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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FISIOTERAPIA APLICADA À GERIATRIA E GERONTOLOGIA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE FISIOTERAPIA APLICADA À GERIATRIA E GERONTOLOGIA MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I INTRODUÇÃO 1 HISTÓRICO 2 GERONTOLOGIA COMO DISCIPLINA E CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO 3 DIVISÕES DA CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO 4 DEFINIÇÃO DE ENVELHECIMENTO 5 TEORIAS BIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO 5.1 TEORIAS ESTOCÁSTICAS 5.2 TEORIAS DE USO E DESGASTE 5.3 PROTEÍNAS ALTERADAS 5.4 MUTAÇÕES SOMÁTICAS 5.5 ERRO CATASTRÓFICO 5.6 DESDIFERENCIAÇÃO 5.7 DANOS OXIDATIVOS E RADICAIS LIVRES 5.8 MUDANÇAS PÓS-TRADUÇÃO EM PROTEÍNAS 5.9 TEORIAS METABÓLICAS 5.10 TEORIAS GENÉTICAS 5.11 OUTRAS TEORIAS 6 PREVENÇÃO: GERIATRIA PREVENTIVA 6.1 PRIMÁRIA 6.2 SECUNDÁRIA 6.3 TERCIÁRIA 6.4 PLANEJAMENTO E ADAPTAÇÃO DE AMBIENTES PARA IDOSOS 6.5 IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO MÓDULO II 7 EPIDEMIOLOGIA AN02FREV001/REV 4.0 4 7.1 EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA 7.2 CAUSAS DO ENVELHECIMENTO 7.3 OS EFEITOS DA EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA 7.4 A EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER 7.5 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA 7.6 QUALIDADE DE VIDA 7.6.1 Instrumentos de Avaliação de Qualidade de Vida na Velhice 7.7 AVALIAÇÃO DO IDOSO 7.7.1 Anamnese 7.7.2 Exame Físico MÓDULO III 8 FISIOPATOLOGIA DO ENVELHECIMENTO 8.1 SISTEMA NERVOSO 8.2 SISTEMA CARDIOVASCULAR 8.2.1 Alterações Morfológicas 8.2.1.1 Pericárdio 8.2.1.2 Endocárdio 8.2.1.3 Miocárdio 8.2.2 Alterações das Valvas 8.2.3 Alterações do Sistema de Condução ou Específico 8.2.4 Alterações da Aorta 8.2.5 Alterações das Artérias Coronárias 8.3 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO 8.4 SISTEMA RESPIRATÓRIO 8.4.1 Alterações Estruturais do Sistema Respiratório 8.4.1.1 Pulmão 8.4.1.2 Parede torácica 8.4.1.3 Músculos respiratórios 8.4.1.4 Alterações da função pulmonar 8.5 SISTEMA DIGESTÓRIO 8.6 SISTEMA ENDÓCRINO AN02FREV001/REV 4.0 5 8.7 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO 8.8 SISTEMA URINÁRIO 8.8.1 Envelhecimento da Bexiga 8.9 ENVELHECIMENTO CUTÂNEO MÓDULO IV 9 PATOLOGIAS E TRATAMENTO FISIOTERÁPICO 9.1 IDOSOS PORTADORES DE DOENÇAS REUMÁTICAS 9.1.1 Osteoartrose 9.1.2 Tratamento Fisioterápico 9.2 OSTEOPOROSE 9.2.1 Sintomas 9.2.2 Tratamento Fisioterápico 9.3 SARCOPENIA 9.3.1 Tratamento Fisioterápico 9.4 DISFUNÇÕES NEUROLÓGICAS 9.4.1 Demências 9.4.1.1 Tratamento fisioterápico 9.4.2 Doença de Alzheimer 9.4.3 Delirium 9.4.4 Depressão no Idoso 9.4.5 Acidente Vascular Encefálico (AVE) 9.4.6 Doença de Parkinson (DP) 9.4.6.1 Tratamento fisioterápico 9.5 DISFUNÇÕES CARDIOCIRCULATÓRIAS 9.5.1 Principais Doenças da Artéria Coronária 9.5.2 Infarto Agudo do Miocárdio 9.5.3 Hipertensão 9.5.4 Programa de Exercícios 9.6 DISFUNÇÕES RESPIRATÓRIAS 9.6.1 Doenças Pulmonares que mais Acometem o Idoso 9.6.1.1 Infecções AN02FREV001/REV 4.0 6 9.6.1.2 DPOC 9.6.2 Tratamento Ambulatorial e Reabilitação Pulmonar 9.7 DISFUNÇÕES URINÁRIAS E SEXUAIS 9.7.1 Técnicas Fisioterapêuticas para Revitalização Geriátrica GLOSSÁRIO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 7 MÓDULO I INTRODUÇÃO O processo de envelhecimento e sua consequência natural, a velhice, é uma das preocupações da humanidade desde o início da civilização. A história demonstra que as ideias sobre a velhice são tão antigas quanto à origem da humanidade. Feitas essas ressalvas, é preciso deixar claro que realmente o século XX marcou grandes avanços na ciência do envelhecimento, graças aos conhecimentos adquiridos por meio dos estudos que se desenvolveram desde que os pioneiros Metchhnickoff e Nascher, em 1903 e 1909, respectivamente, estabeleceram os fundamentos da gerontologia e geriatria. 1 HISTÓRICO O século XX marcou a importância do estudo da velhice, fruto, de um lado, da natural tendência de crescimento do interesse em pesquisar o processo de envelhecimento, que já se anunciava nos séculos anteriores. Por outro lado, o aumento do número de pessoas idosas de todo o mundo exerceu pressão passiva sobre os desenvolvimentos desse campo. (NETTO, 1996). Foi no início desse século, mais precisamente em 1903, que Elie Metchnikoff, sucessor de Pasteur, defendeu a ideia da criação de uma nova especialidade, a gerontologia, denominação obtida a partir das expressões gero (velhice) e logia (estudo). Esse autor previa que esta área de estudo seria um dos ramos mais importantes da ciência, em virtude das modificações que ocorrem no curso do último período da vida humana. Em vez de aceitar a inevitabilidade da decadência e da degeneração do ser humano com o avançar dos anos, Metchnikoff pensava que algum dia uma velhice fisiológica normal poderia ser alcançada pelos homens. Em 1909, a especialidade passou a ser denominada geriatria, ou o estudo clínico da velhice, como propôs AN02FREV001/REV 4.0 8 Ignatz L. Nascher, médico vienense radicado nos EUA. Esse estudioso, que estimulou pesquisas sociais e biológicas dentro do envelhecimento e que, por esse motivo, foi considerado pai da geriatria, fundou a sociedade de geriatria de Nova Iorque em 1912. Desde essa época, até 1930, a gerontologia ficou praticamente restrita aos aspectos biológicos do envelhecimento e da velhice. Em 1930, Warren delineou os primórdios da avaliação multidimensional e a importância da interdisciplinaridade. Entre 1969 e 1979, a pesquisa na área aumentou 270%. Entre 1980 e 1990, abriram-se novas áreas de interesse geradas pelas necessidades sociais associadas ao envelhecimento populacional e à longevidade, como, por exemplo, o apoio a familiares que cuidam de idosos dependentes, os custos dos sistemas de saúde e previdenciário, a necessidade de formação dos recursos humanos, a necessidade de ofertas educacionais e ocupacionais para idosos e pessoas de meia-idade. (NÉRI, 2001). Existem razões para a lentidão do processo, principalmente com relação a pesquisas na área. E nos países em desenvolvimento a política que domina a sociedade industrializada e urbanizada sempre teve mais interesse na assistência materno-infantil e dirigida aos jovens. Além disso, os idosos constituem um grupo bastante frágil e sem representatividade política. Hoje, cresce o número de gerontologistas, mesmo porque a população idosa está crescendo proporcionalmente. (PAPALEO NETTO e PONTE, 1996). No Brasil, o impacto social é com alguma frequência mais importante que o biológico. Paralelamente às mudanças demográficas que estão ocorrendo, cresce também a necessidade de profundas modificações socioeconômicas do país do Terceiro Mundo, que, além de ser política e economicamente dependente de outras nações, possui uma estrutura socioeconômica antiga, que privilegia alguns em detrimento da maioria. O quadro atual, de crescimento da população idosa acompanhado de falta de disponibilidade de riqueza, ou, o que é mais comum, de sua perversa distribuição de renda, contrasta, por exemplo, com o que existe na Inglaterra, onde o envelhecimento da população já se evidenciava após o início da Revolução Industrial, quando o estado e a sociedade puderam dispor de recursos para suprir a demanda que a população idosa exigia.AN02FREV001/REV 4.0 9 À precária condição socioeconômica associam-se múltiplas afecções concomitantes, perdas não raras da autonomia e independência e dificuldade de adaptação do idoso a exigências do mundo moderno que, em conjunto, levam o velho ao isolamento social. A sociedade moderna encontra-se hoje diante de uma situação contraditória. De um lado, defronta-se com o crescimento acelerado da população de idosos, e de outro, omite-se perante a velhice ou adota atitudes preconceituosas contra a pessoa idosa, retardando a implementação de ações que buscam minorar o pesado fardo dos que ingressaram na terceira idade. A Revolução Industrial mudou o conceito de valorização intelectual que o idoso tinha antigamente, ou seja, passou a ser rejeitado pela incapacidade. Outro aspecto que constitui a história da velhice no Brasil foi o rápido processo migratório e de urbanização. Hoje, três quartos da população brasileira vivem em áreas urbanas, o que acarreta problemas sociais ainda mais graves para os idosos e para toda população. Outro aspecto que tem sido motivo de interesse é o estudo da velhice relacionado ao sexo. Segundo o mesmo autor, o aspecto econômico tem levado a uma crescente participação da mulher na força de trabalho, a fim de contribuir financeiramente no orçamento doméstico, ocasionando a ausência, na família, de alguém que cuide do idoso em caso de doença e ou incapacidade física. Por outro lado, em razão da maior duração de vida da mulher em relação ao homem, ela está exposta por períodos mais longos a doenças crônicas degenerativas, à viuvez e à solidão. Acrescenta-se que as mulheres idosas têm tido, em nossa experiência, uma participação qualitativa e quantitativamente maior nas atividades relacionadas a políticas de saúde ao idoso, como fóruns de gerontologia, conselhos municipais e estaduais de idosos, e também nos cursos e universidade da terceira idade. Em 1961, foi fundada a Sociedade Brasileira de Geriatria, que teve como primeiro presidente Roberto Segadas. O processo interdisciplinar acentuou-se nitidamente na década de 90, principalmente na Região Sudeste em cursos de pós- graduação. AN02FREV001/REV 4.0 10 FIGURA 1 – NÚMERO DE TRABALHOS NA ÁRE DE CIÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO APRESENTADOS EM CONGRESSOS NO BRASIL E NO EXTERIOR FONTE: FREITAS et al., 2006. Para finalizar esse resumo histórico, é importante ressaltar que as ciências do envelhecimento, apesar da sua curta existência, ou seja, menos de um século, têm hoje produção científica invejável. 2 GERONTOLOGIA COMO DISCIPLINA E CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO Antes de definir o campo de atuação da gerontologia, devemos relembrar o significado do termo disciplina e se a mesma pode ser considerada como tal. O Dicionário Aurélio define disciplina como: “qualquer ramo do conhecimento artístico, científico, histórico, etc.; matéria de ensino; conjunto de conhecimentos que se processam em cada cadeira de um estabelecimento de ensino”. Apesar de os significados serem por si mesmos bastante expressivos, justificando-se a inclusão da gerontologia nos currículos acadêmicos, o assunto é motivo de questionamentos. Ou seja, não há necessidade de se criar uma nova área de investimento, pelo fato de o assunto ser ministrado em outras disciplinas. AN02FREV001/REV 4.0 11 A própria definição da especialidade finaliza os questionamentos. Assim, gerontologia define-se como disciplina científica multi e interdisciplinar, cujas finalidades são o estudo das pessoas idosas, as características da velhice enquanto fase final do ciclo de vida, o processo de envelhecimento e seus determinantes biopsicossociais. 3 DIVISÕES DA CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO - Gerontologia Social: que se detêm aos aspectos orgânicos antropológicos psicológicos, legais, sociais, ambientais, econômicos, éticos e políticos de saúde. - Geriatria: a geriatria tem sob seus domínios os aspectos curativos e preventivos da atenção à saúde e, para realizar este mister, tem uma relação estreita com disciplinas da área médica, como neurologia, cardiologia, psiquiatria, pneumologia, entre outras, que deram origem à criação de subespecialidades, como a neurogeriatria, a psicogeriatria, a cardiogeriatria e a neuropsicogeriatria, entre outras. Além disso, mantém íntima conexão com disciplinas não pertencentes ao currículo médico, embora profundamente relacionadas, como nutrição e enfermagem. - Fisioterapia: terapia ocupacional, fonoaudiologia, odontologia e assistência ocupacional. - Gerontologia biomédica: tem como eixo principal o estudo do envelhecimento, do ponto de vista molecular e celular, enveredando pelos caminhos de estudos populacionais e de prevenção de doenças associadas; ou seja, sobre uma base genética atuariam fatores extrínsecos (ambiente e estilo de vida) e intrínsecos como as alterações celulares e moleculares, que acarretaria a diminuição da capacidade de manutenção do equilíbrio de homeostase e predispõe a doenças. AN02FREV001/REV 4.0 12 4 DEFINIÇÃO DE ENVELHECIMENTO O envelhecimento pode ser definido como: Processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte. (PAPALÉO NETTO, 1996, p3). A distinção entre senescência ou senectude, que resulta do somatório de alterações orgânicas, funcionais e psicológicas próprias do envelhecimento normal, e a senilidade, que é caracterizada por modificações determinadas por afecções que frequentemente acometem a pessoa idosa, é, por vezes, extremamente difícil. O exato limite entre estes dois estados não é preciso e caracteristicamente apresenta zonas de transição frequentes, o que dificulta discriminar cada um deles. Autonomia define-se como a capacidade de decisão, de comando; e independência como a capacidade de realizar algo com seus próprios meios. Por exemplo: uma senhora com fratura de fêmur, que, estando acamada, e dependente, ainda assim pode exercer sua autonomia. O que se procura é a manutenção da autonomia e o máximo de independência possível. 5 TEORIAS BIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO Durante séculos, o estudo da longevidade e do envelhecimento foi relegado a um papel acessório nas diferentes disciplinas da biologia. No século XX, esse papel iria mudar, principalmente porque nunca, em toda a história da humanidade, populações apresentaram expectativas de vida tão altas, fruto principalmente, da implantação de políticas de saúde pública e medicina AN02FREV001/REV 4.0 13 preventiva, tais como vacinação de diversas moléstias infectocontagiosas e planejamento e controle sanitário. Esses foram os principais fatores que impulsionaram o desenvolvimento da assim chamada biologia do envelhecimento. Essa abordagem deu-se primeiramente sob o ponto de vista fisiológico, e mais tarde bioquímico. Ou seja, com o avanço do conhecimento genético, cresceu também a busca por padrões de hereditariedade da longevidade. O envelhecimento não é somente a soma de patologias juntas e de danos induzidos por doenças. Inversamente, nem todas as alterações na estrutura e função dependentes da idade podem ser consideradas como mudanças fundamentais ligadas à idade por si só. Em um esforço para incorporar esse rigor dentro de uma definição, foi proposto que as mudanças fundamentais relacionadas com a idade devem obedecer a essas condições: Devem ser deletérias, ou seja, devem diminuir a funcionalidade. Devem ser progressivas, isto é, devem concretizar-se gradualmente. Devem ser intrínsecas, isto é, não devem resultar de um componente ambiental modificável.Cabe ressaltar, aqui, que o ambiente tem forte influência sobre o aparecimento e velocidade dessas mudanças, apesar de não ser a causa. Devem ser universais: todos os membros de uma espécie devem mostrar tais alterações graduais com o avanço da idade. 5.1 TEORIAS ESTOCÁSTICAS Parece improvável que um processo tão ordenado como o envelhecimento se deva a fatores aleatórios ou estocásticos. Contudo, essa ideia é a base das teorias que postulam ser a deterioração associada à idade avançada em razão da acumulação de danos moleculares que ocorrem ao acaso. Tais macromoléculas defeituosas poderiam se acumular por meio de diferentes mecanismos: falha em reparar danos ou erros causados AN02FREV001/REV 4.0 14 aleatoriamente na síntese de macromoléculas. Em ambos os casos, haveria perda de função e de informações vitais para as células. A quantidade dessas macromoléculas incorretas alcançaria um nível em que algumas ou todas as células de um ser vivo estariam tão deficientes, metabolicamente, a ponto de causarem a morte do próprio organismo. Porém, é necessário estabelecer quais células, tecidos ou organismos possuiriam tipos específicos de moléculas que são particularmente sensíveis a certos tipos de dano; e é necessário assumir que espécies de vida longa são mais capazes de tolerar tais danos, que espécies de vida curta. 5.2 TEORIAS DE USO E DESGASTE As teorias classificadas como “uso e desgaste” são, provavelmente, as mais antigas precursoras do conceito de falha de reparo. O acúmulo de agressões ambientais no dia a dia levaria ao decréscimo gradual da eficiência do organismo e, por fim, à morte. Todos os organismos são constantemente expostos a infecções, ferimentos e agressões que causam danos leves às células, aos tecidos e aos órgãos. Uma fratura pode sarar, mas o osso não voltará a ser tão resistente quanto antes de o ferimento ocorrer. Atualmente, motivos lógicos contribuem para o descrédito dessas teorias. Primeiro animais criados em ambientes livres de patógenos ou de ferimentos não apenas envelhecem como também não apresentam qualquer aumento em sua longevidade máxima; muitos danos menores postulados pela teoria do uso e desgaste são mudanças dependentes do tempo, que provocam aumento na probabilidade de morte, mas não servem como mecanismos causais para o processo de envelhecimento. Por exemplo, a perda de dentes em elefantes pode levar à morte por inanição, sem que estes apresentem, contudo, mudanças significativas em estrutura e função de outros órgãos e tecidos no mesmo período. Os avanços atuais em biologias celulares e moleculares reformularam o conceito de “uso e AN02FREV001/REV 4.0 15 desgaste”, mostrando que ele não constitui uma teoria, mas sim o componente de outra. 5.3 PROTEÍNAS ALTERADAS Essa teoria esclarece que mudanças que ocorrem em moléculas proteicas após a tradução, e que são dependentes do tempo, provocariam mudanças conformacionais e alterariam a atividade enzimática, comprometendo a eficiência da célula. Possivelmente, as enzimas que foram mudadas são moléculas de longa vida, isto é, com baixa taxa de turnover, e situam na célula por um tempo longo o bastante para sofrerem uma desnaturação sutil no ambiente citoplasmático. Estima-se que entre 30 e 50% do total de proteína em um animal idoso pode ser composto de proteína oxidada. 5.4 MUTAÇÕES SOMÁTICAS O acúmulo de mutações somáticas no decorrer da vida alteraria a informação genética e reduziria a eficiência da célula até um nível incompatível com a vida. A literatura mostra um aumento de certas anormalidades cromossômicas em células somáticas ao longo da vida, principalmente em resposta à radiação ou a mutagênicos, mas não há evidências de que tais alterações tenham efeitos funcionais. Ao se considerar o envelhecimento como um todo, há pouco suporte experimental para a teoria da mutação somática. 5.5 ERRO CATASTRÓFICO Processos incorretos de transcrição e/ou de tradução dos ácidos nucleicos reduziriam a eficiência celular a um nível incompatível com a vida. Mesmo que o genoma não contenha mutação somática ou dano no DNA, erros poderiam acontecer durante o processo de tradução. Um erro catastrófico AN02FREV001/REV 4.0 16 deveria acontecer quando a frequência de erros alcançasse um valor em que um ou mais processos vitais para a célula assumissem uma ineficiência letal. Se morrerem células em número suficiente para causar esse efeito, o resultado seria o decréscimo na capacidade funcional que formaliza o envelhecimento. 5.6 DESDIFERENCIAÇÃO Essa abordagem sugere que o envelhecimento normal de um organismo resultaria do fato de as células que o compõem se desviarem de seu estado apropriado de diferenciação. A teoria da desdiferenciação supõe que mudanças estocásticas que ocorrem no aparato de regulação gênica resultariam em mudanças na expressão gênica. Dados experimentais obtidos com células cultivadas indicam que os mecanismos de controle genético não parecem relaxar com a idade. A despeito da ausência de comprovação experimental, essa hipótese ainda permanece sob investigação, em razão da possibilidade de testes em nível molecular. 5.7 DANOS OXIDATIVOS E RADICAIS LIVRES A teoria do dano oxidativo postula que todas as deficiências fisiológicas características de mudanças realmente relacionadas com a idade, ou a maioria delas, podem ser atribuídas aos danos intracelulares produzidos pelos radicais livres. Apesar de plausível, esse conceito não pode ser claramente provado ou negado por um único experimento. Diversos tipos de evidências têm sido buscados para testar essa teoria, mas ainda existem muitas controvérsias. Apesar disso, a composição entre oxidação, substâncias antioxidantes e envelhecimento, mesmo sem comprovação definitiva, têm servido de suporte para justificar o uso de suplementações e a prática de terapias supostamente “antienvelhecimento”. AN02FREV001/REV 4.0 17 Lipofuscina é o acúmulo de detritos em sua forma mais simples. A teoria dos detritos propõe que o envelhecimento da célula é causado pelo acúmulo intracelular de produtos do metabolismo que não podem ser destruídos, exceto pelo processo de divisão celular. Acredita-se que Iipofuscinas geralmente surgem como resultado de auto-oxidação, induzida por radicais livres em componentes celulares, principalmente estruturas de membrana que contenham lipídios insaturados. Entretanto, nenhuma evidência sugere que a Iipofuscina em si seja danosa. Mas produtos de metabolismo podem provocar substâncias que podem ser danosas, prejudicando pelo espaço tomado, a função da célula. 5.8 MUDANÇAS PÓS-TRADUÇÃO EM PROTEÍNAS Modificações dependentes de processos químicos do tempo, ocorrendo em macromoléculas importantes (como o colágeno e a elastina) comprometeriam as funções dos tecidos e diminuiriam a eficiência celular, culminando na morte. Já que um terço do conteúdo total de proteínas de um mamífero é composto por colágeno, as mudanças nessa molécula, à medida que o indivíduo envelhece, têm repercussões importantes em praticamente todos os aspectos morfológicos e fisiológicos do organismo. 5.9 TEORIAS METABÓLICAS Sabe-se, de longo tempo, que animais maiores apresentam longevidade maior do que a de seus parentes taxonômicos de tamanho menor, e que sua taxa metabólica seria inversamente proporcional ao peso do seu corpo. A ligação entre esses dois fatos leva à ideia de que a longevidade e o metabolismo estariam juntos em uma relação causal. Em alguns organismos, mudanças da taxa metabólica induzidas por temperatura e/ou dieta produziriam alterações correspondentes na AN02FREV001/REV 4.0 18 longevidade. Além disso, há dados fortes mostrando que a taxa metabólica tende a diminuir coma idade avançada. Essas e outras observações iguais levaram à hipótese segundo a qual a longevidade pode ser mais bem entendida como função do declínio metabólico. (PACHECO et al., 2009). 5.10 TEORIAS GENÉTICAS As teorias desse grupo sugerem que mudanças na expressão gênica causariam modificações senescentes nas células. As mudanças poderiam ser gerais ou específicas, podendo atuar em nível intra ou extracelular. A interpretação mais realista desse cenário seria a de que, dentro do contexto de um dado genótipo com uma longevidade particular, alterações na atividade desses poucos genes seriam o suficiente para deslocar o equilíbrio das funções genômicas para uma longevidade. Contudo, a avaliação experimental é lenta em razão do imenso número de variáveis e da limitação das técnicas de exploração disponíveis. 5.11 OUTRAS TEORIAS Apoptose (morte celular induzida por sinais extracelulares), fagocitose (destruição de células por outras), neuroendócrinas (falência progressiva de células que levaria ao colapso da homeostasia corporal, à senescência e à morte), imunológicas (reduções qualitativas e quantitativas na resposta imune seria direta ou indiretamente em razão da involução inicial e ao envelhecimento do timo), também são teorias que poderiam explicar o início do envelhecimento, mas sempre apresentam restrições em alguma parte do estudo. AN02FREV001/REV 4.0 19 6 PREVENÇÃO: GERIATRIA PREVENTIVA 6.1 PRIMÁRIA Dentro da geriatria preventiva primária, encontram-se todas as ações voltadas a diminuir ou retardar o aparecimento de disfunções e morbidades crônico- degenerativas associadas à idade. A questão associada seria quando, então, começa a geriatria preventiva? Desde a infância seria a resposta mais correta. Ela engloba o controle e adequação de variáveis relacionadas ao estilo de vida do indivíduo e da população. Consta de nutrição saudável, atividade física, evitar a obesidade, afastar o estresse e evitar o cigarro. O tempo de repouso também é fundamental, ou seja, dormir de sete a oito horas por dia e fazer trinta minutos de “sesta”. 6.2 SECUNDÁRIA A ação principal para fazermos geriatria preventiva secundária é o estabelecimento de revisões periódicas que contribuem para a detecção precoce de doenças crônico-degenerativas. Esses programas são de mais baixo custo quando comparados com o custo de tratamento daquele em que a doença já se instalou. Estima-se ser em torno de 10%. 6.3 TERCIÁRIA Na parcela da população afetada por doenças crônico-degenerativas e/ou disfunções associadas também há necessidade de fazermos geriatria preventiva. Deste modo, para indivíduos afetados por doenças como neoplasias ou coronariopatias, o médico e o sistema de saúde precisam adotar programas de reeducação de estilo de vida e de prevenção que garantam a estabilização da saúde do paciente. AN02FREV001/REV 4.0 20 6.4 PLANEJAMENTO E ADAPTAÇÃO DE AMBIENTES PARA IDOSOS Com o envelhecimento crescente da população, torna-se cada vez mais urgente o planejamento e a adequação dos ambientes para pessoas idosas. As pessoas que envelhecem fazem parte de uma minoria, mas também devem ser atendidos em suas necessidades de conforto, segurança e atividade. Os idosos exprimem o desejo de viver em ambientes seguros, nos quais possam exercer controle personificado. Querem que esses locais propiciem autonomia, mas com certo grau de cuidado e de especificidade, o que traz a necessidade de adaptação dos espaços a capacidades físicas e sensoriais diminuídas. Espaços planejados para receber idosos portadores de incapacidades físicas, psicocognitivas e sensoriais determinam o aumento da independência funcional, diminuição de estados de apatia, restrição no número de queixas de saúde. 6.5 IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO Segundo Williamson (2008), existem quatro aspectos importantes na prevenção primária: A imunização e alguns tipos de vacinas para o idoso, para evitar determinadas doenças como a gripe em epidemias, em grupos confinados a instituições, etc. A manutenção e promoção de saúde na velhice. Cuidados básicos contra a obesidade, tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, prevenção das doenças do trabalho e acidentes caseiros, etc. Esclarecimento de fatores de risco precursores de doenças, principalmente em indivíduos assintomáticos, para as doenças familiares, bem como estar atento para as possíveis características do idoso para as múltiplas patologias. AN02FREV001/REV 4.0 21 Esclarecimento da hipertensão arterial na velhice. A prevenção secundária inclui o diagnóstico precoce das condições reversíveis, ou em estágios iniciais, ou nos pacientes mais jovens. A manifestação de sintomas é, muitas vezes, inespecífica e atípica. Assim, no idoso, quedas, estados confusionais, incontinências, entre outros, devem ser avaliados em profundidade. Ainda segundo Williamson é muito importante o treinamento dos médicos e profissionais de saúde, para saberem separar os acontecimentos decorrentes de doenças, daqueles oriundos do processo do envelhecimento propriamente dito. E a prevenção terciária implica a detecção das doenças crônicas e incapacitantes estabelecidas no idoso. Oferecendo a chance de tratamento mais precoce e mais efetivo possível. Determinados eventos são comuns na velhice. Besdine (2008) relacionou por ordem de importância, os seguintes acontecimentos: - Quedas; - Fraturas de quadril; - Incontinência urinária; - Incontinência fecal; - Escaras de decúbito; - Diminuição das acuidades visual e auditiva; - Acidentes vasculares cerebrais; - Síndrome da demência; - Parkinsonismo; - Hidrocefalia de pressão normal; - Polimialgia reumática/artrite células de gigantes (art. temporal); - Osteoporose; - Osteoartrite; - Doença de Paget; - Síndrome do túnel do carpo; - Estenose do canal medular; - Coma diabético hiperosmolar não etótico; - Secreção inadequada de hormônio antidiurético; - Hipotermia acidental; AN02FREV001/REV 4.0 22 - Leucemia linfática crônica; - Carcinoma de células basais; - Linfo adenopatia imunoblástica; - Tumores sólidos; - Tuberculose; - Herpes zoster; - Arteriosclerose; - Amiloidose; - Angiodisplasia de cólon; - Hipertensão sistólica; - Hipotensão postural. Doenças cujo principal fator de risco continua sendo a própria idade tende a assumir dimensões epidêmicas com o envelhecimento populacional. Um exemplo ilustrativo é a Doença de Alzheimer (DA). Pode-se dizer que a prevalência de demência quase dobra a cada cinco anos após os 65 anos, e quase 50% dos casos de demências são de Alzheimer. Por ser uma doença evolutiva, extremamente incapacitante e sem medidas terapêuticas eficazes, ainda que paliativas, pode ser considerada um dos grandes problemas de saúde pública no mundo. Existem evidências de que o grau de desenvolvimento intelectual possa ser um fator de risco para perdas cognitivas. Em um país com uma enorme massa de analfabetos, a preocupação é muito grande, prevendo-se o boom que está por vir. Na verdade, o que está em jogo na velhice é sua autonomia. Qualquer pessoa que chegue aos oitenta anos capaz de gerar sua própria vida e determinar quando, onde e como se darão suas atividades de lazer, convívio social e trabalho (produção em qualquer nível), certamente pode ser considerada saudável. AN02FREV001/REV 4.0 23 FIM DO MÓDULO I AN02FREV001/REV 4.0 25 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FISIOTERAPIA APLICADA À GERIATRIA E GERONTOLOGIA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 26CURSO DE FISIOTERAPIA APLICADA À GERIATRIA E GERONTOLOGIA MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 27 MÓDULO II 7 EPIDEMIOLOGIA “Todas as coisas têm o seu tempo e todas elas passam debaixo do céu segundo o tempo que a cada um foi prescrito. Há tempo de nascer e há tempo de morrer”. (ECLESIASTES, cap. III, v. 1 e 2). 7.1 EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA Os seres vivos são regidos por um determinismo biológico: todos nascem, crescem, amadurecem, envelhecem, declinam e morrem. O tempo e a forma que se processam essas fases dependem de cada indivíduo, da programação genética de sua espécie e de fatores ambientais (habitat, modus vivendi e de agressões que tenha sofrido no decorrer de sua existência). O que tem aumentado significativamente é a esperança de vida ao nascer, que hoje, em alguns países, já está na nona década de vida. Atualmente, vive-se mais, ocorrendo menos óbitos em grupos etários mais baixos e após os 60 anos. Consequentemente, ao se analisar o crescimento demográfico por grupos etários, o grupo que apresenta, proporcionalmente, maior crescimento, é o de 60 anos ou mais. A cada década acima, o crescimento tem-se mostrado maior. Deve-se destacar a importância crescente que vem sendo dada à “quarta idade”, ou a dos “velhos muito velhos”, que é uma parcela muito significativa da população idosa nos países desenvolvidos, formada por indivíduos de 80 anos ou mais. Esse aumento do número de anos de vida do homem, entretanto, nem sempre AN02FREV001/REV 4.0 28 está acompanhado pela melhoria ou manutenção da sua qualidade. É aqui que se encontra um dos grandes desafios da Gerontologia. 7.2 CAUSAS DO ENVELHECIMENTO Para Thomas (2008), a causa do envelhecimento demográfico da população é complexa, ressaltando alguns fatores: Qualquer declínio significativo e constante na fertilidade produz o envelhecimento da população; Redução da taxa de mortalidade na segunda metade da vida; A migração dos jovens pode resultar em um envelhecimento ainda maior de populações de determinadas regiões. A transição de uma população jovem para uma envelhecida deu-se originariamente na Europa, onde a fecundidade declinou marcadamente, muito antes de qualquer método anticoncepcional científico estar disponível. Fruto do desenvolvimento social gerado pela Revolução Industrial houve uma queda gradual na mortalidade, que, em longo prazo, levou a uma queda na fecundidade, e, consequentemente ao envelhecimento da população. Atualmente, países como a Alemanha, por exemplo, têm taxas de fecundidade abaixo do limite de reposição, ou seja, menos de dois filhos em média por casal, uma situação em que as mortes passam a exceder os nascimentos e a população começa a diminuir. Em geral, os países da Europa iniciam o século em curso com mais de um quarto da população na faixa dos 65 anos ou mais. AN02FREV001/REV 4.0 29 FIGURA 3 – ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO TOTAL POR FAIXA ETÁRIA E SEXO FONTE: Guccione, 2002. 7.3 OS EFEITOS DA EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA Na América Latina, o processo vem sendo desenvolvido de uma maneira mais drástica, pois não é resultado de desenvolvimento social e sim de um processo maciço de urbanização desordenado. Alteram-se, com isso, as estruturas de trabalho da família, com a mulher sendo progressivamente incorporada à força de trabalho e sendo obrigada a delegar funções de cuidados da casa a familiares, sem que haja uma estrutura de apoio. Na verdade, a expectativa aumentou mais por causa de redução das doenças infecciosas, mas as condições de alimentação e estruturas fazem com que o latino tenha que cuidar das doenças que passam a ser degenerativas. Se a população mundial vem crescendo, também vem envelhecendo progressivamente. AN02FREV001/REV 4.0 30 Assim, em apenas 60 anos, a população mundial crescera duas vezes e meia, enquanto a população acima de 65 anos quatro vezes e a com mais de 80 anos crescera um pouco mais de cinco vezes. Em 1950, o Brasil ocupava o 16º lugar entre os países de maior população geriátrica, devendo ser o sexto em 2025. 7.4 A EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER No Brasil, mostra-se um significativo aumento nos anos de vida. O que era em torno de 33,7 anos em 1900, passou para 50,99 em 1950/55 e deverá ser de 72,08 em 2020/25. Estudos demonstram que as mulheres vivem mais que os homens. Em 1950/55 viviam 3,43 anos mais que os homens, em 1990/95 viviam 5,56 anos mais e em 2020/25 viverão 6,21 anos mais. Entretanto, essas expectativas são avaliações e projeções em um determinado período e contexto, pois se considerarmos as pessoas que nasceram no início do século e sobrevivem até hoje, seguramente já viveram muito mais que os anos previstos na época de seu nascimento. Contudo, o número de pessoas idosas inválidas nos países em desenvolvimento é maior que o número dos países desenvolvidos, em consequência da má nutrição, más condutas assistenciais, más condições de trabalho e de doenças no decorrer da vida. (CANÇADO, 1994). Portanto, a invalidez na velhice tem como substrato importante os efeitos cumulativos dos acidentes, das doenças crônico-degenerativas, das doenças agudas e das carências. Assim, uma atuação preventiva na área de saúde reduziria as consequências desastrosas de diversas doenças desde a morbidade até a mortalidade, diminuindo o número de incapacitações e invalidez e contribuindo para a melhoria do padrão de qualidade de vida do indivíduo em geral. São números impressionantes que mostram a necessidade urgente de um planejamento de assistência à população idosa, sem entrar no aspecto do planejamento familiar, melhor distribuição de rendas e outros. O baixo nível de vida, o desemprego, o analfabetismo, os salários e as aposentadorias defasados e insuficientes para manter um nível de vida digno vêm corroendo mais ainda o padrão AN02FREV001/REV 4.0 31 de vida do brasileiro. Tanto a Previdência quanto o Sistema de Saúde no Brasil estão falidos. Se hoje temos apenas um contribuinte (30.649.419, dos quais três porcento com 60 anos ou mais) para cada não contribuinte (29.967.836, dos quais sete porcento são de 60 anos ou mais) a tendência é a situação se agravar. No período de 1950 a 1980, houve, também, um significativo decréscimo no percentual de pessoas idosas economicamente ativas em relação ao total da população, especialmente entre a população masculina. Em 1998, houve uma melhora na condição dos rendimentos do idoso, desde os últimos 10 anos. (CAMARANO e EL GHAOURI, 1999). Essa melhoria foi resultado da Universalização da Previdência Social, da ampliação da cobertura rural e da legislação da assistência social estabelecidas pela Constituição de 1988, que garante aos idosos carentes maiores de 70 anos um salário mínimo mensal. Com isso, os idosos passaram a ser chefes de família, reduzindo o risco de proceder a demências (às vezes, eles abrigam filhos separados, desempregados e com gravidez precoce). Na sucessão de fatos, qualquer mudança previdenciária vai surtir efeito numa parcela importante de famílias brasileiras. 7.5 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA Assim, esse século se caracterizou por uma queda significativa nas taxas de mortalidade em todo o mundo. Nos países desenvolvidos, essa diminuição é consequência principalmente das melhorias nas condições básicas de vida, como higiene, saneamento, urbanização adequada,vacinas, nutrição, melhoria das condições no trabalho, moradia, etc. A descoberta da cura de doenças agudas e infecciosas, na metade do século, teve pequena importância no aspecto geral do processo, pois uma queda drástica já vinha acontecendo há vários anos. Segundo Soldo e Manton (2000), depois de diminuído o risco de morte por doenças agudas e infecciosas nos Estados Unidos, a expectativa de vida naquele país passou por um período de estabilidade. A partir da década de 70, novamente se notou um significativo aumento da expectativa de vida em virtude, principalmente, da diminuição dos riscos de morte AN02FREV001/REV 4.0 32 por doenças crônicas. É comprovado que três quartos de todos os idosos morrem em razão de três tipos de doenças crônicas: cardiovasculares, cerebrovasculares e neoplasias. A doença cardiovascular é responsável pela morte de 50% de todos os indivíduos com mais de 65 anos. Merece destaque o significativo aumento de vida para ambos os sexos, tanto em pacientes que sofrem de doença cardíaca quanto de câncer, pelo adiamento do impacto mortal da doença crônica. No Brasil, está acontecendo uma mudança nas causas de mortalidade, se considerarmos as principais causas de morte nas capitais brasileiras entre 1930 e 1980. Em 1930, as causas principais de morte eram as doenças infecciosas, parasitárias, cardiovasculares, respiratórias, as causas de origem perinatal, as neoplasias e as causas externas. Em 1980, passam a ser as cardiovasculares, as infecciosas e parasitárias, as neoplasias, as respiratórias, as causas externas e as causas de origem perinatal, respectivamente, na ordem de montante. Já nos países desenvolvidos, em geral, as principais causas de morte são as doenças cardiovasculares (coração e cerebrovascular), as neoplasias e as causas externas. Proporcionalmente, merece destaque o fato de que após os 80 anos as neoplasias cedem lugar às doenças do aparelho respiratório, provocadas por broncopneumonias, pneumonias, enfisema pulmonar, outras obstruções crônicas causadas pelo tipo de vida e condições ambientais em que viveu o indivíduo e pela diminuição progressiva de sua defesa imunológica. Para os idosos, entre as causas externas, nota-se a importância crescente das fraturas. Muitos fatores de risco agem ocasionando as fraturas, como as doenças: osteoporose, AVC, hipotensão e instabilidade postural, diminuição de acuidade visual e auditiva. As fraturas podem também ser causadas pelas condições inadequadas nas cidades: veículos com degraus altos ou estacionados erroneamente, atropelamentos, assaltos e agressões, calçadas esburacadas e escorregadias, etc. Outra causa externa importante para fraturas são as condições inadequadas dos domicílios: assoalhos encerados, tapetes, sapatos, degraus, banheiros, etc. Para se ter uma noção do custo de assistência correta à população idosa, tem-se que recorrer a dados estrangeiros, uma vez que no Brasil quase nada se faz por AN02FREV001/REV 4.0 33 essa faixa etária da população, dadas as prioridades de um país em desenvolvimento, com graves problemas na área da infância, adolescência, etc. Nos Estados Unidos, por exemplo, embora os idosos representem 11% da população, ocupam 33% dos leitos hospitalares destinados a agudos, compram 25% de todas as prescrições medicamentosas e consomem 30% do orçamento de saúde (de um fabuloso montante de mais de 300 bilhões de dólares). Ainda nos Estados Unidos, entre os cidadãos com mais de 65 anos, cerca de um quarto está sujeito a passar algum tempo de suas vidas em algum tipo de instituição social antes de morrer. E dos que ultrapassarem os 80 anos, a metade morrerá num asilo, cujo número de leitos já ultrapassa os leitos de casos agudos existentes. Neste mesmo país, 25% dos idosos que vivem em comunidade não têm parentes vivos, ficando sós. O organismo, além de ser consequência da sua programação genética, sofre, também, as sequelas dos impactos, hábitos e do meio ambiente a que foi submetido. 7.6 QUALIDADE DE VIDA A longevidade cada vez maior do ser humano acarreta uma situação ambígua, o desejo de viver cada vez mais e, ao mesmo tempo, o temor de viver em meio a incapacidades e dependência. Wood-Dauphinee (1999) relata que o termo qualidade de vida foi mencionado pela primeira vez em 1920, por Pigou, em um livro sobre economia e bem-estar material. Com a evolução, parecia necessário avaliar a qualidade de vida percebida pelas pessoas e o quanto estavam satisfeitas ou insatisfeitas com a situação e qualidade de suas vidas. O conceito estendeu-se para os campos das artes, do lazer, do emprego, dos transportes, da moradia, da conservação e da preservação do meio ambiente e da educação. Além disso, determinantes históricos e culturais definem a relatividade da noção desta qualidade de vida. Os padrões e concepções de bem-estar são estratificados, pois em sociedades em que as desigualdades são muito importantes, AN02FREV001/REV 4.0 34 a qualidade de vida está relacionada ao bem-estar dos estratos superiores e a passagem de um estrato a outro. O grupo de especialistas em qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (OMS) que elaborou um instrumento genérico de avaliação de qualidade de vida, usando um enfoque transcultural (The WHOQOL Group, 1995), considera que, embora não haja definição consensual de qualidade de vida, há concordância considerável entre os pesquisadores acerca de algumas características do construto. A definição de qualidade de vida apresentada pelo The WHOQOL é a seguinte: “Qualidade de vida é a percepção do indivíduo acerca de sua posição na vida, de acordo com o contexto cultural e sistema de valor com os quais convive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Segundo Nery (2001), com relação à qualidade de vida na idade mais avançada, na velhice, pode ser designada como a avaliação multidimensional referenciada a critérios socionormativos e intrapessoais, a respeito das relações atuais, passadas e prospectivas entre o indivíduo idoso e o seu ambiente. Estereótipos em relação à velhice comprometem a possibilidade de uma qualidade de vida melhor. Em nosso meio, a velhice é comumente associada a perdas, incapacidade, dependência, impotência, decrepitude, doença, desajuste social, baixos rendimentos, solidão, viuvez, cidadania de segunda classe, e assim por diante. O idoso é chato, rabugento, implicante, triste, demente e oneroso. Generalizam-se as características de algumas pessoas idosas para todo o universo. Essa visão estereotipada, junto à dificuldade de distinguir entre envelhecimento normal e patológico, senescência e senilidade, leva à negação daquilo que ocorre, ou à negligência de suas necessidades, vontades. Talvez por esses motivos, os idosos tendem a ignorar sintomas como a tristeza, a dor ou o cansaço. Profissionais tentam explicar os sintomas ou as queixas trazidos pelos idosos como fazendo parte do processo natural do envelhecimento, o que se traduz em omissão e em negligência, impedindo o tratamento e a reabilitação. (ORY & COX, 1994). Em razão disso, muitas idosas não se queixam de incontinência urinária por vergonha ou por acharem normal. Algumas se acostumam, apesar de ser uma causa de isolamento social e secundariamente de depressão. AN02FREV001/REV 4.0 35 7.6.1 Instrumentos de Avaliação de Qualidade de Vida na Velhice Existem relativamente poucos instrumentos específicos de avaliação da qualidade de vida de pessoas idosas. Entre eles podem ser citados os seguintes: Life Satisfection Index - LSI (NEUGARTEN, HAVIGHURST, 1960). KATZEL at al., 1963. Multilevel Assessment Instrument - MAI (LAWTON et al., 1982). Philadelphia geriatric Center Morale Scale - Morale ScaIe (LAWTON e BRODY, 1969). OARS Multidimensional Functional Assesment Questionnaire– OMFAQ (Older Americans Resourses and Services of Duke University) (FILLEMBAUM e SMYER, 1981). Memorial University of Newfoundland Scale of Happiness – MUNSH (Multilevel Assesment Instrument, KOZMA e STONES, 1980). Geriatric Quality of Life Quetionaire, desenhado para o idoso fragilizado (GUYATT et al., 1993). 7.7 AVALIAÇÃO DO IDOSO 7.7.1 Anamnese A abordagem da história clínica e do exame físico precisa ser modificada na avaliação de pacientes idosos e fragilizada. Normalmente, grande parte deles apresenta problemas múltiplos de saúde, o que requer uma equipe para avaliação completa. Para os pacientes que apresentam necessidades médicas, fisioterápicas, psicológicas e sociais complexas, as equipes são mais eficientes para avaliar o quadro e estabelecer um plano de tratamento que profissionais atuando de modo isolado. Estabelecer objetivos comuns e cotejar funções e responsabilidades são a melhor maneira de se obter os resultados esperados para um trabalho em equipe com profissionais de diversas áreas do conhecimento fisioterápico e de outras áreas AN02FREV001/REV 4.0 36 afins. O processo de tomada de decisões clínicas envolvendo idosos deve apresentar como objetivo principal a melhoria na sua qualidade de vida. O fisioterapeuta deve realizar a anamnese com o paciente e com o acompanhante separadamente. O exame físico deve ser realizado em horários diferentes, principalmente em virtude da fadiga que o paciente pode sentir, não se descartando também a necessidade de mais de uma sessão para o exame físico. Deficiências sensoriais (alterações auditivas ou visuais) são muito comuns em idosos e podem interferir no processo de avaliação. Além disso, os idosos podem não relatar sintomas durante a anamnese (crises dispneicas, perda de visão ou audição, problemas com a memória, incontinência urinária, tonturas, quedas, etc.), os quais são considerados normais por esses pacientes. Nesse aspecto, é importante lembrar que nenhum sintoma deve ser considerado normal para o paciente idoso. Em virtude da disfunção cognitiva, os idosos podem apresentar dificuldades para lembrar-se de todas as doenças passadas, as hospitalizações, as cirurgias e o uso de medicamentos, sendo que esses dados devem ser obtidos pelo fisioterapeuta por meio de outras fontes alternativas (membros da família, enfermeira domiciliar, registros médicos). Entretanto, a queixa principal do paciente pode diferir muito do ponto de vista da família em relação ao foco principal do problema. AN02FREV001/REV 4.0 37 FIGURA 4 – REVISÃO DE REGIÕES E SISTEMAS CORPÓREOS FONTE: Rebelatto, 2007. A compreensão da avaliação do status funcional em geriatria deve pautar-se na revisão da maior parte das habilidades funcionais, aqui divididas em duas categorias: as atividades de vida diária (AVDs) e as atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). O conceito de atividades de vida diária é talvez um dos únicos conceitos em que há consenso geral. Existem muitas revisões sobre o conceito de AVDs e suas medidas, mas o mecanismo de medida das AVDs melhor padronizado e mais utilizado mundialmente é o Barthel ADL Index. Como a avaliação e o tratamento de pacientes idosos não deve apenas concentrar-se nas atividades de vida diária, é importante considerar outros aspectos das deficiências, como a comunicação, a interação social, as atividades domésticas, AN02FREV001/REV 4.0 38 o trabalho, o lazer e as atividades cotidianas. Esses outros mecanismos de avaliação podem ser chamados de atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) ou de extensão das atividades de vida diária (EAVDs). Um instrumento eficiente e confiável para avaliar as AIVDs é a escala de Lawton para AIVDs. FIGURA 5 – ÍNDICE DE BARTHEL PARA AVDS FONTE: Rebelatto, 2007. AN02FREV001/REV 4.0 39 FIGURA 6 – ÍNDICE DE BARTHEL E ESCALA DE LAWTON FONTE: Rebelatto, 2007. AN02FREV001/REV 4.0 40 FIGURA 7 – FORMULÁRIO DO ESTADO MINIMENTAL ADOTADO FONTE: Rebelatto, 2007. A história familiar dever ser focalizada para doenças típicas de idosos com padrões hereditários (doença de Alzheimer, câncer, diabetes). A idade de início dessas doenças nos familiares deve ser anotada. Inicialmente a história social do AN02FREV001/REV 4.0 41 paciente inclui a avaliação do padrão da habitação deste indivíduo. Devemos observar o número de quartos, presença ou não de água encanada, esgoto, casa térrea ou sobrado, presença ou não de escadas, elevadores, aquecedores, ar- condicionado, etc. A ergonomia da casa deve ser analisada, principalmente em relação aos objetos que podem provocar quedas. Problemas com a arquitetura e as condições ergonômicas da casa devem ser identificados para que alterações sejam sugeridas como parte do protocolo de tratamento. A descrição de um dia normal, incluindo atividades como leitura, trabalho, exercícios, televisão, interação com outras pessoas, proporciona valiosas informações. O paciente deve ser questionado sobre a frequência e a natureza de seus contatos sociais (amigos, grupos da terceira idade), visita de familiares, participação religiosa ou espiritual. O grau de independência do paciente em realizar essas atividades deve ser checado. O tipo de relacionamento conjugal (solteiro, casado, divorciado, amasiado) também deve ser observado. Nesse aspecto do comportamento social, o padrão sexual do paciente deve ser questionado com bastante tato e sensibilidade, mas as informações que podem ser obtidas podem auxiliar na observação do comportamento psicológico (grau de satisfação pessoal, por exemplo) e avaliação de possíveis doenças sexualmente transmissíveis. É necessária a avaliação da dor em idosos que relatam dor frequentemente, pois apresentam múltiplos problemas de saúde e fontes potenciais de dores variadas, tornando o diagnóstico e o tratamento da dor mais dificultoso. A comunicação da dor pelo idoso aos familiares e aos profissionais que o assistem pode estar prejudicada por disfunções cognitivas. Dor envolve consciência, abstração seletiva, interpretação e aprendizado. É um processo perceptual que integra a modulação de um grande número de fenômenos. 7.7.2 Exame Físico Todas as informações obtidas no exame físico devem ser direcionadas para definir o perfil funcional da intervenção geriátrica, ou seja, o exame físico com AN02FREV001/REV 4.0 42 pacientes idosos deve ser direcionado para se descobrir potencialidades que permitam colaborar para melhorar o grau de morbidade e independência dos mesmos. Portanto, o exame, tanto no nível dos impedimentos físicos (exame da força muscular) como no nível funcional (deambulação) é o aspecto mais importante no processo de tomada de decisão clínica em fisioterapia geriátrica. Exame do Sistema Musculoesquelético O exame físico em geriatria tem como objetivo principal detalhar achados que possibilitem um mapeamento dos sistemas musculoesquelético e neurológico periférico. Deve-se detalhar na busca de informações clínicas objetivas que possibilitem identificar impedimentos físicos (primários ou secundários) que estejam envolvidos no processo de formação do distúrbio funcional. Sinais Vitais Como medida obrigatória para a avaliação de pacientes idosos, deve-se verificar a frequência cardíaca, a pressão sanguínea, a frequência respiratória e a temperatura. A frequência cardíaca (FC) e a pressão arterial (PA) devem ser verificadas em ambos os braços. Como vários fatores podem interferir na pressão arterial, diversas verificações devem ser realizadas na condição de repouso. A pressão arterial pode estar superestimada em pacientes idosos principalmente pela rigidez arterial muito comum nesse tipo de paciente. Essa condição de pseudo-hipertensãoarterial deve ser checada quando o paciente apresentar tanto a pressão sistólica como a diastólica elevada. Hipotensão ortostática pode ser muito comum entre pacientes idosos que não são hipertensivos. Todos os pacientes devem ser checados nesse tipo de comportamento da pressão arterial. Após a PA ser verificada com o paciente em supino, o paciente deve ser observado por aproximadamente três minutos em posição ortostática; o resultado é positivo quando a PA sistólica tem uma queda igual ou maior que 20 mmHg. A frequência respiratória normal para pacientes idosos deve estar entre 16 e 25 respirações por minuto. Uma frequência maior que 25 respirações por minuto pode AN02FREV001/REV 4.0 43 ser um sinal de infecção do trato respiratório inferior, insuficiência cardíaca congestiva ou algum distúrbio que será seguido por outros sinais e sintomas. Estado Mental A avaliação do estado mental torna-se importante para o avaliador determinar a confiabilidade das informações obtidas, mesmo as relativas aos exames objetivos. Deve-se, portanto, avaliar a orientação temporal, espacial e pessoal do paciente. Observação: verificar tabela Minimental citada acima. Inspeção Constituem-se aspectos relevantes na inspeção do paciente idoso: avaliação postural normal (triplanar); observação de possíveis posturas antálgicas; observação da face; medidas de circunferências (membros superiores e inferiores, pescoço, ombros, quadris, etc.); observação de edemas de tecidos moles; efusões articulares; estado da pele; estado das unhas e espasmos musculares. Palpação Deve ser realizada de forma sutil e precisa, para que não se mascare ou se reproduza um sintoma já preestabelecido. A palpação tem por objetivo: Avaliar a sensibilidade, a flexibilidade e a densidade do tecido mole; Determinar a localização exata do sintoma doloroso; Determinar áreas de espasmos musculares adjacentes ao processo doloroso que possam contribuir para a manutenção do mesmo; Encontrar pontos de edema ou efusão articular; Verificar a temperatura da pele na região afetada (sempre com o dorso da mão). Amplitude de Movimento A amplitude de movimento (ADM) ativa e passiva deve ser avaliada para se AN02FREV001/REV 4.0 44 observar a contribuição da articulação no impedimento primário ou secundário do movimento. A unidade funcional do sistema musculoesquelético é a articulação e suas estruturas associadas, membrana sinovial e cápsula, ligamentos e músculos que cruzam a articulação. Por isso, a ADM tem um papel fundamental na compreensão dos problemas relacionados com o sistema musculoesquelético. Além de se quantificar a ADM, deve-se observar: Presença de padrões capsulares versus não capsulares de restrição dos movimentos; Sensação terminal e resposta à dor durante a ADM passiva ao aplicar superpressão; Movimentos articulares acessórios, sua sensação terminal e a resposta à dor. Força Muscular A avaliação da força muscular, por meio dos testes manuais, é um instrumento importante do diagnóstico, do prognóstico e do tratamento dos distúrbios do sistema musculoesquelético, contribuindo decisivamente para a seleção dos testes funcionais. Existem vários sistemas de graduação dos testes de força muscular disponíveis na literatura especializada. Adotaremos o sistema proposto por Stolove Hays (2000), que se baseia na habilidade do músculo de mover, contra a força da gravidade, a parte onde ele está ligado: Grau 5: Força normal. O músculo move a articulação que ele cruza na amplitude total do movimento contra a gravidade e contra a “resistência completa” aplicada pelo examinador. Grau 4: Força boa. O músculo move a articulação que ele cruza na amplitude total de movimento contra a gravidade apenas com “resistência moderada” aplicada pelo examinador. Grau 3: Força regular. O músculo move a articulação que ele cruza na amplitude total do movimento apenas contra a gravidade. AN02FREV001/REV 4.0 45 Grau 2: Força mínima. O músculo move a articulação que ele cruza na amplitude total do movimento se o membro estiver posicionado de modo que a força da gravidade não esteja resistindo ao movimento. Grau 1: Traço de força. A contração muscular pode ser vista ou palpada, mas a força é insuficiente para produzir movimento mesmo com a eliminação da gravidade. Grau 0: Força zero. Paralisia completa. Sem contração visível ou palpável. Exame do Sistema Neurológico O exame neurológico de um paciente idoso, similar a qualquer exame de um adulto, avalia os nervos cranianos, os nervos periféricos, a função motora, a função sensorial e o status mental. Nervos cranianos: a avaliação pode ser complexa. Os idosos normalmente apresentam pupilas diminuídas; o reflexo das pupilas à ação da luz pode estar mais lento e a resposta mitótica pupilar para a visão próxima pode estar diminuída. Os desvios do olhar para cima, a uma distância pequena, e para baixo podem estar levemente limitados. O movimento dos olhos, quando seguem o dedo do fisioterapeuta durante a avaliação do campo visual, pode apresentar-se irregular e com solavancos. Os idosos apresentam frequentemente uma diminuição no olfato, principalmente pelos inúmeros casos de infecção respiratória que ocorrem nesse período. O paladar também pode estar alterado devido à diminuição do olfato, ou também pelo uso constante de medicamentos, alguns dos quais diminuem a salivação. A audição pode estar diminuída pelas dificuldades normais com os órgãos finais. Função motora: a avaliação inclui a força, a coordenação, o andar e os reflexos. Os idosos normalmente podem parecer fracos durante os testes de rotina, por isso, durante o exame físico, o fisioterapeuta pode facilmente sobrepor uma força para a contração sustentada das extremidades. Tanto o tônus muscular, mensurado por meio dos reflexos tendinosos profundos, como o volume de massa muscular podem estar diminuídos, o que é comum, mas não quando acompanha uma perda significativa da função motora. Com a idade, o tempo de reação motora AN02FREV001/REV 4.0 46 aumenta, particularmente em virtude da condução mais lenta nos nervos periféricos. A coordenação motora também diminui em razão de mecanismos centrais, mas, normalmente, essa diminuição ocorre subitamente e não causa deficiência. Também com a idade, os reflexos posturais podem estar prejudicados, tornando-se uma das causas das quedas. Função sensorial: as formas básicas de sensação avaliadas rotineiramente em pacientes idosos são sensação tátil superficial (toque leve), dor superficial, temperatura e vibração. Essas sensações normalmente estão comprometidas nos idosos, podendo prejudicar a função motora. Apresentamos a seguir testes válidos e confiáveis para a aplicação clínica em consultórios, ambulatórios, centros de reabilitação e hospitais, que podem direcionar o processo de avaliação física do paciente idoso, tornando, dessa forma, mais exato e confiável todo o processo de tomada de decisões clínicas envolvendo o idoso. As dimensões avaliadas são as funções motoras fina e grossa do membro superior, o equilíbrio, a mobilidade, a coordenação e a resistência. As AVDs específicas incluem: comer, transferir-se e vestir-se. Em adição, os testes também mensuram as capacidades necessárias para outras AIVDs que são difíceis de avaliar nos consultórios; por exemplo, a força muscular do membro superior é necessária para avaliar a performance do ato de lavar roupa; subir escadas é essencial para o uso do transporte público. Teste de equilíbrio de Berg - BBT (BERG et aI., 1989) Foi desenvolvido para ser uma medida de avaliação do equilíbrio destinada aos pacientes idosos com o objetivo de ser aplicada de forma segura, simples e, principalmente, replicável. Constitui-se em 14 tarefasrelacionadas com as atividades básicas e instrumentais de vida diária que necessitam de equilíbrio para serem realizadas: transferir-se, sentar-se, levantar-se, manter-se em pé, inclinar-se para frente, girar 360 graus, sustentar-se em apenas uma perna, caminhar passo a passo. As tarefas são pontuadas numa escala de cinco pontos (O a 4), considerando 4 como “performance normal” e O como “tarefa não realizada”; a AN02FREV001/REV 4.0 47 pontuação total varia de O (equilíbrio prejudicado severamente) a 56 (excelente equilíbrio). Os idosos institucionalizados e os idosos que vivem em comunidades são o público-alvo desse teste. O teste é utilizado para monitorar o status funcional referente ao equilíbrio, para avaliar o curso da doença e a resposta ao tratamento, e para predizer o risco de quedas e a expectativa de vida (ou a probabilidade de morte). Teste cronometrado de levantar-se e ir - TUG Mensura o tempo que o indivíduo consome para levantar-se de uma cadeira com braços, caminhar três metros, virar-se de frente para a cadeira (giro de 180 graus), voltar para a cadeira e sentar-se novamente. A mensuração do teste ocorre em razão do tempo percorrido (normalmente em segundos) para completar a tarefa. Esse teste é aplicado em idosos institucionalizados e idosos que vivem em comunidades, tendo como finalidade monitorar a habilidade de mobilidade funcional de idosos, avaliar o nível de equilíbrio e predizer o risco de quedas. Teste de caminhada de seis minutos - 6MW É uma modificação do teste originalmente desenvolvido por Cooper, um teste de campo para determinar o consumo máximo de oxigênio (VO2 máx). É um teste submáximo de medida da capacidade aeróbia. De fácil administração, o teste consiste em mensurar a distância máxima percorrida pelo indivíduo em seis minutos. Deve ser aplicado em idosos institucionalizados e idosos que vivem em comunidades, saudáveis ou portadores de distúrbios cardiovasculares e respiratórios. O teste tem como objetivo avaliar e monitorar o nível de resistência aeróbia de idosos saudáveis e predizer o grau de morbidade e mortalidade de pacientes que apresentam distúrbios cardiovasculares e respiratórios (como as disfunções ventriculares, as insuficiências cardíacas avançadas e as doenças pulmonares obstrutivas crônicas). AN02FREV001/REV 4.0 48 FIM DO MÓDULO II AN02FREV001/REV 4.0 49 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FISIOTERAPIA APLICADA À GERIATRIA E GERONTOLOGIA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 50 CURSO DE FISIOTERAPIA APLICADA À GERIATRIA E GERONTOLOGIA MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 51 MÓDULO III 8 FISIOPATOLOGIA DO ENVELHECIMENTO 8.1 SISTEMA NERVOSO FIGURA 8 - FONTE: Disponível em: <http://bluesnake49.blogspot.com.br/2011/02/o-que-e-perfeicao.html> Acesso em: 18 Maio. 2012. O processo de envelhecimento na vida dos indivíduos permanece, ainda, como um dos pontos mais complexos, obscuros e críticos para a ciência, apesar dos grandes esforços que vêm sendo feitos, especialmente desde a segunda metade do século XX. Sendo esse processo inevitável e silencioso no início, mas progressivo e inexorável, não se descobriu, até o presente momento, como ele se desenvolve e evolui nos diferentes órgãos, tecidos e células do organismo como um todo, especialmente, quais os mecanismos que o desencadeiam ou o que possam retardar, já que o processo não se faz de uma maneira uniforme. Existem evidências de que o processo do envelhecimento seja, em sua essência, de natureza multifatorial, dependente da programação genética e das AN02FREV001/REV 4.0 52 alterações que vão ocorrendo em nível celular e molecular, que resultarão em sua aceleração ou desaceleração, com redução de massa celular ativa, diminuição da capacidade funcional das áreas afetadas e sobrecarga, em menor ou maior grau, dos mecanismos de controle homeostático. (FREITAS et al., 2006). Como é um fenômeno biológico normal na vida de todos os seres vivos, não deve ser considerado como doença. Apesar de as doenças crônico-degenerativas, que podem acometer os indivíduos ao longo de suas vidas, estarem paralelamente associadas ao processo do envelhecimento, não seguem a mesma linha de inexorabilidade. Do envelhecimento ninguém escapa até o presente momento, mas isso não significa que todo idoso venha a ter uma ou várias doenças crônico- degenerativas. O sistema nervoso central (SNC) é o sistema biológico mais comprometido com o processo do envelhecimento, pois é o responsável pela vida de relação (sensações, movimentos, funções psíquicas, entre outros) e pela vida vegetativa (funções biológicas internas). Sua perda é fundamental para o desequilíbrio da senescência. O comprometimento do SNC é preocupante pelo fato de não dispor de capacidade reparadora. São unidades morfofuncionais pós-mitóticas, sem possibilidade reprodutora, ficando sujeitas ao processo do envelhecimento por meio de fatores intrínsecos (genético, sexo, circulatório, metabólico, radicais livres, etc.) e extrínsecos (ambiente, sedentarismo, tabagismo, drogas, radiações, etc.), que não deixam de exercer uma ação deletéria com o decorrer do tempo. Sintomas psicológicos podem também ser reações de uma perturbação física. Deve-se ter em mente que, com o envelhecimento populacional, a prevalência de inúmeras doenças crônicas aumentará com a idade; e, também, que o idoso poderia ser, muitas vezes, portador de várias dessas doenças crônicas (diabetes, artrite reumatoide, câncer, doenças cárdio e cerebrovasculares, pneumopatias, entre outras). Assim, ele estará mais susceptível a perturbações mentais, por apresentar mais sintomas depressivos, mais ansiedade, menor autoestima e menor capacidade de controle emocional. AN02FREV001/REV 4.0 53 FIGURA 9 – CÉREBRO HUMANO FONTE: Disponível em: <www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/filo-corda> Acesso em: 27 out. 2009. Nos últimos 100 anos tem havido um aumento da altura média da população e, consequentemente, do peso médio do cérebro (efeito secular), de acordo com dados de populações de diferentes épocas. Por outro lado, se analisarmos o cérebro, ao longo da vida dos indivíduos, a estimativa do volume cranioencefálico nos mostra uma diferença de volume, com o envelhecimento. O peso do cérebro é constituído por células gliais (astrócitos, oligodendroglia e epêndima), mielina, vasos sanguíneos e um número astronômico de neurônios, estimado cautelosamente em 20 bilhões. O cérebro pesa 1,350 kg, atingido na metade da segunda década de vida. A partir dessa etapa, inicia-se um declínio ponderal discreto e lentamente progressivo, em torno de 1,4 a 1,7% por década. Nas mulheres, o declínio é mais precoce que nos homens. Acima dessa idade, o peso do cérebro diminui em relação ao peso corporal. Por outro lado, o volume cerebral, quando comparado com a caixa craniana, permanece constante até a meia-idade (60 anos), em torno de 93%. Nessa época ocorre um decréscimo discreto, que se acentua entre as décadas de 70 e 90 anos, quando pode chegar a 80%. AN02FREV001/REV 4.0 54 Na fase terminal da vida pode haver congestão e edema cerebral, e, também, a fixaçãoem formol pode aumentar o peso em torno de 10%. Alterações morfológicas da substância branca e corpo caloso resultam em perda de grandes e pequenos neurônios e/ou retração dos grandes neurônios corticais que são observados a partir dos 65 anos. O RNA citoplasmático reduz regularmente com a idade, nos neurônios do córtex frontal, giro hipocampal, células piramidais do hipocampo e células de Purkinje do cerebelo, entre outros; associado à redução da substância de NISSL e mais o acúmulo de lipofucsina, resulta em atrofia neuronal simples ou pigmentar, observada em maior grau no córtex cerebral, principalmente nas células piramidais. Os eventos do desenvolvimento embrionário são acompanhados por morte programada de células neuronais e refletem a transitoriedade premeditada de unidades biológicas dentro do organismo. Portanto, neurônios defeituosos e supérfluos são perdidos mesmo durante esse intervalo inicial de vida. Esse conceito tem validade, pois os neurônios não podem reproduzir-se; células oligodendrogliais não podem remielinizar-se, e os vasos sanguíneos cerebrais têm capacidade limitada para reparação estrutural. Sabe-se que o SNC humano tem um processo de reparação denominado plasticidade, que sugere que os neurônios maduros têm uma capacidade de desenvolver-se e formar novas sinapses. Daí a formação de novos circuitos sinápticos, significando a capacidade de aprender e adquirir novos conhecimentos, de lembrar novos fatos e a flexibilidade de desenvolver novas habilidades. A demência pode ocorrer em pacientes que apresentem espaços ventriculares normais para sua idade. Outras mudanças que ocorrem no cérebro incluem: depósito de lipofucsina nas células nervosas, depósito amiloide nos vasos sanguíneos e células, aparecimento de placas senis e, menos frequentemente, emaranhados neurofibrilares. Embora as placas e emaranhados sejam característicos de doença de Alzheimer (DA), eles podem aparecer em cérebros de idosos em evidência de demência. Mudanças nos sistemas de neurotransmissores, particularmente os dopaminérgicos, ocorrem com a idade. Por exemplo, níveis de acetilcolina, receptores colinérgicos, ácido gama-aminobutírico, serotonina e catecolaminas são baixos. Embora o significado dessa diminuição não esteja completamente entendido, AN02FREV001/REV 4.0 55 existe uma correlação com mudanças funcionais, como por exemplo, baixa de colina acetiltransferase na doença de Alzheimer, e de dopamina em doença de Parkinson. Por outro lado, ocorre um aumento de atividade de outras enzimas, como a monoaminoxidase. No envelhecimento normal cerebral a redução moderada da atividade colinérgica resulta em uma redução discreta da atenção e da capacidade de aprendizado. Mudanças cognitivas no envelhecimento e queixas de declínio de memória são sintomas muito frequentes no relato de pessoas entre os 60 e 70 anos e, às vezes, mesmo em indivíduos mais jovens. Segundo o senso comum, o esquecimento é uma característica da velhice, sendo parte inexorável e inevitável do processo de envelhecimento. Embora exista um fundo de verdade nessas crenças, nem todo esquecimento é normal ou inevitável nos idosos, principalmente naqueles de boa saúde física e mental. A síndrome do declínio mental relacionado com a idade indica que pacientes podem sofrer distúrbios subjetivos e objetivos, manifestados mais tipicamente por: Disfunção intelectual ou cognitiva: ausências, distúrbios de memória e, na evolução, alteração na orientação temporoespacial e dificuldade de linguagem; Alteração de humor e sensação de bem-estar, falta de interesse, grosseria no tratamento, ansiedade, labilidade de humor e tendência a depressão; Comportamento: apatia, irritabilidade e agressividade. A característica clínica essencial da doença degenerativa primária é a deterioração intelectual progressiva, lenta e gradual, que evolui tipicamente por meio dos seguintes estágios: Dano de memória e distúrbios de orientação; Distúrbios da fala (afasia), da capacidade de reconhecer objetos (agnosia) e incapacidade de executar movimentos dirigidos, gestos ou manipular objetos (apraxia) nos anos subsequentes; AN02FREV001/REV 4.0 56 Incontinências e imobilidade total (em caso de acamamento) na sua fase terminal. Dentre as situações, devem-se observar aquelas que são reversíveis como: depressão, hipo ou hipertireoidismo, e outros quadros endócrinos; má nutrição e deficiências vitamínicas, anemia, desidratação e distúrbios eletrolíticos, medicações infecções, embolias, insuficiências metabólicas, mas que podem provocar quadros confusionais agudos (delirium), que podem ser confundidos com demência. Mesmo que o paciente saia do estado de confusão, pode ficar algum dano cerebral que deve ser avaliado se é reversível ou não. 8.2 SISTEMA CARDIOVASCULAR FIGURA 10 – CORAÇÃO HUMANO Fonte: Disponível em: < http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/Circulacao.php> Acesso: 18 de Maio 2012. http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/Circulacao.php AN02FREV001/REV 4.0 57 Após o desenvolvimento neonatal, o número de células miocárdicas não aumenta. Estudos realizados demonstraram que há modificações bioquímicas e anatômicas que acompanham o envelhecimento, mas é importante avaliar a importância fisiológica desses dados, pois nem sempre uma alteração bioquímica pode estar relacionada com a idade, levando a uma reação global. Portanto, as alterações na função cardiovascular que acompanham o envelhecimento podem ser decorrentes de alterações de padrões de doença, variáveis do estilo de vida ou resultantes simplesmente do próprio envelhecimento, sendo este o fator de maior dificuldade de definição. O sistema cardiovascular sofre significativa redução de sua capacidade funcional com o envelhecimento. Em repouso, contudo, o idoso não apresenta redução importante do débito cardíaco, mas em situações de maior demanda, tanto fisiológicas (esforço físico) como patológicas (doença arterial coronariana), os mecanismos para a sua manutenção não podem falhar, resultando em processos isquêmicos. Com o avanço da idade, o coração e os vasos sanguíneos apresentam alterações morfológicas e teciduais, mesmo na ausência de qualquer doença, sendo que, ao conjunto dessas alterações, convencionou-se o nome de “coração senil” ou presbicardia. 8.2.1 Alterações Morfológicas Em razão da elevada incidência de doenças cardíacas e vasculares no idoso, há uma dificuldade de reconhecimento das alterações decorrentes especificamente do processo de envelhecimento. 8.2.1.1 Pericárdio AN02FREV001/REV 4.0 58 Na maioria das vezes, as alterações do pericárdio são discretas, em geral decorrentes do desgaste progressivo, sob forma de espessamento difuso, particularmente nas cavidades esquerdas do coração, sendo comum o aparecimento do aumento da taxa de gordura epicárdica, não havendo alterações degenerativas ligadas diretamente à idade. 8.2.1.2 Endocárdio As alterações encontradas no endocárdio são o espessamento e a opacidade, em especial no coração esquerdo, com proliferação das fibras colágenas e elásticas, fragmentação e desorganização destas com perda da disposição uniforme habitual, em virtude do resultado de hiperplasia irritativa resultante da longa turbulência sanguínea. 8.2.1.3 Miocárdio As alterações do miocárdio são as mais expressivas, embora em determinadas necrópsias, mesmo de indivíduos idosos, não se destacam por sua intensidade. No miocárdio há acúmulo de gordura principalmente nos átrios e no septo interventricular, mas pode também ocupar as paredes dos ventrículos. Na maioria dos casos não apresenta expressão clínica, sendo que em algumas situações parece favorecer o aparecimento de arritmias atriais. Observa-se também
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