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Parâmetros de indicadores para qualidade da água Apresentação A água é uma das principais substâncias presentes no planeta e tem participação na forma como o vemos hoje. De acordo com a teoria dos coacervados, que atribui que a origem das primeiras formas de vida na terra se deu nos oceanos, sem a água, nenhuma forma de vida conhecida atualmente existiria ou sobreviveria. Nos organismos vivos, tem funções essenciais como: termorregulação, catalização de reações, etc. No que diz respeito à sua disponibilização no planeta, especialmente em relação às águas superficiais, muitas partes do globo já enfrentam crises pela sua escassez, em virtude da má distribuição, da ação antrópica e da degradação ambiental desse recurso. Nesta Unidade de Aprendizagem, serão estudados os parâmetros listados como relevantes para indicar a qualidade da água para consumo humano, assim como as causas relacionadas às alterações desses parâmetros e suas consequências. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os indicadores de qualidade da água, conforme o Índice de Qualidade das Águas (IQA). • Explicar a importância dos nove parâmetros para indicar qualidade da água.• Reconhecer a classificação da água conforme a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 357/2005. • Infográfico Mudar o tópico do infográfico de parâmetros indicadores de qualidade da água para qualidade da água, pois foi feita usa subdivisão com informações indispensáveis para o conhecimento de um gestor ambiental. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/1db0c885-2c3d-45a6-962d-1888b2c33d76/f291cea9-a143-482c-94d0-a09ee1bfb7c8.jpg Conteúdo do livro O uso agrícola e industrial ainda são as atividades que mais consomem água; mas, existe uma tendência para o aumento do uso doméstico das águas nas próximas décadas. Isto porque, a população mundial passará dos atuais 7,5 bilhões de pessoas para 9,7 bilhões em 2050, segundo estimativas do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas. No Brasil, de acordo com o IBGE (2019), a maior parcela da população vive nas cidades (representando 84,72% de toda população). Logo, o consumo de água e consequentemente, a contaminação deste importante recurso natural, tende a aumentar. O Índice de Qualidade da água - IQA visa examente analisar a quantidade de impurezas presentes na água, e se a água está ou não de acordo com os instituídos para um determinado uso. Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá de acordo com a resolução vigente, quais são os parâmetros que constituem o IQA. Além disso, você irá entender a importância das classes de água e seus usos permitidos. BIOQUÍMICA AMBIENTAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Identificar os indicadores de qualidade da água, conforme o índice de qualidade das águas (IQA). > Explicar a importância dos nove parâmetros para indicar qualidade da água. > Reconhecer a classificação da água conforme a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 357/2005. Introdução A água, sobretudo a dos rios, contém e transporta diversas substâncias, que podem acabar comprometendo a sua qualidade e limitar seus usos para as atividades antrópicas. O lançamento de poluentes nos recursos hídricos e, por consequência, a degradação da qualidade da água, possivelmente é um dos maiores problemas ambientais enfrentados por países de todo o mundo, principalmente aqueles em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Parâmetros de indicadores para qualidade da água Ronei Tiago Stein Neste capítulo, faremos uma análise da importância do índice de quali- dade das águas (IQA) e dos parâmetros que o compõem. Vamos ver, também, a importância da Resolução Conama nº 357/2005, a qual dividiu as águas do território nacional em classes, indicando diferentes usos para cada uma delas, conforme o grau de potabilidade das águas. Indicadores de qualidade da água Sabemos que a água pura deve ser um líquido incolor, inodoro, insípido e transparente. Contudo, por ser considerada um dos melhores solventes exis- tentes, raramente é encontrada em estado absoluto de pureza. Existe uma grande variedade de elementos químicos que podem estar presentes nas águas naturais. Richter e Netto (2005) mencionam a presença de mais de 100 elementos químicos. Bittencourt e Paula (2014) complementam, afirmando que a água pode receber uma grande quantidade de sais minerais, o que altera a sua composição de um líquido sem gosto, sem cor e sem cheiro, para uma substância salgada, como a água encontrada no mar. Logo, os profissionais que vão trabalhar com tratamento de água e efluen- tes precisam, obrigatoriamente, saber identificar os parâmetros físicos, quí- micos e biológicos da água. As características físicas da água podem ser perceptíveis pelo homem por meio de seus sentidos. Uma vez que a água deve ser transparente, sem cor e sem cheiro, normalmente suas características físicas são fáceis de identificar pelo cheiro e pelo olhar. Embora elas não apre- sentem grande importância na questão sanitária, interferem na eficiência do tratamento, sendo necessário remover os materiais em suspensão (resíduos, areia, sedimentos, material orgânicos, dentre outros). As características químicas estão relacionadas às substâncias dissolvidas, que podem vir a causar alterações na água (p. ex., produtos químicos). As características microbiológicas estão relacionadas aos diversos microrga- nismos que habitam o ambiente aquático, que podem ou não trazer alguma patologia para quem consumir a água. Existem diferentes parâmetros relacionados às características físicas, químicas e microbiológicas, apresentados no Quadro 1. Parâmetros de indicadores para qualidade da água2 Quadro 1. Parâmetros físicos, químicos e microbiológicos que se encontram presentes na água bruta e na água tratada Ca ra ct er ís tic as Parâmetro Águas para abastecimento Águas residuárias Corpos receptores Água superficial Água subterrânea Bruta Tra-tada Rio Lago Bruta Tra-tada Bruta Tra- tada Pa râ m et ro s fí si co s Cor X X X X X X Turbidez X X X X X X Sabor e odor X X X X Temperatura X X X X X Pa râ m et ro s qu ím ic os pH X X X X X X X Alcalinidade X X X Acidez X X Dureza X X Ferro e manganês X X X X Cloretos X X Nitrogênio X X X X X X X X Fósforo X X X X Oxigênio dissolvido X X X Matéria orgânica X X X X Micropoluen- tes inorgânicos (diversos) X X X X X X X X Micropoluen- tes orgânicos (diversos) X X X X X X X X (Continua) Parâmetros de indicadores para qualidade da água 3 Ca ra ct er ís tic as Parâmetro Águas para abastecimento Águas residuárias Corpos receptores Água superficial Água subterrânea Bruta Tra-tada Rio Lago Bruta Tra-tada Bruta Tra- tada Pa râ m et ro s bi ol óg ic os Organismos indicadores X X X X X X X X Algas (diversas) X X X Bactérias de- compositoras (diversas) X Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005). Conhecer os parâmetros da água (e isso inclui o esgoto e efluentes indus- triais) é essencial a qualquer tipo de tratamento, pois sem esse conhecimento, não há como saber ao certo se o tratamento da água está sendo eficaz ou não. Como um exemplo prático, podemos citar o tratamento de água de uma piscina. Não basta apenas adicionar floculante ou algizida na água, se a alcalinidade e o pH não estiverem controlados. Esses parâmetros interferem diretamente na quantidade de produtos necessários para o tratamento da água. A preocupação com a qualidade da água consumida pela população fez com que, em 1970, nos Estados Unidos, as autoridades americanas criassem o índice de qualidade das águas (IQA), desenvolvido pela National Sanitation Foundation. Esse índice foi tão eficaz, que vários outros países começaram a implantá-lo. No Brasil, segundo a AgênciaNacional de Águas (ANA, 2022), o IQA surgiu a partir de 1975, sendo implantado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). Nas décadas seguintes, outros Estados brasileiros fizeram a implantação. Atualmente, ele é o principal índice de qualidade da água utilizado em todo o território Nacional. (Continuação) Parâmetros de indicadores para qualidade da água4 Segundo a ANA (2022, documento on-line): O IQA foi desenvolvido para avaliar a qualidade da água bruta visando seu uso para o abastecimento público, após tratamento. Os parâmetros utilizados no cálculo do IQA são em sua maioria indicadores de contaminação causada pelo lançamento de esgotos domésticos. A avaliação da qualidade da água obtida pelo IQA apresenta limitações, já que este índice não analisa vários parâmetros importantes para o abastecimento público, tais como substâncias tóxicas (ex: metais pesados, pestici- das, compostos orgânicos), protozoários patogênicos e substâncias que interferem nas propriedades organolépticas da água. De forma resumida, o IQA consiste em uma metodologia que visa a avaliar a qualidade da água. Para isso, deve-se medir e identificar as características físicas, químicas e biológicas, classificando-as a partir de parâmetros de qualidade estabelecidos, ou seja, legislações que tratam do tratamento e da qualidade das águas. Parâmetros que compõem o IQA O IQA é composto por nove parâmetros, os quais foram determinados em razão da sua importância para a conformação global da qualidade da água. Bittencourt e Paula (2014) mencionam que o índice de qualidade da água bruta para fins de abastecimento público (IAP) é composto por três grupos de parâmetros: � índice de qualidade das águas (IQA) — temperatura d’água, pH, oxi- gênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, coliformes fecais, nitrogênio total, fósforo total, resíduo total e turbidez; � parâmetros que avaliam a presença de substâncias tóxicas — teste de mutagenicidade, potencial de formação de tri-halometanos, cádmio, chumbo, cromo total, mercúrio e níquel; � parâmetros que afetam a qualidade organoléptica da água — fenóis, ferro, manganês, alumínio, cobre e zinco. Parâmetros de indicadores para qualidade da água 5 Os parâmetros que avaliam o grupo de substâncias tóxicas e organo- lépticas fornecem o índice de substâncias tóxicas e organolépticas (ISTO). O índice do estado trófico classifica os corpos d’água em diferentes graus de trofia, ou seja, avalia a qualidade da água quanto ao enriquecimento de nutrientes e a sua relação com o crescimento das algas ou o aumento de macrófitas (ANA, 2022). O Quadro 2 apresenta os nove parâmetros físicos, químicos e biológicos que compõem o IQA, com seus respectivos pesos. Quadro 2. Parâmetros físicos, químicos e microbiológicos que compõe o IQA Parâmetro de qualidade da água Peso (w) Oxigênio dissolvido 0,17 Coliformes termotolerantes 0,15 Potencial hidrogeniônico (pH) 0,12 Demanda bioquímica de oxigênio (DBO) 0,10 Temperatura da água 0,10 Nitrogênio total 0,10 Fósforo total 0,10 Turbidez 0,08 Resíduo total 0,08 Fonte: Adaptado de ANA (2022). A seguir, apresenta-se uma descrição de cada um dos respectivos parâ- metros do IQA. � pH: expressa a concentração de íons de hidrogênio na solução, sendo indicador do seu grau de acidez ou basicidade (TELLES; COSTA, 2007). Com ele, é possível saber a quantidade de produtos químicos neces- sários para sua coagulação, bem como o seu padrão de emissão em corpos receptores (MACÊDO, 2001). Parâmetros de indicadores para qualidade da água6 � Turbidez: definida como o grau de interferência com a passagem da luz através da água, dando uma aparência turva. � Fósforo: em elevadas concentrações, acaba favorecendo a produção de fitoplâncton (MACÊDO, 2001). Sua origem nas águas está relacionada com despejos domésticos e/ou industriais, detergentes, excrementos de animais e fertilizantes agrícolas. � DBO5: é fundamental para medir o peso (por volume unitário de água) do oxigênio dissolvido utilizado no decorrer do processo biológico de degradação de materiais orgânicos (PELLACANI, 2011). A DBO consiste na quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica presente na água por meio da decomposição microbiana aeróbia. Em laboratório, a DBO5 é medida a partir da quantidade de oxigênio consu- mido durante cinco dias, em uma temperatura de 20°C (BITTENCOURT; PAULA, 2014). Altos valores de DBO são provocados normalmente pelo lançamento de esgoto doméstico na água e podem levar à eutrofização da água, ou seja, ao crescimento exagerado das algas, que formam um "tapete" de algas e impedem a troca de gases com a atmosfera. Como consequência, tem-se a diminuição da quantidade de O2 dissolvido, causando a mortandade de peixes e/ou outros organismos aquáticos (BITTENCOURT; PAULA, 2014). � Coliformes termotolerantes: subgrupo das bactérias do grupo coli- forme (CONSEMA nº 128/2006), também conhecidas como coliformes fecais, apresentam as características do grupo; no entanto, a uma temperatura de incubação maior, são indicadores de contaminação fecal (MACÊDO, 2001); � Temperatura: é importante salientar que todo recurso hídrico apre- senta variação de temperatura durante o dia e durante as diferentes estações do ano. No entanto, o lançamento de efluentes com tempe- raturas elevadas normalmente é a principal causa do favorecimento do crescimento de algas. A temperatura, segundo Bittencourt e Paula, (2014), influencia vários parâmetros físico-químicos da água, como a tensão superficial e a viscosidade. Parâmetros de indicadores para qualidade da água 7 � Nitrogênio total: da mesma forma que a DBO, os nutrientes e o fósforo, os valores elevados de nitrogênio normalmente ocorrem devido ao lançamento de esgoto doméstico e efluentes industriais nas águas. Como consequência desses valores elevados, tem-se a eutrofização, prejudicando o abastecimento público (as algas podem vir a entupir e danificar os equipamentos de tratamento), a recreação e a preservação da vida aquática. Segundo Bittencourt e Paula (2014), o nitrogênio pode ocorrer nas formas de nitrogênio orgânico, amoniacal, nitrito e nitrato. Os nitratos são tóxicos aos seres humanos, podendo causar a meta-hemoglobinemia infantil, que é letal para crianças. � Oxigênio dissolvido (OD): em geral, é oriundo da dissolução do oxigênio atmosférico, natural ou artificialmente, e da produção liberada por alguns microrganismos vivos na água, como algas e bactérias. O nível de disponibilidade de OD na água dependerá do balanço entre a quantidade consumida por bactérias para oxidar a matéria orgânica (fontes pontuais e difusas) e a quantidade produzida no próprio corpo d’água por meio de organismos fotossintéticos e de processos de aeração natural e/ou artificial. Se o balanço do nível de OD permanecer negativo por tempo prolongado, o corpo d’água pode tornar-se anaeróbico (ausência de oxigênio), causando a geração de maus odores, o crescimento de outros tipos de bactérias e a morte de diversos seres aquáticos aeróbicos, inclusive peixes (BITTENCOURT; PAULA, 2014). � Resíduo total: consiste no material que permanece após a evaporação, secagem ou calcinação de uma determinada amostra de água, durante determinados tempo e temperatura. Em altas quantidades, os resíduos totais podem ocasionar o assoreamento do recurso hídrico, o que não apenas afeta a vida aquática, mas traz prejuízos econômicos, devido ao aumento do risco de enchentes e à dificuldade de navegação. Mas quem é responsável por monitorar e analisar o IQA? A ANA (2022) faz esse trabalho e conta com uma rede hidro-meteorológica com mais de 2.700 postos pluviométricos e 1.900 postos fluviométricos, que fornecem os dados relacionados à quantidade de água, e cerca de 2.400 pontos de monitoramento relacionados à qualidade. Parâmetros de indicadores para qualidade da água8 O monitoramento das águas pode ter diferentes objetivos, conformeBittencourt e Paula (2014): � monitoramento básico — para acompanhar a evolução da qualidade das águas; � inventários — para estabelecer um diagnóstico da qualidade das águas de um trecho específico do curso d’água; � vigilância — para avaliar a qualidade das águas para um uso determi- nado (especialmente para consumo humano); � conformidade — para observar o atendimento dos usuários aos re- quisitos legais. Para saber mais sobre o funcionamento da qualidade da água em território nacional, acesse o site da Agência Nacional de Águas (ANA). Classes de água A qualidade da água está relacionada diretamente à qualidade de vida das pes- soas e ao meio ambiente. Se a água estiver inadequada ao consumo humano, ela poderá se comportar como um dos principais veículos de transmissão de doenças (PRATTE-SANTOS; TERRA; BARBIÉRI, 2008). Outro fator importante é que a qualidade das águas é fundamental para a manutenção dos sistemas aquáticos. Qualquer alteração que ocorra poderá causar prejuízos ambientais e econômicos enormes, como a redução da atividade pesqueira, o aumento do custo de aquisição da água e do tratamento, além de perdas sociais, como a proibição de atividades de recreação no recurso hídrico (BILICH; LACERDA, 2005). Os parâmetros são utilizados na caracterização da qualidade da água e indicam a quantidade de impurezas presentes na água e se estão ou não de acordo com os instituídos para um determinado uso. Quando falamos em qualidade de água, é impossível não mencionarmos suas classes de água. Para isso, precisamos compreender a Resolução Conama nº 357/2005, que teve alguns trechos alterados pelas resoluções Conama n° 393/2007, n° 397/2008, n° 410/2009 e n° 430/2011. No entanto, a Resolução Conama nº 357/2005 ainda está em vigor, sendo um importante parâmetro legal que rege a qualidade das águas em território Nacional (BRASIL, 2005). Parâmetros de indicadores para qualidade da água 9 A Resolução Conama nº 357/2005: “Dispõe sobre a classificação dos cor- pos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências” (BRASIL, 2005, documento on-line). Seu artigo 2º classifica as águas em (BRASIL, 2005): � águas doces (rios e lagos) — águas com salinidade igual ou inferior a 0,5 %; � águas salobras (estuários ou lagoas) — águas com salinidade superior a 0,5% e inferior a 3%; � águas salinas (mar) — águas com salinidade igual ou superior a 3%. Cada classificação de água apresenta um conjunto de usos, ou seja, um conjunto de condições e padrões de qualidade de água necessários ao aten- dimento dos usos preponderantes, atuais ou futuros. A seguinte classificação é adotada: � águas doces — classe especial, classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4; � águas salobras — classe especial, classe 1, classe 2 e classe 3; � águas salinas — classe especial, classe 1, classe 2 e classe 3. Para a classe especial, não existem padrões máximos de poluentes, pois tal classificação é referente às águas naturais, sendo o seu uso para própria manutenção do ecossistema ou como forma de abastecimento para con- sumo humano, além de garantir a preservação das comunidades e ambientes aquáticos. Para as demais classes, se atribuem padrões (valores máximos) visando ao grau de potabilidade da água para um determinado uso. As águas doces, salobras e salinas em território brasileiro foram classificadas segundo a qua- lidade requerida para diferentes fins. Isso quer dizer que quanto melhores os parâmetros da água, melhor classificação ela terá (classe 1). Por consequência, quanto pior a qualidade da água, pior será sua classificação (classes 3 e 4 para água doce e classes 2 e 3 para águas salinas e salobras). O Quadro 3 apresenta as principais classificações da água relacionadas aos seus usos. Parâmetros de indicadores para qualidade da água10 Quadro 3. Classes da água de acordo com seus usos Águas doces Usos Classes Esp. 1 2 3 4 Consumo humano Abastecimento com desinfecção Abastecimento com tratamento simplificado Abastecimento com tratamento convencional Abastecimento com tratamento convencional ou avançado Proteção e preservação Equilíbrio natural em comunidades aquáticas Ambientes aquáticos em comunidade de conservação e proteção integral (UCPI). De comunidades aquáticas Comunidades aquáticas em terras indígenas Recreação Contato primário conforme Conama 274/2000 (natação, esqui aquático, mergulho, etc.) Contato secundário Irrigação Hortaliças consumidas cruas e frutas rente ao solo Hortaliças, plantas, parques, jardins com contato direto Culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras Aquicultura e atividades de pesca Pesca amadora Dessedentação de animais (Continua) Parâmetros de indicadores para qualidade da água 11 Águas doces Usos Classes Esp. 1 2 3 4 Navegação Harmonia paisagística Águas salinas Usos Classes Esp. 1 2 3 Proteção e conservação Equilíbrio natural das comunidades aquáticas Ambientes aquáticos em comunidade de conservação e proteção integral (UCPI) Das comunidades aquáticas Recreação Contato primário conforme Conama 274/2000 (natação, esqui aquático, mergulho, etc.) Contato secundário Aquicultura e atividades de pesca Pesca amadora Navegação Harmonia paisagística Águas salobras Usos Classes Esp. 1 2 3 Consumo humano com tratamento convencional ou avançado (Continua) (Continuação) Parâmetros de indicadores para qualidade da água12 Águas salobras Usos Classes Esp. 1 2 3 Proteção e conservação Equilíbrio natural das comunidades aquáticas Ambientes aquáticos em comunidade de conservação e proteção integral (UCPI) Das comunidades aquáticas Recreação Contato primário conforme Conama 274/2000 (natação, esqui aquático, mergulho, etc.) Contato secundário Irrigação Hortaliças consumidas cruas e frutas rente ao solo Hortaliças, plantas, parques, jardins com contato direto Aquicultura e atividade de pesca Pesca amadora Navegação Harmonia paisagística Fonte: Stein (2017, p. 63). Especificamente falando das classes e dos usos permitidos para a água doce, a Resolução Conama nº 357/2005 define da seguinte forma (BRASIL, 2005): � Classe especial: é uma água que praticamente não sofreu alterações devido às atividades antrópicas, ou seja, os parâmetros físicos, quí- micos e microbiológicos são os mesmos encontrados na natureza. Dentre os usos permitidos para essas águas estão o consumo humano (desde que haja uma desinfecção para eliminar eventuais organismos patogênicos), bem como toda e qualquer atividade que tenha contato (Continuação) Parâmetros de indicadores para qualidade da água 13 direto. No entanto, essas águas devem ser preservadas, não podendo ser lançado nenhum tipo de efluente/rejeito. � Classe 1: são águas utilizadas para o abastecimento humano (desde que haja ao menos um tratamento simplificado). Poderá haver também atividades de recreação e lazer, com contato direto, como natação, mergulho, dentre outras. Essa água também pode ser utilizada para irrigação de lavouras/culturas agrícolas. � Classe 2: da mesma forma que a classe 1, essa água pode ser utilizada para o abastecimento humano (desde que haja um tratamento con- vencional). O contato direto, como natação, esqui aquático e mergulho, está liberado, assim como a irrigação de hortaliças, plantas frutíferas, parques e jardins. Ainda na classe 2, a pesca está liberada, sem haver prejuízos à saúde humana. � Classe 3: os usos permitidos caem significativamente devidoaos con- taminantes presentes na água. O abastecimento para consumo humano é permitido, desde que haja um tratamento convencional ou avançado. A irrigação ainda é possível, mas apenas no que se refere a culturas arbóreas (eucaliptos, pinus, dentre outros), cerealíferas e forrageiras. A pesca ainda é liberada, mas apenas de forma amadora, não mais sendo permitida para fins econômicos. A dessedentação animal é permitida, porém a água pode causar prejuízos aos animais. � Classe 4: devido à grande quantidade de poluentes, as águas podem ser utilizadas apenas para a navegação e harmonia paisagística. “Quanto pior a classe de um rio, maior o grau de tratamento necessário dessa água para consumo humano e, consequentemente, mais oneroso” (STEIN, 2017, p. 62). Quando o rio apresenta classe 4, os custos de tratamento para o consumo humano são extremamente elevados, visto que apresenta uma enorme quantidade de contaminantes. Infelizmente, no Brasil, os recursos hídricos muitas vezes acabam sendo utilizados para o despejo de efluentes. Além disso, as cidades situadas a montante de um rio tendem a poluir as águas que serão utilizadas pelas cidades a jusante, o que acaba resultando cada vez mais em aumento da poluição (CALIJURI; CUNHA, 2019). Analisar a qualidade das águas e determinar os usos permitidos se tornam tarefas essenciais para a saúde da população. Sabe-se que a água, ao ser consumida sem tratamento, pode ser uma porta para várias patologias. Assim, os parâmetros definidos no IQA buscam não apenas analisar a qualidade da Parâmetros de indicadores para qualidade da água14 água (e o grau de contaminação), mas contribuir para identificar o melhor tipo de tratamento para ela. Referências ANA. Indicadores de qualidade: Índice de Qualidade das Águas (IQA). Brasília: Ana, 2022. Disponível em: http://pnqa.ana.gov.br/indicadores-indice-aguas.aspx. Acesso: 3 jul. 2022. BILICH, M. R.; LACERDA, M. P. C. Avaliação da Qualidade da Água do Distrito Federal (DF), por Meio de Geoprocessamento. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 12, 2005. Goiânia. Anais do Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. Goiânia: INPE, 2005. p. 2059-2065. BITTENCOURT, C.; PAULA, M. A. S. Tratamento de água e efluente. São Paulo: Érica, 2014. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução Conama nº 357, de 15 de junho de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Brasília: Conama, 2005. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/cepsul/images/stories/legislacao/ Resolucao/2005/res_conama_357_2005_classificacao_corpos_agua_rtfcda_altrd_re s_393_2007_397_2008_410_2009_430_2011.pdf. Acesso em: 3 jul. 2022. CALIJURI, M. C.; CUNHA, D. G. F. Engenharia ambiental: conceitos, tecnologias e gestão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019 MACÊDO, J. A. B. Águas e águas. São Paulo: Livraria Varela, 2001. PELLACANI, C. R. Poluição das águas doces superficiais & responsabilidade civil. 6. ed. Curitiba: Juruá, 2011. PRATTE-SANTOS, R.; TERRA, V. R.; BARBIÉRI, R. S. Perspectivas da avaliação da qualidade da água em rios por intermédio de parâmetros físicos, químicos e biológicos. Natureza On Line, v. 6, n. 2, p. 63-65, 2008. RICHTER, C. A.; NETTO, J. M. A. Tratamento de água: tecnologia utilizada. 6. ed. São Paulo: Blücher, 2005. STEIN, R. T. Manejo de bacias hidrográficas. Porto Alegre: SAGAH, 2017. TELLES, D. A.; COSTA, R. H. P. G. Reuso da água, teorias e práticas. São Paulo: Blücher, 2007. VON SPERLING, M. Introdução a qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2005. v. 1. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito- res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Parâmetros de indicadores para qualidade da água 15 Dica do professor A água é o recurso natural mais importante para a manutenção da vida na Terra. Estabelecer parâmetros envolvidos na determinação da qualidade da água contribui para a garantia de água potável e da qualidade aos consumidores. Nesta Dica do Professor, você irá encontrar um breve comentário a respeito de cada um dos principais parâmetros, com base nos requisitos apreciados pela CETESB. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/9e6ff1492d035666855d5d8d3cf21ec3 Exercícios 1) Qual é a importância do parâmetro oxigênio dissolvido (OD) na qualidade da água? A) O OD é vital para a preservação da vida aquática. B) O OD regula o metabolismo de várias espécies aquáticas. C) O OD influencia vários parâmetros físico-químicos da água. D) O OD é importante nutriente para os processos biológicos. E) O OD atenua a passagem de um feixe de luz sobre a água. 2) É normal que os corpos d’água apresentem variações na temperatura, principalmente ao longo do dia e das estações do ano. Porém, o lançamento de efluentes com altas temperaturas pode causar impactos significativos. Quais são eles? A) A redução ou a eliminação de bactérias. B) Os impactos sobre seu crescimento e a reprodução dos organismos aquáticos. C) Os impactos sobre a turbidez da água. D) Os impactos sobre a diversidade de organismos. E) A qualidade da água para consumo humano. 3) Marque a alternativa que define “eutrofização”. A) É quando ocorre a elevação nas taxas de nutrientes na água, causando a morte de organismos aquáticos. B) Grande quantidade de nutrientes nos corpos d’água, junto com outros nutrientes, tais como o fósforo, causam um crescimento excessivo das algas, processo conhecido como eutrofização. C) É quando ocorre a elevação nas taxas de nutrientes na água, causando alteração na diversidade de organismos aquáticos. D) Grande quantidade de bactérias nos corpos d’água, junto com outros fatores, tais como pH entre 8,5, causam um crescimento excessivo das algas, processo conhecido como eutrofização. E) É quando ocorre a elevação nas taxas de OD na água, causando a morte de organismos aquáticos. 4) A turbidez é o grau de redução que um feixe de luz sofre para atravessar a água. Essa redução ocorre pela presença, em grandes quantidades, de sólidos em suspensão na água. Cite principais causas. A) A principal causa é o lançamento de efluentes fora dos parâmetros estabelecidos em legislação. B) A principal causa é o lançamento de esgoto doméstico sem tratamento adequado. C) A principal causa é a atividade de mineração entorno. D) A principal causa é a erosão dos solos causado pela agricultura. E) A principal causa é a erosão dos solos, as atividades de mineração, o lançamento de esgotos e de efluentes industriais. 5) A Cetesb adaptou e desenvolveu o Índice de Qualidade das Águas (IQA), incorporando nove parâmetros considerados relevantes para a avaliação da qualidade das águas, tendo como determinante principal a sua utilização para abastecimento público. Quais são esses parâmetros? A) Temperatura da amostra, pH, OD, demanda química de oxigênio (cinco dias, 20o C), coliformes fecais, nitrogênio total, fósforo total, resíduo total. B) Temperatura da amostra, pH, OD, demanda química de oxigênio (cinco dias, 20o C), coliformes fecais, cromo total, fósforo total, resíduo total e turbidez. C) Temperatura da amostra, pH, OD, demanda química de oxigênio (cinco dias, 20o C), coliformes fecais, nitrogênio total, cálcio total, resíduo total e turbidez. D) Temperatura da amostra, pH, OD, demanda química de oxigênio (cinco dias, 20o C), coliformes fecais, nitrogênio, carbono, cálcio total,resíduo total e turbidez. E) Temperatura da amostra, pH, OD, demanda bioquímica de oxigênio (cinco dias, 20o C), coliformes fecais, nitrogênio total, fósforo total, resíduo total e turbidez. Na prática Imagine-se na condição de responsável pela gestão ambiental de uma estação de tratamento de água, realizando uma entrevista para contratação de um estagiário para executar ações de monitoramento da eficiência da ETE. Sendo assim, está explicando para o candidato que as funções estão relacionadas a medições diárias (duas vezes ao dia) de alguns indicadores de qualidade da água, como: Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/675cd76e-c253-4f03-9a49-53bf542d2b61/e8f757f5-5d80-46c5-a97a-0108b281363a.jpg Além disso, será também responsável por acompanhar as coletas, realizadas por laboratório de análises químicas já contratado, mantendo um planejamento de coletas periódicas com base na licença de operação. Essas informações deverão ser compiladas em um relatório operacional, o qual você será responsável por avaliar e por entregar semestralmente ao órgão licenciador. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Análise crítica por comparação entre modelos de qualidade de água aplicados em rios poluídos: contribuições à saúde, água e saneamento Este artigo discute a dispersão no ambiente da matéria orgânica presente no esgoto doméstico a partir de modelos oxigênio dissolvido-demanda bioquímica de oxigênio (OD-DBO). O modelo relaciona a poluição de corpos d'água por matéria orgânica e a queda dos níveis de OD. Dá-se destaque à modelagem de diferentes tipos de lançamentos da carga poluidora, com a apresentação de quatro tipos, e os efeitos sobre a capacidade de autodepuração do corpo d’água, a partir de dois padrões de transporte apresentados pelo corpo receptor; primeiramente, para uma vazão menor e, posteriormente, havendo um incremento de vazão. CUNHA, Cynara de Lourdes da Nóbrega and FERREIRA, Aldo Pacheco. Análise crítica por comparação entre modelos de qualidade de água aplicados em rios poluídos: contribuições à saúde, água e saneamento. Eng. Sanit. Ambient. [online]. 2019, vol.24, n.3, pp.473-480. Disponível em: Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Qualidade físico-química e microbiológica da água em reservatórios subterrâneos na cidade de Vitória da Conquista- BA para fins de pota-bilidade O presente estudo teve como objetivo avaliar e apresentar os resultados do monitoramento da qualidade físico-química e microbiológica da água subterrânea da cidade de Vitória da Conquista, localizada no sudoeste da Bahia, verificando sua conformidade com a legislação. DOURADO, A. A. et al. Águas Subterrâneas - Seção Estudos de Caso e Notas Técnicas, 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-41522019000300473&lng=en&nrm=iso Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Qualidade da água do reservatório Jaime Umbelino – barragem do Poxim/Sergipe O reservatório de Jaime Umbelino está situado na cidade de São Cristóvão/Sergipe, Nordeste do Brasil, e foi projetado como uma alternativa a mais para garantir o abastecimento normal de água para a grande Aracaju pelos próximos 20 anos, atendendo a uma população estimada em 800.000 pessoas. Neste artigo, você confere a qualidade da água proveniente desse reservatório. NEVES, M. dos A.; ALVES, J. do P. H.; FONSECA, L. C.; MACEDO, L. C. B. (2016). Qualidade da água do reservatório Jaime Umbelino – barragem do Poxim/Sergipe. Interfaces Científicas - Saúde E Ambiente, 5(1), 81-94. https://doi.org/10.17564/2316-3798.2016v5n1p81-94 disponível em: Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Rio Doce: riscos e incertezas a partir do desastre de Mariana (MG) Este artigo busca identificar a problemática que emerge do desastre de discutir as consequências do sentimento de incerteza e analisar a pertinência do desastre de Mariana como objeto de investigação, sem desconsiderar o papel da mídia na sua construção como evento. ESPINDOLA, Haruf Salmen; NODARI, Eunice Sueli and SANTOS, Mauro Augusto dos. Rio Doce: riscos e incertezas a partir do desastre de Mariana (MG). Rev. Bras. Hist. [online]. 2019, vol.39, n.81, pp.141-162. Disponível em:. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://aguassubterraneas.abas.org/asubterraneas/article/view/29156/18866 https://periodicos.set.edu.br/saude/article/view/3729/pdf_36 https://www.scielo.br/pdf/rbh/v39n81/1806-9347-rbh-39-81-141.pdf A Água no Brasil O Brasil é um país privilegiado no que diz respeito à quantidade de água. Sua distribuição, porém, não é uniforme em todo o território nacional. A degradação da água gerada pelas ações antrópicas é a principal causa de preocupação com sua presença futura. Neste vídeo, você encontrará informações relevantes sobre essa temática. MEDICAL TV. A água no Brasil. YouTube. 2018. Disponível em: Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/iwIsDhaB8QQ
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