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5 Evangelho Segundo João

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Prévia do material em texto

Estudos Bíblicos: 
Sinóticos e Escritos 
Joaninos
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Valter Luiz Lara
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Natalia Conti
Evangelho Segundo João
• Introdução;
• Autoria; 
• Data e Local de Composição;
• Contexto Histórico e Social;
• Objetivo, Conteúdo e Estrutura Literária;
• Jesus no Evangelho Joanino;
• Fé e Eclesiologia no Evangelho Joanino;
• Conclusão.
 · Capacitar o aluno a desenvolver leitura crítica e contextualizada do 
Evangelho segundo João (EJo), oferecendo informações básicas 
sobre os conflitos internos e externos que marcaram a história social 
e religiosa da comunidade que está por detrás de sua redação. 
 · Proporcionar ao aluno aspectos do texto como os objetivos, estrutura 
literária e a organização temática com alguns dos principais temas 
que deram origem ao Escrito desse Evangelho, apresentando-o 
como resposta aos problemas e conflitos vividos pela comunidade 
de fé que ele representa.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Evangelho Segundo João
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você 
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão 
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Evangelho Segundo João
Contextualização
A história da humanidade infelizmente é marcada por conflitos, guerras e 
violências de todo tipo. As razões religiosas estão presentes e algumas vezes, se 
não são a causa dos conflitos, colaboram muito para potencializar ou oferecer as 
motivações para torná-los ainda mais violentos. 
Leia abaixo, em itálico, um trecho de uma reflexão repleta de informações a esse 
respeito que foi postada em 05/03/2008 no Portal Portas Abertas – servindo cristãos 
perseguidos, cujo título é: “Entenda os principais conflitos religiosos do Mundo”. 
Atualmente, vários países vivem intensos conflitos religiosos. No Iraque, 
ataques suicidas de homens-bombas motivados por princípios do 
fundamentalismo islâmico. Outro exemplo é a Nigéria, que em 2006 teve 
um confronto entre cristãos e mulçumanos que resultou na morte de 150 
pessoas em apenas uma semana. Mas não é de hoje que este problema 
assola o mundo. As Cruzadas, por exemplo, aconteceram do século 6 ao 
8 e tinham como objetivo impor o cristianismo na Terra Santa (Palestina).
Conflitos e tensões 
Uma das acusações mais comuns feitas às religiões é que elas causam 
mais violência do que paz. Por essa ótica, o mundo seria um lugar melhor 
sem elas e suas rixas. Há alguma verdade nisso. As divisões religiosas 
atravessam continentes, épocas e ainda hoje influenciam a política, a 
economia e as comunidades.
Debates históricos, guerras, lutas e disputas internas criaram os mapas 
contemporâneos do mundo e o fizeram de modo que poucos se deram 
conta. Por exemplo, a União Europeia, “cristã”, surgiu da vivência das 
invasões muçulmanas nos séculos 14-17 e da ocupação de parte da 
Europa oriental pelo islã até o século 20.
Os violentos conflitos no Iraque têm suas raízes na dissidência entre 
muçulmanos sunitas e xiitas, no século 7, e lutas no Sudão, Etiópia e 
Nigéria remontam em certas áreas ao século 10.
Perseguição sem precedentes
A violência, contudo, não vem apenas do lado da religião. Nos últimos 
100 anos, as principais religiões foram mais perseguidas do que em 
qualquer outro período histórico. E, na maioria dos casos, trata-se não 
de religião perseguindo religião, mas de ideologia perseguindo religião.
Isso abrange desde as investidas da revolução socialista de 1924 no 
México contra o poder, as terras e, por fim, o clero e os edifícios da Igreja 
Católica até as agressões aos bahaístas no Irã, a partir da década de 1970, 
passando pela repressão a todas as religiões na URSS, pelo extermínio 
dos judeus no nazismo e pela agressão maciça a toda religiosidade na 
China da Revolução Cultural.
8
9
Infelizmente, as zonas de tensão se mantêm: na medida em que as religiões 
se recuperam da perseguição, alguns reiniciam suas próprias perseguições. 
Entretanto, o tempo e a vivência dos últimos 100 anos, mais o impacto 
dos movimentos ecumênicos e multiconfessionais, começaram a mudar 
muitos grupos religiosos, e, nesses casos, as velhas divisões e inimizades 
foram se desvanecendo. Divisões históricas, várias delas com séculos de 
existência, criadas por diferenças na crença e na prática religiosa, estão 
na origem de muitas das tensões e conflitos atuais.
Leia mais: https://goo.gl/LBBjcv
Ex
pl
or
A leitura do EJo proposta nessa Unidade não ignora essa realidade de disputa 
religiosa. Fique atento ao que foi apresentado como contexto conflituoso que faz 
gerar o texto joanino. Observe os diferentes grupos, tanto internos quanto externos 
que estão em oposição e fazem parte das polêmicas encontradas no Evangelho e, 
muitas delas projetadas para o tempo de Jesus. O episódio da cura do cego de 
nascença (Jo 9) deixa claro essa projeção. 
O conflito com os judeus, muito marcante no EJo precisa ser visto na ótica do 
contexto restrito da expulsão de cristãos joaninos da sinagoga no último quarto do 
século primeiro. Essa briga histórica, embora presente no Evangelho, de maneira 
alguma pode ser transferida automaticamente para os nossos dias. É preciso fazer 
uma leitura crítica que respeite a escritura e a ótica do evangelista desde a defesa 
de sua comunidade perseguida pela sinagoga daquele tempo (Jo 16,2), mas não se 
pode usar o conflito do passado para legitimar diferenças religiosas que precisam 
ser respeitadas. Caso contrário, corre-se o risco de comprometer o diálogo inter-
religioso tão necessário para superar a violência religiosa como testemunho para 
um mundo de paz tão sonhado por todos. A Tradução Ecumênica da Bíblia, neste 
sentido, deu um exemplo ousado: traduziu a palavra grega “Ioudaios” (“judeus” em 
português) por “autoridades judaicas” e assim ofereceu a oportunidade do leitor 
fazer justiça ao que de fato aconteceu quando o EJo se refere a conflitos de Jesus 
com grupos judaicos de seu tempo. Afinal de contas, Jesus e o grupo de seus 
discípulos eram, na Palestina de seu tempo, todos judeus. 
Agora é com você. Leia todo o material da Unidade e faça o seu próprio 
discernimento sobre como se deve ler o Quarto Evangelho, se na linha da tensão 
proselitista contra outras confissões religiosas ou na afirmação da fé em Jesus 
como aquele que traz vida e vidaplena para todos (Jo 10,10)?
9
UNIDADE Evangelho Segundo João
Introdução
O Evangelho segundo João1 é um evangelho com características bem diferentes 
dos evangelhos sinóticos (Mt, Mc e Lc). Ele traz uma visão sobre Jesus que os autores 
costumam chamar de “alta cristologia”. Trata-se de uma expressão para distinguir o 
que eles chamam de “baixa cristologia” dos evangelhos sinóticos. “Alta” e “baixa” 
são referências ao grau de aproximação e identificação de Jesus com o Pai, isto 
é, um modo de tratar Jesus privilegiando ora a sua divindade (alta cristologia – no 
EJo), ora a sua humanidade (baixa cristologia – evangelhos sinóticos). 
Ao título de Messias, o EJo acrescenta muito mais a Jesus. Ele é “o caminho, a 
verdade e a vida” e por ele “se chega ao Pai” (Jo 14,6). Em João a identidade de 
Jesus em relação ao Pai é toda singular: quem o vê, vê o Pai (Jo 14,9). O prólogo 
do Evangelho desde o início confessa Jesus como “logos2 de Deus preexistente” (Jo 
1,1-3), aquele que se encarna e vem fazer morada no meio da humanidade (Jo 1,14). 
Tudo isso que é proclamado no EJo transformou-se no fundamento da cristologia, 
isto é, no modo como a maioria das igrejas cristãs, sejam evangélicas ou católicas 
confessam Jesus: segunda pessoa da Santíssima Trindade. Na teologia cristã 
(com exceção para algumas igrejas como As Testemunhas de Jeová), a Trindade 
representa a identidade de um só e único Deus em três distintas pessoas: o Deus 
Pai, o Deus Filho Jesus Cristo e o Deus Espírito Santo. É o que se afirma como o 
mistério do Deus trino e uno ao mesmo tempo, o que supõe o outro mistério em 
Jesus: única pessoa e duas naturezas, a humana e divina, o homem-deus. É no 
EJo que esses mistérios estão melhor demonstrados ou pelo menos sugeridos com 
maior ênfase do que nos outros três evangelhos. 
Outra coisa importante que se pode inferir do EJo é o quanto ele permite, ao 
estudioso interessado no contexto de sua escritura, conhecer melhor as origens 
cristãs e o desenvolvimento de sua identidade distinta no confronto com a sinagoga 
dos judeus e no conflito com outras tendências do cristianismo confessado por 
outras igrejas irmãs seguidoras do homem de Nazaré. 
Os escritos joaninos (o EJo e as Cartas de João) são fontes imprescindíveis para 
compreensão de uma boa parte da história das comunidades primitivas. Eles fazem 
alusão a conflitos fundamentais vividos por comunidades que buscavam afirmar 
identidades próprias com matizes diferentes dentro do movimento mais amplo 
daqueles que se consideravam discípulos de Jesus.
1 Nessa Unidade será adotado a sigla “EJo” para Evangelho Segundo João, “Jo” para a citação e “João” quando a 
referência for o evangelista.
2 Logos, na língua grega significa verbo, palavra, discurso inteligível ou razão como fundamento do mundo. É uma 
palavra que pode expressar a sabedoria divina como identidade própria de Deus, ou o Deus mesmo na cultura judaica 
veterotestamentária. O livro de provérbios assim define a sabedoria de Deus: como realidade preexistente a toda obra 
criada (Pr 8, 23-31).
10
11
Nessa unidade, além dos tópicos que esclarecem as informações sobre autoria, 
data, local de composição e outros temas importantes presentes no EJo, você 
terá ainda uma descrição mais longa da eclesiologia joanina, isto é, um panorama 
das características que marcaram a comunidade que ele representa. Por isso, o 
contexto histórico, social e religioso do texto deverá ter um espaço privilegiado 
nessa unidade de estudos sobre o EJo. Fique atento e procure estabelecer em sua 
leitura uma sintonia entre o texto do evangelho e as novas informações sobre o 
seu contexto. 
Autoria
A tradição, desde Irineu (ano 180), definiu João, o filho de Zebedeu, como o 
autor do quarto evangelho. O fato é que não há nada no texto que autorize em 
definitivo essa autoria. Podemos afirmar apenas que há um testemunho ocular que 
serve como fundamento do relato escrito (19,35; 21,24). Dessa maneira podemos 
afirmar que temos uma escola ou grupo de discípulos redatores que se reconhecem 
herdeiros do que foi escrito ou transmitido oralmente pelo primeiro autor (cap. 
1-20). O autor do quarto evangelho, na verdade, deve ser chamado de discípulo 
amado, pois é assim que o relato se refere ao personagem cujo testemunho e 
memória ocular são fundamentos da narrativa (13,23; 19,26; 20,2.8; 21,7.20). 
Data e Local de Composição
Ainda é controversa a opinião sobre o lugar de composição. A data da redação 
final pode ser definida como sendo no máximo entre 100 e 110. Com relação ao 
lugar de origem, Alexandria é a primeira hipótese, pois há a evidência dos papiros 
que continham desde muito cedo parte do evangelho e que de lá vieram. Hoje, 
porém, a maioria dos autores prefere a cidade de Éfeso como local de origem da 
redação do evangelho joanino. A primeira razão é o parentesco com o livro do 
Apocalipse e a segunda provém da polêmica com a sinagoga, que em Éfeso é uma 
realidade atestada (Ap 2,9; 3,9). Naquela cidade havia um grupo de seguidores do 
Batista (At 19,1-7), aliás único lugar fora da Palestina em que o Novo Testamento 
menciona a presença destes discípulos. Além disso, Éfeso é um cenário onde a 
polêmica antidocetista e antignóstica, presente no evangelho, não precisa ser 
descartada. Entretanto, acreditamos na opinião defendida por Klaus Wengst, que 
coloca a composição mais provável do evangelho segundo João na região sírio- 
-palestinense dominada pelo reino de Agripa II, nas terras de Gaulanítide, Batanea 
e Traconítide, localizada ao norte da Palestina (WENGST, 1988, p. 87-89).
11
UNIDADE Evangelho Segundo João
Contexto Histórico e Social 
A teoria mais aceita e consistente para compreender a história das diversas 
etapas da comunidade joanina, tendo como fundamento a história da redação 
do Ejo, foi apresentada por Raymond Brown. Abaixo apenas transcrevemos sua 
proposta de quatro etapas dessa história da comunidade que Brown reconstitui 
com base na leitura crítica do próprio texto.
Etapas da história da redação do EJo.
Primeira Etapa. Trata-se do período chamado de pré-evangélico, tempo das 
origens da comunidade; de sua relação com o judaísmo da metade do século 
primeiro. No tempo em que o evangelho foi escrito, os cristãos joaninos tinham 
sido expulsos das sinagogas (9,22;16,2) porque eles reconheciam Jesus como 
Cristo. Tal expulsão reflete a situação no último quartel do século primeiro, 
quando o centro de ensino do Judaísmo era em Jâmnia (Jabneh), um judaísmo 
que era predominantemente fariseu e assim não mais tão pluralístico como antes 
de 70. Com efeito, a ação da expulsão pode estar ligada à reformulação (85, 
d.C. aproximadamente) de uma das dezoito bençãos (Shemoneh Esreh) que eram 
recitadas nas sinagogas. A reformulação da décima segunda bênção envolvia uma 
maldição sobre os minîm, isto é, os que se tinham desviado, os quais, ao que tudo 
indica, incluíam os judeus cristãos. Embora o evangelho tenha sido escrito depois 
deste ponto no tempo, a história pré-evangélica certamente incluía as controvérsias 
entre cristãos joaninos e os chefes da sinagoga. Em 11,48 há uma referência à 
destruição do Templo (lugar) que ocorreu em 70. As referências precisas a lugares 
e costumes da Palestina, as memórias samaritanas que mencionaremos abaixo 
sugerem que algumas das tradições se formaram antes da grande sublevação no 
cristianismo da palestina causada pela revolta dos judeus contra Roma na década 
de 60. E assim podemos ter razão quando datamos a Primeira Fase, o período pré- 
-evangélico da história joanina consciente, num período de várias décadas, desde a 
metade dos 50 até o fim dos 80.
Segunda etapa. Envolveu a situação da vida da comunidade joanina no tempo 
em que o evangelho foi escrito. “Escrito” é um termo ambíguo, pressupondo- 
-se a atividade tanto de um evangelista como de um redator, mas o período de 
aproximadamente 90 d.C dataria a principal redação do evangelho. A expulsão das 
sinagogas então já passou, mas a perseguição (16,2-3)continua, e há profundas 
cicatrizes na alma joanina em relação aos judeus. A insistência numa alta cristologia, 
tornada cada vez mais intensa pelas lutas com os judeus, afetou as relações da 
comunidade com os outros grupos cristãos, cuja avaliação de Jesus é inadequada 
segundo os padrões joaninos. As tentativas de proclamar a luz de Jesus aos gentios 
podem também ter encontrado dificuldades, e “o mundo” tornou-se um termo geral 
para todos aqueles que preferem as trevas à luz. Esta fase nos fornece informações 
detalhadas sobre o local da comunidade joanina num mundo pluralístico de crentes 
e não crentes, no final do século.
12
13
Terceira Etapa. Refere-se à situação de vida nas comunidades joaninas agora 
divididas, no tempo em que foram escritas as epístolas, provavelmente por volta 
do ano 100 d.C. À guisa de introdução apresentarei uma seção intermédia que 
procura estabelecer o que aconteceu entre o evangelho e as epístolas para causar 
a espécie de divisão relatada em 1Jo 2,19. Argumentarei com a hipótese de que a 
luta acontece entre dois grupos dos discípulos de João, que estão interpretando o 
evangelho de maneiras opostas, no que se refere à cristologia, à ética, à escatologia 
e à pneumatologia. Os temores e o pessimismo do autor das epístolas sugerem 
que os separatistas estão tendo maior sucesso numérico (1Jo 4,5) e o autor está 
tentando defender seus adeptos contra posteriores incursões de falsos mestres
( 2,27; 2Jo 10,11). O autor sente que é a “última hora” ( 1Jo 2,18).
Quarta etapa. Momento da dissolução dos dois grupos joaninos depois que as 
epístolas foram escritas. Os separatistas, não mais em comunhão com a ala mais 
conservadora da comunidade joanina, provavelmente tenderam mais rapidamente 
no século segundo para o docetismo, o gnosticismo, o cerintianismo e o montanismo. 
Isto explica porque o quarto evangelho, que eles levaram consigo, é citado mais 
cedo e mais frequentemente por escritores heterodoxos do que por escritores 
ortodoxos. Os adeptos do autor de 1Jo no começo do século segundo parecem ter 
gradualmente se incorporado no que Inácio de Antioquia chama “a Igreja católica”, 
como se demonstra pela aceitação crescente da cristologia joanina da pré-existência 
do Verbo. Entretanto, esta incorporação deve ter custado o preço da aceitação 
joanina da estrutura autoritária do ensino da Igreja, provavelmente porque o seu 
próprio princípio do Paráclito como o mestre não ofereceu defesa suficiente contra 
os separatistas. Como os separatistas e seus descendentes heterodoxos usaram mal 
o quarto evangelho, ele não é citado como Escritura pelos escritores ortodoxos na 
primeira parte do século II. Contudo, o uso das epístolas como um guia correto 
para interpretar o evangelho finalmente conquistou para João um lugar no cânon 
da Igreja. Muito deste reconhecimento mostra uma comunidade cuja avaliação de 
Jesus era aguçada pela luta, e cuja elevada apreciação da divindade de Jesus levava 
ao antagonismo fora da comunidade e a cismas dentro dela. Se a águia joanina 
pairava por sobre a terra, ela o fazia com as garras de fora preparadas para a luta. 
E os últimos escritos que nos ficaram mostram os filhotes da águia dilacerando- 
-se mutuamente pela posse do ninho. Há momentos de contemplação tranquila 
e de penetração iluminada nos escritos joaninos, mas eles também refletem um 
envolvimento profundo na história cristã. Como Jesus, a palavra transmitida à 
comunidade joanina vivia na carne. (BROWN, 1983, p. 20-23 )
A teoria das diferentes etapas de composição do evangelho nos remete aos 
conflitos vividos pela comunidade e desse modo aos diferentes grupos religiosos que 
faziam parte dessa história. De uma maneira direta ou indireta, o quarto evangelho é 
o testemunho escrito da existência desses grupos. Não há espaço para caracterizar 
todos eles e o papel que tiveram na história da comunidade joanina, mas é bom 
levá-los em consideração para melhor compreender o sentido da narrativa joanina. 
13
UNIDADE Evangelho Segundo João
Os grupos internos em conflito na comunidade joanina 
1. Grupos originários da 1ª etapa: meados dos anos 50 ao final dos 80 
O grupo de origem pertence à Palestina ou perto daquela região; são 
judeus que tinham esperanças relativamente semelhantes às de seus con-
cidadãos, inclusive alguns dos seguidores de João Batista aceitaram Je-
sus como Messias davídico sem grandes dificuldades. Ele foi considera-
do por esse primeiro grupo como aquele que havia sido prometido pelas 
profecias e cuja missão fora confirmada por seus milagres (Jo 1,35-41). 
O segundo grupo dessa primeira etapa era formado por judeus de tendên-
cias contrárias ao Templo; fizeram convertidos na Samaria e entenderam 
Jesus contra uma tradição mosaica e de maneira não davídica. 
2. Grupos originários da 2ª etapa: anos 90. A abertura da comunidade 
aos gregos era concebida como fazendo parte dos planos de Deus. Nesse 
momento a comunidade pode ter saído da Palestina e provavelmente de 
Jerusalém (At 6,1) para uma diáspora, fuga ou missão entre os gregos do 
mundo pagão.
3. Grupos da 3ª etapa: Epístolas joaninas dos anos 100-110. A con-
centração defensiva de uma cristologia contra “os judeus” e os “cristãos 
judeus” levou a uma divisão dentro da comunidade joanina, fazendo surgir 
o grupo dos adeptos do autor das epístolas. Esse grupo defendia a tese de 
que para ser filho de Deus a pessoa devia observar os mandamentos e con-
fessar que Jesus Cristo veio na carne (1Jo 4,2). Os separatistas, contrários 
a essa confissão de fé, foram considerados pelos primeiros como filhos 
do diabo e anticristos (1Jo4,1). O contraponto de uma alta cristologia 
era a compreensão de tendência docética: achar que Jesus não assumiu 
verdadeiramente a fragilidade da carne e não foi inteiramente humano; o 
adjetivo docética vem do verbo grego, dokein, cujo significado é “parecer”. 
A tese então desse grupo consistia em afirmar que o Cristo é um ser divino 
de mera aparência humana. Apenas parece um ser humano, mas de fato 
não é. 
4. Grupos da 4ª etapa: depois das Epístolas joaninas – início do século II 
O grupo dos separatistas de tendência docética torna-se gnóstico3. A maior 
parte da comunidade joanina parece ter aceitado a teologia separatista, a 
qual, tendo-se apartado dos moderados por meio do cisma, tendeu para 
o verdadeiro docetismo (considera Jesus um ser divino de mera aparência 
humana) e depois para o gnosticismo (de um Jesus preexistente a crentes 
preexistentes que também tinham vindo do mundo celeste). Há também o 
grupo dos fiéis joaninos, é aquele cujos membros mantiveram comunhão 
com a igreja dos doze - a grande igreja. 
3 Gnóstico é um grupo religioso cujas características são diversas, mas seus membros têm em comum a visão dualista 
e extremamente espiritualista do mundo, rejeitando o mundanismo da carne e da matéria.
14
15
Os grupos externos em confl ito com a comunidade joanina 
1º) O mundo. São aqueles que preferem as trevas à luz de Jesus porque suas 
ações são más. Por esta opção, eles já estão condenados; estão debaixo do poder 
do maligno - o príncipe deste mundo; odeiam Jesus e seus discípulos, os quais são 
visto como de outro mundo. No EJo, “o mundo” é um conceito mais amplo do que 
“os judeus”, mas os inclui como sua melhor expressão. 
2º) Os Judeus. Muitos dos que estavam dentro da sinagoga não acreditaram 
em Jesus e decidiram que qualquer pessoa que recebesse Jesus como Messias seria 
expulsa da sinagoga (9,34). 
3º) Os discípulos de João Batista. Embora alguns dos discípulos de João 
Batista não tenham se juntado a Jesus e nem à comunidade dos cristãos joaninos, 
outros o aceitaram e vieram compor o povo dos fiéis herdeiros de Deus. 
4º) Os criptocristãos4. São os judeus cristãos que permaneceram dentro das 
sinagogas, recusando a admitir publicamente que criam em Jesus, principalmente 
para não perderem os privilégios que estavam implicados na pertença ao judaísmo 
da diáspora. Viver fora da sinagoga, uma vez que a religião judaicaera permitida 
pela lei romana, significava cair na clandestinidade e ser perseguido pelo império. 
“Eles amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus” (12,42-43). 
5º) Os cristãos judeus. São os cristãos que tinham deixado a sinagoga, mas cuja 
fé em Jesus era inadequada segundo os padrões da alta cristologia joanina. Talvez 
fossem remanescentes e herdeiros de um cristianismo que existiu em Jerusalém 
liderado por Tiago, o irmão do senhor e que sobreviveu com muita força nas 
primeiras décadas do movimento cristão. 
6º) Os cristãos das igrejas apostólicas. As comunidades chamadas apostólicas 
são aquelas que se sentem herdeiras do legado da memória dos primeiros apóstolos 
que aderiram a Jesus como o seu Messias e que naquele momento já estavam 
separados das sinagogas. São cristãos que se reuniam em comunidades mistas 
formadas por gentios e judeus. A comunidade do Evangelho segundo Mateus 
pode muito bem ser um exemplo de comunidade apostólica. São representantes 
do cristianismo ligado e submetido à autoridade de Pedro e do grupo dos doze 
apóstolos. A cristologia deles era moderadamente elevada. Confessavam que Jesus 
era o Messias nascido em Belém, de descendência davídica e, portanto, era Filho 
de Deus desde a concepção. Mas não tinham uma visão clara da sua vinda do alto 
em termos de preexistência antes da criação. 
4 Criptocristãos é uma palavra composta. Cripto significa, no vocabulário grego, escondido. Cristo, por sua vez, é o 
título de honra dado a Jesus como Filho de Deus. 
15
UNIDADE Evangelho Segundo João
Objetivo, Conteúdo e Estrutura Literária 
Os objetivos do quarto evangelho foram apresentados pelo próprio evangelista. 
Ele escreve para que os seus leitores “creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de 
Deus, e para que, crendo, tenham vida em nome dele” (Jo 20,31). O conteúdo 
da narrativa, marcada por vários e longos discursos de Jesus, pode ser dividido 
segundo a seguinte estrutura:
1,1-18: Prólogo;
1,19-12,50: Livro dos sinais;
13,1-17,26: Livro da comunidade;
18,1-20,31: Livro da glorificação de Jesus: 
 • Paixão, morte e ressurreição;
21,1-25: conclusão: acréscimo posterior.
Jesus no Evangelho Joanino
A comunidade joanina representada pela narrativa do EJo provavelmente 
conhecia outras comunidades cristãs e não conhecia os outros evangelhos, recebeu 
e tinha algum contato com as comunidades, por exemplo, representadas pelos 
doze apóstolos. Mas esse conhecimento não a impede de buscar entender Jesus da 
maneira que a realidade de seu contexto assim exigia. Neste sentido, o EJo é bem 
peculiar em seu modo de ver e retratar Jesus. 
Embora haja uma sintonia e continuidade com os Evangelhos sinóticos e as 
cartas paulinas, pois Jesus continua sendo o Messias prometido pelas Sagradas 
Escrituras, no EJo há muito mais que descobrir e revelar sobre o homem de Nazaré. 
Desde o início, no quarto evangelho o que se nota é essa confissão de fé em Jesus 
unido e identificado radical e profundamente com Deus Pai (Jo, 1-18). Por isso, 
o retrato de Jesus no EJo possui traços que vão definitivamente configurar toda a 
cristologia posterior, a ponto de dominar a identidade do cristianismo em distinção 
a outras religiões, sobretudo por causa da identificação de Jesus como o Verbo 
de Deus que se faz carne e veio habitar em nosso meio (Jo 1,14). Humanidade e 
divindade se encontram perfeitas e completas em Jesus; e isso é relatado tanto no 
começo (Jo 1,1) quanto no final do Evangelho, na confissão conclusiva de Tomé: 
“Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28). 
A riqueza dos detalhes e o modo como Jesus é reconhecido aparece todo 
momento da narrativa, sobretudo nos títulos e adjetivos que lhes são atribuídos. 
Alguns evidentemente já nomeados pelos outros evangelhos: Messias, Senhor, 
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Mestre e Rei são alguns deles. Entretanto, alguns são típicos e senão são todos 
exclusivos do EJo, nele aparecem com maior ênfase e significação. 
Quais títulos são atribuídos a Jesus e apontam para uma interpretação cristológica 
tipicamente joanina? A tabela abaixo mostra os mais importantes:
Verbo/Palavra de Deus Jo 1,1
Luz verdadeira Jo 1,9
Filho único de Deus feito carne Jo 1,14
Cordeiro de Deus Jo 1,29
Aquele sobre quem desce o Espírito Santo Jo 1,33
O eleito de Deus Jo 1,34
Aquele que é um com o Pai Jo 10,30
O enviado do Pai Jo 3,34
Jo 5,36-37
6,29.44; 7,16.28.33; 8,1618.26.29.42; 9,4; 12,45.49; 13,29; 14,9.10-11.20; 17,6-8.11.21; 20,21
O “Eu Sou”(alusão ao nome de Deus) Jo 8,24.28.58
“Eu Sou” o Messias Jo 4,26
“Eu Sou” o pão da vida Jo 6,35.48.51
“Eu Sou” a Luz do mundo Jo 8,12; 9,5
“Eu Sou” a Porta Jo 10,7-9
“Eu Sou” o Bom Pastor Jo 10,11-14
“Eu Sou” a Ressurreição e a Vida Jo 11,25
“Eu Sou” o Mestre e Senhor Jo 13,14
“Eu Sou” o Caminho, a Verdade e a Vida Jo 14,6
“Eu Sou” a Videira Jo 15,5
“Eu Sou” Jesus de Nazaré Jo 18,5
“Eu Sou” Rei Jo 18,37
O que mostram e quais são os significados desses títulos atribuídos a Jesus? 
Qual é a cristologia que deles decorre? Sem alongar a reflexão, afinal são 
interpretações geralmente desenvolvidas e refletidas ao longo da história do 
cristianismo e alguns deles dividem igrejas no modo como podem ser concebidos 
mais precisamente. A ideia, por exemplo, de compreender Jesus identificado com 
Deus Pai é bastante controversa, embora, como já foi afirmado anteriormente, é 
proclamação de fé da maioria das igrejas cristãs e seu fundamento está presente, 
sobretudo, na cristologia do EJo. O “Eu Sou” proclamado sozinho denota uma 
referência explícita ao nome traduzido de Deus no livro do Êxodo (3, 13-14) 
do Antigo Testamento. Além disso, o diálogo com Filipe aponta para a mesma 
identificação: 
8 Filipe lhe diz: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta!” 9 Jesus 
lhe diz: “Há tanto tempo estou convosco e tu não me conheces” Filipe? 
Quem me vê, vê o Pai. Como podes dizer: ‘Mostra-nos o Pai!’? 10 Não 
crês que estou no Pai e o Pai está em mim? (Jo 14,8-10) 
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UNIDADE Evangelho Segundo João
Sendo assim, pode-se inferir do EJo as seguintes características da cristologia 
joanina5:
• Jesus é apresentado em sua identidade divina sem a perda de sua humanidade 
profundamente enraizada na fragilidade da carne, do tempo e da história de 
seu povo. 
• Jesus é Messias, Mestre, Rei, Profeta e Juiz do final dos tempos, maior que 
Moisés e Abraão.
• Jesus é o ENVIADO DO PAI. 
• Jesus é o Revelador do Pai e de Si mesmo como Filho único do Pai. 
• Jesus é o Ressuscitado glorificado pelo Pai
• Jesus é o modelo a ser seguido: o caminho que conduz a Deus
• Jesus é a Vida em Plenitude: a porta, o bom pastor e a luz.
Além da cristologia joanina, outros temas da teologia são singulares no EJo. 
A seguir destacamos os mais significativos para a compreensão da narrativa como 
um todo. 
Fé e Eclesiologia no Evangelho Joanino
Fé como condição para ver o que é essencial: teologia dos sinais
O Ejo, ao narrar o ministério público de Jesus e sua prática, é bem sintético. 
Trabalha com modelos e exemplos simbólicos, os quais ele chama de sinais. Na 
primeira parte de sua obra o evangelista narra sete sinais da prática de Jesus que 
revelam a sua identidade messiânica como enviado do Pai. Entretanto, admite que 
muitos outros sinais foram dados ao longo da vida pública de Jesus. E justifica com 
que propósito relatou apenas estes sete: 
30 Jesus fez ainda, diante de seus discípulos, muitos outros sinais, que 
não se acham escritos neste livro. 31 Esse, porém, foram escritos para 
crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais 
vida em seu nome (Jo 20,30-31).
O que está em questão na forma de mostrar os sinais é a compreensão da fé 
em Jesus e como se chega a ela. Nos evangelhos sinóticos a intenção da narrativa 
acerca dos milagres e feitos de Jesus parece pressupor que são tais ações que 
levam o discípulo e a multidão a crer em Jesus. Isso ocorre, por exemplo, no 
episódio da cura do paralítico de Cafarnaumno EMc: “O paralítico levantou-se 
e, imediatamente, carregando o leito, saiu diante de todos, de sorte que ficaram 
admirados e glorificaram a Deus, dizendo: ‘Nunca vimos coisa igual” (Mc 2,12). 
5 Cf. CASALEGNO, 2009, principalmente o Cap. 11: As grandes linhas cristológicas, p. 185-208.
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No EJo é diferente. O pressuposto da teologia joanina é sua concepção de 
fé. Para o evangelista não é o testemunho ocular do acontecimento que conduz 
a pessoa que o presencia à fé. Não. É o contrário: é a uma atitude aberta para 
crer que vê nos acontecimentos, sinais da presença de Deus em Jesus. A fé é 
que conduz ao discernimento positivo do sinal. Por ele é sinal e não apenas um 
milagre. É como se o evangelista dissesse: para ver o milagre é preciso ter fé, caso 
contrário, estarão cegos para o milagre. Isso ocorre claramente no episódio do 
cego de nascença. O cego é curado, mas só quem tem fé admite a cura. O texto 
mostra que fariseus veem a mesma coisa, mas não enxergam a presença da graça 
naquele acontecimento. Na verdade, eles é que são cegos. 
Por isso, o EJo, diante do testemunho de fé de Tomé que vê para crer, valoriza 
e proclama a bem-aventurança do testemunho daquele que crê sem ter visto 
(Jo 20,29).
Nessa ótica da valorização do sinal que provoca sempre um discernimento de 
fé, diante do qual haverá, de um lado, aqueles que creem e de outro, aqueles que 
não creem: 
Os que NÃO creram
37 Apesar de ter realizado tantos sinais diante deles, não creram nele [...] (Jo 12,37)
X
Os que creram
42 Contudo, muitos chefes creram nele [...] (Jo 12,42)
Veja como o evangelista organizou a estrutura da redação dos sete sinais para 
cumprir o objetivo declarado ao final do Evangelho (Jo 20,30-31):
1. As bodas de caná Jo 2,1-11
2. A cura do servo do centurião Jo 4,46-54
3. A cura de um enfermo na piscina de Betesda Jo 5,1-18
4. A multiplicação dos pães Jo 6,1-15
5. Jesus caminha sobre o mar Jo 6,16-21
6. A cura do cego de nascença Jo 9,1-38
7. Ressurreição de Lázaro Jo 11,1-43
Conclusão: Jo 12,37-50
A eclesiologia e o discipulado da igualdade radical no EJo. 
A comunidade joanina não só tem uma fé peculiar em Jesus, chamada por 
muitos de “alta cristologia”, tem igualmente uma forma própria de entender a 
comunidade dos que creem. 
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UNIDADE Evangelho Segundo João
Sua eclesiologia, modo de conceber a vida comunitária na igreja, dispensa 
qualquer forma de hierarquia. Há uma compreensão radical do serviço e da 
igualdade entre os irmãos muito presente na proposta do lava-pés (Jo 13,1-17). Ali 
há o testemunho de uma memória de Jesus que realiza a inversão do status vigente 
naquela sociedade desigual que dignifica o trabalho equivocadamente considerado 
indigno e inferior: Jesus, mestre e senhor (Jo 13,14) assume a tarefa delegada aos 
estratos considerados inferiores da sociedade. Lavar os pés deixa de ser função dos 
que estão nos estratos mais inferiores da escala social: criança, escravo e mulher, 
homem, senhor e adulto devem viver a igualdade na reciprocidade das relações, 
inclusive na divisão das tarefas. Nenhuma forma de discriminação pode existir na 
comunidade, muito menos com base na divisão tão necessária do trabalho. 
Portanto, o lava-pés é relato que propõe, entre outras possibilidades de interpre-
tação, a circularidade do serviço e do exercício do poder. 
A proposta clássica de compreensão das relações comunitárias à luz da fraterni-
dade que propõe a comunidade como instância em que se vive a família na ruptura 
da estrutura patriarcal é substituída pela relação vertical dos discípulos com Jesus, 
o único mestre: eu sou a videira e vocês são os ramos (Jo 15,5). Não há mais se-
nhor e escravo, mas apenas amigos. É na amizade que se encontra a plenitude da 
igualdade entre as pessoas.
14 Vós sois meus amigos se praticais o que vos mando. 15 Já não vos 
chamo escravos porque o escravo não sabe o que seu senhor faz; mas vos 
chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer 
(Jo 15,15).
Conclusão
Muito mais poderia ser comentado e analisado diante de tanta riqueza que contem 
o EJo. Mas o que foi proposto nessa unidade é suficiente para compreender e fazer 
uma releitura do Evangelho Joanino segundo os condicionamentos, os pressupostos 
históricos, sociais e religiosos de seu tempo e de seus interlocutores imediatos. Agora 
é continuar o estudo e aproveitar as atividades que completam a unidade.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
Cronologias Bíblicas 
Consulte cronologias bíblicas disponíveis ao final das edições de Bíblias traduzidas 
para o Português. Priorize a observação dos eventos que ocorrem no tempo do Novo 
Testamento. A Bíblia de Jerusalém, usada nessa Unidade como texto de referência para 
as citações do Novo Testamento, incluiu o seu Quadro Cronológico em suas últimas 
páginas: BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. 8ª impressão. 
São Paulo: Paulus, 2012, p. 2181-2188.
http://bit.ly/2nYMTV9
 Filmes
O Evangelho Segundo São João
Sinopse: “O filme recria meticulosamente a era Bíblica, desde os seus templos à 
vida da aldeia, passando pelo guarda-roupa, que é fiel ao período e uma assombrosa 
composição musical. Produzido por uma equipa vencedora de prêmios, O Evangelho 
Segundo S. João é uma viagem emocional, uma história intemporal que retrata a 
missão do nascimento do Cristianismo”. “Dramaticamente poderoso e arrojado, este 
é o filme que testemunha Jesus como professor, milagreiro, curandeiro e o homem 
cheio de compaixão, que fala sobre a verdade e a esperança na vida eterna”. “O 
Evangelho Segundo São João está fiel ao poderoso texto da Bíblia Sagrada. Mostra o 
curso da vida de Jesus durante um período tumultuado da história. Ele retrata as ações, 
os milagres, as pregações, a vida e os ensinamentos de Jesus”. 
 Leitura
Evangelho Segundo João
Leia a resenha de Johan Konings sobre a obra: BEUTLER, Johannes. Evangelho 
Segundo João. Comentário. Tradução de Johan Konings. São Paulo: Loyola, 2015. 
550p. Trata-se de um breve comentário crítico do próprio tradutor de uma obra 
relativamente recente e de comentário completo sobre o EJo. Chaves metodológicas e 
critérios de interpretação são comentados por Konings de maneira a enriquecer o que 
foi oferecido nessa Unidade.
https://goo.gl/4QudMZ
Transformação Social servida à Mesa
Consulte a Tese de Doutorado de Valter Luiz Lara sobre a narrativa do Lava-pés do 
Evangelho segundo João (Jo 13,1-17) e leia o seu 1º capítulo (Aproximações Teóricas 
e Metodológicas ao Evangelho Joanino). Nesse primeiro capítulo você encontrará 
informações atualizadas sobre diversos aspectos da interpretação do Quarto Evangelho. 
LARA, Valter Luiz. Transformação social servida à mesa. Interpretação cultural e 
sociorreligiosa do lava-pés em Jo 13,1-17. São Bernardo do Campo: Universidade 
Metodista de São Paulo, 2014. Tese de Doutorado em Ciência da Religião. 269 p.
https://goo.gl/ARf94K
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UNIDADE Evangelho Segundo João
Referências
BROWN, Raymond E. A comunidade do discípulo amado. São Paulo: Paulinas, 1983.
CASALEGNO, Alberto. Para que contemplem a minha glória (João 17,24). 
Introdução à teologia do Evangelho de João. São Paulo: Loyola, 2009. 
CNBB. Uma Igreja que acredita. O Evangelho Segundo João. São Paulo: 
Paulinas, 1999.
KONINGS, Johan. Evangelho segundo João: amor e fidelidade. Petrópolis: 
Vozes, 2000.
_____. No mundo, não do mundo. Meditação sobre João e a cultura. In: Estudos 
Bíblicos, nº 61-78. Petrópolis: Vozes, 1999.
KÜMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. 2ª ed. São Paulo: 
Paulus, 1982.
MATEOS, J. & BARRETO, J. O Evangelho de São João. Análise linguística e 
comentário exegético. Trad.: Alberto Costa. São Paulo: Paulinas, 1989.
RUBEAUX, Francisco. As raízes do Quarto Evangelho, in: Ribla, nº 22, Petrópolis: 
Vozes, 1995. 
VILLAC, Sylvia (coord.). Eu vim para que todos tenham vida em plenitude. Introdução 
ao Novo Testamento. São Paulo: Itebra - Instituto TeológicoBrasilândia, 2001. 
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