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Fundamentos de Direito
EDNA RAQUEL HOGEMANN
1ª Edição
Brasília/DF - 2023
Autores
Edna Raquel Hogemann
Revisora
Solange Moura
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4
Introdução ..............................................................................................................................................................................6
Capítulo 1
Elementos Iniciais Fundamentais ao Estudo do Direito ..................................................................................9
Capítulo 2
Fundamentos do Direito Constitucional ............................................................................................................. 23
Capítulo 3
Noções de Direito Administrativo ......................................................................................................................... 39
Capítulo 4
Introdução ao Direito do Trabalho e ao Direito da Seguridade Social .................................................... 57
Capítulo 5
Introdução ao Direito Ambiental e ao Direito do Consumidor ................................................................... 71
Capítulo 6
Elementos de Direito Civil e Direito Empresarial ........................................................................................... 84
Referências ........................................................................................................................................................................113
4
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e 
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros 
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, 
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, 
a fonte primária sobre um determinado assunto.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
5
ORgANIzAçãO DO LIvRO DIDáTICO
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Gotas de Conhecimento
Partes pequenas de informações, concisas e claras. Na literatura há outras 
terminologias para esse termo, como: microlearning, pílulas de conhecimento, 
cápsulas de conhecimento etc.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
6
Introdução
Olá!
Seja bem-vindo à disciplina Fundamentos de Direito.
Os alunos que ingressam nos diversos cursos superiores, muitas vezes, ainda não tiveram 
contato com noções que dizem respeito especificamente ao mundo do Direito. Não 
conhecem expressões básicas como “normas jurídicas”, “ordenamento jurídico” e talvez 
não tenham ouvido falar dos “princípios fundamentais do Direito” ou em “como dotar 
de segurança e equilíbrio os negócios jurídicos”. 
Em geral, o mundo do Direito é como uma nova região a ser explorada e conhecida 
em todas as suas particularidades. Assim, a presente disciplina se propõe a fornecer 
as chaves que o auxiliará a abrir as portas para diversas regiões do mundo do Direito, 
ao trazer noções fundamentais para a compreensão do universo jurídico, referindo-se 
a vários conceitos científicos utilizados nos diversos ramos do Direito, com objetivos 
pedagógicos.
Ao longo das aulas, vamos tratar de assuntos relativos aos fundamentos básicos do Direito 
e, logo a seguir, conheceremos o Direito Constitucional, ramo do Direito Público o qual 
estuda os princípios e normas formadores da estrutura do Estado e que são garantidores 
dos direitos e liberdades individuais de todos os indivíduos de um mesmo Estado. 
Seguiremos pelas trilhas do Direito Administrativo até chegar a um tema constante da 
nossa sociedade capitalista, fundada no trabalho e nas relações dele decorrentes: vamos 
falar sobre Direito do Trabalho, também conhecido como Direito Laboral, e seguiremos 
até o Direito da Seguridade Social, cada dia mais relevante numa sociedade cujo signo 
maior deve ser o da solidariedade.
A relevância da sustentabilidade também será objeto de nossos estudos, porque 
aportaremos na estação do Direito Ambiental e vamos aproveitar esse momento especial 
para fazer uma conexão com o Direito do Consumidor, disciplina jurídica dos tempos 
atuais, que decorre de múltiplos fatores, entre os quais a massifficação do consumo.
Por fim, seremos apresentados a duas áreas muito especiais do Direito, a saber, o Direito 
Civil e o Empresarial. Claro que não ficaremos especialistas em todas essas matérias, mas 
teremos a oportunidade de conhecer os fundamentos básicos delas e alguns aspectos 
muito relevantes para a gestão.
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INTRODuçãO
O aluno terá a oportunidade de se deparar com novas perspectivas a partir das nossas 
discussões. Comece, desde já, a explorar o material especialmente disponibilizado, 
incluindo os textos e o material audiovisual.
Mas não se afobe: nossa sugestão é que você organize seu tempo para ler o material 
com calma, realizar as atividades e assistir às videoaulas dentro de prazo estabelecido. 
Caso tenha alguma dúvida, você pode (e deve!) consultar o professor tutor da disciplina.
Objetivos
 » Abordar a relevância da disciplina Fundamentos de Direito, constante na grade 
curricular dos cursos de licenciatura.
 » Orientar os estudantes na compreesão dos diversos ramos do Direito selecionados 
para apreciação, em seus aspectos basilares e práticos.
 » Refletir acerca dos aspectos principiológicos fundamentais dos diversos ramos 
do Direito estudados no sentido de conferir lastro a futuras ponderações sobre 
as matérias.
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Introdução
Tendo em conta o compromisso de nosso curso em preparar o aluno para desenvolver 
uma performance profissional correspondente às novas demandas e exigências cada 
vez mais sofisticadas do mercado de trabalho na área de Gestão de Recursos Humanos, 
apresentamos esta disciplina, que lhe possibilitará uma visão ampla e variada dos 
mais diversos aspectos do Direito que possuem relação com o fazer do gestor de 
recursos humanos.
Iniciaremos fornecendo ao aluno os elementos os quais lhe possibilitarão compreender 
o que é Direito e qual é a importância deste em nossa sociedade, bem como a função 
social desempenhada pelo Direito na prevenção e solução dos conflitos.
A partir dessa compreensão, avançaremospara estabelecer a necessária distinção 
entre moral e direito, conhecer as diversas fontes de produção de conhecimento do 
Direito e obter noções fundamentais a respeito da teoria geral da norma jurídica e 
do ordenamento jurídico. 
Terminaremos este Capítulo conhecendo a estrutura do Poder Judiciário.
Objetivos
 » Conhecer a relação entre o Direito e a sociedade.
 » Distinguir os conceitos jurídicos fundamentais.
 » Diferenciar os dois grandes sistemas jurídicos, o Common Law e o Civil Law.
 » Identificar as diversas fontes de produção de conhecimento do Direito.
 » Reconhecer a estrutura do Poder Judiciário brasileiro.
1
CAPÍTULO
ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS 
AO ESTuDO DO DIREITO
10
CAPÍTULO 1 • ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO
1.1 A sociedade e o Direito
O Direito se revela como fato ou fenômeno que só existe na sociedade e não pode ser 
concebido fora dela, por isso é um fato social. 
O propósito dele é estabelecer padrões de conduta que colocam limites na ação de 
cada um dos membros da sociedade.
Portanto, podemos considerar que o Direito é um conjunto de regras obrigatórias, 
com força coativa (impositiva) cujo propósito é garantir a convivência social. Então, 
podemos afirmar que ele é a regra de conduta estabelecida pelo grupo social a ser 
aplicada a seus membros, permite a coação em certas circunstâncias e é exercido 
pelo poder competente.
1.1.1 A função social do Direito
Consideramos o Direito como um conjunto de normas cuja finalidade é disciplinar e 
organizar a vida em sociedade, solucionando os conflitos de interesses e promovendo 
a justiça.
Como observa o jurista Miguel Reale (2013):
Aos olhos do homem comum, o Direito é lei e ordem, isto é, um conjunto 
de regras obrigatórias que garantem a convivência social graças ao 
estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros. Assim 
sendo, quem age de conformidade com essas regras comporta-se direito; 
quem não o faz, age torto. 
Em relação à função social do Direito, na verdade são funções: prevenir e solucionar 
conflitos, regulamentar e orientar a vida em sociedade e legitimar o poder político 
e jurídico. A existência das normas de Direito oferece o que se costuma denominar 
“segurança jurídica”, a fim de evitar que o conflito se instaure. Mas, caso o conflito 
seja inevitável, o Direito atua para solucioná-los ou restaurar o estado anterior. 
Inicialmente seria, então, um instrumento de coerência e de estabilização, oferecendo 
ou impondo regras de conduta para a decisão que o caso requer. 
Mas atenção! A simples existência das normas de Direito não consegue fazer com que 
os conflitos desapareçam, porque são inerentes à sociedade. 
O conjunto das normas de Direito orienta o comportamento social, procurando evitar 
que surjam conflitos. A maneira persuasiva das normas jurídicas está estruturada na 
forma de modelos normativos do sistema jurídico. Visto assim, o Direito se apresenta 
como organizador da vida em sociedade e instrumento de prevenção de conflitos. 
11
ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO • CAPÍTULO 1
Além disso, ele tem por obrigação organizar o poder da autoridade que decide os conflitos 
(aplicando as normas), legitimando os órgãos e os instrumentos humanos de realização 
do próprio Direito e estabelecendo normas de competência e de procedimento.
1.2 O Direito e a moral
Vamos agora conversar um pouco sobre um assunto muito importante para quem 
quer conhecer os fundamentos do Direito: a relação entre Direito e moral.
Imagine duas situações distintas: 
 » Situação 1: você tem um grande amigo, desde a infância. De repente, descobre 
que esse amigo fala muito mal de você pelas suas costas. Ele é seu melhor amigo, 
não deveria agir assim em relação a você. Isso é uma questão moral. Você pode 
se aborrecer com ele, ficar triste, dizer a ele que não proceda mais assim. E só.
 » Situação 2: você trabalha com carteira assinada e ganha mais de R$ 28.500 por 
ano. Então, deve fazer declaração de imposto de renda e pagar impostos, caso 
seja devido. Mas você acha injusto ter de pagar tributos, porque, na sua opinião, 
salário não é renda. Isso é uma questão de Direito, prevista em lei. Ainda que 
você não queira, terá de pagar o imposto, senão sofrerá as sanções previstas na 
norma.
Analisando os exemplos, podemos concluir que o dever moral (não trair o amigo) não 
é exigível por ninguém, reduzindo-se a dever de consciência, ao “tu deves”. Por outro 
lado, o dever jurídico (pagar o imposto de renda) deve ser observado sob pena de o 
devedor sofrer os efeitos da sanção organizada, aplicável pelos órgãos especializados da 
sociedade (no caso, a Receita Federal). Assim, no Direito, o dever é exigível, enquanto 
a moral não o é.
1.2.1 Norma moral x norma jurídica
O Direito, apesar de basear-se em alguns parâmetros morais importantes, cobertos 
por sanções ativas, as quais são aplicadas por órgãos estatais, tem campo mais amplo 
que a moral, pois regula também matéria técnica e econômica que não tem aspectos 
morais envolvidos, por exemplo, o horário de funcionamento bancário. Mas, é 
importante ressaltar, o jurídico não está a salvo de julgamentos éticos. Direito e moral 
se encontram no Direito Privado e no Direito Penal. Neste, regras morais (de caráter 
religioso), como é o caso de não matar, não roubar, respeitar os mortos, os túmulos, 
12
CAPÍTULO 1 • ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO
o culto e os símbolos sagrados, são impostas em normas previstas por ele. De igual 
modo, as normas de Direito Privado (Direito Civil) também refletem essa influência, 
como no Direito de Família.
Os campos da moral e do Direito entrelaçam-se e interpenetram-se de diversas 
maneiras. As normas morais tendem a converter-se em normas jurídicas, como 
sucedeu, por exemplo, com o dever do pai de velar pelo filho, e com a indenização 
por acidente de trabalho. 
1.2.2 Direito Natural x Direito Positivo
O Direito Natural é o ordenamento ideal, correspondente a uma justiça superior 
e suprema. Para a corrente jusnaturalismo (jus = direito), além do direito escrito 
(positivo), há uma ordem superior, que é a do direito justo.
A teoria do Direito Natural é muito antiga, estando presente na literatura jurídica 
ocidental desde a aurora da civilização europeia. 
O Direito Natural não é escrito, não é criado pela sociedade, nem é 
formulado pelo Estado. [...] É um Direito espontâneo, que se origina da 
própria natureza social do homem e que é revelado pela conjugação de 
experiência e razão. É constituído por um conjunto de princípios, e não 
de regras, de caráter universal, eterno e imutável (NADER, 2014, p.147).
Surge assim a diferença entre Direito Positivo e Direito Natural. O primeiro é o 
ordenamento jurídico em vigor num determinado país e numa determinada época; 
o segundo, o ordenamento ideal, corresponde a uma justiça superior e suprema.
O jusnaturalismo atual vê o Direito Natural como um conjunto de princípios amplos, 
a partir dos quais o legislador deverá compor a ordem jurídica. Esses princípios têm 
a ver com o direito à vida, à liberdade, à participação na vida social, à igualdade de 
oportunidades, entre outros.
O Direito Positivo, assim denominado porque emana diretamente do Estado (do latim 
jus positum: imposto que se impõe), são as normas produzidas pelo aparelho estatal. 
É o direito escrito e posto para todos nós pelo Estado.
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ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO • CAPÍTULO 1
Figura 1. Comparação entre Direito Natural e Positivo.
Norma hipotética Fundamental
Constituição
Normas gerais:
leis, costumes, 
decretos, jurisprudências
Normas individualizadoras
decisões judiciais, negócios jurídicos
Fonte: elaborada pela autora.
Para os positivistas, “Não existe outro direito além do Direito Positivo”. Desse modo, são 
intransigentes diante do Direito Natural. Assim, para o positivista, a lei é em si o único valor.
Mas o Direito não é composto somentede normas, como deseja essa corrente filosófica. 
Além disso, as normas jurídicas apresentam sempre um significado, um valor social 
e ético a ser realizado. 
A lei, sem condicionantes valorativos, é uma arma para o bem ou para o mal.
1.2.3 Direito objetivo e Direito subjetivo
 » Direito objetivo: é formado por todas as normas jurídicas, as leis, que devem ser 
obedecidas rigorosamente por todos os indivíduos inseridos naquela sociedade 
que as adota. O seu descumprimento dá origem a sanções.
 » Direito subjetivo: também chamado facultas agendi (faculdade de agir), é o poder 
de exigir determinada conduta de outrem, conferido pelo Direito objetivo, pela 
norma jurídica. Então, podemos afirmar que é a situação jurídica, amparada por 
uma norma, segundo a qual alguém, a quem chamamos de “titular”, tem direito 
a determinado ato face a outro alguém, que terá um dever jurídico.
Elementos do Direito subjetivo
 » Sujeito: pessoa física ou pessoa jurídica;
 » Objeto: o bem jurídico sobre o qual o sujeito exerce o poder conferido pela 
ordem jurídica.
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CAPÍTULO 1 • ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO
1.3 Fontes do direito
A expressão “fonte” vem do latim fons, fontis, nascente, e denota tudo aquilo que 
origina, que produz algo. Portanto, a expressão “fontes do Direito” expressa, dessa 
maneira, as configurações pelas quais o Direito se apresenta na sociedade.
1.3.1 Common law x Civil law
Os sistemas jurídicos dos países ao redor do mundo geralmente se enquadram em 
uma das duas categorias principais: Common law e Civil law (sistemas de Direito 
comum e sistemas de Direito Civil). Existem aproximadamente 150 países que têm o 
que pode ser descrito como Civil law, enquanto há cerca de oitenta países que adotam 
a Common law.
A principal diferença entre os dois sistemas é que, nos países da Common law, a 
jurisprudência – na forma de pareceres publicados –, é de primordial importância, 
enquanto, nos sistemas da Civil law, predomina o Direito codificado (os Códigos). 
Mas essas divisões não são tão claras quanto parece. De fato, muitos países usam uma 
combinação de recursos dos sistemas Common law e Civil law. Compreender as diferenças 
entre esses sistemas primeiro requer uma compreensão de seus fundamentos históricos.
As origens históricas dos sistemas Common law e Civil law
A fonte original do sistema da Common law (anglo-saxão) está na monarquia inglesa, 
que costumava emitir ordens formais chamadas writs quando a justiça precisava ser 
feita. Como os writs não eram suficientes para cobrir todas as situações, os tribunais 
de equidade foram finalmente estabelecidos para ouvirem reclamações e elaborarem 
remédios apropriados com base em princípios equitativos retirados de muitas fontes 
de autoridade (como o Direito romano e o Direito “natural”). Como essas decisões 
foram coletadas e publicadas, tornou-se possível para os tribunais buscar opiniões 
precedentes e aplicá-las aos casos atuais. E assim o Common law (Direito comum) 
se desenvolveu. 
O sistema da Common law tem nas decisões judiciais uma importante fonte do Direito. 
Ele se apresenta como um Direito jurisprudencial, ou seja, é baseado em precedentes 
judiciários (judge-made-law), tendo a lei desempenhado papel irrelevante na sua evolução.
Os costumes do reino exerceram influência decisiva como importante fonte da Common 
Law. Os costumes são a principal fonte do Direito.
A Civil law remonta ao código de leis (Corpus Juris Civilis) compilado pelo imperador 
romano Justiniano, por volta de 600 d.C., com códigos legais, com raízes nessas leis 
(ou em outras) que se desenvolveram ao longo de muitos séculos em vários países, 
levando a sistemas legais semelhantes, cada um com seus próprios conjuntos de leis.
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ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO • CAPÍTULO 1
Como Portugal fazia parte do Império Romano, sofreu a influência desse sistema, que 
legou para nós por meio da colonização. 
O sistema da Civil Law tem a lei como principal fonte do Direito.
1.3.2 Fontes formais e fontes materiais
Quadro 1. Fontes do Direito.
FONTES
DO
DIREITO
DE PRODUÇÃO (MATERIAIS) Estado Sociedade 
DE CONHECIMENTO
(FORMAIS)
IMEDIATA
Lei
Princípios gerais de Direito
MEDIATA
Costumes
Jurisprudência
Doutrina
Fonte: elaborado pela autora.
 › As fontes materiais: são os fatos sociais, as próprias forças sociais criadoras do 
Direito. Constituem a matéria-prima da elaboração deste, pois são os valores sociais 
que informam o conteúdo das normas jurídicas. As fontes materiais não são ainda 
o Direito pronto, perfeito, mas, para a formação deste, concorrem sob a forma de 
fatos sociais econômicos, políticos, religiosos, morais. São elas que criam o Direito.
 › As fontes formais: são aquelas pelas quais se toma conhecimento do Direito. As 
fontes formais imediatas são aqueles fatos que, por si só, são geradores do Direito, 
por exemplo, as normas jurídicas (regras e princípios, ou seja, a “lei” em sentido 
amplo e os princípios gerais de Direito). As fontes formais mediatas são os costumes, 
os princípios gerais do Direito, a jurisprudência e a doutrina.
Conceitos
Lei: em sentido amplo, é a norma jurídica que inclui a lei propriamente dita (ordinária 
ou complementar), a medida provisória e o decreto. Ou seja, é a lei comum e obrigatória, 
elaborada pelo Poder Legislativo, no âmbito de sua competência (municipal, estadual 
ou federal).
Princípios gerais de Direito: princípios são normas jurídicas, não necessariamente 
escritas, que se apresentam, como diria o jurista Miguel Reale, como as “verdades 
fundantes” de todo o conjunto das normas em vigor, que recebe o nome de ordenamento 
jurídico. Princípios informam, orientam e inspiram todas as normas jurídicas em geral. 
Em determinado sistema jurídico, não se encontram apenas regras, mas também 
princípios, que podem estar ou não positivados, isto é, previstos na legislação.
16
CAPÍTULO 1 • ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO
Alguns exemplos: quando dizemos que ninguém deve ser punido por seus pensamentos 
ou ninguém está obrigado a fazer o impossível, estamos diante de clássicos princípios 
gerais de Direito.
Costume: é a prática social frequente de determinada conduta e considerada obrigatória. 
É uma regra não escrita que se introduziu pelo uso, com o consentimento tácito da 
sociedade, que admite a sua força como norma. Um exemplo clássico é o do cheque 
pré-datado, não previsto em lei, mas aceito por todos.
Saiba mais
VOCÊ SABIA?
O costume é a mais antiga e autêntica fonte de Direito.
Jurisprudência: é a coletânea de decisões uniformes proferidas pelos tribunais sobre 
determinado assunto jurídico.
O termo “jurisprudência” é usado para as decisões dos tribunais, e a expressão 
“precedente”, para as decisões de juízes de primeiro grau ou primeira instância.
Atenção
A Jurisprudência Vincula?
Nos Estados de direito codificado (Civil Law), a jurisprudência apenas orienta e informa, tendo autoridade científica, sem, 
no entanto, vincular os tribunais ou juízes de instância inferior.
A exceção da Súmula Vinculante decorre da Emenda Constitucional n. 45/2004, que adicionou o art. 103-A da Constituição 
de 1988. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus 
membros, após repetidas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa 
oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública.
Doutrina: é o direito resultante dos estudos realizados pelos pensadores destinados 
a sistematizar, esclarecer, adequar e trazer inovações ao Direito, concebendo e 
formulando novos institutos jurídicos.
1.3.3 Elementos de integração do Direito
O intérprete do Direito, ou seja, o julgador, não pode deixar as questões que chegam 
para sua apreciação sem resposta, e pode acontecer de, justamente para aquele caso 
concreto, não haver uma norma jurídica que se encaixe de formaespecífica. O que 
fazer? O juiz não pode se negar a julgar um caso sob a alegação de inexistência de 
norma para a solução do litígio. Deve procurar meios para basear sua decisão dentro 
do próprio ordenamento, por meio dos instrumentos de integração
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ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO • CAPÍTULO 1
Dentre os métodos sugeridos pelo próprio legislador, encontra-se a analogia, a qual 
pode ser utilizada para a constatação e suprimento das lacunas.
O que é analogia?
A doutrinadora Maria Helena Diniz (2019) nos ensina que a analogia consiste em 
aplicar a um caso não previsto de modo direto ou específico por uma norma jurídica 
uma norma prevista para uma hipótese diferente, mas parecida com o caso não 
contemplado, com base na identidade do motivo da norma, e não da identidade do 
fato. É necessário:
 » 1o o caso ser totalmente não previsto em lei; 
 » 2o existirem elementos semelhantes entre o caso previsto e aquele não previsto; 
 » 3o esse elemento deve ser essencial, e não um elemento qualquer, acidental.
1.4. Teoria geral da norma jurídica e do ordenamento 
jurídico
1.4.1 Conceito, estrutura lógica e características da norma jurídica
De acordo com o Direito Positivo, a norma jurídica é o padrão de conduta social imposto 
pelo Estado, visando a possibilidade de se estabelecer a convivência harmônica entre 
os indivíduos em sociedade. O doutrinador Paulo Nader (2014) a estabelece como a 
“conduta exigida ou o modelo imposto de organização social”. Para o professor Orlando 
Secco (2008), seria o conjunto de regras imperativas por meio das quais o Direito se 
revela para nós, e que instituem os padrões de comportamento ou de organização que 
são impostos de forma coercitiva aos indivíduos, destinando-se ao estabelecimento 
da ordem e da segurança da sociedade, de maneira harmoniosa.
1.4.2 Ordenamento jurídico e seus elementos constitutivos
As normas jurídicas não existem de forma isolada, não atuam de maneira solitária; 
elas se correlacionam e se implicam umas às outras o tempo todo, compondo um todo 
constante e organizado harmonicamente que recebe o nome de ordenamento jurídico.
Para o professor Miguel Reale (2013, p.123), esse ordenamento jurídico pode ser 
conceituado como 
[...] o sistema de normas jurídicas in acto, compreendendo as fontes de 
direito e todos os seus conteúdos e projeções: é, pois, os sistemas das 
normas em sua concreta realização, abrangendo tanto as regras explícitas 
18
CAPÍTULO 1 • ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO
como as elaboradas para suprir as lacunas do sistema, bem como as 
que cobrem os claros deixados ao poder discricionário dos indivíduos 
(normas negociais).
Uma questão importante do ordenamento jurídico é a plenitude deste. Ele não pode 
deixar qualquer conflito ou litígio que venha a abalar a segurança, a ordem e o equilíbrio 
sociais sem apontar solução. Por isso, contém possibilidade de suprir possíveis lacunas 
das fontes do Direito. Trata-se do princípio da plenitude do ordenamento jurídico 
que sempre busca em si mesmo as respostas para possíveis lacunas. 
1.4.3 Norma fundamental e poder constituinte 
O jurista austríaco Hans Kelsen concebeu uma teoria a respeito do ordenamento 
jurídico, que, para ele, formava um todo unitário. Para ele, as normas jurídicas estariam 
organizadas de maneira escalonada, pelo fato de as normas de um ordenamento jurídico 
não estarem no mesmo plano. Assim, existiriam normas superiores e inferiores.
Dessa forma, se subirmos a escala das normas, chegaremos a uma maior de todas, 
sobre a qual repousa a unidade do ordenamento. Essa norma, chamada de “norma 
fundamental”, faz das diversas normas inferiores e de diversas procedências um 
conjunto unitário chamado ordenamento.
Sem a existência dessa norma fundamental (hipotética), as outras seriam somente 
um amontoado. Por isso, por mais numerosas que sejam as fontes do Direito de um 
ordenamento complexo, todas as normas se referem a uma única norma. Existe, assim, 
uma estrutura hierárquica de normas, e esta pode ser representada na forma de uma 
pirâmide, a “pirâmide de Kelsen”.
Figura 2. Pirâmide de Kelsen.
DIREITO NATURAL
• O Direito Natural, pressuposto, é
anterior ao Estado, está na razão, no
elemento racional das pessoas.
• Tem validade universal e imutável (é
válido em todos os tempos).
• Está ligado a princípios
fundamentais, de ordem abstrata;
relaciona-se à noção de Justiça.
DIREITO POSITIVO
• O Direito Positivo é imposto pelo
Estado.
• Tem validade por determinado
tempo (vigência temporal) e sobre
um território.
• É um conjunto de normas jurídicas,
cujo fundamento é a estabilidade e
a ordem social.
Fonte: https://gabialcarpe.wordpress.com/2014/09/15/filosofia-juridica-3o-bimestre-2o-ano/.
19
ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO • CAPÍTULO 1
Quanto ao poder constituinte, temos que, como o professor português Manoel Gonçalves 
Ferreira Filho (1985) nos ensina: “o povo pode ser reconhecido como titular do Poder 
Constituinte, mas jamais quem o exerce. É ele um titular passivo, ao qual se imputa 
uma vontade constituinte sempre manifestada pela elite”.
O poder constituinte pode ser originário, quando se revela como poder criador, ao 
institucionalizar uma primeira constituição, ou derivado, quando previsto no próprio 
texto constitucional.
1.4.4 Direito como ciência
O jurista austríaco Hans Kelsen também teve o mérito de elevar o Direito à categoria 
de ciência, a ciência do Direito. O objeto de estudo da ciência jurídica são as normas 
jurídicas (e a conduta humana, mas somente na medida em que se revela conteúdo 
de normas jurídicas). Para esse autor, o Direito é uma ciência normativa, limitando-se 
ao conhecimento e à descrição das normas e às relações entre episódios constituídos 
por essas próprias normas.
1.5. Direito e justiça: a estrutura do Poder Judiciário 
A função do Poder Judiciário é garantir os direitos individuais, coletivos e sociais e 
resolver os problemas (conflitos) que surjam entre os cidadãos, as entidades e o Estado. 
Para tal, possui autonomia administrativa e financeira garantida pela Constituição 
Federal e o faz exercendo a jurisdição.
O que é jurisdição? 
É o poder que o Estado detém para aplicar o Direito a um determinado caso que lhe é 
submetido, para solucionar conflitos de interesses e, assim, proteger a ordem jurídica 
e a autoridade da lei. 
Saiba mais
VOCÊ SABIA? 
Jurisdição vem do latim “juris” e “dicere”, que significa “dizer direito”.
A jurisdição opera por meio dos juízes de Direito e dos tribunais regularmente 
investidos. É atividade do juiz, quando aplica o Direito, em um processo regular, 
mediante a provocação de alguém que exerce o seu direito de ação.
20
CAPÍTULO 1 • ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO
Figura 3. Organograma da estrutura do Poder Judiciário brasileiro.
Supremo 
Tribunal 
Federal 
STF 
Superior 
Tribunal de 
Justiça 
(STJ) 
Tribunal 
Superior 
Eleitoral 
(TSE) 
Tribunal 
Superior do 
Trabalho 
(TST) 
Superior 
Tribunal 
Militar 
(STM) 
Tribunais 
de Justiça 
(TJ) 
Tribunais 
Regionais 
Federais 
(TRF) 
Tribunais 
Regionais 
Eleitorais 
(ter) 
Tribunais 
Regionais do 
Trabalho 
(TRT) 
Tribunal de 
Justiça 
Militar 
(TJM) 
Juízes de 
Direito 
Juízes 
federais 
Juízes 
eleitorais 
Juízes do 
trabalho 
Juízes 
militares 
Fonte: http://queromeformaragora.blogspot.com/2013/08/dia-11-endireitando.html.
Supremo Tribunal Federal (STF)
Órgão máximo do Poder Judiciário do país. Sua principal função é zelar pelo cumprimento 
da Constituição e dar a palavra final nas questões que abranjam normas constitucionais. 
Tem onze ministros indicados pelo Presidente da República e nomeados por ele, após 
aprovação destes pelo Senado Federal.
Superior Tribunal de Justiça (STJ)
Abaixo do STF, temos o STJ, responsável por fazer uma interpretação uniforme da 
legislação federal. Tem 33 ministros, nomeados pelo Presidente da República, escolhidos 
numa lista tríplice elaboradapela própria Corte. Esses ministros do STJ também têm 
de ser aprovados pelo Senado, antes de serem nomeados pelo Presidente.
Justiça Federal
A Justiça Federal comum processa e julga aquelas causas em que a União, as autarquias 
ou empresas públicas federais são autoras, rés, assistentes ou oponentes – exceto 
aquelas relativas a falência, acidentes de trabalho e as inseridas no âmbito da Justiça 
Eleitoral e da Justiça do Trabalho. Tem juízes federais que atuam na primeira instância, 
21
ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO • CAPÍTULO 1
nos Tribunais Regionais Federais (segunda instância) e nos Juizados Especiais Federais, 
para as causas de menor potencial ofensivo e de pequeno valor econômico.
Justiça do Trabalho
Julga as causas individuais e coletivas entre trabalhadores e patrões. Tem juízes 
trabalhistas que atuam na primeira instância e nos Tribunais Regionais do Trabalho 
( TRT ), e ministros que atuam no Tribunal Superior do Trabalho ( TST ).
Justiça Eleitoral
Existe para garantir o direito ao voto direto e sigiloso, bem como para regulamentar os 
procedimentos eleitorais. Responsável por organizar, monitorar e apurar as eleições, 
também por diplomar os candidatos eleitos. Pode decretar a perda de mandato eletivo 
federal e estadual e julgar irregularidades praticadas durante as eleições. Os juízes 
eleitorais atuam na primeira instância e nos Tribunais Regionais Eleitorais ( TRE), e 
os ministros atuam no Tribunal Superior Eleitoral ( TSE), mas não são de carreira, são 
os juízes estaduais que acumulam as funções.
Justiça Militar
É uma justiça especial, composta por juízes militares que atuam em primeira e segunda 
instância, e por ministros que julgam no Superior Tribunal Militar (STM). Sua função 
é processar e julgar especificamente os crimes militares.
Justiças estaduais
A Justiça estadual está organizada em cada estado da Federação e no Distrito Federal. 
Nela atuam juízes de Direito (primeira instância) e desembargadores (nos Tribunais 
de Justiça, segunda instância). 
Sua função é processar e julgar qualquer causa que não seja da Justiça Federal comum, 
do trabalho, eleitoral ou militar. A Justiça estadual se divide pela organização judiciária 
fixando as competências das varas cíveis, criminais, empresariais, de família, juizados 
especiais cíveis e criminais etc.
Saiba mais
VOCÊ SABIA? 
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) integra a estrutura do Poder Judiciário. Foi criado pela Emenda Constitucional n. 
45/2004, da Reforma do Judiciário, e constitui um mecanismo do controle externo da administração da justiça no país. 
Promove a fiscalização e a supervisão de atividades administrativas internas do Judiciário.
22
CAPÍTULO 1 • ELEMENTOS INICIAIS FuNDAMENTAIS AO ESTuDO DO DIREITO
Sintetizando
Vimos até agora que:
 » o Direito é um fenômeno que só existe em sociedade e, portanto, junto com outras instituições, como a família, a escola e 
o Estado, cumpre uma função social.
 » o objeto de estudo da ciência do Direito é a norma jurídica.
 » existem normas que não são escritas, os costumes, e existem normas escritas, aquelas postas pelo Estado, as normas 
positivadas.
 » o Direito se manifesta na sociedade por meio de diversas fontes e, dentre todas, na nossa sociedade, a lei é a mais 
importante.
 » o Poder Judiciário é o responsável pela aplicação da lei nos casos concretos que lhe são submetidos.
23
Introdução
O Direito Constitucional é, tradicionalmente, um ramo do Direito Público responsável 
pelo estudo da organização do poder político, do Estado, da estrutura do Estado e 
dos direitos fundamentais, que controlam o exercício e o abuso deste poder que se 
encontra consagrado numa lei maior chamada Constituição.
Ao longo deste Capítulo, conheceremos como se iniciou esse processo e como se 
elabora uma Constituição, que pode se apresentar de diversas formas, bem como os 
princípios e direitos fundamentais nela consagrados.
Desde 1822, com o “7 de setembro”, símbolo da Independência, até os dias de hoje, já 
tivemos sete Constituições em nosso país, a saber: em 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 
1967 e 1988.
Dessas sete Constituições, quatro foram promulgadas por assembleias nacionais 
constituintes, ou seja, foram discutidas e votadas democraticamente; duas foram 
outorgadas, quer dizer, foram impostas – a de 1824, por D. Pedro I, e a de 1937 (apelidada 
de “Polaca”), pelo ditador civil Getúlio Vargas; e uma, a de 1967, foi “aprovada” pelo 
Congresso, mas por exigência do regime militar, responsável pelo golpe militar de 1964. 
Assim, na história dessas Leis Maiores de nosso país, há uma alternância entre regimes 
autoritários e democráticos, com a concernente correspondência no conteúdo (ora 
incluindo direitos e garantias, ora sonegando-os) e aprovação, ora impostas, ora 
aprovadas democraticamente.
Objetivos 
 » Identificar os fundamentos básicos do Direito Constitucional.
 » Reconhecer as diversas formas e concepções de Constituições.
 » Compreender a relevância do constitucionalismo nos marcos do Estado 
Democrático de Direito.
2
CAPÍTULO
FuNDAMENTOS DO DIREITO 
CONSTITuCIONAL
24
CAPÍTULO 2 • FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL
Saiba mais
VOCÊ SABIA?
O constitucionalismo, objetivamente, foi um movimento jurídico e filosófico surgido no século XVIII com as revoluções 
liberais burguesas, baseado na crença de que o poder político deve estar submetido à supremacia da lei, uma Lei Maior, a 
Constituição escrita.
2.1 Conceito de poder constituinte e formas de Constituição
A Constituição é um conjunto de normas jurídicas que determinam a ordem geral 
do Estado. Contra ela não se pode alegar direito adquirido. Então, afirma-se que é o 
código de leis máximas e fundamentais do país. A Constituição é o estatuto da nação 
que trata dos direitos da pessoa humana, tanto os individuais como os sociais, da 
organização do poder, da distribuição das competências, do exercício da autoridade 
e da forma de Estado e de governo.
Saiba mais
Segundo Hans Kelsen, grande jurista do século XIX, o ordenamento jurídico formaria uma verdadeira unidade que teria sua 
validade assegurada na Constituição. Abaixo da Constituição Federal, estariam os demais preceitos legais, cada qual com 
campos diversos: leis complementares, leis ordinárias, decretos-leis, medidas provisórias, leis delegadas, decretos legislativos 
e resoluções, além das normas internas da Administração Pública, como as portarias, circulares, ordem de serviço, que são 
hierarquicamente inferiores aos decretos.
Figura 4. Ordenamento jurídico.
Constituição 
Federal
Leis complementares
Leis ordinárias
Medidas provisórias e leis delegadas
Resoluções
Fonte: https://resumosparaconcursoro.blogspot.com/2013/09/direito-constitucional-1-nocoes.html.
25
FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL • CAPÍTULO 2
Por conseguinte, toda legislação deve ser elaborada conforme o disposto na Constituição, a Lei Maior, a Carta Magna que 
constitui cada nação.
Figura 5. Hans Kelsen.
Fonte: https://www.britannica.com/biography/Hans-Kelsen.
O jurista judeu Hans Kelsen nasceu em 11 de outubro de 1881, na cidade de Praga, região da Checoslováquia, atual República 
Tcheca, que, naquela época, pertencia ao então Império Austro-Húngaro (BOTELHO, 2005, p.98).
O maior objetivo de sua obra foi analisar e propor os fundamentos e métodos da teoria jurídica. O pensamento de Kelsen 
seria identificado com o intuito de atribuir à ciência jurídica objeto e métodos próprios, satisfatórios para vencer questões 
metodológicas e garantir ao jurista uma autonomia científica.
Em 1941, Hans Kelsen fugiu de Praga para escapar do nazismo e, a convite, ingressou na Universidade de Harvard (EUA). Em 
1943, tornou-se professor de Ciência Política da Universidade de Berkeley, onde permaneceu até falecer em abril de 1973, aos 
91 anos (BOTELHO, 2005 p.98).
O poder constituinte
Na primeira Aula, tivemos algumas noções a respeito do que vem a ser esse poder, 
quando aprendemos a respeito da norma fundamental,aquela norma hipotética que 
confere unidade e coerência a todo o ordenamento jurídico.
A ideia de poder constituinte surgiu no século XVIII com o teórico Emmanuel Sieyés, 
e é contemporânea à ideia de constituição escrita.
O poder constituinte, originalmente, emana do povo, que é seu titular, pois ele tem 
o poder soberano, mas não o exerce diretamente, conferindo-o, pelo voto, a seus 
representantes para que estes elaborem o texto constitucional. Nesse caso, ele é 
denominado poder constituinte originário.
Além disso, encontramos também o poder constituinte derivado, que pode ser 
reformador, revisor ou decorrente.
26
CAPÍTULO 2 • FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL
O poder constituinte derivado é o poder já previsto pelo legislador constituinte na 
própria Constituição pelo poder originário, objetivando ou prevendo, cautelarmente, 
legitimar a sua alteração caso seja necessário. 
Atenção
ANOTE AÍ!
Quem é legitimado para elaborar a Constituição?
Antes de tudo, o que é legitimidade? Legitimidade refere-se a todo comando que se reconhece como não arbitrário.
Vivemos em uma democracia em que o titular do poder soberano é o povo e o agente desse poder constituinte será a 
Assembleia Nacional Constituinte, eleita para elaborar a Constituição em nome do povo.
Processo histórico de construção das Constituições no mundo ocidental
 » Estado liberal: as primeiras Constituições surgiram em consequência da influência 
do Iluminismo (independência dos EUA, 1776, e Revolução Francesa, 1789). 
São dirigidas, inicialmente, ao Estado, e não ao cidadão. São individualistas e 
de pouca ação político-social. Controlavam só o Estado e não davam direitos e 
garantias aos cidadãos.
 » Estado Democrático-Social: depois da Segunda Guerra Mundial, as Constituições 
passaram a ser um complexo de normas, motivadas pelas relações sociais 
(econômicas, políticas e religiosas) com a finalidade de organizar e estruturar o 
Estado, voltado para o bem-estar geral (Welfare State), caso contrário não teriam 
razão de ser. Um bom exemplo é a nossa Constituição Federal de 1988.
 » Pós-moderna: atualmente, a ideia de Constituição se manifesta como um estatuto 
reflexivo que, por intermédio de certos procedimentos, do apelo a autorregulações, 
de sugestões no sentido da evolução político-social, permite a existência de uma 
pluralidade de opções políticas, a compatibilização dos dissensos, por meio da 
construção de rupturas, respeitando o conflito de interesses (Constituição da 
África do Sul).
Formas e concepções de Constituição
As Constituições podem ser classificadas quanto ao seu conteúdo, forma, origem, 
elaboração, extensão etc. 
27
FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL • CAPÍTULO 2
Figura 6. Classificação das Constituições.
CONTEÚDO
•Formal −
procedimentos
fixos para
alteração.
•Material −
brota
naturalmente.
FORMA
•Escrita.
•Não escrita −
textos
esparsos.
ORIGEM
•Promulgada −
legitimidade
popular.
• Outorgada −
imposta.
• Cesarista −
povo não
participa,
mas pode
modificar o
texto.
ELABORAÇÃO
• Dogmática −
regras
sistemáticas.
• Histórica −
elaborada aos
poucos.
EXTENSÃO
• Analítica −
inúmeros
tópicos.
• Sintética −
apenas
princípios
gerais.
Fonte: elaborada pela autora.
Por essas categorias, classifica-se a Constituição Brasileira de 1988 como formal, escrita, 
promulgada, dogmática e analítica.
Mas... aqui no Brasil, como tudo começou?
Em nosso país, no contexto pós-independência de Portugal, elaborou-se uma 
Constituição que, inicialmente, contemplou os interesses dos grandes fazendeiros, 
limitando os poderes do imperador. D. Pedro I reagiu a isso: ele dissolvei a Assembleia 
Nacional Constituinte, mandou prender os deputados e senadores e elaborou um texto 
constitucional que lhe agradou. Assim, nossa primeira Constituição, a de 1824, foi 
outorgada (imposta) e teve as seguintes caraterísticas: governo monárquico, autoritário, 
centralizado, quatro poderes (Legislativo, Judiciário, Executivo e Moderador – esses 
dois últimos a cargo do imperador) e tínhamos uma religião oficial (a católica). O 
Poder Moderador tornava o imperador um monarca quase absolutista. Ele era o chefe 
do Estado e da Igreja, e o Estado era confessional.
As Constituições pós-Proclamação da República
Com a Proclamação da República, os grandes latifundiários conseguiram finalmente 
ter uma influência no texto constitucional. A Constituição de 1891, promulgada, 
foi elaborada com base no modelo liberal norte-americano, instituiu a república 
federativa, o presidencialismo, o casamento civil e criou o Estado laico. Não há mais 
religião oficial. Retirou-se do Estado o dever de dar educação e saúde ao povo – afinal, 
os mentores desse texto foram os grandes latifundiários.
28
CAPÍTULO 2 • FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL
Em 1934, já na Era Vargas, a Assembleia Nacional Constituinte, convocada pelo Governo 
Provisório da Revolução de 1930, redigiu e promulgou a segunda Constituição republicana 
do Brasil. A nova Constituição, substituindo a Constituição de 1891, já obsoleta devido 
ao dinamismo e à evolução da política brasileira, foi promulgada para reformar 
profundamente a organização da República Velha e realizar mudanças progressistas, 
mas durou pouco, só três anos.
Em 1937, depois de um golpe, uma Constituição já pronta foi outorgada por Getúlio 
Vargas (conhecida como a “polaca”), transformando o presidente em ditador e o estado 
“revolucionário” em autoritário. Era o fim das liberdades democráticas. Esse texto 
constitucional representou um momento de forte mudança para o Brasil, pois se opunha 
ao liberalismo e alinhava o Brasil ao fascismo. A principal característica dele era a enorme 
concentração de poderes nas mãos do chefe, o presidente.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, também Vargas terminou sua atuação como político. 
No primeiro ano de governo do presidente Dutra, foi eleita a Assembleia Constituinte 
para elaborar a quarta Constituição da República, a qual foi promulgada em 18 de 
setembro de 1946. Era uma carta francamente liberal-democrática. O direito à liberdade 
de associação de classe, de pensamento e de expressão, bem com o direito de greve eram 
assegurados aos trabalhadores.
Em 1964, o Brasil sofreu um golpe militar e inúmeros Atos Institucionais (AI) e Atos 
Complementares foram baixados. Eles não tinham previsão constitucional, portanto 
eram inconstitucionais. Então, era necessário redigir uma nova Constituição que desse 
legitimidade aos atos praticados pela ditadura.
Tempos difíceis. . .
A Constituição brasileira de 1967 foi outorgada em 24 de janeiro e posta em vigor em 15 
de março do mesmo ano. A forma federalista do Estado foi mantida, todavia com maior 
expansão da União. 
Na separação dos Poderes, deu-se maior ênfase ao Executivo, que passou a ser eleito 
indiretamente por um colégio eleitoral. Alterou-se a estrutura do processo legislativo, 
surgindo o regime da legislação delegada e dos decretos-leis. Os direitos humanos 
existentes na Constituição de 1946 foram sonegados. Ela serviu para justificar legalmente 
o autoritarismo e o arbítrio político, incorporando os “atos institucionais” (o AI-5, de 
1968, foi o mais conhecido).
A retomada do processo democrático
Finalmente, depois de muita luta dos setores progressistas da sociedade brasileira, a 
população retomou as rédeas de seus destinos e da pátria; em 15 de maio de 1985, a 
29
FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL • CAPÍTULO 2
Emenda Constitucional n. 25 alterou dispositivos da Constituição Federal e estabeleceu 
outras normas constitucionais de caráter transitório, restabelecendo eleições diretas 
para presidente e vice-presidente da República. Era a consolidação do fim do arbítrio.
Em 1986, realizaram-se eleições para os governos dos estados e para o Congresso, que 
se constituiria como Assembleia Nacional Constituinte.
A nova Constituição Federal, promulgada em 1988, conhecida como “Constituição Cidadã”, 
refletiu os avanços ocorridos no Brasil, especialmente naextensão dos direitos sociais e 
políticos a todos os cidadãos e às minorias, consagrou direitos e garantias individuais, 
sociais e coletivos, inaugurou um verdadeiro Estado Democrático de Direito em nosso 
país. Alguns dizem que essa Carta seguiu uma longa tradição histórica brasileira já 
presente na Constituição de 1934 e na Constituição de 1946.
Assim, no contexto da nossa Constituição de 1988, a Federação, a República, o 
Presidencialismo e a Democracia são a forma de estado e de governo, o sistema de 
governo e o regime de governo, respectivamente.
Saiba mais
Vamos conhecer o Dr. Ulisses Guimarães, o “Senhor Diretas” ou “o Grande Timoneiro”
Dois processos foram de fundamental importância para recolocar nosso país no rumo da democracia: o primeiro foi o 
Movimento pelas Diretas Já, um movimento civil que reivindicava eleições diretas para presidente da república no Brasil 
ocorrido entre 1983 e 1984, pela proposta da Emenda Constitucional Dante de Oliveira, infelizmente derrotada pelo Congresso.
O segundo foi o da Assembleia Nacional Constituinte de 1987. Em ambos, destacou-se a figura do deputado Ulysses 
Guimarães (PMDB/SP). Foi a principal liderança das “Diretas Já” e presidiu a Assembleia Nacional Constituinte que deu 
origem à nossa atual Constituição, por ele denominada Constituição Cidadã, quando de sua promulgação, ocasião em que 
disse: “Declaro promulgado o documento da liberdade, da democracia e da justiça social do Brasil”.
2.2 A instituição do Estado Democrático de Direito e os 
princípios constitucionais
Vamos entender o advento do Estado Democrático de Direito.
Ao longo do desenvolvimento da concepção de Estado, distintas formas foram 
imaginadas com a finalidade de estabelecer a divisão territorial de poderes, desde 
o tradicional Estado Unitário, característico do Estado Absolutista, até a forma 
federativa de Estado que foi criada por ocasião da independência dos Estados Unidos 
da América, em 1776.
Baseada nas ideias de Montesquieu, autor da obra “De l’Esprit des Lois” (O Espírito 
das Leis), a criação do Estado norte-americano idealizou um novo sistema de governo, 
30
CAPÍTULO 2 • FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL
cujo nexo de construção era a separação de poderes como organismo de limitação 
do poder do Estado. 
Nesse sentido, a separação e a independência entre os poderes se transformam em 
elemento nuclear do presidencialismo.
Finalmente, no que diz respeito aos regimes de governo ou regimes políticos, aqui 
definidos como os diferentes modelos que garantem ou não a participação do povo na 
condução da vida política do Estado, temos a classificação em democracia ou autocracia.
A classificação em regimes políticos democráticos ou autocráticos está ligada à 
participação ou não do povo na formulação das políticas públicas, na decisão das 
questões essenciais do Estado, na legitimação do sistema jurídico e na produção 
legislativa constitucional e infraconstitucional. 
Assim, no contexto da nossa Constituição de 1988, a Federação, a República, o 
presidencialismo e a democracia são: a forma de estado, a forma de governo, o sistema 
de governo e o regime de governo, respectivamente.
Para refletir
No site Brasil Escola, está disponível um texto que discorre sobre o Estado Democrático de Direito. Vale conferir!
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/estado-democratico-direito.htm.
A separação de poderes é um instrumento necessário para limitar um possível poder 
abusivo por parte do Estado, sendo, por essa razão, em conjunto com a proteção dos 
direitos fundamentais, um dos apoios sobre o qual se sustenta o Estado Democrático 
de Direito.
Podemos, então, conceber que o Estado Democrático de Direito se refere a qualquer 
Estado que se dedica a garantir o respeito das liberdades civis de seus cidadãos, 
considerados enquanto tais, ou seja, o respeito por seus direitos humanos e por 
suas garantias fundamentais, pelo estabelecimento de uma proteção jurídica. Nesse 
estado de Direito, as próprias autoridades políticas estão sujeitas ao respeito e ao 
cumprimento das regras jurídicas.
Atenção
Aqui no Brasil, o Estado Democrático de Direito foi uma conquista dos brasileiros oriunda do fim da ditadura militar de 1964 
e da transição democrática, com o resgate da cidadania que culminou com a promulgação da Constituição Federal de 1988.
31
FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL • CAPÍTULO 2
Princípios fundamentais constitucionais
Assim como a ciência é gerada por princípios ou cânones, também a Constituição oferece 
princípios fundamentais, sem os quais não se pode interpretá-la de maneira alguma.
Observe a Lei
Constituição Federal de 1988
Título I
Dos Princípios Fundamentais 
Art. 1o. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, 
constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: 
I - a soberania;
II- a cidadania;
III- a dignidade da pessoa humana;
IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V- o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos 
desta Constituição.
Atenção
A importância da dignidade da pessoa humana
A dignidade humana é um valor/atributo essencial, próprio de cada pessoa, que se revela em cada um de maneira específica 
e em relação ao respeito da própria existência e das outras pessoas com as quais se relaciona. 
Conforme afirma o professor Rizzato Nunes (2009, p.25): “A dignidade humana é um valor já preenchido a priori, isto é, todo 
ser humano tem dignidade só pelo fato já de ser pessoa”. 
Assim, somos humanos porque temos dignidade e temos dignidade porque somos humanos. A dignidade é elemento 
essencial de nossa humanidade.
Reconhecer e respeitar a dignidade humana é obrigação constitucional.
2.3 Dos direitos e garantias fundamentais
Conhecer os direitos e garantias assegurados pela Constituição é essencial para o 
efetivo exercício da cidadania e para a organização da sociedade civil. 
Nosso livro didático apresenta a Constituição como instrumento basilar para a vida em 
sociedade, e esta deve ser lida por todos, com atenção, posto que todo o ordenamento 
jurídico deve estar em conformidade com os dispositivos constitucionais, caso contrário 
serão inconstitucionais.
32
CAPÍTULO 2 • FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL
2.3.1 Os direitos individuais constitucionais
O modelo de Estado que surgiu como consequência da queda da monarquia em 
decorrência da Revolução Francesa de 1789, de perfil burguês, foi um Estado liberal.
Esse modelo de Estado está associado ao Estado mínimo e às liberdades individuais, 
pois não se preocupa com a busca da igualdade material (de verdade) nem com a 
proteção dos hipossuficientes (mais fracos). Na verdade, ele não reconhece os direitos 
sociais como verdadeiros direitos fundamentais.
Por isso, o denominado núcleo essencial do Estado liberal é esse rol de direitos civis 
e políticos, tidos como elementos da primeira dimensão (para alguns, gerações) dos 
direitos fundamentais. 
Em resumo, o paradigma liberal só reconhece como direitos públicos subjetivos (dos 
sujeitos) as liberdades individuais e os direitos políticos. 
Liberdades individuais
Dizem respeito às liberdades individuais, como a de contratação, de consciência, de 
culto, a inviolabilidade de domicílio, a liberdade de reunião.
Direitos políticos
Direito de votar, de ser votado e de participar da vida política do Estado.
Observe a Lei
Constituição Federal de 1988 
Título II 
Dos Direitos e Garantias Fundamentais 
Capítulo I
Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos 
Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes:
 I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações,nos termos desta Constituição;
 II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; 
III- ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; 
IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
33
FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL • CAPÍTULO 2
V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; 
VI- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na 
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; 
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; 
VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as 
invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; 
IX- é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou 
licença; 
X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano 
material ou moral decorrente de sua violação; [...] (BRASIL, 1988).
Obs.: leia todos os incisos do art. 5o da Constituição para melhor conhecer seus direitos. 
2.3.2 As garantias constitucionais
As garantias constitucionais, ou remédios constitucionais, visam instrumentalizar a 
proteção de direitos pela via judicial.
A Constituição de 1967 citava os seguintes remédios constitucionais processuais, 
denominados garantias constitucionais:
 » mandado de segurança;
 » habeas corpus;
 » ação popular.
A atual Constituição Federal, inovando, criou o mandado de segurança coletivo, o 
mandado de injunção, o habeas data e estabeleceu que a ação popular protegeria 
também a moralidade administrativa.
Mandado de Segurança
O objeto do mandado de segurança é a correção de ato comissivo ou omissivo de 
autoridade marcado por ilegalidade ou abuso de poder (CF/1988, art. 5°, LXIX).
São pressupostos do mandado de segurança:
 » a existência de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou 
habeas data;
 » ato praticado por autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício 
de atribuições públicas.
34
CAPÍTULO 2 • FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL
Há um prazo de 120 dias para impetrar mandado de segurança em juízo após o 
referido ato de desrespeito ao direito líquido e certo do interessado. Se a parte titular 
do direito deixar passar o prazo ou se o direito dela não for líquido e certo, poderá 
usar ação judicial normal, pois o mandado de segurança é uma proteção rápida do 
referido direito. É a medida mais eficaz contra qualquer ilegalidade que possa atingir 
os direitos fundamentais do ser humano.
Mandado de segurança coletivo
Pode ser impetrado por partido político com representante no Congresso Nacional, 
por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e 
em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros 
ou associados (CF/1988, art. 5°, LXX).
Mandado de injunção
É utilizado diante da falta de alguma norma regulamentadora que inviabilize direitos 
e liberdades, nacionalidade, soberania e cidadania.
São pressupostos do mandado de injunção:
 » que o direito lesado esteja previsto na Constituição, ou seja, os acima citados;
 » que esses direitos se tornem ineficazes em razão de uma norma que os regulamente.
Habeas corpus
É um remédio para a proteção da liberdade de locomoção. Cabe sempre que alguém 
esteja privado ou ameaçado de ser privado de sua liberdade de locomoção, por violência 
ou coação, consequência de ilegalidade ou abuso de poder.
Configura-se abuso de poder quando a autoridade utiliza indevidamente o poder que 
possui ou quando alguém usurpa poder que não possui.
Qualquer brasileiro poderá impetrá-lo, mesmo sem advogado, em favor de qualquer 
compatriota ou estrangeiro, antes ou depois da ocorrência da coação ou da violência 
e é uma ordem dirigida contra o Poder Público.
Habeas data
Será concedido para:
 » assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, 
constante de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de 
caráter público;
35
FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL • CAPÍTULO 2
 » retificação de dados, quando não se prefira fazê-la por processo sigiloso, judicial 
ou administrativo (CF/1988, art. 5o, LXXII).
Ação popular
É o remédio constitucional que permite a qualquer cidadão eleitor obter a invalidade 
de atos ou contratos administrativos ilegais do Estado, ou de entidade da qual o Estado 
participe, lesivos ao patrimônio público.
É um instrumento de defesa dos interesses da coletividade cujo objetivo é tornar 
nulos os atos do Poder Público que venham a lesar o patrimônio público, das 
entidades autárquicas ou das sociedades de economia mista. Visa ainda, por expressa 
recomendação constitucional, à defesa da moralidade administrativa, do meio ambiente 
e do patrimônio histórico e cultural.
2.3.3 Dos direitos sociais
Esses direitos surgiram, originalmente, como consequência de enfrentamentos brutais 
entre trabalhadores e patrões, na Europa, na Rússia e nos Estados Unidos no início 
do século XX.
Os direitos econômicos e sociais dos indivíduos foram introduzidos no constitucionalismo 
brasileiro e se fizeram presentes, inicialmente, na Constituição de 1934 e depois na 
Constituição de 1946 (apresentadas na introdução deste Capítulo).
Contudo, o processo de redemocratização do Brasil, após vinte anos de regime militar 
ditatorial, que culminou na promulgação da Constituição de 1988, fez com que os 
direitos sociais fundamentais como um todo recebessem maior destaque.
Além de apresentar um extenso rol de direitos e garantias individuais (direitos civis 
e políticos), a Constituição de 1988 elenca uma série de direitos econômicos, sociais 
e culturais.
Desse modo, a atual Constituição possui um Capítulo dedicado aos direitos sociais, 
definidos em seu art. 6o: “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, 
o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a 
assistência aos desamparados na forma desta Constituição”.
Saiba mais
VOCÊ SABIA?
Além dos direitos sociais, a Constituição de 1988 possui, ineditamente, um capítulo próprio destinado à seguridade 
social, à ciência e tecnologia, à comunicação social, ao meio ambiente e aos indígenas, todos disciplinados no Título VIII 
– Da Ordem Social.
36
CAPÍTULO 2 • FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL
2.4 Da organização do Estado
A Constituição estabelece, como base de seu funcionamento, o sistema democrático, 
a forma federativa de Estado e a forma republicana de governo.
A forma republicana de governo é aquela que investe o chefe do governo de uma 
autoridade que não sofre controle parlamentar. 
Na República presidencialista, como é o Brasil, a chefia de Estado pertence ao 
presidente da República, eleito pelo povo, por voto direito, por prazo determinado 
pela Constituição. Os poderes dele como chefe de Estado incluem o comando das 
Forças Armadas e o controle sobre a política externa. 
A forma de Estado é a federativa, por se adotar a doutrina do federalismo, a qual defende 
a autonomia dos estados-membros dentro do Estado Federal. Mas essa autonomia 
não é total: o estado-membro tem autonomia econômica, administrativa e política, 
desde que observados os princípios da Constituição Federal.
Cada estado-membro tem a sua própria Constituição, leis, bem como Poderes 
Executivos, Legislativos e Judiciários próprios.
Uma reunião de municípios forma um estado-membro, e cada município é politicamente 
organizado, possuindo dois poderes: Executivo, exercido pelo prefeito, e Legislativo, 
exercido pela Câmara dos Vereadores.
A Federaçãoé composta pela união indissolúvel de estados-membros, municípios e 
Distrito Federal. Os estados, os municípios e o Distrito Federal fazem parte de um 
todo, que é o Brasil.
O regime representativo é o democrático, pois prevalece sempre a opinião da maioria. 
É quando o poder emana do próprio povo, que o exerce indiretamente, por meio do 
presidente da República, dos senadores e dos deputados.
2.5 Da organização dos Poderes
O conceito de Estado moderno está estreitamente l igado à noção de poder 
institucionalizado, isto é, o Estado se forma quando o poder se funda em uma 
instituição, e não em um indivíduo. 
Assim, no Estado moderno, não há poder absoluto, pois mesmo os governantes devem 
se submeter ao que está previsto em lei.
37
FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL • CAPÍTULO 2
De acordo com nossa atual Constituição, os Poderes estão divididos em Executivo, 
Legislativo e Judiciário, mas, na realidade, o poder é um só, apenas ocorre uma divisão 
de atribuições e funções do Estado. 
O que acontece é que esse Poder precisa realizar atos necessários para ordenar a vida 
dos governados. Para isso, são necessárias normas que regulem as vidas destes e de 
entes que as façam cumprir.
Como modo de evitar o abuso de poder e a tirania do próprio Estado, a sociedade 
concebeu a divisão do “poder-função”, como uma forma eficiente de equilíbrio 
institucional.
Por outro lado, o fato de os poderes serem independentes é entendido como um fator 
que impede a ingerência arbitrária de um Poder sobre o outro, tornando o Estado 
funcional, o que deve lhe garantir o equilíbrio.
O Poder Executivo
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o sistema presidencialista de governo para 
o Brasil. Nele, o Poder executivo é exercido pelo presidente da República, auxiliado 
pelos ministros de Estado. As principais funções desse governante são: chefiar o 
Estado, representando a nação, praticar atos de chefia de governo e de administração.
O Poder Legislativo
Cabem ao Poder Legislativo a elaboração de leis e a fiscalização dos atos dos Poderes 
Executivo e Judiciário.
No Parlamento, há uma grande diversidade de representantes da sociedade, o que 
deveria torná-lo uma real representação desta. Hoje em dia, nosso Poder Legislativo 
é exercido pelo Congresso Nacional, composto por Câmara de Deputados e Senado 
Federal.
A Câmara é composta por 513 deputados eleitos para mandatos de quatro anos, 
de acordo com a população de cada Estado, enquanto o Senado é composto por 
81 senadores, eleitos para mandatos com oito anos de duração, a partir de sistema 
majoritário (três para cada Estado).
A organização do Legislativo em duas casas é chamada bicameralismo e existe assim 
para que uma casa complete o trabalho da outra.
38
CAPÍTULO 2 • FuNDAMENTOS DO DIREITO CONSTITuCIONAL
O Poder Judiciário
Cabe ao Poder Judiciário julgar conflitos (litígios) que surgem tendo como base o 
ordenamento jurídico nacional. São órgãos do Poder Judiciário: o Supremo Tribunal 
Federal, o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais Federais e os juízes 
federais, os Tribunais e os juízes do Trabalho, os Tribunais e os juízes Eleitorais, os 
Tribunais e os juízes Militares e os Tribunais e os juízes dos Estados e do Distrito 
Federal, e, ainda, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Sintetizando
Vimos até agora que:
 » todas as sociedades, independentemente do espaço ou do tempo, tiveram alguma espécie de Constituição, ainda que não 
escrita;
 » a Constituição é um conjunto de normas jurídicas que determinam a ordem geral do Estado;
 » existem diversas modalidades de Constituições, o que reflete as correlações das forças que atuam na sociedade onde foram 
produzidas;
 » a nossa atual Constituição de 1988 consagra um Estado Democrático de Direito que garante direitos individuais, direitos 
sociais e coletivos para toda a sociedade, tendo a dignidade da pessoa humana como base.
39
Introdução
Comecemos este Capítulo sublinhando a importância de o gestor em qualquer área 
obter noções a respeito de Direito Administrativo.
Vamos iniciar por esclarecer em que consiste a função administrativa no exercício de 
poderes pelo Estado e seus agentes, com as seguintes finalidades: 
 » a satisfação dos interesses essenciais do conjunto da sociedade, também 
conhecido como interesse público primário, o que, em essência, justifica que 
essa mesma sociedade conceda poderes às autoridades públicas e igualmente 
elas tenham de se submeter a diversas limitações legais;
 » a promoção da organização e do funcionamento dos órgãos e entidades estatais 
que estabelecem tarefas as quais restringem a vida particular. 
Visando atingir tais objetivos, surge o Direito Administrativo como ramo jurídico que 
estabelece os princípios gerais os quais orientarão os atos de gestão e as ações das 
autoridades administrativas.
O Direito Administrativo trata das competências de cada ente federativo, das afinidades 
entre órgãos e entidades, das conformações de centralização ou descentralização de 
funções, da delegação, da avocação do exercício de tarefas administrativas etc.
Vamos conhecê-lo!
3.1 Administração Pública
A Administração Pública é o conjunto das normas e funções desempenhadas para 
organizar a administração do Estado em todas as suas instâncias e tem como principal 
objetivo promover o interesse público, seguindo os princípios constitucionais 
da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (art. 37 da 
Constituição Federal). 
3
CAPÍTULO
NOçÕES DE DIREITO 
ADMINISTRATIvO
40
CAPÍTULO 3 • NOçÕES DE DIREITO ADMINISTRATIvO
O Direito Administrativo rege a máquina administrativa, o funcionamento desta, a 
execução concreta de políticas públicas, a gestão da estrutura física, enfim, o lado 
prático do Estado.
Hely Lopes Meirelles define assim a Administração Pública: “Administração Pública é 
todo o aparelhamento do Estado, preordenado à realização de seus serviços, visando 
à satisfação das necessidades coletivas” (2009, p.127).
3.1.1 Princípios da Administração Pública
Os princípios de Direito Administrativo são mandamentos gerais aplicáveis a toda 
e qualquer situação, em maior ou menor medida. Eles guiam a produção dos atos 
administrativos, a condução dos processos e a realização dos contratos, como também 
a edição dos atos normativos.
Os princípios gerais mais importantes estão dispostos no art. 37, caput, da Constituição 
Federal de 1988. São eles:
Princípio da legalidade (art. 37, caput)
O Estado é resultado da vontade da coletividade. Por isso, as entidades públicas e 
a ação do administrador público estão condicionadas aos mandamentos legais e às 
exigências do bem comum. Os atos que desrespeitam a lei são viciados (irregulares), e 
alguns vícios não podem ser corrigidos, o que exige a anulação do ato e, eventualmente, 
se houver má-fé ou falha, haverá a responsabilização do Estado e do agente público. 
Por isso, na Administração Pública, não há real liberdade nem vontade pessoal, mas 
sim ações vinculadas às finalidades públicas de cada instituição.
Em alguns casos, porém, a legislação cria espaços de discricionariedade, ou seja, dá 
margens de escolha para o administrador, mas, mesmo nessas situações, há que se 
observar os princípios gerais e as finalidades públicas.
Princípio da moralidade (art. 37, caput)
Constitui pressuposto de validade de todo ato da Administração Pública, que deve 
obedecer não somente à norma jurídica, mas também a padrões éticos que podem ser 
estabelecidos em cada instituição. A violação dessas regras éticas e morais próprias 
(regulamentos internos) pode eventualmente configurar infração disciplinar e, em 
casos mais graves, improbidade administrativa. 
Além do mais, todo e qualquer cidadão pode ajuizar ação popular contra atos públicos 
que afrontem a moralidade administrativa. Aponte-se, ainda, que a moralidade está 
41
NOçÕES DE DIREITO ADMINISTRATIvO • CAPÍTULO 3
vinculada ao princípio da razoabilidade, segundo o qual os atos do administrador 
públicodevem se adequar para atingirem a finalidade pública. As restrições e os 
inconvenientes que os atos administrativos causem aos particulares devem ser 
compensados por benefícios à coletividade.
Princípio da impessoalidade e finalidade
Exige que o ato seja feito sempre com finalidade pública. O administrador não pode 
procurar outro objetivo ou praticá-lo com interesse próprio ou de terceiros.
O interesse público pode coincidir com o de particulares, como ocorre nos atos 
administrativos negociais e nos contratos públicos, casos em que é lícito unir a 
pretensão do particular com o interesse coletivo.
É proibido praticar ato administrativo visando somente a satisfazer interesses privados, 
por favoritismo ou perseguição a agentes governamentais.
Geralmente, para evitar risco de lesão à impessoalidade, há regras de impedimento 
e suspeição nas leis de processo administrativo federal. 
Saiba mais
As autoridades ficam proibidas de atuar, por exemplo, em processos que envolvam interesses próprios ou de parentes até o 
3o grau, bem como com pessoas com as quais tenham relação de amizade íntima ou inimizade notória.
Princípio da publicidade
A gestão pública deve ser transparente, em razão do princípio democrático. Assim, 
a publicidade impõe a divulgação oficial dos atos, processos e contratos para o 
conhecimento público em geral. Além disso, todo cidadão tem direito de conhecer 
as informações que a Administração possua a seu respeito e as que dizem respeito ao 
bem-estar da coletividade.
O princípio da publicidade abrange toda a atuação estatal; não só sob o aspecto de 
divulgação oficial dos atos, mas, também, para conhecimento da conduta interna de 
seus agentes. 
Os atos e contratos administrativos que omitirem ou desatenderem à publicidade 
necessária não só deixam de produzir seus regulares efeitos como se expõem à 
invalidação. Atualmente, as normas sobre o acesso a informações estão previstas na 
Lei n. 12.527/2011.
42
CAPÍTULO 3 • NOçÕES DE DIREITO ADMINISTRATIvO
Princípio da eficiência
Esse princípio foi introduzido pela Emenda Constitucional n. 19/1998, que, de certa 
forma, não inovou, mas garantiu a inclusão de um princípio o qual já era implícito 
a outros. 
Exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento 
funcional, com resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento 
das necessidades da coletividade. A lentidão, a omissão, o desperdício de recursos 
públicos e a falta de planejamento são atitudes que ofendem esse princípio.
Princípio da segurança jurídica
A atuação da Administração não deve gerar instabilidade desnecessária. Assim, a 
segurança jurídica impõe o respeito à boa-fé e à confiança dos administrados. O Poder 
Público não pode, sem causa legal, invalidar ou revogar atos administrativos, desfazendo 
relações ou situações. A lei não pode retroagir para não gerar insegurança nas relações 
já consolidadas, bem como não pode violar as expectativas legítimas das pessoas. Não 
bastasse isso, embora os órgãos públicos possam modificar seu padrão de decisão, eles 
não podem utilizar novas interpretações da lei para modificar casos já julgados. 
Princípio da motivação
Esse princípio é reconhecido na Lei n. 9.784/1999, a qual dispõe sobre os processos 
administrativos e impõe à Administração Pública a obrigação de justificar seus atos. 
É tão importante que está ligado diretamente à validade do ato administrativo, e 
a ausência desse princípio implica na nulidade do ato. A motivação é diferente da 
fundamentação: a primeira é mais profunda, devendo o Estado amplamente explicar 
de forma motivada em qual norma a decisão se baseou para a defesa do interesse 
coletivo.
Para que todo cidadão possa exercer seus direitos fundamentais e se defender contra 
ações estatais, a legislação impõe a motivação dos atos administrativos, ou seja, a 
explicitação dos motivos que justificam uma conduta. Por meio da exteriorização dos 
motivos de um ato, pode-se verificar se o funcionário buscou atender à finalidade 
daquele ato ou se, ao contrário, buscou um fim ilegal ou imoral.
Princípio da ampla defesa e do contraditório
Garante o conhecimento dos atos processuais pelo acusado e o seu direito de resposta 
ou de reação. Quando há possibilidade de uma pessoa ser atingida por uma decisão, 
ela deve participar de sua discussão. O princípio constitucional do contraditório, 
inerente ao direito de defesa, é decorrente da bilateralidade do processo: quando 
uma das partes alega alguma coisa, há de ser ouvida também a outra.
43
NOçÕES DE DIREITO ADMINISTRATIvO • CAPÍTULO 3
Princípio da indisponibilidade do interesse público
O funcionário público tem obrigação de cuidar dos interesses da coletividade e 
da entidade pública a quem presta serviços, não deve se desviar desse caminho. 
Em outras palavras, as finalidades públicas não são disponíveis e não podem ser 
deixadas de lado pelos agentes públicos. Assim, por exemplo, o funcionário público 
que desperdiça recursos públicos com gastos desnecessários; que cumpre mal suas 
tarefas, prejudicando os usuários do serviço público; que utiliza o veículo oficial para 
atividades de lazer está se desviando das finalidades públicas em infração disciplinar. 
Princípio da supremacia do interesse público
Como o interesse da coletividade é mais importante que o de cada indivíduo, a 
Administração Pública está numa relação de superioridade em relação ao interesse 
particular, respeitando-se, é claro, os direitos individuais consagrados na Constituição e 
o princípio da legalidade. É desse princípio que decorre o poder de aplicação de sanções, 
bem como o poder de execução e de revogação dos próprios atos administrativos.
Princípio da continuidade do serviço público
O Estado presta serviços públicos, que são atividades consideradas essenciais ao bem-
estar da coletividade. Esses serviços devem ser contínuos, não devem ser interrompidos. 
O princípio da continuidade, assim sendo, impõe uma série de restrições ao exercício 
da função administrativa.
Esse princípio justifica a necessidade de substitutivos de chefias para todo e qualquer 
setor administrativo, bem como restrições ao exercício do direito constitucional de 
greve no âmbito da Administração Pública. 
Princípio da razoabilidade 
Trata-se de uma limitação ao poder discricionário da Administração Pública, viabilizando 
a possibilidade de revisão pelo Poder Judiciário e, de certa forma, a razoabilidade 
atenderá ao interesse público dentro do que for razoável e sensato.
Princípio da proporcionalidade
A doutrina aponta que esse princípio serviria para nortear o alcance da competência 
válida da Administração. Mesmo levando em consideração a supremacia do Direito 
Público, não se deve deixar o direito individual sem amparo, devendo ser proporcional 
em todas suas formas, sob pena de nulidade.
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CAPÍTULO 3 • NOçÕES DE DIREITO ADMINISTRATIvO
3.1.2 Organização da Administração Pública Federal
Tradicionalmente, a Administração Pública presta seus serviços de forma direta, ou 
seja, ela mesma os presta, pela ação regulada dos seus próprios órgãos centralizados, 
mas também por intermédio de entidades criadas fora de sua estrutura central, a 
saber, de maneira descentralizada.
Desse modo, podemos dividir a Administração Pública tradicional em administração 
centralizada, também conhecida por Administração Direta, e administração 
descentralizada, também conhecida por Administração Indireta.
 » Administração Pública Direta: caracteriza-se pela prestação dos serviços públicos 
de forma centralizada no Estado. 
 » Administração Pública Indireta: acontece quando o Estado descentraliza os 
serviços públicos em entidades dotadas de autonomia.
3.2 Ato administrativo
Segundo Di Pietro (2015), ato administrativo é a declaração do Estado ou de quem 
o represente que produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob o 
regime jurídico de Direito Público e sujeita ao controle pelo Poder Público. 
3.2.1

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