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Obstetrícia veterinária RECONHECIMENTO MATERNO O período pré-implantação depende de uma série de interações materno-fetais, que levam ao reconhecimento materno e manutenção da gestação. O embrião, em início de desenvolvimento, sintetiza uma grande quantidade de substâncias e, entre elas, estão: citocinas (interferonas, interleucinas, fatores estimulantes de macrófagos, fator de necrose tumoral etc.), enzimas (proteases), prostaglandinas (PGF, PGE), hormônios (hormônio liberador de corticotrofinas, estrógenos) e outros fatores ainda não determinados. O momento em que acontece o reconhecimento materno da gestação varia entre as diferentes espécies. Reconhecimento materno da gestação em ruminantes O reconhecimento materno da gestação ocorre ao redor do 12° ao 13° dia de gestação na ovelha e do 14° ao 16° dia na vaca. A substância que está mais diretamente envolvida na sinalização da gestação é uma proteína secretada pelo trofoblasto, a trofoblastina, identificada como um tipo pouco usual de interferon do tipo I, a interferona τ (IFNτ), que é uma citocina que possui propriedades antivirais, antiproliferativas e imunomodulatórias. A IFNτ é liberada em grandes quantidades pelas células do trofectoderma quando o blastocisto começa a se alongar. O embrião ovino secreta IFNτ entre o 10° e o 25° dia, com pico de secreção entre os dias 14 e 16 da gestação. No bovino, a secreção ocorre entre o 12° e o 26° dia, com pico entre os dias 15 e 16. A a IFNτ atua diminuindo a secreção de PGFα pelo útero, evitando a luteólise. Reconhecimento materno da gestação em suínos Na porca são necessários, no mínimo, 4 embriões para que ocorra a inibição do efeito luteolítico do útero. A função da IFNG e da IGND não é conhecida, mas sabe-se que em suínos o fator produzido pelo embrião envolvido com o reconhecimento materno da gestação é o estrógeno, que deve ser produzido entre os dias 11 e 15 de gestação. Reconhecimento materno da gestação em equinos A égua é uma das poucas espécies domésticas em que o produto produzido pelo embrião responsável pelo reconhecimento materno da gestação ainda não é conhecido. O embrião de equino produz uma enorme quantidade de estrógeno, que pode auxiliar na mudança de secreção de PGFα pelo útero. RECONHECIMENTO IMUNOLÓGICO Apesar do fato de o útero responder a infecções causadas por bactérias e produzir anticorpos contra transplantes de antígenos fetais, além de serem detectados, no soro da mãe, antígenos Obstetrícia veterinária específicos contra o embrião, o componente “estranho”, que é o feto, normalmente não é alvo da ação citotóxica de linfócitos T. Durante a gestação é criado um ambiente intrauterino no qual os tecidos maternos e o trofoblasto secretam moléculas inibidoras da replicação de linfócitos ou inibidoras da atividade celular para reduzir a reatividade imunológica (substâncias anti-linfócitos). O feto pode ser comparado a um parasita que se adaptou às condições uterinas. O interferon T inibe a resposta imunológica contra o feto. IMPLANTAÇÃO Após a eclosão do blastocisto, algumas modificações começam a acontecer no útero e no embrião, resultando na implantação, que é o contato físico após a dissolução da zona pelúcida, entre o trofoblasto e o endométrio. O embrião jovem é protegido do ataque de leucócitos pela zona pelúcida e esta possui como função atribuída a prevenção da adesão do embrião ao epitélio do oviduto. A implantação do embrião inicia-se nos bovinos ao redor de 11 dias e termina perto dos 40 dias de gestação, nos ovinos entre 10 e 20 dias de gestação e, nos equinos, 30 a 35 dias após a fecundação. PLACENTAÇÃO Após a implantação inicia-se, então, a placentação (justaposição das vilosidades do córion fetal, denominada porção fetal da placenta, com as criptas da mucosa uterina). A placenta é um órgão intermediário entre a mãe e o feto que serve para suprimento de oxigênio e nutrientes, remoção de detritos metabólicos, produção e secreção de hormônios e fatores de crescimento fetal e regulação do ambiente uterino do feto. TIPOS DE PLACENTA Decídua Obstetrícia veterinária No momento do parto ocorre descolamento placentário da parede do útero, com desprendimento e hemorragia da mucosa uterina, sendo os anexos fetais eliminados juntamente com o feto. ↳Carnívoros, primatas e roedores. Adecídua O descolamento do epitélio coriônico ocorre sem perdas de porções da mucosa uterina e sem hemorragia, permanecendo a placenta retida no interior do útero, por um curto período. ↳ Égua, ruminantes, porca e jumenta. CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DA PLACENTA O número de camadas dos componentes teciduais maternos varia com as espécies. Epiteliocorial Possui 3 camadas, onde o córion está encostado no epitélio. Não há lesão. ↳ Égua, jumenta, porca e ruminantes. Endoteliocorial O epitélio uterino e o tecido conjuntivo estão ausentes e apenas o endotélio separa o sangue materno do tecido fetal. Há degradação do epitélio e do tecido conjuntivo. ↳Cadela e gata. Hemocorial Todas as três camadas estão ausentes, deixando o trofoblasto livremente exposto ao sangue materno (não há paredes fetais). ↳ Primatas e roedores. CLASSIFICAÇÃO ANATÔMICA DA PLACENTA Difusa A maior parte do saco coriônico está uniformemente unida ao endométrio por pregas ou vilos (porca, égua). Os vilos se interdigitam com depressões correspondentes no epitélio uterino e as trocas fisiológicas acontecem através de toda esta superfície. Cotiledonária Tufos isolados de vilos coriônicos ramificados, os cotilédones, unem-se a proeminências endometriais ovais aglandulares pré-formadas, as carúnculas (há fixação em regiões específicas). As estruturas materna e fetal combinam-se para formar os placentomas (ruminantes), que são os únicos pontos de troca materno-fetal neste tipo de placenta. Obstetrícia veterinária Zonária Os vilos coriônicos ocupam uma faixa, semelhante a uma cinta, ao redor do equador do saco coriônico, onde se unem ao endométrio (carnívoros). O cório penetra no epitélio uterino e mantém uma relação muito próxima com os capilares maternos. Discoidal Uma área do cório com formato de disco se une ao estroma endometrial (primatas). Neste caso ocorre erosão total do tecido materno e a parte fetal da placenta fica em contato direto com o sangue materno. DIAGNÓSTICO GESTACIONAL É baseado no dia da cobertura, porém, nem sempre há o acompanhamento da gestação. Ele vai se basear em: tamanho embrionário e fetal e características do útero de cada espécie. Égua - Após 60 dias: o embrião (concepto) ocupa toda a extensão uterina. - Em 100 dias: há o aumento da quantidade de líquido do alantóide. - Há distensão do ligamento útero-ovariano deslocando os ovários para a linha central. - A partir dos 8 meses o feto assume apresentação longitudinal ventral e pode ser palpado. DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO EM ÉGUAS - 9 a 13 dias: pequena vesícula embrionária presente com pouca quantidade de líquido. - 14 a 20 dias: vesícula embrionária esférica e embrião ainda não visível. => a fixação ocorre com 17 dias. Obstetrícia veterinária - 21 a 40 dias: embrião visualizado no interior da vesícula, sendo possível avaliar viabilidade fetal aos 25 dias. - 41 a 60 dias: movimento fetal evidente e presença nítida de cordão umbilical. - Após 60 dias: é possível fazer a avaliação de possíveis anormalidades. DIAGNÓSTICO GESTACIONAL EM VACAS Não ocorre o aumento de volume uterino nos primeiros dias de gestação. => Em novilhas é possível perceber um pequeno aumento da curvatura maior do útero. - A partir da 6ª semana: técnica do beliscamento. O saco alantoideano ocupa grande parte do útero. - Terço inicial: útero gravídico na cavidade pélvica (90 dias). => técnica do beliscamento e balotamento. - Terço médio: útero gravídico na cavidade abdominal. => o feto não é palpável (4º, 5º e 6º mês). - Terço final: útero gravídico na cavidade abdominal. => ofeto retorna para a cavidade pélvica. DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO EM VACAS - 10 a 20 dias: Início da formação líquida no útero. => ocorre durante o estro e em condições patológicas. - 21 a 24 dias: O líquido aumenta tornando possível a visualização por ultrassom. - 25 a 30 dias: É possível observar o aumento do acúmulo de líquido e a visualização do embrião. => possível avaliar bpm. - 31 a 40 dias: o feto é visível. => há formação de placentomas como pequenas protuberâncias. - 41 a 90 dias: avaliação dos órgãos de placentomas. DIAGNÓSTICO GESTACIONAL EM PEQUENOS RUMINANTES O método tradicional é observar se a fêmea não retornou ao cio. - Palpação abdominal; - Detector de batimentos cardíacos; - Ultrassonografia abdominal externa; - Ultrassonografia transretal. DIAGNÓSTICO GESTACIONAL EM SUÍNOS => O retorno ao cio é indicativo de que a fêmea não está gestante. Nesse caso é importante considerar patologias. - Palpação retal: impossível ser feita em marrãs. - Ultrassonografia abdominal. DIAGNÓSTICO GESTACIONAL EM CADELAS E GATAS Mudanças físicas na cadela: ocorrem a partir da 5ª semana de gestação: - Aumento de peso e distensão abdominal. => exceto em cadelas grandes com um número reduzido de fetos. Obstetrícia veterinária Na gata o diagnóstico é feito em 16 dias de gestação. => Palpação abdominal: de 24 a 30 dias, onde é possível palpar estrutura semelhante a cordão de contas (pérolas). Até 33 dias de gestação a vesícula embrionária possui forma esférica. - 14 a 21 dias: aumento uterino e visualização de saco vitelínico (2 a 3 mm). - 22 a 23 dias: evidente tecido embrionário. => Imagem ecogênica (cinza) e o polo fetal com aspecto hiperecogênico. É possível avaliar a viabilidade fetal (bpm). - Após 45 dias de gestação: incremento do crescimento fetal. - 47 a 53 dias: completa mineralização dos ossos e articulações. - Após 55 dias: útero ocupa grande parte do abdômen. - 58 a 63 dias: avaliação de patologias congênitas e acompanhamento gestacional para possível intervenção ao parto.
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