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- -1 HISTÓRIA MODERNA: DA TRANSIÇÃO DO FEUDALISMO ÀS REFORMAS RELIGIOSAS A ECONOMIA NA MODERNIDADE - -2 Olá! Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Identificar as origens da economia moderna; 2. definir os principais conceitos econômicos da modernidade; 3. reconhecer o sistema mercantil como a base do sistema capitalista. Ao longo da História, diversos estudiosos estabeleceram modelos explicativos tendo como base as grandes transformações econômicas. Na Idade Moderna, podemos definir, de modo amplo, esta mudança econômica, como a passagem do feudalismo para o sistema capitalista. Essa era vai se caracterizar, portanto, como a grande era do mercantilismo. Mas como podemos caracterizar o mercantilismo? Mais adiante, veremos mais detalhes sobre isso, mas o que devemos ter em mente é que o mercantilismo não é um sistema econômico. Como assim? Esbarramos em outro conceito chave, o de sistema econômico. Existem algumas definições possíveis deste conceito. Vamos ver a de Francisco Lacombe: Sistema econômico Sistema de propriedade, de forma de decisão sobre a alocação dos recursos produtivos, de determinação de preços, e demais mecanismos que caracterizam o sistema produtivo de uma sociedade e a distribuição dos produtos pelos agentes econômicos. Fonte: LACOMBE, Frascisco José Masset. Dicionário de Administração. São Paulo: Saraiva, 2004. O que isso quer dizer? Que um sistema econômico é a maneira pela qual uma sociedade organiza sua economia e, junto com ela, a sua politica e a sua estrutura social. Um sistema econômico também possui um modo de produção, e o mercantilismo, em si, não possui estas características. Então, podemos definir mercantilismo como um conjunto de práticas econômicas que marca a transição do sistema feudal para o sistema capitalista. Falamos sobre modo de produção, não é? Esta expressão é muito comum e a encontramos o tempo todo nos textos: modo de produção feudal, modo de produção escravista, modo de produção capitalista. Mas afinal, o que é modo de produção? - -3 Vamos ver, em separado, os elementos que constituem o modo de produção. - -4 1 Modo de produção • O que são forças produtivas? Forças produtivas são formadas pelos meios de produção a parte material como terra, capital, máquinas, ferramentas e a força de trabalho. Neste caso, não é só a mão de obra em si, mas a habilidade que essa mão de obra possui, como conhecimento técnico, por exemplo. • O que são relações de produção? É a maneira como se relaciona quem possui os meios de produção - terra, capital, máquinas, ferramentas e a estrutura de classes. Um dos primeiros teóricos a pensar e definir estas questões foi Karl Marx, na obra . Marx defendia que,O capital sempre que houve uma contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, haveria um colapso do sistema econômico. É o que acontece no feudalismo. À medida que mudam os agentes econômicos o poder econômico deixa de ser do senhor feudal para pertencer à burguesia o modo de produção também muda, para dar conta desta nova realidade. Para entendermos essas mudanças, vejamos como se organiza o feudalismo, característico da Idade Média: Vamos ver cada período separadamente. • • - -5 Saiba mais A transição do capitalismo ao feudalismo Vamos ver cada período separadamente. A transição da antiguidade para o feudalismo entre os séculos IV a XI. Assim como ocorreu com o feudalismo, o sistema econômico característico da antiguidade também entrou em colapso, sendo progressivamente substituído pelo modo de produção feudal, Entretanto, como acontece nos processos históricos que levam séculos para se consolidar, não houve um rompimento abrupto, nem aquelas antigas estruturas despareceram por completo. Na antiguidade romana, vigorava o modo de produção escravista e foi justamente a crise do escravismo um dos fatores responsáveis pelo fim deste império. Entretanto, embora o Feudalismo não tenha utilizado mão de obra escrava, ele herdou da antiguidade um outro tipo de mão de obra, o colonato que, no feudalismo, darão origem as relações de servidão. Na relação de colonato, o trabalhador figa lidado a terra, nela permanecendo até o fim de sua vida. No feudalismo, essa é também a definição de servidão. Além disso, o servo terá diversas obrigações para seu senhor como o pagamento de impostos e vínculos de sociabilidade. Porque é importante ressaltarmos essa herança? Porque através dela podemos entender de que forma os sistemas mudam, mas não desaparecem, legando heranças aqueles que o substituem. Isso constitui a própria dinâmica da História e vai acontecer quando falarmos, mais adiante, da transição do feudalismo para o capitalismo. O Renascimento Urbano e a expansão da atividade Mercantil, entre os séculos XI e XIV. Podemos situar neste intervalo as origens do mundo moderno. Conforme a sistema feudal, baseado na agricultura e na posse da terra prosperava, as cidades, que tinham sido o centro da vida política e econômica durante a antiguidade, foram deixadas de lado. Não quer dizer que elas tenham desaparecido, apenas perderam a importância que tinham para as sociedades romana e grega. As cidades italianas foram as primeiras a se destacar no processo de renascimento urbano, como é o caso de Florença, Veneza e Genova. Dentre os diversos motivos para o pioneirismo italiano, podemos destacar a posição geográfica privilegiada de algumas dessas cidades, próximas ao Mediterrâneo. O Mediterrâneo será, neste contexto, uma das principais rotas mercantis da Europa. As cruzadas, as famosas expedições religiosas que ocorreram com o objetivo de retomar a terra santa entre os séculos XI e XII, tiveram um papel crucial no renascimento urbano. A medida que ampliava, a presença europeia no oriente, as cruzadas acabaram por estabelecer novas rotas comerciais Oriente – ocidente. Por estas rotas transitavam, sobretudo, especiarias e produtos de luxo, como a seda oriental. Esses produtos entravam na Europa e eram comercializados através das feiras. Estas feiras ganharam tanta importância social e econômica que em alguns lugares, elas se tornaram permanentes, como foi o caso de Flandres no norte da Bélgica e Champagne, na França. O desenvolvimento comercial em Flandres originou as ligas ou hansas, união de diversas cidades para administrar as relações comerciais. A mais importante ficou conhecida como Liga Hanseática, e reunia dezenas de cidades. É importante frisar que o comércio estava profundamente ligado ao renascimento urbano. Foi o comércio que ampliou as relações econômicas existentes, alterando o panorama medieval. Com a diversidade comercial, o sistema financeiro foi, aos poucos, criando raízes e estabelecendo um padrão de valor monetário. Ou seja, as moedas voltaram a circular e, ainda que não existisse uma única moeda, essa retomada monetária seria fundamental para o nascimento do capitalismo. As cidades medievais eram, inicialmente, fortificadas. Ou seja, por razões de segurança, era comum um muro ser erguido para proteger o pequeno núcleo urbano. Esta estrutura era chamada de burgo e seus habitantes, burgueses. Com a expansão comercial, as cidades ultrapassaram suas muralhas e se expandiram. Seus habitantes dedicavam-se ao artesanato e ao comércio O artesanato acompanhava o crescimento mercantil. Só para lembrar: quando falamos em - -6 Além deste processo de transformação da economia feudal, podemos caracterizar a economia moderna pela expansão mercantil que ocorre ao longo dos séculos XVI, XVIl e XVIII. Essa expansão permite a ocorrência da acumulação primitiva do capital. Essa acumulação é parte das pré-condições que, no século XVIII, darão origem à Revolução Industrial. O que devemos lembrar é que o sistema capitalista que temos hoje teve sua origem na Idade Moderna e o seu fundamento está nas relações comerciais. O artesanato acompanhava o crescimento mercantil. Só para lembrar: quando falamos em artesanato, neste período, estamos nos referindo a artigos feito manualmente. Portanto, os artesãosmedievais incluíam diversas profissões como ferreiros, sapateiros e tecelões. Esses profissionais reuniam-se em corporações de ofício, associações que tinham como objetivo garantir o preço e a qualidade dos produtos vendidos, além de garantir o monopólio de seus membros sobre este comércio. Organizações como as ligas e as corporações de ofício exemplificam a mudança econômica que a idade média esta vivendo. A estrutura feudal, aos poucos, não mais dará conta da estrutura econômica criada pela multiplicidade de relações mercantis e o modo de produção feudal entrará em colapso. Por último, falemos da transição do feudalismo para o capitalismo, entre os séculos XIV e XV. Como historiadores, não podemos dissociar as diversas instancias que compõem a vida em sociedade. Dessa forma, todos os aspectos sociais – política, cultura e economia – estão interligados e agem diretamente um sobre o outro. É claro que é possível privilegiar um olhar em detrimento de outro e assim temos a história cultural, a história política e a história econômica. Mas, mesmo nos estudos mais específicos, não é possível ignorar que haja uma interação direta entre todos estes aspectos. Isto posto, é importante que entendamos a transição feudalismo – capitalismo, como sendo fruto de diversos fatores que, relacionados, provocam o desgaste de um sistema e a sua substituição por outro. Durante a Idade Média, a relação de trabalho estava centrado no binômio senhor/servo. O senhor feudal era dono das terras, o servo, sua força de trabalho e a produção do feudo era voltada para sua subsistência. Podemos dizer que o feudo era uma unidade produtiva fechada, o que explica a pouca importância das relações comerciais da alta idade média. Nessa estrutura, não existia o trabalho assalariado, uma das bases fundamentais do capitalismo. Entre os séculos XIV e XV, após a consolidação das cidades e a do comércio, temos a ascensão da burguesia enquanto classe social. Os burgueses substituirão os senhores feudais como donos dos meios de produção e o trabalhador venderá sua força de trabalho, quebrando a relação servo/senhor e acabando com os vínculos de dependência pessoal nas quais esta relação se baseava. Temos, nesta fase de transição, o que chamaremos de pré capitalismo pois, embora já houvesse relações econômicas baseadas na moeda, estas coexistiam com a troca de produtos – característico da economia feudal. O trabalho assalariado ainda não era dominante e os artesãos eram donos de seus próprios meios de produção, como ferramentas e matéria prima. No capitalismo haverá uma separação – enquanto a classe trabalhadora vende sua força de trabalho, os burgueses são donos dos meios de produção. Como essa estrutura ainda esta se esboçando, não podemos chamar esta fase de capitalista. - -7 Do modo de produção feudal, passamos a ter o mercantilismo baseado, sobretudo, no mercado. Embora não possa ser definido, a rigor, como sistema econômico, como já falamos antes, o mercantilismo é um conjunto de práticas econômicas cuja aplicação caracteriza a Idade Moderna. Vejamos os principais pontos nos quais esta prática se baseia: - Metalismo - Protecionismo - Pacto Colonial - Balança Comercial Favorável Vamos ver cada um desses pontos, separadamente. 2 Metalismo Diferente da Idade Média, na qual o significado da riqueza estava na terra, na Idade Moderna, quando as nações estão ainda se formando, o que define a riqueza de um estado é o acúmulo de metais preciosos dos quais este estado dispõe. Como dissemos, há neste período a retomada do sistema monetário. Então, os metais eram muito necessários para cunhar as moedas, especialmente o ouro e a prata. A busca por estes metais será um dos motores da expansão marítima. 3 Protecionismo O protecionismo foi a forma encontrada pelos reis para proteger e incentivar o desenvolvimento econômico do Estado. Como funcionava? Os reis cobravam altas taxas de impostos de produtos estrangeiros. Dessa forma, estimulavam o consumo e a confecção de produtos nacionais, dinamizando a economia interna. É interessante perceber que a prática do protecionismo existe ainda em nossos dias, em diversas economias mundiais. Mesmo nas atuais economias nacionais, quando um Estado entra em crise, ele lança mão deste recurso. 4 Pacto Colonial Quando estudamos história do Brasil colonial é comum nos remetermos sempre ao pacto colonial, como exemplo da submissão entre a colônia e a metrópole. Por isso, estamos acostumados a entender o pacto colonial do ponto de vista colonial, percebendo-o como um problema para o desenvolvimento da colônia. Mas o que ele significava e qual sua função para a metrópole? Sabemos que a economia colonial era uma economia complementar, ou seja, de modo geral, a colônia produzia os recursos de que a metrópole necessitava. - -8 O pacto colonial era a garantia da metrópole de que a colônia comercializaria estes produtos somente com ela. Era, na verdade, o estabelecimento de um monopólio comercial. Esse monopólio garantia a opção da metrópole de comprar e vender os produtos coloniais ao preço que ela bem entendesse. Como a colônia era obrigada a vender para a metrópole, não podia determinar o preço que quisesse. Cabia à coroa fazer isso. Logo, ela comprava estes produtos mais baratos e podia revendê-los também a preços mais competitivos. Se para a colônia o pacto era um entrave, para a metrópole era a garantia de grandes lucros, que ele necessitava para consolidar sua economia. 5 Balança Comercial Favorável Essa é outra prática econômica que se inicia na Idade Moderna e segue existindo até nossos dias. Quando o capitalismo se consolida, a balança comercial favorável se torna quase um sinônimo de economia saudável. Consiste em exportar mais do que importar, ou seja, vender mais do que se compra. Esse recurso mantém o capital que circula no país sempre em maior número do que aquele que é gasto no exterior, permitindo a formação de uma reserva financeira que pode ser utilizada em casos de crise econômica. - -9 Podemos nos referir ao mercantilismo como uma política econômica, que será necessária para que as economias nacionais que estão nascendo na Europa sejam estáveis. O que temos de observar é que estamos em um momento de transição e que a economia precisa se estabilizar para poder desenvolver os recursos do país. Dessa forma, cada uma das nações que lança mão do mercantilismo está preocupada em formar uma base sólida para que não esteja sujeita a crises. Esta é uma situação política nova para a Europa, que veio de uma realidade medieval fragmentada. Falamos muito sobre a fragmentação de poder na Idade Média, mas, muitas vezes, nos esquecemos de que o poder fragmentado também significa uma economia fragmentada. Portanto, não estamos em um momento só de unificação e formação do Estado, mas também de afirmação de uma nova economia, uma economia moderna que dará origem ao capitalismo contemporâneo. Podemos dividir a economia da Idade Moderna em três grandes fases: • Século XV ao começo do século XVII Com a fim do feudalismo, a economia moderna vive um processo de a expansão que rapidamente irá superar as antigas estruturas feudais. Seria prematuro falar que nesta época há uma industrialização, mas podemos nos remeter ao aumento dos produtos manufaturados, que coexistem como os artesanais. Assim, além de um aumento da produção artesanal, existe o início do investimento em manufaturados. Um erro comum é acharmos que quando a Idade Média chega ao fim, acaba com ela também a base agrícola europeia. Nada disso, a agricultura ganha impulso, mas não mais como uma agricultura de subsistência, voltada apenas para o sustento. Os gêneros agrícolas adquirem o status de mercadoria e a agricultura será largamente praticada em toda a Europa. • Século XVII ao começo do século XVIII Entre os séculos XVII e XVIII, temos a primeira grande crise do modelo moderno. Chamarmos este momento de crise é controverso, já que alguns historiadores entendem que este é um períodode ajuste • • - -10 natural, no qual um recuo da expansão ocorrida no século anterior seria vista como natural, e não como um sinal do desgaste do projeto mercantil. O historiador francês Roland Mousnier entende o século XVII como uma época de crise permanente, não só econômica, mas política e cultural. Para ele, este é um momento em que a modernidade ainda traz muitos traços do medievo, provocando grandes contradições, que estão presentes em diversas escalas. Essas contradições reforçam a ideia de que o capitalismo, como sistema econômico consolidado, existe a partir da Revolução Industrial no século XVIII e que devemos, portanto, entender a Idade Moderna como a época em que surgem as pré- condições do capitalismo. • Século XVIII Em meados do século XVIII, o modelo econômico baseado no mercantilismo se expande por toda a Europa. Por que isso acontece? Porque neste período já temos estados consolidados e que adotam essa politica econômica como uma prática de Estado. Sabemos que a formação dos estado nacionais não foi uniforme. Por razões que veremos na próxima aula, Espanha e Portugal se unificam antes, e Inglaterra e França, mais tardiamente, o que provoca essa diferença na expansão mercantil, já que este necessita de um Estado centralizado para que se desenvolva. Cabe lembrar também que estamos às vésperas da Revolução Industrial, que só seria possível depois da Europa passar pelo período mercantil. O que podemos concluir? Que a economia moderna tem sua base no mercantilismo, que reunirá as condições para a Revolução Industrial. Esta, por sua vez, é responsável por inaugurar uma nova era na economia, o período industrial, que irá consolidar o capitalismo como sistema econômico. O que vem na próxima aula • A formação do Estado nação moderno; • o pioneirismo ibérico na centralização nacional; • a unificação política tardia da Inglaterra e da França. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Identificou as estruturas econômicas da Idade Média e seu progressivo desgaste e substituição; • compreendeu o que é mercantilismo e em quais práticas ele está amparado; • analisou de que forma a economia moderna cria as condições para a transformação industrial que • • • • • • • - -11 • analisou de que forma a economia moderna cria as condições para a transformação industrial que ocorrerá na Europa do século XVIII. • Olá! 1 Modo de produção 2 Metalismo 3 Protecionismo 4 Pacto Colonial 5 Balança Comercial Favorável Século XV ao começo do século XVII Século XVII ao começo do século XVIII Século XVIII O que vem na próxima aula CONCLUSÃO
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