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Psicologia e Comportamento Organizacional - Aula 3

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PSICOLOGIA E 
COMPORTAMENTO 
ORGANIZACIONAL 
AULA 3
ABERTURA 
Cultura, 
personalidade 
e percepção
Olá!
Tudo o que é criado por uma sociedade humana (hábitos, crenças, arte, moral, leis etc.) 
objetivando a convivência social e a satisfação das necessidades das pessoas que fazem 
parte dela pode ser entendido como cultura (BARROSO, 2017). Os fenômenos culturais têm 
grande impacto em uma sociedade, atingindo em particular cada uma das pessoas que a 
compõem e impactando no desenvolvimento da personalidade e da percepção, por exemplo.
Nesta aula, você aprenderá a relacionar os processos psicológicos com os fenômenos culturais, 
a demonstrar as relações entre cultura e personalidade e reconhecer o desenvolvimento 
da percepção, desde a infância até a vida adulta, a partir da mediação cultural.
Bons estudos.
REFERENCIAL TEÓRICO
De forma sintética, pode-se dizer que cultura é tudo o que é criado pelas sociedades 
humanas (incluindo crenças, hábitos, moral, leis, arte, etc.) com o intuito de satisfazer suas 
necessidades e de conviver em sociedade. Ou seja, de acordo com Barroso (2017), é por 
meio da cultura que os seres humanos aprendem a habitar o mundo e a conviver da forma 
como convivem. Além disso, a cultura diferencia a espécie humana das demais existentes 
no planeta, por ser exclusividade dessa espécie.
No capítulo "Cultura, personalidade e percepção", do livro Imagem pessoal, você verá 
como relacionar os fenômenos culturais com os processos psicológicos, como demonstrar 
as relações existentes entre cultura e personalidade e como reconhecer o desenvolvimento 
da percepção, desde a infância até a idade adulta, com ênfase na mediação cultural. Faça 
seu estudo e, ao final, você estará apto a:
• Relacionar os processos psicológicos com os fenômenos culturais.
• Demonstrar as relações existentes entre cultura e personalidade.
• Reconhecer o desenvolvimento da percepção, da infância à idade adulta, com ênfase
na mediação cultural desse processo psicológico.
Boa leitura.
Cultura, personalidade 
e percepção
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Relacionar os processos psicológicos com os fenômenos culturais. 
 � Demonstrar as relações existentes entre cultura e personalidade. 
 � Reconhecer o desenvolvimento da percepção, da infância à idade 
adulta, com ênfase na mediação cultural desse processo psicológico. 
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar as relações entre cultura, personalidade 
e percepção. Devido à sua complexidade, a espécie humana é capaz 
de desenvolver e acumular fenômenos culturais (BARROSO, 2017). Esses 
fenômenos perpassam o desenvolvimento de cada uma das pessoas 
que compõem a sociedade, impactando na percepção e também na 
personalidade de cada um. Tendo em vista essa importância, você apren-
derá a relacionar os fenômenos culturais com os processos psicológicos, 
a demonstrar as relações existentes entre cultura e personalidade e a 
reconhecer o desenvolvimento da percepção, da infância até a idade 
adulta, com ênfase na mediação cultural. 
Processos psicológicos e fenômenos culturais
Os seres humanos são os únicos seres vivos que desenvolvem fenômenos 
culturais. A cultura nos diferencia do restante das espécies (BARROSO, 2017). 
Estudar a cultura engloba diversos aspectos, já que ela atua, inclusive, no 
desenvolvimento dos processos psicológicos. Através de um resgate histórico, 
é possível observar que até a década de 1970 a cultura era vista sob uma ótica 
mentalista, sendo entendida como um conjunto de crenças compartilhadas. A 
partir desse período, o conceito de cultura passou a ser compreendido de uma 
forma mais concreta, sendo visto como um conjunto de costumes ou práticas 
compartilhadas. Ou seja, pode-se presumir que para estudar cultura é preciso 
tratar de comportamento. Sendo assim, Baum (2006) define cultura como um 
comportamento operante (voluntário), que inclui tanto aspectos verbais quanto 
não verbais, aprendido por alguém que pertence a um grupo (sociedade). Para 
compreender melhor, vale relacionar os fenômenos culturais com a carga ge-
nética. Os traços culturais são transmitidos dentro de uma sociedade (através 
da educação e da imitação) como uma herança social, perpassando gerações, 
o que ocorre de maneira análoga a um conjunto gênico, ou seja, semelhante 
a uma herança biológica (BARROSO, 2017). 
A cultura pode ser entendida como um conjunto de costumes ou práticas compar-
tilhadas por uma sociedade. De acordo com Baum (2006), cultura é um conjunto de 
comportamentos aprendidos por alguém, pelo fato de essa pessoa pertencer a uma 
sociedade. 
Complementando esse conceito, Barroso (2017) afirma que é através da 
cultura que os seres humanos aprendem a conviver e a habitar o mundo da 
forma como habitam. A aprendizagem cultural se dá por meio do processo 
de socialização do sujeito e abarca o desenvolvimento da linguagem e da 
compreensão de símbolos. De uma forma geral, de acordo com a autora, 
pode-se entender que tudo o que é criado pelas sociedades humanas, como 
crenças, hábitos, moral, leis, arte, entre outros, com o intuito de satisfa-
zer suas necessidades e de conviver em sociedade, pode ser considerado 
cultural. 
Cultura, personalidade e percepção2
Você sabia que no México a morte é festejada? 
Esse é um exemplo da cultura mexicana, como pode ser visto na Figura 1. Hábitos 
bastante comuns no país envolvem colecionar e utilizar caveiras coloridas na decoração, 
além de pintar o rosto e vestir-se de forma colorida para as celebrações. 
Figura 1. Festejo do dia dos mortos no México.
Fonte: Ferreira (2017).
Para os brasileiros, a ideia pode parecer bastante estranha, porque a cultura no Brasil 
é de lamentar a morte e de ligá-la a sentimentos como a tristeza. A concepção de 
morte que os mexicanos têm, muito diferente da concepção dos brasileiros, demonstra 
como as diferenças culturais podem impactar na vida das pessoas de uma sociedade/
comunidade. 
Tendo em vista o exposto, destacam-se dois pré-requisitos para que uma 
cultura exista (BAUM, 2006):
 � A existência da sociedade: sem um grupo de pessoas organizadas de 
maneira cooperativa, não há sociedade, logo não há cultura. 
 � A capacidade de aprendizagem dessa sociedade: a capacidade de os 
membros desse grupo aprenderem uns com os outros, visto que é dessa 
forma que a cultura é transmitida.
3Cultura, personalidade e percepção
Fenômenos culturais são fenômenos dinâmicos
À medida em que as práticas culturais são transmitidas de geração em geração, por 
meio da educação e da imitação, elas podem ir se alterando. Isso ocorre porque não 
somente a cultura impacta no desenvolvimento das pessoas que fazem parte da 
sociedade, mas também as próprias pessoas vão impactando no desenvolvimento 
cultural, fazendo com que algumas práticas sejam mantidas e outras transformadas 
ao longo dos anos. Por causa desse processo, com o passar dos anos as práticas 
culturais podem ir se modificando. Por exemplo, se um brasileiro do século XXI, de 
uma região específica, fosse transportado para a mesma região de 100 anos atrás, 
certamente as práticas culturais com as quais se depararia seriam diferentes das que 
ele está acostumado (BARROSO, 2017). 
A partir dessa discussão, compreende-se que os fenômenos culturais são 
de grande impacto em uma sociedade, atingindo cada uma das pessoas que a 
compõe. Para compreender como esse impacto ocorre, resgatam-se as contri-
buições de Bronfenbrenner (2011) acerca do desenvolvimento humano. Para 
esse autor, o desenvolvimento humano é fruto da interação de quatro níveis do 
sistema ecológico: microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema. 
Esses níveis funcionam como um conjunto de estruturas encaixadas, com 
planos mais próximos à pessoa em desenvolvimento e mais afastados dela (da 
maneira como funciona um conjunto de bonecas russas, uma dentro da outra). 
O nível mais interno, marcado pelo contato imediato com a pessoa em 
desenvolvimento,como a casa ou a sala de aula, é o microssistema. O pró-
ximo nível, o mesossistema, refere-se às relações que dois ou mais ambientes 
imediatos (microssistemas) estabelecem entre si, como a escola e a família, e 
que impactam na pessoa em desenvolvimento. O terceiro nível, chamado de 
exossistema, diz respeito a ambientes em que a pessoa em desenvolvimento 
não interage diretamente, mas que, mesmo assim, a impactam, como é o 
caso do ambiente de trabalho dos pais. E, por fim, o macrossistema, que diz 
respeito a um ambiente mais amplo, como a cultura da qual aquela pessoa 
em desenvolvimento faz parte. Seguindo a lógica do funcionamento das 
bonecas russas, o nível mais amplo é composto pelos níveis mais próximos, 
logo, entende-se que a cultura perpassa todos os níveis do sistema ecológico, 
atuando, assim, fortemente no desenvolvimento integral do ser humano, o que 
inclui o desenvolvimento dos processos psicológicos, como a percepção e até 
mesmo no desenvolvimento da personalidade (BRONFENBRENNER, 2011).
Cultura, personalidade e percepção4
Quanto à compreensão de processos psicológicos, destaca-se que eles 
podem ser divididos em processos psicológicos básicos e superiores. Entre 
os básicos estão a memória (capacidade de lembrar), a percepção (capacidade 
de reconhecer algo ou uma situação), o raciocínio (capacidade de resolver 
ou de pensar sobre algo) e a atenção (capacidade de estar centrado em algo). 
Já os processos psicológicos superiores são mais complexos, englobam o 
pensamento, a linguagem e o comportamento volitivo (que envolve vontade). 
Esses últimos, em especial, são enfatizados por Vygotski (1991), por estarem 
fortemente relacionados ao âmbito cultural, já que a única forma de serem 
desenvolvidos é por intermédio da socialização e aquisição da linguagem 
(BARRETO, 2005; NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2017; MARTINS, 2004; 
VYGOTSKI, 1991).
Entre os processos psicológicos básicos estão a memória, a percepção, o raciocínio 
e a atenção. Já entre os processos psicológicos superiores estão o pensamento, a 
linguagem e o comportamento volitivo (BARRETO, 2005; NASCIMENTO; OLIVEIRA, 
2017; MARTINS, 2004, VYGOTSKI, 1991). 
Os fenômenos culturais relacionam-se aos processos psicológicos à me-
dida em que um é produto e, ao mesmo tempo, produtor do outro. A cultura 
impacta no desenvolvimento de cada ser humano que compõe a sociedade 
e, simultaneamente, é impactada pelas próprias pessoas, visto ser fruto da 
capacidade de aprendizagem de quem nela está inserido. Sendo assim, cultura 
é, por definição, um processo dinâmico (BARROSO, 2017; BAUM, 2006; 
BRONFENBRENNER, 2011; MARTINS, 2004). Na sequência você estudará 
as relações entre cultura e personalidade. 
Cultura e personalidade
O termo personalidade vem do latim, persona, que remete a uma máscara utili-
zada por personagens teatrais. Entretanto, remontando a sua origem, observa-se 
que a compreensão desse conceito sempre foi mais ampla, sendo ligada ao 
entendimento de ser humano e de suas relações com o mundo (MARTINS, 2004). 
5Cultura, personalidade e percepção
Pela compreensão da psicologia, a personalidade é composta pelos pensa-
mentos, respostas emocionais e comportamentos que são característicos de 
uma pessoa e organizados de uma forma dinâmica. Por ter essa organização 
dinâmica, pressupõe-se a existência de um todo coerente (organizado) e não 
estático, sensível às mudanças e adaptável ao ambiente em que a pessoa está 
(GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018). Concomitante a isso, 
há evidências de aspectos biológicos envolvidos no desenvolvimento da 
personalidade. Ou seja, é sabido que há uma carga genética determinante 
na personalidade, entretanto, ainda assim, observa-se que a expressão des-
ses componentes não é fixa, mas sim adaptativa (algumas características, 
herdadas biologicamente, serão desenvolvidas, enquanto outras não). Essa 
característica adaptativa diz respeito à noção de que a personalidade vai 
se desenvolvendo a partir da interação da pessoa com o meio em que está 
inserida, logo, está relacionada à cultura (GAZZANIGA; HEATHERTON; 
HALPERN, 2018).
A cultura está presente na vida das pessoas de uma maneira consistente, impactando, 
inclusive, na personalidade de quem faz parte da sociedade (GAZZANIGA; HEATHERTON; 
HALPERN, 2018; MARTINS, 2004). 
Martins (2004) complementa esse raciocínio, destacando que a formação 
do ser humano e de sua personalidade representa um processo que sintetiza 
outros fenômenos produzidos pela história humana, de forma que a construção 
da personalidade dos indivíduos está no cerne da construção da humanidade 
como um todo. Assim, pode-se dizer que a personalidade é um atributo do 
indivíduo, mas, ao mesmo tempo, um fruto da interação do indivíduo com 
o meio. 
Há diversas teorias que tratam da personalidade, trazendo diferentes olhares 
para o mesmo fenômeno. Uma das principais teorias enfatiza cinco grandes 
fatores para descrever a personalidade, é a teoria chamada de Big Five ou 
Cinco Grande Fatores (CGF). Esses fatores são usados com frequência no 
estudo da personalidade, por demonstrarem validade mesmo quando aplicados 
em diferentes países/culturas (GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 
2018). No Brasil, os termos utilizados para cada um dos fatores (tendo em 
Cultura, personalidade e percepção6
vista que são termos traduzidos do inglês), não são uma unanimidade entre 
os pesquisadores (ROSS, 1994). Em geral, os fatores têm sido organizados 
da seguinte forma (ANDRADE, 2008):
 � Abertura (openness to experience, intellect): descreve a complexidade, 
abertura e profundidade da mente humana. Pessoas com alta pontuação 
geralmente são francas, imaginativas, espirituosas, originais e artísticas. 
 � Conscienciosidade (conscientiousness): analisa a cautela, a confiança, 
responsabilidade e a organização dos indivíduos. 
 � Extroversão (extraversion): considera o quanto um indivíduo é ativo, 
entusiasmado, dominante, sociável, eloquente e falante.
 � Amabilidade (agreeableness): considera os aspectos relativos à agra-
dabilidade, amabilidade e afetuosidade.
 � Neuroticismo (neuroticism): avalia a instabilidade emocional, conside-
rando nervosismo, sensibilidade, tensão e preocupação dos indivíduos. 
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a teoria 
dos Cinco Grandes Fatores, acesse no link a seguir a 
tese de doutorado (ANDRADE, 2008) da Universidade 
de Brasília (UnB). Nele, é possível estudar a fundo a 
teoria e conhecer o inventário dos Cinco Grandes 
Fatores de personalidade para o Brasil.
https://goo.gl/A7soCR
Essa teoria ajuda na compreensão do que compõe a personalidade, como 
ela se expressa e pode ser observada. Entretanto, a personalidade não é fixa, 
nem predeterminada (mas sim dinâmica), sendo impactada pelo meio em 
que a pessoa está inserida. Nesse sentido, quando se trata da relação entre 
personalidade e cultura, alguns pontos devem ser destacados. De acordo com 
Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018), a cultura influencia a personalidade, 
pois dita os comportamentos e reações adequados dentro de diferentes situa-
ções. Além disso, a cultura também impacta na forma como a pessoa percebe 
ou interpreta determinadas situações, já que ela serve como um referencial (a 
pessoa sempre avalia as situações a partir do seu referencial cultural). 
7Cultura, personalidade e percepção
Francisco (2013) afirma que não se pode estudar a personalidade de maneira 
isolada da cultura. O autor reforça o entendimento de que a personalidade, 
nessa perspectiva, é resultado das interações sociais da pessoa com o meio. Ou 
seja, é construída por intermédio das relações com os outros e com o mundo. 
Ela é entendida como resultado da atividade subjetiva (singular a cada pessoa), 
condicionada pelo ambiente concreto e cultural do qual a pessoa faz parte. 
Sendo assim, destaca-se o entendimento de que a personalidade tem compo-
nentes individuais, singulares, e componentes coletivos, que dizem respeito à 
sociedade na qual a pessoa está inserida, isto é, aos aspectosculturais. Nesse 
sentido, a cultura pode ser entendida como o ponto em comum entre a pessoa 
(esfera individual) e a sociedade (esfera coletiva).
Tome como exemplo a cultura japonesa, com características bem diferentes da brasi-
leira. As crianças japonesas são responsáveis pela organização e limpeza das salas da 
escola. Desde muito novas, elas são estimuladas a serem organizadas. Sendo assim, 
pode-se supor que, nessa cultura, o fator conscienciosidade (conscientiousness) tem 
maiores chances de ser desenvolvido, visto que aquela cultura favorece esse traço de 
personalidade. Se uma criança japonesa estivesse se desenvolvendo em uma cultura 
como a brasileira, em que práticas de organização não são largamente incentivadas, 
muito provavelmente haveria menores chances desse traço da personalidade se 
desenvolver. 
Como foi visto, a cultura está fortemente relacionada ao desenvolvimento 
da personalidade humana. Pode-se dizer que a personalidade é um aspecto 
individual, singular, mas, ao mesmo tempo, fruto de uma relação social repre-
sentada pela cultura. Ainda que a personalidade tenha componentes genéticos 
e individuais, ela se expressa na sociedade e é desenvolvida por meio das 
relações que a pessoa estabelece (FRANCISCO, 2013; MARTINS, 2004). 
Para finalizar este capítulo, na sequência você estudará o desenvolvimento 
da percepção, da infância à idade adulta, com ênfase na mediação cultural 
desse processo psicológico. 
Cultura, personalidade e percepção8
Desenvolvimento da percepção através da 
mediação cultural
Nesta parte do capítulo insere-se a discussão sobre o desenvolvimento, em 
específico, do processo psicológico da percepção. Inicialmente, retoma-se a 
breve descrição de percepção feita anteriormente, para servir como um pontapé 
para a reflexão que se segue. A percepção pode ser entendida como a capacidade 
de reconhecer algo ou uma situação (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2017). 
Essa descrição, entretanto, não é suficiente para a compreensão de como se 
dá o desenvolvimento desse processo psicológico, da infância à idade adulta, 
com ênfase na mediação cultural. Para que isso seja possível, é importante 
diferenciá-lo da sensação, visto que comumente esses dois conceitos são 
confundidos.
A sensação pode ser entendida como um processo de detecção de estímulos 
físicos e de transmissão desses estímulos para o cérebro. Ela compreende o 
processo pelo qual os cinco sentidos (visão, tato, paladar, olfato e audição) 
apreendem informações do ambiente. Ou seja, a sensação é o primeiro con-
tato de um estímulo com o organismo (FELDMAN, 2015; GAZZANIGA; 
HEATHERTON; HALPERN, 2018).
Quando encostamos em uma flor, através do tato, é possível sentir a textura. Da mesma 
forma, quando se prova um suco, através do paladar a pessoa sente o gosto. Sendo 
assim, entende-se que a sensação compreende um processo de experiência básica do 
organismo com o meio (FELDMAN, 2015; GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018).
Já a percepção funciona de uma forma um pouco mais complexa. Para 
perceber algo é necessário que o sujeito analise e interprete aquele estímulo. 
Sendo assim, a percepção compreende o processamento, a organização e a 
interpretação de um estímulo sensorial. Pode-se dizer que a percepção é um 
passo além da sensação, é quando o organismo se relaciona com o meio de 
uma forma consciente e constrói uma informação útil e significativa sobre 
aquela experiência (FELDMAN, 2015; GAZZANIGA; HEATHERTON; 
HALPERN, 2018).
9Cultura, personalidade e percepção
Quando você prova um suco, sente o gosto cítrico na boca e um cheiro que lhe é 
familiar (você já sentiu em outro momento) e associa as informações sensoriais a um 
suco de laranja. Ao fazer isso, você está desenvolvendo um processo de percepção, 
isto é, você está interpretando aquela sensação, dando um sentido a ela (FELDMAN, 
2015; GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018). 
Pode-se dizer, tendo em vista o que foi discutido, que a relação entre 
organismo e ambiente inicia pela sensação, através dos cinco sentidos, es-
tabelecendo um primeiro contato do organismo com o meio, e passa para a 
percepção quando o organismo interpreta e organiza o estímulo (FELDMAN, 
2015; GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018).
Sensação x percepção: sensação é o primeiro contato do organismo com o meio 
e ocorre através dos cinco sentidos. Percepção é o segundo passo, ocorre quando o 
organismo interpreta o estímulo sensorial vindo do meio (FELDMAN, 2015; GAZZANIGA; 
HEATHERTON; HALPERN, 2018). 
Piovesan (1970) destaca que a sensação é um fenômeno relativamente cons-
tante dentro da espécie humana (visto que depende apenas dos sentidos), já o 
processo de percepção é essencialmente variável de sociedade para sociedade. 
Ou seja, a percepção é mediada pela cultura em que a pessoa está inserida. 
Cultura, personalidade e percepção10
Na cultura indiana, a vaca é considerada um animal sagrado. Ela é vista como um 
animal puro, por isso não pode ser morta, nem sua carne utilizada como alimento. 
Pela característica de pureza, seu leite e sua urina, inclusive, são utilizados em rituais de 
purificação pelo povo da Índia. No Brasil, por outro lado, é costume utilizar a carne de 
vaca como alimento. Tendo em vista essas diferenças culturais, imagine uma pessoa 
comendo um churrasco feito com carne de vaca em uma rua de Nova Deli, capital 
da Índia. Agora, a título de comparação, imagine essa mesma situação em uma rua 
de São Paulo, Brasil. 
Nas duas situações, o estímulo do ambiente é o mesmo (uma pessoa comendo 
carne de vaca), entretanto, o contexto é outro. A percepção (ou seja, a interpretação) 
que a população de Nova Deli teria ao ver uma situação como essa certamente seria 
muito diferente da percepção da população de São Paulo. Esse exemplo reflete a 
característica variável da percepção, que é mediada pela cultura da pessoa que está 
interpretando determinado estímulo. 
A partir do exposto, torna-se evidente que o fenômeno da percepção é 
mediado pela cultura. Entretanto, ainda se faz necessário compreender como 
essa mediação ocorre ao longo da vida das pessoas, da infância até a idade 
adulta. Para isso, destacam-se as contribuições de Pimenta e Caldas (2014), 
que realizaram um estudo sobre o desenvolvimento da percepção na infância. 
De acordo com a perspectiva apresentada pelas autoras, quando um bebê 
nasce, o organismo, sob a perspectiva biológica, está estruturado (mesmo 
que ainda precise se desenvolver, a partir do nascimento o bebê já possui o 
aparato biológico necessário). Porém, para além do aspecto biológico, o bebê 
quando nasce precisa ser humanizado. Nesse sentido, o desenvolvimento do 
bebê ocorre em duas linhas: a primeira, relativa ao desenvolvimento biológico 
e a segunda, relativa ao desenvolvimento histórico-cultural, relacionado ao 
seu processo de humanização. A humanização do bebê ocorrerá através da 
interação social (ou seja, através da relação desse bebê com as outras pessoas 
que compõem a sociedade em que ele está inserido). 
A partir dessas interações, à medida em que o bebê cresce, vai desenvol-
vendo a capacidade de interpretar os estímulos do ambiente, isto é, de dar 
significado para os estímulos com os quais tem contato. O desenvolvimento 
11Cultura, personalidade e percepção
da percepção ocorre a partir da mediação cultural, e inicia na infância. En-
tretanto, diferente do que comumente se pensa, o desenvolvimento (de uma 
forma global) não encerra no período caracterizado como infância, apesar de 
ter seu ápice nesse momento. O desenvolvimento humano ocorre de forma 
contínua, durante todo o ciclo vital, sendo atualizado e modificado à medida 
em que interage com novos estímulos (PIMENTA; CALDAS, 2014). 
Nesse sentido, destaca-se que os processos psicológicos, tais como a 
percepção, são processos cerebrais, ou seja, tem base biológica, mas o seu 
desenvolvimento é mediado essencialmente pela interação do indivíduo com 
o contexto no qual se desenvolve. Por meio da interação com as pessoas, 
com os instrumentos,com os símbolos, entre outras construções produzidas 
por aquela cultura. É essa interação que produzirá a informação que servirá 
como referencial quando um determinado indivíduo captar um estímulo e o 
interpretar (PIMENTA; CALDAS, 2014). 
O desenvolvimento da percepção ocorre ao longo de todo o ciclo vital. Esse 
fenômeno tem bases biológicas, mas é desenvolvido, fundamentalmente, a partir 
da interação da pessoa com o meio em que está. Esse meio inclui aspectos rela-
cionados à cultura, como símbolos, instrumentos, linguagem, entre outros. Essas 
interações, entre organismos e meio, produzirão informações necessárias para 
que aquele organismo consiga interpretar os estímulos do ambiente (PIMENTA; 
CALDAS, 2014). 
Diante do exposto, destaca-se a importância da cultura como mediadora do 
desenvolvimento humano. Como visto ao longo do capítulo, o desenvolvimento 
dos processos psicológicos é impactado pelas interações do organismo com 
o meio cultural do qual faz parte. Em específico, destaca-se o fenômeno da 
percepção, que diz respeito ao processo de sensação e interpretação de um es-
tímulo do ambiente. A percepção é desenvolvida desde a infância, perpassando 
todo o ciclo vital, tendo como base as interações entre o organismo e o meio, 
com ênfase no meio histórico-cultural (FELDMAN, 2015; GAZZANIGA; 
HEATHERTON; HALPERN, 2018; PIMENTA; CALDAS, 2014). 
Cultura, personalidade e percepção12
ANDRADE, J. M. de. Evidências de validade do inventário dos cinco grandes fatores de per-
sonalidade para o Brasil. 2008. 168 f. Tese (Doutorado em Psicologia Social, do Trabalho 
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repositorio.unb.br/handle/10482/1751>. Acesso em: 7 nov. 2018.
BARRETO, A. M. Informação e conhecimento na era digital. Transinformação, Campinas, 
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BARROSO, P. F. Antropologia e cultura. Porto Alegre: SAGAH, 2017.
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BRONFENBRENNER, U. Bioecologia do desenvolvimento humano: tornando os seres 
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bullying escolar e os processos de “resiliência em-si”: uma análise histórico-cultural. 2013. 
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Prudente, 2013. Disponível em: <http://www2.fct.unesp.br/pos/educacao/teses/2013/
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13Cultura, personalidade e percepção
PORTFÓLIO
A personalidade pode ser entendida como o conjunto de pensamentos, respostas 
emocionais e comportamentos característicos de uma pessoa e organizados de forma 
dinâmica. Entre as muitas teorias que a descrevem, destaca-se a teoria chamada de Big 
Five ou Cinco Grande Fatores (CGF). De acordo com essa teoria, a personalidade é 
expressa a partir de 5 grandes fatores: abertura (openness to experience, intellect), 
conscienciosidade (conscientiousness), extroversão (extraversion), amabilidade 
(agreeableness) e neuroticismo (neuroticism).
Pesquise e descreva cada um desses fatores.
PESQUISA
Aula de Psicologia - Percepção
https://www.youtube.com/watch?v=K3CmS8dlh3g
Aula sobre a percepção humana com base na Psicologia Histórico-cultural. Percepção é 
uma função psicológica superior que compõe os aspectos cognitivos do psiquismo.
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