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Unidade II Dança como fenômeno cultural, social e artístico Fundamentos de Ritmo e Dança Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria BRUNO SILVA JULIARI LEANDRO AUGUSTO DE OLIVEIRA AUTORIA Bruno Silva Juliari Olá. Sou graduado em Educação Física pelas Faculdades Associadas de Ensino (UniFae), pós-graduado em Docência do Ensino Superior pela faculdade Campos Elíseos e pós-graduando em Treinamento Desportivo pela faculdade Campos Elíseos. Realizei os Cursos Complementares de Fisiologia do Treinamento Resistido, Fisiologia do Treinamento Desportivo e Nutrição para o Desporto. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz por poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Leandro Augusto de Oliveira Olá. Sou bacharel em Educação Física pelo Centro Universitário de Araraquara (2011) e sou mestre (2015) e doutor (2020) em Ciências Fisiológicas pelo Programa Interinstitucional UFSCar/UNESP. Realizei Doutorado Sanduíche no Departamento de Farmacologia, Fisiologia e Neurociência da Universidade da Carolina do Sul (USC, Columbia, EUA), por meio da Bolsa Estágio e Pesquisa no Exterior (BEPE/FAPESP) em 2018. Atuo em estudos que envolvem os mecanismos neurais na função cardiovascular durante o repouso e estresse. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de apresentar um novo conceito; NOTA: quando necessárias observações ou complementações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido; ACESSE: se for preciso acessar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando uma competência for concluída e questões forem explicadas; SUMÁRIO Trajetória histórica da dança ................................................................. 10 A dança na história ......................................................................................................................... 10 O significado socioantropológico da dança ....................................23 Os significados sociais e antropológicos da dança ...............................................23 Estilos tradicionais e contemporâneos da dança .........................34 Os estilos da dança: tradicionais e contemporâneos ...........................................34 Dança contemporânea ............................................................................................35 Danças tradicionais ..................................................................................................... 41 O fenômeno cultural, social e artístico da dança .........................46 Contexto social, cultural e artístico da dança ........................................................... 46 7 UNIDADE 02 Fundamentos de Ritmo e Dança 8 INTRODUÇÃO Nesta Unidade, vamos nos aprofundar um pouco mais no assunto da nossa disciplina, conhecendo a história e a evolução da dança ao longo do tempo, entendendo, assim, seu significado social e antropológico, seus estilos, tradicional e contemporâneo e, por fim, compreendendo seus contextos sociais, culturais e artísticos. Você será capaz de contextualizar a trajetória histórica da dança; entender o significado social e antropológico da dança; identificar os conceitos e os estilos tradicionais e contemporâneos da dança; e compreender o contexto social, cultural e artístico da dança. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar neste universo! Fundamentos de Ritmo e Dança 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2 – Dança como fenômeno cultural, social e artístico. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Contextualizar a trajetória histórica da dança. 2. Entender o significado social e antropológico da dança. 3. Identificar os conceitos e os estilos tradicionais e contemporâneos da dança. 4. Compreender o contexto social, cultural e artístico da dança. Fundamentos de Ritmo e Dança 10 Trajetória histórica da dança OBJETIVO: Neste capítulo, vamos contextualizar a trajetória histórica da dança. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! A dança na história A dança surgiu quando os primeiros seres humanos nasceram, os quais usavam a dança como um modo de se expressar por meio dos movimentos corporais, batimentos cardíacos regulares e caminhadas. Pinturas rupestres demonstram que mulheres e homens dançam juntos, desde o período da Pré-História. Os dançarinos usam seus corpos como instrumentos para criar expressões artísticas. Figura 1 – Dança nas pinturas rupestres Fonte: Aidar, (20--?). De acordo com Gusso (1997), sobre a origem da dança, existem muitas controvérsias, contudo, muitos autores concordam que ela tem Fundamentos de Ritmo e Dança 11 origem antiga, que datam do período pré-histórico, afirmando que há diversas controvérsias com relação ao primeiro registro da dança feita pelo ser humano, onde acredita-se que já havia uma cerimônia de dança no período da Pré-História, em que há dezenas de milhares de anos, as mulheres dançavam para adquirir uma ampla fecundidade. Tal registro tem cerca de 14 mil anos. Assim, a imagem da dança é datada do Período Mesolítico, ou seja, 8.300 a.C. Logo, foi descoberto na caverna de Cogul, mais especificamente na Província de Lérida, na Espanha, onde 9 mulheres ao redor de um homem despido, dando a indicação de um ritual de fertilização, acreditando-se que tais rituais tenham nascido na dança do ventre, na qual ressurge, atualmente, como modo de dança, especialmente no Ocidente. Portanto, acredita-se que os povos primitivos dançavam por vários motivos, sendo eles: comunicar, celebrar a natureza, esforçar-se, como forma de cultuar a própria constituição, com algum tipo de cerimônia religiosa, na cerimônia sagrada, rezando por chuva e fogo, fertilidade, vida, morte, colheita, felicidade, saúde. Outro ponto observado com relação à dança na Pré-História eram as habilidades desenvolvidas para outros fins, tais como caçar e se defender, pois o homem pré-histórico tinha sua vida voltada ao ataque e à defesa para sobrevivência, desenvolvendo habilidades como salto, correr, nadar etc., para melhor sobreviver. Nesse sentido, a dança entra como uma forma de cerimônia aos animais, para pedido de proteção e caça e, para a realização, eram utilizadas nas danças, habilidades como os saltos. IMPORTANTE: A arte primitiva consiste em gritos roucos e danças rítmicas, acompanhadas de palmas, pés, tambores, castanholas, o clique dos saltos. As pessoas acreditam que nessas danças homens dançam nus, e há uma ligação entre a dança e a necessidade de expressão, em que era observada a combinação de diferentes movimentos e sons do corpo (GUSSO, 1997). Fundamentos de Ritmo e Dança 12 Após a Pré-História, os relatos da dança deram continuidade no Egito Antigo,no qual a dança tinha uma índole sagrada, atribuída a Bes, o anão gordo, que favorece o parto rápido e a deusa-mãe Háthor, representada por uma vaca. A dança era dedicada ainda a Osíris, que se acredita ter ensinado a agricultura humana. Os hieróglifos que são deixados, demonstram que a dança egípcia era bem severa, tendo saltos e movimentos acrobáticos, mesmo associado ao culto, era o entretenimento da nobreza. Nessa época, a participação feminina dominava, pelo menos no que diz respeito à dança religiosa (PORTINARI, 1989). Pinturas, altos-relevos e estátuas mostram dançarinos, muitas vezes, em pares, destacando-se entre os grupos de instrumentistas. Figura 2 – Dança das mulheres no Egito Antigo, pintura encontrada na tumba de Shaykh Fonte: Wikidança. Fundamentos de Ritmo e Dança 13 Os movimentos comuns nessas danças eram joelhos dobrados, acrobacias e, principalmente, ponte (consistia no apoio das mãos e pés no chão, com as costas viradas para baixo, como mostra a Figura 3). Muitos dos movimentos utilizados nas danças egípcias são utilizados atualmente como manobras para a ginástica olímpica. Figura 3 – A ponte Fonte: Wikidança. Os hebreus também utilizavam a dança, tendo a Bíblia como o mais antigo registro, quando Moisés encontra pessoas dançando ao redor de bezerros de ouro, enquanto desce do Monte Sinai, há giros e saltos como os movimentos da dança, logo, era uma ação de cunho religioso. Esse povo acabou sendo o único que praticou a transformação da dança em arte (BOUCIER, 1978). Fundamentos de Ritmo e Dança 14 Figura 4 – Representação do bezerro de ouro Fonte: Wikimedia Commons . Na Grécia, a dança era utilizada para homenagear os inúmeros deuses, sendo uma civilização de destaque nesse sentido, sendo uma referência para vários estudos. IMPORTANTE: A dança era tão importante na Grécia, que ela era acessível a todos os cidadãos, por meio de rituais religiosos, educação, ou parte de atividades da vida cotidiana. Assim, vê-se que nos textos em relação aos gregos, que os pensadores e filósofos desse período tinham opiniões formadas em relação à dança, onde, para Sócrates, esta acabava formando um cidadão completo, sendo uma fonte de saúde. Já para Platão, ela devia estar presente na educação. Fundamentos de Ritmo e Dança 15 Logo, os espartanos, outra civilização antiga, tinham características militaristas na dança, principalmente para formação educacional e religiosa. VOCÊ SABIA? Curiosamente, ao ler sobre a história da Educação Física, raramente é mencionada a dança, especialmente a dança dos povos antigos, só é apresentado o lado do movimento do corpo, mesmo que a dança tenha permeado a vida cotidiana. Contudo, a dança começou a perder sua respeitabilidade por conta da diminuição da cultura da Grécia, onde passou de respeitável para um mero entretenimento; no final, era praticada por escravos vindos do Oriente. Na Roma Antiga, a dança teve seu maior declínio, visto que a população tinha uma preferência pelas lutas, sobrevivendo somente devido aos patrícios, que mantinham os filhos nas escolas com influência grega. Nos séculos VIII a VI a.C., conhecido como “Período dos Reis”, a dança passou a ser executada em altares, e seu sentido religioso foi sendo perdido, surgindo, assim, o sentido de pura recreação. VOCÊ SABIA? No período imperial, as altas classes divertiam-se com a pantomina, uma mistura de dança e teatro, sendo o começo da profissionalização de todos os dançarinos (GUSSO, 1997). Outro império que dava grande importância à dança era a China Antiga, na qual Confúcio (um pensador e filosofo chinês) exigia o cumprimento de ritos antigos, nos quais a dança fazia parte. Esta era parte primordial para as colheitas, casamentos e, principalmente, para os deuses chineses. Fundamentos de Ritmo e Dança 16 Figura 5 – Confúcio Fonte: Wikipedia . EXEMPLO: A dança na China Antiga era realizada para homenagear Tsao-Chen, o Deus da comida. Era uma dança realizada por mulheres que carregavam tigelas de arroz. No território japonês, segundo os preceitos xintoístas, a dança aparece com Amaterasu, ou seja, a deusa do Sol, onde se esconde em uma caverna depois de uma briga com o seu irmão, enquanto os outros deuses estão no escuro e no frio. Figura 6 – Amaterasu Fonte: Wikimedia Commons . Fundamentos de Ritmo e Dança 17 Assim, para conseguir a atenção da deusa, passaram a dançar na frente da caverna; ela ficou curiosa, saindo do esconderijo, zombando do que havia acontecido e fazendo com que o Sol tenha voltado a brilhar. Tais fatos, crenças e lendas demonstram o surgimento da dança nessa civilização de maneira única. Na dança japonesa antiga, é possível destacar três tipos, Odori (pop), Noh e Kabuki. EXEMPLO Portinari (1989) descreve os três tipos da seguinte forma: • O estilo Odori inclui festas como plantação de arroz, oração para espíritos da chuva, flores de cerejeira. São danças populares mistas em que participam homens e mulheres, ilustrando a conexão com suas crenças, normas e lendas. • O estilo Noh é uma dança expressiva realizada por homens mascarados que também interpretam personagens femininos. É um espetáculo sério com fundo religioso. Percebe-se que o sexo masculino faz parte do movimento da dança desde a Antiguidade, mais do que o feminino em algumas civilizações, e não há estereótipos e preconceitos que os impeçam de dançar ou se dedicar a essa arte. • O estilo Kabuki teve surgimento no século XVII, sendo uma forma de entretenimento para comerciantes ricos, em que o poder acaba rivalizando com o poder da nobreza. Esse é o domínio dos homens, onde até os tempos atuais o gênero é inteiramente explicado pelos homens. Um período que não foi favorável para dança foi a Idade Média, pois com a visão cristã da criação do corpo no início do século III, a dança era um obstáculo ao “ir” da alma para o céu, pois no conceito religioso, o corpo é o gerador do pecado e dos pensamentos impuros, impedindo a perfeição do homem e, com a guerra, com as mudanças econômicas da vida, a dança é considerada obscena. Era um daqueles tempos de perseguição, morte de dançarinos, onde as danças permitidas eram somente as que falavam do Senhor e Fundamentos de Ritmo e Dança 18 o louvavam e. mesmo assim, alguns reuniam-se de maneira ilegal em perigosas reuniões. IMPORTANTE: Segundo Portinari (1989), a escuridão prevaleceu nos séculos iniciais, no período cuja a paz romana ruiu com a influência de invasões e guerras em curso. As cidades eram escassamente povoadas, prevaleciam o medo e a ignorância, e a herança cultural greco-romana tornou- se prerrogativa de alguns literatos que a reinterpretaram segundo o código cristão. Outro fato comentado pelo autor mostra que, com todas as proibições, com a deterioração da qualidade de vida e o aparecimento de inúmeras pragas e doenças, a dança ainda está presente nos hábitos desses indivíduos, pois entre o século XI e o século XII houve uma “dançamania”. O desespero devido às epidemias como a Peste Negra acabaram levando os indivíduos a dançarem para expressar seu medo da morte. Na Itália, a dança era chamada de “tarantismo”, porque acreditava-se que os indivíduos picados por aranhas tarântulas, dançando e suando, poderiam eliminar veneno e não correr o risco de morte. Dessa forma, mais uma vez, a relação homem-dança na história humana é óbvia. Portanto, a dança era completamente combatida pelo âmbito religioso, bem como por uma sociedade estratificada na qual o clero e a nobreza dominavam os servos, a burguesia e os camponeses. Somente as danças macabras, danças contra à morte, danças de morte e danças camponesas acabaram sobrevivendo. Devido às proibições e aos medos da época, a explicação para a sobrevivência da dança é esclarecida por Ossona (1988), que afirma que a dança era exercida nas aldeias, pois era proibida nos templose nas praças públicas, logo, com o refugiamento das pessoas nas aldeias, a dança era comum nesses locais, que imitavam os movimentos dos moradores do campo. Fundamentos de Ritmo e Dança 19 VOCÊ SABIA? Segundo Mendes (1987), entre a nobreza, a corte e as classes baixas, a dança permaneceu sendo uma atividade recreativa sem especialização. Isso somente ocorreu no fim da Idade Média, quando a Igreja era um pouco mais tolerante. Logo, iniciava-se um processo de mudança, a ideia do dualismo cristão começou a mudar, e a dança começava a sair do gueto e a ser transportada para uma sociedade mais conservadora, é um renascimento cultural. A dança no período do Renascimento aconteceu entre o século XVI e o século XVII, onde começou a ganhar status de arte, com docentes profissionais, manuais e, principalmente, pessoas dedicadas a estudá-la. Sendo assim, na Itália, surgiu um estilo de dança, que foi nomeado de “balleto”, que foi introduzida na França mediante o casamento do Rei Henrique IV da França (1553-1610), com a princesa Florentina Maria de Médici. VOCÊ SABIA? Maria de Médici (1575-1642) inseriu o “balleto” na corte da França, em que a palavra torna-se “balé”, sendo uma arte digna de prática na corte. Mais tarde, na corte do Rei Luís XIV (1638-1715), começaram os primeiros balés dramáticos, com coreografias, figurinos e contando uma história com começo, meio e fim. Notavelmente, o rei usou o balé para apresentar sua imagem como monarca absoluto. Fundamentos de Ritmo e Dança 20 Figura 7 – Balé Fonte: Freepik Sendo assim, a dançar acabou se tornando base da educação nobreza. As danças mais famosas são minueto, gavote, zarabanda, allamande e giga. No fim do século XVIII, no Império da Alemanha e Áustria, houve o surgimento da valsa. Tal ritmo espalhou-se por todo o continente Europeu, chegando ao Brasil junto da corte portuguesa. Até hoje as valsas aparecem em bailes de estreia e casamentos. No século XIX, surge a dança no Romantismo devido aos movimentos artísticos românticos, no qual ocorreu a consolidação do balé como expressão artística. IMPORTANTE: Com a escalada da burguesia e a elaboração do Grande Teatro, o balé saiu dos salões do palácio e se tornou um espetáculo. Também na ópera, outra importante expressão artística da época, o número de dança teve que ser incluído. O balé atingiu o ápice da criação artística na corte russa. Logo, o compositor Piotr Ilitch Tchaikovsky, que foi o autor de obras como O quebra-nozes e O lago dos cisnes, acabou marcando a criação do balé romântico. Fundamentos de Ritmo e Dança 21 Figura 8 – Piotr Ilitch Tchaikovsky Fonte: Wikimedia Commons No final do século XIX, as ex-colônias americanas começaram a reinterpretar as danças europeias e a música. Assim, surgiu o canto gospel na América, o tango e o samba no Brasil, no Uruguai e na Argentina. No século XX, teve o surgimento da dança moderna, o que foi um avanço para o balé clássico, popularizado na virada dos séculos XIX e XX. Com o desenvolvimento da cidade e a expansão da indústria, uma parte da sociedade não reconhece mais esse tipo de apresentação de balé clássico. Nomes como Isadora Duncan (1878-1927) surgiram, e ela foi sendo uma das primeiras a fazer o rompimento com movimentos rígidos, trajes de tutu e cenários deslumbrantes. Isadora Duncan tinha preferência por roupas simples, sem terno e dança descalça. Seu trabalho abre alternativas com novas linguagens no contexto da dança contemporânea. Fundamentos de Ritmo e Dança 22 IMPORTANTE: A dança é chamada de “contemporânea”, pois foi criada após a década de 1960, no século XX. Dando continuidade à experimentação da dança moderna, os criadores contemporâneos mesclam drama e dança, eliminando a imagem do solista e proporcionando maior igualdade entre homens e mulheres no palco. Alguns grupos até omitem a música em suas coreografias. A busca por novas linguagens é essencial para a dança no período contemporâneo. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desse capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido sobre a o surgimento da dança, percorrendo vários períodos na história. Estudamos como a dança ocorria ainda na Pré- História; depois, no Egito Antigo, na Grécia Antiga, Roma, China, Japão até os dias atuais, passando por períodos de desvalorização e tendo seu renascimento no século XVI e XVII, passando pelo período do Romantismo, dança moderna e, finalmente, a dança contemporânea. Portanto, assim como os pintores usam telas e pincéis para fazer sua arte, os dançarinos usam seus corpos. Cada cultura e etnia contêm dança de alguma forma. Algumas danças são realizadas de maneira solo; outras em pares ou grupos. Cada emoção que as pessoas sentem pode ser expressa por meio da dança, incluindo amor, tristeza e felicidade. Fundamentos de Ritmo e Dança 23 O significado socioantropológico da dança OBJETIVO: Neste capítulo, vamos entender o significado social e antropológico da dança. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Os significados sociais e antropológicos da dança De um modo geral, a dança é vista como uma atividade de relaxamento ou entretenimento ou, ainda, uma forma de alcançar uma estética desejável. Em geral, é também uma atividade lúdica que promove o relaxamento para melhor conclusão de disciplinas escolares (RENGEL; SCHAFFNER; OLIVEIRA, 2016). Logo, a dança não é apenas uma forma particular de dançar, é sobre uma ideia, um conceito, uma atitude. Vale ressaltar que, quando a palavra “ideia” é usada, trata-se de implementar o pensamento nas atitudes comportamentais das pessoas. Figura 9 – Danças Fonte: Freepik . Fundamentos de Ritmo e Dança 24 Dessa forma, os mandamentos da educação artística, em seus acertos e tentativas, articulam o verdadeiro sentido da vida por meio da dança. Entende-se perfeitamente o papel da dança na sociedade, que contribui para o desenvolvimento artístico, cultural e educacional (RENGEL; SCHAFFNER; OLIVEIRA, 2016). Segundo Rengel, Schaffner e Oliveira (2016), no decorrer da história da dança, diversas maneiras foram propostas acerca da utilização da música, bem como da utilização do espaço, de temas místicos, étnicos ou etéreos. Assim, cada criador ou docente tem o seu próprio modo de dar ou criar aulas, porém, de maneira geral, existem características de cada época. VOCÊ SABIA? Existem períodos nos quais a dança era concebida como uma combinação de passos que já existem, sendo assim, buscada a repetição, sendo a mais possível deles. Assim, o público era compreendido como um receptor passivo de danças que era para o entretenimento, para distrair. Houve também momentos na história em foi buscado o não formalismo, o não entretenimento e a não padronização de um modelo ideal corporal que dança. Ocorreu, ainda, a adoção da improvisação, fosse na sala de aula para criar a coreografia ou mesmo na própria cena de palco (RENGEL; SCHAFFNER; OLVIVEIRA, 2016). Figura 10 – Aulas de dança Fonte: Freepik. Fundamentos de Ritmo e Dança 25 De acordo com Gonçalves e Osório (2012), a dança é uma expressão comum para todas as sociedades, um assunto aparentemente óbvio de interesse antropológico. No entanto, ainda carece de sistematização ou dispersão na literatura antropológica, e parece estar relacionada a temas diversos como magia, ritual, religião etc. Por um lado, se o campo de estudos relacionado à dança pode parecer “novo” porque não surgiu como parte dos cursos de Antropologia ou das Ciências Sociais ao longo do século XX, ou porque não apareceu ativamente em congressos; por outro lado, a dança é um tema horizontal recorrente na religião. Os estudos da dança reúnem interesses diversos, são interdisciplinares e estão abertos a diferentes abordagensmetodológicas. No decorrer da última década, a dança como unidade de reflexão acadêmica vem se apoiando na literatura, história, ciências sociais, esportes, performance, teatro, dança e artes em âmbito nacional. Portanto, é preciso compreender como os métodos antropológicos de dança têm ocorrido ao longo do tempo, significando o reflexo sobre o caminhos da prática etnográfica e também o desenvolvimento da teoria antropológica (GONÇALVES; OSÓRIO, 2012). IMPORTANTE: Segundo Freire e Azevedo (2020), a dança é mais do que somente dançar, englobando vários fatores, além de componentes coreográficos. A dança retrata as pessoas, suas identidades, suas crenças religiosas, hábitos e seus corpos. Com seu viés ligado à Antropologia, pode-se resgatar e também estudar suas variadas características e as características de seu povo. Fundamentos de Ritmo e Dança 26 Figura 11 – A dança na cultura indiana Fonte: Freepik . A dança abraça uma coletiva sensibilidade, sendo um senso comum que não abandona o outro em momento algum. Sim, em vez disso, precisa de outro, como espectador ou parceiro, para que aconteça em sua totalidade. A dança funciona por meio do corpo do bailarino através do movimento. E ele também atua como espectador, construindo relacionamentos baseados, principalmente, na sensibilidade (FREIRE; AZEVEDO, 2020). VOCÊ SABIA? Ainda, é acrescentado que a dança é uma linguagem artística que tem potencial para oferecer diferentes formas de ver e agir sobre si e sobre o mundo. A dança é, muitas vezes, vista como uma sensação espontânea ou com uma grande habilidade física. Tais transações acabam refletindo em uma busca por definições e respostas, um fenômeno que é linear e pontual, não seguindo uma lógica simples, muito menos “pura”, sendo nesse ponto que o conhecimento e a pesquisa são importantes para esclarecer e superar a superficialidade (FREIRE; AZEVEDO, 2020). Ainda segundo Freire e Azevedo (2020), há sinais de dança humana desde os tempos antigos, com pessoas que dançaram em todos os lugares. Logo, dançam para expressar sentimentos diversos, como Fundamentos de Ritmo e Dança 27 amor ou rebelião, adoração ou traição aos deuses, supressão do poder humano, oração, conquista, arrependimento, descontração, enfim, vida. A dança tem muitas manifestações, desde ritualística, folclórica, sagrada, balé clássico até a dança moderna. A dança também está se desenvolvendo na mesma velocidade que os seres humanos e a sociedade também estão evoluindo, então, a dança é dada à humanidade do futuro. Logo, a dança é tudo o que as pessoas expressam sobre sua relação com a natureza, cultura e as pessoas. Há milhares de anos, a dança tem diferentes significados e é o mais completo dos elementos existentes, pois agrega, simultaneamente, todos os outros elementos artísticos por meio do movimento, como: drama, pintura, música, escultura e performance. IMPORTANTE: Segundo Camargo (2011), a Antropologia há muito descartou a dança como uma observação supérflua em comparação com outros elementos culturais considerados mais importantes. No entanto, graças aos esforços de pesquisadores como Suzanne Youngerman, Anya Peterson Royce, Judith Lynne Hanna, Gertrude Kurath, Franz Boas, Joann Kealiinohomoku, Adrienne Kaeppler, entre outros, finalmente é reconhecido que um estudo sistemático da dança é essencial, não só para compreender a mesma coisa em seu contexto cultural, mas, principalmente, para entender a estrutura mais profunda da sociedade. Juntamente com a antropologia da dança e sua vertente norte- americana, está representada a influência dos antropólogos da dança brasileira. Inicia-se com a definição de dança, que pode ser definida mais apropriadamente como o comportamento humano, do ponto de vista do bailarino, sendo determinada por ritmos intencionais e estruturas culturais compostas por sequências voluntárias (CAMARGO, 2011). Essas sequências são formadas por movimentos corporais não verbais, distintos das atividades motoras diárias, tendo valor estético Fundamentos de Ritmo e Dança 28 intrínseco. O primeiro antropólogo que estudou a dança a partir de uma perspectiva antropológica foi o autor Franz Boas (1858-1942). Figura 12 – Franz Boas Fonte: Wikimedia Commons . Rejeitando amplas generalizações que não levam em consideração as diferenças culturais, ele estabeleceu a possibilidade de analisar a dança e as respostas que ela evoca em termos das próprias culturas observadas, e não em termos das chamadas “linguagens universais” (CAMARGO, 2011). Ainda segundo Camargo (2011), a orientação empírica de Franz Boas influenciou a pesquisa de Gertrude Prokosch Kurath (1903-1992), que foi a fundadora da etnologia da dança. Kurath resume os métodos e procedimentos que ele usou ao longo dos anos em Research Methods and Background, de Gertrude Kurath (1972, p. 35-43), e em seu questionário coreográfico tentava responder à pergunta: “No curso de estudo da dança folclórica, o que os pesquisadores da área registraram?”. Sua sugestão é olhar para o conjunto de bailarinos no espaço que deve ser orientado, o estilo de movimento corporal, a estrutura da dança e uma descrição do que pode e deve ser entendido nessas três categorias, que ainda são úteis. A grande contribuição de Kurath, trata-se de reconectar a dança em seu sentido mais amplo com seu contexto cultural. Fundamentos de Ritmo e Dança 29 IMPORTANTE: A influência de Boas, bem como sua insistência em coletar dados sem um arcabouço teórico generalista, também aparece nos primeiros trabalhos do antropólogo Joan Kelly Nohomoku (1930), aluno de Melville Herskovits (1895- 1963) e ex-aluno de Boas. Kealiinohomoku, em 1960, com o Estudo Comparativo da Dança como Constelação do Comportamento do Movimento entre Africanos e Afro- Americanos, concluiu que não apenas as ressonâncias entre as formas de movimento da dança africana e afro- americana são muito próximas, mas que a análise da dança é humana. Uma ferramenta valiosa para a pesquisa acadêmica. Da mesma forma, demonstrou que os métodos antropológicos têm utilidade para os estudos da dança (CAMARGO, 2011). Segundo Camargo (2011), a influência de Boas no trabalho de Kealiinohomoku, pode ser vista em sua definição de dança, onde ela é uma forma efêmera de expressão, executada de uma certa maneira e estilo à medida que o corpo humano se move pelo espaço. A dança é formada por movimentos rítmicos controlados com uma seleção de alvos precisa, no qual os resultados dessa atividade são aceitos por bailarinos e membros de determinados grupos observando a situação enquanto dançam. Em seu livro To Dance Is Human, a antropóloga Judith Lynne Hanna (1936) identificou sete dimensões do comportamento humano com base no que as pessoas pensam da dança nas seguintes formas: Fundamentos de Ritmo e Dança 30 Figura 13 – Judith Lynne Hanna Fonte: Ju dithhanna. • Física – a dança é um movimento físico que libera energia por meio de respostas musculares à estimulação cerebral. • Cultural –a dança como forma cultural com estrutura, estilo e execução, é determinada pelos conceitos, princípios e atitudes de um povo, sendo uma forma cultural que resulta do processo criativo de manipulação do corpo humano no tempo e no espaço. As formas culturais resultantes, apesar de seu caráter efêmero, têm um conteúdo organizado. • Social – a dança como forma social reflete e influencia a maneira de organização social, as relações entre indivíduos em grupos e entre grupos. • Psicológica – a dança é visualizada como uma experiência cognitiva e emocional, sendo influenciada pela vida individual e coletiva, bem como por ele próprio. • Econômica – a dança é tida como uma atividade econômica que pode fornecer um complemento na renda ou compor a renda principal de um profissional ou, ainda, representar uma atividade na qual algumas pessoas utilizam sua renda paraestudo e/ou lazer. Fundamentos de Ritmo e Dança 31 • Política – a dança é um espaço para a expressão de comportamentos, princípios políticos e um meio de controlar o julgamento e a mudança. • Comunicacional – a dança é tida como linguagem corporal, podendo expressar emoções e pensamentos, como ferramenta física, traduzindo os movimentos corporais em símbolos compreendidos pelos membros da sociedade, cuja finalidade é representar a experiência do mundo externo e mental. Barbosa et al. (2019), afirmam que além de constituir patrimônio histórico da humanidade como conhecimento da cultura do corpo, da dança trata-se de uma linguagem social de compartilhamento de ideias, culturas e elementos históricos, tematizando culturas de diferentes origens e raças, oportunizando a salvação da produção cultural humana. Exceto pelo destaque. A dança, ainda segundo Barbosa et al. (2019), é uma expressão representativa da vida humana, sendo considerada uma linguagem social que compartilha ideias, elementos culturais e históricos, além de temáticas de culturas de origens e raças distintas, proporcionando uma oportunidade de salvar a produção da cultura do ser humano, destacando a identidade, que precisa ser abordada nas escolas. De acordo com essas conjecturas, Barbosa et al. (2019) afirmam que a dança é considerada um fenômeno social ao longo da história, passando por diversas fases do primitivo ao moderno, retratando diversos aspectos da sociedade, economia, cultura, política e sociedade. O momento e a extensão do desenvolvimento da religião refletem na tecnologia, bem como o significado e o valor de uma civilização existente, questionam e documentam suas origens históricas e representam a experiência humana no mundo, assim como a influência do mundo em relação a ela. Assim, configura-se como um campo com próprias leis e atribuições específicas Fundamentos de Ritmo e Dança 32 IMPORTANTE: Ainda de acordo com Barbosa et al. (2019), a dança é uma arte complexa cuja ferramenta expressiva é o corpo desenvolvido para a habilidade artística. Por isso, é preciso ter cautela em relação à qualidade dos dançarinos e das sutilezas do corpo e da mente. Logo, acredita-se que a dança é a experiência do corpo em movimento, a expressão da motricidade humana e a expressão artística que ocorre no corpo humano. A transformação do movimento na arte trata-se de uma experiência estética. A dança é entendida como a expressão e a função das estruturas sociais, um tema recorrente na literatura com relação à temática da primeira metade do século XX. Logo, é como uma saída para liberar certas emoções. Evans-Pritchard, em The Dance (1928), fez uma proposta oferecendo a dança da cerveja dos Azande, entre outras coisas, jogando o poder sexual em canais sociais sem ofensas. Margaret Mead, em seu livro Adolescência, Sexo e Cultura em Samoa (1928), apontou que as danças informais entre crianças significam a libertação da dura opressão e subordinação se comparado aos adultos (BARBOSA et al., 2019). A dança, por meio de seu poder de liberdade de expressão, mediante a manifestação emocional e física, acaba promovendo a inclusão, de maneira que seja possível obter uma consciência corporal, bem como a manifestação da criatividade, não somente física, mas ainda cognitiva e crítica, fazendo com que os estudantes com autismo, em questão, venham a conquistar sua autonomia, desmembrando novos sentimentos e campos, gerando a busca pela identidade, de encontrarem-se na letra, no ritmo, som, tom ou não (BARBOSA et al., 2019). Ainda segundo Barbosa et al. (2019), o momento da música nos quais tais aluno sejam somente eles mesmos, sem preocuparem-se com o olhar de julgamento de outro indivíduo, mediante uma auto-organização singular, sincronizando prazeres, fatores de identidade e emoções. Fundamentos de Ritmo e Dança 33 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a dança é uma expressão representativa da vida humana, sendo considerada uma linguagem social que compartilha ideias, elementos culturais e históricos, além de temáticas de culturas de diferentes origens e raças, proporcionando uma oportunidade de salvar a produção da cultura humana. Além de destacar a identidade, também precisa ser abordada nas escolas. É uma expressão comum a todas as sociedades e um assunto aparentemente óbvio de interesse antropológico. Os estudos da dança reúnem interesses diversos, são interdisciplinares e estão abertos a diferentes abordagens metodológicas. Ao longo da última década, a dança como unidade de reflexão acadêmica tem se apoiado na literatura, história, ciências sociais, esportes, etnomusicologia, teatro, dança, performance e artes no Brasil e em outros países. Portanto, compreender como os métodos antropológicos de dança têm ocorrido ao longo do tempo significa também refletir sobre os caminhos da prática etnográfica e o desenvolvimento da teoria antropológica Fundamentos de Ritmo e Dança 34 Estilos tradicionais e contemporâneos da dança OBJETIVO: Neste capítulo, vamos identificar os conceitos e os estilos tradicionais e contemporâneos da dança. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Os estilos da dança: tradicionais e contemporâneos No início de muitas culturas, a dança foi separada em formas sagradas e profanas. Essa divisão é um reflexo da dicotomia presente na maioria das formas culturais. Alguns acreditam que essa divisão ocorreu porque a dança era considerada sagrada; outros acreditam que foi porque a dança era considerada vulgar. Independentemente do motivo, essa divisão levou a uma cisma na dança que a separou em duas formas (PORPINO, 2018). Figura 14 – Dança: sagrada ou profana? Fonte: Freepik. Fundamentos de Ritmo e Dança 35 A dança é uma atividade milenar feita coletivamente, podendo ter começado como uma forma de tarefa derivada de trabalho repetitivo. As culturas primitivas ou míticas consideravam a dança sagrada em escala global; os aspectos profanos e sagrados da dança são exclusivamente humanos. Os momentos mais significativos da vida – como nascimento, morte, colheita e procriação – não exigiam a dança como método de existência. IMPORTANTE: A dança é uma forma de arte orgânica que cria novos significados tanto para o dançarino quanto para o observador. É semelhante a uma grande teia com conexões entrelaçadas que mudam continuamente e geram conexões adicionais. Isso significa que, mesmo momentos retratados em fotos ou pinturas podem ser percebidos como momentos de dança. Esses momentos são retratados por meio de fotografias e obras de arte como uma mistura de conexões estéticas distintas, mas relacionadas (PORPINO, 2018). Dança contemporânea A dança contemporânea permite uma grande variedade de estilos e gêneros diferentes. Não há um conjunto específico de passos e muitos ritmos variados. Em vez de ficar confinado a uma caixa, os dançarinos desse estilo são livres para explorar diferentes etapas. Figura 15 – Dança contemporânea Fonte: Freepik. Fundamentos de Ritmo e Dança 36 Como a dança contemporânea não contém movimentos previsíveis, também é chamada de “dança abstrata”. Cada dançarino determina o próximo passo na dança. A constante evolução da dança contemporânea faz com que novos estilos e abordagens estejam sempre surgindo. Há um número infinito de possibilidades no gênero, e algo novo aparece o tempo todo. VOCÊ SABIA? A dança moderna surgiu na década de 1960 para explorar novas possibilidades para o corpo na dança, em que são realizadas partes de histórias assumidas percorrendo os antecessores dessa linguagem artística, fazendo uma revolução na década de 1960, por meio de ideias relacionadas a um espaçopaisagístico e disperso, independentemente da música, de movimento natural, orgânico, puro, sendo aquele movimento que se expressa. Figura 16 – Merce Cunningham Fonte: Wikimedia Commons . Fundamentos de Ritmo e Dança 37 Ao que se refere à dança contemporânea, uma figura importante a destacar é Pina Bausch, conhecida pelo uso do paradoxo como meio de criação de movimento, que interpreta os atores e o público de forma diferente, desconsiderando os gostos subjetivos do público. Além desses artistas, outros também são considerados pioneiros da dança contemporânea da época: Steve Paxton, Valery Matisse, Vaslav Nijinsky e Yvonne Rainer (SIQUEIRA et al., 2016). Figura 17 – Pina Bausch Fonte: A notória..., (2020). O famoso nome da pioneira brasileira da dança contemporânea é o de Angel Vianna. Vianna observa que, desde que a dança foi codificada na corte do Rei Luís XIV da França, sua evolução foi transmitida oralmente por gerações. Dessa forma, o público vivencia e conhece apenas os produtos estéticos apresentados na exposição, portanto, desconhece o ponto de partida, percurso, experiência, parceria, formação e construção do artista no processo criativo. Sua estética e, portanto, a projeção e disseminação de suas ideias, podem interferir nas tradições da dança. Fundamentos de Ritmo e Dança 38 Figura 18 – Angel Vianna Fonte: Assis (2018). IMPORTANTE: A dança contemporânea brasileira é considerada , priorizando a dança carioca com referências significativas e/ou origens na Europa, América e Ásia. Movimentos pós- modernos americanos, dança expressionista alemã e dança neofrancesa influenciaram a composição da atual cena de dança contemporânea brasileira. Apesar de seu caráter eclético, a dança contemporânea tem características estruturais e até abstratas que estão presentes na maioria das obras (SIQUEIRA et al., 2016). Algumas dessas obras são apresentadas, como estruturas não lineares, múltiplos significados, mudanças na configuração do tempo e do espaço, uso da tecnologia, liberdade de criação etc. A expressão “dança contemporânea” abrange uma variedade de formas de dança, sendo frequentemente usada para abranger diferentes poéticas da dança atual que não se enquadram em classificações Fundamentos de Ritmo e Dança 39 tradicionais como balé e dança moderna. A dança moderna é metafórica na medida em que separa os elementos do corpo e do gesto em unidades perceptivas menores. Assim, os bailarinos tornam-se pesquisadores de seus próprios corpos e dos corpos dos outros. Como resultado, o papel dos bailarinos mudou, e os coreógrafos tendem a desempenhar o papel de cocriadores, exigindo que seus tradutores se envolvam no processo criativo, realizando performances de movimento cheias de habilidade e explicando nuances (SIQUEIRA et al., 2016). VOCÊ SABIA? José (2011) afirma que a contemporaneidade da dança estabelece quatro fatos importantes para compreendê-la. São eles: uma maneira de pensar a dança; nenhum modelo/ padrão de corpo ou movimento; reafirmar a especificidade das artes da dança, e como o corpo em movimento estipula o drama com outro vocabulário e sintaxe; e o pensamento que surge no corpo, tornando-se o princípio da mente. À primeira vista, a dança contemporânea apresenta o corpo de duas maneiras importantes. Por um lado, o corpo dançante se envolve em uma experiência corporal não habitual, que não é comum ao corpo. Por outro lado, o corpo torna-se dança e age sobre si mesmo, não pensando o corpo em termos de “o que ele permite”, mas “o que ele pode fazer”. Logo, eis que surge a questão de se a dança contemporânea é uma técnica ou um estilo. Explica-se que a técnica se refere ao domínio de habilidades fundamentais. O corpo, juntamente com as habilidades de dança, é aprimorado por meio da arte. O corpo é apenas um dos elementos da dança que os participantes aprendem a dominar através da participação. A técnica não é a imitação, mas a expressão da poesia por meio do movimento. A criatividade vem da conexão de ideias pessoais com as demandas do ambiente. Uma das definições de dança contemporânea está relacionada à compreensão do contemporâneo, como sugere uma das definições do termo no Dicionário Aulete: “aquilo que é do tempo atual”. Mais Fundamentos de Ritmo e Dança 40 especificamente, a corrente no sentido de calendário e hora no sentido horário. VOCÊ SABIA? A dança contemporânea exige uma abordagem da arte específica ao seu tempo, sendo definida mais pela forma como é percebida – por meio de certos insights, pontos de vista e considerações – do que por técnicas ou métodos específicos. Portanto, a melhor maneira de descrever a dança contemporânea é dizer que alguém dança contemporaneamente. Esse termo enfatiza um estilo ou técnica, mas concentra-se em como a arte é criada por meio dos sentimentos, percepções e conhecimentos de alguém. Isso é feito por meio de movimentos, imagens e pausas – todos afetados pelo tempo (MURTA, 2014). De acordo com Siqueira et al. (2016), na dança contemporânea, os artistas isolam as partes do corpo e os movimentos em componentes menores. Isso torna a dança uma busca intelectual que exige que os dançarinos explorem seus corpos e outros corpos. Como resultado, os dançarinos trocam de papéis; os coreógrafos costumam pedir-lhes que participem na criação de suas performances. Consequentemente, os dançarinos são obrigados a realizar shows atléticos com muita habilidade e nuances artísticas. IMPORTANTE: A dança contemporânea usa corpos e movimentos de novas maneiras para explorar muitos temas e tópicos diferentes. Sua linguagem artística é muito mais metafórica do que qualquer outra linguagem de dança, usando unidades menores de percepção que são isoladas como ponto focal. Essa linguagem permite a multiplicidade por meio da abstração contida no tempo, permitindo diversas poéticas da dança que não se enquadram nas classificações tradicionais. Angel Vianna acredita que os artistas devem considerar como seu trabalho impactará a tradição da dança. Além disso, Vianna acredita que Fundamentos de Ritmo e Dança 41 os espectadores da dança contemporânea devem entender os processos que os artistas usam para criar seus trabalhos. Artistas desse gênero são essencialmente pesquisadores quando trabalham pesquisando seus corpos, permitindo que os artistas preencham seus trabalhos com estudos e referências. Na dança, os objetivos são a observação, a investigação, a experimentação, a reflexão e a expressão. O corpo é o principal objeto de estudo e expressão. Ao tornar esses objetivos indissociáveis do fazer, sentir e refletir, a linguagem corporal tornou-se privilegiada (SIQUEIRA et al., 2016). A dança na era contemporânea envolve mais do que apenas arte, abrange a reestruturação do tempo e do espaço. A dança também pode conter novas perspectivas sobre o comportamento artístico, social e comportamental. Isso porque a arte pode ser expressiva de uma forma extraestética, que está diretamente envolvida com a revelação de circunstâncias e valores sociais, o que também pode ser visto como uma forma de expressão que não é baseada em roteiros fictícios (SIQUEIRA et al., 2016). Danças tradicionais Na dança tradicional, é importante mencionar que, em muitos relatos históricos, a dança faz parte de nossas vidas desde os tempos pré- históricos. No período Paleolítico, as pessoas acreditavam que a dança poderia controlar o clima, os ventos e até suas caçadas. A primeira figura cientificamente comprovada de um homem dançando tem 14 mil anos, sendo isso durante o período Paleolítico. Desde o período Neolítico em diante, as danças populares tradicionais são de natureza religiosa. Durante esse tempo, as pessoas costumavam dançar para agradecer aos deuses por boas colheitas ou outras bênçãos. Além disso, muitas vezes, as pessoas adoravam divindades específicas por meio da dança ouformavam conexões espirituais com entidades divinas. Essas relações entre dança e religião são praticadas desde os primórdios da humanidade (MENDES, 2017). Fundamentos de Ritmo e Dança 42 IMPORTANTE: A dança é muito mais do que uma visão transparente do Divino ou uma janela aberta para o Divino. Também não é apenas um lembrete vívido do Divino; é um evento visível no espaço e no tempo que fornece um sinal para algo invisível. Segundo Mendes (2017), os elementos culturais de um país constituem a cultura popular, na qual cada país reflete o caráter da cultura e pode contar muito sobre sua história. EXEMPLO: A cultura popular do Brasil contém muitos elementos culturais diferentes refletidos em suas danças. Estas refletem a multiplicidade do país e podem ser observadas nas seguintes formas de expressão cultural: festas folclóricas, literatura de cordel, artesanato, contos, capoeira, sambas, fábulas, cantigas de roda, festa junina, MPB, frevo, superstições, lendas urbanas, entre outras expressões culturais. Figura 19 – Frevo Fonte: Wikimedia Commons. A cultura do Brasil é muito influenciada por sua dança popular tradicional. Existem muitas formas dessa dança, incluindo samba de roda, Fundamentos de Ritmo e Dança 43 maracatu, xaxado e frevo. Essas danças são fortemente apresentadas durante o período do Carnaval. Figura 20 – Carnaval Fonte: Freepik . Durante esse período, eles são exibidos com destaque nas emissoras de televisão de maneira monumental. Uma dessas danças é o samba, que é conhecido em todo o mundo. Outra dança culturalmente significativa é o bumba meu boi, que é tipicamente realizado no Norte do Brasil. Além disso, há catira, reisado e cabaçais do Cariri. Essas danças podem ser identificadas em todo o país – até mesmo em Parintins, que é a cidade-sede do grande festival cultural do bumba meu boi (MENDES, 2017). As danças tradicionais representam estilos habituais que sempre foram usados. Como as coisas tradicionais não podem ser completamente mudadas, essas danças mantêm o mesmo estilo de sempre. Diferentes culturas têm estilos de dança tradicionais distintos. Cada cultura lembra seu passado em suas danças, que também respeitam suas tradições. Fundamentos de Ritmo e Dança 44 VOCÊ SABIA? A dança tradicional abrange uma ampla gama de estilos e tradições. Alguns exemplos são as festas juninas, balé, forró e danças indígenas. Tudo isso reflete a tradição artística de alguma forma. Para entender uma dança tradicional, é necessário comparar diferentes estilos de dança. Isso permite determinar se a performance representa uma tradição de um determinado local ou grupo. A forma como um traje de dança tradicional reflete a cultura e ajuda a caracterizar a dança. Como as danças tradicionais eram comumente praticadas em uma determinada cultura, seus trajes sempre fazem referência a ela. O Brasil tem muitas formas de arte representadas em todo o país. Alguns estilos de dança tradicionais são populares em toda a região, embora outros tenham um público mais amplo. Os brasileiros estão muito familiarizados com os estilos de música conhecidos como forró, samba, axé e baião. Como essas danças usam músicas mais animadas que fizeram sucesso no país, elas se tornaram culturalmente arraigadas no Brasil. Fundamentos de Ritmo e Dança 45 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido sobre os estilos de dança, contemporâneo e tradicionais. Nas danças contemporâneas há uma grande variedade de estilos e gêneros diferentes. Como a dança contemporânea não contém movimentos previsíveis, também é chamada de “dança abstrata”. Cada dançarino determina o próximo passo na dança. A constante evolução da dança contemporânea faz com que novos estilos e abordagens estejam sempre surgindo. Há um número infinito de possibilidades no gênero, e algo novo aparece o tempo todo. As danças tradicionais representam estilos tradicionais que sempre foram usados. Como as coisas tradicionais não podem ser completamente mudadas, essas danças mantêm o mesmo estilo de sempre. Diferentes culturas têm estilos de dança tradicionais distintos. Cada cultura lembra seu passado em suas danças, que também respeitam suas tradições. Fundamentos de Ritmo e Dança 46 O fenômeno cultural, social e artístico da dança OBJETIVO: Neste capítulo, vamos compreender o contexto social, cultural e artístico da dança. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Contexto social, cultural e artístico da dança A dança é um campo de conhecimento que tem sua particularidade, ou seja, possui suas características próprias, porém mesmo com um campo de atuação próprio, é uma combinação de saberes abordando aspectos históricos, tradicionais, contemporâneos, poéticos e políticos. Assim, a dança pode trazer questões sobre o ambiente ou a cidade, fantasia, tecnologia e muito mais (RENGEL; SCHAFFNNER; OLIVEIRA, 2016). Segundo Delazeri e Isse (2015), a dança configura-se como uma experiência cultural, discutindo a questão da dança indo além do ensaio ou movimentos escolhidos aleatoriamente, mas carregando história, tradição, marcadores culturais e significados, além de proporcionar uma experiência cultural ao público. Figura 21 – Dança cultural (maracatu) Fonte: Wikimedia Commons . Fundamentos de Ritmo e Dança 47 É possível identificar que o conceito de cultura da dança está intrínseco a danças tradicionais, isso porque estas são representações culturais de um lugar, região ou país, logo, são todas expressões culturais. A dança sempre fez parte da vida dos seres humanas, sendo em, muitas ocasiões, um ritual de gratidão para os deuses, como maneira de expressar sentimentos como raiva ou felicidade, ou mesmo como manifestação de conhecimento de acontecimentos que deixaram seus rastros. Na era dos povos primitivos, a dança era uma forma de as pessoas se comunicarem, bem como uma forma de se comunicar e se conectar com os deuses (DELAZERI; ISSE, 2015). Figura 22 – Dança para os deuses Fonte: Wikimedia Commons . IMPORTANTE: Essas celebrações caracterizam-se por uma ampla participação corporal, sendo as suas gentes representadas e os seus sentimentos e emoções expressos por meio da dança. Não havia busca pela forma de dança correta no momento, e nenhuma preocupação com a performance ou qualidade do movimento (DELAZERI; ISSE, 2015). Fundamentos de Ritmo e Dança 48 A dança é bastante comum no cotidiano das pessoas, e o momento de dançar não é diferente de nenhum outro momento atualmente. A dança ocorre em situações de raiva, medo, alegria, sacrifício aos deuses. Não existe, hoje, um espaço ou tempo para dançar, no qual todos param e curtem o espetáculo. A dança tem muito a ver com o modo como os indivíduos se expressam (DELAZERI; ISSE, 2015). Figura 23 – Dança no dia a dia Fonte: Pixabay . IMPORTANTE: Em uma época em que a importância dos paradigmas é colocada na moralidade, ou seja, atitudes que orientam o comportamento moral impecável, propõe-se a dança como um campo de conhecimento que pode sensibilizar e estimular o intelecto criativo dos cidadãos, tanto moral quanto esteticamente. Esses aspectos são a base da formação humana, focando mais no compartilhamento da diversidade do que na competição gerada pelo apego à insegurança, ganância e individualidade excessiva (RENGEL; SCHAFFNNER; OLIVEIRA, 2016). Fundamentos de Ritmo e Dança 49 Ao considerar a dança no contexto do ensino, vale lembrar que existem sempre inúmeros contextos, e isso não é exceção quando se fala em pedagogia da dança. Isso pode acontecer em diferentes cenários, sejam eles formais ou informais, ou seja, institucionais ou não institucionais, sendo relevante reconhecer a função dos educadoresno processo de ensino-aprendizagem (MOURA, 2016). Segundo Carmo e Padovan (2015), a dança é utilizada como ferramenta cultural de transformação social, proporcionando ao ser humano o crescimento do caráter, agregando traços que tornam o indivíduo mais tolerante, sensível, criativo e imparcial. Ainda, a dança é vista como sendo um fenômeno social que existiu ao longo da história a ponto de, segundo Moura (2016), em todas as suas etapas – do primitivo ao moderno – caracterizar a idade e a extensão da sociedade, econômica, cultural, política e religiosa, com desenvolvimentos que concretizam as tecnologias, valores e significados das civilizações em que existem, questionam e documentam seus contextos históricos, refletindo e revivendo os fatos das pessoas do mundo e os sentimentos do mundo por meio de representações da experiência humana. IMPORTANTE: A influência da dança configura-se como um campo com leis próprias e funções específicas, demonstrando todo o potencial como um fenômeno da sociedade no processo de transformação e renovação, bem como do sentido social. Ao mesmo tempo, a dança é apresentada como um sistema de código coerente que coexiste e alcança conexões contínuas com outros sistemas de conhecimento e prática no mundo. Fundamentos de Ritmo e Dança 50 Figura 24 – Conexões na dança Fonte: Freepik . O ambiente de ensino proporciona um espaço de comunicação em dança, aproximando interlocutores. As instituições formais de ensino (escolas ou universidades) são ambientes propícios ao diálogo e à construção de novos conhecimentos pedagógicos. Assim, cada interlocutor é atravessado por saberes únicos e experiências diferentes (MOURA, 2016). REFLITA: Então, como acontece essa conexão de saberes? A sobreposição cognitiva que ocorre na comunicação entre os sistemas gera uma dinâmica limítrofe de diálogo entre os saberes disciplinares, que, por sua vez, cria uma área de trânsito de saberes híbrido (MOURA, 2016). Contemplando sobre dança no sentido social, retornamos às suas origens e à sua evolução, que registra e expressa seus momentos históricos por meio de movimentos, sendo considerada a primeira manifestação física da emoção humana. Todos compreendem a importância do corpo humano, principalmente a necessidade do corpo de desabafar, relacionar-se Fundamentos de Ritmo e Dança 51 consigo mesmo, com os outros e até com o ser supremo, e entendem a capacidade ilimitada do corpo humano de se mover, criar, desenvolver em movimento, no campo emocional e cognitivo. Assim, certamente, cultivaram a dança como meio de expressão da identidade cultural, comunicando, educando, distinguindo-se e aperfeiçoando-se, possibilitando buscar o caminho da autorrealização (SILVA, 2009). IMPORTANTE: Essa arte foi manifestada em diferentes épocas, diferentes objetivos e diferentes formas ao longo de sua evolução, tais como: dança sacra, dança popular, dança dramática etc. Foi usada por várias civilizações em distintos períodos, dando seus diferentes significados (SILVA, 2009). Assim, percebe-se que as pessoas usam formas de arte para expressar-se e também comunicar-se, sendo a dança a arte completa, reunindo todos os outros vínculos artísticos, como música, pintura, escultura, drama e, ao mesmo tempo, transforma o estado emocional do indivíduo por meio do movimento físico, acompanha a evolução do ser humano e proporciona escolhas autônomas para sua própria expressão espontânea e comunicação autêntica com os outros (SILVA; MEDEIROS; MARCHI JÚNIOR, 2012). Logo, ainda segundo Silva, Medeiros e Marchi Júnior (2012), o desafio provocativo de mostrar os papéis sociais e expressar as relações na sociedade, para que o homem e a dança evoluíssem juntos no movimento, na emoção, na arte de expressar a forma e transformando a sociedade. VOCÊ SABIA? De maneira estética, a dança pode ser visualizada como uma maneira de expressão artística, sendo capaz de expressar emoções fortes e simples sem o auxílio das palavras, pois é capaz de expressar tudo (SILVA; MEDEIROS; MARCHI JÚNIOR, 2012). Fundamentos de Ritmo e Dança 52 Segundo Silva (2009), a dança é uma maneira de expressão de arte que perdura há milhares de anos, adapta-se às mudanças da sociedade e é praticada por diferentes grupos étnicos. Em seu desenvolvimento, ajuda a estabelecer padrões estéticos e comportamentais para as diferentes classes sociais, fortalece a distinção entre classes dominantes e é um canal para a superação das limitações humanas. Como fenômeno social, mostra potencial na renovação, transformação e sentido do ser humano e das sociedades. Levando em consideração a dança no sentido artístico, é impossível explicar as infinitas questões e saberes que esse eixo pode suscitar, pois a arte é um amplo campo de conhecimento que permeia diferentes aspectos da vida, sua complexidade e variedade. Outro aspecto importante a destacar é que, embora as discussões sejam mais limitadas à dança em um contexto artístico, essas discussões não estão isoladas, pois o conhecimento se retroalimenta e se contamina. Não é por acaso que este presente texto pressupõe o desenvolvimento criativo, sendo ainda um processo de ensino-aprendizagem. Todos nós improvisamos em um ou alguns momentos de nossas vidas, e a improvisação acaba sendo recorrente na vida de qualquer disciplina, afinal, estamos sempre em busca de estratégias imediatas para resolver problemas. No campo da arte, a improvisação é cada vez mais uma estratégia de expansão do repertório de um artista e, em muitos casos, a própria improvisação é entendida como um objeto artístico (MOURA, 2016). VOCÊ SABIA? No amplo campo da comunicação, existem distinções linguísticas e não linguísticas. Quando se trata de dança, as pessoas entram em linguagem não verbal ou comunicação não verbal, e seu corpo humano é um elemento essencial do campo (MOURA, 2016). Como outras formas não verbais de comunicação, a dança é uma forma primitiva de expressão que se tornou mais complexa, principalmente Fundamentos de Ritmo e Dança 53 devido à sua especialização como expressão da cultura, fazendo parte de uma complexa rede de relações sociais, interligadas por diferentes esferas da vida (MOURA, 2016). VOCÊ SABIA? Tem sido sugerido que o corpo é o meio pelo qual o ser humano sente e se comunica, entrelaçando os sentidos com a razão, sendo por meio do corpo que a expressão é melhorada. Um grande potencial de expressão ocorre através do corpo humano, bem como de outros modos de comunicação. Nesse sentido, dificilmente há um dia em que o corpo transmita tudo sobre si mesmo, exprima todos os sentimentos possíveis, havendo sempre novas expressões, pessoas, ideias e formas diferentes de comunicação. De acordo com Delazeri e Isse (2015), a dança não é só movimento, pois traz várias sensações. Por meio da dança, você pode demonstrar cultura e expressar sua experiência através de movimentos corporais, sendo uma forma elaborada de movimento que proporciona uma representação da cultura do povo. Portanto, mostra que reflete os costumes e hábitos de uma determinada sociedade. IMPORTANTE: Com relação à dança nos contextos socioculturais, se a dança é uma forma de ser, então, cada um de nós tem a sua dança e o seu movimento, original, único e diferente e, a partir daí, a dança e esse movimento evoluem para uma forma de expressão em que as pessoas possam compreender a busca da individualidade na comunidade humana. Ainda segundo Delazeri e Isse (2015), nesse coletivo, quando pensamos a dança como reflexo do corpo dançante e, portanto, imerso no corpo da sociedade, perspectivas de diferença baseadas no complexo de inferioridade também podem ser percebidas, em que pessoas insuficientemente qualificadas para atender a padrões padronizados de Fundamentos de Ritmo e Dança 54 competitividade são diferentes devido às características físicas, condiçõesde moradia e relações raciais. Assim, a dança abre espaço também para as pessoas com necessidades especiais. Atualmente, há uma crescente participação dos indivíduos portadores de necessidades especiais nos processos artístico-educativos, nos quais essa integração dá ênfase não apenas à necessidade e à possibilidade desses praticantes participarem de tais processos, dando ênfase à concepção, aceitação e valorização de qualquer corpo, sendo ele perfeito ou não, expressando-se mediante a dança e desfrutando de seus benefícios (SILVA; MEDEIROS; MARCHI JÚNIOR, 2012). VOCÊ SABIA? A grande prova de que isso é perfeitamente possível é a existência de várias companhias, em âmbito nacional e internacional, constituídas por portadores de necessidades especiais nas mais variadas modalidades, como o balé clássico, dança contemporânea e a dança esportiva. Assim, a relação dessa arte com a deficiência trata-se de uma maneira extraordinária de exploração de possíveis habilidades físicas do corpo mediante ênfase cultural, confrontando com os significados ideológicos e também simbólicos. Abordando sobre a dança como experiência cultural, Delazeri e Isse (2015) afirmam que a cultura é uma coleção de informações cotidianas sobre uma sociedade. A cultura pode ser compreendida e expressa de diferentes maneiras, tanto verbais quanto não verbais. A cultura não verbal é entendida como a maneira com que alunos se vestem, se comportam e gesticulam. Na busca de uma definição de dança, Delazeri e Isse (2015) explicam que dançar é expressar a existência dos seres humanos como alternativa de construção de imagens e revelar a natureza do medo, do mistério e do risco, a mudança e a performance. A dança é o próprio corpo, retrato, espelho, mas também o reflexo dos outros corpos em meu corpo, dançando sozinho, dançando aos pares, novamente. Fundamentos de Ritmo e Dança 55 IMPORTANTE: Percebe-se que há uma ampla gama de ideias sobre o que é a dança, sendo esta colocada como uma expressão do risco e do medo, ou seja, por meio de movimentos e imagens daquilo que já vivenciamos e, para nós, isso é exemplificar esse sentimento. Ainda contemplando sobre o aspecto cultural da dança, Silva, Medeiros e Marchi Júnior (2012) afirmam que o corpo está ligado ao mundo, bem como aos atos culturais, porém tal relação permanece com atos individuais da sua cultura, transformando-se de acordo com as situações. Assim, os movimentos, mesmo que sejam pequenos ou involuntários, são carregados de significados biológicos e históricos de uma cultura coletiva e individual. O homem cultural é visto entre local, convencional, natural e universal, sendo necessário traçar uma linha divisória entre as dimensões humanas, sendo essa uma atividade muito difícil, pois tais linhas são entrelaçadas de forma contínua na vida cotidiana, nos movimentos diários. Silva, Medeiros e Marchi Júnior (2012) ainda discutem sobre a cultura e o corpo biológico, discordando da ideia de que a cultura é algo de fora, e um corpo biológico é algo de dentro. Assim, acredita-se que o interno e o externo estão interligados e utilizam a troca de informações entre o interno e o externo, ou seja, os aspectos biológicos e culturais estão sempre trocando informações e se misturando. Assim, existe o ser natural e biológico: o que existe de parecido em todos os humanos; o ser cultural; e o ser convencional. Ao afirmar que as características biológicas possibilitam que o indivíduo veja, sinta, cheire e escute, e as características de cultura que fornecem os cheiros desagradáveis ou não desagradáveis, bem como os sentidos tristes e alegres, pode-se dizer que a natureza e a cultura estão ligadas, complementando uma à outra. Assim, outro exemplo trata-se da capacidade biológica de sentir a dor, onde o limite da dor é distinto em cada indivíduo, pelas características culturais, sendo muito difícil ou mesmo impossível, na maioria dos casos, traçar uma linha na qual o biológico termina e, então, começa o cultural (SILVA; MEDEIROS; MARCHI JÚNIOR, 2012). Fundamentos de Ritmo e Dança 56 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido sobre os aspectos sociais, culturais e artísticos da dança, aspectos esses que se relacionam. Cultura, povos e arte são fenômenos presentes no mundo desde o início da humanidade. A sociedade, em sua formação, usou a dança como representação de seus costumes e crenças, o que a uma expressão cultural, como expressão artística que adapta-se às mudanças da sociedade e é praticada por diferentes grupos étnicos. Em seu desenvolvimento, ajuda a estabelecer padrões estéticos e comportamentais para as diferentes classes sociais, fortalece a distinção entre classes dominantes e é um canal para a superação das limitações humanas. Como fenômeno social, mostra potencial na renovação, transformação e sentido do ser humano e das sociedades. Levando em consideração a dança no sentido artístico, é impossível explicar as infinitas questões e saberes que esse eixo pode suscitar, pois a arte é um amplo campo de conhecimento que permeia diferentes aspectos da vida, sua complexidade e variedade. Fundamentos de Ritmo e Dança 57 REFERÊNCIAS A NOTÓRIA Pina Bausch. Primeiro Ato, 2020. Disponível em: https:// primeiroato.com.br/blog/a-notoria-pina-bausch. Acesso em: 26 out. 2022. AIDAR, L. A história da dança ao longo do tempo. Cultura Genial, [20--]. Disponível em: https://www.culturagenial.com/historia-da-danca- ao-longo-do-tempo. Acesso em: 26 out. 2022. ASSIS, T. Angel Vianna, a bailarina de quase 90 anos. 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Fundamentos de Ritmo e Dança Trajetória histórica da dança A dança na história O significado socioantropológico da dança Os significados sociais e antropológicos da dança Estilos tradicionais e contemporâneos da dança Os estilos da dança: tradicionais e contemporâneos Dança contemporânea Danças tradicionais O fenômeno cultural, social e artístico da dança Contexto social, cultural e artístico da dança
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