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63 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Unidade II 5 CAPACIDADE FUNCIONAL DA PESSOA IDOSA E AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 5.1 Capacidade funcional A capacidade funcional é um dos principais preditores de saúde na população idosa. Atualmente, saber as atividades que a pessoa idosa é capaz de realizar é mais importante que o conhecimento sobre sua doença. A capacidade funcional é a possibilidade de planejar e executar tarefas necessárias para uma vida independente, a aptidão da pessoa idosa de realizar atividades que lhe permitam cuidar de si mesmo e participar da vida em comunidade de forma ativa. Você já deve ter percebido que a capacidade de realizar tarefas que tenham significado para a pessoa idosa faz com que ela volte a ter alegria de viver. Na figura a seguir, podemos observar que a capacidade funcional é um preditor do envelhecimento ativo. Na infância, adquirem-se diversas habilidades no desenvolvimento motor que acompanham o desenvolvimento das funções corporais. Na fase adulta, obtém-se um equilíbrio entre esses componentes. No envelhecimento, existe uma tendência ao declínio das funções corporais e, portanto, da capacidade funcional. Em todas as fases da vida, porém, podemos potencializar essa capacidade com a adoção de um estilo de vida saudável, em que incluímos a atividade física e as relações próximas com amigos e familiares. Limiar da incapacidade Variação da função nos indivíduos Idade Ca pa ci da de fu nc io na l Reabilitação e garantia de qualidade de vida Vida adulta Manter o mais alto nível de função possível Velhice Manter a independência e prevenir as deficiências Vida juvenil Crescimento e desenvolvimento Figura 22 – Capacidade funcional ao longo da vida Fonte: Perracini, Guerra e Pereira (2019, p. 9). 64 Unidade II O fisioterapeuta que atende pessoas idosas tem como objetivo principal resgatar ou melhorar a funcionalidade tanto em tarefas simples, como levantar de uma cadeira e tomar banho sozinho, quanto em tarefas mais avançadas, como dirigir, viajar e fazer trilha. Não há limites impostos pela idade. O mais importante é promover a realização de sonhos funcionais. MultidimensãoReabilitação Envelhecimento Funcionalidade Fisioterapia gerontológica Figura 23 – A fisioterapia gerontológica está inserida na equipe de reabilitação da pessoa idosa, processo que deve ser abordado de forma multidimensional, com o objetivo principal de melhorar a funcionalidade Os avanços em saúde têm buscado e conquistado o aumento da expectativa de vida da população, porém a fisioterapia tem o desafio de garantir qualidade e valor a esses anos adquiridos (Perracini; Fló, 2019). Para uma pessoa idosa que sofreu uma queda, com consequente fratura de fêmur e redução da capacidade de andar, a fisioterapia possibilita o retorno independente às atividades funcionais. É gratificante observar a alegria da pessoa idosa reabilitada reabilitado ao devolver dispositivos como cadeira de rodas, andador e bengala, os quais não precisará mais usar. Pessoas idosas que realizam com independência atividades que têm significado e trazem motivação atingem o envelhecimento ativo ou bem-sucedido. Um exemplo disso são pessoas idosas que mantêm as atividades laborativas após os 60 anos. Não há limitação cronológica para desempenhar atividades desafiadoras. Uma pessoa idosa pode andar numa montanha-russa, andar de bicicleta, fazer rafting, surfar, ter relações sexuais. Desde que seja motivador, tudo é possível. 65 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Figura 24 – Exemplo de pessoas idosas com excelente capacidade funcional para atividades da vida diária, como andar de bicicleta Disponível em: https://bit.ly/3vvc4go. Acesso em: 2 jun. 2021. Você, futuro fisioterapeuta, tente descobrir os sonhos funcionais da pessoa idosa que atender e procure criar estratégias terapêuticas para auxiliá-la nessa realização. Um exemplo de sonho funcional é a capacidade de tomar banho sozinho. Devemos pensar no que é necessário para essa atividade: ficar em pé em apoio bipodal e unipodal, com olhos abertos e fechados, e ter boa mobilidade de quadril e tronco para lavar os membros inferiores e boa mobilidade da cintura escapular para lavar o rosto e o cabelo. Veja que tomar banho com independência exige bom equilíbrio e boa amplitude de movimento e força, habilidades que devem ser trabalhadas para chegar ao resultado final. Como saber qual é o sonho funcional da pessoa idosa? Podemos perguntar a ela e utilizar instrumentos que avaliam a capacidade de realizar tarefas, os quais vão nos direcionar às atividades que precisam ser trabalhadas. A avaliação da capacidade funcional nos fornece parâmetros para resgatar o desempenho funcional de pessoas idosas e posteriormente proporcionar uma vida mais saudável e independente. Ela deve ser específica ao perfil da pessoa idosa, para que fiquem claras suas habilidades e necessidades de reabilitação. Em contexto internacional, a medida da capacidade funcional se dá pela avaliação do desempenho na realização das atividades da vida diária. O sucesso em realizar atividades simples, como comer sozinho, ou avançadas, como sair de casa usando diferentes tipos de transporte (carro, ônibus, bicicleta etc.), representa um importante indicador da condição funcional e da independência naquele momento da vida da pessoa idosa. 66 Unidade II Observação O fisioterapeuta que tem conhecimento em gerontologia deve sempre identificar as atividades em que a pessoa idosa apresenta dificuldade e estudá-las, verificar quais são as barreiras e os facilitadores para essas tarefas, e promover um treinamento especializado a fim de garantir a independência e a realização de seus sonhos funcionais. A funcionalidade da pessoa idosa é determinada pelo seu grau de independência, e existe a possibilidade de avaliá-la através de instrumentos específicos. Estes podem ser utilizados para identificar o status funcional atual e como parâmetro para considerar diferentes abordagens associadas com o público idoso. A seguir, veremos instrumentos de avaliação que são amplamente utilizados na população idosa, com diferentes objetivos e particularidades. 5.2 Instrumentos de avaliação 5.2.1 Índice de Katz O Índice de Katz avalia o desempenho em atividades da vida diária, seguindo uma hierarquia de complexidade através de cinco tarefas: alimentação, transferência, higiene pessoal, capacidade de se vestir e se banhar, e uma função (controle esfincteriano). Está incluído na maioria das avaliações multidimensionais. Sua elaboração é baseada na conclusão de que a perda funcional segue um padrão de declínio. Ou seja, primeiro se perde a capacidade de se banhar, uma tarefa mais complexa; depois a capacidade de se vestir e se transferir; por último a capacidade de se alimentar, uma função mais básica (Freitas; Py, 2006; Perracini; Fló, 2019). É bastante utilizado para pacientes institucionalizados, em atendimento domiciliar e em atendimento das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF). Segundo este índice, pessoas idosas são classificadas como independentes se desenvolvem a atividade sem supervisão, orientação ou auxílio direto (Duarte; Andrade; Lebrão, 2007; Perracini; Fló, 2019). Este instrumento é muito útil para: • demonstrar a dinâmica da instalação da incapacidade na pessoa idosa; • estabelecer prognósticos; • avaliar a necessidade de assistência; 67 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA • determinar a efetividade de um tratamento; • predizer o risco de dependência funcional. Quadro 7 – Índice de Katz Atividades Pontos (1 ou 0) Independência (1 ponto) Sem supervisão, orientação ou assistência pessoal Dependência (0 ponto) Com supervisão, orientação, assistência pessoal ou cuidado integral Banhar-se Pontos: ___ Banha-se completamente ou necessita de auxílio somente para lavar uma parte do corpo, como as costas, os genitais ou uma extremidade incapacitada Necessita de ajuda para banhar-seem mais de uma parte do corpo, entrar e sair do chuveiro ou banheira, ou requer assistência total no banho Vestir-se Pontos: ___ Pega as roupas do armário e veste as roupas íntimas, externas e cintos. Pode receber ajuda para amarrar os sapatos Necessita de ajuda para vestir-se ou necessita ser completamente vestido Ir ao banheiro Pontos: ___ Dirige-se ao banheiro, entra e sai dele, arruma as próprias roupas, limpa a área genital sem ajuda Necessita de ajuda para ir ao banheiro ou limpar-se, ou usa urinol ou comadre Transferência Pontos: ___ Senta-se/deita-se e levanta-se da cama ou cadeira sem ajuda. Equipamentos mecânicos de ajuda são aceitáveis Necessita de ajuda para sentar-se/ deitar-se e levantar-se da cama ou da cadeira Continência Pontos: ___ Tem completo controle sobre suas eliminações (urinar e evacuar) É parcial ou totalmente incontinente do intestino ou da bexiga Alimentação Pontos: ___ Leva a comida do prato à boca sem ajuda. Preparação da comida pode ser feita por outra pessoa Necessita de ajuda parcial ou total com a alimentação ou requer alimentação parenteral Total de pontos = ___ 6 = independente 4 = dependência moderada 2 ou menos = muito dependente Fonte: The Hartford Institute for Geriatric Nursing (1998 apud Duarte; Andrade; Lebrão, 2007, p. 324). 5.2.2 Brazilian OARS Multidimensional Functional Assessment Questionnaire O Brazilian OARS Multidimensional Functional Assessment Questionnaire (Bomfaq) avalia a dificuldade em 15 atividades da vida diária, constituídas de 8 atividades físicas mais simples (deitar e levantar da cama, comer, pentear o cabelo, andar no plano, tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro em tempo e cortar as unhas dos pés) e 7 atividades instrumentais da vida diária mais complexas (subir um lance de escada, medicar-se na hora, andar perto de casa, fazer compras, preparar refeições, sair de condução e fazer limpeza de casa). Ao fim da avaliação, quantifica-se o total de atividades comprometidas e classifica-se em sem comprometimento, comprometimento leve, moderado ou grave (Perracini; Fló, 2019). 68 Unidade II Quadro 8 – Brazilian OARS Multidimensional Functional Assessment Questionnaire (Bomfaq) Gostaria de perguntar sobre algumas atividades e tarefas do seu dia a dia. O(a) senhor(a) consegue fazer as atividades a seguir sem necessidade de auxílio, precisa de ajuda ou não consegue fazer essas atividades de forma nenhuma? Atividade Sem dificuldade Dificuldade Não sabe Não respondeuPouca Muita Deitar e levantar da cama Comer Pentear o cabelo Andar no plano Tomar banho Vestir-se Ir ao banheiro em tempo Subir um lance de escada Medicar-se na hora Andar perto de casa Fazer compras Preparar refeições Cortar as unhas dos pés Sair de condução Fazer limpeza de casa Total Pontuação: quantifica-se o total de atividades que o sujeito tem dificuldade de realizar Classificação: – Não houve relato de dificuldade: sem comprometimento – 1 a 3 atividades comprometidas: comprometimento leve – 4 a 6 atividades comprometidas: comprometimento moderado – 7 ou mais atividades comprometidas: comprometimento grave Fonte: Perracini, Guerra e Pereira (2019, p. 21). 5.2.3 Medida de Independência Funcional A Medida de Independência Funcional (MIF) surgiu na década de 1980 com o objetivo de formar um grande banco de dados com a avaliação e a evolução de pacientes em processo de reabilitação. Apresentando sucesso e ótima aplicabilidade, foi traduzida e validada para a população idosa em diversos países, incluindo o Brasil. Essa avaliação vem sendo utilizada em diferentes cenários de atenção à saúde da pessoa idosa, especialmente no campo da reabilitação, apresentando boa aceitação científica quanto à capacidade de mensurar o grau de independência ou quantificar a necessidade de cuidados ou supervisão. 69 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Instrumento de avaliação do grau de independência funcional em várias dimensões do cotidiano, apresenta propriedades psicométricas comprovadas e sensibilidade para detectar até mínimas alterações funcionais, mensurando o que o indivíduo é capaz de realizar independentemente com a ajuda de dispositivos assistivos ou com o auxílio de terceiros (Perracini; Fló, 2019; Ribeiro et al., 2018). A MIF é composta de 18 itens, com escore total variando entre 18 e 126 pontos, e possibilita quantificar a necessidade de ajuda de terceiros experimentada pela pessoa idosa para realizar determinada atividade da vida diária. As atividades avaliadas são autocuidado, controle dos esfíncteres, mobilidade e transferência, locomoção, comunicação e cognição social. Cada atividade avaliada apresenta uma pontuação que varia entre 1 (totalmente dependente) e 7 (totalmente independente) (Ribeiro et al., 2018). Quadro 9 – Medida de Independência Funcional (MIF) Atividade Admissão Alta Seguimento Comentários Autocuidado A. Alimentação B. Higiene pessoal C. Banho (lavar o corpo) D. Vestir-se da cintura para cima E. Vestir-se da cintura para baixo F. Uso do vaso sanitário Controle dos esfíncteres G. Controle de urina H. Controle de fezes Mobilidade e transferência I. Leito, cadeira, cadeira de rodas J. Sanitário K. Banheira, chuveiro Locomoção L. Marcha/cadeira de rodas M. Escadas Comunicação N. Compreensão O. Expressão Cognição social P. Interação social Q. Resolução dos problemas R. Memória Total Nota: não deixar nenhum item em branco; se não testável, marcar 1 MIF total ___ (18 a 126) Subescore motor ___ (1 a 91) Subescore cognitivo ___ (1 a 35) 18 tarefas: 1 a 7 pontos/6 dimensões 70 Unidade II Atividade Admissão Alta Seguimento Comentários Níveis 7. Independência completa (em segurança, em tempo normal) 6. Independência modificada (ajuda técnica) Sem ajuda Dependência modificada: 5. Supervisão 4. Ajuda mínima (indivíduo ≥ 75%) 3. Ajuda moderada (indivíduo ≥ 50%) Dependência completa: 2. Ajuda máxima (indivíduo ≥ 25%) 1. Ajuda total (indivíduo ≥ 0%) Ajuda Fonte: Perracini, Guerra e Pereira (2019, p. 24). 5.2.4 Atividades Instrumentais da Vida Diária A pessoa idosa precisa realizar atividades rotineiras, buscando os recursos disponíveis no meio ambiente para manter uma vida ativa e independente na comunidade (Freitas; Py, 2006). As atividades mais complexas e necessárias para viver em comunidade são denominadas atividades instrumentais da vida diária, entre as quais podemos incluir arrumar a casa, telefonar, fazer compras, usar transporte de deslocamento, preparar alimentos, administrar os próprios medicamentos e administrar as finanças. A capacidade de realizar essas atividades determina se o indivíduo pode ou não viver sozinho. Em 1969, Lawton e Brody elaboraram uma escala com 9 itens, denominada Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVDs). Os itens são: • usar telefone; • usar meios de transporte; • fazer compras; • preparar refeições; • arrumar a casa; • fazer trabalhos manuais domésticos; • lavar e passar roupa; • tomar medicações; • cuidar do próprio dinheiro. 71 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Verifique que algumas tarefas podem ser influenciadas por cultura e gênero, especialmente no caso das gerações que consideram a mulher responsável por cuidar do lar e das tarefas domésticas, e o homem por ser o provedor, sair para trabalhar e realizar reparos em casa, como arrumar o telhado ou trocar uma lâmpada. Cada item tem três opções de resposta: • Sem ajuda: 3 pontos. • Com ajuda parcial: 2 pontos. • Não consegue: 1 ponto. O escore máximo (27 pontos) corresponde à independência. Quanto menor a pontuação, maior a dependência (Freitas; Py, 2006; Perracini; Fló, 2019; Santos; Virtuoso Júnior, 2008). Quadro 10 – Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVDs) Pergunta Resposta Pontos 1. O(a) Sr.(a) consegue usar o telefone? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 2. O(a) Sr.(a) consegue ir a locais distantes usando algum transporte, sem a necessidade de planejamentos especiais? Sem ajudaCom ajuda parcial Não consegue 3 2 1 3. O(a) Sr.(a) consegue fazer compras? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 4. O(a) Sr.(a) consegue preparar as próprias refeições? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 5. O(a) Sr.(a) consegue arrumar a casa? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 6. O(a) Sr.(a) consegue fazer trabalhos manuais domésticos, como pequenos reparos? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 7. O(a) Sr.(a) consegue lavar e passar sua roupa? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 72 Unidade II Pergunta Resposta Pontos 8. O(a) Sr.(a) consegue tomar seus remédios na dose e no horário corretos? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 9. O(a) Sr.(a) consegue cuidar de suas finanças? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 Fonte: Freitas e Miranda (2006, p. 1381). Lembrete Os instrumentos de avaliação da capacidade funcional ajudam o fisioterapeuta a identificar de forma mais objetiva como está a independência da pessoa idosa nas atividades básicas e instrumentais da vida diária e traçar objetivos mais precisos, específicos e individuais . 5.3 Processo de avaliação e tratamento fisioterapêutico A fisioterapia concorre para a melhora da capacidade funcional e, consequentemente, para a mudança da população idosa, tornando-a mais ativa e saudável. Além disso, sempre que necessário, é importante adotar uma abordagem interdisciplinar – por exemplo, com a nutrição, que contribui para o desempenho funcional ao oferecer um ótimo suporte energético através da alimentação ou da suplementação. A melhora da capacidade funcional se dá por meio de mobilizações ativas e ativo-assistidas; exercícios resistidos, aeróbicos e respiratórios; mudanças de decúbito; terapias manuais; atividades funcionais, como subir e descer escadas; e treino de marcha e equilíbrio. Cada atividade a ser recuperada deve ser analisada, identificando-se as habilidades necessárias para ela acontecer. A partir dessa análise, deve-se buscar a superação de limites e o sucesso do resultado final. Lembre-se: a capacidade funcional é um importante preditor de saúde. Use o melhor instrumento para avaliá-la de acordo com a modalidade de atenção e o perfil da pessoa idosa. Depois, analise as atividades comprometidas para mudar seu cenário funcional e tornar o seu envelhecimento bem-sucedido. 73 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Exame O processo de obter a história, realizar a revisão dos sistemas relevantes e selecionar e administrar os testes e medidas específicos para conseguir informação Avaliação O processo dinâmico no qual o fisioterapeuta realiza julgamentos clínicos baseados na informação coletada durante o exame Diagnóstico Tanto o processo como o resultado final da avaliação da informação obtida no exame, quando o fisioterapeuta organiza os dados em grupos, síndromes ou categorias para auxiliar a determinar as estratégias de intervenção mais apropriadas Prognóstico Determinação do nível de melhora ideal que pode ser alcançado por meio da intervenção, bem como da quantidade de tempo necessária para atingir esse nível Intervenção Interação proposital e hábil do fisioterapeuta com o paciente/ cliente e, se apropriado, com outros indivíduos envolvidos no cuidado do paciente/cliente, utilizando diversos métodos e técnicas de fisioterapia para produzir mudanças na condição que são consistentes com o diagnóstico e o prognóstico Resultados Resultados do tratamento do paciente/cliente, que incluem remediar a limitação funcional e a disfunção, otimizar a satisfação do paciente/cliente e proceder à prevenção primária ou secundária Figura 25 – Modelo do processo de avaliação e tratamento fisioterapêutico específico e personalizado do paciente idoso Fonte: Shumway-Cook e Woollacott (2010, p. 139). Exemplo de aplicação Caso clínico: uma pessoa idosa de 78 anos refere perda de peso de 5 kg e redução da força muscular dos membros inferiores, em especial da musculatura de tibial anterior, gastrocnêmio e sóleo, o que promoveu piora do desempenho para dirigir. Diante desse caso, escolha um instrumento que avalie a tarefa, cite um objetivo e descreva uma conduta para melhorar essa atividade e, consequentemente, a capacidade funcional da pessoa idosa. 6 EQUILÍBRIO, QUEDAS E ADAPTAÇÕES AMBIENTAIS 6.1 Definições Quedas são eventos comuns experimentados por todos durante a vida, porém na pessoa idosa o impacto é maior pelas consequências que podem ter. A queda pode ser definida como um deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial, com incapacidade de correção em tempo hábil e de etiologia multifatorial (Perracini; Fló, 2019; SBGG, 2008). 74 Unidade II Muitas pessoas idosas sofrem quedas após episódios de tontura, ao tentar levantar de uma cadeira e em outras situações comuns do dia a dia. Além disso, percebemos que a queda nunca tem uma causa única; vários fatores interferem na sua possível ocorrência. A queda é considerada a sétima causa de morte acidental na população de 75 anos ou mais, ou seja, tem impacto nos indicadores de morbidade e mortalidade da população idosa. Daí a importância de preveni-la (Pereira; Maia; Silva, 2013). Em relação ao local das quedas, o mais comum é o próprio domicílio, seguido da via pública. Os mecanismos são queda da própria altura, escorregão, tropeço ou passo em falso (Gawryszewski, 2010). A idade avançada está associada às quedas. Quanto maior a idade, maiores as alterações físicas e funcionais e as doenças que afetam o equilíbrio. O sexo feminino apresenta maior chance de sofrer quedas, talvez por maior exposição a comportamentos de risco, maior incidência de osteoporose e maior impacto da alteração muscular (Gawryszewski, 2010). Duas condições prevalecem para que a queda ocorra: existência de perturbação do equilíbrio e falência dos sistemas antecipatórios e compensatórios dessa perturbação. Portanto, a queda está quase sempre relacionada a uma alteração no equilíbrio postural, variável essencial a ser observada em pessoas idosas. O equilíbrio pode ser definido como a capacidade de manter o centro de gravidade projetado sobre a base de sustentação em situações estáticas, semiestáticas ou dinâmicas (Kleiner; Schlittler; Sánchez Arias, 2001; Pereira; Maia; Silva, 2013). A base de sustentação varia de acordo com o posicionamento do indivíduo, sendo maior quando ele está sentado e menor quando ele permanece em apoio unipodal – por exemplo, durante a fase de balanço na marcha. As situações estáticas ou semiestáticas são aquelas em que o indivíduo permanece com pouco ou nenhum descolamento da base de sustentação, como quando fica em pé com a base de sustentação alargada, sem deslocá-la por 2 minutos. O termo semiestático é mais adequado, pois partimos do pressuposto de que ninguém fica completamente parado; são feitos pequenos deslocamentos corporais, como movimentos com o tronco ou com a cabeça, para promover ajustamentos. As situações dinâmicas são aquelas em que o indivíduo realiza deslocamentos constantes da sua base de sustentação, como durante a marcha, ou promove conflitos na base de sustentação, como quando fica de olhos fechados em cima de uma espuma. Na abordagem do equilíbrio, devemos entender a teoria dos sistemas, que compreende a integração dos sistemas sensoriais (aferentes), do processamento central e do sistema efetor (eferentes). Para que o indivíduo consiga manter o equilíbrio postural, todos esses sistemas devem estar em perfeito equilíbrio. 75 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Sistemas sensoriais (visual, somatossensorial e vestibular) Processamento central (sistema nervoso central) Sistema efetor (músculos, articulações e ligamentos; estratégias antecipatórias e reativas de equilíbrio) Figura 26 – Modelo dos sistemas responsáveis pelo equilíbrio Os sistemas sensoriais incluem três sistemas de igual importância, que trazem a informaçãode como está a nossa estabilidade/equilíbrio (Kleiner; Schlittler; Sánchez Arias, 2001; Perracini; Fló, 2019): • Sistema visual: reflete informações do ambiente ao redor do indivíduo. A pessoa idosa apresenta alterações fisiológicas, como diminuição da acuidade visual e da percepção estereoscópica (por exemplo, enxergar degraus de uma escada rolante), e doenças, como catarata, que dificultam a captação da imagem por esse sistema. • Sistema somatossensorial: indica a posição e a velocidade dos segmentos corporais. Também se modifica com o envelhecimento. A sensibilidade cutânea protetora dos pés altera-se, e a pessoa idosa não apresenta a correta percepção do apoio dos pés no chão. Além disso, doenças como diabetes mellitus podem provocar neuropatias periféricas, alterando a sensibilidade e a percepção posicional. • Sistema vestibular: é sensível a aceleração linear ou angular, orientação espacial e verticalidade da cabeça. Esse sistema fica dentro do ouvido interno e é formado por três canais semicirculares e dois órgãos otolíticos (utrículo e sáculo). Esses componentes têm cílios que se deslocam com o movimento da cabeça e se sensibilizam para perceber esses deslocamentos. No envelhecimento, esses cílios diminuem, alterando a percepção de movimento. Também se percebe na pessoa idosa o aumento da prevalência de labirintopatias, como a vertigem posicional paroxística benigna, em que cristais de carbonato de cálcio que ficavam aderidos à mácula dos órgãos otolíticos se deslocam e provocam estímulos constantes no sistema vestibular, trazendo o sintoma de vertigem, uma tontura rotatória em que existe a sensação de que todo o ambiente ao redor está rodando, trazendo maior risco de quedas. 76 Unidade II As informações provenientes dos sistemas sensoriais são analisadas e processadas no sistema nervoso central, que chamamos de processamento central ao nível de córtex, cerebelo e medula. Esse sistema sofre alterações no processo de envelhecimento, como diminuição da velocidade de condução nervosa (sinapses) e perda neuronal, além de estar sujeito a doenças como demência e acidente vascular cerebral, com acometimento cerebelar, o que afeta o processamento das informações, tornando-o mais lento. O sistema efetor, formado por músculos, articulações e ligamentos, recebe as informações do processamento central, gerando estratégias antecipatórias ou reativas para garantir a recuperação da estabilidade e impedir a ocorrência de quedas. Esse sistema também é afetado pelo envelhecimento, com redução de proteoglicanos e água no sistema articular, diminuindo a mobilidade; sarcopenia, diminuindo a massa e a força muscular; e doenças comuns nessa fase, como as osteoartrites, provocando respostas ineficientes e levando a pessoa idosa a quedas (Freitas; Py, 2006; Shumway-Cook; Woollacott, 2010). As estratégias compensatórias são (Perracini; Fló, 2019; Shumway-Cook; Woollacott, 2010): • Estratégia do tornozelo: quando ocorre um pequeno deslocamento corporal, como ao permanecer na posição tandem (um pé diante do outro). • Estratégia do quadril: quando há um deslocamento maior, como ao inclinar o corpo para a frente a fim de pegar um objeto no chão. • Estratégia do passo: quando as estratégias anteriores não são suficientes para garantir a recuperação do equilíbrio. Entre as apresentações desta estratégia estão o passo anterior direito ou esquerdo, o passo posterior direito ou esquerdo, o passo lateral direito ou esquerdo, e o passo cruzado direito ou esquerdo. Se a pessoa idosa usar alguma dessas estratégias, não sofrerá uma queda. Portanto, elas são de extrema importância no processo de envelhecimento. Figura 27 – Estratégias de recuperação do equilíbrio: tornozelo, quadril e passo Fonte: Shumway-Cook e Woollacott (2010, p. 166). 77 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Observação É muito importante conhecer os sistemas responsáveis pelo controle postural e suas funções para identificar as alterações ocorridas no envelhecimento e entender de forma mais clara por que a pessoa idosa cai. As quedas em pessoas idosas têm relação com fatores de risco intrínsecos e extrínsecos, que quase sempre estão associados no evento (Ferreira et al., 2013; Kato-Narita; Nitrini; Radanovic, 2011; SBGG, 2008; Ventura; Mendonça; Couto, 2015). • Fatores intrínsecos: são aqueles relacionados à própria pessoa idosa. Incluem: — alterações fisiológicas do envelhecimento, como redução da acuidade visual, sarcopenia, inadequação da marcha, declínio cognitivo, diminuição da capacidade funcional e idade avançada; — doenças e eventos comuns no envelhecimento, como sedentarismo, osteoporose, catarata, labirintopatias e efeito medicamentoso; por exemplo, o uso de benzodiazepínicos, neurolépticos e antidepressivos retarda a ação do sistema nervoso central, provocando alteração no processamento das informações. • Fatores extrínsecos: são quase sempre relacionados ao ambiente em que a pessoa idosa está inserida. Incluem: — iluminação inadequada, especialmente na atividade de ir ao banheiro durante a noite; — superfícies escorregadias no banheiro ou em áreas externas; — tapetes soltos ou com dobras, em que pode tropeçar; — degraus muito altos; — obstáculos no caminho, como excesso de móveis, fios soltos e animais domésticos; — ausência de corrimão nas escadas e barras nos corredores e banheiros; — prateleiras muito altas, pois assumirá um comportamento de risco, subindo em cadeiras, banquinhos ou escadas instáveis (ela pode apresentar tontura ao se abaixar de forma rápida); — vias públicas mal conservadas, com buracos e calçadas de diferentes alturas; — calçados inadequados, como chinelo ou salto alto. 78 Unidade II Figura 28 – Pessoa idosa subindo numa escada instável, usando um calçado inadequado, para pegar algo numa prateleira alta, apresentando risco de cair Figura 29 – Fatores de risco extrínsecos para quedas: tapete solto, animal doméstico e degrau sem sinalização 79 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA As consequências mais comuns são hospitalização, traumatismo craniano, fratura do quadril, fratura do fêmur, diminuição da capacidade funcional, medo de cair, institucionalização e morte a pessoa idosa Lembrete Duas situações precisam acontecer para a pessoa idosa sofrer uma queda: uma perturbação do equilíbrio e uma falência na compensação dessa perturbação. 6.2 Avaliações funcionais de equilíbrio e risco de queda A anamnese específica de quedas deve estar voltada para a história e os motivos que levaram a pessoa idosa a cair. Para isso, é importante perguntar o número de quedas no último ano, onde elas ocorreram, qual o horário, se apresentou algum desconforto ou ingeriu alguma bebida alcoólica antes de cair, e quais foram o mecanismo e as consequências da queda. Todos os detalhes são importantes para entender o processo. Um exemplo é o caso de pessoa idosa que tropeça no tapete à noite ao levantar da cama. Fatores extrínsecos, como má iluminação e tipo de tapete, podem influenciar a queda, mas talvez algum dos sistemas responsáveis pelo equilíbrio não esteja íntegro nem atue da melhor forma. Pessoas idosas que apresentam alteração em um ou mais sistemas responsáveis pelo equilíbrio evoluem para o aumento do risco de quedas, fazendo-se necessária uma avaliação minuciosa e específica. As avaliações funcionais de equilíbrio e risco de queda vêm sendo amplamente utilizadas nas pesquisas científicas e na prática clínica com o objetivo de identificar alterações nos sistemas responsáveis pelo equilíbrio, avaliar a repercussão do desequilíbrio nas atividades funcionais simples (como ficar em pé sem apoio) e complexas (como andar e realizar movimentos de cabeça), identificar o risco de quedas, programar um tratamento específico e verificar a progressão do paciente. Observação Os instrumentos funcionais de equilíbrio e risco de queda avaliam pessoas idosas em diferentes situações. Por isso devemos ter cuidado ao dizer que observamosou não risco de queda, pois este não é um risco que aparece somente nas situações avaliadas. Por exemplo, uma pessoa idosa pode não apresentar risco nas situações contempladas pela Escala de Equilíbrio de Berg, mas sim nas situações abordadas pelo Índice de Marcha Dinâmica. Portanto, o ideal é associar diferentes avaliações. 80 Unidade II 6.2.1 Escala de Equilíbrio de Berg A Escala de Equilíbrio de Berg avalia o status funcional do equilíbrio através de tarefas do dia a dia que exigem equilíbrio, como levantar da cadeira, permanecer em pé com os olhos fechados ou inclinar-se para a frente. Ela tem sido usada amplamente em pesquisas científicas e na prática clínica, pois apresenta baixo custo e fácil aplicabilidade, avalia o risco de queda nas tarefas avaliadas e identifica pessoas idosas que sofreram quedas no último ano. Os materiais usados são uma cadeira com apoio e outra sem apoio de braço, um degrau de 20,5 cm, uma fita métrica e um cronômetro. As tarefas funcionais são avaliadas por meio de 14 itens. O desempenho nessas tarefas recebe de 0 a 4 pontos: 0 significa o pior desempenho e 4 o melhor. O máximo de pontos que uma pessoa idosa pode obter nesse instrumento é 56. Quanto menor a pontuação, pior o equilíbrio. Além disso, essa escala avalia o risco de quedas mediante a nota de corte 45: pontuação igual ou acima desse valor demonstra menor risco; pontuação abaixo de 36 aponta um risco de queda de quase 100% (Miyamoto et al., 2004; Pereira; Maia; Silva, 2013; Perracini; Fló, 2019). Destaque Escala de Equilíbrio de Berg (versão brasileira) Nome: ______________________________ Data: __/__/__ Local: ______________________________ Avaliador: _____________ Descrição do item escore (0-4) 1. Posição sentada para posição em pé ___ 2. Permanecer em pé sem apoio ___ 3. Permanecer sentado sem apoio ___ 4. Posição em pé para posição sentada ___ 5. Transferências ___ 6. Permanecer em pé com os olhos fechados ___ 7. Permanecer em pé com os pés juntos ___ 8. Alcançar à frente com o braço estendido ___ 9. Pegar um objeto do chão ___ 10. Virar-se e olhar para trás ___ 11. Girar 360° ___ 12. Posicionar os pés alternadamente no degrau ___ 13. Permanecer em pé com um pé à frente ___ 14. Permanecer em pé sobre uma perna ___ Total___ 81 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Instruções gerais Por favor, demonstrar cada tarefa e/ou dar as instruções como estão escritas. Ao pontuar, registrar a categoria de resposta mais baixa que se aplica a cada item. Na maioria dos itens, pede-se ao paciente que mantenha determinada posição durante um tempo específico. Progressivamente, mais pontos são deduzidos, se o tempo ou a distância não forem atingidos, se o paciente precisar de supervisão (o examinador necessita ficar bem próximo do paciente) ou se fizer uso de apoio externo ou receber ajuda do examinador. Os pacientes devem entender que eles precisam manter o equilíbrio enquanto realizam as tarefas. A escolha sobre em qual perna ficar em pé ou qual distância alcançar ficará a critério do paciente. Um julgamento pobre irá influenciar adversamente o desempenho e o escore do paciente. Os equipamentos necessários para realizar os testes são um cronômetro ou um relógio com ponteiro de segundos e uma régua ou outro indicador de 5 cm, 12,5 cm e 25 cm. As cadeiras utilizadas para o teste devem ter altura adequada. Um banquinho ou uma escada (com degraus de altura padrão) podem ser usados para o item 12. 1. Posição sentada para posição em pé Instruções. Por favor, levante-se. Tente não usar as mãos para se apoiar. ( ) 4 Capaz de levantar-se sem utilizar as mãos e estabilizar-se independentemente ( ) 3 Capaz de levantar-se independentemente utilizando as mãos ( ) 2 Capaz de levantar-se utilizando as mãos após diversas tentativas ( ) 1 Necessita de ajuda mínima para levantar-se ou estabilizar-se ( ) 0 Necessita de ajuda moderada ou máxima para levantar-se 2. Permanecer em pé sem apoio Instruções. Por favor, fique em pé por 2 minutos sem se apoiar. ( ) 4 Capaz de permanecer em pé com segurança por 2 minutos ( ) 3 Capaz de permanecer em pé por 2 minutos com supervisão ( ) 2 Capaz de permanecer em pé por 30 segundos sem apoio ( ) 1 Necessita de várias tentativas para permanecer em pé por 30 segundos sem apoio ( ) 0 Incapaz de permanecer em pé por 30 segundos sem apoio 82 Unidade II Se o paciente for capaz de permanecer em pé por 2 minutos sem apoio, dê o número total de pontos para o item 3. Continue com o item 4. 3. Permanecer sentado sem apoio nas costas, mas com os pés apoiados no chão ou num banquinho Instruções. Por favor, fique sentado sem apoiar as costas, com os braços cruzados, por 2 minutos. ( ) 4 Capaz de permanecer sentado com segurança e com firmeza por 2 minutos ( ) 3 Capaz de permanecer sentado por 2 minutos sob supervisão ( ) 2 Capaz de permanecer sentado por 30 segundos ( ) 1 Capaz de permanecer sentado por 10 segundos ( ) 0 Incapaz de permanecer sentado sem apoio durante 10 segundos 4. Posição em pé para posição sentada Instruções. Por favor, sente-se. ( ) 4 Senta-se com segurança com uso mínimo das mãos ( ) 3 Controla a descida utilizando as mãos ( ) 2 Utiliza a parte posterior das pernas contra a cadeira para controlar a descida ( ) 1 Senta-se independentemente, mas tem descida sem controle ( ) 0 Necessita de ajuda para sentar-se 5. Transferências Instruções. Arrume as cadeiras perpendicularmente ou uma de frente para a outra para uma transferência em pivô. Peça ao paciente que se transfira de uma cadeira com apoio de braço para uma cadeira sem apoio de braço, e vice-versa. Você poderá utilizar duas cadeiras (uma com e outra sem apoio de braço) ou uma cama e uma cadeira. ( ) 4 Capaz de transferir-se com segurança com uso mínimo das mãos ( ) 3 Capaz de transferir-se com segurança com uso das mãos 83 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA ( ) 2 Capaz de transferir-se seguindo orientações verbais e/ou supervisão ( ) 1 Necessita de uma pessoa para ajudar ( ) 0 Necessita de duas pessoas para ajudar ou supervisionar para realizar a tarefa com segurança 6. Permanecer em pé sem apoio com os olhos fechados Instruções. Por favor, fique em pé e feche os olhos por 10 segundos. ( ) 4 Capaz de permanecer em pé por 10 segundos com segurança ( ) 3 Capaz de permanecer em pé por 10 segundos com supervisão ( ) 2 Capaz de permanecer em pé por 3 segundos ( ) 1 Incapaz de permanecer com os olhos fechados durante 3 segundos, mas mantém-se em pé ( ) 0 Necessita de ajuda para não cair 7. Permanecer em pé sem apoio com os pés juntos Instruções. Junte seus pés e fique em pé sem se apoiar. ( ) 4 Capaz de posicionar os pés juntos independentemente e permanecer por 1 minuto com segurança ( ) 3 Capaz de posicionar os pés juntos independentemente e permanecer por 1 minuto com supervisão ( ) 2 Capaz de posicionar os pés juntos independentemente e permanecer por 30 segundos ( ) 1 Necessita de ajuda para posicionar-se, mas é capaz de permanecer com os pés juntos durante 15 segundos ( ) 0 Necessita de ajuda para posicionar-se e é incapaz de permanecer nessa posição por 15 segundos 8. Alcançar à frente com o braço estendido, permanecendo em pé Instruções. Levante o braço a 90°. Estique os dedos e tente alcançar à frente o mais longe possível. (O examinador posiciona a régua no fim da ponta dos dedos quando o 84 Unidade II braço estiver a 90°. Ao serem esticados para a frente, os dedos não devem tocar a régua. A medida a ser registrada é a distância que os dedos conseguem alcançar quando o paciente se inclina para a frente o máximo que ele consegue. Quando possível, peça ao paciente que use ambos os braços para evitar rotação do tronco.) ( ) 4 Pode avançar à frente mais que 25 cm com segurança ( ) 3 Pode avançar à frente mais que 12,5 cm com segurança ( ) 2 Pode avançar à frente mais que 5 cm com segurança ( ) 1 Pode avançar à frente, mas necessita de supervisão ( ) 0 Perde o equilíbriona tentativa, ou necessita de apoio externo 9. Pegar um objeto do chão a partir de uma posição em pé Instruções. Pegue o sapato/chinelo que está na frente dos seus pés. ( ) 4 Capaz de pegar o chinelo com facilidade e segurança ( ) 3 Capaz de pegar o chinelo, mas necessita de supervisão ( ) 2 Incapaz de pegá-lo, mas se estica até ficar a 2-5 cm do chinelo e mantém o equilíbrio independentemente ( ) 1 Incapaz de pegá-lo, necessitando de supervisão enquanto está tentando ( ) 0 Incapaz de tentar, ou necessita de ajuda para não perder o equilíbrio ou cair 10. Virar-se e olhar para trás por cima dos ombros direito e esquerdo enquanto permanece em pé Instruções. Vire-se para olhar diretamente atrás de você por cima do seu ombro esquerdo sem tirar os pés do chão. Faça o mesmo por cima do ombro direito. (O examinador poderá pegar um objeto e posicioná-lo diretamente atrás do paciente para estimular o movimento.) ( ) 4 Olha para trás de ambos os lados com boa distribuição do peso ( ) 3 Olha para trás somente de um lado; o lado contrário demonstra menor distribuição do peso ( ) 2 Vira somente para os lados, mas mantém o equilíbrio 85 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA ( ) 1 Necessita de supervisão para virar ( ) 0 Necessita de ajuda para não perder o equilíbrio ou cair 11. Girar 360° Instruções. Gire-se completamente ao redor de si mesmo. (Pausa.) Gire-se completamente ao redor de si mesmo em sentido contrário. ( ) 4 Capaz de girar 360° com segurança em 4 segundos ou menos ( ) 3 Capaz de girar 360° com segurança somente para um lado em 4 segundos ou menos ( ) 2 Capaz de girar 360° com segurança, mas lentamente ( ) 1 Necessita de supervisão próxima ou orientações verbais ( ) 0 Necessita de ajuda enquanto gira 12. Posicionar os pés alternadamente no degrau ou banquinho enquanto permanece em pé sem apoio Instruções. Toque cada pé alternadamente no degrau/banquinho. Continue até que cada pé tenha tocado o degrau/banquinho quatro vezes. ( ) 4 Capaz de permanecer em pé independentemente e com segurança, completando 8 movimentos em 20 segundos ( ) 3 Capaz de permanecer em pé independentemente e completar 8 movimentos em mais que 20 segundos ( ) 2 Capaz de completar 4 movimentos sem ajuda ( ) 1 Capaz de completar mais que 2 movimentos com o mínimo de ajuda ( ) 0 Incapaz de tentar, ou necessita de ajuda para não cair 13. Permanecer em pé sem apoio com um pé à frente Instruções. (Demonstre para o paciente.) Coloque um pé diretamente à frente do outro na mesma linha; se você achar que não irá conseguir, coloque o pé um pouco mais à frente do outro e levemente para o lado. 86 Unidade II ( ) 4 Capaz de colocar um pé imediatamente à frente do outro, independentemente, e permanecer por 30 segundos ( ) 3 Capaz de colocar um pé um pouco mais à frente do outro e levemente para o lado, independentemente, e permanecer por 30 segundos ( ) 2 Capaz de dar um pequeno passo, independentemente, e permanecer por 30 segundos ( ) 1 Necessita de ajuda para dar o passo, porém permanece por 15 segundos ( ) 0 Perde o equilíbrio ao tentar dar um passo ou ficar em pé 14. Permanecer em pé sobre uma perna Instruções. Fique em pé sobre uma perna o máximo que você puder sem se segurar. ( ) 4 Capaz de levantar uma perna independentemente e permanecer por mais que 10 segundos ( ) 3 Capaz de levantar uma perna independentemente e permanecer por 5-10 segundos ( ) 2 Capaz de levantar uma perna independentemente e permanecer por mais que 3 segundos ( ) 1 Tenta levantar uma perna, mas é incapaz de permanecer por 3 segundos, embora permaneça em pé independentemente ( ) 0 Incapaz de tentar, ou necessita de ajuda para não cair ( ) Escore total (máximo = 56) Fonte: Miyamoto et al. (2004, p. 1419-1421). Saiba mais Se quiser conhecer como a Escala de Equilíbrio de Berg foi validada e traduzida para o português do Brasil, leia o artigo: MIYAMOTO, S. T. et al. Brazilian version of the Berg Balance Scale. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v. 37, n. 9, p. 1411-1421, 2004. 87 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA 6.2.2 Índice de Marcha Dinâmica O Índice de Marcha Dinâmica avalia o equilíbrio durante a marcha de forma quantitativa e qualitativa, através de 8 tarefas. Cada tarefa recebe uma pontuação que varia de 0 (pior desempenho) a 3 (sem disfunção). O escore da escala varia de 0 a 24 pontos, sendo o maior escore relacionado ao melhor desempenho. Uma pontuação de 19 pontos ou menos associa-se ao risco de queda nas tarefas avaliadas (Castro; Perracini; Ganança, 2006; Perracini; Fló, 2019). Os materiais utilizados são uma caixa de sapatos, empregada como obstáculo (não se especifica o tamanho), dois cones de sinalização de trânsito, para fazer a marcação de distância e desvio, e uma escada com corrimão (Castro; Perracini; Ganança, 2006; Perracini; Fló, 2019). Destaque Índice de Marcha Dinâmica (4ª versão brasileira) 1. Marcha em superfície plana ___ Instruções. Ande em sua velocidade normal, daqui até a próxima marca (6 m). Classificação. Marque a menor categoria que se aplica. (3) Normal. Anda 6 m, sem dispositivos de auxílio, em boa velocidade, sem evidência de desequilíbrio, marcha em padrão normal. (2) Comprometimento leve. Anda 6 m, velocidade lenta, marcha com mínimos desvios, ou utiliza dispositivos de auxílio à marcha. (1) Comprometimento moderado. Anda 6 m, velocidade lenta, marcha em padrão anormal, evidência de desequilíbrio. (0) Comprometimento grave. Não consegue andar 6 m sem auxílio, grandes desvios da marcha ou desequilíbrio. 2. Mudança de velocidade da marcha ___ Instruções. Comece andando no seu passo normal (1,5 m). Quando eu disser “Rápido”, ande o mais rápido que você puder (1,5 m). Quando eu disser “Devagar”, ande o mais devagar que você puder (1,5 m). Classificação. Marque a menor categoria que se aplica. (3) Normal. É capaz de alterar a velocidade da marcha sem perda de equilíbrio ou desvios. Mostra diferença significativa na marcha entre as velocidades normal, rápida e devagar. 88 Unidade II (2) Comprometimento leve. É capaz de mudar de velocidade, mas apresenta discretos desvios da marcha, ou não tem desvios, mas não consegue mudar significativamente a velocidade da marcha, ou utiliza um dispositivo de auxílio à marcha. (1) Comprometimento moderado. Só realiza pequenos ajustes na velocidade da marcha, ou consegue mudar a velocidade com importantes desvios na marcha, ou muda de velocidade e perde o equilíbrio, mas consegue recuperá-lo e continuar andando. (0) Comprometimento grave. Não consegue mudar de velocidade, ou perde o equilíbrio e procura apoio na parede, ou necessita ser amparado. 3. Marcha com movimentos horizontais (rotação) da cabeça ___ Instruções. Comece andando no seu passo normal. Quando eu disser “Olhe para a direita”, vire a cabeça para o lado direito e continue andando para a frente até que eu diga “Olhe para a esquerda”. Então vire a cabeça para o lado esquerdo e continue andando. Quando eu disser “Olhe para a frente”, continue andando e volte a olhar para a frente. Classificação. Marque a menor categoria que se aplica. (3) Normal. Realiza as rotações da cabeça suavemente, sem alteração da marcha. (2) Comprometimento leve. Realiza as rotações da cabeça suavemente, com leve alteração da velocidade da marcha, ou seja, com mínima alteração da progressão da marcha, ou utiliza dispositivo de auxílio à marcha. (1) Comprometimento moderado. Realiza as rotações da cabeça com moderada alteração da velocidade da marcha, diminui a velocidade, ou cambaleia mas se recupera e consegue continuar a andar. (0) Comprometimento grave. Realiza a tarefa com grave distúrbio da marcha, ou seja, cambaleando para fora do trajeto (cerca de 38 cm), perde o equilíbrio, para, procura apoio na parede ou precisa ser amparado. 4. Marcha com movimentos verticais (rotação) da cabeça ___ Instruções. Comece andando no seu passo normal. Quando eu disser “Olhe para cima”, levante acabeça e olhe para cima. Continue andando para a frente até que eu diga “Olhe para baixo”. Então incline a cabeça para baixo e continue andando. Quando eu disser “Olhe para a frente”, continue andando e volte a olhar para a frente. Classificação. Marque a menor categoria que se aplica. (3) Normal. Realiza as rotações da cabeça sem alteração da marcha. 89 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA (2) Comprometimento leve. Realiza a tarefa com leve alteração da velocidade da marcha, ou seja, com mínima alteração da progressão da marcha, ou utiliza dispositivo de auxílio à marcha. (1) Comprometimento moderado. Realiza a tarefa com moderada alteração da velocidade da marcha, diminui a velocidade, ou cambaleia mas se recupera e consegue continuar a andar. (0) Comprometimento grave. Realiza a tarefa com grave distúrbio da marcha, ou seja, cambaleando para fora do trajeto (cerca de 38 cm), perde o equilíbrio, para, procura apoio na parede ou precisa ser amparado. 5. Marcha e giro sobre o próprio eixo corporal (pivô) ___ Instruções. Comece andando no seu passo normal. Quando eu disser “Vire-se e pare”, vire-se o mais rápido que puder para a direção oposta e permaneça parado de frente para (este ponto) seu ponto de partida. Classificação. Marque a menor categoria que se aplica. (3) Normal. Gira o corpo com segurança em até 3 segundos e para rapidamente sem perder o equilíbrio. (2) Comprometimento leve. Gira o corpo com segurança em um tempo maior que 3 segundos e para sem perder o equilíbrio. (1) Comprometimento moderado. Gira lentamente, precisa dar vários passos pequenos até recuperar o equilíbrio após girar o corpo e parar, ou precisa de dicas verbais. (0) Comprometimento grave. Não consegue girar o corpo com segurança, perde o equilíbrio, precisa de ajuda para virar-se e parar. 6. Passar por cima de obstáculo ___ Instruções. Comece andando em sua velocidade normal. Quando chegar à caixa de sapatos, passe por cima dela, não a contorne, e continue andando. Classificação. Marque a menor categoria que se aplica. (3) Normal. É capaz de passar por cima da caixa sem alterar a velocidade da marcha. Não há evidência de desequilíbrio. (2) Comprometimento leve. É capaz de passar por cima da caixa, mas precisa diminuir a velocidade da marcha e ajustar os passos para conseguir ultrapassar a caixa com segurança. 90 Unidade II (1) Comprometimento moderado. É capaz de passar por cima da caixa, mas precisa parar e depois transpor o obstáculo. Pode precisar de dicas verbais. (0) Comprometimento grave. Não consegue realizar a tarefa sem ajuda. 7. Andar ao redor de obstáculos ___ Instruções. Comece a andar na sua velocidade normal. Quando chegar ao primeiro cone (cerca de 1,80 m de distância), contorne-o pelo lado direito. Quando chegar ao segundo (1,80 m após o primeiro), contorne-o pela esquerda. Classificação. Marque a menor categoria que se aplica. (3) Normal. É capaz de contornar os cones com segurança, sem alteração da velocidade da marcha. Não há evidência de desequilíbrio. (2) Comprometimento mínimo. É capaz de contornar ambos os cones, mas precisa diminuir o ritmo da marcha e ajustar os passos para não bater nos cones. (1) Comprometimento moderado. É capaz de contornar os cones sem bater neles, mas precisa diminuir significativamente a velocidade da marcha para realizar a tarefa, ou precisa de dicas verbais. (0) Comprometimento grave. É incapaz de contornar os cones. Bate em um deles ou em ambos, ou precisa ser amparado. 8. Degraus ___ Instruções. Suba estas escadas como você faria em sua casa (ou seja, usando o corrimão, se necessário). Quando chegar ao topo, vire-se e desça. Classificação. Marque a menor categoria que se aplica. (3) Normal. Alterna os pés e não usa o corrimão. (2) Comprometimento mínimo. Alterna os pés, mas precisa usar o corrimão. (1) Comprometimento moderado. Coloca os dois pés em cada degrau. Precisa usar o corrimão. (0) Comprometimento grave. Não consegue realizar a tarefa com segurança. Fonte: Castro, Perracini e Ganança (2006, p. 822-823). 91 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Saiba mais Se quiser saber mais sobre a validação brasileira do Índice de Marcha Dinâmica, leia o artigo: CASTRO, S. M.; PERRACINI, M. R.; GANANÇA, F. F. Dynamic Gait Index: Brazilian version. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, v. 72, n. 6, p. 817-825, 2006. Exemplo de aplicação Caso clínico: uma idosa de 67 anos refere duas quedas no último ano, após episódio de tontura ao levantar da cama, tendo como consequência escoriações leves no joelho e medo de cair. Na Escala de Equilíbrio de Berg, obteve pontuação de 35 pontos; no Índice de Marcha Dinâmica, 17 pontos. Ela apresenta risco de quedas? 6.2.3 Timed Up and Go Test O Timed Up and Go Test quantifica em segundos a mobilidade funcional e o risco de queda por meio de uma tarefa em que, ao comando do fisioterapeuta, a pessoa idosa levanta de uma cadeira com apoio de braço de 46 cm de altura, percorre uma distância de 3 m, volta e senta novamente. Esse trajeto é cronometrado, e deve-se avisar a pessoa idosa que o teste se inicia quando ela tira as costas do encosto da cadeira e termina quando ela senta novamente na cadeira e apoia as costas no encosto. Também é necessário orientá-la a realizar o teste em velocidade habitual, com segurança, podendo usar dispositivos de auxílio à marcha (Alexandre et al., 2012; Cabral, 2011; Perracini; Fló, 2019; Shumway-Cook; Woollacott, 2010). Pessoas idosas que realizam o teste em até 10 segundos são consideradas saudáveis. Entre 11 e 20 segundos é o tempo esperado para as mais frágeis ou com alguma incapacidade. Um valor acima de 20 segundos sugere prejuízo da mobilidade e necessidade de uma investigação mais minuciosa do equilíbrio e da mobilidade. O risco de queda se associa a este teste quando a pessoa idosa realiza o trajeto em mais de 13,5 segundos (Alexandre et al., 2012; Cabral, 2011; Perracini; Fló, 2019; Shumway-Cook; Woollacott, 2010). 92 Unidade II Figura 30 – Timed Up and Go Test Disponível em: https://bit.ly/3y05nE6. Acesso em: 22 jul. 2021. 6.2.4 Teste Clínico para Interação Sensorial no Equilíbrio É importante compreender qual é o sistema sensorial mais afetado na pessoa idosa. É esse o objetivo do Teste Clínico para Interação Sensorial no Equilíbrio, que utiliza um pedaço de espuma de 60 × 60 cm com densidade média, uma venda de olhos e uma lanterna japonesa cortada ao meio. No teste, a pessoa idosa deve sustentar o equilíbrio em pé por 30 segundos em 6 situações sensoriais diferentes, mantendo os pés juntos e as mãos posicionadas próximas ao quadril (Macedo; Gazzola; Ricci, 2015; Shumway-Cook; Woollacott, 2010). Essas situações vão pôr em conflito um ou mais sistemas sensoriais responsáveis pelo equilíbrio (vestibular, somatossensorial ou visual). Na primeira situação, há estímulo adequado de todos os sistemas; na segunda e na terceira, há privação ou conflito no sistema visual; na quarta, há conflito no sistema somatossensorial; na quinta e sexta, há conflito tanto no sistema visual quanto no sistema somatossensorial. Pessoas idosas que apresentam maior deslocamento ou perda de equilíbrio nas situações 2, 3 e 6 são muito dependentes da visão para manter o equilíbrio. Portanto, é interessante trabalhar com elas situações de privação ou conflito no sistema visual durante a fisioterapia. Pessoas idosas com dificuldade nas situações 4, 5 e 6 são muito dependentes de superfícies mais firmes. Assim, durante o treinamento é preciso trabalhar com eles em superfícies instáveis. 93 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Pessoas idosas que apresentam deslocamentos ou grandes desequilíbrios nas situações 5 e 6 têm alterações no sistema vestibular. Desse modo, na terapia vamos trabalhar com a reabilitação específica desse sistema e com a compensação dos demais. Uma versão mais recente propõe a avaliação nas situações 1, 2, 4 e 5 sem as tarefas que utilizam a lanterna (Shumway-Cook;Woollacott, 2010). Figura 31 – Teste Clínico para Interação Sensorial no Equilíbrio Fonte: Shumway-Cook e Woollacott (2010, p. 277). 6.3 Prevenção de quedas: atuação da equipe interdisciplinar A abordagem multifatorial em relação às quedas parece ter um efeito bastante positivo, embora sempre ocorra a associação de exercícios a outras estratégias para obter sucesso. A abordagem médica acontece por adequação medicamentosa, para ajustamento emocional ou comportamental, e por correção de alterações visuais, mediante cirurgias ou indicação de óculos (SBGG, 2008; Ventura; Mendonça; Couto, 2015). 94 Unidade II A abordagem psicológica é de extrema importância quando identificamos pessoas idosas com medo de cair, ansiedade, síndrome do pânico ou depressão, o que lentifica os movimentos e piora a concentração e a participação na reabilitação (Pena et al., 2019; Perracini; Fló, 2019). A abordagem nutricional é eficiente especialmente em casos de desnutrição, fragilidade e obesidade, fatores de risco para quedas. Uma adequação alimentar é possível através da suplementação, que auxilia na melhora do desempenho nas atividades (Shumway-Cook; Woollacott, 2010; Silva; Marucci; Roediger, 2016). A correção de riscos ambientais – como a colocação de corrimão na escada, barras de apoio no banheiro e elevador do vaso sanitário, a retirada de tapetes ou móveis pela casa e a orientação em relação aos calçados adequados – também é algo significativo, porém esse trabalho educacional deve se dar de forma pouco invasiva, sempre respeitando a autonomia da pessoa idosa (Shumway-Cook; Woollacott, 2010; Ventura; Mendonça; Couto, 2015). As estratégias de prevenção ou reabilitação pós-queda sempre incluem o fisioterapeuta, o qual, capacitado em gerontologia, sabe que a pessoa idosa pode e deve ser estimulada quanto a superar limites, a fim de melhorar a sua funcionalidade e diminuir o medo e o risco de cair. As estratégias terapêuticas que estimulam multicomponentes – ou seja, que trabalham diferentes habilidades, como força, mobilidade, equilíbrio semiestático e equilíbrio dinâmico – são mais eficazes em relação às quedas. Portanto, promover estímulos distintos durante a terapia leva a pessoa idosa a criar novas adaptações e um maior número de estratégias antecipatórias e reativas, garantindo um menor risco de quedas (Araújo et al., 2018). Figura 32 – Treino de equilíbrio em superfície instável, promovendo maior mobilidade de quadril e tornozelo Disponível em: https://bit.ly/3izNUMu. Acesso em: 22 jul. 2021. 95 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Treinar força e mobilidade articular de forma específica tem mostrado excelentes resultados em pessoas idosas que apresentam quedas. Isso porque, para que sejam ativadas as estratégias de equilíbrio e haja recuperação de uma instabilidade, faz-se necessária a ação de músculos e articulações, especialmente de membros inferiores e tronco inferior. Podemos, por exemplo, realizar os seguintes procedimentos (Bento et al., 2010; Perracini; Fló, 2019; Shumway-Cook; Woollacott, 2010): • priorizar o fortalecimento do tibial anterior e a mobilidade de dorsiflexão, o que vai contribuir para uma boa estratégia de tornozelo; • trabalhar a força do glúteo médio, o que vai auxiliar na mobilidade do quadril, promover a recuperação do equilíbrio em situações de maior instabilidade e melhorar a força de extensores e flexores de joelho e quadril, facilitando a execução de movimentos simples que exigem equilíbrio, como levantar e sentar em uma cadeira ou ultrapassar um degrau; • estimular a musculatura estabilizadora do tronco inferior, o que vai garantir boa resposta postural durante situações de instabilidade. A base de sustentação em ortostase são os nossos pés. Portanto, é importante pensar em estímulos à mobilidade de tornozelo e à planta dos pés. Para manter boa mobilidade articular do tornozelo, podemos incentivar a pessoa idosa a realizar atividades descalça, estimular a planta do pé com massagem e diferentes texturas, além de trabalhar exercícios que exigem essa mobilidade, como andar apoiado nos calcanhares ou na ponta dos pés. Figura 33 – Realização de marcha com os pés descalços, estimulando a base de sustentação e o sistema sensorial Disponível em: https://bit.ly/3x0LiMC. Acesso em: 22 jul. 2021. 96 Unidade II A mobilidade da cervical também deve ser estimulada, já que sintomas como tontura ocorrem ao movimentar a cabeça, e a pessoa idosa tende a restringir sua mobilidade ou contrair a musculatura de trapézio, escalenos e esternocleidomastóideo em situações de medo de queda ou instabilidade. Estratégias usadas para a região da cervical incluem alongamento, pompage, tração e massagem, que podem ser aplicados ao final da terapia (Perracini; Fló, 2019). Os exercícios aeróbicos devem estar presentes nos programas de prevenção de quedas, pois garantem eficiência ao movimento e aos deslocamentos mais longos. Podemos incluir atividades como: • caminhar, especialmente em terrenos com desnível e ruas próximas à casa do paciente; • subir e descer escadas; • andar de bicicleta, estacionária ou não. Assim, possibilitamos à pessoa idosa vivenciar situações de desafio para reinseri-la na comunidade, além de promover uma melhor capacidade aeróbica, tão importante para a realização de tarefas mais complexas (Bento et al., 2010). Figura 34 – Exercício aeróbico e funcional de subir e descer escadas no modelo de circuito, simulando situações de desafio, inicialmente com apoio no corrimão e depois sem apoio Disponível em: https://bit.ly/3hWtuyb. Acesso em: 22 jul. 2021. Uma das estratégias utilizadas na recuperação do equilíbrio e na diminuição do risco e do medo de novas quedas é a fisioterapia aquática. Diversos estímulos na água provocam a sensibilização dos sistemas responsáveis pelo equilíbrio. Podemos usar a turbulência da água para gerar instabilidade e estimular o sistema visual e vestibular. O empuxo promove diminuição da sobrecarga articular e, portanto, conflito no sistema somatossensorial. As estratégias são amplamente estimuladas, especialmente as de quadril, quando usamos atividades da técnica Halliwick e movimentos rotacionais. Vale ressaltar que dentro da água temos menor risco de quedas (Gabilan et al., 2006; Resende; Rassi; Viana, 2008). 97 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Figura 35 – Fisioterapia aquática: treino de equilíbrio em grupo, estratégias de equilíbrio, diminuição da base de sustentação e simulação de tarefas funcionais que exigem equilíbrio dentro da piscina Fonte: Resende, Rassi e Viana (2008, p. 60). A reabilitação vestibular deve ser usada com pessoas idosas independentemente de terem labirintopatias, já que o sistema vestibular é um dos responsáveis pelo equilíbrio, porém é a terapia de primeira escolha diante de sintomas como tontura ou vertigem. Baseia-se em exercícios específicos e repetitivos com olhos, cabeça e tronco, que visam ativar os mecanismos de neuroplasticidade, tendo por alvo a habituação e compensação vestibular, proporcionando a retomada das atividades diárias. O objetivo dessa abordagem é promover a estabilização do olhar durante a movimentação da cabeça, aumentar a interação vestíbulo-ocular, proporcionar melhor estabilidade estática e dinâmica em situações de conflito sensorial e diminuir a sensibilidade durante a movimentação cefálica. Existem diversos protocolos de reabilitação vestibular, que contêm exercícios como (Mantello et al., 2008; Morozetti; Ganança; Chiari, 2011; Nishino et al., 2005; Shumway-Cook; Woollacott, 2010): • movimentos oculares perseguindo um objeto; • deslocamento do olhar para cima e para baixo, ou de um lado para o outro, sem mexer a cabeça; • movimentos da cabeça, a fim de estimular a mobilidade cervical; • atividades com os olhos abertos e fechados; • rotação de tronco; • marcha associada a movimentos de cabeça, alteração da velocidade e obstáculos. 98 Unidade II Figura 36 – Exemplo de exercício de reabilitaçãovestibular: movimentação dos olhos para o lado esquerdo e para o lado direito, sem movimentar a cabeça. O movimento pode ser realizado com os olhos para baixo e para cima Fonte: Mantello et al. (2008, p. 175). Figura 37 – Exemplo de exercício de reabilitação vestibular: movimentação da cabeça para cima e para baixo. Também podem ser realizados movimentos horizontais da cabeça para a direita e para a esquerda ou inclinação Fonte: Mantello et al. (2008, p. 175). Figura 38 – Exemplo de exercício de reabilitação vestibular: andar em linha reta olhando para cima e para baixo, ou para a direita e para a esquerda Fonte: Mantello et al. (2008, p. 176). 99 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA A prática do tai chi chuan é efetiva na prevenção de quedas em pessoas idosas saudáveis ou sedentárias, pois proporciona a melhora do equilíbrio através da ativação das estratégias antecipatórias e reativas (Bento et al., 2010; SBGG, 2008; Shumway-Cook; Woollacott, 2010). Figura 39 – Posições do tai chi chuan que estimulam a diminuição da base de sustentação e o equilíbrio Disponível em: https://bit.ly/3uBXEts. Acesso em: 2 jun. 2021. A equoterapia, que utiliza o cavalo treinado como instrumento terapêutico, tem demonstrado efeitos positivos em relação ao equilíbrio e à mobilidade de pessoas idosas. O movimento do cavalo é tridimensional e simula a marcha humana, estimulando os deslocamentos anteroposteriores, médio-laterais e sagitais, além dos sistemas sensoriais do equilíbrio. Figura 40 – A equoterapia proporciona a interação entre pessoa idosa e animal, que apresenta movimento similar à marcha humana, promovendo a movimentação especialmente de quadril e tronco Disponível em: https://bit.ly/2TXHZYW. Acesso em: 2 jun. 2021. 100 Unidade II É interessante pôr a pessoa idosa em situações de conflito sensorial que simulem situações de risco de sua rotina. Por exemplo: • Vendar os olhos durante o exercício de sentar e levantar ou durante a marcha pode simular o acordar à noite para ir ao banheiro em um ambiente mais escuro. • Andar com movimentos de cabeça voltados a olhar para a direita ou para a esquerda pode se aproximar da ida ao supermercado. • Subir ou andar em cima de uma espuma ou cama elástica pode simular o caminhar na areia da praia, atividade prazerosa que é possível retomar. Figura 41 – Treino de marcha estacionária em cima de cama elástica, simulando situações de instabilidade Disponível em: https://bit.ly/2UBumiK. Acesso em: 22 jul. 2021. O treinamento do equilíbrio deve estimular múltiplas tarefas, pois durante o dia realizamos tarefas simultâneas, como falar durante a marcha, usar o celular enquanto fazemos outra atividade em casa, e dirigir e cantar uma música que toca no rádio. Portanto, devemos estimular duplas tarefas motoras ou cognitivo-motoras. Por exemplo, realizar a marcha em diferentes velocidades e ultrapassar obstáculos, manter a posição tandem ou semitandem e dizer o nome de cidades que já conheceu ou de bebidas, jogar bola e contar, e andar e fazer cálculos simples. 101 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Figura 42 – Pessoa idosa jogando e pegando a bola, interagindo com a fisioterapeuta, inicialmente contando até dez e depois dizendo o nome de cidades que já conheceu a cada vez que joga a bola Pensando na recuperação de uma instabilidade, podemos instituir no treinamento situações que estimulem estratégias de tornozelo e quadril, diminuindo a base de sustentação. Pedimos à pessoa idosa promover deslocamentos que favoreçam o alcance funcional e trabalhar a estratégia de passo, o que poderá ser eficiente para evitar a queda. É possível treinar essa última estratégia com passo para a frente, passo para trás, passo para o lado e passo cruzado, e associá-la à música e à privação de sentidos, como a visão. Figura 43 – Apoio alternado do pé no degrau, promovendo momentos de apoio unipodal e deslocamentos Disponível em: https://bit.ly/3zqI7zC. Acesso em: 22 jul. 2021. 102 Unidade II Figura 44 – Apoio unipodal, iniciando com toque leve das mãos numa superfície firme e aos poucos desencostando-as para diminuir a base de sustentação e promover maior instabilidade Por fim, podemos incluir nos programas de prevenção ou reabilitação pós-queda a realidade virtual não imersiva, que inclui videogames, sendo possível interagir com o ambiente ao redor, e a realidade virtual imersiva, em que se utilizam óculos específicos, e a pessoa idosa tem interação completa e intensa com o ambiente virtual. Essas realidades proporcionam cenários desafiadores, como passeios no fundo do mar, na floresta ou na montanha-russa, promovendo diferentes estímulos visuais e auditivos, que estimulam os movimentos sacádicos dos olhos e os movimentos da cabeça e do tronco de forma divertida; melhorando a velocidade da marcha, o equilíbrio dinâmico e o controle postural estático em superfície estável e com os olhos fechados; aumentando os limites de estabilidade; diminuindo o medo de cair; e contribuindo para a adesão à terapia (Kamińska et al., 2018; Phu et al., 2019; Sápi et al., 2019). Figura 45 – Uso da realidade virtual, que através da interação com a tela estimula movimentos oculares, da cabeça e do tronco, promovendo as estratégias de equilíbrio Disponível em: https://bit.ly/3oZoA5k. Acesso em: 2 jun. 2021. 103 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA O importante em relação aos exercícios é que apresentem progressão para atingir o melhor potencial da pessoa idosa mas respeitando sua individualidade. Para quem utiliza dispositivos de auxílio à marcha, como bengala, andar ou manter-se em pé por certo tempo, com a base normal, sem apoio das mãos, pode ser desafiador, enquanto para outros o desafio será a posição tandem, o apoio unipodal ou ainda a permanência em cima de uma cama elástica. Esses desafios nunca devem se associar à idade ou à modalidade em que a pessoa idosa está inserida. Dependerão antes da interpretação da avaliação, que deve ser minuciosa (Shumway-Cook; Woollacott, 2010). O sucesso da prevenção ou reabilitação pós-queda é resultado de uma boa avaliação, que possibilite a identificação dos sistemas acometidos e das situações de risco; uma abordagem com diferentes estímulos de exercícios e manipulações; a atuação de uma equipe interdisciplinar; e estratégias educativas voltadas para as quedas. 7 CUIDADOS PALIATIVOS Segundo a OMS, cuidados paliativos são uma abordagem que, através da prevenção e do alívio de sofrimento, promove a qualidade de vida de pacientes com doenças que ameaçam a continuidade da vida. Requer identificação precoce, bem como avaliação e tratamento da dor e de outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual (Gomes; Othero, 2016). Por que pensar nesses cuidados? Porque muitas doenças do envelhecimento são progressivas e sem possibilidade de tratamento modificador, como doença de Alzheimer, doença de Parkinson e câncer. Algumas intervenções causam mais sofrimento do que benefício, tornando a vida mais longa, repleta de desconfortos e procedimentos invasivos e dolorosos (Gomes; Othero, 2016). É importante pensar em abordagens de cuidado em que conhecimento técnico da melhor qualidade é selecionado para a pessoa idosa, porém levando-se em conta a necessidade individual do paciente. É frequente a retirada da autonomia de pessoas idosas diante da decisão de intervenções terapêuticas, mas aqui cabe a reflexão: elas não são mais crianças; já passaram por experiências anteriores; com um bom esclarecimento dos profissionais de saúde, podem escolher o que é melhor para a sua vida. 7.1 Princípios dos cuidados paliativos Os cuidados paliativos devem ser de conhecimento de toda a equipe interdisciplinar. Apresentamos a seguir alguns de seus princípios. Promover o alívio da dor e de outros sintomas desagradáveis A dor é um sintoma muito desagradável, que interfere nos aspectos físicos, funcionais e emocionais da pessoa idosa. Sabemos que afeta a vida social,o humor, os relacionamentos, o apetite, o sono e o bem-estar. Portanto, é um sintoma que deve constantemente ser avaliado, e intervenções terapêuticas medicamentosas e não farmacológicas devem ser implementadas o mais rápido possível. 104 Unidade II O fisioterapeuta tem um arsenal de estratégias para promover a analgesia, como terapias manuais, eletroestimulação, acupuntura, crioterapia, termoterapia e hidroterapia. Assim, é um dos membros da equipe que pode promover alívio do sofrimento e melhora da qualidade de vida de pessoas idosas sob seus cuidados. Afirmar a vida e considerar a morte um processo natural É preciso entender que, como profissionais da saúde, não somos deuses, capazes de tornar a pessoa idosa imortal. A morte é uma certeza, e ninguém sabe quando ela chegará. Logo, o mais importante é enfatizar com pessoas idosas em cuidados paliativos a valorização da vida a cada dia. O presente é o que temos nas mãos. As medidas de prolongamento da vida podem ser utilizadas desde que não interfiram no bem-estar e na autonomia. O fisioterapeuta pode auxiliar nesse princípio valorizando cada ganho físico, funcional ou emocional, compartilhando os ganhos terapêuticos. Sabemos que movimento é vida. Assim, a fisioterapia pode resgatar a alegria de viver da pessoa idosa, ao lhe permitir voltar a andar sozinha (mesmo que com um dispositivo de auxílio à marcha), ao amenizar a sua dor ou ao diminuir o medo de realizar atividades. Não acelerar nem adiar a morte Em cuidados paliativos, não se realiza eutanásia. Antes, discute-se com toda a equipe a necessidade ou não de intervenções invasivas, e muitas vezes dolorosas, que não estão de acordo com o desejo do paciente. O mais importante é ter um acompanhamento prévio para entender quais são os desejos e as limitações do paciente. Isso demanda tempo da equipe e uma abordagem interdisciplinar (Carvalho; Parsons, 2012). Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente Quando a pessoa idosa ou sua família se deparam com uma doença que ameaça a continuidade da vida, vêm à tona muitos pensamentos e emoções relacionados à vida e à morte; surgem angústias, arrependimentos e medo do que está por vir. É nesse momento que a ajuda psicológica e espiritual de profissionais especialistas na área faz-se tão necessária (Freitas; Py, 2006). Oferecer um sistema de suporte que possibilite à pessoa idosa viver tão ativamente quanto possível até a morte Esse é um princípio com o qual o fisioterapeuta tem muito a contribuir. Hoje a capacidade funcional tornou-se mais importante do que a doença em si. Se a pessoa idosa está bem funcionalmente, ela pode realizar tudo o que quiser. Com isso em mente, podemos usar diferentes estratégias com a equipe para manter e/ou melhorar a força, o equilíbrio, a marcha e a capacidade funcional da pessoa idosa. Oferecer um sistema de suporte para a família durante a doença e no momento do luto O fisioterapeuta é um dos profissionais mais presentes no processo de cuidados paliativos. Portanto, conhecemos a família e as pessoas queridas que vão nos indagar sobre o quadro do paciente, as 105 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA evoluções e as abordagens que realizamos. Temos sucesso nessa área quando somos atentos a cada detalhe e humanos a ponto de entender a dor do outro e saber acolher. Recorrer a uma abordagem em equipe interdisciplinar O trabalho em equipe interdisciplinar é essencial em gerontologia, especialmente em cuidados paliativos, onde existe uma necessidade de diferentes olhares para a pessoa idosa, a fim de reduzir ao máximo os seus diferentes sofrimentos, sejam eles físicos, funcionais, emocionais, sociais ou espirituais. Trabalhar em equipe é sempre um desafio, pois escancaramos nossa atuação profissional e colocamos à prova nossas vaidades. Por outro lado, é rico e gratificante perceber que o paciente tem todas as necessidades atendidas e que temos um limite como profissionais. Em cuidados paliativos, a abordagem em equipe promove a discussão de casos, muita aprendizagem e as melhores tomadas de decisão. Melhorar a qualidade de vida Vale sempre lembrar que a pessoa idosa é um ser biográfico – ou seja, tem uma história de vida – e que deve ser respeitada em relação às suas decisões e desejos. É muito fácil atendê-la, pois descobrimos rapidamente suas aptidões, desejos e preferências, uma vez que gosta de conversar. Se soubermos ouvir, será fácil trabalhar de forma humana e individualizada. Não existe uma “receita de bolo” da fisioterapia para melhorar a qualidade de vida; ela é pessoal e muda de indivíduo para indivíduo. Para algumas pessoas idosas, ter qualidade de vida é estar perto dos filhos e netos. Para outros, é ser independente. Para outras, é viajar pelo mundo. Para outras, ainda, é simplesmente não ter dor. Entender o paciente idoso e o que ele considera qualidade de vida fará da sua abordagem a melhor para ele. Começar o mais precocemente possível, junto a outras medidas de prolongamento da vida Existe um preconceito em relação aos cuidados paliativos, e por isso eles demoram a acontecer, causando sofrimento desnecessário à pessoa idosa. Quanto antes forem iniciados, melhor, pois teremos a possibilidade de avaliar e entender as necessidades e decisões da pessoa idosa quando a sua cognição ainda está preservada e ela pode fazer escolhas mais assertivas, de acordo com a sua vontade. Além disso, muitos tratamentos apresentam excelente prognóstico quando iniciados precocemente. Hoje se entende mais claramente que cuidados paliativos envolvem fazer tudo o que for necessário para promover alívio do sofrimento. Nenhum procedimento é descartado. As decisões são tomadas em conjunto, entre profissionais de saúde, pessoa idosa e familiares ou pessoas que ela queira que participem do processo. 106 Unidade II 7.2 O fisioterapeuta na equipe de cuidados paliativos O fisioterapeuta tem um papel significativo na equipe de cuidados paliativos, pois se aproxima da pessoa idosa de forma intensa, com seu toque terapêutico, que é uma bela forma de comunicação não verbal, muitas vezes acalentadora, acolhedora, que oferece segurança e diminui a sensação de abandono e angústia causada pela doença. Figura 46 – Massagem terapêutica para promover alívio da dor, comunicação não verbal, proximidade, cuidado e acolhimento Disponível em: https://bit.ly/3kI5qAP. Acesso em: 22 jul. 2021. Ser fisioterapeuta em cuidados paliativos significa poder promover o alívio do sofrimento através de abordagens analgésicas e manter a pessoa idosa o mais ativamente possível por meio do estímulo ao movimento. Começamos com uma avaliação gerontológica, tendo como ponto de partida a queixa principal, que deve ser levada em conta assim como o que ele deseja conquistar com a fisioterapia. Com a avaliação, chegamos a um diagnóstico cinético-funcional e traçamos um tratamento específico, individual e humano, respeitando as vontades da pessoa idosa e fazendo reavaliações diárias. É importante atentar para qualquer mudança no cenário funcional dela e comunicar as informações para a equipe. Podemos realizar abordagens de conforto e alívio de sofrimento com terapias como estas (Reis Júnior, 2007; Ventura; Mendonça; Couto, 2015): • eletroestimulação transcutânea; • massagem terapêutica; • termoterapia; • crioterapia; • hidroterapia; • pompage; • ensino de posicionamento adequado. 107 FISIOTERAPIA GERIÁTRICA E GERONTOLÓGICA Além disso, podemos ensinar exercícios respiratórios e tosse assistida para melhorar a capacidade respiratória da pessoa idosa, diminuindo o risco de complicações e a necessidade de um procedimento invasivo, como a aspiração ou ventilação mecânica. Podemos ainda ensinar diferentes formas de a pessoa idosa se movimentar e se manter ativa, mediante mobilizações, treinos de força, equilíbrio e marcha, e a indicação de dispositivos de auxílio à marcha, caso sejam necessários. O fisioterapeuta pode interferir muito positivamente
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