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DIREITO EMPRESARIAL Prof. Guilherme Correa EMPRESA E EMPRESÁRIO Conceito: Empresário é a pessoa (física ou jurídica) que exerce de forma profissional atividade econômica (empresa) para a produção ou circulação de bens ou serviços. Salienta-se que a caracterização do empresário, independentemente da existência de registro. (art. 966 do Código Civil) Excluídos do conceito: Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. (Parágrafo único, do art. 966 do Código Civil) Sobre este ponto, há dois enunciados importantes do CJF: I Jornada de Direito Civil - Enunciado 54: É caracterizador do elemento empresa a declaração da atividade-fim, assim como a prática de atos empresariais. III Jornada de Direito Civil - Enunciado 195: A expressão "elemento de empresa" demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial. Exercente de atividade rural: Somente será empresário se houver registro (art. 971 do Código Civil). O registro do empresário: • É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. (art. 967 do Código Civil) • Ou seja, para o empresário comum (o não rural) o registro é condição de regularidade. Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. • Já para o rural, o registro não é condição de regularidade, já que uma faculdade. 1. O produtor rural, por não ser empresário sujeito a registro, está em situação regular, mesmo ao exercer atividade econômica agrícola antes de sua inscrição, por ser esta para ele facultativa. (...) 3. Assim, os efeitos decorrentes da inscrição são distintos para as duas espécies de empresário: o sujeito a registro e o não sujeito a registro. Para o empreendedor rural, o registro, por ser facultativo, apenas o transfere do regime do Código Civil para o regime empresarial, com o efeito constitutivo de "equipará-lo, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro", sendo tal efeito constitutivo apto a retroagir (ex tunc), pois a condição regular de empresário já existia antes mesmo do registro. (...) Já para o empresário comum, o registro, por ser obrigatório, somente pode operar efeitos prospectivos, ex nunc, pois apenas com o registro é que ingressa na regularidade e se constitui efetivamente, validamente, empresário. (REsp n. 1.800.032/MT, relator Ministro Marco Buzzi, relator para acórdão Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 5/11/2019, DJe de 10/2/2020.) Outras averbações do empresário: • Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade. (art. 979 do Código Civil) • A sentença que decretar ou homologar a separação judicial do empresário e o ato de reconciliação não podem ser opostos a terceiros, antes de arquivados e averbados no Registro Público de Empresas Mercantis. (art. 979 do Código Civil) Classificação do empresário: No caso de a atividade (empresa) ser exercida por pessoa física tem-se o empresário individual. Sendo pessoa jurídica, fala-se em sociedade empresária. Capacidade de ser empresário individual: • Poderá ser empresário a pessoa que esteja em pleno gozo da capacidade civil e não seja legalmente impedida. (art. 972 do Código Civil) • Além dos incapazes, o código civil deixa claro que os impedidos por força de lei também não podem ser empresários individuais (ex.: magistrado, membro do MP, militar, servidor público federal). • Como dito, a incapacidade civil impede o exercício da atividade empresarial, porém a lei excepciona tal situação e permite o exercício da empresa pelo incapaz, desde que respeitados alguns requisitos constantes no art. 974 do Código Civil: i) Continuação de atividade empresarial (exercida por seus pais ou pelo autor da herança OU exercida por ele mesmo enquanto era capaz). ii) Autorização judicial (O juiz ao conceder esta autorização fará constar no alvará a informação de que não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela) iii) Assistência (no caso de incapacidade relativa) ou representação (no caso de incapacidade absoluta) (Se o representante ou assistente do incapaz for pessoa legalmente impedida de exercer atividade de empresário, nomeará, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes) Incapaz pode ser sócio? Os incapazes e as sociedades empresárias: não há impedimento na lei para que o incapaz figure como sócio de sociedade empresária, sendo necessário apenas o atendimento cumulativo de alguns requisitos, previstos no §3°, do art. 974 do Código Civil: I) o incapaz deverá estar assistido (relativamente incapaz) ou representado (absolutamente incapaz). II) o capital social deverá estar totalmente integralizado. III) o incapaz não poderá exercer a administração (gestão) da sociedade. Exercício da atividade empresarial por quem é impedido: Os empresários legalmente impedidos: caso exerçam a atividade responderão pelas obrigações contraídas (art. 973 do Código Civil) Empresário casado: i) os cônjuges não podem ser sócios entre si se forem casados no regime da comunhão universal de bens ou da separação obrigatória de bens. III Jornada de Direito Civil - Enunciado 205: (1) a vedação à participação de cônjuges casados nas condições previstas no artigo refere-se unicamente a uma mesma sociedade; (2) o artigo abrange tanto a participação originária (na constituição da sociedade) quanto a derivada, isto é, fica vedado o ingresso de sócio casado em sociedade de que já participa o outro cônjuge. ii) o empresário casado (independente do regime de bens) poderá alienar os bens empresariais (aqueles utilizados para o exercício da atividade) ou gravá-los de ônus real, sem necessidade de anuência do cônjuge. II Jornada de Direito Comercial - Enunciado 58: O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978 do CCB e não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista prévia averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no registro público de empresas mercantis. iii) o empresário que se casar, divorciar-se ou restabelecer sociedade conjugal deverá averbar tais modificações no registro de empresário. O nome empresarial do empresário individual: O empresário opera sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado, aditando- lhe, se quiser, designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade. (art. 1.156 do Código Civil); Ainda existe EIRELI? Não, o art. 980-A do Código Civil foi revogado pela Lei 14.195/2021. • Art. 41. As empresas individuais de responsabilidade limitada existentes na data da entrada em vigor desta Lei serão transformadas em sociedades limitadas unipessoais independentemente de qualquer alteração em seu ato constitutivo. • Parágrafo único. Ato do Drei disciplinará a transformação referida neste artigo. A inclusão do parágrafoúnico ao art. 971 do Código Civil • A Lei 14.193/2021 incluiu ao art. 971 do Código Civil o seguinte dispositivo: • Parágrafo único: Aplica-se o disposto no caput deste artigo à associação que desenvolva atividade futebolística em caráter habitual e profissional, caso em que, com a inscrição, será considerada empresária, para todos os efeitos. EMPRESA E EMPRESÁRIO - PARTE 2 1. CLASSIFICAÇÃO DO EMPRESÁRIO Como dito a atividade (empresa) poderá ser desenvolvida tanto pelas pessoas físicas (naturais) ou pelas pessoas jurídicas. Caso a atividade seja realizada por pessoa física, será um empresário individual, caso seja pessoa jurídica será uma sociedade empresária ou um EIRELI (empresa individual de responsabilidade limitada). 2. CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO INDIVIDUAL O art. 972 do Código Civil regula a capacidade empresarial, ou seja, indica quem poderá ser empresário individual. De acordo com o dispositivo em questão, poderá ser empresário a pessoa que esteja em pleno gozo da capacidade civil e não seja legalmente impedida. Sendo assim, os absolutamente incapazes (art. 3º do Código Civil) e os relativamente incapazes (art. 4º do Código Civil) não podem, em regra, exercer a atividade empresarial. Além dos incapazes, o código civil deixa claro que os impedidos por força de lei também não podem ser empresários individuais (ex.: magistrado, membro do MP, militar, servidor público federal). É de se destacar que estes impedimentos sempre devem estar previstos em lei, mas não necessariamente no Código Civil. Como dito, a incapacidade civil impede o exercício da atividade empresarial, porém a lei excepciona tal situação e permite o exercício da empresa pelo incapaz, desde que respeitados alguns requisitos constantes no art. 974 do Código Civil: i) Continuação de atividade empresarial (exercida por seus pais ou pelo autor da herança OU exercida por ele mesmo enquanto era capaz). ii) Autorização judicial (O juiz ao conceder esta autorização fará constar no alvará a informação de que não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela) iii) Assistência (no caso de incapacidade relativa) ou representação (no caso de incapacidade absoluta) (Se o representante ou assistente do incapaz for pessoa legalmente impedida de exercer atividade de empresário, nomeará, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes). 3. O INCAPAZ PODE SER SÓCIO? No tópico anterior afirmou-se que em regra o incapaz não poderá exercer a atividade empresarial. Porém, não se pode confundir esta situação com a do incapaz que é sócio de sociedade empresária. Não há impedimento na lei para que o incapaz figure como sócio de sociedade empresária, sendo necessário apenas o atendimento cumulativo de alguns requisitos, previstos no §3°, do art. 974 do Código Civil: i) o incapaz deverá estar assistido (relativamente incapaz) ou representado (absolutamente incapaz). ii) o capital social deverá estar totalmente integralizado. iii) o incapaz não poderá exercer a administração (gestão) da sociedade. Atendidos tais requisitos, poderá o incapaz compor o quadro societário de sociedade empresária. 4. OS EMPRESÁRIOS LEGALMENTE IMPEDIDOS Ponto bastante explorado é aquele que diz respeito ao exercício da atividade empresarial por pessoas legalmente impedidas. A lei veda que algumas pessoas exerçam a atividade empresarial. Mas caso elas, mesmo impedidas, venham exercer tal atividade, responderão pelas obrigações contraídas? A resposta é positiva, nos termos do art. 973 do Código Civil. Assim, aquele que exerceu uma atividade empresarial estando impedido de exercê-la, responderá pelas obrigações que contraiu no exercício da atividade. 5. EMPRESÁRIO CASADO O Código Civil faz observações importantes a respeito do empresário casado, quais sejam: i) os cônjuges não podem ser sócios entre si se forem casados no regime da comunhão universal de bens ou da separação obrigatória de bens. Salienta-se que esta impossibilidade é originária ou superveniente, ou seja, não é possível que o casal constitua a sociedade entre si e nem que um deles constitua e o outro posteriormente ingressa no quadro social. Por outro lado não há impedimento que cada um dos cônjuges seja sócio de sociedades diferentes. ii) o empresário casado (independente do regime de bens) poderá alienar os bens empresariais (aqueles utilizados para o exercício da atividade) ou gravá-los de ônus real, sem necessidade de anuência do cônjuge. Sobre esta ponto, é importante conhecer o teor do Enunciado 58 da II Jornada de Direito Comercial que diz: “II Jornada de Direito Comercial - Enunciado 58: O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978 do CCB e não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista prévia averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no registro público de empresas mercantis”. Além disso, o empresário que se casar, divorciar-se ou restabelecer sociedade conjugal deverá averbar tais modificações no registro de empresário. DIREITO EMPRESARIAL Prof. Guilherme Correa ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL - PARTE 1 1. CONCEITO Estabelecimento empresarial (comercial) é o conjunto de bens que o empresário reúne para a exploração de sua atividade. Note-se que este conjunto de bens é indispensável para iniciar à atividade empresarial. Tais bens podem ser materiais, corpóreos. Tome-se como exemplo um restaurante, não há como iniciar a atividade se não existirem mesas, cadeiras, bandejas, pratos, talheres, geladeira, fogão, etc. Todos estes bens, corpóreos e materiais, no caso são necessários para que o restaurante possa funcionar e todos eles compõem o estabelecimento empresarial. Ainda há a possibilidade de o empresário possuir bens imateriais, incorpóreos que valorizam muito o estabelecimento. Pegue-se como exemplo o empresário que trabalha no ramo de roupas. É muito comum você olhar uma roupa, verificar sua composição e comparar o preço com outra que possui composição idêntica e literalmente ficar assustado com a diferença de preços. Ora por que há esta grande diferença? Pois uma delas, por trás de uma simples peça de roupa carrega um bem maior, qual seja a marca que é um bem incorpóreo, imaterial. A respeito dos bens imateriais é importante trazer o contido no Enunciado 95 das Jornadas de Direito Comercial: “Os perfis em redes sociais, quando explorados com finalidade empresarial, podem se caracterizar como elemento imaterial do estabelecimento empresarial”. Assim, até mesmo perfis em redes sociais entram no conjunto de bens que forma o estabelecimento. O importante, é que sejam necessários à realização da atividade empresarial (empresa). Então, todos estes bens reunidos pelo empresário (sociedade empresária ou empresário individual) compõem o chamado estabelecimento empresarial ou estabelecimento comercial. 2. NATUREZA JURÍDICA Este conjunto de bens é entendido pela maior parte da doutrina como uma universalidade de fato, uma vez que os elementos que o compõem formam uma coisa unitária exclusivamente em razão da destinação que o empresário lhes dá, e não em virtude de disposição legal. Ainda, importante destacar que o estabelecimento pode ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza, ou seja, o estabelecimento empresarial poderá ser negociado como um todo, como ocorre no contrato de trespasse que será posteriormente analisado. Por fim, esclarece-se que o estabelecimento não se confunde com a atividade ou com o seu empresário, tanto que é possívelfalar em penhora da sede do estabelecimento nos termos da súmula 451 do STJ, mas não é possível a penhora da empresa, por exemplo. 3. TRESPASSE É possível ao empresário a alienação do estabelecimento empresarial. O contrato de alienação empresarial denomina-se TRESPASSE e é conhecido na prática comercial pela expressão “PASSA-SE O PONTO”. O trespasse não se confunde com a cessão das quotas na Ltda. ou a alienação do controle da S/A. Nestes casos o estabelecimento continua sendo da sociedade empresária, o que muda é o controle social. Já no trespasse há a modificação do titular do estabelecimento comercial que passa da sociedade X para a Y, por exemplo. Aspecto importante é o que trata da responsabilidade pelas obrigações, tanto por parte do alienante, como por parte do adquirente. Nos termos do art. 1.146 do Código Civil, o adquirente do estabelecimento empresarial responde por todas as obrigações regularmente contabilizadas, porém, não há uma completa exoneração do alienante que permanecerá solidariamente responsável pelo prazo de um ano. Tal prazo é contado da seguinte forma: i) em relação aos créditos vencidos a partir da publicação; ii) em relação aos vincendos, da data do respectivo vencimento. O trespasse, como é contrato que interfere nas relações do empresário com terceiros, necessita ser registrado e também publicado, como determina o art. 1.144 do Código Civil. Importante destacar que no caso do EPP (empresa de pequeno porte) ou ME (microempresa) não há a necessidade de publicação na imprensa oficial, sendo obrigatório apenas o registro na junta comercial. Este ocorrerá por meio da averbação do contrato de trespasse, no registro da sociedade. Ainda sobre o tema, a fim de proteger os credores, o Código Civil impõe ao alienante que: a) resguarde patrimônio suficiente para pagamento de todos os credores; b) no caso de ausência de patrimônio será necessário o pagamento de todos os credores ou c) obtenção de anuência destes credores em relação à alienação. A anuência poderá ser expressa ou tácita, esta última quando não houver oposição no prazo de 30 (trinta) dias após a notificação. (art. 1.145, do Código Civil). Note-se que não é necessário o cumprimento das três obrigações, mas apenas uma delas. O descumprimento desta regra, inclusive, caracteriza um ato de falência, ou seja, o empresário pode ter contra si um pedido de falência com base nisso. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL - PARTE 2 4. TRESPASSE (Continuação) Outro assunto de grande importância no que toca ao trespasse é a questão da manutenção ou não dos contratos para o desenvolvimento da atividade. Em relação ao contrato de locação, há a necessidade de autorização do locador para a transferência do contrato de locação. Esta autorização poderá ser expressa ou tácita, esta última nos casos em que notificado acerca do trespasse não manifeste oposição no prazo de 30 (trina) dias. Caso não haja este procedimento, poderá haver a rescisão do contrato de locação. No que toca aos demais contratos, não havendo caráter pessoal e nem disposição em sentido contrário, o adquirente sub-roga-se (assume o lugar) nos contratos firmados pelo alienante para a exploração do estabelecimento. Salienta-se que, no prazo de 90 (noventa) dias contados da publicação do trespasse poderão os terceiros (aqueles que tinham contratado com o alienante) rescindir o contrato, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante. (art. 1.148 do Código Civil) Por fim, um último ponto relevante é o da chamada cláusula de não restabelecimento (cláusula de não concorrência ou de interdição da concorrência) na verdade é uma previsão legal, constante no art. 1.147 do Código Civil. O objetivo de tal disposição é justamente evitar a concorrência desleal que poderia ser praticada pelo alienante em prejuízo do adquirente do estabelecimento. O citado dispositivo legal prevê que: “não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subsequentes à transferência”. Note-se que pela previsão impede-se a concorrência pelo prazo de 5 (cinco) anos, salvo disposição contratual diversa que pode reduzir este prazo ou até mesmo retirá-lo. Cuidado com o seguinte, a proibição não impede o alienante de continuar desenvolvendo atividade empresarial, por exemplo, em outro ramo de negócio ou em outra localidade. Este prazo pode ser reduzido ou ampliado no contrato de TRESPASSE, porém não pode haver proibição por tempo indeterminado ou total de exercício de atividade econômica. Neste sentido o STJ já decidiu: (...) 2. É válida a cláusula de "não restabelecimento" no tocante ao seu objeto, rejeitando-se a alegada violação ao art. 166, II e VII, do Código Civil de 2002, pois é regra comum nos negócios jurídicos que envolvem transmissão de direitos sobre estabelecimentos, amplamente utilizada no cotidiano empresarial. Insta mencionar que o CC/2002 inovou ao trazer expressamente, no seu art. 1.147, a "cláusula de não restabelecimento". 3. O art. 421 de CC/2002 positivou o princípio da função social dos contratos como limitador da liberdade de contratar, inexistindo violação a essa norma, no estabelecimento da cláusula de "não restabelecimento", usual na realidade empresarial para coibir a concorrência desleal. 4. Mostra-se abusiva a vigência por prazo indeterminado da cláusula de "não restabelecimento", pois o ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não se coaduna com a ausência de limitações temporais em cláusulas restritivas ou de vedação do exercício de direitos. Assim, deve-se afastar a limitação por tempo indeterminado, fixando-se o limite temporal de vigência por cinco anos contados da data do contrato, critério razoável adotado no art.1.147 do CC/2002. (REsp n. 680.815/PR, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 20/3/2014, DJe de 3/2/2015) Por fim, destaque o Enunciado 490 da V Jornada de Direito Civil, o qual trata da possibilidade de revisão da previsão que amplia o prazo de não concorrência: “A ampliação do prazo de 5 (cinco) anos de proibição de concorrência pelo alienante ao adquirente do estabelecimento, ainda que convencionada no exercício da autonomia da vontade, pode ser revista judicialmente, se abusiva”. DIREITO EMPRESARIAL Prof. Guilherme Correa INTRODUÇÃO AO DIREITO SOCIETÁRIO – PARTE 1 1. CONCEITO DE SOCIEDADE O art. 981, do Código Civil conceitua o que sejam sociedades dispondo que: Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. A partir do contido no dispositivo acima citado é possível extrair elementos do conceito de sociedade: a) pluralidade de pessoas (salvo as exceções previstas em lei, como a sociedade limitada individual, sociedade subsidiária integral, EIRELI); b) contribuição recíproca com bens ou serviços; c) exercício de atividade econômica; d) partilha dos resultados. Além destes elementos, alguns ainda falam na chamada affectio societatis, presente nas sociedades de pessoas. Importante salientar que as sociedades são pessoas jurídicas de direito privado. Por fim, destaque-se que as associações também são pessoas jurídicas de direito privado, mas se diferenciam das sociedades pelo fato de que as associações não objetivam a divisão (partilha) de lucro entre seus associados, além de não terem finalidade lucrativa. 2. HOLDING Existem sociedades que tem em seu objeto social a participação em outras sociedades. Quando isso ocorre, tem-se a holding. Quando o objeto social é tão somente a participação em outras sociedades denomina-se holding pura. Por outro lado, havendo também a exploração de outras atividadeseconômicas a holding será mista ou operadora. 3. SOCIEDADE SIMPLES X SOCIEDADE EMPRESÁRIA Distinção importante a fazer é a respeito das sociedades simples e empresárias. A distinção deve ser feita com base no conceito de empresário (art. 966 do Código Civil), ou seja se a atividade desenvolvida for própria de empresário, a sociedade será empresária, caso contrário, a sociedade será simples. Portanto, a sociedade será empresária se explorar atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, ou seja exploração da empresa (atividade). Porém há uma exceção a esta regra esta no caso das sociedades por ações que serão sempre empresárias e as cooperativas que sempre serão simples, independentemente do objeto e da atividade que explorem. 4. SOCIEDADE QUE EXERCE ATIVIDADE EMPRESARIAL RURAL A regra é a de que para que a sociedade que exerce atividade empresarial rural seja definida como sociedade empresária, há a necessidade de que seja registrada e uma vez cumprida esta formalidade, ficará equiparada às demais sociedades empresárias, com bem define o art. 984 do Código Civil: Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968 , requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária. 5. SOCIEDADE DE PROPÓSITO ESPECÍFICO Ainda dentro do art. 981, mais especificamente no parágrafo único, há a previsão da chamada sociedade de propósito específico. Tal dispositivo prevê que “a atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados”. A ideia aqui é a diminuição dos riscos, criando-se sociedade com uma finalidade específica e normalmente com prazo determinado, com o intuito de exaurir um determinado objetivo. 6. PERSONALIDADE JURÍDICA DAS SOCIEDADES O primeiro ponto de destaque é a aquisição da personalidade jurídica pelas sociedades, a qual, segundo o art. 985 do Código Civil é adquirida com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos. O registro das sociedades empresárias será feito no Registro Público das Empresas Mercantis (Junta Comercial); já o registro das sociedades simples será feito no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Se for uma sociedade de advogados, o registro deve ser na seccional da OAB. (Lei 8.906/94) A personalidade jurídica da sociedade acarreta a separação patrimonial da sociedade em relação aos seus sócios, para efeitos de responsabilidade, ou seja, as obrigações da sociedade devem ser arcadas pelo seu próprio patrimônio, não atingindo o patrimônio pessoal dos sócios, ao menos em regra. A personalidade jurídica confere à sociedade uma existência diversa em relação aos sócios, sendo então uma entidade jurídica individualizada e autônoma. Com isso a sociedade adquire aptidão para contrair direitos e obrigações. INTRODUÇÃO AO DIREITO SOCIETÁRIO – PARTE 2 7. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA A regra é a da separação patrimonial entre o patrimônio da sociedade e o patrimônio dos sócios. (princípio da autonomia patrimonial) Porém, em algumas situações pode ocorrer de o objeto social não ser cumprido pelos sócios ou administradores, que a utilizam de forma fraudulenta e ilícita, abusando da personalidade jurídica. Neste caso há prejuízo da autonomia patrimonial estabelecida pela personalidade jurídica. O art. 50 do Código Civil, que sofreu alteração no ano de 2019 prevê: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. Como reflexo da desconsideração da personalidade jurídica, a separação patrimonial entre a sociedade e seus sócios deixa de existir de forma momentânea. Portanto, os bens dos sócios e/ou administradores podem ser atingidos em razão das dívidas sociais. O instituto da desconsideração existe para coibir o mau uso da pessoa jurídica. Importante destacar que a desconsideração não anula ou extingue a pessoa jurídica, há a apenas uma suspensão momentânea da personalidade jurídica, para determinada situação jurídica, ou seja, o patrimônio de sócios e administradores somente responderá pelas dívidas sociais no processo em que houve a desconsideração. A respeito da desconsideração da personalidade jurídica, a doutrina criou duas teorias: a) Teoria maior: fraude, abuso do direito e confusão patrimonial, ou seja, há a necessidade de uma maior quantidade de requisitos para que haja a desconsideração e não simplesmente a inexistência de patrimônio social. Esta teoria foi a adotada pelo art. 50 do Código Civil. b) Teoria menor: a inexistência de patrimônio da sociedade já seria suficiente para atingir o patrimônio dos sócios e administradores. Esta teoria foi a adotada pelo art. 28, §5° do Código de Defesa do Consumidor. Com a reforma de 2019, é possível afirmar que a desconsideração da personalidade jurídica tornou-se mais difícil, já que o legislador elencou situações que poderiam ser tidas como aptas à desconsideração, mas que não são suficientes para tanto. Assim, necessária a análise dos parágrafos do dispositivo em questão. Primeiramente será feita a análise dos §§1º e 5º que são relacionados: § 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. § 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica. Aqui há a definição do que seja desvio de finalidade. Note-se que o dispositivo deixa claro que para que ocorra o desvio de finalidade a pessoa jurídica deve ser utilizada para lesar credores ou cometer atos ilícitos. Note-se que a mera modificação ou expansão da atividade original, sem que tenha havido o cometimento dos atos ilícitos ou com intuito de prejudicar credores não é suficiente à caracterização do desvio de finalidade. Já o §2° busca trazer o conceito de confusão patrimonial: § 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por: I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa; II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insignificante; e (Incluído pela Lei III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. A ideia é que sejam mantidos separados os patrimônios dos sócios ou administradores e da pessoa jurídica. Uma primeira hipótese apresentada pelo legislador consiste no cumprimento repetitivo (e não esporádico) pela sociedade de obrigações de sócio ou administrador e vice-versa; A segunda hipótese verifica-se quando há a transferência de valores da pessoa física para a jurídica e vice-versa, sem que haja as efetivas contraprestações, excluindo-se aquelas de valor insignificante. Por fim, no inciso III o legislador traz cláusula aberta, prevendo que atos de descumprimento da autonomia patrimonial, ou seja, atos que vão contra a ideia de separação patrimonial também podem ser tidos como confusão patrimonial e, portanto, aptos à desconsideração da personalidade jurídica. Ainda éde se salientar que a mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. Outro ponto relevante a respeito da desconsideração é o conceito de desconsideração inversa da personalidade jurídica: Consiste no afastamento do princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica para responsabilizar a sociedade por obrigação do sócio. Por fim, salienta-se que o CPC/15 traz um incidente de desconsideração de personalidade jurídica que apenas regula o procedimento de desconsideração e vem descrito nos art. 133 a 137 do citado diploma processual. 8. SOCIEDADE NACIONAL X SOCIEDADE ESTRANGEIRA Último ponto de destaque é a distinção entre sociedade nacional e estrangeira. Será nacional, a sociedade regida pela legislação brasileira e com sede no Brasil. Por outro lado, será estrangeira quando não cumprir com estas regras. É de se salientar que não importa a nacionalidade dos sócios ou a origem do capital para se definir se a sociedade é estrangeira ou não. Ainda, a sociedade estrangeira poderá ser acionista de sociedade brasileira, independente de qualquer autorização. Porém, para que possa operar no Brasil e desenvolver suas atividades será necessária autorização governamental, seguida de registro no Estado em que terá sede. Por fim, importante destacar o contido no art. 1.137 do Código Civil: Art. 1.137. A sociedade estrangeira autorizada a funcionar ficará sujeita às leis e aos tribunais brasileiros, quanto aos atos ou operações praticados no Brasil. Parágrafo único. A sociedade estrangeira funcionará no território nacional com o nome que tiver em seu país de origem, podendo acrescentar as palavras "do Brasil" ou "para o Brasil". Pelo dispositivo legal acima citado fica claro que a sociedade estrangeira, uma vez autorizada a funcionar no Brasil, estará sujeita à legislação nacional. DIREITO EMPRESARIAL Professor Guilherme Corrêa SOCIEDADE SIMPLES 1. INTRODUÇÃO Prevista nos arts. 997 a 1.038 do Código Civil. Em regra a sociedade simples caracteriza-se pelo fato de não ser empresarial, ou seja, aquelas sociedades que não exercem atividade empresarial serão sociedades simples. Exemplos clássicos de sociedade simples são as sociedades uniprofissionais (sociedade de advogados, contabilistas, etc.), ainda que contem com colaboradores que não exerçam a atividade fim da sociedade. Além disso, caracterizam-se como sociedades simples aquelas exercentes de atividade rural, desde que não tenham registro; e as sociedades cooperativas, estas últimas independentemente da atividade que realizem. (art. 982, parágrafo único do Código Civil) Importante destacar que a sociedade simples pode ser pura, ou seja, não adotar nenhuma das outras formas societárias ou adotar a forma de sociedade limitada, nome coletivo, comandita simples ou cooperativa. 2. CONTRATO SOCIAL A sociedade simples é constituída por meio de contrato social que pode ser firmado por instrumento público ou privado e deve ser registrado no prazo de 30 (trinta) dias após sua constituição. Os requisitos deste contrato são: (arts. 997 e 998 do Código Civil) a) nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; (A ideia deste requisito é a verificação quanto a existência de eventuais impedimentos dos sócios) b) denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; (apesar de constar a expressão denominação, também poderá ser utilizada a firma social formada pelo nome civil de um ou mais sócios). c) capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; d) a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; (Na sociedade simples é possível que o sócio integralize sua parcela por meio de serviços, se isto ocorrer, salvo convenção em contrário, não pode este sócio empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído). (art. 1.006 do Código Civil) e) as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; f) as pessoas naturais (físicas) incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; (O art. 1.011 do Código Civil indica que além dos impedidos por lei especial, não poderão administrar a sociedade: os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação). g) a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; (em caso de ausência desta previsão, será proporcional às quotas, ou seja, o percentual de quotas que o sócio possui será o percentual em que ele participará dos resultados) h) se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. (O entendimento majoritário é o de que a expressão subsidiária está equivocada, tanto que foi editado o Enunciado 61 das Jornadas de Direito Civil que prevê: O termo ‘subsidiariamente’ constante do inciso VIII do art. 997 do Código Civil, deverá ser substituído por ‘solidariamente’, a fim de compatibilizar esse dispositivo com o art. 1.023 do mesmo código. Sendo assim a partir da leitura do enunciado acima citado, bem como do art. 1.023 do Código Civil, caso o contrato social silencie os sócios responderam de forma subsidiária, ou seja, a responsabilidade somente será solidária no caso de previsão expressa neste sentido. 3. REGISTRO DO CONTRATO Uma das obrigações da sociedade simples é realizar o registro do contrato social. Nos termos do art. 998 do Código Civil, há a obrigatoriedade de que haja a inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede, no prazo de 30 (trinta) dias. No caso de sociedade de advogados este registro ocorrerá na seccional da OAB. Importante destacar que qualquer modificação do contrato deverá ser averbada. Sobre as averbações e registro é necessário conhecer o contido no art. 1.000 do Código Civil: Art. 1.000. A sociedade simples que instituir sucursal, filial ou agência na circunscrição de outro Registro Civil das Pessoas Jurídicas, neste deverá também inscrevê-la, com a prova da inscrição originária. Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição da sucursal, filial ou agência deverá ser averbada no Registro Civil da respectiva sede. A ideia do dispositivo é manter no registro da matriz sempre existir a informação de eventuais filiais e sucursais. 4. OBRIGAÇÕES DOS SÓCIOS O início das obrigações dos sócios ocorre na data do contrato, salvo previsão em sentido contrário e perduram até a liquidação da sociedade. (art. 1.001 do Código Civil). Cuidado, é muito comum a afirmação de que as obrigações dos sócios encerram-se com a dissolução, porém, persistem até a liquidação, a qual ocorre após a dissolução. Em relação às obrigações dos sócios, ressalta-se que uma das principais é a de integralizar sua quota, ou seja, contribuir, de forma efetiva, para a constituição do capital social. Caso o sócio não integralize suas quotas ele é chamado de sócio remisso. Neste caso, a sociedade notificará o sócio para que cumpra sua obrigação. Caso não o faça no prazo de 30 (trinta) dias, responderá pelo dano emergente da mora, ou seja, a sociedade terá um direito à indenização. Porém, caso seja vontade da maioria dos demais sócios, a sociedade poderá optar, ao invés da substituição, pela exclusão do sócio ou pela redução da participação societária ao montante já realizado. 5. DIREITOS DOS SÓCIOSEm relação aos direitos dos sócios, destaca-se a distribuição dos resultados, que é na verdade até mesmo um elemento do conceito de sociedade. Este direito não pode ser retirado, nem mesmo por previsão no contrato social, já que o código civil veda a chamada “cláusula leonina". Esta cláusula é aquela que exclui um ou mais sócios da participação dos resultados. Na existência de tal cláusula, esta será nula. Definido que é direito do sócio a participação nos resultados, cumpre esclarecer como será feita esta. Em regra, há que se analisar o contrato social e verificar se existe cláusula prevendo como ocorrerá a participação. Em caso de omissão contratual, a participação será feita de forma proporcional à participação societária. Salienta-se que é possível, por exemplo, que o sócio com 50% (cinquenta por cento) das quotas, participe nos resultados em percentual diferente, desde que previsto no contrato social. Ainda é necessário salientar que é lícita a deliberação no sentido de não realizar a distribuição no período, o que não pode é decidir distribuir os lucros e excluir um ou mais sócios da distribuição. Em relação a esta distribuição dos resultados, é importante destacar o contido no art. 1.009 do Código Civil: “A distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acarreta responsabilidade solidária dos administradores que a realizarem e dos sócios que os receberem, conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade”. Muitas vezes esta distribuição fictícia é feita sem caráter fraudulento, mas sim por falta de conhecimento dos sócios que confundem o patrimônio social (que não pode ser distribuído) com o lucro social (que pode ser distribuído). 6. ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE A administração da sociedade simples será feita sempre por pessoa física (natural) designada no contrato social, nada dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos sócios. Portanto, é possível a administração por mais de uma pessoa. A lei proíbe algumas pessoas naturais (físicas) de exercerem a função de administrador, conforme estabelece o art. 1.011 do Código Civil: “Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial (servidor público, magistrado etc), os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação”. É importante salientar que a atividade do administrador possui caráter personalíssimo, não sendo autorizado a este fazer-se substituir no exercício de suas funções, sendo permitida apenas a nomeação de mandatários, com poderes especificados no instrumento de nomeação. É possível que o administrador seja nomeado em ato separado, ou seja, fora do contrato social. Caso isso ocorra, deve o administrador averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar, antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a sociedade. Ou seja, a falta de averbação torna o administrador responsável pelos atos praticados em nome da sociedade. (art. 1.012 do Código Civil) A indicação dos poderes que os administradores possuem no exercício desta função é ponto importante no contrato social. Porém, é comum a omissão contratual neste sentido. Assim, prevê o caput do art. 1.015 que no silêncio do contrato social os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade. No que toca à oneração ou venda de bens imóveis, os administradores poderão realizá-las se forem objeto da sociedade, em não sendo, deverão agir conforme deliberação dos sócios. Uma das obrigações importantes dos administradores é a prestação de contas para os sócios, a fim de que seja verificada a administração da sociedade. A respeito da destituição do administrador, a lei traz regimes diferenciados a depender se o administrador é um sócio nomeado no contrato social, um não sócio ou nomeado em ato separado. O art. 1.019 do Código Civil determina: Art. 1.019: São irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração por cláusula expressa do contrato social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios. Parágrafo único: São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes conferidos a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio. Assim, fica claro que o administrador que é sócio e nomeado no contrato social apenas poderá ser destituído mediante justa causa, reconhecida em processo judicial. Por fim, um último aspecto importante diz respeito à responsabilidade dos administradores. Para isso, faz-se necessária a leitura dos seguintes dispositivos legais: Art. 1.013. § 2º Responde por perdas e danos perante a sociedade o administrador que realizar operações, sabendo ou devendo saber que estava agindo em desacordo com a maioria. Art. 1.016. Os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções. Art. 1.017. O administrador que, sem consentimento escrito dos sócios, aplicar créditos ou bens sociais em proveito próprio ou de terceiros, terá de restituí-los à sociedade, ou pagar o equivalente, com todos os lucros resultantes, e, se houver prejuízo, por ele também responderá. Parágrafo único. Fica sujeito às sanções o administrador que, tendo em qualquer operação interesse contrário ao da sociedade, tome parte na correspondente deliberação. Note-se que em todas estas hipóteses de responsabilização do administrador fica clara que a responsabilização decorre de atitudes culposas ou dolosas que contrariem o interesse social e/ou visem apenas ao benefício próprio. 7. DELIBERAÇÕES SOCIAIS Algumas decisões da sociedade não competirão aos administradores, devendo ser observada a vontade dos sócios. Nos termos do que dispõe o art. 1.010 do Código Civil, neste caso, as deliberações serão tomadas por maioria de votos, sendo aqui considerada a maioria absoluta, ou seja, votos correspondentes a mais da metade do capital social. Importante salientar que o voto não é por cabeça, mas sim pela proporção de quotas que cada sócio possui, sendo considerado o número de votos (por cabeça) apenas em caso de empate. 8. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS Como a sociedade simples é dotada de personalidade jurídica, há a separação patrimonial, razão pela qual, em regra, as dívidas sociais serão arcadas pelo patrimônio da própria sociedade. No caso de o patrimônio social não ser suficiente para saldar as dívidas sociais, haverá a responsabilidade dos sócios na medida de sua participação, salvo se houver cláusula de responsabilidade solidária, situação em que os sócios respondem pela totalidade das dívidas, após esgotado o patrimônio social. Por fim, destaca-se que o sócio admitido em sociedade já constituída não se exime das dívidas sociais anteriores à admissão. 9. DIREITOS DOS CREDORES DE UM SÓCIO Imagine que João seja credor de Antonio e esteja cobrando a dívida judicialmente. Ocorre que não encontrou patrimônio do devedor. Porém, descobre que este é sócio em uma sociedade simples. Neste caso questiona-se, seria possível penhorar os lucros a que Antonio tem direito? A resposta a este questionamento aparece no art. 1.026 do Código Civil: Art. 1.026. O credor particular de sócio pode, na insuficiência de outros bens do devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos lucros da sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidação. Parágrafo único. Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor, apurado na forma do art. 1.031, será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até noventa dias após aquelaliquidação. Note-se que nesta hipótese o que acaba sendo usado para pagamento da dívida não é a quota em si, mas o direito decorrente da propriedade desta. 10. RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE EM RELAÇÃO A UM SÓCIO Um último aspecto importante diz respeito à situação em que um sócio sai da sociedade, seja por falecimento, por exercício do direito de retirada ou exclusão judicial proposta pelos demais sócios. Em todos esses casos, haverá liquidação da quota e pagamento ao sócio que se retirou ou aos herdeiros do sócio que faleceu. DIREITO EMPRESARIAL Professor Guilherme Corrêa SOCIEDADE LIMITADA 1. INTRODUÇÃO É o tipo societário mais comum no Brasil e vem regulada a partir do art. 1.052 do código civil. Tal sociedade possui duas características marcantes: a contratualidade (aumento de liberdade dos sócios na contratação) e a limitação de responsabilidade dos sócios (diminuição dos riscos sobre o patrimônio dos sócios). Esta limitação de responsabilidade vem prevista no art. 1.052 do Código Civil que prevê: “na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”. A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas. Exceção à regra da pluralidade de pessoas. Mesmo sendo unipessoal é diferente da EIRELI, já que nesta há a necessidade de atendimento de requisitos diferenciados. As normas da sociedade simples são aplicadas subsidiariamente à sociedade limitada e caso os contratantes desejem pode-se prever a aplicação da Lei das S/A (Lei 6.404/76) à limitada, naquilo que for compatível. (art. 1.053 do Código Civil) A doutrina possui entendimento no sentido de que na sociedade limitada em que há a previsão de regência supletiva pela Lei 6.404/76 ela será considerada como uma sociedade de capital. Atenção, ainda que haja a previsão de regência supletiva pela Lei das S/A não se exclui a aplicação subsidiária das normas da sociedade simples. 2. QUOTAS O capital social das sociedades limitadas deverá estar expresso no contrato social e será dividido em quotas. Sobre as quotas algumas observações são pertinentes: a) Podem ser iguais ou desiguais, ou seja, o valor das quotas não necessariamente será igual para todas as quotas. (art. 1.055 do Código Civil) Cuidado com esta regra, já que é bastante raro na prática sociedades limitadas com valores diferentes de quotas, apesar de legalmente possível. b) Devem ser integralizadas pelos sócios com bens ou dinheiro, não sendo lícita a integralização com serviços. Em relação aos bens, pela estimativa do valor atribuído, respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade. (art. 1.055, §§1° e 2° do Código Civil) c) Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social. Neste caso a cessão será eficaz a partir do momento em que houver averbação no registro da sociedade. (art. 1.057 do Código Civil) d) No caso de ausência de integralização das quotas, o sócio é considerado remisso e neste caso poderá o sócio ser acionado para indenizar a sociedade, ser excluído ou ter reduzida sua participação. Além destas possibilidades a sociedade poderá tomar a quota para si e transferi-la a terceiros. (art. 1.058 do Código Civil) e) Por fim, importante trazer a previsão dos §§1° e 2° do art. 1.056 do Código Civil que autorizam a formação de um condomínio sobre a quota. Neste caso, os direitos a ela inerentes somente podem ser exercidos pelo condômino representante, ou pelo inventariante do espólio de sócio falecido. Ainda, no caso de condomínio sobre a quota, os condôminos respondem solidariamente por sua integralização. 3. ADMINISTRAÇÃO O art. 1.060 do código civil dispõe que a sociedade limitada será administrada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado. Apesar de não estar expresso no código civil, como se aplicam de forma subsidiária as regras da sociedade simples, a administração deverá ser feita por pessoa física (natural). Ainda, no caso de o contrato social prever que a administração será feita por todos os sócios, aquele que posteriormente for admitido como sócio não será automaticamente administrador, salvo previsão expressa no contrato. (Ex.: a sociedade é formada por três sócios Alberto, Bruno e Carlos. O contrato social afirma que ela será administrada por todos os sócios. Passado um ano de atividade, ingressa um novo sócio, Daniel. Neste caso, Daniel não poderá administrar, salvo se na alteração do contrato social contar que Daniel também será administrador) (art. 1.060, parágrafo único do Código Civil) Por fim, havendo pluralidade de administradores, sem a designação no contrato dos poderes conferidos a cada um deles, presume-se que todos os sócios podem gerir individualmente a sociedade. O administrador poderá ser indicado no contrato social ou nomeado em ato separado. Em ato separado o quórum irá variar (art. 1.061 do Código civil), conforme se vê abaixo: • Unanimidade: administrador não sócio e capital social não integralizado. • 2/3 (dois terços): administrador não sócio e capital social totalmente integralizado. • Maioria absoluta (mais da metade do capital social): administrador sócio. Havendo a aprovação do administrador, este investir-se-á no cargo mediante termo de posse no livro de atas da administração que deverá ser assinado no prazo de 30 dias, sob pena de restar sem efeito. Após isso, nos dez dias seguintes ao da investidura, deve o administrador requerer seja averbada sua nomeação no registro competente. (art. 1.062 do Código Civil) Caso desrespeite o prazo, até que haja a averbação, ele responderá solidariamente com a sociedade pelos atos praticados antes de requerer a referida averbação. Pode ser que no ato de nomeação haja previsão do prazo que durará a administração, neste caso, cessado o prazo, as funções de administrador são encerradas. (art. 1.063 do Código Civil) Porém, o mais comum é que não haja previsão de quanto tempo irá durar o mandato do administrador. Nesta hipótese, há a necessidade de deliberação dos sócios para a destituição do administrador. Se o administrador for um sócio, nomeado no contrato social, a destituição dependerá de mais da metade do capital social (alteração do quórum em 2019), salvo estipulação contratual diversa. Ainda poderá ainda o administrador renunciar ao seu cargo. Esta renúncia será eficaz perante a sociedade desde o momento em que esta toma conhecimento da comunicação escrita do renunciante. Em relação a terceiros, a eficácia depende da averbação e publicação. Além da hipótese em que o administrador nomeado em ato separado não averba a nomeação, este poderá ser responsabilizado quando agir com culpa ou dolo no desempenho de suas funções. 4. CONSELHO FISCAL Os arts. 1.066 a 1.070 do código civil regulam o conselho fiscal das sociedades limitadas. A ideia é a criação de órgão que de maneira geral fiscalize a atuação da administração da sociedade limitada. Porém, em muitos casos a manutenção de um conselho fiscal pode gerar um custo desproporcional se comparado a uma eventual vantagem, por isso, a legislação não exige a existência do conselho fiscal nas sociedades limitadas, sendo este de criação facultativa, existente normalmente em sociedades maiores. O conselho fiscal será formado por no mínimo três membros efetivos e três suplentes, sócios ou não. (art. 1.066 do Código Civil) A escolha será feita na assembleia geral anual, garantindo aos minoritários (1/5 no mínimo do capital social) o direito de escolher um membro e o respectivo suplente. Nesta assembleia será fixada a remuneração devida aos membros do conselho fiscal.(art. 1.068 do Código Civil) Existem pessoas que estão impedidas de compor o conselho fiscal, nos termos do §1°, do art. 1.066 do Código Civil: i) os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos. ii) os condenados por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato. iii) os condenados por crime contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação. iv) os membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por ela controlada. v) os empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, o cônjuge ou parente destes até o terceiro grau. O art. 1.069 do código civil trata das atribuições do conselho fiscal deixando clara que além das aqui indicadas, outras poderão ser previstas no contrato social. As descritas na lei, que deverão ser realizadas inclusive durante eventual período de liquidação da sociedade, são: I - examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira, devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhes as informações solicitadas; II - lavrar no livro de atas e pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames acima mencionados; III - exarar no mesmo livro e apresentar à assembleia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e o de resultado econômico; IV - denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade; V - convocar a assembleia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes; Para o exame dos livros, dos balanços e das contas, poderá o conselho fiscal escolher para auxiliá-lo, contabilista legalmente habilitado, mediante remuneração aprovada pela assembleia dos sócios. (art. 1.070, parágrafo único do Código Civil) Por fim, destaca-se que as atribuições e poderes conferidos pela lei ao conselho fiscal não podem ser outorgados a outro órgão da sociedade, no caso de existência desse. (art. 1.070, caput do Código Civil) 5. DELIBERAÇÃO DOS SÓCIOS A maioria das decisões sociais são tomadas de forma individual pelos administradores, porém a lei ou o contrato podem trazer questões que necessitam de decisões colegiadas e por isso a lei traz o quórum de deliberação. Tais deliberações ocorrem na chamada assembleia dos sócios ou reunião dos sócios. Quando a sociedade possuir mais de 10 (dez) sócios será sempre assembleia, já no caso de sociedades que possuem até 10 (dez) sócios, as deliberações poderão ser tomadas em reunião ou assembleia, conforme previsão no contrato social. (art. 1.072, caput e §1° do Código Civil) E no caso de o sócio não comparecer à assembleia ou reunião, o que lá foi decidido vincula o sócio faltante? A resposta é encontrada no §5°, do art. 1072 do Código Civil que prevê que as deliberações tomadas de conformidade com a lei e o contrato vinculam todos os sócios, até mesmo aqueles que não compareceram ou que foram contra a deliberação, os chamados dissidentes. Existem formalidades para a convocação da assembleia/reunião, as quais poderão ser dispensadas quando os sócios comparecerem ou declararem por escrito que estão cientes de dia, hora e local da assembleia. (art. 1.072, §2° do Código Civil) As formalidades de convocação da assembleia estão previstas no §3°, do art. 1.152 do Código Civil que dispõe que: “O anúncio de convocação da assembleia de sócios será publicado por três vezes, ao menos, devendo mediar, entre a data da primeira inserção e a da realização da assembleia, o prazo mínimo de oito dias, para a primeira convocação, e de cinco dias, para as posteriores”. Além disso, é possível a previsão de outras formalidades previstas no contrato social. Há a possibilidade de dispensa de reunião ou assembleia, quando todos os sócios decidirem por escrito sobre a matéria que seria objeto delas. (art. 1.072, §3° do Código Civil) Em havendo a realização de assembleia ou reunião exigem-se os seguintes quóruns de deliberação: i) unanimidade – designação de administrador não sócio quando o capital social não estiver integralizado. ii) ¾ capital social – alteração do contrato social; incorporação, fusão, cisão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação. iii) 2/3 capital social – designação de administrador não sócio, quando o capital social estiver integralizado. iv) Maioria Absoluta – designação dos administradores sócios quando feita em ato separado; destituição dos administradores; remuneração dos administradores quando não constante no contrato social; pedido de recuperação judicial; exclusão extrajudicial de sócio minoritário. v) Maioria dos presentes – as outras deliberações. Quanto às deliberações, importante esclarecer que o sócio que foi contra (na assembleia) a modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação, terá direito de retirar-se da sociedade nos trinta dias subsequentes. É o que se chama de retirada motivada. Por fim, importa salientar que pelo menos uma vez ao ano será realizada assembleia. 6. DISTRIBUIÇÃO DOS RESULTADOS Todos os sócios participam da distribuição dos resultados (lucros e perdas), sendo vedada a inserção de “cláusula leonina”, assim como ocorre com a sociedade simples. Em caso de existência desta cláusula ela será nula. A distribuição será feita a partir daquilo que for estipulado no contrato social. Em caso de ausência de previsão no contrato, a distribuição ocorrerá na proporção das respectivas quotas. 7. AUMENTO E REDUÇÃO DO CAPITAL SOCIAL Existe a possibilidade de aumento do capital social que somente poderá ocorrer se o capital social existente já estiver totalmente integralizado. O aumento será deliberado em assembleia. Uma vez aprovado, haverá o aumento, mediante a alteração do contrato social. (art. 1.081 do código civil) Até 30 (trinta) dias após a deliberação que decidiu pelo aumento, os sócios terão preferência na aquisição das novas quotas, na proporção de sua participação. Cuidado! É muito comum a afirmativa de que os sócios majoritários possuem preferência na subscrição de novas ações. Na verdade todos os sócios (majoritários ou minoritários) possuem esta preferência. (ex.: imagine que em determinada sociedade Alfredo possua 99% das quotas e Bernardo apenas 1% das quotas. Havendo o aumento, Alfredo terá preferência para subscrever 99% das novas ações, enquanto Bernardo terá preferência para a subscrição de 1% das novas ações). A preferência acima referida poderá ser cedida a outro sócio sem necessidade de anuência dos demais. No caso de cessão para terceiros, será válida se não houver oposição de sócios titulares de mais de ¼ (um quarto) do capital social. (art. 1.081, §§1° e 2° do código civil) Após a aquisição das novas parcelas do capital social decorrentes do aumento haverá reunião ou assembleia a fim de que haja a alteração do contrato social. Há também a possibilidade de redução do capital social em duas hipóteses: I - se, depois de integralizado o capital social, forem verificadas perdas irreparáveis. Neste caso, a redução do capital será realizada com a diminuição proporcional do valor nominal das quotas, tornando-se efetiva a partir da averbação, no Registro Público de Empresas Mercantis, da ata da assembleia que a tenha aprovado. II – se excessivo em relação ao objeto da sociedade. Nesta situação, a redução do capital será feita restituindo-se parte do valor das quotas aos sócios, ou dispensando-se as prestações ainda devidas, com diminuição proporcional, em ambos os casos, do valor nominal das quotas . Ainda nesta segunda hipótese a lei prevê regra a fim de evitar prejuízosa terceiros. Muitas vezes um terceiro contrata com a sociedade levando em conta, justamente o valor do capital social, sendo assim, eventual redução lhe prejudicará. Por isso, preveem os parágrafos do art. 1.084 do código civil que o credor quirografário por título líquido anterior à deliberação de redução poderá opor-se a esta no prazo de 90 (noventa) dias. Havendo oposição, a redução somente será eficaz se houver o pagamento da dívida ou o depósito judicial do valor. Havendo o pagamento, depósito ou não existindo oposição de nenhum credor, proceder- se-á à averbação, no Registro Público de Empresas Mercantis, da ata que tenha aprovado a redução. 8. EXCLUSÃO EXTRAJUDICIAL DE SÓCIO POR JUSTA CAUSA O art. 1.085 do código civil trata da exclusão do sócio de forma extrajudicial. Neste tipo de exclusão não há a necessidade de interferência do Poder Judiciário, operando-se a exclusão a partir do atendimento de alguns requisitos e de posterior alteração do contrato social. Os requisitos podem assim ser resumidos: I. O sócio a ser excluído não pode ser majoritário. II. Deve o sócio ter praticado ato de inegável gravidade com risco à continuidade da empresa, é o que se denomina justa causa. III. Existência de previsão no contrato social acerca da possibilidade de exclusão de sócio por justa causa. IV. Convocação de Assembleia ou reunião específica para deliberar sobre o tema, não podendo outros temas serem deliberados no ato. (em caso de ser uma sociedade com apenas dois sócios, não há a necessidade desta reunião ou assembleia) V. Cientificação do sócio a ser excluído a fim de que este possa participar da assembleia ou reunião para se defender, caso deseje. VI. Quórum de maioria absoluta, ou seja, mais da metade do capital social. Atendidos todos os requisitos procede-se à alteração do contrato social, com a exclusão do sócio. DIREITO EMPRESARIAL Prof. Guilherme Correa SOCIEDADES DESPERSONIFICADAS INTRODUÇÃO As sociedades despersonificadas são aquelas sem personalidade jurídica. No direito brasileiro existem duas: sociedade em comum e sociedade em conta de participação. SOCIEDADE EM COMUM 1. CONCEITO As sociedades despersonificadas são aquelas sem personalidade jurídica. No direito brasileiro existem duas: sociedade em comum e sociedade em conta de participação. A sociedade em comum vem regulada nos arts. 986 a 990 do Código Civil. A ideia é que tais dispositivos regulem as sociedades que não possuem contrato social registrado no órgão competente, salvo se for o caso de sociedade por ações. Neste caso, ainda que não haja contrato social registrado, não será sociedade em comum. Aqui, não importa se existe ou não o contrato, o que importa é a existência ou não do registro. A doutrina até busca fazer uma distinção elencando dois tipos: a sociedade de fato (aquela em que não há contrato) e a sociedade irregular (aquela em que o contrato apesar de existir, não está registrado). Note-se que tanto a irregular como a de fato não possuem contrato registrado, o que as caracteriza como sociedades em comum e por isso reguladas pelas mesmas regras. 2. PROVA DA EXISTÊNCIA DA SOCIEDADE Um primeiro aspecto que merece análise é o seguinte: como é possível provar a existência de uma sociedade que não possui contrato social registrado? A resposta a este questionamento variará de acordo com quem pretende produzir a prova. No caso de a prova ser uma incumbência dos sócios desta sociedade, somente poderá ser feita por escrito. Já no caso de necessidade de prova por terceiros, esta poderá ser feita por qualquer meio e não somente escrito. 3. O PATRIMÔNIO DAS SOCIEDADES EM COMUM A sociedade em comum, em virtude da ausência do registro, não possui personalidade jurídica própria. Por tal razão, não há uma separação patrimonial do ponto de vista formal. Porém, o código civil fala sobre a existência de um patrimônio especial o qual pode ser definido como aquele afetado ao exercício da atividade empresarial, mesmo estando em nome dos sócios e não da sociedade. Aqui surge uma dúvida. Do que é composto este patrimônio especial? A ideia é que este patrimônio é formado por bens utilizados para o desenvolvimento de uma atividade empresarial, bem como as dívidas que são contraídas também em prol desta atividade. A fim de exemplificar, imagine a situação de dois amigos que abrem um restaurante. Um deles adquire em seu nome uma geladeira e um fogão para serem utilizados no restaurante. Do ponto de vista formal, tais bens pertencem ao sócio, porém, como são destinados ao exercício da atividade empresarial compõem o patrimônio especial, assim como a dívida contraída pelo sócio para a aquisição dos citados eletrodomésticos. 4. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS É praticamente senso comum a afirmação de que os sócios das sociedades em comum, justamente pelo fato da ausência de personalidade jurídica desta, possuem responsabilidade ilimitada e solidária. Porém, há que se analisar com mais cuidado esta regra, já que o regime de responsabilidade prevê, em algumas situações, o benefício de ordem. Então, tem-se a seguinte regra aplicável aos sócios da sociedade em comum: Aquele que contratou pela sociedade, possui responsabilidade ilimitada e direta, ou seja, responde com seu próprio patrimônio, independente de benefício de ordem. (ex.: João comprou um fogão industrial para utilizar no restaurante da qual é sócio, em sociedade em comum. No caso de ausência de pagamento do valor do fogão, o credor poderá cobrar a dívida de João atingindo o patrimônio deste, independentemente de ter atingido o patrimônio especial, ou seja, aquele destinado ao exercício da atividade. Já o sócio que não contratou tem direito de que sejam utilizados primeiramente os bens sociais (patrimônio especial) para o pagamento das dívidas. (ex.: no mesmo exemplo, Antônio que não adquiriu o fogão industrial poderá também ter seu patrimônio atingido, mas possui o direito de que primeiro sejam executados todos os bens que compõem o patrimônio especial da sociedade em comum). SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO 1. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES A sociedade em conta de participação vem regulada nos arts. 991 a 996 do Código Civil. Assemelha-se mais a uma modalidade de investimento do que propriamente a um tipo societário. Por isso, na prática muitos investem em um determinando empreendimento sem ter a exata noção de que estão, na verdade, contratando e formando um novo tipo societário. Trata-se de sociedade despersonificada. Esta situação de ausência de personalidade jurídica resta mantida ainda que seja registrado o contrato da sociedade em conta de participação. (art. 993 do Código Civil) É denominada pela doutrina como sociedade secreta, já que a existência dela normalmente é conhecida apenas por seus sócios. Neste tipo societário uma primeira característica importante é a de que existem dois tipos de sócios o ostensivo e o oculto, também chamado de participante ou investidor. Os dois sócios têm funções muito diferentes neste tipo societário. O sócio ostensivo é aquele que desenvolve, de forma exclusiva, a atividade constitutiva do objeto social, em seu próprio nome e sob sua responsabilidade. Já o sócio oculto (participante, investidor) participa dos resultados correspondentes, nos termos definidos com o sócio ostensivo. (art. 991 do Código Civil) A sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade para ser contraída, ou seja, não há a necessidade de contrato escrito e muito menos de registro. (art. 992 do Código Civil) Além disso, a prova da existência da sociedade pode ser feita por qualquer meio de prova. Salienta-se que ainda que haja registro do contrato, este somente gera efeito perante os sócios, não atingindo terceiros. Como dito, na sociedade em conta de participação, a atividade é desenvolvida de forma exclusiva pelo sócio ostensivo, oqual responde por ela também de forma exclusiva. Porém, caso o sócio participante tome parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros responderá solidariamente com o sócio ostensivo, nas obrigações em que intervier. (art. 993, parágrafo único do Código Civil) A contribuição do sócio participante, juntamente com a do sócio ostensivo constituem patrimônio especial. Esta especialização patrimonial somente produz efeitos em relação aos sócios. (art. 994, caput e §1° do Código Civil) Muito se questiona sobre a possibilidade de em uma mesma sociedade em conta de participação existir mais de um sócio oculto (participante, investidor). A lei não proíbe a presença de mais de um sócio desta natureza, situação, por sinal, bastante comum nas sociedades em conta de participação. Porém, há que se atentar que para a admissão de um novo sócio oculto, o sócio ostensivo necessita da autorização do sócio oculto já existente, salvo previsão contratual em sentido diverso. (art. 995 do Código Civil) Na prática é bastante comum nos contratos de sociedade em conta de participação a inserção de cláusula que permite ao sócio ostensivo buscar novos sócios ocultos, independentemente da anuência dos sócios ocultos já existentes. Apesar da previsão de que aplicam-se de forma subsidiária as regras das sociedades simples à sociedade em conta de participação (art. 996 do Código Civil), esta aplicação não será em relação a todos os aspectos. Exemplo clássico disso é a dissolução deste tipo societário em que o regramento é muito mais simples do que uma dissolução de uma sociedade simples. Aqui, a liquidação funciona como uma verdadeira prestação de contas, devendo a parte recorrer ao procedimento de ação de exigir contas, previsto nos arts. 550 a 553 do CPC/15. Direito Empresárial | Guilherme Correia SOCIEDADES ANÔNIMAS www.focusconcursos.com.br | 1 SOCIEDADES ANÔNIMAS 1. INTRODUÇÃO A sociedade anônima está prevista no Código Civil nos arts. 1.088 e 1.089. Porém, tais dispositivos deixam claro que o código civil apenas regulará este tipo societário, nos casos de omissão da legislação especial. No caso, existe legislação específica que regula as sociedades por ações, dentre elas a sociedade anônima. Tal diploma é a Lei 6.404/76, a famosa Lei das S/A. Antes de adentrar no tema, importante esclarece que a sociedade anônima também é conhecida como companhia e está ligada aos grandes empreendimentos. Por fim, último ponto de destaque é o de que a sociedade anônima tem seu capital social dividido em ações. 2. GOVERNANÇA CORPORATIVA O tema de governança corporativa tem grande importância no assunto relacionado às sociedades anônimas, sobretudo em relação àquelas que tem suas ações na bolsa de valores. A ideia da governança corporativa é desenvolver padrões de gestão na condução das companhias. Sobre este tema é importante conhecer os princípios que estão relacionados, quais sejam: i) transparência: disponibilizar a maior quantidade possível de informações a respeito dos negócios da companhia. Direito Empresárial | Guilherme Correia SOCIEDADES ANÔNIMAS www.focusconcursos.com.br | 2 ii) equidade no tratamento entre os acionistas: buscar a proteção dos acionistas minoritários, a fim de terem seus direitos resguardados. iii) prestação de contas confiável “accountabillity”: buscar uma prestação de contas a partir de critérios de contabilidade seguros, eficientes e internacionalmente aceitos, o que acaba até gerando uma segurança para os acionistas, inclusive os minoritários. iv) responsabilidade corporativa: os administradores e controladores devem buscar a sustentabilidade das empresas que administram/controlam. (ex.: companhias que devastam grandes áreas ambientais, acabam não sendo bem vistas por investidores internacionais) Por fim, as regras de governança corporativa devem ser aplicadas também às empresas estatais, como bem esclarece o art. 6º, da Lei 13.303/2016 (que regulamentou o art. 173, §1°, da CF/88): Art. 6 º O estatuto da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias deverá observar regras de governança corporativa, de transparência e de estruturas, práticas de gestão de riscos e de controle interno, composição da administração e, havendo acionistas, mecanismos para sua proteção, todos constantes desta Lei. Importante lembrar que as sociedades de economia mista (empresas estatais) são sociedades anônimas também. 3. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Algumas características acabam sendo comum à grande parte das sociedades anônimas, são elas: Direito Empresárial | Guilherme Correia SOCIEDADES ANÔNIMAS www.focusconcursos.com.br | 3 i) Natureza capitalista (regra): a entrada de estranhos independe da anuência dos demais sócios, assim a transferência de uma ação para outra pessoa independe de alteração do ato constitutivo. O que vale aqui não é a característica da pessoa, mas sim do capital que ela possui. ii) Essência empresarial: por imposição legal, independente da atividade, será sempre sociedade empresária. iii) Identificação por denominação: a sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto social, integrada pelas expressões ‘sociedade anônima’ ou ‘companhia’ (nunca no final), por extenso ou abreviadamente. Sobre este ponto, há uma observação importante a ser feita: O nome do fundador, acionista, ou pessoa que por qualquer outro modo tenha concorrido para o êxito da empresa, poderá figurar na denominação. (ex.: “A Irmãos Fischer S/A Ind. e Com. é uma empresa de âmbito nacional, com projeção em outros países, que nasceu de uma modesta oficina de consertos de bicicletas, aberta por Ingo Fischer em 1961, em instalações alugadas na cidade de Brusque (SC). Com dedicação e trabalho, a história da Irmãos Fischer se fez a passos largos. Em 1966 os irmãos Ingo e Nivert Fischer fundaram oficialmente a empresa que recebeu o nome de Irmãos Fischer S/A Ind e Comércio” – https://www.fischer.com.br/conheca-a-fischer/ iv) Responsabilidade limitada dos acionistas: Cada sócio responde apenas pela sua parte no capital social, ou seja, os acionistas respondem tão somente pela integralização de suas ações, não havendo, para eles, a previsão de responsabilidade solidária quanto à integralização de todo o capital social. Direito Empresárial | Guilherme Correia SOCIEDADES ANÔNIMAS www.focusconcursos.com.br | 4 4. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS As sociedades anônimas podem ser classificadas em “de capital aberto ou abertas” e “de capital fechado ou fechadas”. Nos termos do art. 4° da Lei 6.404/76 a companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários. A fim de facilitar na hora da prova, dentre os valores mobiliários mais importantes tem-se as ações; e quando se fala em mercado de capitais, uma instituição muito importante é a bolsa de valores. Sendo assim, se houver menção de que uma sociedade anônima (companhia) tem suas ações negociadas na bolsa de valores, é possível afirmar que se trata de sociedade anônima de capital aberto. No caso de sociedade anônima de capital aberto, haverá a necessidade de autorização da CVM (comissão de valores mobiliários). Destaca-se ainda que uma companhia poderá iniciar suas atividades com o capital fechado e, posteriormente, decidir abri-lo, negociando seus valores mobiliários no mercado de capitais. Nesta situação, também haverá a necessidade de autorização da (CVM) comissão de valores mobiliários. A título de curiosidade, a CVM é uma autarquia federal criada pela Lei 6.385/76, ligada ao Ministério da Fazenda. Observação importante é sobre o mercado de capitais que é dividido em dois: i) Primário: são realizadas as operações de subscrição e emissão de ações e outros valores mobiliários das companhias. (preço de emissão)
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