicológicos podem também ser reações de uma perturbação 
física. Deve-se ter em mente que, com o envelhecimento populacional, a prevalência 
de inúmeras doenças crônicas aumentará com a idade; e, também, que o idoso 
poderia ser, muitas vezes, portador de várias dessas doenças crônicas (diabetes, 
artrite reumatoide, câncer, doenças cárdio e cerebrovasculares, pneumopatias, entre 
outras). 
Assim, ele estará mais susceptível a perturbações mentais, por apresentar 
mais sintomas depressivos, mais ansiedade, menor autoestima e menor capacidade 
de controle emocional. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 53 
 
FIGURA 9 – CÉREBRO HUMANO 
 
FONTE: Disponível em: <www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/filo-corda> 
Acesso em: 27 out. 2009. 
 
 
Nos últimos 100 anos tem havido um aumento da altura média da população 
e, consequentemente, do peso médio do cérebro (efeito secular), de acordo com 
dados de populações de diferentes épocas. Por outro lado, se analisarmos o 
cérebro, ao longo da vida dos indivíduos, a estimativa do volume cranioencefálico 
nos mostra uma diferença de volume, com o envelhecimento. O peso do cérebro é 
constituído por células gliais (astrócitos, oligodendroglia e epêndima), mielina, vasos 
sanguíneos e um número astronômico de neurônios, estimado cautelosamente em 
20 bilhões. 
O cérebro pesa 1,350 kg, atingido na metade da segunda década de vida. A 
partir dessa etapa, inicia-se um declínio ponderal discreto e lentamente progressivo, 
em torno de 1,4 a 1,7% por década. Nas mulheres, o declínio é mais precoce que 
nos homens. Acima dessa idade, o peso do cérebro diminui em relação ao peso 
corporal. Por outro lado, o volume cerebral, quando comparado com a caixa 
craniana, permanece constante até a meia-idade (60 anos), em torno de 93%. 
Nessa época ocorre um decréscimo discreto, que se acentua entre as décadas de 
70 e 90 anos, quando pode chegar a 80%. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 54 
Na fase terminal da vida pode haver congestão e edema cerebral, e, 
também, a fixaçãoem formol pode aumentar o peso em torno de 10%. Alterações 
morfológicas da substância branca e corpo caloso resultam em perda de grandes e 
pequenos neurônios e/ou retração dos grandes neurônios corticais que são 
observados a partir dos 65 anos. 
O RNA citoplasmático reduz regularmente com a idade, nos neurônios do 
córtex frontal, giro hipocampal, células piramidais do hipocampo e células de 
Purkinje do cerebelo, entre outros; associado à redução da substância de NISSL e 
mais o acúmulo de lipofucsina, resulta em atrofia neuronal simples ou pigmentar, 
observada em maior grau no córtex cerebral, principalmente nas células piramidais. 
Os eventos do desenvolvimento embrionário são acompanhados por morte 
programada de células neuronais e refletem a transitoriedade premeditada de 
unidades biológicas dentro do organismo. Portanto, neurônios defeituosos e 
supérfluos são perdidos mesmo durante esse intervalo inicial de vida. Esse conceito 
tem validade, pois os neurônios não podem reproduzir-se; células oligodendrogliais 
não podem remielinizar-se, e os vasos sanguíneos cerebrais têm capacidade 
limitada para reparação estrutural. 
Sabe-se que o SNC humano tem um processo de reparação denominado 
plasticidade, que sugere que os neurônios maduros têm uma capacidade de 
desenvolver-se e formar novas sinapses. Daí a formação de novos circuitos 
sinápticos, significando a capacidade de aprender e adquirir novos conhecimentos, 
de lembrar novos fatos e a flexibilidade de desenvolver novas habilidades. 
A demência pode ocorrer em pacientes que apresentem espaços 
ventriculares normais para sua idade. Outras mudanças que ocorrem no cérebro 
incluem: depósito de lipofucsina nas células nervosas, depósito amiloide nos vasos 
sanguíneos e células, aparecimento de placas senis e, menos frequentemente, 
emaranhados neurofibrilares. Embora as placas e emaranhados sejam 
característicos de doença de Alzheimer (DA), eles podem aparecer em cérebros de 
idosos em evidência de demência. 
Mudanças nos sistemas de neurotransmissores, particularmente os 
dopaminérgicos, ocorrem com a idade. Por exemplo, níveis de acetilcolina, 
receptores colinérgicos, ácido gama-aminobutírico, serotonina e catecolaminas são 
baixos. Embora o significado dessa diminuição não esteja completamente entendido, 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 55 
existe uma correlação com mudanças funcionais, como por exemplo, baixa de colina 
acetiltransferase na doença de Alzheimer, e de dopamina em doença de Parkinson. 
Por outro lado, ocorre um aumento de atividade de outras enzimas, como a 
monoaminoxidase. 
No envelhecimento normal cerebral a redução moderada da atividade 
colinérgica resulta em uma redução discreta da atenção e da capacidade de 
aprendizado. Mudanças cognitivas no envelhecimento e queixas de declínio de 
memória são sintomas muito frequentes no relato de pessoas entre os 60 e 70 anos 
e, às vezes, mesmo em indivíduos mais jovens. 
Segundo o senso comum, o esquecimento é uma característica da velhice, 
sendo parte inexorável e inevitável do processo de envelhecimento. Embora exista 
um fundo de verdade nessas crenças, nem todo esquecimento é normal ou 
inevitável nos idosos, principalmente naqueles de boa saúde física e mental. 
A síndrome do declínio mental relacionado com a idade indica que pacientes 
podem sofrer distúrbios subjetivos e objetivos, manifestados mais tipicamente por: 
 
 Disfunção intelectual ou cognitiva: ausências, distúrbios de memória e, 
na evolução, alteração na orientação temporoespacial e dificuldade de 
linguagem; 
 Alteração de humor e sensação de bem-estar, falta de interesse, 
grosseria no tratamento, ansiedade, labilidade de humor e tendência a 
depressão; 
 Comportamento: apatia, irritabilidade e agressividade. 
 
A característica clínica essencial da doença degenerativa primária é a 
deterioração intelectual progressiva, lenta e gradual, que evolui tipicamente por meio 
dos seguintes estágios: 
 
 Dano de memória e distúrbios de orientação; 
 Distúrbios da fala (afasia), da capacidade de reconhecer objetos 
(agnosia) e incapacidade de executar movimentos dirigidos, gestos ou 
manipular objetos (apraxia) nos anos subsequentes; 
 
 
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 56 
 Incontinências e imobilidade total (em caso de acamamento) na sua 
fase terminal. 
 
Dentre as situações, devem-se observar aquelas que são reversíveis como: 
depressão, hipo ou hipertireoidismo, e outros quadros endócrinos; má nutrição e 
deficiências vitamínicas, anemia, desidratação e distúrbios eletrolíticos, medicações 
infecções, embolias, insuficiências metabólicas, mas que podem provocar quadros 
confusionais agudos (delirium), que podem ser confundidos com demência. Mesmo 
que o paciente saia do estado de confusão, pode ficar algum dano cerebral que 
deve ser avaliado se é reversível ou não. 
 
 
8.2 SISTEMA CARDIOVASCULAR 
 
 
FIGURA 10 – CORAÇÃO HUMANO 
 
 
 
 
Fonte: Disponível em: < http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/Circulacao.php> 
Acesso: 18 de Maio 2012. 
 
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/Circulacao.php
 
 
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 57 
Após o desenvolvimento neonatal, o número de células miocárdicas não 
aumenta. Estudos realizados demonstraram que há modificações bioquímicas e 
anatômicas que acompanham o envelhecimento, mas é importante avaliar a 
importância fisiológica desses dados, pois nem sempre uma alteração bioquímica 
pode estar relacionada com a idade, levando a uma reação global. Portanto, as 
alterações na função cardiovascular que acompanham o envelhecimento podem ser 
decorrentes de alterações de padrões de doença, variáveis do estilo de vida ou 
resultantes simplesmente do próprio envelhecimento, sendo este o fator de maior 
dificuldade de definição. 
O sistema cardiovascular sofre significativa redução de sua capacidade 
funcional com o envelhecimento. Em repouso, contudo, o idoso não apresenta 
redução importante do débito cardíaco, mas em situações de maior demanda, tanto 
fisiológicas (esforço físico) como patológicas (doença arterial coronariana), os 
mecanismos para a sua manutenção não podem falhar, resultando em processos 
isquêmicos. 
Com o avanço da idade, o coração e os vasos sanguíneos apresentam 
alterações morfológicas e teciduais, mesmo na ausência de qualquer doença, sendo 
que, ao conjunto dessas alterações, convencionou-se o nome de “coração senil” ou 
presbicardia. 
 
 
8.2.1 Alterações Morfológicas 
 
 
Em razão da elevada incidência de doenças cardíacas e vasculares no 
idoso, há uma dificuldade de reconhecimento das alterações decorrentes 
especificamente do processo de envelhecimento. 
 
 
8.2.1.1 Pericárdio 
 
 
 
 
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 58 
Na maioria das vezes, as alterações do pericárdio são discretas, em geral 
decorrentes do desgaste progressivo, sob forma de espessamento difuso, 
particularmente nas cavidades esquerdas do coração, sendo comum o aparecimento 
do aumento da taxa de gordura epicárdica, não havendo alterações degenerativas 
ligadas diretamente à idade. 
 
 
8.2.1.2 Endocárdio 
 
 
As alterações encontradas no endocárdio são o espessamento e a 
opacidade, em especial no coração esquerdo, com proliferação das fibras colágenas 
e elásticas, fragmentação e desorganização destas com perda da disposição 
uniforme habitual, em virtude do resultado de hiperplasia irritativa resultante da longa 
turbulência sanguínea. 
 
 
8.2.1.3 Miocárdio 
 
 
As alterações do miocárdio são as mais expressivas, embora em 
determinadas necrópsias, mesmo de indivíduos idosos, não se destacam por sua 
intensidade. No miocárdio há acúmulo de gordura principalmente nos átrios e no 
septo interventricular, mas pode também ocupar as paredes dos ventrículos. Na 
maioria dos casos não apresenta expressão clínica, sendo que em algumas 
situações parece favorecer o aparecimento de arritmias atriais. 
Observa-se também

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