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1 PRESTAÇÃO DE CONTAS PELO GESTOR PÚBLICO JOSBERTINI VIRGINIO CLEMENTINO RealizaçãoApoio TCE Educação e Cidadania Controle social das contas públicas MÓDULO 7 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidente Luciana Dummar Diretor Administrativo-Financeiro André Avelino de Azevedo Gerente-Geral Marcos Tardin Gerente Editorial Lia Leite Gerente de Marketing e Design Andrea Araujo Gerente de Audiovisual Chico Marinho Gerente de Criação de Projetos Raymundo Netto Analistas de Projetos Aurelino Freitas e Fabrícia Góis Analista de Contas Narcez Bessa UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerente Educacional Deglaucy Jorge Coordenadora Pedagógica Jôsy Braga Cavalcante Coordenadora de Cursos e Secretária Escolar Marisa Ferreira Desenvolvedora Front-End Isabela Marques TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO CEARÁ (TCE) Presidente José Valdomiro Távora de Castro Júnior Vice-Presidente Edilberto Carlos Pontes Lima Corregedora Patrícia Lúcia Mendes Saboya Ouvidor Ernesto Saboia de Figueiredo Júnior Conselheiros Luís Alexandre Albuquerque Figueiredo de Paula Pessoa Soraia Thomaz Dias Victor Rholden Botelho de Queiroz Conselheiros Substitutos Itacir Todero Paulo César de Souza David Santos Matos Fernando Antônio Costa Lima Uchôa Júnior Manassés Pedrosa Cavalcante Ministério Público junto ao TCE/CE Procurador-Geral de Contas Leilyanne Brandão Feitosa Procuradores de Contas Gleydson Antônio Pinheiro Alexandre Eduardo de Sousa Lemos José Aécio Vasconcelos Filho Júlio César Rola Saraiva Cláudia Patrícia Rodrigues Alves Cristino Diretor-presidente do Instituto Plácido Castelo Ernesto Saboia de Figueiredo Júnior Diretor Geral do Instituto Plácido Castelo Luis Eduardo de Menezes Lima TCE - Educação e Cidadania Concepção e Coordenador Geral Cliff Villar Coordenadora de Operações Vanessa Fugi Coordenadora de Projetos e Relacionamento Larissa Viegas Coordenador de Conteúdo Daniel Oiticica Coordenadora Editorial Lia Leite Revisora May Freitas Projeto Gráfico e Editora de Design Andrea Araujo Designer Gráfico Welton Travassos Ilustrador Carlus Campos Analista de Marketing Henri Dias Analista de Projetos Hérica Paula Morais Social Media Letícia Frota T249 TCE Educação e Cidadania / vários autores ; ilustrado por Carlus Campos. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2023. 372 p. : il. ; 1080px x 1920px. – (TCE Educação e Cidadania ; 10 v.) Inclui índice e bibliografia. ISBN: 978-65-5383-088-2 1. Administração pública. 2. Prestação de contas. 3. Orçamento público. I. Campos, Carlus. II. Título. III. Série. CDD 350 2023-2807 CDU 35 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 Índice para catálogo sistemático: 1. Administração pública 350 2. Administração pública 35 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................6 2 O PAPEL E A RELEVÂNCIA DO GESTOR PÚBLICO NO BRASIL .............................................. 8 3 O PANORAMA DE ATUAÇÃO E AS MÚLTIPLAS HABILIDIDADES E ATIVIDADES DE UM GESTOR PÚBLICO DE EXCELÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE ..............................19 4 GESTOR PÚBLICO E PRESTAÇÃO DE CONTAS: COMPROMISSOS E RESPONSABILIDADES ........................................ 27 5 VISÃO GERAL DO CÓDICO DE ÉTICA DO GESTOR PÚBLICO ................................................. 37 PERFIL DO AUTOR .....................................................42 BIBLIOGRAFIA ..............................................................43 GLOSSÁRIO ...................................................................48 6 1. INTRODUÇÃO No cenário complexo e dinâmico da administração pública, a prestação de contas desempenha um papel fundamental na promoção da transparência, da responsabilidade e da confiança entre os governantes e os cidadãos. À medida que os serviços públicos afetam diretamente a vida dos cidadãos, surge a necessidade de os gestores públicos demonstrarem a aplicação adequada dos recursos, a eficiência na gestão e a conformidade com as normas e regulamentações. 7 Neste módulo “Prestação de Contas pelo Gestor Público”, você vai aprender sobre as práticas, a relevância e as implicações da prestação de contas no contexto do gestor público. Além de explorar alguns aspectos essenciais da prestação de contas, você vai entender a importância, o papel e o perfil de um gestor público de excelência. Você também vai aprender sobre as atribuições fundamentais dos gestores públicos na formulação, implementação e supervisão de políticas, programas e serviços que impactam diretamente a vida dos cidadãos, além de sua necessidade permanente e contínua de capacitação e atualização. Você vai conhecer o panorama da atuação do gestor público no Brasil. Você também vai entender quais são algumas das habilidades inerentes ao gestor público, e as atividades por eles desempenhadas na promoção da eficiência na alocação de recursos, liderança de equipes, adoção de práticas modernas e eficientes de gestão e garantia da prestação de serviços e de contas. Ao longo deste módulo, você vai conhecer as responsabilidades e compromissos do gestor público na prestação de contas, examinando um conjunto de ações para prestações de contas, além de uma visão geral do código de ética do gestor público. Que essa jornada seja enriquecedora rumo ao aprimoramento da gestão pública e à construção de uma relação sólida e confiável entre os gestores e a sociedade que eles servem. Boa leitura! 8 2. O PAPEL E A RELEVÂNCIA DO GESTOR PÚBLICO NO BRASIL Conceituações e evolução das abordagens da gestão pública Antes de você aprender sobre o conceito de gestor público é importante conhecer o que é gestão pública. A expressão “gestão” tem origem no termo latino gestio, que deriva do verbo gerere, que significa executar, realizar ou administrar. Ao longo da história, o termo “gestão” evoluiu e passou a ser utilizado para descrever o ato de administrar, dirigir ou gerir recursos, pessoas, atividades ou processos para alcançar determinados objetivos ou resultados. Já a palavra “pública” tem origem no termo latino publicus, que se refere ao conceito de público ou pertencente ao povo. 9 PARA ENTENDER MELHOR Gestão Pública A Gestão Pública é um campo de estudo e prática que envolve uma série de atividades relacionadas à administração de recursos, tomada de decisões, planejamento estratégico, implementação de políticas públicas, monitoramento de resultados e avaliação de desempenho, entre outras ações. Elas garantem o bom funcionamento das instituições governamentais e a prestação eficiente de serviços públicos à sociedade. A gestão pública está intrinsecamente relacionada à promoção da ética, da transparência e da responsabilidade no uso dos recursos públicos. Lida também com questões específicas e desafios próprios do setor público. Quais são essas questões? A complexidade das estruturas governamentais, a necessidade de atender ao interesse público, a prestação de serviços essenciais à população e a gestão de recursos públicos limitados. Com o constante avanço das demandas sociais, políticas e econômicas, a gestão pública se tornou uma área dinâmica e adaptativa. Busca, constantemente, soluções inovadoras para enfrentar os desafios presentes e futuros. Essa busca pela excelência na prestação de serviços públicos é essencial para fortalecer a democracia e promover o desenvolvimento sustentável do país. 10 DEFINIÇÕES Gestão Pública Para Max Weber, sociólogo e economista alemão, a gestão pública deve ser organizada de forma racional, com regras claras, hierarquias bem definidas e uma divisão clara de responsabilidades. A professora de políticas da Universidade de Brasília (UNB), Maria das Graças Rua, percebe a gestão pública como a capacidade de articular, planejar e implementar políticas e programas governamentais demaneira eficiente e eficaz para alcançar o desenvolvimento social e econômico. Já Terry L. Cooper, professor de administração pública e membro da Academia Nacional de Administração Pública dos Estados Unidos, destaca que na gestão pública as decisões devem ser tomadas com integridade, transparência e responsabilidade, buscando sempre o interesse público. Ao longo do tempo, houve uma mudança significativa na abordagem conceitual e prática da gestão governamental. No início do século XX, havia uma forte cultura de gestão marcada por uma atuação oligárquica e patrimonialista. As decisões estavam concentradas em uma elite formada por juristas, letrados e militares. Em grande parte, seu poder e renda derivavam diretamente do Estado. Eles agiam mais em benefício próprio do que em benefício da sociedade em geral. Havia um predomínio de se governar para poucos e a ideia de que “uma função fundamental do Estado era 11 garantir empregos para a classe média pobre, ligada por laços de família ou de agregação aos proprietários rurais” (BRESSER-PEREIRA, 1998, p. 5). Neste período, ganha força em muitos países o conceito do Estado de bem-estar social. O que significa? Passou a ser reconhecida a importância da intervenção governamental na economia para assegurar a produção de bens e serviços e combater as desigualdades sociais. Essa nova concepção econômica, política e social do Estado foi associada a um modo de governança pública hierárquico. Nele, o governo e a administração pública eram organizados de forma legal e hierárquica, muito característico do modelo burocrático. O modelo burocrático foi desenvolvido com o objetivo de superar as práticas patrimonialistas que marcaram a gestão do setor público anteriormente, como o clientelismo, o casuísmo, o paternalismo e o favoritismo. Esse modelo tradicional burocrático pressupõe uma rígida separação entre os setores público e privado do Estado. O setor público passa a ser responsável principalmente pela oferta de serviços públicos. Além disso, há uma clara distinção entre o governo, que é responsável pelas decisões políticas, e a administração pública, que é responsável pela implementação técnica dessas decisões (MARINI, 1971). À medida que o cenário político, econômico e social evoluiu, novas abordagens de governança pública foram surgindo. Elas buscaram superar as limitações do modelo burocrático e se adaptar aos desafios contemporâneos. Abordagens mais colaborativas e baseadas em redes de cooperação têm sido adotadas, em busca de maior flexibilidade e eficiência na prestação de serviços públicos e na resolução de problemas sociais. 12 Surge então o modelo gerencial. Ele nasce como uma resposta às limitações e ineficiências do modelo burocrático tradicional de administração pública. Buscou superar os problemas associados à prestação exclusiva de serviços públicos pelo setor público, tais como ineficiência, formalismo, rigidez, baixa responsividade e pouca geração de valor público. Essa abordagem foi influenciada por conceitos oriundos do setor privado. Ela enfatiza a importância da eficiência, da produtividade e do enfoque em resultados. Busca incorporar instrumentos gerenciais que foram bem-sucedidos no contexto empresarial, como a avaliação de desempenho, a gestão por resultados, a ênfase na qualidade e a busca por inovação. No final do século XX, com objetivo de aprimorar o desempenho e a legitimidade governamental, surge um novo modelo intitulado “Nova Governança Pública”. Ele pode ser compreendido como um conjunto de mecanismos e práticas que visam promover a interação e a colaboração de diversos atores, incluindo o governo, organizações da sociedade civil, setor privado, academia 13 e cidadãos. Busca encontrar soluções coletivas para os problemas que não podem ser resolvidos por uma única entidade ou setor isoladamente (TORFING, 2016). Qual é a realidade de hoje? A governança pública contemporânea apresenta características híbridas que combinam diferentes modos de coordenação social, transcendendo as fronteiras tradicionais entre o governo, o mercado e o terceiro setor. Essa abordagem híbrida visa aprimorar a eficácia e a eficiência na resolução dos problemas públicos, abrangendo múltiplas jurisdições e reconhecendo a importância de múltiplas partes interessadas. A chamada Nova Governança Pública reconhece que é possível gerar valor público não apenas dentro do setor público, mas também por meio da colaboração com o setor social e empresarial. Isso abre espaço para a realização de parcerias e contratos com organizações da sociedade civil e empresas privadas na prestação de serviços públicos. Mas, atenção, desde que respeitando critérios de transparência, responsabilidade e equidade. 14 ENTENDENDO A DIFERENÇA Eficaz e Eficiente Eficaz é o que cumpre perfeitamente determinada tarefa ou função, atingindo o objetivo proposto. A eficácia está diretamente ligada ao resultado. Eficiente é o que executa uma tarefa com qualidade, competência, excelência, com nenhum ou com o mínimo de erros. A eficiência está ligada ao modo de fazer uma tarefa. O eficaz faz o que é certo para atingir o objetivo inicialmente planejado. O eficiente faz com qualidade, mas nem sempre atinge um objetivo. EM RESUMO Modelos de Gestão pública Burocrático Gerencial Nova Governança Pública Orientação para o cumprimento da lei a satisfação do cliente do serviço público o cidadão Meta conformidade legal estrita Desempenho (eficiência) Desempenho + conformidade Perspectiva setor público setor privado Estado (setor público, privado e social) Controle hierárquico (legal) mercado (competitivo) rede (político) Lógica competência legal recursos escassos Colaboração Fonte: adaptado a partir de BOVAIRD e LOFFLER (2009, p. 21). 15 Gestor público: papel e definições a partir de diferentes enfoques O conceito de gestor público no Brasil se refere a profissionais que atuam na administração e gestão de órgãos e entidades do setor público, sejam eles de âmbito federal, estadual ou municipal. Esses gestores são responsáveis por planejar, organizar, dirigir e controlar as atividades de uma organização pública, bem como liderar equipes e tomar decisões estratégicas. Devem atuar com transparência, visando obter uma performance de excelência das ações governamentais e na prestação de serviços à população. É missão de um gestor nessa esfera ter uma visão sistêmica da administração pública e ser capaz de identificar e resolver problemas complexos. É importante que esteja num processo contínuo de formação, capacitação e atualização das novas tendências da administração pública e áreas afins. ENTENDENDO A DIFERENÇA Visão holística e Visão sistêmica A visão sistêmica, que ganhou força no último século, visa observar a interação das partes com o todo, enquanto na visão holística o foco é a observação do sistema como um todo. 16 O gestor público desempenha um papel fundamental no funcionamento do Estado brasileiro e na busca por uma gestão pública mais eficiente, ética e voltada para o interesse coletivo. Sua atuação impacta diretamente a vida dos cidadãos, contribuindo para o progresso do país, estados e municípios. Essa consciência por parte dos gestores de serem agentes estratégicos do processo de desenvolvimento é crucial para que as políticas públicas tenham relevância e efetividade. Os gestores públicos precisam buscar atuar no direcionamento da atividade e dos serviços públicos rumo à efetividade do bem comum, imparcialidade, neutralidade, transparência, participação e aproximação dos serviços públicos da população, eficácia, desburocratização e busca da qualidade. Neste sentido, o gestor público tem o papel de liderar sua equipe, exigindo eficiência e eficácia na prestação de serviços, agregando novos valores à administração pública em prol de serviços públicos de qualidade (SILVA, 2008, p. 23). A importânciado gestor público no Brasil é indiscutível, pois sua atuação desempenha um papel primordial na administração e no funcionamento do Estado. Ela afeta diretamente a vida de milhões de cidadãos. Vamos aprender agora como diversos autores e estudiosos destacam a relevância da figura do gestor público para o desenvolvimento do país e o bem-estar da população. 17 DEFINIÇÕES Gestor Público Autor Enfoque Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista e cientista político brasileiro que se destaca em suas análises acerca da gestão pública Enfatiza a importância do gestor público como um agente que deve trabalhar em prol do interesse público, promovendo a eficiência do setor público e garantindo a prestação de serviços de qualidade à população. Maria Sylvia Zanella Di Pietro, advogada e professora referência em Direito Administrativo no Brasil Explora a atuação do gestor público pela legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência, princípios fundamentais da administração pública brasileira. Fernando Luiz Abrucio, cientista político brasileiro, professor e pesquisador que se dedica ao estudo da gestão pública Aborda o papel do gestor público a partir de uma perspectiva gerencial e institucional. Enfatiza a importância da capacidade gerencial dos gestores públicos para lidar com os desafios da administração governamental em contextos políticos complexos. Juarez Freitas, jurista e professor brasileiro, especializado em Direito Administrativo, com reflexões relevantes para o campo da gestão pública no Brasil Trata da importância da eficiência e ética do gestor público, a necessidade de transparência e prestação de contas, bem como a responsabilidade dos gestores na garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos. Fonte: elaboração própria a partir de BRESSER-PEREIRA (2007), DI PIETRO (2018), ABRUCIO (2007), FREITAS (2014) 18 Esses autores e muitos outros contribuem com diferentes perspectivas sobre a figura do gestor público, abordando aspectos políticos, jurídicos, econômicos e sociais. Em síntese, o gestor público no Brasil desempenha um papel essencial na formulação e execução de políticas públicas, na promoção do desenvolvimento sustentável e na prestação de serviços de qualidade à sociedade. Seu papel é fundamental para a construção de uma administração pública eficiente, transparente e comprometida com o bem-estar da população. 19 3. O PANORAMA DE ATUAÇÃO E AS MÚLTIPLAS HABILIDIDADES E ATIVIDADES DE UM GESTOR PÚBLICO DE EXCELÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE Panorama de atuação do gestor público no Brasil O gestor público atua em diferentes níveis e setores da Administração Pública. Desempenha funções de liderança, coordenação, gestão e tomada de decisões. Sua atuação pode ocorrer em diversas esferas do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário (federal, estadual ou municipal) e em diferentes órgãos e entidades públicas autônomas como Tribunais de Contas, Ministério Público, Defensoria Pública, entre outras. Vamos aprender alguns exemplos de locais de atuação do gestor púbico em cada um dos Três Poderes: 20 EM RESUMO Exemplos de locais de atuação do gestor público Poder Locais de atuação Executivo • Governo federal: ministérios, autarquias, fundações, entre outras; • Governos estaduais: secretarias, autarquias, agências de fomento, entre outras; • Prefeituras: secretarias, empresas públicas, institutos públicos, en- tre outras; Legislativo • Câmara dos Deputados • Senado Federal • Assembleias Legislativas • Câmaras Municipais Judiciário • Tribunais Superiores: Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ), Superior Tribunal Militar (STM), Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Tribunal Superior do Trabalho (TST) • Tribunais de Justiça nos Estados e Distrito Federal • Tribunais Regionais Federais • Tribunais Regionais do Trabalho, Eleitoral e Militar • Fóruns e comarcas municipais Fonte: elaboração própria. Além de atuar na Administração Direta do Poder executivo como Ministérios, Secretarias de Estado e Secretarias Municipais, o gestor público exerce atividades também na Administração Indireta. Ela inclui as Autarquias, Fundações Públicas, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista. O gestor público pode ser um servidor concursado, ocupando cargos de liderança no funcionalismo público. Também pode ser um gestor contratado para assumir posições de confiança em áreas específicas da Administração pública. 21 Uma forma clássica de iniciar a carreira como gestor público é por meio de concursos públicos. Os critérios para cada cargo podem variar dependendo do setor em que atua e da esfera de governo. De modo geral, os concursos costumam exigir formação e conhecimentos especializados. O servidor de carreira para ascender e se especializar como gestor público, muito costumeiramente, poderá contar com capacitações ofertadas pelo próprio órgão público ao qual é vinculado, por meio das escolas de governo e outros entes formativos. PARA ENTENDER MELHOR Escolas de Governo As Escolas de Governo são instituições ou entidades dedicadas à formação, capacitação e aperfeiçoamento de gestores públicos e servidores em diversas áreas da administração pública. Elas têm como objetivo promover o desenvolvimento de competências técnicas, habilidades gerenciais e conhecimentos teóricos necessários para o bom desempenho das atividades no serviço público. Oferecem cursos, treinamentos, seminários, workshops, palestras e outras atividades educacionais que abrangem a gestão pública. As escolas de governo são um espaço fundamental para a atualização dos conhecimentos, a troca de experiências, o aprimoramento da gestão, o fortalecimento das instituições públicas e o aperfeiçoamento do serviço público como um todo. 22 Mas, como você já aprendeu, a administração pública não é feita somente de servidores públicos efetivos. Em alguns casos, especialmente em cargos de alto escalão, como secretários, diretores e presidentes de órgãos públicos, em que a função não é exclusiva para servidores concursados e de carreira, podem ocorrer nomeações de profissional sem vínculo com o serviço público. Eles são escolhidos diretamente pelo governante em exercício. Nessa modalidade de ocupação de função na gestão pública, é imperioso ficar atento à qualificação técnica requerida para o cargo, bem como a experiência adequada e necessária, até para que não ocorram questionamentos relacionados à nomeação. As múltiplas habilidades e atividades a serem desempenhadas pelo gestor público O gestor público deve sempre se manter como um profissional competente e capacitado, para poder desempenhar suas atividades de forma eficaz e eficiente. Deve também deter uma visão sistêmica da administração pública e ser capaz de identificar e resolver problemas complexos. Também precisa trabalhar em equipe, liderar e motivar os colaboradores. 23 EM RESUMO Conjunto de macro atividades a serem desempenhadas pelo gestor público Planejamento Desenvolver planos e programas que atendam às necessidades da população. Organização Estruturar a organização pública de forma eficiente e eficaz. Direção Dirigir e orientar as atividades da organização pública. Controle Monitorar as atividades da organização pública, e garantir que os resultados esperados sejam alcançados. Fonte: elaboração própria a partir de Clézio Saraiva dos Santos (2014). Alguns autores, como Ana Paula Paes de Paula, defendem a importância de uma formação específica para os gestores públicos. Esta formação deve combinar tanto as habilidades técnicas da administração quanto a sensibilidade política e social necessária para lidar com a complexidade e particularidades do setor público. A administração pública requer técnicas de gestão adaptadas às suas características singulares, que vão além das práticas comuns do setor privado. 24 Nesse contexto, o gestor público precisater uma visão mais participativa, solidária e estratégica, buscando envolver diferentes atores da sociedade e negociar interesses conflitantes para alcançar os objetivos do bem comum. Isso requer capacidade de pesquisa, planejamento, execução e avaliação das ações governamentais, assim como habilidades para refletir sobre crises e mudanças, buscando soluções inovadoras e efetivas (PAES DE PAULA, 2005). Essa perspectiva valoriza a gestão pública como uma construção coletiva. O que isso quer dizer? Que os gestores devem atuar como facilitadores e mediadores entre os diversos atores envolvidos. Devem promover a integração de esforços e interesses para a defesa do interesse público. Diante disso, faz-se necessário que o gestor possa desenvolver múltiplas competências. A partir de um apanhado de diversos autores e pensadores, distingue-se que ser gestor público na atualidade exige um conjunto de características essenciais para lidar com os desafios da administração pública. 25 PARA ENTENDER MELHOR Habilidades comportamentais inerentes ao gestor público Habilidade Descrição Dedicação e disponibilidade Demanda comprometimento com a causa pública e disponibilidade para atender às demandas e necessidades da população e da equipe de trabalho. Abnegação e senso de missão Precisa ter um forte senso de missão e abnegação, estando disposto a colocar o interesse público acima de interesses pessoais ou políticos. Resiliência A gestão pública pode enfrentar desafios e adversidades, e o gestor deve ser capaz de se adaptar, aprender com os erros e seguir em frente com determinação. Capacidade de relacionamento A capacidade de estabelecer e manter relacionamentos construtivos com colegas, subordinados e parceiros é fundamental para alcançar objetivos comuns e promover a cooperação e a sinergia entre as partes envolvidas. Liderança Deve ser um líder inspirador, capaz de orientar, treinar e motivar sua equipe para alcançar resultados positivos. Comunicação eficiente A capacidade de se comunicar de maneira clara, empática e persuasiva é crucial para transmitir ideias, direcionar ações e obter o apoio necessário para implementar projetos e políticas. Tomada de decisão em condições de incerteza Frequentemente se depara com situações em que as informações disponíveis são limitadas ou ambíguas. A capacidade de tomar decisões embasadas em análises, bom senso e princípios éticos é essencial nesses momentos. Fonte: elaboração própria a partir de BRESSER-PEREIRA (1998), HEIFETZ (1999), JUNQUI- LHO (2004), MINTZBERG (2010) e MOTTA (2004). 26 Quando desenvolvem múltiplas habilidades e competências, os gestores líderes no setor público desempenham um papel crucial no processo de modernização da administração pública. Eles guiam a organização em direção ao alcance de melhores resultados, maior eficiência e ampliação da satisfação dos cidadãos com os serviços públicos oferecidos. São responsáveis por definir a visão estratégica da organização, estabelecer metas e objetivos claros, e promover a adoção de práticas modernas e eficientes de gestão. Por meio de uma liderança ética e responsável, enfrentam os desafios e dilemas da gestão pública com integridade e sensibilidade social. Tornam-se verdadeiros agentes de mudança e transformação, contribuindo para tornar o setor público mais ágil, responsivo e orientado para o interesse coletivo. 27 4. GESTOR PÚBLICO E PRESTAÇÃO DE CONTAS: COMPROMISSOS E RESPONSABILIDADES Por que o gestor público deve ter compromisso com a prestação de contas? A atuação do gestor público e a prestação de contas são elementos cruciais para o bom funcionamento de uma administração pública eficiente e transparente. Um bom gestor público tem o compromisso de zelar pelo interesse público, administrando de forma responsável e transparente os recursos e as ações do órgão ou entidade que representa (CAVALCANTE, 2017). 28 Você já aprendeu que a prestação de contas é fundamental para que a sociedade possa acompanhar e avaliar o desempenho da administração de órgãos e entidades do setor público, independentemente de sua esfera de atuação (municipal, estadual ou federal). É um mecanismo crucial para garantir a regularidade da gestão e promover a transparência na administração pública. Além disso, o aumento das demandas e da cobrança por parte da sociedade torna ainda mais relevante a necessidade de os governantes e gestores públicos serem transparentes em relação à destinação dos recursos e às despesas realizadas. A prestação de contas não é apenas uma obrigação legal, mas também uma forma de estabelecer a confiança e a credibilidade das instituições públicas perante a população. Ao tornar os dados e informações disponíveis e acessíveis ao público, os cidadãos podem acompanhar as ações do governo e verificar se estão alinhadas com o interesse público (SILVA, 2015). É importante destacar que a prestação de contas não se limita apenas aos chefes dos poderes como prefeitos e presidentes de câmaras de vereadores na esfera municipal, por exemplo. Ela deve ser realizada por todos aqueles que são responsáveis pela gestão dos recursos públicos, independentemente do cargo ou função que ocupem. Antes de você aprender algumas premissas fundamentais acerca da importância da prestação de contas para o gestor público, é essencial entender a conceituação propriamente dita do que é prestação de contas. 29 PARA ENTENDER MELHOR Prestação de contas Segundo o Tribunal de Contas da União, “Prestação de contas é o instrumento de gestão pública mediante o qual os administradores e, quando apropriado, os responsáveis pela governança e pelos atos de gestão de órgãos, entidades ou fundos dos poderes da União apresentam e divulgam informações e análises quantitativas e qualitativas dos resultados da gestão orçamentária, financeira, operacional e patrimonial do exercício, com vistas ao controle social e ao controle institucional previsto nos artigos 70, 71 e 74 da Constituição Federal.” Fonte: Instrução Normativa nº 84, de 22/04/2020 do Tribunal de Contas da União, art. 1, § 1º 30 Leia novamente com atenção. Essa definição enfatiza que a prestação de contas é uma ferramenta estratégica da gestão pública que vai além da apresentação de números. É um mecanismo fundamental para a promoção da transparência, do controle social e institucional. Permite uma análise completa da gestão dos recursos públicos e dos resultados alcançados. Sua importância reside no fortalecimento da governança e da accountability no setor público, contribuindo para uma administração mais eficiente e responsável. A prestação de contas, ao ser clara e acessível à população, assegura que os cidadãos tenham o direito de acessar informações sobre o uso das verbas públicas e entender os detalhes dos gastos realizados pelo governo. Configura-se também como uma forma de promover a defesa do patrimônio público, permitindo que a sociedade acompanhe e fiscalize o uso correto dos recursos. Trata-se de uma peça fundamental na governança pública. Permite a participação ativa da população no acompanhamento das ações do governo. Quando realizada com excelência, contribui para aprimorar a gestão e reduzir a corrupção e os desperdícios, resultando em uma administração mais eficiente e alinhada com os interesses da sociedade. Por isso, o gestor público tem muitas razões para ter compromisso com a prestação de contas. Podemos destacar no quadro abaixo algumas premissas que revelam a importância da prestação de contas no cotidiano do gestor público. 31 EM RESUMO Premissas acerca da importância da prestação de contas para o gestor público Premissa Descrição Transparência e Accountability Permite que os cidadãos tenham acesso às informações sobre como os recursos públicos estão sendo utilizados e os respectivos resultados alcançados, possibilitando que os gestores sejam responsabilizadospor suas ações e decisões, fortalecendo a accountability. Controle Social Com informações claras e acessíveis, os cidadãos podem avaliar o desempenho dos gestores e contribuir para uma administração mais eficiente e alinhada com as necessidades da população. Combate à Corrupção e Desperdícios Quando os gestores são obrigados a prestar contas de suas ações, há uma maior probabilidade de evitar desvios e irregularidades, tornando-se uma importante ferramenta no combate à corrupção e ao desperdício de recursos públicos. Credibilidade Institucional Governos e órgãos que são transparentes e responsáveis em suas ações ganham a confiança da sociedade e podem estabelecer parcerias sólidas com outros setores, beneficiando a governança como um todo. Planejamento e Avaliação Ao acompanhar os resultados alcançados, os gestores podem fazer ajustes e melhorias em suas ações, garantir uma alocação mais eficiente dos recursos e, com isso, fortalecer o planejamento e a avaliação das políticas públicas. Atendimento ao Interesse Público O compromisso com a prestação de contas é essencial para garantir que as ações do gestor público estejam voltadas ao interesse público. Isso implica tomar decisões pautadas em evidências e em benefício da coletividade, não em interesses particulares. Fonte: elaboração própria a partir de BOVENS (2005), CAMPOS (1990), GOMES, MENDES E CARVALHO (2017) e PALUDO (2020). 32 Em síntese, o compromisso com a prestação de contas é essencial para a promoção da transparência, da responsabilidade e da participação da sociedade na administração pública. Além disso, é uma ferramenta crucial para o combate à corrupção, a melhoria da gestão e o fortalecimento das instituições democráticas. DICA DE ESTUDO Saiba mais sobre prestação de contas na administração pública no Módulo 8 (A prestação de contas como um dever). As responsabilidades do gestor público na prestação de contas O gestor público tem a responsabilidade de ser transparente e sensato na prestação de contas, garantindo que os recursos públicos sejam utilizados de forma eficiente em benefício da coletividade. Este, por dever legal, deve prestar contas rotineiramente, configurando-se como uma das principais responsabilidades do gestor público. Esta obrigação está prevista na legislação e nos princípios que regem a administração pública, sendo um dos pilares na gestão dos recursos públicos (DI PIETRO, 2018). A prestação de contas é um processo formal no qual o gestor público apresenta informações sobre a utilização dos recursos e a execução das ações governamentais. Isso inclui informações financeiras, orçamentárias, patrimoniais e operacionais, além de 33 demonstrativos que evidenciem o alcance dos objetivos e metas estabelecidos. Essas informações devem ser abrangentes e contemplar diferentes áreas. Devem também possibilitar uma análise completa dos resultados e das ações realizadas no âmbito da administração pública. O gestor deve ainda garantir que todas as informações apresentadas nos relatórios e demonstrativos sejam precisas, fidedignas e reflitam fielmente a realidade da gestão pública. Referidas informações descritas nos relatórios devem sempre ser acompanhadas de documentação comprobatória. A manutenção desta documentação é uma responsabilidade crucial do gestor público durante o processo de prestação de contas. Trata-se de guardar todos os documentos e registros que evidenciam e comprovam as ações realizadas, os gastos efetuados e os resultados alcançados no âmbito da gestão pública. Essa documentação comprobatória é fundamental para respaldar as informações apresentadas nos relatórios e demonstrativos da prestação de contas. Dessa forma, deve ser mantida organizada e acessível, permitindo a verificação e a fiscalização por parte das instâncias de controle, como os tribunais de contas, órgãos de controle interno e até mesmo pela sociedade. 34 O gestor público deve também ficar atento e cumprir os prazos determinados pela legislação ou por Tribunais para a apresentação dos relatórios e demonstrativos de prestação de contas, bem como seguir as normas e procedimentos estabelecidos para essa finalidade. Além disso, tem a responsabilidade de responder prontamente e de forma adequada aos questionamentos e solicitações de esclarecimento feitos por tribunais de contas e órgãos de auditoria e controle interno. Esses questionamentos e solicitações podem ocorrer durante o processo de prestação de contas ou em outras atividades de fiscalização e auditoria. DICA DE ESTUDO Saiba mais sobre os Tribunais de Contas e órgãos de auditoria e controle interno no Módulo 3 (Quem controla a administração pública). A não prestação de contas ou o seu descumprimento podem acarretar sanções legais e administrativas para os gestores públicos, além de comprometer a credibilidade das instituições governamentais e afetar a confiança da população nas autoridades. Em suma, o gestor público deve sempre ficar atento e ciclicamente estar preparado para cumprir um conjunto de ações para efetuar prestações de contas de qualidade. 35 PARA ENTENDER MELHOR Sugestão de ações contínuas para uma prestação de contas Elaborar e apresentar os relatórios de prestação de contas Apresentar informações detalhadas Manter a documentação comprobatória Assegurar a veracidade das informações Responder a questionamentos e solicitações de esclarecimento Atender aos prazos e normas estabelecidas Fonte: elaboração própria. 36 Seguir um fluxo estruturado e constante na rotina do gestor público pode colaborar com as prestações de contas de sua responsabilidade. Ter uma abordagem organizada e disciplinada no processo de prestação de contas traz diversos benefícios como a eficiência na coleta de dados, melhor acompanhamento dos prazos à luz das normas, além da facilidade na revisão documental. Portanto, é fundamental que os gestores públicos levem a sério essa obrigação legal e realizem a prestação de contas de forma regular, transparente e precisa, como parte essencial do exercício da administração pública democrática e responsável. 37 5. VISÃO GERAL DO CÓDICO DE ÉTICA DO GESTOR PÚBLICO A conduta ética de um gestor público vai além do simples cumprimento das regras estabelecidas e inclui a orientação interna que guia suas ações. Quais são essas orientações? Propósito, motivação, empenho, gosto pelo ofício e cumprimento dos deveres. Este conjunto de aspectos refletem diretamente na maneira como o gestor ou servidor público desempenha seu trabalho e suas atividades (ARANTES, 2012). O gestor público desempenha papel fundamental na administração e na tomada de decisões que afetam a sociedade como um todo. A ética é essencial para estabelecer a confiança do público, promover a justiça, a equidade e a transparência, bem como garantir que o interesse público seja a principal diretriz em suas ações e decisões. Importante registrar que a carreira no serviço público é mais do que um emprego tradicional. Diferencia-se significativamente de um emprego comum no setor privado, principalmente devido à natureza do Estado e aos objetivos subjacentes da administração pública. A atividade no serviço público é profissional porque também representa uma escolha consciente e comprometida dos indivíduos que buscam contribuir para o bem-estar da sociedade. Essa dedicação reflete o profundo senso de responsabilidade, promoção de valores éticos e 38 compromisso que os servidores públicos têm com a melhoria da vida das pessoas e a promoção do interesse público (AMORIN, 2007). Por meio do Decreto nº 1.171, de 22 de junho de 1994, o Poder Executivo instituiu o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal. O objetivo foi estabelecer um conjunto de princípios e diretrizes que garantam que os servidores públicos atuem de maneira ética, transparente e comprometidacom o interesse público. O referido Código não só promove a integridade do serviço público, como também fortalece a governança e a confiança do público nas instituições governamentais. Vale ressaltar que, além desse Código específico para o Poder Executivo Federal, também existem outros códigos de ética e normas aplicáveis a servidores públicos em diferentes esferas governamentais (estadual, municipal) e em diferentes poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário) no Brasil. Esses códigos também visam garantir a conduta ética e a prestação de serviços de qualidade em todas as áreas da administração pública. É primordial para o gestor público cumprir e fazer cumprir o Código de Ética do Servidor Público. Ele é essencial para a manutenção da confiança da sociedade na administração pública e para garantir um serviço eficaz e responsável. Os servidores devem estar cientes dessas diretrizes éticas e aplicá-las em seu trabalho diário, contribuindo para uma governança transparente e voltada para o interesse público (CARNEIRO, 2014). https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1171.htm 39 PARA ENTENDER MELHOR Conduta ética do servidor público O capítulo I, secção I, das Regras Deontológicas do referido Código, traz este ponto importante acerca da conduta ética do gestor e servidor público. “II - O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput, e § 4°, da Constituição Federal. Fonte: Decreto Nº 1.171, de 22 de junho de 1994. Como você já aprendeu, o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal não é único, e não necessariamente aplicável a todos os gestores públicos. Isso porque diferentes órgãos e entidades governamentais nas esferas estaduais e municipais podem e devem ter seus próprios códigos de ética ou adotar princípios éticos de outras instituições. Entretanto, é importante que o gestor público se atente para alguns princípios éticos que, geralmente, se espera de sua atuação. Vamos aprender alguns deles. 40 EM RESUMO Princípios éticos na conduta do gestor público Princípios éticos Descrição Comprometimento com o interesse público Colocar os interesses da sociedade acima dos seus interesses pessoais ou de grupos específicos; buscar sempre promover o bem comum. Imparcialidade e equidade Agir com imparcialidade e tratar todos os cidadãos de forma equitativa, sem discriminação ou favorecimentos indevidos. Transparência e prestação de contas Ser transparente em suas ações, comunicar de forma clara e acessível as decisões tomadas e prestar contas sobre o uso dos recursos públicos. Integridade e honestidade Agir com integridade, honestidade e ética em todas as suas atividades e evitar conflitos de interesse e atitudes antiéticas. Respeito aos direitos humanos Respeitar e promover os direitos humanos, garantir a dignidade e o respeito a todas as pessoas. Valorização do serviço público Valorizar a importância do serviço público para a sociedade e agir de forma responsável e profissional em suas funções. Competência e qualificação profissional Buscar constantemente aprimorar seus conhecimentos e habilidades, bem como a excelência no desempenho de suas atribuições. Responsabilidade social e ambiental Considerar o impacto social e ambiental de suas decisões, promover o desenvolvimento sustentável e responsável. Promoção da participação cidadã Incentivar a participação da sociedade civil no processo de tomada de decisões, ouvir as demandas e opiniões dos cidadãos. Respeito às leis e normas Obedecer às leis, regulamentos e normas aplicáveis ao seu campo de atuação, garantindo a legalidade de suas ações. Fonte: elaboração própria a partir de AMORIN (2007), ARANTES (2012), CARNEIRO (2014), FREIRE (2004) e FREITAS (2014). 41 O cumprimento do Código de Ética do Servidor Público é essencial para a manutenção da confiança da população na administração pública e para garantir um serviço eficaz e responsável. Os gestores públicos devem estar cientes das diretrizes éticas e aplicá-las em seu trabalho diário, contribuindo para uma governança transparente e voltada para o interesse público. A conduta ética de um gestor público é vital para a manutenção da confiança e respeito do público, bem como para o bom funcionamento das instituições governamentais. Contribui com a garantia de uma administração pública que atenda aos mais altos padrões de responsabilidade, justiça e transparência, beneficiando, assim, a sociedade como um todo. 42 PERFIL DO AUTOR Josbertini Virginio Clementino Graduado em Administração Pública e de Empresas, Mestre em Planejamento e Políticas Públicas pela Universidade Estadual do Ceará e Doutorando em Ciência Política pelo ISCSP/Universidade de Lisboa-Portugal. Foi Secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado do Ceará, Diretor do Departamento de Políticas de Trabalho e Emprego para a Juventude do Ministério do Trabalho e Emprego em Brasília, chefe de Gabinete de Liderança da Câmara dos Deputados em Brasília. Atuou como Secretário de Juventude do Município de Maracanaú e Consultor do Banco Mundial. Presidiu o Fórum Nacional dos Secretários Estaduais da Assistência Social (FONSEAS) e o Conselho Estadual do Trabalho do Ceará. Atualmente é Sócio-Diretor da Sinergia Consultoria e Projetos e atua como consultor de projetos e políticas públicas para UNESCO, SEBRAE, ABEOC, Fundação Demócrito Rocha e outros. 43 BIBLIOGRAFIA ABRUCIO, Fernando Luiz. Trajetória recente da gestão pública brasileira: um balanço crítico e a renovação da agenda de Reformas. Revista de Administração Pública. Edição Especial Comemorativa, p. 67-86, 2007. AMORIN, F. de O. A confusão das esferas do público e do privado e o necessário resgate da eudaimonia aristotélica na administração da “coisa do povo”. Revista Tópos, 1(2), 139-154, 2007. ARANTES, E. C. Ética no setor público. Curitiba, PR: IFPR, 2012. BOVAIR, Tony; LÖEFFLER, Elke. Public management and governance. New York: Routledge, 2009. BOVENS, M. Public Accountability. In: FERLIE, E.; LYNN JR, L. E.; POLLITT, C. The Oxford Handbook of Public Management. Oxford: Oxford University Press, 2005. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 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Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999. 48 GLOSSÁRIO Accountability: Termo em inglês utilizado para se referir a um conjunto de práticas utilizadas pelos gestores para prestar contas e se responsabilizar pelas suas ações. Pode ser traduzido como controle, fiscalização, responsabilização, ou ainda prestação de contas. Gestão Pública: Campo de estudo e prática que envolve uma série de atividades relacionadas à administração de recursos, tomada de decisões, planejamento estratégico, implementação de políticas públicas, monitoramento de resultados e avaliação de desempenho, entre outras ações necessárias para garantir o bom funcionamento das instituições governamentais e a prestação eficiente de serviços públicos à sociedade. Gestor público: Profissional que atua na administração e gestão de órgãos e entidades do setor público, sejam eles de âmbito federal, estadual ou municipal, sendo responsáveis por planejar, organizar, dirigir e controlar as atividades de uma organização pública, bem como liderar equipes e tomar decisões estratégicas com transparência visando obter uma performance de excelência das ações governamentais e na prestação de serviços à população. Patrimonialismo: Abordagem que se refere a um sistema de gestão baseado na ideia de que o Estado ou ente público é tratado como uma extensão do patrimônio pessoal do gestor, líder ou governante, em vez de ser administrada de acordo com princípios de interesse 49 público, responsabilidade e separação entre os interesses pessoais e os interesses do Estado. Prestação de contas: Instrumento de gestão pública mediante o qual os administradores e, quando apropriado, os responsáveis pela governança e pelos atos de gestão de órgãos, entidades ou fundos dos poderes da União apresentam e divulgam informações e análises quantitativas e qualitativas dos resultados da gestão orçamentária, financeira, operacional e patrimonial do exercício, com vistas ao controle social e ao controle institucional previsto nos artigos 70, 71 e 74 da Constituição Federal. Responsividade: Capacidade de dar resposta rápida e adequada a uma determinada situação. Isso envolve estar preparado para lidar com mudanças e demandas de maneira eficaz e eficiente, agindo prontamente e tomando medidas adequadas conforme necessário. Realização
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