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Terapia Analítico-Comportamental, dos Fundamentos Filosóficos à relação com o modelo cognitivista - Nazaré Costa

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T e r a p i a A n a l í t i c o - C o m p o r t à m e n t a l :
DOS FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS À RELAÇÃO 
COM O MODELO COGNITIVISTA
NAZARÉ COSTA
Copyright © desta edição:
ESETcc Editores Associados, Santo André, 2002. 
Todos os direitos reservados
Costa, Nazaré
Terapia analítico-comportamental: dos fundamentos filosóficos à 
relação com o modelo cognitivista - Nazaré Costa. 1a ed. Santo 
André, SP: ESETec Editores Associados, 2002.
96. 21 cm
1. Psicologia do Comportamento
2. Behaviorismo
3. Análise do Comportamento
4. Terapia Comportamental
pesquisa, aplicações
CDD 155.2 
CDU 159.9.019.4
ISBN
ESETec Editores Associados
Direção Editorial: Teresa Cristina Cume Grassi-Leonardi 
Assistente Editorial: Jussara Vince Gomes 
Revisão Ortográfica: Erika Horigoshi
Revisão do material original: Prof.* Margarida Heluy
Solicitação de exemplares: eset@uol.com.br 
Rua Catequese, 845 — Bairro Jardim — Santo André — SP CEP 09090-710 
Tel. 4990 5683/ 4432 37 47 
www. e setec. com .br
T e r a p ia A n a l ít ic o -
COMPORTAMENTAL: 
DOS FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS À 
RELAÇÃO COM O MODELO
COGNTTIVTSTA
NAZARE COSTA
ESETec
Editores Associados 
2002
"Erros têm sido cometidos e não temos certeza se o ambiente 
construído pelo homem continuará a proporcionar ganhos que 
ultrapassem as perdas, mas o homem como o conhecemos, 
melhor ou pior, é o que o homem fez de si mesmo".
B. F. Skinner
v
I
Aos meus pais Vilma e Daniel, grandes modelos, 
apoiadores e incentivadores de minhas escolhas 
e decisões no passado, presente e, espero, no futuro.
Amo vocês!
S u m á r io
Epígrafe ................................................................................................. v
Dedicatória .......................................................................................... vii
Agradecim entos ................................................................................
Prefácio .................................................................................................. xiii
Apresentação .................................................................................... xv
I Os Behaviorismos ..................................................................... ^
II Terapia Analítico-Comportamental: Histórico, Proces­
so e Características D efinidoras............................................ 9
III A Subjetividade sob a Ótica Behaviorista Radical: In­
terpretação, Aspectos Polêmicos e Manejo Terapêutico ^
IV Psicoterapia "Cognihvo-Com portamental" ..................... 27
V Behaviorismo e Cognitivismo: Comparação entre Pro­
posições Teóricas e Modelos de Intervenção Terapêu­
tica ................................................................................................... 3.5
VI Caracterização, Hipóteses e Implicações da Tendência 
Integracíonista na Terapia Analítico-Comportamental
e Terapia Cognitiva .................................................................. 55
Finalizando .......................................................................................... 69
Referências .........................................................................................
A g r a d e c im e n t o s
Agradeço a Emmanuel Zagury Tourinho, aquele que tem in­
fluência direta sobre quase tudo que sei acerca da cicncia e da filoso­
fia behaviorista e do como me comporto com meus alunos.
Obrigada por tudo! Nunca cansarei de te agradccer, meu eterno 
M ESTRF.
Ao prof. W alter Nunes, um dos grandes incentiva dores deste 
livro. M uito obrigada!
Aos meus alunos e aos meus clientes que, a cada dia, me fa­
zem crescer nos níveis profissional e pessoal. Adoro vocês.
P r e f á c io
A produção de conhecimento em análise do comportamento 
no Brasil, na última década, vem revelando um interesse maior por 
questões conceituais e filosóficas e, também, pela articulação destas 
com a pesquisa básica e com aplicações no cam po da intervenção 
psicológica. A criação da A ssociação Brasileira de Psicoterapia e 
M edicina Comportamental (ABPMC) e a realização de seus Encontros 
anuais têm sido um grande incentivador desse movimento, tanto ao 
possibilitar um contato mais intenso de novos profissionais e alunos 
com aquela produção quanto por estimular a formação e a divulgação 
de novos autores. Esta obra pode muito bem ser considerada um 
produto desse ambiente. A autora, que desde cedo conviveu com a 
pesquisa em análise do comportamento em seu curso de graduação 
em Psicologia na Universidade Federal do Pará, parece ter encontrado 
na in terlocu ção com os terapeu tas an alítico-com portam entais e 
cognitivo-comporta menta is uma motivação a mais para dedicar-se à 
pesquisa conceituai na área. Foi também desse contato que se originou 
o problema-pesquisa abordado em sua Dissertação de Mestrado, da 
qual retirou parte do conteúdo do livro.
As tradições comportamentais e cogni ti vistas de abordagem 
dos problemas psicológicos e seus respectivos m odelos de interven­
ção guardam relações históricas de diferentes ordens. Na sua origem, 
o cog n itiv ism o u su fru iu de recu rsos tan to co n ceitu a is quanto 
m etodológicos elaborados no âmbito das psicologias comportamentais
xiii
(e, desse ponto de vista, faz boa diferença falar das relações históricas 
do m entalism o ou do cognitivism o com o behaviorism o, embora 
contemporaneamente os dois primeiros sejam muitas vezes tratados 
como sinônimos). Nos tempos atuais, behaviorism o e cognitivismo 
são freqüentemente referidos (inclusive por Skinner) como os princi­
pais antagonistas no cenário acadêmico de confronto das teorias psi­
cológicas. O texto que compõe este livro reflete as duas condições. É 
bastante didático no que diz respeito à apresentação dos behaviorismos 
e de aspectos das terapias analítico-com portam ental e cognitivo- 
comportamental; é na mesma medida polêmico no que concerne às 
relações entre aqueles m odelos de intervenção e, quanto a isso, é níti­
da a adesão da autora às posições de base analítico-comportamental. 
Talvez não enfatize suficientemente o clima de colaboração que vem 
sendo nutrido entre os praticantes e pesquisadores nas duas áreas, 
como, inclusive, ilustram as programações dos Encontros anuais da 
ABPMC; em contrapartida, ressalta aspectos críticos (de um ponto de 
vista analítico-comportamental), que m uitas vezes são insuficiente­
mente considerados nos debates sobre o assunto.
A obra cumpre pelo menos três objetivos muito positivos: di­
vu lga a an álise do co m p o rtam en to e as terap ias an a lítico - 
comportamental e cognitivo-comportamental, com um di da tis mo que 
a recomenda como recurso para o ensino de novos terapeutas; fomenta 
uma discussão crítica das iniciativas na direção da integração de mode­
los diversos de intervenção, sem interditar as possibilidades de diálogo 
e colaboração; e, finalmente, revela uma nova autora, encorajando, tam­
bém, novos membros de nossa comunidade a divulgarem sua produ­
ção.
Belém, 14 de agosto de 2002.
Em m anuel Zagury Tourinho
xiv
A p r e s e n t a ç ã o
A idéia dc escrever um livro não é nova. Hã anos, quando 
ainda cursava a graduação, propus ao grupo de estudos do qual par­
ticipava que escrevêssemos um livro, a partir das 20 afirmações des­
tacadas por Skinner na introdução de sua obra Sobre o Behaviorismo. 
No entanto, m otivos diversos nos levaram a não concretização de tal 
propósito. Mas, eis que, mesmo sozinha, resolvi ousar e partir para a 
realização do desejo.
Este livro retrata, na realidade, grande parte da minha trajetó­
ria acadêmico-cicntífica no que se refere ao estudo do Behaviorismo, 
da Análise do Comportamento e da Terapia Analítico-Comportamental.
M eus primeiros trabalhos foram os de conclusão de curso, ten­
do sido escritosnos anos de 1995 c 1996 intitulados respectivamente: 
" O Homem como Produto e Produtor do Ambiente segundo Skinner" 
e "E v e n to s P riv a d o s : A n álise e Im p lica çõ e s para a T erap ia 
Com portam cntal". Durante o mestrado, além do anteprojeto para a 
seleção e da própria dissertação, redigi alguns trabalhos no contexto 
de disciplinas, mantendo como foco de estudo a filosofia, a ciência e a 
prática clínica behavíorista.
Com o passar do tempo, comecei a apresentar meus trabalhos 
em forma de painéis e apresentações orais, além de utilizá-los em 
minhas aulas com alunos de graduação. Ao fazer isto, fui positiva­
mente reforçada com os feedbacks dos alunos e tomei conhecimento 
que alguns de m eus textos também eram usados por outros professo­
res da graduação, inclusive nos estágios curriculares. Foi a partir daí 
c, também, por uma necessidade pessoal de produzir, que decidi tor­
nar públicos meus eventos privados (pensamentos, desejos e necessi­
dades), com eçando a colocar em prática a organização do livro.
Grande parte deste livro consiste em minha dissertação de 
mestrado (concluída em 1999), porém existem capítulos que foram 
originalmente escritos ainda no ano de 1996. Apesar de alguns textos
xv
P r e f á c io
A produção de conhecimento em análise do comportamento 
no Brasil, na última década, vem revelando um interesse maior por 
questões conceituais e filosóficas e, também, pela articulação destas 
com a pesquisa básica e com aplicações no campo da intervenção 
psicológica. A criação da A ssociação Brasileira de Psicoterapia e 
M edicina Comportamental (ABPMC) e a realização de seus Encontros 
anuais têm sido um grande incentivador desse movimento, tanto ao 
possibilitar um contato mais intenso de novos profissionais e alunos 
com aquela produção quanto por estimular a formação e a divulgação 
de novos autores. Esta obra pode muito bem ser considerada um 
produto desse ambiente. A autora, que desde cedo conviveu com a 
pesquisa em análise do comportamento em seu curso de graduação 
em Psicologia na Universidade Federal do Pará, parece ter encontrado 
na in terlocu ção com os terapeu tas an alítico-com portam entais e 
cognitivo-comportamentais uma motivação a mais para dedicar-se à 
pesquisa conceituai na área. Foi tam bém desse contato que se originou 
o problema-pesquisa abordado em sua Dissertação de Mestrado, da 
qual retirou parte do conteúdo do livro.
As tradições comportamentais e cognitivistas de abordagem 
dos problemas psicológicos e seus respectivos modelos de interven­
ção guardam relações históricas de diferentes ordens. Na sua origem, 
o co g n itiv ism o u su fru iu de recu rsos tan to co n ceitu ais quanto 
metodológicos elaborados no âmbito das psicologias comportamentais
xiii
serem menos recentes, tive o cuidado de atualizá-los, inclusive a pró­
pria dissertação.
O material a seguir para muitos não é novidade, pois algumas 
discussões aqui dispostas já vêm sendo feitas por vários autores 
renomados. Mas, se é assim, em que m edida vale a leitura do livro?
Considero que o livro seja útil por se tratar, até certo ponto, 
de um material didático, apresentar reflexões críticas e muito particu­
lares de alguns temas, além de trazer discussões que ainda são im­
portantes na atualidade.
O livro está dividido em seis capítulos: parte das distinções entre 
très tipos de Behaviorismos; apresenta a história, o processo e as carac­
terísticas definidoras da Terapia Analítico-Comportamental; discute o 
tema da subjetividade no Behaviorismo Radical e na Terapia Analítico- 
C om portam ental; aborda os fundam entos e a prática da Terapia 
"Cognitivo-Com portam ental"; compara as proposições teóricas e os 
modelos de intervenção terapêutica behaviorista e cognitivista e, por 
fim , caracteriza e form ula h ipóteses e im plicações da tendência 
in te g ra c io n ista , en v o lv en d o a in te rv e n çã o clín ica a n a lítico - 
comporta mental e a cognitivista. '
Espero que minha percepção em relação ao livro esteja de acor­
do com a realidade! Uma boa leitura a todos.
N azaré
xvi
I
Os B e h a v io r is m o s
E m um primeiro trabalho acadêmico (Costa, 1995), já se fa­
zia presente a preocupação de demarcar o fato de que não se pode 
falar em nom e do Behaviorism o sem m encionar a qu al tipo de 
Behaviorism o está se referindo, uma vez que existem diferenças sig­
nificativas entre os seus vários modelos.
Os mais conhecidos no meio acadêmico são os representados 
por Watson, o Clássico, e por Skinner, o Radical. Entretanto, há, ainda, 
o Behaviorismo Mediacional, representado principalmente por Tolman 
e Hull, o Behaviorism o Teleológico, representado por Rachlin e o 
Interbehaviorismo, que tem a figura de Kantor como representante.
C om o as d iscu ssõ es n este liv ro estarão p au tad as no 
Behaviorism o de Skinner, sendo necessário também esclarecer sobre 
determ inados aspectos do Behaviorismo Clássico e do Behaviorismo 
M ediacional, este capítulo se propõe a caracterizar cada um destes 
modelos, a partir das concepções de comportamento e ambiente, de 
paradigma adotado, de modelo causal e de visão de homem.
Behaviorismo Clássico de John Watson
Inaugurado com a publicação do artigo Psychology as the 
behaviorist views it, em 1913 (Watson, 1913), o Behaviorismo surge em 
contraposição às psicologias m entalistas então dominantes (Matos,
1997). Antes de seu surgimento, os psicólogos estavam voltados para 
o estudo da mente ou da consciência humana, adotando como méto­
do a introspecção.
1
Com o comportamentalismo, pelapmneira vez, os estudos psicológicos 
“deram as costas” à experiência imediata. Tudo aquilo que faz parte da 
experiência subjetwa individualizada deixa de ter lugar na ciência, seja 
por que não tem importância, seja porque não é acessível aos métodos 
objetivos da ciência (Figueiredo e Santi, 1997, pp. 66-67).
Assim, considera-se que o Behaviorismo foi um marco na 
história da psicologia, na medida em que delimitou como objeto de 
estudo o comportamento e buscou introduzir métodos com patíveis 
com aqueles das ciências naturais (Chiesa, 1994). Para isso, W atson 
rejeitou toda e qualquer referência a processos mentais em sua pro­
posta de ciência psicológica. W atson (1924/1970) escreveu; "V am os 
nos limitar a coisas que podem ser observadas, e formular leis apenas 
para aquelas coisas. Agora, o que podemos observar? Nós podem os 
observar o comportamento — o que o organismo faz ou diz” (p. 6).
O comportamento, na concepção de Watson, referia-se basica­
m ente às mudanças observadas no organismo, em especial, às m udan­
ças nos sistemas glandular e motor, decorrentes de algum estím ulo 
ambiental antecedente. Em função da ênfase nas respostas glandulares 
e motoras, o Behaviorismo de W atson é denominado por alguns autores 
de M uscle-twitch Psychology (Psicologia da C ontração M uscular) 
(Kitchener, 1977). Por outro lado, a despeito da interpretação dc que as 
explicações de Watson seriam meramente fisiológicas, ele é enfático em 
fazer a diferença.
[A] Fisiologia está particularmente interessada no funcionamento de 
partes do animal.... [O] Behauiorismo,, por outro Indo, enquanto estâ in­
tensivamente interessado no funcionamento de todas estas partes, estâ 
intrinsecamente interessudo no que o animal como um todo fareí de m a­
nhã até à noite e de noite até tie manhã (Watson 1924/1970, p. 11),
E acrescenta: "Em outras palavras, a resposta na qual o 
behaviorista está interessado é a resposta com um à pergunta "o que 
ele está fazendo e por que está fazendo?" (Watson 1924/1970, p. 15). 
Desta maneira, conclui-se que W atson estava interessado no com por­
tamento enquanto um fenômeno molar — no sentido de um "conjunto 
de movimentos integrados" - porém, para estudá-lo, considerava ne­
cessário decompô-lo em partesmais simples (Kitchener, 1977).
Para Watson, todos os comportamentos são reflexos, uma 
vez que consistem "d e respostas eliciadas por estímulos7' (Zuriff, 1986, 
p. 692). Deste modo, o paradigma adotado por ele para explicar os com­
p ortam entos foi o parad igm a p av lov ian o S-R . Em d eco rrên cia 
d isto , o B eh av iorism o w atso n ian o tam b ém é co n h ecid o com o 
Behaviorismo Clássico ou "Psicologia S-R" (Chiesa, 1994; Moore, 1995a, 
1996; Matos, 1997).
Um estímulo consiste em qualquer objeto no ambiente ou mu­
dança no próprio corpo do organismo (contrações musculares, palpita-
2
çoes e outras)1. Já a resposta diz respeito ao que o organismo faz, classi­
ficada como externa (explícita) e interna (implícita) (Watson 1924/1970).
Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece­
dente é a causa do comportamento, W atson assume uma concepção 
mecanicista de explicação comportamental. M ecanicista no sentido de 
que a causa é necessariamente um evento anterior que produz, assim, 
um efeito 0upiassu e M arcondes, 1993).
Outra denominação dada ao Behaviorismo de W atson foi 
Behaviorismo Metodológico. Tal denominação está relacionada com 
a opção metodológica de W atson, ou seja, quando ele abandonou o 
estudo da vida mental, o fez por uma limitação de método e não por 
considerar que os processos mentais inexistissem 2. Nas palavras de 
Chiesa (1994):
[Watson argumentou] ... que o estudo da vida mental, consciência, 
sensações, e assim por diante não estava levando a psicologia a ne­
nhum lugar e deveria ser abandonado provisoriamente, em favor da 
concentração na pesquisa comportamental, até o desenvolvimento de 
métodos mais capazes de irradiar alguma luz sobre estes processos. 
Princípios do comportamento deveriam ser aplicados de maneira ci­
entífica, sem referência a estados mentais, até a psicologia avançar 
como uma ciência natural (p. 184).
Uma implicação que se origina desta posição de Watson re­
fere-se à manutenção da concepção dualista de homem. Tanto para as 
psicologias tradicionais quanto para o Behaviorismo watsoniano, exis­
tem processos internos que diferem dos comportamentais quanto à 
natureza: os primeiros são mentais (subjetivos) e os segundos são físi­
cos (objetivos) (Chiesa, 1994).
Sintetizando: o Behaviorismo é definido por W atson (1970) 
como "um a ciência natural que se encarrega de toda a área do ajusta­
mento hum ano" (p. 11), cujos objetivos consistem em prever e controlar 
o comportamento. Dentre suas principais características, estão: tomar 
como objeto de estudo o comportamento publicamente observável; igno­
1 Esta noção de ambiente envoivend o também o que se passa no interior do organismo é particularmente 
importante em urna proposta behaviorísta, em função da possibilidade de aceitação da causalidade 
m tem a. Afinal, se todos os comportamentos são reflexos, dado o estímulo (externo ou interno) a res­
posta ocorrerá. A diferença desta interpretação para as dem ais interpretações intemalistas residiria 
no fato de que a natureza do inttm o, neste contexto, é físico e não mental. Contudo, isto é apenas uma 
suposição que precisaria ser melhor investigada. Assim, a proposição de que W atson é extemalista, 
com respeito às suas explicações com portam entais, será mantida.
1 Existem posições divergentes em relação a denominar Watson de behaviorista metodológico. Hayes 
e Hayes (1992), por exemplo, o consideram um behaviorista metafísico. Entretanto, a argumentação 
dada pelos autores que o consideram com o representante do Behaviorismo Metodológico é uma 
argum entação justificável. Note, por exemplo, a afirm ação de Zettle e Hayes (1982) de que "o 
Behaviorism o M etodológico (com o um a posição filosófica) tem enfatizado que, por razões 
metodológicas, apenas o com portam ento publicamente observável pode ser considerado como 
cientificamente admissível" (p. 75). lista caracterização do Behaviorismo Metodológico é a mesma 
que é feita para o Behaviorismo de Watson.
3
rar os fenômenos mentais; utilizar procedimentos objetivos para estu­
dar o comportamento e explicar todos os com portamentos através do 
paradigma S-R (Matos, 1997).
Após esta fase inicial da chamada revolução behaviorista, di­
versas críticas foram feitas a esta nova proposta de psicologia, dentre 
as quais a de que era mecanicista, simplista e desumanizadora. Entre­
tanto, talvez a principal crítica tenha sido a de que as explicações 
behavioristas eram inadequadas e limitadas, já que nem todo compor­
tamento poderia ser explicado por conexões S-R (Moore, 1995a, 1996).
Em conseqüência disto, na tentativa de explicar alguns pro­
blemas que o Behaviorismo de Watson não explicava satisfatoriamente, 
"os psicólogos reintroduziram os fenômenos mentais nas explicações 
na forma de variáveis mediacionais 'organísm icas'" (Moore, 1995b, p. 
59). E sta nova fase da re v o lu çã o b e h a v io r is ta , ro tu la d a de 
Neobehaviorismo Mediacional, teve início entre o final da década de 
1920 e o com eço da década de 1930 (Moore, 1995a, 1996), tendo den­
tre seus representantes Tolman e Hull.
Neobehaviorismos Mediacion&is de Tolman e Hull
O N eobehaviorism o M ediacional de Tolm an, conhecido 
como Behaviorismo Intencional, teve seus fundamentos lançados em 
1932, com o livro Purposive behaviorin animal and men (cf. Carrara, 1998).
Um pressuposto básico do Neobehaviorismo de Tolman é o 
da intencionalidade do comportamento. Para ele, todo organism o se 
comporta para alcançar um objetivo, um alvo determinado (Zuriff, 
1985). Assim, o comportamento persiste ''até o objetivo ser alcança- 
do" (Kitchener, 1977, p. 37).
O comportamento, na concepção de Tolman, era um fenôm e­
no emergente por possuir em si mesmo propriedades que o descrevem e 
definem - propriedades estas não reduzíveis à fisiologia - motivo pelo 
qual é denominado de m olar (Kitchener, 1977; Smith, 1989; Carrara,
1998).
A defesa da intencionalidade do comportamento, aliada ao 
fato de ser um representante da teoria S-O-R, permite que Tolm an 
seja considerado um precursor de algumas teorias cognitivistas. Isto 
porque o enunciado S-O -R evidencia um a posição m ediacional e 
intemalista quanto à determinação do comportamento, o que consis­
te em um aspecto característico de teorias cognitivistas.
O enunciado S-O-R significa que entre o estímulo e a res­
posta existe um conjunto de eventos ocorrendo no organism o, que 
são os verdadeiros determ inantes do fenôm eno com portam ental 
(Zuriff, 1985).
4
Os eventos mediacionais, designados por Tolman (1938), como 
variáveis intervenientes, foram concebidos "com o construtos adicionais, 
os quais cada ciência considera útil criar e introduzir como passo 
explicativo entre as variáveis independentes, de um lado, e as variáveis 
dependentes finais, de outro" (p. 229). Em outras palavras, define-se 
uma variável interveniente como aquela que conecta as variáveis inde­
pendentes e dependentes (Zuriff, 1985)3.
Tolm an categorizou as variáveis intervenientes em três gru­
pos: a) sistema de necessidades, que diz respeito ao estado de priva­
ção ou impulso; b) matriz de crença-valores (variável cognitiva), que 
se refere a hierarquias de expectativas aprendidas sobre estím ulos do 
ambiente e suas funções na relação com o comportamento e c) espaço 
comportamental, o qual pode ser entendido como o contexto em que 
o comportamento ocorre (Carrara, 1998).
De acordo com Tolm an (1948), o processo de aprendizagem 
envolve a construção de m apas cognitivos do ambiente, que se for­
mam no cérebro dos organismos. Estes mapas representam relações 
estímulo-estímulo (S-S) ou as expectativas dos organismos "do que leva 
ao que..." (Zuriff, 1985, p. 254). Dito de outro modo, os mapas cognitivos 
são construídos a partir da relação organismo-meio, através de cone­
xões entre estímulos ambientaise expectativas do organismo (evento 
m ediador que funciona como um estímulo), constituindo-se em guia 
para o comportamento dos organismos em situações posteriores. Dá-se 
o nome de gestalts-sinais (sign-gestalts) aos processos cognitivos que inte­
gram as relações aprendidas entre as pistas do ambiente e as expectati­
vas do organismo, ou seja, um mapa cognitivo seria um padrão d e gestalts 
sinais (Cabral e Nick, 1997).
Outro ponto importante no sistema de Tolman refere-se à acei­
tação de processos mentais. Neste sentido, ele afirma que:
O behaviorismo a ser apresentado aqui sustentará que os processos men­
tais são mais utilmente concebidos como apenas aspectos dinâmicos, ou 
determinantes, do comportamento. Eles são variáveis funcionais que 
intermedeiam equações causais entre estímulo ambiental e estados fisio­
lógicos iniciais..., de um lado, e comportamento final público, de outro 
(Tolman, 1932, conforme citado por Zuriff, 1985, p. 207).
Em outro momento, Tolman (1959) conclui que, ao iniciar o 
seu sistem a behaviorista, o que "realm ente estava fazendo era tentar 
reescrever uma Psicologia m entalista de senso comum... em termos 
behavioristas operacionais" (conforme citado por Carrara, 1998, p. 62).
A publicação do livro Principies o f Behavior, no ano de 1943, 
marca o surgim ento de outro tipo de N eobehaviorism o S-O -R - o 
Neobehaviorismo de Clark Hull (Chiesa, 1994).
3 Fm 1948, MacCorqodale e Meehl (1948) propuseram um a diferenciação entre variáveis intervenientes 
e construtos hipotéticos. Adiante, tratar-se-á desta distinção.
5
Hull, à semelhança de Tolman, faz uso das variáveis mediacionais 
para explicar o comportamento. Contudo, seu uso é diferenciado. Na litera­
tura, dentre os exemplos de construtos mediacionais postulados por Hull, 
encontram-se o drive, a inibição condicionada, a reação de fadiga, a interação 
neural aferente e o fator de oscilação (Chiesa, 1994), sendo que os cinco 
construtos considerados principais no Neobehaviorismo hulliano são: for­
ça do hábito, reação potencial, inibição, oscilação do potendaí de reação e 
princípio ou limiar de reação (Tumer, 1965).
As variáveis mediacionais do sistema de Hull são variáveis 
essencialmente intra-organísmicas, no sentido de que possuem um ca­
ráter neurofisiológico (Chiesa, 1994).
Como representantes do Neobehaviorismo Mediacional, para 
Tolman e Hull o ambiente é apenas o iniciador da cadeia S-O-R, caben­
do aos mediadores a função de " causas reais" do comportamento.
C ontrapondo-se o N eobehaviorism o de H ull com o de 
1 olman, nota-se que apesar de serem classificados como mediacionais 
e intem alistas, apresentam diferenças significativas.
Tolman e Hull concebiam o comportamento como um fenô­
meno molar, entretanto, para Hull, rtiolar significava m acroscópico e 
não envolvia as propriedades de propósito e cognição postuladas por 
Tolman (Kitchener, 1977).
Enquanto Tolman recorreu a conceitos mentais em sua ex­
plicação do comportamento, de acordo com Zuriff (1985), Hull rejei­
tou a função explicativa destes conceitos. Possivelmente por isto, Hull 
trabalhava com as variáveis mediacionais entendendo-as apenas como 
variáveis intra-organísmicas e não recorreu a conceitos cognitivos como 
intenção, representação, expectativa e crença (Chiesa, 1994).
Isto evidencia que uma concepção mediacional e intemalista 
quanto à determinação do comportamento pode não ser suficiente para 
definir uma abordagem como cognitiva. M ais que isso, uma visão 
cognitiva requer a introdução das cognições como fatores determinantes 
para o fenômeno comportamental. Por cognição entende-se a postulação 
de processos que ocorrem no interior dos organismos, como memória, 
percepção, inteligência, pensamento, crenças etc., mas que não se con­
fundem com suas condições anátomo-fisiológicas.
Tolman e Hull possuem concepções diferenciadas em relação à 
mediação. Enquanto para Tolman a natureza da mediação era mais pro­
priamente cognitiva, Hull a considerava como neurofisiológica. Mesmo 
as variáveis intra-organísmicas postuladas por Tolman referem-se à pró­
pria fisiologia do organismo de uma forma genérica. Ele não falava em 
processos e estruturas neurais, mas sim de estados de privação e condi­
ções endócrinas, demonstrando claramente sua ênfase nas variáveis 
cognitivas. Porém, deve ficar claro que tanto Tolman como Hull utilíza-
6
vam termos referentes a processos que não podiam ser de nenhum modo 
observados (MacCorquodale e Meehl, 1948).
Hm decorrência da distinção feita anteriormente, Tolm an se­
gue a linha watsoniana de manutenção do dualismo e Hull é considera­
do representante do monismo, por não utilizar termos que se referem a 
processos ou entidades não-físicas.
Em resumo, o Neobehaviorismo de Tolman é considerado um 
Behaviorismo Cognitivo, uma vez que enfatiza o papel das variáveis 
cognitivas na explicação do com portam ento dos organism os. Em 
contrapartida, apesar de Hull tam bém ser mediacionista e internalista 
no que se refere à explicação do comportamento, seu m odelo não é 
cognitivista, pois recorre à neurofisiologia do organism o (em algu­
mas circunstâncias de modo m eram ente especulativo) para explicar o 
fenômeno comportamental.
Na tentativa de recuperar "o ambiente, como instância privi­
legiada onde o cientista busca variáveis e condições das quais o com­
portamento é função" (Matos, 1997, p. 59), um novo tipo de Behaviorismo 
é inaugurado por B. F. S k in n er- o Behaviorismo Radical.
Behaviorismo Radical de B. F. Skinner
Em bora o m odelo behaviorista de Skinner venha sendo 
construído a partir da década de 30, é apenas em 1945, com a publica­
ção do artigo intitulado The operational analysis o f psychological terms 
(Terms), que Skinner distingue seu Behaviorismo dos demais (Andery, 
1993; Tourinho, 1995).
Skinner (1963) define o Behaviorismo como a filosofia da ciên­
cia do comportamento, pois consiste em um conjunto de reflexões sobre 
o objeto de estudo, temas e métodos da psicologia e da ciência do com­
portamento (Costa, 1997).
A denominação Behaviorismo Radical possui o significado 
de anti-mentalista (Lopes, 1993), ou seja, Skinner é radical por negar a 
existência de fenômenos cuja natureza não seja física, por exemplo, mente 
e cognição (Matos, 1997). Por negar a existência de tais fenômenos, a 
visão de homem skinneriana é monista — o organismo é uno e interage 
em sua totalidade com o ambiente.
No Behaviorismo Radical, o comportamento é definido como 
a relação entre o organismo e o ambiente (Skinner, 1938) e, neste sentido, 
busca identificar o contexto em que cada resposta foi estabelecida e se 
mantém assim como sua função no ambiente. E, diferentemente do que 
su sten tav a W atson, para Skin n er, g rand e p arte do rep ertó rio 
comportamental humano é operante e não reflexo. O operante é definido 
como uma classe de respostas cuja probabilidade de ocorrência é função 
de suas conseqüências (Skinner, 1953/1965).
7
O paradigma utilizado por Skinner para explicar o comporta­
m ento operante consistiu na tríplice contingência, Sd-R-Sr, na qual o Sd 
refere-se ao estímulo discriminativo que sinaliza a ocasião para o refor­
ço; o R ,a resposta e o S r,oestím ulo reforçador. Assim, "um a formulação 
adequada da interação entre um organismo e seu ambiente deve sempre 
especificar três coisas: (1) a ocasião em que a resposta ocorre/ (2) a pró­
pria resposta, (3) as conseqüências reforçadoras" (Skinner, 1969, p. 7, 
grifo acrescentado).
Ao mudar a unidade de análise, Skinner modificou também a 
noção de causa. Enquanto nos m odelos behavioristas clássico e 
m ediacional existia uma relação mecânica de causa e efeito, o modelo 
causal adotado por Skinner é selecionista; são as conseqüências pro­
duzidas pelo comportamento que atuam selecionando este.
Nas palavras de Chiesa (1994),"behavioristas radicais ado­
tam um modelo causal que não exige fornecer ligações entre um evento 
e outro; ele não é linear e não pressupõe contiguidade no espaço e no 
tem po" (p. 116). Uma explicação mecânica, em contrapartida, procura 
sempre um mecanismo para explicar a realidade e a explica de forma 
independente da existência dos indivíduos (Michelleto, 1997). A rea­
lidade, para o mecanicismo, em função de
se form a[r] por uma sucessão de interações mecânicas faz supor a 
necessidade constante de urna matéria através da qual o efeito pudes­
se se propagar e a necessidade de um princípio de explicação sempre 
baseado em um mecanismo. Para eventos em que não se podia obser­
var uma relação causal espacial ou temporal imediata, muitas vezes 
se tornava necessária a elaboração de conceitos baseados em interpre­
tações ou especulações para garantir a conexão do sistema, de causas 
(Michelleto, 1997, p. 32).
De forma semelhante a Watson, Skinner considera ambiente 
qualquer parte do mundo externo e interno que afete o indivíduo. Mais 
especificamente, ambiente seria qualquer parte do universo ao qual o 
in d iv íd u o resp ond e d iscrim in ativ am en te (Sk inner, 1953/ 1965; 
Tourinho, 1997a).
De forma sintética, o Behaviorismo Radical caracteriza-se, so­
bretudo, por ser a filosofia da ciência do comportamento que delimita o 
comportamento enquanto objeto de estudo em si mesmo, considera que 
a maioria dos comportamentos humanos é operante, adota o paradigma 
Sd-R-Sr, explica o comportamento sem recorrer a nenhum tipo de media­
dor tal como o sistema nervoso ou cognições e defende uma concepção 
monista de homem (Chiesa, 1994).
As distinções entre os Behaviorism os apresentadas neste 
capítulo servirão de suporte para a caracterização do modelo de in­
tervenção analítico-comporta mental a ser feita no capítulo seguinte.
8
II
TERAPiA A n a l ít ic o - C o m p o r t a m e n t a l : 
H is t ó r ic o , P r o c e s s o e C a r a c t e r ís t ic a s 
D e f in id o r a s
Craighead, Craighead, Kazdin e M ahoney (1994) argum en­
tam que, diferenciar o que é ou não uma intervenção terapêutica 
comportamental, pode ser, na maioria das vezes, uma tarefa difícil e um 
tanto incomum. Para estes autores, "dentro da categoria daqueles que se 
identificam com o modelo comportamental estão aqueles que se classifi­
cam com o m o d ifica d o re s do co m p o rta m e n to , te ra p eu ta s 
com p ortam en tais, terap eu tas co g n itiv o s, terap eu tas co g n itivo - 
comportamentaís, terapeutas multimodais, integracionistas, e assim por 
diante" (1994, p. ix).
Diante deste cenário é que se considera relevante, neste capí­
tulo, caracterizar o modelo clínico com portam ental a partir de sua 
contextualização histórica às etapas do processo terapêutico.
O surgimento da Terapia Com portam ental está relacionado 
com os trabalhos de condicionamento reflexo de respostas de medo de­
senvolvidos por W atson e Rayner na década de 20 (Barcellos e Haydu, 
1995). À medida que as pesquisas experimentais foram sendo desenvol­
vidas, seus resultados passaram a ser incorporados à prática dos 
terapeutas. Dentre aqueles cujos trabalhos exerceram influência sobre a 
área clínica comportamental, encontram -se Thom díke, Hull, Guthrie e 
Skinner (Barcellos e Haydu, 1995; Franks, 1996; Rim m e Master, 1983).
Na década de 60, os marcos do modelo clínico comportamental 
podem ser encontrados em uma obra organizada por Eysenk, em 1960, e 
na publicação da primeira revista de Terapia Comportamental, em 1963 
(Franks, 1996). Corroborando esta análise histórica, Barcellos e Haydu 
(1995) afirm am que este modelo de terapia "constituiu-se em um movi-
9
mento formal somente na década dc 60 e foi difundida mundialmente 
na década seguinte" (p. 43).
Existe uma proposta distinta de análise com relação aos traba­
lhos de Skinner subsidiarem a Terapia Comportamental. Na verdade, 
afirma-se que seus estudos deram origem a um outro tipo de intervenção 
de caráter behaviorista - a Modificação do Comportamento (Barcellos e 
Haydu, 1995; Figueiredo e Coutinho, 1988; Greenspoon e La mal, 1978; 
Ri mm e Master, 1983). Pode-se dizer assim que, por volta da década de 50, 
existiam, pelo menos, dois tipos de intervenção behaviorista: a Terapia 
Comportamental, cuja intervenção adotava o paradigma do condiciona­
mento reflexo e a Modificação do Comportamento, que tinha como respal­
do o paradigma do condicionamento operante.
A identificação da Terapia Comportamental com o paradigma 
reflexo e da Modificação do Comportamento com o paradigma operante 
pode ser um modo impreciso de tratar as mudanças dos modelos clínicos 
comporta mentais, na medida em que são encontradas na literatura refe­
rendas a ambos (Terapia Comportamental e Modificação do Comporta­
mento) envolvendo a aplicação de princípios derivados dos condiciona- 
jmentos clássico e operante (e.g. Kazdin, 1983). O que se pode salientar é 
jque, com a elaboração dos princípirts operantes, alguns terapeutas os 
/absorveram como base estrita de intervenção clínica, enquanto outros os 
associaram a princípios do condicionamento reflexo no delineamento de 
técnicas e procedimentos de intervenção.
Atualmente, a denominação que vem sendo adotada como re­
ferência à intervenção behaviorista no contexto clínico é Terapia 
Analítico-Comportamental. Esta term inologia visa resgatar os pres­
supostos behavioristas da clínica comportamental e afastá-la dos di­
versos modelos que se intitulam comportamental e que usam pressu­
postos cognitivistas ou outros (Tourinho e Cavalcante, 2001). Como a 
caracterização a ser apresentada é de fato behaviorista, justifica-se falar 
em Terapia Analítico-Comportamental (T AC), embora as referências uti­
lizadas ao longo do capítulo ainda façam uso do term o Terapia 
Comportamental.
Estas diferentes terminologias talvez sejam o reflexo das inter­
pretações distintas de grande parte daqueles que se intitulam clínicos 
comportamentais e que não compartilham da própria denominação de 
um modelo comportamental ou, o inverso, em função da ausênda de uma 
única definição, encontram-se diferentes denominações.
O que é claro é que, d esd e o in íc io , o m od elo clín ico 
com portamental esteve ligado a diferentes posições teóricas, sendo 
que sua "evolução ao longo dos anos é acompanhada por inúm eras 
discussões e divergências quanto aos princípios teóricos e metodológicos 
que [o] caracterizam" (Barcellos e Haydu, 1995, p.43). Conseqüentemen­
10
te, na própria década de 60 já existiam três definições distintas de Tera­
pia Comportamental, além de mais duas na década de 70 (Figueiredo e 
Coutinho, 1988). Atualmente, outras definições podem ser encontradas , 
na literatura, entretanto, optou-se por aquelas propostas por Neri (1987) 
e Costa (1996).
/ Para Neri (1987), o processo terapêutico comportamental im­plica uma tentativa de controlar as variáveis ambientais que favorecem a extinção de comportamentos inadequados e a aquisição de outros que 
'■ possibilitem uma atuação m ais adequada do cliente em seu contexto, f
I "n o sentido de reduzir ao máximo sua exposição às conseqüências ne- i 
| gativas, e de aumentar ao máximo a probabilidade de expor-se a situ- 
Wções agradáveis" (p. 23). 1
Costa (1996) complementa a definição acima quando pro- 1
põe que:
f Por Terapia Comportamental [leia-se TA C ] entende-se o trabalho 
| terapêutico que se fundamenta no Behaviorismo Radical e utiliza os
I princípios da A nálise do Com portam ento no contexto clínico, (
\ objetivando identificar e analisar funcionalmente as variáveis exter­
nas que estão controlando os comportamentos do cliente, a fim de ^
j modificá-los, quando desejado. Dito de outra forma, o que define a 
f Terapia Comportamental [ou a TAC] é o modo como se compreende e se 
( intervém no fenômeno comportamental,que deve estar em concordân- 
t cia com a filosofia e a ciência do comportamento (p. 4).
É notório que a definição proposta, apesar de se referir à Tera­
pia Comportamental, mostra-se completamente compatível com o movi- ' 
m ento qu e pretende dar precisão con ceitu ai ao m od elo clín ico , 
comportamental. Cabe ressaltar, no entanto, que, quando se faz referên­
cia ao Behaviorismo Radical, não há uma restrição a Skinner, incorpo­
ram-se am pliações que vêm sendo feitas àquela proposta filosófica de 
autores contemporâneos que m antêm a denominação de behavioristas 
radicais, com o Banaco, Guilhardi e Tourinho.
A literatura sobre a clínica anaiítico-comportamental tem sido 1 
ampliada na última década, sobretudo com as publicações da Associa- ( 
ção Brasileira de Medicina e Terapia Comportamental (ABPMC), porém 
algumas discussões importantes, como o processo terapêutico em si, não 1 
têm sido valorizadas. Diversos artigos podem ser encontrados sobre ava­
liação, uso de técnicas e outros, mas artigos que tratem da avaliação até o 
follow-up são escassos1. Por este motivo, considera-se de fundamental im­
portância mostrar este percurso, inclusive porque um dos textos que 
traz uma caracterização das etapas do processo comportamental foi escrito
1 Recentem ente Ribeiro (2001) escreveu um artigo enfocando as fases do processo terapêutico 
com portam ental. Entretanto, existem aspectos distintos entre a caracterização da autora e a adota­
da neste livro.
11
por Range (1995), um autor cognitivo-comportamental (termo que será dis­
cutido nos capítulos finais deste livro).
/ O processo terapêutico analítico-comportamental pode ser
X dividido, didaticamente, em três etapas: inicial, intermediária e ter­
minal (Lima, 1981).
/ A etapa inicial compreende a avaliação que se faz do caso,
■ determinando, primeiramente, o motivo que levou o cliente a procu­
rar a terapia (queixa) e, a partir daí, coletam-se informações sobre a 
história de vida do cliente, ou seja, busca-se saber sobre a história 
passada e caracterizar a situação atual do cliente, identificando-se não 
só comportamentos-problem a, mas também comportamentos saudá­
veis, assim como pessoas e situações que funcionem como reforça dores, 
etc. Com relação à queixa, cabe ressaltar que nem sempre ela é trazida 
pelo cliente na primeira ou segunda sessão e, às vezes, nem mesmo ao
\/ final da avaliação, cabendo ao terapeuta avaliar se o cliente está se es- 
!' quivando ou ainda não discriminou as variáveis às quais está respon­
dendo (situação comum no contexto psicoterápico).
■ ’ Durante a avaliação, os dados são coletados principalmente a
V partir do relato verbal do cliente (no caso de adulto) e da observação dos 
/ comportamentos clinicamente relevantes (CRBs). "Os CRBs são compor­
tamentos que ocorrem na relação terapeuta—cliente e são amostras da 
interação do cliente no seu contexto de vida" (Brandão e Torres, 1997, p. 
219). Observar, analisar e intervir sobre os CRBs foi uma proposta elabora-
\ /' da por Kõhlenberg, ainda na década de 80, que vem sendo incorporada à 
prática de clínicos comportamentais desde a última década.
Para que a avaliação possa ser efetiva, o terapeuta precisa cole­
tar as informações necessárias à compreensão do(s) problema (s) e à elabo­
ração do planejamento terapêutico. Para tanto, diversas habilidades ver­
bais e não-verbais são exigidas do terapeuta, dentre elas Silvares e Gongora 
(1998) apontam as habilidades empáticas, a operadonalização de infor­
mações, o sorriso e os gestos ocasionais com as mãos e a postura corporal 
dirigida ao cliente. Todas estas habilidades visam o estabelecimento de 
uma relação terapêutica favorável, tema que vem sendo abordado com 
freqüência pela literatura como um aspecto importante na condução do 
processo clínico.
, Na etapa inicial ou avaliação, pelo menos duas características
/ são peculiares a este modelo de terapia: a preocupação com "um a des­
crição, a mais clara, objetiva e completa possível da história de vida do 
cliente" (Delitti, 1993, p. 43) e a ênfase nos determinantes atuais dos com­
portamentos, mais do que nos históricos (Franks, 1996; Lipp, 1984), 
Entre a fase inicial e a intermediária, encontra-se um momento 
do processo que é conhecido como devolução. Com base nos dados
12
coletados na avaliação, o terapeuta formula hipóteses diagnosticas para 
todos os comportamentos do cliente, adequados e inadequados, que ju l­
gar necessário. Um comportamento adequado pode ser definido como 
aquele que produz conseqüências reforçadoras para o cliente e/ou para 
as pessoas envolvidas em sua relação, a curto, a médio e a longo prazo, 
enquanto um comportamento inadequado é aquele cuja as conseqüências 
são aversivas para o cliente e/ou para os que fazem parte de seu contexto 
(cf. Banaco, 1997).
As hipóteses são formuladas, tanto para comportamentos iso­
lados (microanálises) como também uma hipótese mais ampla, capaz de 
explicar a situação atual do cliente a partir das inter-relações entre os 
seus diversos comportamentos (macroanálise) (cf. Meyer, 1997; cf. Silva­
res, 2000), a partir de análises funcionais, isto é, explicações sobre os 
eventos passados que instalaram os comportamentos e eventos atuais 
que os mantêm.
Considerando a prática de atendimento e de supervisão de 
estagiários em clínica comportamental, elaborou-se o seguinte quadro 
para a organização das micruanálises:
ÁREAS COMPORTAMENTO
ADAPTADO
COMPORTAMENTO
INADEQUADO
Interação Familiar
Relações Afetivas
Trabalho
Lazer
Tabela 1: Ficha de Organização de M icroanálise5
A devolução, que pode ocorrer ao longo de várias sessões, dá- 
se, então, quando o terapeuta discute com o cliente as hipóteses para os 
comportamentos deste, objetivando testá-las. O que caracteriza esta(s) 
entrevista(s) é o fato de o terapeuta discutir de forma clara, objetiva e 
direta com o cliente a respeito do que pensa sobre a instalação e a manu­
tenção das suas dificuldades. Esta discussão é de fundam ental impor­
tância, na medida em que possibilita que o cliente comece a observar os 
controles do ambiente e como tais controles podem ser modificados por 
ele próprio. Afinal, "criar condições para a discriminação das condi­
ções que controlam os comportamentos é a condição básica para a eficá-
- As áreas aparecerão na ficha de acordo com o caso, sendo enumerados quantos com portam entos 
relevantes o terapeuta selecionar.
13
cia do processo terapêutico" (Delitti, 1993, p.42). É ainda durante a de- 
/ volução que o terapeuta apresenta uma proposta de intervenção tera-
V pêutica, discutindo junto com o cliente os objetivos desta e como preten­
de realizá-la6.
Y A etapa intermediária diz respeito à intervenção, quando o 
foco recai sobre o(s) comportamento(s)-problema trazido(s) pelo cliente, 
e/ou identificado(s) pelo terapeuta, visando, basicamente, modificar os 
comportamentos que estão trazendo conseqüências aversivas para o 
cliente e instalar e/ou aumentar a freqüência de comportamentos que 
produzam conseqüências reforçadoras. Considerando a categorização 
de comportamentos feita por Skirmer, as intervenções não se restringem
^ aos comportamentos públicos; tão importantes quanto estes são os com- 
J portamentos privados.
É na etapa de intervenção que se utiliza mais extensivamen- 
>y.. te o arsenal de técnicas com portamentais como a dessensibilização 
sistemática, o esmaecimento, o treino de papéis, dentre outras. O uso 
de técnicas é sempre discutido com o cliente, considerando sua indi­
vidualidade, cabendo ressaltar que não consiste em um aspecto que 
caracteriza uma intervenção como aftalítico-comportamental, na me- 
'N! dida em que profissionais de diferentes orientações teóricas podem 
/ fazer uso de técnicas comportamentais.
São consideradas características peculiares da fase de inter-\ ( venção a avaliação constante por parte do terapeuta das intervenções 
 ^ realizadas (Craighead e cols., 1994) e a modificação de comportamento(s) 
do cliente como critério último para avaliar a intervenção como eficaz 
(Franks, 1996).
Quando os objetivos terapêuticos foram alcançados e o cliente 
mostra-se capaz de gerenciar sua vida sem a ajuda do terapeuta, a alta é 
sugerida e o processo terapêutico entra em sua etapa terminal, que é 
conhecida como acompanhamento ou follozv-up. A respeito desta etapa, 
não existe um critério único de como ela deve ser realizada. Sabe-se, 
porém, que uma primeira medida no período de acompanhamento con­
siste em estabelecer um espaço de tempo maior entre as sessões (realizá- 
las quinzenalmente, mensalmente, trimestralmente e assim por diante) 
e, posteriormente, os contatos podem passar a ser feitos por telefone. 
Esta " estratégia" tem por objetivo verificar se os ganhos obtidos durante
o processo terapêutico estão se mantendo, do contrário, ou se surgir 
alguma situação nova com a qual o cliente esteja tendo dificuldade em
h Rangé (1995) em sua caracterização do processo comportam ental considera a formulação e a devo­
lução, denominada por ele de discussão, com o fases do processo terapêutico, assim com o a avalia­
ção, e Ribeiro (2CKJ1) usa o terino sessão de formulação comportam entai para o que se denominou 
de devolução. Neste caso, formulação pode ser entendida com o o trabalho do terapeuta de análise 
e síntese dos dados de avaliação.
14
lidar, há possibilidade de ser realizada uma nova intervenção. Aqui, é 
importante o terapeuta discriminar quando, de fato, o cliente precisa de 
ajuda e quando está sim ulando uma dificuldade para manter a relação 
terapêutica.
Em síntese, o processo terapêutico analítico-comportamental 
pode ser dividido nas etapas de avaliação, intervenção e acompanha­
mento. Ao longo deste processo, identificam-se certas características 
que são específicas deste modelo de terapia. Dentre estas característi­
cas estão: a) ênfase nas variáveis ambientais, no comportamento e nos 
seus determinantes atuais; b) minuciosa coleta e análise de dados; c) 
uso da análise funcional para interpretar os dados coletados; d) inter­
venção direta e objetiva e e) mudança comportamental como critério 
final para a avaliar a intervenção.
Partindo desta caracterização do processo terapêutico, cons­
titui objetivo do mesmo, segundo Batistussi (2000),
conscientizar o cliente das contingências em operação na sua vida, com­
preendendo como certas coisas são feitas e porquê são feitas. Esta 
conscientização provavelmente visa a modificação dos aspectos que es­
tão causando problemas para o cliente, na medida em que a meta é dar 
consciência através da descrição de contingências, de forma que o cli­
ente emita novos comportamentos e tenha conseqüências reforçadoras, 
tomando as relações com o ambiente mais produtivas (p. 158).
D o ponto de v ista do terapeuta, ainda de acordo com 
Batistussi (2000) " a principal meta é buscar uma adequada compreen­
são da problemática do cliente e realizar uma intervenção baseada na 
análise funcional" (p. 161).
M eyer (1990), em um texto intitulado Quais os requisitos para 
que uma terapia seja considerada comportamental?, discute algumas ques­
tões que considera relevantes neste modelo de terapia. Para a autora,
São essenciais, no nível metodológico, a análise [funcional] de con­
tingências; no nível conceituai, o conhecimento e a aplicação, mesmo 
que assistemâtica, de princípios de comportamento; e no nível filosó­
fico, pelo menos a rejeição ao mentalismo. Caso contrário, teremos 
uma abordagem sem consistência e que provavelmente não sobrevi­
verá (p.4).
Em linhas gerais, neste capítulo, foi enfatizado que a TAC 
se ca ra c te r iz a p or e s ta r fu n d a m en ta d a nos p re ssu p o sto s do 
Behaviorism o Radical e delim itar como finalidade da intervenção, 
identificar, analisar e alterar, com o uso da análise funcional, as vari­
áveis externas das quais os comportamentos dos clientes são função.
No próximo capítulo, tratar-se-á de um dos temas mais im­
portantes da filosofia skinneriana - a subjetividade.
15
III
s-
A S u b je t iv id a d e s o b a O t ic a 
B e h a v io r is t a R a d ic a l : 
I n t e r p r e t a ç ã o , A s p e c t o s P o l ê m ic o s e 
M a n e jo T e r a p ê u t ic o
Como mencionado no Capítulo I, as primeiras publicações de 
Skinner datam de 1930, sendo que, até 1944, seus trabalhos estiveram 
mais voltados para discussões acerca dos condicionamentos reflexo e 
operante, abordando assuntos como os processos de reforçamento, 
extinção e discriminação.
Mas, é a partir da publicação de Tcnns (1945)7, que Skinner pas­
sa a abordar com freqüência a temática da subjetividade. Porém, isto não 
significa que Skinner tenha deixado de tratar dos assuntos que tratava 
anteriormente, o que acontece é a inclusão da análise da subjetividade em 
termos behaviorista radical, análise esta pautada no modelo de seleção 
por conseqüências.
Na verdade, a singularidade do Behaviorismo skinneriano 
consiste, exatamente, em reconhecer e propor um estudo científico para 
a vida interna dos indivíduos, rompendo com as explicações psicológi­
cas tradicionais ao rejeitar a função causal dos processos mentais, assu­
mindo que tanto os eventos privados quanto aqueles que ocorrem no 
ambiente externo possuem dimensão física. Quando defende que even­
tos públicos e privados são físicos, Skinner supera a dicotomia até en­
tão existente entre físico e mental (Tourinho, 1995).
Ao rejeitar o status causal dos eventos privados, Skinner (1953/ 
1965) enfatiza que "nós não podemos explicar o comportamento de
7 Além do artigo de 1945, Skinner publicou também em 1953 Ciência e Comportamento Humano, em 1974 
Sobre o BehaDiorismo, em 1989 Questões Recentes na Análise do Comportamento e em 1990 Pode a Psico­
logia $er uma Ciência da M ente? (além de outras obras). Todas estas publicações abordam direta ou 
indiretamente o tem a da subjetividade.
16
qualquer sistema enquanto permanecemos completamente dentro dele; 
eventualmente nós devemos retomar às forças de fora operando sobre 
o organismo (p. 35)". E isto caracteriza o recorte extemalista e a adoção de 
um critério funcional de causalidade assumidos por Skinner.
De acordo com Zuriff (1985), para os bchavioristas radicais, 
uma explicação adequada acerca do comportamento deve relacioná-lo 
às características do ambiente externo. Por sua vez, o recorte extemalista 
fundamenta-se em uma questão pragmática, já que são consideradas 
causas legítimas apenas aquelas que são passíveis de manipulação di­
reta. Como dizem Forsyth, Lejuez, Hawkins e Eifert (1996) "nós tería­
mos que manipular cognições à parte de outras manipulações que po­
deriam ser interpretadas como causas para demonstrar se uma 'cognição' 
e não uma outra coisa qualquer é causa" (p. 372).
E m função do recorte extem alista e do "fisicalism o" de 
Skinner, não existe nada de misterioso e de metafísico com respeito 
ao mundo privado (Skinner, 1974). A única distinção entre eventos 
públicos e privados refere-se à acessibilidade (Skinner, 1945).
Nesta perspectiva, existiriam, para Skinner, duas categorias 
de comportamento: público e privado8. Os públicos referem-se às ações 
diretam ente observáveis e os com portamentos privados são aqueles 
que inicialm ente eram públicos, mas tom aram -se privados em função 
das contingências. A diferença estaria no fato de os comportamentos 
públicos serem acessíveis à observação pública direta e os com porta­
mentos privados serem acessíveis diretamente apenas a cada indivíduo 
em particular (Skinner, 1953/1965). Como exemplos de com portamen­
tos privados, encontram-se o pensar, o ouvir, o ver, o fantasiar.
Skinner, em 1968/1972, cita o exemplo do comportamentover­
bal privado ou encoberto:
Embora uma criança possa eventualmente falar consigo mesma si­
lenciosamente, foi ensinada a falar reforçando-se diferencialmente o 
comportamento audível. Embora, mais tarde, seja possível ler livros 
silenciosamente ou recitar trechos [para si mesma], o ensino se faz 
pela leitura em voz alta (p. 118).
A lém dos comportamentos, Skinner (1945) concebe o m un­
do privado dos indivíduos constituído por estímulos que são vistos 
como as próprias condições corporais ou alterações fisiológicas senti­
das por cada indivíduo. Da mesma form a que os comportamentos, as 
condições corporais são produtos da história genética e ambiental de
I cada ser em particular. Logo, o que é sentido é o próprio corpo de quem 
{ sente (Skinner, 1974),
8 A proposta dtj categonzar com portam ento em público e privado não é completamente original, uma 
vez que W atson já falava em respostas expífdtas (ações publicamente observáveis) e implícitas (al­
terações fisiológicas).
17
Os subprodutos aos quais Skinner se refere estão relaciona­
dos com um dos efeitos do reforçamento. Quando o indivíduo interage 
com o ambiente, ele é modificado de duas formas: ao nível da condi­
ção corporal e ao da probabilidade de emissão de comportamento futuro 
(Costa, 1996; Tourinho, 1997b). A alteração da condição corporal relaci­
ona-se com o prazer — efeito imediato do reforçamento — no sentido de 
que a resposta de sentir envolve condições do próprio corpo daquele que 
sente, e a m udança de probabilidade dá-se em função do efeito 
} fortalecedor do processo de reforçamento (Andery, 1997). Hm síntese, as 
j contingências de reforçamento produzem condições corporais e com- 
' portamentos públicos e privados, bem como outros tipos de contingên­
cias (extinção, punição), que também produzem alterações no próprio 
corpo do organismo e na probabilidade de emissão de comportamentos 
públicos e privados.
As interpretações skinnerianas de comportamento público e 
mundo privado podem ser esquematizadas da seguinte maneira:
Inventas Externes 
l
(Cbntingàtias de refctyairenlQ, extmçãu punição)
G an^crtairaitus Publicre HventiK Privadas
(estímulos e a Ttrportamei ttns)
Figura 1: Reiação entre eventos externos, comportamentos públicos e 
eventos privados na filosofia behaviorista radical.
Esta esquematização torna mais claro que, diferentem ente 
das teorias intemalistas, na filosofia behaviorista radical, o que ocor­
re no m undo privado não é um início, ou melhor, não existe uma 
relação de determinação entre eventos privados e públicos. Isto signi­
fica que tanto comportamentos públicos quanto eventos privados - 
comportamentos e alterações fisiológicas — são produtos da relação 
que o indivíduo estabelece com seu ambiente externo.
Embora não aceite a causalidade interna, Skinner adm ite 
algumas possibilidades de o evento privado entrar no controle do com­
portamento. Dentre estas possibilidades, encontram-se as seguintes 
(Tourinho, 1997b):
a) Quando uma condição corporal controla uma descrição verbal - 
de dor, por exemplo;
b) Quando um comportamento encoberto constitui um dos elos da 
contingência. Por exemplo, resolver um problema envolve, em cer­
tas situações, pensar na solução antes de responder publicamente.
18
O que deve ficar claro é que mesmo Skinner admitindo a pos­
sibilidade de um evento privado controlar um comportamento, esse even­
to nunca será visto como autônomo na determinação (daquele) fenôme­
no (Tourinho, 1997a; 1997b). A relação entre um evento privado e um 
evento público é mais uma relação que deve ser explicada a partir das 
variáveis ambientais externas e não internas.
Retomando as afirmações de que o mundo privado é constitu­
ído de estímulos e comportamentos, e que esses estímulos privados são 
as condições corporais, então, estas constituem o objeto de estudo da 
jfisiologia e não de uma ciência do comportamento. Isto significa que a 
j análise da subjetividade envolve mais precisamente a análise de com- 
'j portamentos sob controle de condições corporais e de comportamentos 
ijpnvados propriamente ditos. Todos esses fenômenos que na linguagem 
do senso comum "se relaciona[m] com os pensamentos e sentimentos de 
um su jeito ,... [como os] desejos, esperanças, medos, crenças, intenções, 
ctc. (Tourinho, 1997c, p. 203).
Para explicar a subjetividade, Skinner recorre às contingên­
cias am bientais de reforçamento que atuam em três níveis diferencia­
dos: filogenético, ontogenético e cultural. Compreender a subjetivi­
dade, im plica compreender, em particular, o nível cultural ao qual 
ela estã mais estritamente relacionada (Andery, 1997).
Na interpretação de Skinner, a vida privada de cada um se 
constrói a partir das relações estabelecidas com a comunidade verbal. 
É somente através do reforçamento diferencial provido pela comuni­
dade verbal, ao observar padrões de comportamentos públicos, que os 
organismos aprendem a reagir discriminativamente ao seu mundo pri-^ 
vado. Foram, as contingências sociais que possibilitaram aos indivíduos 
reagir discriminativamente às suas condições corporais e denominar 
sentimentos de raiva, angústia e pensamento como tais (Tourinho, 1997b). 
Sendo assim, antes que a comunidade verbal interaja com o indivíduo, 
tanto o mundo privado quanto o mundo público, constituem um materi­
al indiferenciado com respeito ao qual os indivíduos não se comportam 
díferencialm ente (Tourinho, 1997a, 1997c).
N este sentido, Andery (1997) afirma que:
é apenas através da cultura que um outro contato importante pode ser 
feito entre o indivíduo e o ambiente: o comportamento verbal permite 
que os indivíduos passem a ter um acesso a uma parte importante do 
mundo: o mundo privado (...) É através da comunidade verbal que se 
constrói uma parte importante do repertório dos seres humanos: sua 
subjetividade (Andery, 1997, p. 205).
Uma das dificuldades de se aceitar a interpretação behaviorista 
acerca da subjetividade diz respeito à suposta relação existente entre o 
que se passa dentro do indivíduo e o comportamento. Isto porque, como
19
foi mencionado anteriormente, a interação do indivíduo com o ambiente 
pode gerar não só mudanças nas condições corporais como também 
m ufança na probabilidade de comportamento futuro. As alterações nas 
condições corporais do organismo antecedem ou acompanham os com­
portamentos (Skinner, 1989). Assim, é fácil pensar que existe relação de 
causalidade entre esses eventos.
Em 1974, Skinner chama a atenção exatam ente para essa ten­
dência de deduzir relações de causalidade em relações m eramente 
temporais, cujo princípio se resume na frase "depois disto, logo cau­
sado por isto". Em 1978, ele afirmou:
O que sentimos são condições do nosso corpo, a maioria das quais 
estritamente relacionadas com nosso comportamento e com as cir­
cunstâncias nas quais nos comportamos. Agredimos e sentimos rai­
va; ambos pela mesma razão, e esta razão está no ambiente. Em suma, 
as condições corporais (...) Não possuem força explicativa; simplesmen­
te são fatos adicionais a serem levados em conta (p. 71).
De acordo com esta interpretação, a subjetividade, diferen­
temente do que sustenta a concepção tradicional, e largamente aceita 
na cultura ocidental, não é interior, nem causa e nem mesmo é subje­
tiva no sentido de individual. A subjetividade de alguém consiste, na 
realid ade, na sub jetiv id ad e de um grupo socia l (A ndery, 1997; 
Touxinho, 1997b). Nas palavras de Andery (1997):
A nossa subjetividade, por paradoxal que pareça, talvez seja a mais social 
de todas as características humanas. E paradoxal, porque apenas através 
de correlatos outros a conhecem, e porque o próprio ato de tornã-la 
pública em certo sentido a desfaz; entretanto sem ú acompanhamento 
público, sem a modelagem e o reforçamento social, o comportamento 
verbale a cultura, nãv podemos sequer falar dela (p. 206).
Com base no exposto, a interpretação behaviorista radical de 
subjetividade resume-se nos seguintes termos:
1. É possível falar em estímulos e comportamentos privados, sendo que 
a análise da subjetividade envolve mais especificamente os compor­
tamentos;
2. A problemática da subjetividade concentra-se na inacessibilidade 
dos eventos privados;
3. Mesmo quando um evento privado entra no controle de um compor­
tamento público, ele nunca é autônomo em sua produção;
—^ 4. A subjetividade concebida enquanto um fenômeno comportamental 
é instalada e mantida da mesma form a que os comportamentos 
públicos, através da ação da comunidade verbal que observa pa­
drões públicos de comportamentos;
^ 5. A compreensão da subjetividade deve passar diretamente pela com­
preensão da relação entre indivíduo e cultura e das práticas cultu­
rais como um todo.
20
Exposta a interpretação de Skinner sobre a subjetividade, a 
seguir serão discutidos alguns aspectos polêmicos desta interpreta­
ção.
Aspectos Polêmicos na Interpretação Skinneriana de Sub­
jetividade
A utores como H ayes (1992), O verskeid (1994) e Rachlin 
(1995), dentre outros, tecem críticas à interpretação skinneriana de 
subjetividade. Neste tópico, algumas destas críticas serão elucidadas 
e discutidas.
Um dos problemas na interpretação de Skinner apontados por 
Overskeid (1994) refere-se à questão da causalidade. O autor argumenta 
que os eventos privados devem ser considerados como causas iniciais 
do comportamento, pois uma cadeia causal é infinita e, por isso, decidir 
onde ela com eça e termina é arbitrário. Isto é, como um elo de uma se­
qüência causal, um evento privado, seja ele estímulo ou comportamento, 
na concepção de Overskeid, "é uma causa legítima tanto quanto os elos 
externos" (Tourinho, 1999, p. 113).
De fato, a crítica levantada por Overskeid à interpretação 
skinneriana possui fundamento, entretanto, é possível respondê-la, pelo 
menos em parte. O problema na interpretação de Skinner concentra-se 
muito mais na categorização de eventos privados como estímulos e com­
portamentos do que propriamente no recorte assumido por ele.
Se Skinner admite que estímulos são partes do ambiente que 
afetam o comportamento, e que estímulos públicos determinam com­
portam entos, parece difícil sustentar que estímulos privados não o 
façam. Além do mais, Skinner tam bém admite a existência da relação 
com portamento privado-com portam ento público. O que precisa ser 
enfatizado, porém, é que o recorte skinneriano, para a explicação do 
comportamento humano, é extem alista (Tourinho, 1999), mesmo que 
se argum ente a sua arbitrariedade. Assum ir isto, então, implica que 
nenhuma condição privada controla um comportamento, independen­
temente da relação estabelecida entre o indivíduo e o ambiente sócio- 
cultural do qual participa e, nem tampouco, um pensamento ou um 
sentimento ocorre na ausência de uma estimulação ambiental exter­
na. Neste sentido, a análise e o recorte extem alista usados por Skinner 
mostram-se coerentes.
Rachlin (1995) discorda do termo usado por Skinner para tra­
tar da subjetividade. Para ele, "coisas que são mentais são mais úteis 
para a psicologia do que coisas que são privadas" (p. 183), desde que 
por m ental se entenda padrão de com portam ento publicam ente 
observável que ocorra em um certo período de tempo.
21
Possivelmente, Skinner adotou o termo evento privado como 
mais uma forma de se contrapor à interpretação intem alista de subje­
tividade que veicula a existência de uma mente autônoma na produ­
ção do fenômeno comportamental. Por outro lado, a denom inação 
evento privado também é problemática, por se relacionar com interno. 
Afinal, os termos privado, interno e inacessível são utilizados por Skinner 
como equivalentes. Partindo-se desta constatação, a crítica feita por 
Rachlin tem o mérito de trazer à tona o problema da denominação usada 
por Skinner e também de propor que os fenômenos subjetivos, mentais 
ou privados, sejam considerados como comportamentos públicos como 
quaisquer outros, isto não significa, porém, concordar com Rachlin que 
a denominação mental seja a mais pertinente; tanto a denominação mental 
quanto a privada parecem inadequadas, uma vez que ambas sugerem a 
existência de algo interno e acessível apenas a cada indivíduo, que de 
algum modo se diferencia do fenômeno comportamental publicamente 
observável. Talvez, por isto, a alternativa seja adotar a denominação de 
Kantor de eventos discretos ou sutis, para referir-se aos fenômenos sub­
jetivos, mantendo-se o argumento de que um evento privado ou mental 
não é interno nem inacessível, mas ujn comportamento público.
Hayes (1992) compara e avalia as propostas de Skinner e 
Kantor no que se refere ao tema da subjetividade. Como apontado acima, 
Skinner usa os termos privado, interno e inacessível como sinônimos e o 
argumento central dc Hayes (1992) relaciona-se exatamente com este 
aspecto da interpretação de Skinner. Para a autora, a análise de Skinner 
é problemática, por situar o evento privado dentro do indivíduo. A aná­
lise de Kantor, em contrapartida, segundo Hayes (1992), é mais coerente 
e útil do que a de Skinner, pois, para Kantor, um evento subjetivo é um 
evento sutil, mas nunca interno. Hayes (1992) acrescenta que estes even­
tos "são diretamente observáveis com ou sem acom panham entos” (p. 
161).
A observação dos eventos subjetivos de alguém im plica, 
contudo, construir uma história de interação entre duas pessoas. Por 
exemplo:
Casais que têm vivido juntos por um Longo período de. tempo (...) Com 
freqüência sabem tão bem o que o outro está pensando que eles conside­
ram menos necessário se expressarem abertamente. Eles terminam cada 
sentença do outro, ou falam sentenças parciais que seus pares entendetn 
completamente. Eles podem também pensar a mesma coisa ao mesmo 
tempo. Todas estas circunstâncias são devido à história extensiva de 
interação íntima entre as duas pessoas (Hayes, 1992, p. 160).
Resumindo, a "observação de eventos sutis (...) depende da 
intimidade do observador com o observado" (Hayes, 1992, p. 159).
22
A crítica formulada por Hayes à interpretação de Skinner cha­
ma-nos a atenção para uma questão que é central na discussão da sub­
jetividade: as dicotomias externo-interno, observável-inobserváveí e aces- 
sível-inacessível, todas presentes na interpretação de Skinner.
A análise skinneriana accrca da subjetividade, como foi abor­
dada no tópico anterior, parte da concepção de que existem estímulos e 
comportamentos privados. Os primeiros, concebidos com o condições 
fisiológicas e que, não necessariamente, constituem a subjetividade. Já 
os comportamentos, estes sim, são considerados como eventos subjeti­
vos. A questão que se coloca então é a seguinte - se por subjetividade se 
entende comportamentos modelados por uma comunidade verbal que 
depende da observação de comportamentos públicos, em que medida 
a subjetividade realmente diz respeito à privacidade de um indivíduo?
Enquanto a subjetividade for tratada como um fenômeno pri­
vado, interno, inacessível e/ou inobservável, provavelmente as ques­
tões ligadas a ela permanecerão "problem áticas" para qualquer tentati­
va de investigação. Neste sentido, a análise de Kantor talvez seja a que 
mais permitirá um avanço nesta discussão. O que não exclui considerar 
a afirmação de Skinner, feita ainda em 1945, de que "o único problema 
que uma ciência do comportamento pode resolver em conexão com o 
subjetivismo é no campo verbal" (p. 294).
Além disso, considerar a argumentação de Andery (1997) 
dc que entender a subjetividade envolve entender a cultura e como se 
relacionam indivíduo e cultura, também se mostra imprescindível.
Continuando com a discussão da subjetividade, a seguir, será 
enfocadocomo ela tem sido trabalhada no contexto terapêutico analí- 
tico-comportamental.
Subjetividade na Terapia Analítico-Comportamental
"Estou muito triste. Tenho chorado todos esses dias". "N o final 
de semana, eu estava me sentindo péssima". "Sonhei que o demônio vi­
nha me pegar". "À s vezes me sinto tão confuso e inseguro que simples­
mente acho que sou um inútil". Relatos desta natureza fazem parte do 
dia-a-dia de todos, mas é especialmente no contexto terapêutico que se 
tomam ainda mais presentes. Deste modo, o tema da privacidade ou do 
ambiente privado de cada indivíduo é particularmente relevante quando 
se fala em terapia, já que "esse contexto caracteriza-se, socialmente, como 
um dos mais apropriados e acolhedores para se falar de questões pesso­
ais relativas a sensações, sentimentos, crenças, pensamentos, enfim, a 
eventos privados" (Sant' Anna, 1994, p. 490).
Q uando se faz referên cia ao m odelo clín ico analítico- 
comportamental, é necessário lembrar que não foi sempre assim, uma
23
vez que no seu início tinha como principal característica atuar alteran­
do diretamente as contingências no ambiente natural do cliente (hospi­
tal, escola). Contem poraneam ente, porém , os terapeutas analítico- 
comportamentais praticam a terapia face a face, que se caracteriza por 
ser predominantemente verbal (Guedes, 1993; Sant' Anna, 1994).
Foi exatamente nesta passagem de um modelo para outro que
o mundo privado do cliente passou a ter importância. Conte e Regra 
(2000), por exemplo, ao distinguirem a Modificação do Comportamento 
Infantil da Psicoterapia Comportamental Infantil atual, ressaltam que 
não se levava em conta os sentimentos da criança (até porque ela quase 
não era inserida no processo); nem tampouco os sentimentos de seus 
pais, sendo o terapeuta, basicamente, um aplicador de técnicas.
Desde a década de 60, muitas m udanças em relação ao pro­
cesso clínico comportamental ocorreram e, como em qualquer outra tera­
pia de gabinete, todo terapeuta, independente de abordagem, convive 
no cotidiano de sua prática com rela tos acerca do mundo interno, preci­
sando abordá-k) de algum modo.
Mas, o que fariam os clínicos com portam entais com este 
m aterial? E Skinner? O que ele te/ia a dizer sobre a clínica, e mais 
precisamente sobre a subjetividade na clínica?
//Skinner não se propôs e não fez incursões sistemáticas pelo 
universo clínico, não fornecendo, portanto um modelo teórico-expe- 
rim ental diretamente voltado à prática clínica" (Guilhardi, 1995, p. 257, 
itálico acrescentado), contudo, em 1974, é categórico em afirmar que:
Urna análise behaviorista não discute a utilidade prática acerca dos 
relatos do mundo interior (...) Eles são pistas (1) paru o comporta­
mento passado e as condições que os afetaram, (2) para. o comporta­
mento atual e as condições que o afetam, e (3) para as condições rela­
cionadas ao comportamento futuro (p. 31).
í Em 1989, novamente enfatiza: "C om o as pessoas se sentem é
"S tão importante quanto o que elas fazem " (Skinner, p. 3).
Como se vê, Skinner é explícito em atribuir importância aos 
relatos acerca do mundo privado. Afinal, sentimentos, emoções, sonhos e 
fantasias são fenômenos que também estão presentes no ambiente "natu­
ral" dos indivíduos e não apenas no setting terapêutico.
Mas, efetivamente, o que fazer com o mundo privado em 
um contexto terapêutico analítico-comportamental?
Nos últimos anos, analistas do comportamento têm demons­
trado grande interesse pelo estudo de eventos privados. Apesar disto, a 
comunidade de terapeutas ainda enfrenta dificuldades ao lidar com tais 
eventos no contexto clínico (Azevedo, 2001).
24
Dentre as contribuições de trabalhos que tratam dos eventos 
privados na prática clínica analítico-comportamental, está a criação de 
diversas categorias de análise que o clínico pode utilizar em sua atua­
ção (cf. Azevedo, 2001), além daqueles que abordam inclusive os própri­
os eventos privados do terapeuta.
Na prática, como eventos privados são entendidos como 
estímulos e comportamentos que também estão sob controle de con­
tingências, então, cabe ao terapeuta utilizar os princípios dos condici­
onamentos clássico e operante para m odificar tanto comportamentos 
( públicos com o eventos privados do clien te. Logo, a intervenção
1 comportamental parte do princípio de que mudanças nas contingên- 
/ cias prom ovem mudanças tanto nos comportamentos públicos quan- 
"j to no mundo privado dos indivíduos (Lipp, 1984). O foco e a inter- 
\ venção ocorrem de fora para dentro.
Promover mudanças no am biente externo a fim de modificar 
padrões de interação público e privado consiste no ponto central da 
intervenção analítico-comportamental que tanto a diferencia das demais. 
Para isso, trabalha-se com o cliente de modo que o comportamento ver­
bal do terapeuta controle o comportamento não-verbal do cliente fora da 
sessão terapêutica (Hübner, 1997).
De forma mais específica, para lidar com eventos privados na 
clínica, cabe ao terapeuta primeiro lembrar sempre que o relato de um 
evento privado é um comportamento verbal que faz referência a um esta­
do do corpo e/ou a um outro comportamento; segundo, identificar que 
tipo de Sd foi fornecido e o qual o cliente está respondendo; e, terceiro, 
considerar que o relato (sentir angústia, tristeza, pensar em morte, ima­
ginar-se linda em uma festa) sinaliza probabilidade de emissão de com ­
portamento público, ou seja, um relato de evento privado pode ser usado 
para prever comportamento. Exemplificando, algumas pessoas, quan­
do se dizem deprimidas, têm maior probabilidade de permanecerem 
mais tem po dentro de casa, sorrir com menos freqüência, chorar com 
mais freqüência, dentre outros. Desse modo, talvez pudéssemos dizer 
que pensam entos e sentimentos são entendidos como comportamentos 
ju stam ente em função de estarem sob controle de contingências 
ambientais e envolverem probabilidade de ação publicamente observável.
Reconhecido os três aspectos supracitados, cabe ainda ao 
terapeuta desfazer a análise causal freqüentemente estabelecida pelo cli­
ente entre evento privado e comportamento público (quando afirma, por 
exemplo, que é sua ansiedade que causa todos os seus problemas de rela­
cionamento) e conscientizar o cliente, através de análises funcionais e de 
mudanças nas contingências, que suas sensações, pensamentos e fanta­
sias mais incômodas poderão diminuir com alterações ambientais exter-
25
nas. Neste sentido, o cliente precisa se comportar, expor-se às situações 
para que possa ser afetado pelas conseqüências (cf. Banaco, 1997).
De acordo com o referencial comportamental, então, trabalhar 
no contexto clínico com eventos privados, implica analisá-los funcio­
nalmente, como se faz com qualquer outro tipo de comportamento públi- 
< co, isto ê, precisa-se identificar tanto as variáveis que antecedem a ocor- 
jrência de um evento privado quanto as que o mantém. Assim, o privado 
j não é inacessível e pode ser compreendido e modificado da mesma ma- 
yneira que um comportamento público.
Em relação às funções da atuação do terapeuta analítico- 
comportamen tal junto aos eventos privados, Martins e Tourinho (2001) 
resumem-nas em quatro, são elas: investigar e intervir em relação aos 
eventos privados, analisar as relações entre eventos privados, contin­
gências ambientais e comportamentos públicos e fornecer "feedbacks 
descritivos e referências sobre eventos privados do terapeuta, do cli­
ente ou de terceiros"' (p. 42).
Resgatar questões relacionadas à subjetividade é pertinente e, 
provavelmente, sempre será um material importante a ser analisado no 
contexto clínico. E isto, necessariamente, não significa negligenciar as 
contingências e retomar ao mentalísmo, mas, antes, uma busca de com­
preensão do homem como um todo, com seus comportamentos abertos e 
encobertos.

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