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2 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I MARIA DO SOCORRO DA S. MENEZES MARKUS SAMUEL LEITE NORAT Organizadores Alysson Roberto Seiboth Anderson Leite Fontes Júnior Andrea Cristina de Melo Andréa Nascimento Fochesato Arnaldo Sobrinho de Moraes Neto Arthelúcia Maria Amaral da Silva Aryadne Thaís da Silva Menezes Elisabete Gomes da Silva Kerolinne Barboza da Silva Luciana Vilar de Assis Luciano Bezerra Cavalcante Márcio Accioly de Andrade Maria do Socorro da Silva Menezes Nathan Bezerra Wanderley Ricardo Sérvulo Fonsêca da Costa Rodolpho de Almeida Eloy Suely de Barros Miranda Suênia da Costa Oliveira Walcleytthon Machado da Silva Autores Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 3 MARIA DO SOCORRO DA SILVA MENEZES MARKUS SAMUEL LEITE NORAT Organizadores Alysson Roberto Seiboth, Anderson Leite Fontes Júnior, Andrea Cristina de Melo, Andréa Nascimento Fochesato, Arnaldo Sobrinho de Moraes Neto, Arthelúcia Maria Amaral da Silva, Aryadne Thaís da Silva Menezes, Elisabete Gomes da Silva, Kerolinne Barboza da Silva, Luciana Vilar de Assis, Luciano Bezerra Cavalcante, Márcio Accioly de Andrade, Maria do Socorro da Silva Menezes, Nathan Bezerra Wanderley, Ricardo Sérvulo Fonsêca da Costa, Rodolpho de Almeida Eloy, Suely de Barros Miranda, Suênia da Costa Oliveira, Walcleytthon Machado da Silva. Autores EESSTTUUDDOOSS EE RREEFFLLEEXXÕÕEESS SSOOBBRREE TTEEMMAASS JJUURRÍÍDDIICCOOSS Volume I Versão E-book EDITORA NORAT João Pessoa 2022 4 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I ISBN 978-65-86183-21-4 © 2022 Direitos autorais resguardados aos autores de cada artigo. © 2022 Direitos de edição reservados à Editora Norat Cada artigo é de inteira e exclusiva responsabilidade de seus respectivos autores, incluindo os ideários, conceitos, apreciações, julgamentos, opiniões e considerações lançados nos textos dos artigos. Diretor editorial: Markus Samuel Leite Norat Conselho Científico e Editorial: Disponível no site da editora. Dados de Catalogação na Publicação Estudos e reflexões sobre temas jurídicos: volume I / Maria do Socorro da Silva Menezes; Markus Samuel Leite Norat (Organizadores). -João Pessoa: Editora Norat, 2022. [2,43mb - E-book] 361 p. Bibliografia. ISBN 978-65-86183-21-4 1. Direito Material e Processual 2. Temas Jurídicos I. Título. CDU-340 Índices para catálogo sistemático: 1. Direito Material e Processual 340 2. Temas Jurídicos 340 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. É proibida a cópia total ou parcial desta obra, por qualquer forma ou qualquer meio. A violação dos direitos autorais é crime tipificado na Lei n. 9.610/98 e artigo 184 do Código Penal. Editado e produzido no Brasil Edited and produced in Brazil EDITORA NORAT Editora Norat - CNPJ 34.158.837/0001-85 www.editoranorat.com.br Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 5 Organizadores: MARIA DO SOCORRO DA S. MENEZES Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal da Paraíba; Graduação em Licenciatura em Pedagogia pelo Centro Universitário de João Pessoa; Mestrado em Economia pela Universidade Federal da Paraíba; Especialização em Direito Ambiental pelas Faculdades Integradas de Patos. Atualmente é economista da Prefeitura Municipal de João Pessoa exercendo a função de Fiscal Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente e professor adjunto - Faculdades de Ensino Superior da Paraíba onde coordena as atividades de pesquisa e extensão, o TCC e a editoração da Revista de Periódicos Científicos, atuando principalmente no seguinte tema: Política Ambiental, Crime Ambiental, Fiscalização Ambiental e Legislação Ambiental. Autora de diversos livros e artigos científicos, nas áreas jurídicas e econômicas. MARKUS SAMUEL LEITE NORAT Doutorando em Ciências Jurídicas e Sociais; Mestre em Direito e Desenvolvimento Sustentável; Pós-Graduação em Direito do Consumidor; Pós-Graduação em Direito da Criança, Juventude e Idosos; Pós-Graduação em Direito Educacional; Pós-Graduação em Direito Eletrônico; Pós-Graduação em Direito Civil, Processo Civil e Direito do Consumidor pela UNIASSELVI - Centro Universitário Leonardo da Vinci - ICPG - Instituto Catarinense de Pós Graduação; Pós-Graduação em Direito de Família; Pós- Graduação em Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho pela ESA-PB - Escola Superior da Advocacia da Paraíba - Faculdade Maurício de Nassau; Pós-Graduação em Direito Ambiental pelo Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ; Pós-Graduação em Tutoria em Educação à Distância e Docência do Ensino Superior; Advogado; Coordenador Pedagógico e Professor do Departamento de Pós-Graduação da Fundação Escola Superior do Ministério Público do Estado da Paraíba; 6 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I Professor convidado da Escola Nacional de Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça; Professor do Curso de Graduação em Direito no Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ; Diretor do INEE; Editor da Editora Norat; Membro Coordenador Editorial de Livros Jurídicos da Editora Edijur (São Paulo); Membro Diretor Geral e Editorial da Revista Científica Jurídica Scientia et Ratio; Membro Diretor Geral e Editorial da Revista Brasileira de Direito do Consumidor; Membro Diretor Geral e Editorial da Revista Brasileira de Direito e Processo Civil; Membro Diretor Geral e Editorial da Revista Brasileira de Direito Imobiliário; Membro Diretor Geral e Editorial da Revista Brasileira de Direito Penal; Membro Diretor Geral e Editorial da Revista Científica Jurídica Cognitio Juris, ISSN 2236-3009, www.cognitiojuris.com; Membro Coordenador Editorial da Revista Ciência Jurídica, ISSN 2318-1354; Membro do Conselho Editorial da Revista Luso-Brasileira de Direito do Consumo, ISSN 2237-1168; Autor de livros e artigos jurídicos. Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 7 Autores: ALYSSON ROBERTO SEIBOTH ANDERSON LEITE FONTES JÚNIOR ANDREA CRISTINA DE MELO ANDRÉA NASCIMENTO FOCHESATO ARNALDO SOBRINHO DE MORAES NETO ARTHELÚCIA MARIA AMARAL DA SILVA ARYADNE THAÍS DA SILVA MENEZES ELISABETE GOMES DA SILVA KEROLINNE BARBOZA DA SILVA LUCIANA VILAR DE ASSIS LUCIANO BEZERRA CAVALCANTE MÁRCIO ACCIOLY DE ANDRADE MARIA DO SOCORRO DA SILVA MENEZES NATHAN BEZERRA WANDERLEY RICARDO SÉRVULO FONSÊCA DA COSTA RODOLPHO DE ALMEIDA ELOY SUELY DE BARROS MIRANDA SUÊNIA DA COSTA OLIVEIRA WALCLEYTTHON MACHADO DA SILVA 8 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 9 AAPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO Da leitura da obra estudos e reflexões sobre temas jurídicos se percebe que os temas tratados nesse volume I são, simultaneamente, complexos e desafiadores. No capítulo de abertura, a área da mediação e da conciliação, meios alternativos para solução de conflitos, apontada pela Resolução nº 125/10 do Conselho Nacional de Justiça como política pública a ser perseguida no âmbito do poder judiciário como mecanismo que auxilia a obter uma melhor prestação jurisdicional é conduzida para tratar da efetividade da atuação policial face a complexidade dos confrontos sociais e sua resolução de conflitos, com uma proposta para a instalação da Câmara Social de Solução de Conflitos no âmbito Administrativo, na polícia civil do estado da Paraíba, extraído da dissertação de mestrado de Elisabete Gomes da Silva. A área do direito ambiental também se faz presente com assunto sobre refugiados ambientais dentro de uma realidade contextualizada no cenário brasileiro em que no capítulo 2, Andrea Cristina de Melo e Maria do Socorro da Silva Menezes, descrevem dois cenários: o primeiro tendo como causa eventos climáticos representados pela seca, inundações e deslizamentos de encostas; o segundo consequênciade causas antropocêntricas focando nas queimadas, no caso de Mariana e no de Brumadinho. Com embasamento no direito ambiental, Maria do Socorro da Silva Menezes e Anderson Leite Fontes Júnior, fundamentados em suas respectivas experiências profissionais abordam, no capítulo 3, o controle digital da arborização urbana como estratégia no cuidado com a cidade de João Pessoa, estabelecendo uma conectividade entre o direito ambiental e o direito digital, tendo como base empírica a instalação de QR Code nas árvores da cidade, inovação tecnológica importante que remete aos avanços do Município, através de sua Secretaria de Meio Ambiente, na gestão ambiental local. 10 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I Ainda sobre o foco do direito ambiental, o trabalho da lavra de Aryadne Thaís da Silva Menezes, apresentado no capítulo 4, reporta-se ao licenciamento ambiental trazendo uma reflexão sobre a ausência desse instrumento de índole preventiva introduzido no ordenamento jurídico brasileiro pela lei nº 6.938/81 que instituiu a política nacional do meio ambiente. São abordados dois casos concretos com a finalidade de demonstrar as consequências a que está sujeito o empreendimento e a atividade que opera sem o devido licenciamento ambiental, ou que opera em desacordo com a licença obtida. Sob a ótica do direito penal e da criminologia, Suênia da Costa Oliveira e Kerolinne Barboza da Silva, no capítulo 5, abordam a temática psicopatia e agressão a mulher pautando sua análise nos aspectos jurídicos evidenciados na série bom dia, Verônica, filmografia cuja trama envolve o estudo da criminologia relacionando psicopatia e agressão à mulher, a partir do relacionamento entre os personagens Cláudio Antunes Brandão e Janete Cruz, obra de ficção que se assemelha a muitos casos concretos noticiados pelos meios de comunicação. Traçando os contornos de estudo que transita pelo direito constitucional, com viés no direito econômico e também no tributário, Alysson Roberto Seiboth e Luciana Vilar de Assis, no capítulo 6, escrevem sobre a inconstitucionalidade da isenção do Imposto Predial Territorial Urbano – IPTU – concedido pelo Município de João Pessoa estado da Paraíba, enfatizando os prejuízos que isso representa para o município. No capítulo 7, Andréa Nascimento Fochesato e Márcio Accioly de Andrade se dedicam à discussão em torno da possibilidade do inventário e partilha extrajudicial por via de escritura pública, visando solucionar com agilidade, eficiência e economia problemas relacionados ao direito das sucessões, regulamentada pelo Código de Processo Civil, de 2015, em seu art. 610, mais precisamente nos parágrafos 1º e 2º, que dispõe que a escritura pública é título hábil, e que autoriza a realização dos inventários em cartórios notariais devendo para tanto, serem todos os interessados, maiores, capazes e concordes. Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 11 Luciano Bezerra Cavalcante e Márcio Accioly de Andrade, no capítulo 8, trazem sua contribuição em pesquisa versando sobre a procuração em causa própria com foco na sua baixa utilização em face do desconhecimento da sua existência pela população brasileira, instituto jurídico previsto pelo texto normativo do Código Civil brasileiro de 2002, apontando as circunstâncias que possibilitam a sua utilização, informando as limitações que o seu uso possui, considerando os objetivos que possibilitam a validade dos negócios jurídicos e a jurisprudência extraída do Superior Tribunal de Justiça do Brasil. Em texto plenamente conforme a legislação eleitoral, Suely de Barros Miranda e Ricardo Sérvulo Fonsêca da Costa, estruturaram no capítulo 9, argumentação sobre tema relacionado ao direito eleitoral, especificamente em uma abordagem voltada para a temática sobre o mecanismo de reservas de cotas de candidaturas no sistema eleitoral brasileiro e seus efeitos sociojurídicos que as medidas inclusivas proporcionam àqueles que estão em situação de desigualdade no cenário político nacional. Na sequência, Rodolpho de Almeida Eloy e Nathan Bezerra Wanderley, no capítulo 10, colocam com muita propriedade como o ativismo judicial é visto no Brasil, a partir de uma análise de sua aplicação à luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, evidenciando nessa abordagem decisões complexas como o abordo e o casamento homoafetivo, bem como a questão de fetos portadores de anencefalia e, ainda da prisão em segunda instância, assuntos cuja discussão permanece em aberto diante de lacunas existentes na própria legislação. Tratado no capítulo 11, a atuação do Estado no combate às facções criminosas no sistema carcerário, abordando os reflexos no crescimento do poder das facções na Paraíba, a pesquisa de Walcleytthon Machado da Silva e Arnaldo Sobrinho de Morais Neto contempla um tema complexo que carece de discussão no meio acadêmico, assunto que gera insegurança jurídica em razão da forma de atuação de tais facções dentro e fora do sistema carcerário. 12 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I Finalmente, o texto de autoria de Arthelúcia Maria Amaral da Silva no capítulo 12, coloca a questão do idoso institucionalizado em discussão, consistindo em uma reflexão sobre o idoso e as políticas sociais no contexto asilar, utilizando como recorte teórico uma abordagem sobre as políticas públicas que assistem aos idosos tratando desde a primeira iniciativa em 1974 através da Portaria nº 82/74 do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), ressaltando a Constituição de 1988 como marco mais importante no delineamento dessas políticas que culminaram com a aprovação da Política Nacional e com o Estatuto do Idoso. Deixo aqui o registro do meu apreço e agradecimento aos autores que atenderam ao nosso convite, por sua participação nesse projeto de publicação do volume I da obra estudos e reflexões sobre temas jurídicos, cuja contribuição para a disseminação do conhecimento é inquestionável. João Pessoa, novembro de 2022 Profª M.e. Maria do Socorro da Silva Menezes Profª da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP; Fiscal Ambiental da SEMAM/PMJP; Mestre em Economia; Especialista em Direito Ambiental; Bacharel em Ciências Econômicas. Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 13 PPRREEFFÁÁCCIIOO Estudos e reflexões sobre temas jurídicos é um livro que surge conjuntamente com uma nova visão de pesquisa na seara jurídica, perpassando a demonstração da necessidade de se buscar tratar de situações em que se possa observar empiricamente realidades presentes no contexto contemporâneo, tornando o direito uma realidade palpável, um espaço destinado a todos aqueles que se aventuram a transitar pelo lado mágico e enriquecedor da pesquisa científica. Estudos e reflexões sobre temas jurídicos, nasceu da parceria entre seus organizadores com colegas de trabalho em áreas afins, professores, profissionais que operam o direito e estudantes que se dispuseram a colaborar com seus escritos nas respectivas áreas de suas pesquisas. Alguns concluíram recente sua graduação em direito, outros com titulação de especialistas, mestres e doutores em uma demonstração de que a pesquisa é, em si, uma valiosa ferramenta para o trabalho de argumentação jurídica como o é em qualquer outra área do conhecimento científico. Os autores oferecem aos leitores textos de clareza e abrangência notáveis, fruto da competência, dedicação e integração dos organizadores da obra e de seus colaboradores. Ao discorrer sobre a importância da obra, não nos escapa a observação de que esse volume I representa um passo importante, para desmitificar a ideia de que a pesquisa é trabalho difícil de ser executado, pois o que vemos aqui é um diálogo, uma reflexão, um chamamento para a apreciação de temas em várias áreas do direito. 14 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos:Volume I Estão todos de parabéns pelo resultado alcançado no conjunto da obra. Esperamos em breve a apresentação de novas temas dando, assim, prosseguimento a esse projeto de publicação de estudos cujas pesquisas demonstrem consistência de natureza teórica e prática, já que nisso reside a busca de solução para os problemas científicos. Os organizadores Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 15 SSUUMMÁÁRRIIOO CAPÍTULO I A Efetividade da Atuação Policial Face a Complexidade dos Confrontos Sociais e sua Resolução de Conflitos ...................... 017 Elisabete Gomes da Silva CAPÍTULO II Descrição de Cenários em Torno do Fenômeno Refugiados Ambientais no Brasil ...................................................................... 048 Andrea Cristina de Melo; Maria do Socorro da Silva Menezes CAPÍTULO III O Controle Digital da Arborização Urbana como Estratégia no Cuidado com a Cidade de João Pessoa: Conectividade entre o Direito Ambiental e o Direito Digital .......................................... 083 Maria do Socorro da Silva Menezes; Anderson Leite Fontes Júnior CAPÍTULO IV Breve Reflexão Sobre o Licenciamento Ambiental e as Consequências de sua Ausência ................................................... 116 Aryadne Thaís da Silva Menezes CAPÍTULO V Psicopatia e Agressão a Mulher: Aspectos Jurídicos Evidenciados na Série ‘Bom Dia, Verônica’ ................................ 139 Suênia da Costa Oliveira; Kerolinne Barboza da Silva CAPÍTULO VI A Inconstitucionalidade da Isenção do Imposto Predial Territorial Urbano – IPTU – Concedido Pelo Município de João Pessoa – PB ....................................................................................... 172 Alysson Roberto Seiboth; Luciana Vilar de Assis 16 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I CAPÍTULO VII Da Possibilidade de Inventário e Partilha Extrajudicial .......... 205 Andréa Nascimento Fochesato; Márcio Accioly de Andrade CAPÍTULO VIII A Procuração em Causa Própria: Baixa Utilização e o Desconhecimento da sua Existência pela População Brasileira ............................................................................................................ 230 Luciano Bezerra Cavalcante; Marcio Accioly de Andrade CAPÍTULO IX O Mecanismo de Reservas de Cotas de Candidaturas no Sistema Eleitoral Brasileiro e seus Efeitos Sociojurídicos ....................... 257 Suely de Barros Miranda; Ricardo Sérvulo Fonseca da Costa CAPÍTULO X Ativismo Judicial no Brasil: Análise de sua Aplicação à Luz da Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal............................ 281 Rodolpho de Almeida Eloy; Nathan Bezerra Wanderley CAPÍTULO XI O Estado no Combate às Facções Criminosas no Sistema Carcerário: Os Reflexos no Crescimento do Poder das Facções na Paraíba ............................................................................................... 311 Walcleytthon Machado da Silva; Arnaldo Sobrinho de Moraes Neto CAPÍTULO XII A Questão do Idoso Institucionalizado em Discussão.............. 337 Arthelúcia Maria Amaral da Silva Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 17 CAPÍTULO I A EFETIVIDADE DA ATUAÇÃO POLICIAL FACE A COMPLEXIDADE DOS CONFRONTOS SOCIAIS E SUA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS THE EFFECTIVENESS OF POLICE ACTIVITIES IN THE COMPLEXITY OF SOCIAL CONFRONTS AND THEIR CONFLICT RESOLUTION Elisabete Gomes da Silva1 RESUMO O presente estudo objetivou analisar a efetividade da atuação policial face a complexidade dos confrontos sociais e sua resolução de conflitos, tendo como campo de observação as causas e consequências dos conflitos ocorridos nas delegacias de polícia em João Pessoa-PB. Justifica-se o estudo diante da presunção da relevância que se constrói o problema central ao se indagar: como e por onde começar o revigoramento dos valores e de ações na direção de enfrentar os conflitos em locais de trabalho? A tese defendida é de que o policial revestido das funções que lhes são peculiares acumula responsabilidades extremas quanto à organização e atendimento qualificado no ambiente de trabalho. A metodologia empregada foi pautada na pesquisa bibliográfica e documental, mediante estruturação de um estudo de caso de natureza descritiva com método dedutivo de análise. Os resultados informam que esses conflitos originam de pessoas vítimas de violência externa e ao comparecerem nas unidades policiais não recebem a receptividade esperada criando um espaço propício a instalação da Câmara Social de Solução de 1 Mestre em Resolução de Conflitos e Mediação; Bacharela em Direito; Escrivã da Polícia Civil do Estado da Paraíba; Conciliadora da Justiça Federal 5ª Região – CEJUSC; Conciliadora e Mediadora Judicial TJPB- CEJUSC 2º Grau; Supervisora Judicial do Gabinete Virtual de Conciliação GVC – TJPB- Mediação Familiar, 18 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I Conflitos no âmbito administrativo, acreditando estar nesta ação o instrumento de ampliação dialogal entre mediador devidamente preparado para esse fim, o que pode lhe permitir cumprir com a devida eficiência sua missão dentro dos perfis de inteiração com a cidadania e a civilidade como novo paradigma, representando um avanço considerável para as atividades do serviço de solução de conflitos, pacificação e introdução de uma cultura de paz, sendo essa a contribuição deixada pelo estudo que ora se apresenta. PALAVRAS-CHAVE: Vítimas de Violência Extrema. Câmara Social de Solução de Conflitos. Pacificação. Cultura da Paz. ABSTRACT The present study aimed to analyze the effectiveness of police action in the face of the complexity of social confrontations and their resolution of conflicts, having as a field of observation the causes and consequences of conflicts that occurred in police stations in João Pessoa- PB. The study is justified in view of the presumption of relevance that the centarl problem is constructed by asking: how and Where to start the reinvigoration of values and actions in the Direction of facing conflicts in the workplace? The thesis defended is that the police officer whith the functions that are peculiar to them accumulates extreme responsibilities regarding the organization and qualified servisse in the work environment. The methodology used was based on bibliographic and documental research, through the structuring of a case study of a descriptive natures whith a deductive method of analysis. The results show that these conflicts originate from people who are victims of external violence and, when They appear at the police units, they do not receive the expected receptivity, creating a favorable space for the installation of the Socil Chamber for Conflict Resolution in the administrative scope, believing that this action is the instrument of dialogic expansion between a mediator duly prepared for this purpose, which can allow him to fulfill his missiom whith due efficiency within the profiles of interaction whith citizenship and civility as new paradigm, representing a considerable advance for the activities of the service of conflict Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 19 resolution, pacification and the introduction of a culture of peace, which is the contribution left by the study presented here. KEYWORDS: Victims of Extreme Violence. Social Chamber for Conflict Resolution. Pacification. Culture of Peace. 1 INTRODUÇÃO O presente estudo é fruto da vivência de sua autora no ambiente de trabalho - Delegacias especializadas e Distritais, instaladas na cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba - , bem como de pesquisa realizada no período de janeiro de 2018 a janeiro de 2019. Trata-se de uma escolha fundamentada em um contexto real, a partir dos atendimentos às pessoas vítimas de violência, seja no âmbito material, físico, moral ou psicológico. Atravésda vivência de fatos ocorridos com essas pessoas que comparecem às delegacias de polícia, com o intuito de que seus problemas sejam resolvidos, foi possível constatar que a grande maioria só se dirige ao atendimento na delegacia para comunicar à autoridade policial quando o fato se torna impossível de se resolver por conta própria. Impressiona a forma como os relatos são narrados: com muita insegurança e medo. Exteriorizações do tipo “você sabe com quem está falando?” ainda se conservam vivas no imaginário social do cidadão brasileiro, como se fossem defesos à autoridade policial e sequer pudessem se aproximar de um membro da nossa elite, quanto mais requerer uma identificação pessoal ou material quando em uma operação policial (OLIVEIRA, 2017). Considerando essa perspectiva, é fundamental para a sociedade que os profissionais de segurança pública estejam envolvidos, devidamente qualificados e preparados para exercer suas funções com primazia. Para isso, faz-se necessária a implantação de meios alternativos que venham congratular a capacitação e o desempenho desses profissionais. Outro tema igualmente relevante refere-se as estatísticas de suicídio e homicídio entre policiais brasileiros vitimados. As causas são as mais diversificadas, mas todos possuem relação ao alto grau de desafios enfrentados por esta categoria de servidores 20 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I públicos, cuja função necessita de novos estudos e atenção de todos os brasileiros. Ademais, vivenciar por décadas os conflitos ocorridos no interior das unidades policiais (delegacias de polícia), assim como em diversos outros locais em que o policial civil esteja a serviço da sociedade, não raro ocasiona estresse emocional, ausência do local de trabalho, vários tipos de enfermidade, desmotivação profissional. Isso sem mencionar a perda salarial para o policial, proporcionando o seu endividamento, somados à falta de acolhimento e reconhecimento, gerando-se um número cada vez maior de pacientes psiquiátricos em nossa classe. Em razão disso, o problema central desta pesquisa reside na possibilidade de utilização da mediação como meio que adota e propaga a cultura da pacificação social através da recomposição e da comunicação dos conflitados, bem como da conciliação como meio jurídico capaz de pôr um fim a uma situação traspassada por diálogos agressivos, mágoas, e que muitas vezes culmina em via dos fatos. Por isso, indaga-se: como e por onde começar o revigoramento do exigível círculo virtuoso de valores e de ações na direção de enfrentar o conflito, porém sempre dentro de um contexto maior, de aprimoramento das delegacias e também do aperfeiçoamento das expectativas das relações entre profissionais da segurança pública e a sociedade? Reitere-se que o mediador revestido da capacidade de mediar conflitos, deve estar plenamente convicto de sua missão, seja como conciliador/mediador, seja em face das inúmeras peculiaridades, o conciliador/mediador deve exercer sua função com lisura, sem estratégias intimidatórias, sem autoritarismos e sem descuidos. Por isso, o objetivo geral deste estudo é o de analisar a importância do tratamento entre o policial e o público, ou seja, o processo de atualização e aperfeiçoamento dos conhecimentos referentes às práticas policiais na definição de novos padrões de resposta através da resolução de conflitos. Como se sabe, as situações em que os policiais se envolvem em conflitos dão origem a opiniões e interpretações dos atos policiais, as quais são fatalmente interpretadas pela população como negativas para a organização policial bem como Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 21 para o profissional em segurança pública alvo da observação. Sabe-se que denunciar não é fácil. A experiência vivida nas delegacias revela que as vítimas nem sempre buscam as delegacias por temerem ser identificadas pelos autores da agressão. Sobre a parte metodológica, deve-se salientar que a fundamentação teórica deste estudo tem como base a pesquisa bibliográfica e documental cujos dados foram extraídos de estudos embasados em textos científicos estruturados com base nos regramentos expressos na Constituição de 1988, na Resolução 125/2010, Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado da Paraíba, Lei 13.140/2015 que dispõe sobre mediação entre particulares e no Código de Ética dos Mediadores e Conciliadores (anexo III) da Resolução 125/2010 (BRASIL, 1988; BRASIL, 2010; PARAÍBA, 2015). Pretende-se contribuir para a implantação de um Núcleo de Mediação na Secretaria de Segurança e da Defesa Social do Estado da Paraíba, acreditando-se ser essa ação o instrumento de ampliação dialogal entre o policial e a sociedade, com predeterminação adequada. Isso possibilitaria cumprir a missão dentro dos perfis de cidadania e de civilidade diante de novos paradigmas de apoio à sociedade e ao profissional de segurança pública. Se a Polícia não pode ter uma câmara de mediação, porque a lei não permite, pode ter como modelo de mediação um núcleo de solução de conflitos, o que, na prática já existe, mas de maneira disforme. 2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O HISTÓRICO, ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E SERVIÇOS DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DA PARAÍBA A polícia judiciária no Brasil remonta ao início do século XVII. Na Paraíba, a criação da polícia civil segue o mesmo processo nacional, porém, apenas em 21 de agosto de 1981, é criada com estrutura de carreira pela lei 4.273/81. A lei complementar n.º 85, publicada em 12 de agosto de 2008 é a lei orgânica que dispõe sobre a organização da polícia civil, suas 22 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I obrigações perante a sociedade, seus deveres e regime disciplinar. É através desse instrumento que estão estabelecidas as categorias da polícia civil, o plano de cargos e carreiras, e regras para o provimento de cargos a partir da realização de concursos (investidura, nomeação, posse) (POLÍCIA CIVIL, 2019a). O citado diploma legal versa sobre aposentadorias, promoções e honrarias que podem ser concedidas a membros que comprovem atos de bravuras, também sobre a atenção à saúde física e mental dos policiais, em função da salubridade da atividade. Está ordenada na Lei a prestação de assistência médico- psicológico quando necessário, em casos de desgastes emocionais ou distúrbios mentais resultantes do exercício da função (POLÍCIA CIVIL, 2019a). A Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba, em 19 de dezembro de 1935 reformou o serviço de polícia civil do estado da Paraíba. Vale salientar que a polícia judiciária no Brasil foi instituída no início do século XVII. Porém, na Paraíba, somente em 21 de agosto de 1981, a polícia civil foi criada com estrutura de carreira por força da Lei 4.273. A polícia civil do estado da Paraíba, administrada pelo delegado geral de polícia civil, potencializa os serviços públicos da sua atribuição, substancialmente, através das unidades policiais. As delegacias distribuídas por todo território do estado, são, nas suas áreas circunscricionais, o centro das investigações, os pontos de atendimento, a proteção à população e dos demais atos de polícia judiciária (POLÍCIA CIVIL, 2019a). Analisando a ilustração da estrutura organizacional da polícia civil no estado da Paraíba nota-se a supremacia da Delegacia Geral de Polícia Civil - DEGEPOL. Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 23 A DEGEPOL gerencia a Delegacia Geral Adjunta, que, por sua vez, está responsável pela administração do Instituto de Perícia Científica - IPC - da Academia de Polícia Geral - ACADEPOL - da Corregedoria da Polícia Civil - CPC - da Unidade de Inteligência da Polícia Civil - UNINTELPOL - da Delegacia Especializada de Operações Especiais - GOE - da Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos e Cargas - DRFVC - e da Coordenação das Delegacias de Atendimento à Mulher - COORDEAM. É interessanteque se entenda a hierarquia entre os profissionais de segurança pública para se perceber as competências de cada uma delas (POLÍCIA CIVIL, 2019b). A função da polícia civil é praticar, com exclusividade, todos os atos necessários ao exercício das funções de polícia judiciária e investigativa de caráter criminalístico e criminológico. No sistema da polícia investigadora, adotado pelo Brasil, cabe às polícias judiciárias (polícias civil e federal) a direção da investigação criminal, sendo estas as titulares do procedimento investigativo criminal, observados os limites de suas 24 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I competências. Portanto, a polícia civil, dirigida por delegados de polícia de carreira, atua, via de regra, depois que um crime ocorre e busca através da investigação criminal estabelecer a verdade real dos fatos (POLÍCIA CIVIL, 2019a). Ainda existem as categorias especiais dentro dessa composição: as desempenhadas pelos delegados de polícia possuem formação de nível superior - bacharel em direito; as categorias investigativas, desempenhadas pelos agentes de investigação e escrivães de polícia, têm formação de nível superior; as categorias de apoio policial, desempenhadas pelos motoristas policiais, são de formação de nível médio; as categorias de polícia científica, desempenhadas pelos peritos oficiais criminal, oficial médico-legal, oficial odonto-legal e químico-legal, possuem formação de nível superior; e as categorias de apoio técnico, desempenhadas pelos técnicos em perícia, papiloscopistas e necrotomistas, com formação de nível superior. Sobre os serviços da polícia civil do estado da Paraíba existe o atendimento pelo telefone chamado Disque Denúncia. Ele atende ao cidadão que deseja denunciar a prática de algum crime ou criminoso em qualquer lugar do Estado, de forma anônima e sigilosa. Através de ligação gratuita para o número 197, o cidadão relata os dados sobre o fato, características físicas e localização do acusado, não sendo necessários à identificação nem o seu telefone de contato. A informação é encaminhada para a delegacia de polícia responsável pela apuração, que tem um prazo de 30 dias para averiguar a denúncia. Qualquer crime que não seja necessária a manifestação presencial e formal por parte da vítima na delegacia de polícia, como, por exemplo: tráfico de drogas, homicídio, maus tratos, crimes patrimoniais, violência doméstica contra a mulher, etc. (POLÍCIA CIVIL, 2019b). Existe ainda a Delegacia Online, ferramenta da polícia civil que permite que ocorrências sem violência ou ameaça, como furtos simples e extravios, e ainda acidentes de trânsito sem vítima, possam ser registradas pela internet. Ela serve para proporcionar maior comodidade ao cidadão, que não precisa se deslocar até uma unidade policial para ser atendido, bastando acessar o serviço no endereço www.delegaciaonline.pb.gov.br 24h http://www.delegaciaonline.pb.gov.br/ Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 25 por dia. Após o registro, o Boletim de Ocorrência (BO) é validado pela equipe da Delegacia Online, que analisa dados pessoais do requerente, assim como a descrição do fato. A resposta é enviada por e-mail em até 48 horas (POLÍCIA CIVIL, 2019b). Dentre os delitos que podem ser registrados, estão os de: a) Furto (celulares, documentos e outros) O furto ocorre quando o autor do crime se apropria de um objeto ou valor financeiro que não lhe pertence. É caracterizada como furto a ação na qual não é empregado nenhum tipo de violência ou ameaça à vítima, para a apropriação indevida. (Em caso de identificação da autoria, o registro deve ser realizado na Delegacia de Polícia Civil mais próxima); b) Extravio (celulares, documentos e outros) O extravio é caracterizada por uma perda, sumiço ou desaparecimento de objetos e/ou documentos. Não se pode confundir, entretanto, perda com furto. Deve-se procurar sempre usar o bom senso e certificar-se do que ocorreu de fato; c) Acidente de Trânsito sem vítimas é caracterizado quando ocorrem somente danos materiais, ou seja, nenhum dos envolvidos no fato se machucou ou morreu em decorrência do acidente. Também é conhecido como acidente de trânsito com dano material; d) Pessoas Desaparecidas (POLÍCIA CIVIL, 2019b). Insta ainda assinalar que a polícia civil do estado da Paraíba também possui missão, visão e valores, como qualquer empresa hodierna. A missão é a de "investigar infrações penais e solucionar conflitos de forma efetiva, prestando atendimento de excelência à sociedade, para a proteção de direitos e pacificação social” (POLÍCIACIVIL, 2019a). A visão é a de “ser reconhecida pela sociedade como instituição de excelência em investigação policial e solução de conflitos, imprescindível à efetivação do direito à segurança” (POLÍCIA CIVIL, 2019). E os valores são os de trabalhar com ética, profissionalismo, comprometimento, imparcialidade, unidade e hierarquia (POLÍCIA CIVIL, 2019a). Cumpre ressaltar que em termos do trabalho concreto, ética implica em atuar com honestidade, transparência e moralidade com vista ao interesse público. Profissionalismo é o de exercer as atribuições com excelência, buscando a qualificação contínua e o aprimoramento dos serviços. Comprometimento é o 26 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I de agir de maneira responsável e proativa com a instituição e a sociedade. Imparcialidade é o de buscar a verdade real dos fatos de forma impessoal, assegurando uma investigação justa e efetiva. Unidade é unir órgãos e servidores da polícia civil na realização das suas atribuições. E a hierarquia é respeitar a subordinação das funções administrativas da estrutura organizacional da polícia civil, resguardando a disciplina nas suas atribuições (POLÍCIA CIVIL, 2019a). 3 ESTUDO DE CASO SOBRE A VIOLÊNCIA SOCIAL NO ESTADO DA PARAÍBA A coleta de dados abrangeu o período de janeiro de 2018 a abril de 2019, mediante consulta a documentação sobre dados de ocorrências atendidas na ouvidoria e corregedoria da polícia civil do estado da Paraíba, através dos quais foi possível construir duas bases de dados: uma estabelecendo o quantitativo de atendimentos realizados pela ouvidoria de polícia civil assim como o qualitativo de procedimentos formalizados pela corregedoria de polícia civil. A outra base de dados foi construída com a estatística de policiais que responderam a processos administrativos junto à corregedoria de polícia, especificando os motivos através das incidências e consequentemente as penalidades em alguns processos já concluídos, tendo sido selecionados alguns casos considerados importantes para ilustrar a abordagem desse estudo na sua parte empírica do estudo de caso como campo de observação e coleta de dados. Importante ressaltar que, em atenção aos princípios éticos e limites jurídicos da pesquisa, os nomes dos atores sociais envolvidos nas respectivas demandas não foram relatados de modo a não permitir a sua identificação, sobretudo porque não é objetivo do estudo delimitar um perfil da amostra, mas tão somente identificar e tratar analiticamente os casos em que ocorreu registro de conflitos no ambiente da delegacia, configurando assim, em termos teóricos de violência recíproca entre o policial e as pessoas que comparece nas unidades policiais Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 27 para ser atendido, aspecto que se confirmou através dos dados da pesquisa de campo. A polícia civil do estado da Paraíba atualmente é composta por 29 delegacias especializadas, 30 delegacias distritais e 14 delegacias de atendimento à mulher. As vinculações entre psicologia e violência, criminalidade e tutelas a cargo das instituições policiais necessitam ser mais bem examinados. Nesse sentido vale publicar, em caráter exclusivamente ilustrativo, a natureza e quantidade dos atendimentos na ouvidoria de polícia na Paraíba durante operíodo de 01/01/2018 a 31/12/2018, com um total de 200 (duzentos) acolhimentos, a saber: OUVIDORIA DE POLÍCIA CIVIL DA PARAÍBA – TIPOS DE ATENDIMENTOS REALIZADOS EM 2018 Fonte: Pesquisa da autora, 2019 Os dados revelam a primazia das denúncias relatadas por 164 (82%) do total de pessoas acolhidas, seguida das reclamações com 25 (12,5) desse total. Em menor escala aparecem os elogios 6(3%), as solicitações 3 (1,5%) e as sugestões 2 (1%) no computo geral. Conforme informações da corregedoria e ouvidoria de polícia civil do estado da Paraíba, o prenúncio de 28 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I abrangência dos casos de conflitos ocorre principalmente nas unidades policiais, definindo este local, como sendo o espaço em que as pessoas procuram apoio quando se encontram com problemas conflituosos. Daí resulta a circunscrição do fenômeno do conflito entre o profissional da segurança pública e a pessoa que sofreu algum tipo de conflito, porquanto é na delegacia que a maioria dos fatos. Os conflitos ocorridos entre as partes (policial e sociedade) é produto de um sistema social que subordina e fragiliza as pessoas. É um problema de grande intensidade porque sua origem é estrutural. Aprofundando essa situação referente ao acolhimento, a pesquisa aponta a quantidade de demandantes de acordo com o gênero OUVIDORIA DE POLÍCIA CIVIL DA PARAÍBA – ATENDIMENTOS REALIZADOS EM 2018 SEGUNDO O GÊNERO DO DEMANDANTE Fonte: Pesquisa da autora, 2019 Uma das falhas identificados na base de dados foi a falta de identificação do gênero em 61 (30,5%) dos casos estudados. Frise-se a predominância de pessoas do sexo masculino entre os Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 29 acolhidos com 104 (52%), seguido de 35 (17,5%) do total dos demandantes, ressaltando que, também, qualificam-se como vítimas dos fatos denunciados. A forma como os atendimentos foram formalizados, ou seja, de acordo com a procedência também foi analisada. OUVIDORIA DE POLÍCIA CIVIL DA PARAÍBA – ATENDIMENTOS REALIZADOS EM 2018 SEGUNDO A PROCEDÊNCIA Fonte: Pesquisa da autora, 2019 Conforme análise dos dados, a maioria dos atendimentos 135 (67,5%) foi presencial e 57 (28,5%) foi ato de oficio. Importante registar que as denúncias anônimas 8 (4%) foram aceitas de acordo com o Parecer AJCCG nº 445/2002, cuja conclusão opina pela “aceitação de denúncias anônimas, para o exercício de seu direito de reclamação e fiscalização sobre a qualidade dos serviços públicos” e o Decreto estadual nº 34.631/13, artigo 2º “A Ouvidoria Geral do Estado deverá, em especial, promover o atendimento externo destinado a todo e qualquer cidadão que a procure, considerando, em seu mérito, independente da forma, todas as manifestações que lhe forem dirigidas” (PARAÍBA, 2013). 30 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I De acordo com a informação oriunda do Sistema de Medição (evolução dos indicadores da Corregedoria Geral de Polícia Civil), durante o período de janeiro 2018 a janeiro de 2019 foram instaurados 136 processos administrativos disciplinares em desfavor dos policiais civis do estado da Paraíba, cuja estatística não poderá ser anexada ao presente trabalho, uma vez que é de cunho estritamente sigiloso. Os prejuízos causados aos policiais tais como: emocionais, psicológicos, sociais e econômicos são demasiadamente altos, e inevitavelmente como consequência causam um elevado custo para o poder público, devendo-se ainda considerar de forma muito significativa o sofrimento e a perda na qualidade de vida profissional e social, desses profissionais em segurança pública. A Lei Orgânica e o Estatuto da Polícia Civil do Estado da Paraíba dispõem sobre a sua organização institucional, suas carreiras, os direitos e as obrigações dos seus integrantes e dá outras providências, ou seja, não foi criada para punir o policial, mas para que esse profissional possa exercer suas atividades com zelo e dedicação. 3.1 DESCRIÇÃO DE ALGUMAS CENAS DE CONFLITOS EXTRAÍDAS DAS OCORRÊNCIAS Empiricamente se constata que, nos locais onde se estabelecem as unidades policiais, as cenas de conflitos que ocorrem são apontadas em relatos de pessoas que comparecem na corregedoria e ouvidoria da polícia civil da Paraíba, e em alguns casos solicitam providências imediatas, temendo pela sua própria vida, conforme descrição que segue de casos selecionados de ocorrências do ano de 2019: Janeiro/2019–OUVIDORIA PC/PB. NATUREZA DA OCORRÊNCIA: DEFICIÊNCIA DO SERVIÇO POLICIAL. compareceu: (VÍTIMA ANÔNIMA), declarou: O denunciante relata que foi à Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 31 Delegacia no Bairro de Cruz das Armas, pois queria fazer um Boletim de Ocorrência de um estelionato que o mesmo havia sofrido através do celular, que chegando na delegacia haviam três funcionários na entrada e um deles já foi abordando o denunciante questionando do que se tratava o assunto. Que o denunciante explicou todo o ocorrido, daí o funcionário disse que eles não faziam esse BO lá, que ele teria que ir para outra delegacia. Que chegando à delegacia informada pelo servidor, foi muito bem atendido pelo policial que ali estava, o qual informou que ele poderia ter feito aquele BO em qualquer unidade policial. Que o denunciante se sentiu enganado e pede as providencias cabível. Percebe-se, no caso em tela, que o descaso por parte do profissional da segurança pública é evidente, uma vez que o denunciante poderia ter registrado a ocorrência em qualquer unidade policial. Esse conflito poderia ter se agravado, ocasionando assim um tumulto de moderado a forte, agravado pelo fato de que o denunciante procurava apoio do órgão público, porém não recebeu o devido atendimento. Para demonstrar domínio sobre o local de trabalho, representado pelo cargo ora exercido, o policial não recepciona com o devido respeito a denunciante quando esta comparece à delegacia para solicitar ajuda. Foi identificado relato em que quando do atendimento, o servidor profere palavras ofensivas à denunciante, a qual comparece na Ouvidoria da Polícia Civil-PB para fazer a denúncia com base no seguinte teor: Janeiro/2019–OUVIDORIA DA POLÍCIA CIVIL/PB compareceu: Demandante, 32 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I residente em João Pessoa/PB, declarou a denunciante que orientada por uma Promotora de Justiça para registrar um Termo Circunstanciado de Ocorrência contra o proprietário do imóvel onde reside, uma vez que este solicita que a mesma desocupe o imóvel sem esperar prazo, a denunciante compareceu a uma unidade policial da capital João Pessoa- Paraíba, e quando atendida pelo servidor policial, este demonstrando estar impaciente não escutou todo o relato da denunciante, pedindo a todo momento para que ela resumisse o fato, em seguida esmurrou a mesma gritando a falando uma palavra de baixo calão. Que a denunciante perguntou se o policial tratava a sua mãe daquela forma. Que é uma pessoa calma, alega que o servidor não poderia ter tratado a mesma daquela forma e que o mesmo estava ali para atender as pessoas com cordialidade e respeito. Em seguida a denunciante compareceu na Ouvidoria de Polícia Civil para denunciar o policial para que este não trate com grosseria outras pessoas que procuram a polícia para resolver problemas conflitantes. A grosseria, a decisão recorrente de exercer superioridade no local de trabalho não condiz com o que determina as normas administrativas que estabelece deveres e obrigações na polícia civil do estado da Paraíba, o mesmo ocorre com o pouco caso diante de uma situação que precisa ser sanada: Janeiro/2019 – OUVIDORIA DA POLÍCIA CIVIL/PB – Demandante, residente em Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 33 João Pessoa/PB, notificou através de telefone que: ao comparecerem uma delegacia distrital localizada na orla marítima de João Pessoa-Paraíba objetivando registrar um BO (Boletim de Ocorrência), porém não havia servidor no período da tarde, e que teria que esperar até a noite, ou se preferisse fazer o registro em outra delegacia. A reclamante comunicou o fato na Ouvidoria para que essa situação venha a melhorar, uma vez que falta servidor para atender a população. Acredita-se que uma parcela pequena de funcionários deixa a desejar na prestação de serviço ao cidadão, talvez em decorrência de pressão do próprio sistema de trabalho, o que se repete no seguinte relato: Março/2019 - Eu não procurei a Delegacia Geral do nada, mas por ter sido vítima de bandidos, fui informado, por meio da mídia, que a Polícia Civil havia apreendido alguns celulares, ao comparecer na delegacia fui maltratado, policiais me trataram com austeridade, fui humilhado. São pessoas despreparadas para atendimento com o público e acham que, por estarem empregadas em um órgão de segurança, podem tratar cidadão de forma desprezível. Respeito ao cidadão é o que se espera de um servidor da polícia civil do estado da Paraíba o que muitas vezes não ocorre. Fazendo uma leitura mais atenta dos aspectos descritos pelos reclamantes em relação aos atendimentos na delegacia, o que se percebe nesses relatos é uma agressão emocional. Os episódios 34 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I descasos em tela despertam atenção da sociedade, uma vez que o policial responsável pelos registros de ocorrências deverá estar preparado para os mais diversos tipos de atendimento. A depender da situação da pessoa que sofrera violência externa, poderão ocorrer também conflitos dentro da delegacia. Fevereiro/2019 – PLANTÃO EM UMA DELEGACIA DISTRITAL DA POLÍCIA CIVIL/PB, José, agente de investigação encontrando-se no plantão em uma delegacia distrital da Capital, quando por volta das 02h00min da madrugada chegara o senhor Simão para registrar uma Ocorrência Policial, cujo fato tratava-se de um acidente de trânsito com vítima. Cumprindo determinação superior, uma vez que existia uma portaria onde determina que todo acidente de trânsito que envolvesse vítima (lesão ou fatal) somente poderia ser registrado na Delegacia Especializada de Acidente de Trânsito, e se o fato ocorresse fora do expediente normal daí seria registrado na Central de Flagrantes. O policial informou a Simão da impossibilidade de atendê-lo, uma vez que existia essa determinação, Simão não aceitando o fato de não ser atendido naquele momento, deslocou-se até a central de flagrantes, onde registrou o fato do acidente, bem assim outra ocorrência em desfavor do policial, o qual dias depois recebera uma comunicação para comparecer na Corregedoria de Polícia para ser ouvido em sindicância administrativa. Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 35 Observa-se no caso em tela, o conflito, a dúvida, a ausência de uma comunicação adequada, visto que o profissional informa não ter autorização para o atendimento naquela unidade policial, uma vez que existe determinação superior. A outra parte não aceita sair daquele local sem ser atendido, fatalmente inicia-se uma discussão, cujas palavras proferidas não agradam ambas as partes. Esse conflito não termina ali, uma vez que o fato será apurado posteriormente em uma corregedoria, ocasionando transtorno para o profissional. Março/2019 – EXPEDIENTE EM UMA DELEGACIA DISTRITAL DA POLÍCIA CIVIL/PB, o Senhor Santos, Escrivão de Polícia Civil, quando no horário do expediente em uma delegacia distrital da Capital, por volta das 11:00 horas chegara o senhor Servi-lo, o qual objetivava registrar um Boletim de Ocorrência, cujo fato tratava-se da perda de seus documentos pessoais. Naquele horário encontravam-se várias pessoas aguardando a vez para ser atendido; após 40 minutos de espera o senhor Servi-lo foi à presença do escrivão para reclamar a morosidade no atendimento, este informou que a demanda era grande, muitas pessoas aguardavam o atendimento e que estava atendendo gradativamente cada uma delas, informando ainda que o mesmo aguardasse sua vez ou comparecesse a uma outra delegacia, uma vez que todas registram aquele fato. O senhor Servi-lo achou que estava sendo tratado de forma deprimente, inclusive proferindo insultos contra o servidor. Após alguns dias o escrivão recebe uma notificação da 36 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I existência de uma sindicância administrativa para que o mesmo venha explicar os motivos do conflito existente entre ele policial e o senhor Servi-lo. Santos, escrivão há décadas na polícia civil ficou depressivo, visto que não havia motivos para tal constrangimento, ou seja, responder a um procedimento na corregedoria da sua instituição. Não há como ficar impassível com a forma como ocorreu a comunicação, havendo no relato demonstração de impaciência por parte da pessoa que procurou resolver seu problema naquela unidade policial. Este estava decidido a não esperar sua vez, a deixar marcas profundas no psicológico daquele profissional, que nada poderia fazer, uma vez que como profissional deve adotar primordialmente o princípio da imparcialidade. Porém a agressividade da qual fora vítima, inclusive chamando atenção de todos, como se ele tivesse contribuído para que aquele conflito viesse a ocorrer, suscitou problemas psicológicos àquele profissional: Abril/2019 – EXPEDIENTE EM UMA DELEGACIA DISTRITAL DA POLÍCIA CIVIL/PB. A balconista Silvana compareceu na Delegacia para informar do roubo de um veículo de sua propriedade. Não sabia da numeração da placa do veículo, assim como da marca de seu aparelho celular bem assim os objetos que se encontravam no interior do automóvel, daí ao ser perguntado por várias vezes pelo policial as mínimas informações para o registro do Boletim de Ocorrência, esta não soube responder, gerando assim o conflito, uma vez que o policial não tinha como ajudar aquela Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 37 mulher, diante do nervosismo e exigência da mesma. As pessoas vítimas de algum tipo de violência, seja de roubo, furto, agressão física ou outro fato, antes mesmo de comparecer à delegacia de polícia, deverá procurar todas as informações possíveis e necessárias: identificação de seus objetos, dia, hora, local e características do autor, para que assim se possa iniciar um levantamento ou informação para que o fato venha a ser investigado e desvendado com precisão. No momento em que o profissional da segurança não dispõe de informações precisas, não terá como dar início ao trabalho investigativo, gerando assim problemas para ambas as partes. Circundada por uma teia de emoções, os conflitos ocorridos nas delegacias de polícia, nos quais de um lado está o servidor público policial, enquanto que a outra parte trata-se de uma pessoa que fora vítima de algum tipo de violência, não deixa apenas marcas emocionais. Eles atingem também a própria instituição policial, uma vez que não compartilham de uma forma harmoniosa para que o fato venha ser analisado e, na medida do possível, venha a ser resolvido. Esses aspectos são ressaltados na pesquisa sobre nove casos registrados em 2019. Conforme o Sistema de Medição da Corregedoria Geral de Polícia Civil do Estado da Paraíba, somente no dia 16 de janeiro de 2019, foram registrados 09 (nove) Processos Administrativos Disciplinar em desfavor dos policiais civis, por terem transgredido o que dispõe a Lei Complementar nº 85/2008 da Polícia Civil (PRAÍBA, 2008). Assim, nesse segmento e examinando as informações acima indicadas, vale refletir sobre o cotidiano e prática do agente policial reflexivo poderiam ser aprimorados, por exemplo, pela proposta da criação de uma Câmara Social de Conflitos, cuja opinião surgiu em decorrência do alto índice de procedimentosinstaurados na Corregedoria de Polícia do Estado da Paraíba, e assim viabilizar um projeto diferente do convencional ora existente. 38 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I Estamos falando da mediação e conciliação como formas de comunicação eficiente, visando assim encontrar uma resposta amigável para o problema: o mediador procura, da forma mais convincente, eliminar as barreiras de comunicação entre as partes, transformando o conflito vivido naquele momento em uma comunicação harmoniosa. 4 SOBRE A CRIAÇÃO DO NÚCLEO DE MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO ADMINISTRATIVO Situando na perspectiva da propositura da criação do Núcleo de Mediação e Conciliação Administrativo baseada em casos reais identificados através das demandas e atendimentos registrados na Corregedoria Geral e Ouvidoria de Polícia Civil, assim como a Resolução 125/2010 o Código de Ética do Mediador (Anexo III – Resolução 125/2010 – CNJ), a Lei 4.273 de 21 de agosto de 1981, e a Lei Complementar Nº 85, de 12 de agosto de 2008, as quais foram as referências básicas para o desenvolvimento deste projeto. Compreende-se, então, que o conflito acontece pelo descumprimento dos princípios de direito comum, pautadas no adágio popular “o direito de um termina onde começa o do outro”. Deste modo, pode-se afirmar que o conflito nasceu com o homem, no seu convívio em sociedade e, com ele, foram surgindo, desde a primícia, algumas formas de resolução dos conflitos. Daí se conclui que o ser humano é um indivíduo comum entre todas elas, já que ele é o foco de todas as predileções, para que se alcance uma convivência pacífica entre os homens. Justifica-se a criação do Núcleo de Mediação e Conciliação Administrativo diante da presunção de relevância que se constrói o problema central ao se indagar: como e por onde começar o revigoramento dos valores e de ações na direção de enfrentar os conflitos em locais de trabalho? O policial revestido das funções que lhes são peculiares acumula responsabilidades extremas quanto à organização e atendimento qualificado no ambiente de trabalho. Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 39 Pretende-se contribuir para a implantação do Núcleo de Mediação na Secretaria da Segurança e da Defesa Social do Estado da Paraíba, acreditando-se ser essa ação o instrumento de ampliação dialogal entre o policial e a sociedade, com predeterminação adequada. Isso possibilitaria cumprir a missão dentro dos perfis de cidadania e de civilidade diante de novos paradigmas de apoio à sociedade e ao profissional de segurança pública (MIRANDA, 2011). O Núcleo é um significativo instrumento de gestão, pois a partir do envio de manifestações pelo cidadão, seja reclamação ou denúncia, é possível mapear a realidade da qualidade do serviço público prestado, sob a ótica do destinatário final, ou seja, o cidadão que efetivamente o utiliza. É por esta razão que, dentre os objetivos específicos, têm- se os de coletar informações através de um cauteloso estudo dos casos selecionados, como fenômenos que acontecem no ideário dos principais registros de ocorrências e instauração de procedimentos administrativos junto à Corregedoria de Polícia Civil no que concerne aos conflitos entre policiais e sociedade, assim como problemas administrativos; identificar os casos em que os conflitos são os fatores predominantes como instrumento de busca do entendimento, averiguando o porquê de sua ocorrência e notando os elementos factuais recorrentes em cada caso; avaliar o uso da força quando da realização de uma abordagem policial, assim como o treinamento policial como fator de mudança no serviço prestado. Importante registrar que, conforme estabelece a lei nº 13.140/2015, em seu art. 2º, a mediação é regida por alguns princípios: imparcialidade do mediador; autonomia da vontade das partes; informalidade; isonomia entre as partes; oralidade; busca do consenso; confidencialidade e boa-fé (BRASIL, 2015). Por conseguinte, ao admitir a possibilidade de solução de conflitos entre o profissional de segurança pública e a sociedade, sobretudo quando se trata de violência psicológica, necessário se faz capacitar os delegados, escrivães, agentes e todas as equipes de profissionais que irão atuar nessa atividade. Conforme o que dispõe no art. 144, caput da Constituição Federal de 1988, a segurança pública cumpre um papel primordial 40 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I e estratégico, buscando alternativas para agrega-las aos órgãos através de novas tecnologias, identificando as habilidades e conhecimentos de cada integrante, modernizando e integrando valor para as organizações (BRASIL, 1988). 4.1 PROPOSTA DE UM PERCURSO OPERATIVO Numa análise mais acurada do percurso operativo do Núcleo de Mediação e Conciliação Administrativo, não se deve perder de vista que a conciliação ou mediação é um procedimento voluntário para solução de conflitos no qual as partes encontram- se na presença de um conciliador ou mediador e podem chegar a acordo. Por meio da conciliação ou mediação, as partes podem expor seu pensamento e têm a oportunidade de solucionar questões importantes de um modo cooperativo e construtivo – o que torna a mediação uma possibilidade de mudar a “cultura do conflito” para a “cultura do diálogo” (CONCEIÇÃO, 2021). Esse processo é na verdade, uma forma de facilitação de conversas, ou diálogos entre partes que se encontram em situações conflituosas e que não conseguem chegar a uma conclusão ou uma decisão ajustada. Tratando-se de mediação, adversidades relacionadas a familiares (pequenas discussões com esposo (a) e outras pessoas da família), vizinhos e amigos (pequenas discussões), pequenas contendas com o próprio colega de trabalho, ou seja, que tenha uma ligação de amizade ou conhecimento (MAZOLLA, 2015). Tratando-se de conciliação: problemas concernentes a um mau atendimento quando em contato com o público na delegacia quando de uma intimação ou abordagem policial (que algumas vezes causa impacto na outra parte), enfim, fatos de menor potencial que envolva o policial civil e o público em geral. A própria expressão da frase “isto é um caso de polícia” já comprova que no momento em que uma determinada situação se intensifica, investindo-se a incivilidade e a violência social ou individual, todos nós, quando envoltos em um conflito, ou outra dificuldade qualquer que venha prejudicar nossa idoneidade moral, social, dentre outras, eis que buscamos atendimento em Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 41 uma delegacia de polícia onde o agravamento dos conflitos não poderá de nenhuma forma, ser assimilado por agentes funcionais subtreinados pelo próprio Estado. Acredita-se que a polícia tem o dever de tratar bem a população que a procura, porém em muitas ocasiões os profissionais que se encontram nas delegacias não estão devidamente preparados e consequentemente não dispensam o atendimento adequado aos usuários. Desta forma, é primordial que haja incentivos, reciclagem etc., para que esses profissionais estejam capacitados, inclusive emocionalmente, para atuarem com profissionalismo no atendimento direto à população. É necessário viabilizar um projeto completamente diferente de tudo que foi feito até agora nas delegacias de polícia, objetivando alterar o método da prestação dos serviços existentes nestes locais. Sabemos que estamos falando de pessoas que no seu dia- a-dia trabalham arriscando a própria vida no enfrentamento com salteadores e que precisam, na maior parte das vezes, serem enérgicos e determinados. O atendimento adequado necessita estar em conformidade com a diversidade das vítimas, com um tratamento agradável a todos, porém focado à dificuldade problemática particular de cada um, assim como procurar atender as expectativas dessas pessoas que procuram atendimento nas delegacias. O profissional que desempenha suas atividades aoatendimento ao público, deve ter conhecimento e profissionalismo para analisar cada usuário, disponibilizando informações precisas com relação aos serviços a serem realizados, formas de trabalho, etc., para que assim a instituição policial tenha uma boa imagem perante a sociedade. Nesse contexto, deve-se considerar que a mediação e conciliação no âmbito administrativo da polícia é um procedimento a ser utilizado para agilizar o procedimento legal processual administrativo onde, após a parte comparecer na Corregedoria ou Ouvidoria de Polícia e formular a denúncia, será tomado a termo, e tratando-se de infrações penais de menor potencial ofensivo, indaga-se a pretensão da parte conciliar, uma vez que o ato é voluntário, caso as partes aceitem serem conciliadas estas serão convidadas para um diálogo entre si e 42 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I entre o mediador/conciliador designado para o ato. Esse será um momento em que os envolvidos poderão se justificar e redimir dos atos praticados. Caso não queira passar pela conciliação poderão informar que abdicam do direito de tentativa de autocomposição já que as partes terão conhecimento a respeito dos princípios da voluntariedade, do poder de decisão das partes, da capacitação do mediador, e a imperatividade da neutralidade e imparcialidade do mediador. Esse momento seguirá o princípio da informalidade, confidencialidade, dentre outros. O Núcleo atuará nos casos aplicados em pequenos conflitos ocasionados quando do atendimento na delegacia, quando em uma abordagem do policial a uma pessoa por motivos diversos, dentre eles entrega de uma intimação ou solicitação de informação, assim como de ordem familiar e de vizinhança, podendo ser incluído infrações penais de menor potencial ofensivo, nos casos previstos na lei nº 9.099/95, como lesões corporais de natureza leve, ameaças, crimes contra a honra, maus tratos, perturbação do sossego ou da tranquilidade alheia. Tais conflitos correspondem a um grande montante de expedientes instaurados na Ouvidoria e Corregedoria de polícia, sendo fatos recorrentes que tendem a se agravar. A finalidade é evitar o agravamento desses conflitos e, principalmente, que estes se transformem em graves delitos ou grandes tragédias sociais, emocionais ou até mesmo financeiras. A visão integrativa, o intercâmbio contínuo de experiencias certamente contribuirão para a melhoria na qualidade do atendimento. Após o reclamante comparecer no Núcleo de Mediação e Conciliação Administrativo da Policia Civil, é esclarecido a proposta da resolução pacífica do conflito. Caso aceite ser conciliado ou mediado, a parte preenche um formulário inicial de teor autoexplicativo, onde são esclarecidos os aspectos e características, tanto do método, quanto do procedimento de conciliação ou mediação. Nesse mesmo documento estão inseridas as informações referentes ao acordo. A seguir, o conciliador ou mediador entrega ao reclamante um convite para participar da conciliação ou mediação Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 43 (que é assinado pelo conciliador ou mediador) em seguida é expedida outro convite para a outra parte, convidando-a a participar da sessão. No mesmo impresso estarão as informações de data, hora e local para uma sessão individual com os conciliadores ou mediadores, como também, delineados os aspectos e significados do procedimento de conciliação mediação de conflitos. A outra parte comparece ao Núcleo e também apresenta sua versão dos fatos em sessão individual. Da mesma forma, o conciliador ou mediador entrega-lhe o formulário inicial, apresentando a possibilidade de conciliação ou mediação. Estas sessões são muito importantes para utilização da técnica de “desarme” (psicológico) de ambas as partes, pois o conciliador ou mediador desenvolverá a sua função inicial de dar conotações positivas para o conflito. Na Sessão conjunta ou abertura do “ciclo de conciliação ou mediação”, com a presença de envolvidos, e dos conciliadores ou mediadores, todos serão informados preliminarmente, do objetivo do ciclo, ou seja, de favorecer a construção de um acordo moral, por intermédio de uma solução alternativa, aberta e pacífica para o conflito Enfim, demonstrando que mesmo diante das controvérsias, há sempre a possibilidade para que todos saiam vencedores. Havendo composição entre as partes será elaborado o termo do acordo de conciliação ou mediação, legitimando todo o processo, com assinatura dos envolvidos e conciliadores ou mediadores. Independente de qual seja o resultado das sessões, o expediente será encaminhado para a Corregedoria Geral de Polícia Civil. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS No aspecto do que foi exposto, somos convictos que, detalhamos a importância, respeito e consideração que se deve conceder ao servidor público policial civil, quanto a novos paradigmas enfocados neste trabalho, a exemplo de que a incorporação entre a polícia e a comunidade, proporcionando a compreensão da segurança pública como compromisso de todos, 44 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I estabelecendo uma relação de confiança entre o policial e o cidadão. No momento em que um policial em contato com uma pessoa da sociedade que teve suas ideias, comportamentos e idoneidade contrariados, e o agente público não satisfaz aos anseios momentâneos, em muitas vezes por uma simples resposta negativa, tom de voz ríspido, ou um mau atendimento, quando da entrega de uma simples Certidão de Ocorrência ou intimação, ainda assim em uma abordagem policial, facilmente poderá ocorrer uma lide, formando assim um caminho aberto para que aquela pessoa procure os órgãos para assim comunicar. Este projeto surge como uma ferramenta que busca solucionar, por meio de um acordo entre as partes orientado por um conciliador ou mediador, conflitos de menor potenciais ofensivos ocorridos na delegacia envolvendo o policial e a pessoa que procura os trabalhos do servidor, permitindo a análise de diferentes alternativas ante uma contenda, além de facilitar estratégias para entender os mecanismos do conflito interpessoal e em consequência atuar na resolução do mesmo. É um modelo preventivo que não trabalha somente sobre o efeito senão sobre a causa dos conflitos. Para a implantação de um Núcleo de Mediação e Conciliação Administrativa sugere-se que a equipe organize uma reunião com os gestores, para discutir formas de implementação do projeto de criação, constando de modelo conceitual, infraestrutura, ações, recursos físicos e humanos capazes de realizar as sessões de mediação e conciliação. É necessário que o Núcleo tenha mediadores e conciliadores devidamente capacitados, de conformidade com a resolução 125/2010 do CNJ. Ressalte-se que a importância do Núcleo é possuir autonomia e vinculação direta à Corregedoria de Polícia Civil. Paralelamente à normatização do Núcleo, faz-se necessário que o executivo estadual garanta a estruturação física mínima para seu funcionamento: espaço físico adequado com garantia de acolhimento privativo e sigiloso tanto para os cidadãos quanto aos servidores, além de localização de fácil acesso e viabilidade a; equipamentos e mobiliários adequados para a realização dos Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 45 serviços, disponibilidade de linha telefônica e acesso à internet, sistema informatizado para tramitação das manifestações e central de atendimento telefônico. Quanto à escolha da equipe de conciliadores e mediadores. Deve-se constituir uma equipe capacitada ao desenvolvimento do trabalho, que possua dentre outras qualidades: formação de conciliação e mediação, ética, sensibilidade social, presteza, iniciativa, dedicação, comunicabilidade, dentre outros. A formação dos servidores deve ser compatível com as exigências das atribuições dadas a ele. Precisa-se ainda capacitá-los com cursos presenciais e virtuais. Contribuirpara a definição do fluxo de trabalho do Núcleo, ou seja: os canais de entrada das informações, a forma de recebimento, a classificação, a análise, o encaminhamento, o acompanhamento, a resposta ao cidadão e a forma de repasse dessas informações à Corregedoria, essa é na essência, a gênese da proposta que deu corpo e esse projeto. REFERÊNCIAS BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República: Casa Civil: Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao compilado.htm. Acesso em: 23 fev. 2022. BRASIL. Resolução nº 125, de 29 de outubro de 2010. Dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp- content/uploads/2014/04/resolucao_125_29112010_23042014190 818.pdf. Acesso em: 20 set., 2022. BRASIL. Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública; altera a Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997, e o Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972; e revoga o § 2º do art. 6º da Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997. Disponível em: 46 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13140.htm. Acesso em: 20 set., 2022. CONCEIÇÃO, Daniele Lisboa da. Mediação e o processo civil brasileiro: cultura do conflito vs. Cultura do diálogo. Conteúdo Jurídico. Brasília, DF. 19 mar. 2021. Disponível em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/56266/media o-e-o-processo-civil-brasileiro-cultura-do-conflito-vs-cultura-do- dilogo. Acesso em: 20 set., 2022. MAZOLLA, Marcelo. Tempo de mediação. Mediare, 2015. Disponível em: https://mediare.com.br/temp-de-mediacao/. Acesso em: 20 set., 2022. MIRANDA, Ana Karine Pessoa Cavalcante (2011). Segurança pública, formação policial e mediação de conflitos: novas orientações para a atuação de uma polícia cidadã. 127 p. Dissertação de Mestrado em Políticas Públicas – Universidade Estadual do Ceará (UECE), 2011. Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UECE- 0_868dc923f3c8dc7802d345e412ac9aa2. Acesso em: 20 set., 2022. OLIVEIRA, Onivan Elias de. Você sabe com quem está falando? João Pessoa: Ideia, 2017. PARAÍBA. Lei Complementar nº 85, de 12 de agosto de 2008. Dispõe sobre a Lei Orgânica e o Estatuto da Polícia Civil do Estado da Paraíba, sua organização institucional, suas carreiras, os direitos e as obrigações dos seus integrantes e dá outras providências. Disponível em: https://www.policiacivil.pb.gov.br/legislacao/lei- complementar-no-85-de-12-de-agosto-de-2008-atualizada.pdf. Acesso em: 20 set., 2022. PARAÍBA. Decreto nº 34.631 de 10 de dezembro de 2013. Dispõe sobre as Competências da Ouvidoria Geral do estado e dá outras providências. Publicado no Diário Oficial nº 15.410 – Estado da Paraíba – de 11 de dezembro de 2013. Disponível em: https://paraiba.pb.gov.br/indiretas/ouvidoria-geral-do- estado/legislacao/decreto-34-631-de-10-de-dezembro-de-2013- dispoe-sobre-as-competencias-da-ouvidoria/view. Acesso em: 20 set., 2022. Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 47 PARAÍBA. Polícia civil: quando surgimos, nossa função e princípios institucionais, 2019a. Disponível em: https://www.policiacivil.pb.gov.br/institucional/institucional. Acesso em: 20 set., 2022. PARAÍBA. Polícia civil: estrutura organizacional. 2019b. Disponível em: https://www.policiacivil.pb.gov.br/institucional/orgaos- delegacias. Acesso em: 20 set., 2022. 48 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I CAPÍTULO II DESCRIÇÃO DE CENÁRIOS EM TORNO DO FENÔMENO REFUGIADOS AMBIENTAIS NO BRASIL DESCRIPTION OF SCENARIOS AROUND THE PHENOMENON OF ENVIRONMENTAL REFUGEES IN BRAZIL Andrea Cristina de Melo2 Maria do Socorro da Silva Menezes3 RESUMO: É recente a preocupação para com os refugiados ambientais, categoria de refugiados carente de amparo jurídico e pouco estudada principalmente no Brasil. Com vistas à ampliação dessa discussão, objetivou-se investigar a seguinte questão- problema: como podem ser descritos os cenários em torno do fenômeno refugiados ambientais considerando a realidade dessa categoria de refugiados no Brasil? Trabalhando com a hipótese de que os refugiados ambientais migram em busca de lugares nos quais tenham condições e qualidade de vida para que possam viver em paz, sem precisar suportar situações de risco, decorrentes de perturbações ambientais. Seguindo o método dedutivo de análise e as diretrizes aplicadas a pesquisa bibliográfica e documental de natureza descrita, o estudo ora apresentado teve por objetivo descrever dois cenários sobre o fenômeno dos refugiados ambientais no Brasil; o primeiro tendo como causa eventos climáticos representados pela seca, inundações e deslizamentos de encostas; o segundo consequência de causas antropocêntricas focando nas queimadas, no caso de Mariana e no de Brumadinho. Na sua abordagem teórica o estudo aborda ocupa-se em averiguar a parte conceitual, 2 Bacharela em Direito; Estudante de Teologia. 3 Mestre em Economia. Especialista em Direito Ambiental. Professora do Curso de Graduação e Pós-graduação em Direito da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba-FESP. Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I | 49 a dimensão do problema no mundo e, no Brasil em particular, averiguando as causas, consequências e a questão jurídica envolvendo o objeto de estudo, enfatizando a legislação da ONU, a proteção constitucional e a legislação infraconstitucional pátria envolvendo o objeto de estudo. PALAVRAS-CHAVE: Refugiados Ambientais. Eventos Climáticos. Causas Antropocêntricas. Amparo Jurídico. ABSTRACT: There is a recent concern with environmental refugees, a category of refugees lacking legal support and little studied mainly in Brazil. With a view to expanding this discussion, the objective was to investigate the following problem question: how can the scenarios around the phenomenon of environmental refugees be described considering the reality of this category of refugees in Brazil? Working with the hypothesis that environmental refugees migrate in search of places where they have conditions and quality of life so that they can live in peace, without having to endure risky situations, resulting from environmental disturbances. Following the deductive method of analysis and the guidelines applied to bibliographic and documentary research of a described nature, the study now presented aimed to describe two scenarios about the phenomenon of environmental refugees in Brazil; the first, caused by climatic events represented by drought, floods and landslides; the second consequence of anthropocentric causes focusing on burning, in the case of Mariana and Brumadinho. In its theoretical approach, the study deals with investigating the conceptual part, the dimension of the problem in the world and, in Brazil in particular, investigating the causes, consequences and the legal issue involving the object of study, emphasizing the UN legislation, constitutional protection and the national infraconstitutional legislation involving the object of study. KEYWORDS: Environmental Refugees. Climate Events. Anthropocentric Causes. Legal Support. 1 INTRODUÇÃO 50 | Estudos e Reflexões Sobre Temas Jurídicos: Volume I Esse estudo sobre a descrição de cenários em torno do fenômeno refugiados ambientais no Brasil foi elaborado sob a ótica do direito ambiental buscando não apenas conhecer a realidade dessa categoria de pessoas que, em decorrência de mudanças climáticas e alterações no meio ambiente, tais como secas intensas, desertificação, esgotamento do solo, enchentes, deslizamentos,
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