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As técnicas de intervenção utilizadas no desenvolvimento organizacional SST Ardigo, Rafaela Mota As técnicas de intervenção utilizadas no desenvolvimen- to organizacional / Rafaela Mota Ardigo Ano: 2020 nº de p.: Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 13 3 As técnicas de intervenção utilizadas no desenvolvimento organizacional Apresentação O apoio da alta cúpula organizacional é o primeiro passo para garantir um processo de desenvolvimento organizacional bem-sucedido. Isso ocorre porque, quando os principais tomadores de decisão de uma empresa demonstram real interesse no processo de mudança, ele dificilmente não acontecerá. Portanto, acima de tudo, a mudança é uma decisão estratégica. Nesta unidade, poderemos evidenciar que o papel do gestor de recursos humanos ou qualquer outro gestor ou área que estejam envolvidas no processo de mudança também são figuras fundamentais no desenvolvimento organizacional. Desenvolvimento organizacional A partir do planejamento realizado com os altos escalões da organização, o consultor atuará juntamente com os gestores ou administradores, ajudando-os no processo de diagnóstico, planejamento e desenvolvimento de ações eficazes a partir do problema identificado. Eles atuarão como administradores do processo, ou seja, serão os donos das ações desenvolvidas e os principais responsáveis pela execução do planejamento desenvolvido na prática. São essas pessoas que trabalharão no dia a dia da organização, desenvolvendo equipes e ações para a melhoria do clima organizacional. Por fim, a figura do consultor, seja ele interno, seja externo, está relacionada à intermediação do processo de mudança. Schein (1972) elabora esse conceito muito bem. Vamos ver o que ele diz? A importância da diagnose em conjunto deriva do fato de que raramente o consultor pode conhecer suficientemente a organização ou aprender o bastante a seu respeito para saber, com segurança, qual o melhor curso de ação que deveria ser recomendado para um particular grupo de pessoas, com os seus particulares conjuntos de tradições, estilos e personalidades [...] O papel do consultor consiste em ensinar técnicas de diagnose e de 4 resolução de problemas, mas ele próprio não deve se envolver na solução do problema real. É importante ressaltar que o consultor não é o dono do processo, mas sim o intermediador da mudança. A pessoa responsável pela resolução do problema é o administrador e não o consultor. Nunca esqueça disso! Esse conhecimento poderá lhe ajudar bastante em sua caminhada profissional, independentemente da posição que você ocupa no processo de mudança organizacional. Principais técnicas utilizadas no desenvolvimento organizacional Técnicas de intervenção para indivíduos Técnias de intervenção para equipes ou grupos Técnicas de intervenção para relações intergrupais Técnicas de intervenção para organizações como um todo Fonte: Adaptada de Chiavenato (2003). Técnicas de intervenção para indivíduos Conforme Chiavento (2003),as técnicas de intervenção para os indivíduos são as mais utilizadas para o desenvolvimento organizacional. Todos nós quando estamos dentro de um grupo, que pode ser no ambiente de trabalho, na igreja em que professa a fé, nos clubes ou organizações que participa, no partido político ou na família, nos comportamos de determinada maneira e impactamos as pessoas à nossa volta. 5 O impacto que geramos nas pessoas acontece sempre, mas é percebido em maior grau quando atuamos como líderes, formais ou informais, dentro do grupo. Ele pode ser percebido tanto de forma positiva como de forma negativa. Imagine que você, como gestor da equipe do novo segmento de vendas da organização, - lembra dos jogos online para celulares, certo?, assume a responsabilidade por um grupo de pessoas com características e hábitos bem diferentes da equipe anterior. A equipe de vendas que você gerenciava antes era constituída por pessoas mais velhas e experientes, em sua grande maioria que possuíam famílias e, portanto, um nível de responsabilidade sobre o bem-estar delas. Eram pessoas de uma geração que tinha aprendido a aceitar as decisões hierarquicamente superiores como normais. Não costumavam questionar as decisões e nem as tarefas que lhes eram designadas, tendo em vista que isso não era visto de forma negativa pelo grupo. Pelo contrário, era um grupo que tinha fortes laços de amizade e você, pela sua responsabilidade e desenvoltura dentro da organização ao longo dos anos, era observado como um líder e muito estimado por todos. Não possuía só o cargo de gerente, a sua liderança tinha sido legitimada pelo grupo. Em seu novo desafio, você assume um grupo mais jovem, em que a grande maioria são ainda estudantes ou pessoas que acabaram de se formar. Um grupo com um bom nível educacional e, apesar da pouca idade, já com uma experiência profissional e acadêmica considerável. Diferentemente da sua equipe anterior, esse grupo se caracteriza por uma geração acostumada a questionar. Para eles, o trabalho não faz sentido se não souberem as razões pelas quais estão realizando determinada função. Além disso, são pessoas com muitas ambições profissionais e o nível de competição entre elas é bastante elevado. 6 Nova geração de profissionais Fonte: Deduca, 2020. Muitos desses jovens eram estagiários ou funcionários de uma empresa muito conhecida no mercado pelo alto nível de autonomia que concede aos seus funcionários. Na comunicação, ela utiliza diversas tecnologias atuais, além de ter um ambiente informal que preza pela conversa franca e aberta entre os membros do grupo na tomada de decisão. Essa empresa é a atual líder no segmento que você será responsável e tem um estilo de liderança predominante democrático. Perfis bem diferentes, certo? Pois bem, não é à toa que nesse grupo você está encontrando algumas dificuldades, considerando que já tinha se habituado ao grupo de trabalho anterior e distribuído as tarefas de forma aleatória, pois acredita que isso não faz diferença no resultado final do trabalho. Além disso, toma todas as decisões baseado no seu conhecimento e experiência, uma vez que ouvir as opiniões das pessoas não é um hábito que você adquiriu. Inicialmente, você estava resistente a aceitar esse novo padrão de comportamento do grupo. Por essa razão, está enfrentando muitas resistências do grupo de trabalho. Nesse sentido, não consegue compreender porque isso está acontecendo e não se sente nada bem na situação, afinal, nesse grupo, apesar de você ser o chefe, ainda não foi legitimado como um líder. 7 A resistência à mudança é algo comum dentro das organizações e pode atingir indivíduos dos mais diferentes níveis hierárquicos. Quando ela existe, é muito normal identificar dentro dos grupos um clima negativo, caracterizado pela apatia, desengajamento e desinteresse, comportamentos que, ao longo dos anos, consolidam-se e passam a fazer parte da cultura organizacional, tornando a empresa cada vez menos eficaz. Quer aprofundar seus conhecimentos com relação a resistência a mudança? Recomendamos que assista ao vídeo Uma guerra oculta a gestão da mudança e reflita: https://www.youtube.com/ watch?v=7lsVRoasxRI. Saiba mais Como mudar essa situação? Você e sua organização, com a ajuda do consultor, poderão optar pelas técnicas de intervenção para indivíduos. Vamos conhecê-las? Técnicas utilizadas T-Groups e laboratórios de sensitividade Conforme Chiavenato (2003), essa é a principal técnica utilizada no desenvolvimento organizacional. Influência do comportamento individual nos resultados do grupo Fonte: Elaborada pela autora (2020). https://www.youtube.com/watch?v=7lsVRoasxRI https://www.youtube.com/watch?v=7lsVRoasxRI 8 O autor nos ensina que essa técnica consiste em treinar a sensitividade das pessoas pela modalidade de dinâmica de grupo. As pessoas que participam dela são estimuladas a reeducar o seu comportamento com o intuitode melhorar o impacto que possuem sobre o comportamento do grupo no qual atuam. Esses grupos de treinamento e aprendizado, também conhecidos como T-Groups, são geralmente constituídos por cerca de dez indivíduos e, por meio da orientação de um psicólogo, são estimulados a aumentar o seu nível de sensibilidade com relação às suas relações interpessoais. Mas, como isso ocorre? Por meio de um ambiente controlado por profissionais especializados, que costuma ser chamado de laboratório de sensitividade, as pessoas participam de diversas reuniões ao longo de um período e são convidadas a diagnosticar o comportamento alheio e o seu próprio dentro do grupo. Como resultado, o objetivo é que as pessoas desenvolvam o autoconhecimento sobre seu próprio comportamento e a consciência de como ele pode impactar os diferentes perfis. Geralmente, essa técnica é desenvolvida dentro da organização de cima para baixo, ou seja, começam nos membros do alto escalão e depois vão sendo aplicadas aos outros níveis hierárquicos da organização. Técnica iniciada no alto escalão e passada aos outros níveis Fonte: Deduca, 2020. 9 Ela pode enfrentar alguns problemas. Pessoas que ainda não passaram pelo processo de aprendizado poderão interpretar a mudança do comportamento da cadeia hierárquica superior que já passou pelo treinamento e mudou de comportamento de forma negativa. Por exemplo, as pessoas podem achar em um primeiro momento que aquela mudança é pura falsidade. Portanto, se algum dia você se deparar com essa técnica, tenha paciência. Ela é um processo lento, porém, eficiente para o desenvolvimento organizacional através da mudança efetiva na cultura da organização. Transacional Outra técnica usada é a análise transacional que, apesar de envolver dois ou mais pessoas, ela tem como objetivo mudar o comportamento individual pela melhoria da qualidade da comunicação. É conhecida como desenvolvimento organizacional bilateral ou de relações interpessoais, sendo uma das técnicas para mudança de comportamento individual mais aplicada pelas organizações. Chiavenato (2003) aponta que, segundo a análise transacional, as pessoas possuem o que a psicologia chama de egos, ou seja, três estados de espírito ou padrões de comportamento dominantes: a figura do pai, da criança e do adulto. A figura do pai se caracteriza pelo sentimento de proteção ou dominação sobre o grupo. Geralmente, ela está associada a comportamentos moralizantes, em que prevalece a ideia de que, quem não obedecer, deverá ser punido de alguma forma. Na figura da criança, predominam os sentimentos de fragilidade e insegurança. Quando esse estado de espírito está ativado ou é predominante, as pessoas agem de forma infantil, o que é expressado pelo choro e por sentimentos de necessidade de proteção. 10 Já a figura do adulto é a do ego maduro e independente. Nesse “estado do eu”, predomina o raciocino lógico e a construção de relações construtivas para o bom relacionamento. A técnica de análise transacional consiste em ensinar aos membros da organização como se comunicar com cada tipo de ego. É importante ressaltar que esses egos podem emergir dependendo da situação ou serem inerentes à personalidade ou ao estágio de vida de uma pessoa. Isso quer dizer que todos nós podemos nos comportar de forma a assumir cada um desses três tipos de “estados do eu”. Isso dependerá da situação que se apresenta e da nossa personalidade. Conforme Chiavenato (2003), existem basicamente dois tipos de transações que ocorrem entre esses diferentes egos: as transações paralelas e as transações cruzadas. As transações paralelas são aquelas em que as pessoas se ajustam ao estado de espírito do outro e utilizam uma forma de comunicação que seja eficiente para aquela situação ou pessoa. A relação paralela busca encontrarmos a melhor solução para resolver o problema nos colocando no lugar do outro. Quatro egogramas típicos de transações paralelas Pai Pai A B Adulto Adulto Criança Criança A B Pai Pai Adulto Adulto Criança Criança A B Pai Pai Adulto Adulto Criança Criança A B Pai Pai Adulto Adulto Criança Criança Gerente A (pai): Estes supervisores acham que já conhecem tudo! Gerente B (pai): Sim, mas logo descobrirão que ainda têm muito a aprender! Supervisor A (pai): Vocês devem fazer hora extra amanhã! Subordinado B (criança): Não é justo! Por que devo fazer horas extras aos domingos? Chefe A (adulto): Creio que hoje é o dia da apresentação do seu relatório. Empregado B (adulto): Sim. Deveria estar pronto hoje à tarde, quando o apresentarei. Empregado A (criança): Não virei trabalhar amanhã, porque tenho vontade de passear. Empregado B (criança): Então, eu vou com você. Fonte: Chiavenato (2003, p. 388). 11 Entretanto, as transações entre esses diferentes estados de espírito também podem ocorrer de forma cruzada ou bloqueada, isto é, quando as pessoas não buscam se comunicar de forma a respeitar o estado de espírito do outro. Esse tipo de relação costuma gerar um clima organizacional ruim, pois acomunicação é pouco eficaz. Três egogramas típicos de transações cruzadas ou bloqueadas Pai Pai A B Adulto Adulto Criança Criança A B Pai Pai Adulto Adulto Criança Criança A B Pai Pai Adulto Adulto Criança Criança Supervisor A (pai): Mande providenciar o conserto daquela máqui- na. Seja bacana. Supervisor B (criança ferida que reage à posição do pai). Não me dê ordens. Mande você mesmo. Empregado (adulto): Sinto haver me atrasado. Meu ônibus sofreu um acidente. Supervisor (pai): Procure não repeti-lo outra vez. Não devia morar tão longe da cidade! Chefe (adulto): O relató- rio de ventas estará pronto amanhã? Subordinado (criança): Nem pense, estou tão ocupado que nem sei por onde começar. Fonte: Chiavenato (2003, p. 388). De acordo com Chiavenato (2003), a técnica transacional busca de forma ideal conseguir estabelecer relações de adulto para adulto. Isso significa que, para o desenvolvimento organizacional, o importante é encontrar um equilíbrio, em que as pessoas ajam de forma racional, madura e lógica frente às adversidades que podem surgir no ambiente de trabalho. Técnicas de intervenção para equipes ou grupos O autor afirma que, para o desenvolvimento organizacional, existem duas técnicas principais para a intervenção em equipes ou grupos: a consultoria de procedimentos e o desenvolvimento de equipes. Consultoria de procedimentos Na consultoria de procedimentos, o objetivo é desenvolver grupos mais sensíveis aos relacionamentos existentes dentro dos grupos pela intervenção de um consultor que pode ser interno ou externo à organização, dependendo da estratégia e do nível de amadurecimento da empresa. 12 Para Chiavenato (2003), por meio das técnicas, para fazer o grupo interagir, o intuito do consultor é estabelecer um grupo mais coeso com relação às suas metas, objetivos e, acima de tudo, aos seus sentimentos. Fechamento Nesta unidade, conseguimos analisar as diferentes ferramentas para auxílio no desenvolvimento organizacional, uma vez que, através delas, podemos evoluir e facilitar o dia a dia das empresas. Isso porque a emoção das pessoas dentro do grupo impactará a confiança, a criatividade e a tomada de decisão do grupo em colaborar ou não com a organização. Vimos que o comprometimento dos indivíduos com a organização é muito influenciado pelo clima existente no grupo de trabalho em que atua. 13 Referências CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria Geral da Administração: Uma visão abrangente da moderna administração nas organizações. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. SCHEIN, E. H. Consultoria de Procedimentos: seu papel no desenvolvimento organizacional. 1. ed. brasileira. São Paulo: Editora Edgar Blucher LTDA, 1972.
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