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TRANSPORTE ATRAVÉS DA MEMBRANA O movimento de moléculas dentro e entre os compartimentos do corpo é necessário para a comunicação. Esse movimento requer vários mecanismos de transporte. Alguns necessitam de uma fonte externa de energia (como o ATP), ao passo que outros processos de transporte usam apenas a energia potencial ou cinética presente no sistema. A forma mais geral de transporte biológico é o fluxo de massa de fluidos dentro de um compartimento. A principal diferença entre os dois fluidos (líquidos e gases) é que os gases são compressíveis e os líquidos, sobretudo a água, não são compressíveis. !!!Pense em apertar um balão com água!!! No fluxo de massa, um gradiente de pressão faz o fluido fluir de regiões de pressão mais alta para regiões de pressão mais baixa. O sangue movendo-se pelo sistema circulatório é um excelente exemplo de fluxo de massa. O coração atua como uma bomba que gera uma região de alta pressão, empurrando o sangue. O fluxo de ar nos pulmões é outro exemplo de fluxo de massa que vamos aprender em fisiologia. Outros tipos de transporte são mais específicos que o fluxo em massa. Os mecanismos de transporte que relembramos na primeira aula incluem transporte passivo (difusão simples, difusão facilitada e osmose) e transporte ativo (primário e secundário). Muitas moléculas se movem livremente dentro de um compartimento do corpo, porém a troca entre os compartimentos intracelular e extracelular é restrita pela membrana plasmática. Se uma substância entra ou não em uma célula, depende das propriedades da membrana celular e das propriedades da substância. As membranas celulares apresentam permeabilidade seletiva, o que significa que algumas moléculas podem as atravessar, mas outras não. Algumas moléculas, como oxigênio, dióxido de carbono e lipídeos, movem-se facilmente através da maioria das membranas celulares. Por outro lado, os íons, a maioria das moléculas polares e as moléculas muito grandes são transportadas com mais dificuldade ou podem não o ser de modo algum. Duas propriedades de uma molécula influenciam no seu movimento através das membranas celulares: o seu tamanho e a sua solubilidade em lipídeos. As moléculas muito pequenas e apolares (como os gases, O2 e CO2) podem atravessar diretamente através da bicamada fosfolipídica. Moléculas pequenas e polares (como a água e a ureia) conseguem atravessar a bicamada lipídica com dificuldade, mas também o fazem com o auxílio de proteínas transmembrana. As grandes moléculas polares (como a glicose), em geral, não entram ou saem de uma célula, a menos que a célula tenha proteínas de membrana específicas para as transportar. As moléculas carregadas só conseguem atravessar a membrana com o auxílio de proteínas de transporte, visto que a bicamada lipídica é completamente impermeável a elas. A difusão pode ser definida como o movimento de moléculas a partir de uma área de maior concentração para uma de baixa concentração dessas moléculas. Se você deixa um frasco de perfume aberto e depois percebe sua fragrância pela sala, é porque as moléculas aromáticas do perfume se difundiram de onde estavam mais concentradas (no frasco) para onde estavam menos concentradas (na sala). A difusão tem as seguintes propriedades: - A difusão é um processo passivo. Por passivo, queremos dizer que o processo não requer energia de alguma fonte externa. A difusão usa somente a energia cinética que todas as moléculas possuem. - As moléculas movem-se de uma área de maior concentração para uma área de menor concentração. A diferença na concentração de uma substância entre dois locais é chamada de gradiente de concentração ou químico. As moléculas difundem-se da maior concentração para a menor concentração. Quanto maior o gradiente, mais rápido ocorre a difusão. - O movimento efetivo de moléculas ocorre até que a concentração seja igual em todos os lugares. Uma vez que as moléculas de uma dada substância estejam distribuídas uniformemente, o sistema atinge o equilíbrio, e a difusão cessa. As moléculas individuais ainda estão se movendo em equilíbrio, mas para cada molécula que sai de uma área, uma outra entra. O estado de equilíbrio dinâmico em difusão significa que a concentração se igualou em todo o sistema, mas as moléculas continuam a se mover. - A difusão é rápida em curtas distâncias, mas muito mais lenta em longas distâncias. O que significa para os sistemas biológicos o fato de a taxa de difusão ser lenta em longas distâncias? Em seres humanos, os nutrientes levam cinco segundos para difundirem-se do sangue para uma célula que está a 100 μm de distância. A essa velocidade, levaria anos para os nutrientes difundirem-se do intestino delgado até as células do primeiro dedo do pé (hálux). Para superar as limitações da difusão à distância, os organismos usam vários mecanismos de transporte que aceleram o movimento de moléculas (sistema circulatório). Um ponto importante a ser observado: os íons não se movem por difusão, embora você leia e ouça sobre íons “difundindo-se através das membranas”. Difusão é o movimento aleatório a favor do gradiente de concentração. O movimento de íons é influenciado por gradientes elétricos pela atração de cargas opostas e repulsão de cargas similares. Por essa razão, os íons movem-se em resposta ao gradiente elétrico e de concentração combinados, ou gradiente eletroquímico. O movimento eletroquímico é um processo mais complexo do que a difusão, que resulta somente de um gradiente de concentração, e os dois processos não devem ser confundidos. Apenas moléculas solúveis em lipídeos (lipofílicas) podem se difundir pela bicamada lipídica. A água e muitos nutrientes vitais, íons e outras moléculas que se dissolvem em água são lipofóbicas, ou seja, elas não se dissolvem em lipídeos. Para essas substâncias, o centro lipídico hidrofóbico da membrana celular age como uma barreira que não permite a sua travessia. As substâncias lipofílicas que podem atravessar a membrana se movem por difusão. A difusão direta através da bicamada fosfolipídica de uma membrana é denominada difusão simples. Em geral, apenas lipídeos, esteroides e pequenas moléculas lipofílicas podem mover-se através da membrana por difusão simples. Uma exceção importante para essa afirmação diz respeito à água. A água, embora seja uma molécula polar, pode difundir-se lentamente através de algumas membranas fosfolipídicas. O quão facilmente a água passa através da membrana depende da composição da bicamada fosfolipídica. Por exemplo, a membrana celular de alguns segmentos dos túbulos renais é essencialmente impermeável à água, a menos que as células insiram canais de água (aquaporinas) na bicamada fosfolipídica. A maior parte do movimento da água através das membranas ocorre por proteínas-canal. A taxa de difusão através da membrana é diretamente proporcional à área de superfície da membrana. Em outras palavras, quanto maior a área da superfície da membrana, mais moléculas podem difundir-se através dela por unidade de tempo. Esse fato pode parecer óbvio, mas tem importantes implicações na fisiologia. Um exemplo notável de como uma mudança na área de superfície afeta a difusão é a doença pulmonar denominada enfisema. À medida que o tecido pulmonar é destruído, a área de superfície disponível para a difusão de oxigênio diminui. Como consequência, menos oxigênio pode mover-se para dentro do corpo. O fluxo de uma molécula através de uma membrana depende do gradiente de concentração e da permeabilidade da membrana à molécula. Lembre-se que os princípios da difusão se aplicam a todas as membranas biológicas, não apenas à membrana celular. A difusão de materiais para dentro e para fora de organelas segue as mesmas regras. A difusão de um soluto sem carga pela membrana é proporcional ao gradiente deconcentração do soluto, à área de superfície de membrana e à permeabilidade da membrana a este soluto. No corpo, a difusão simples através das membranas é limitada a moléculas lipofílicas. Em sua maioria, as moléculas do corpo são lipofóbicas ou são eletricamente carregadas e, por isso, não podem atravessar a membrana por difusão simples. Em vez disso, a grande maioria dos solutos atravessa as membranas com a ajuda de proteínas da membrana, em um processo denominado transporte mediado. Se o transporte mediado é passivo e move as moléculas a favor do gradiente de concentração, e se o transporte líquido cessa quando as concentrações são iguais em ambos os lados da membrana, o processo é chamado de difusão facilitada. Se o transporte mediado por proteínas requer energia do ATP ou de outra fonte externa e transporta uma substância contra o seu gradiente de concentração, o processo é chamado de transporte ativo. Proteínas de transporte movem moléculas através da membrana. Uma forma de classificar essas proteínas reconhece dois principais tipos: canais e carreadoras. As proteínas-canal criam poros que diretamente ligam o meio intracelular com o compartimento extracelular. As proteínas carreadoras, também chamadas de transportadoras, ligam-se aos substratos que são carreados por elas, porém nunca formam uma conexão direta entre os líquidos intracelular e extracelular. Os carreadores estão abertos para um lado da membrana ou para o outro, mas não para ambos os lados simultaneamente, como nas proteínas canal. As proteínas-canal são nomeadas de acordo com as substâncias às quais elas são permissivas. A maioria das células possui canais de água formados por uma proteína chamada de aquaporina. Além disso, mais de 100 tipos de canais iônicos foram identificados. As proteínas-canal são como portas estreitas para a célula. Se a porta está fechada, nada pode passar através dela. Se a porta está aberta, há uma contínua passagem entre as duas salas conectadas por ela. O estado aberto ou fechado de um canal é determinado por regiões das moléculas das proteínas que atuam como “portões” de vaivém. Os canais podem ser classificados de acordo com seus portões, se estão geralmente abertos ou fechados. portões. Os canais abertos são também chamados de canais vazantes ou poros, como em poros de água. Os canais com portão passam a maior parte do tempo em um estado fechado, o que permite que esses canais regulem o movimento de íons que passam através deles. O que controla a abertura e o fechamento dos canais com portão? Para canais com portão controlados quimicamente, o portão é controlado por moléculas mensageiras intracelulares ou por ligantes extracelulares que se ligam ao canal proteico. Os canais com portão dependentes de voltagem abrem e fecham quando o estado elétrico da célula muda. Por fim, os canais com portão controlados mecanicamente respondem a forças físicas, como um aumento de temperatura ou pressão que aplica tensão na membrana e faz o portão do canal se abrir. Você encontrará muitas variações desses tipos de canais à medida que estudar fisiologia. As proteínas carreadoras ligam-se com substratos específicos e os transportam através da membrana pela modificação da sua conformação. Pequenas moléculas orgânicas (como glicose e aminoácidos), que são muito grandes para passar através de canais, cruzam as membranas utilizando carreadores. Íons como Na+ e K+ podem se mover por carreadores, assim como por canais. A mudança de conformação requerida por uma proteína carreadora torna este modo de transporte transmembrana muito mais lento que o movimento através das proteínas canal. As proteínas carreadoras podem transportar moléculas através da membrana em ambas as direções, como uma porta giratória de um hotel, ou elas podem restringir seu transporte a uma direção, como uma catraca em um parque de diversões que permite que você saia do parque, mas não permite que entre. A molécula a ser transportada se liga ao carreador em um dos lados da membrana (o lado extracelular, no exemplo). Esta ligação muda a conformação da proteína carreadora, de forma que a abertura se fecha. Depois de uma transição breve, na qual ambos os lados são fechados, o lado oposto do carreador abre-se no outro lado da membrana. O carreador, então, libera a molécula transportada para o compartimento oposto, tendo-a trazido através da membrana sem ter criado uma conexão contínua entre os compartimentos intracelular e extracelular. As proteínas carreadoras podem ser divididas em duas categorias, de acordo com a fonte de energia usada para o transporte. Como dito anteriormente, a difusão facilitada é um transporte mediado por proteínas no qual não existe fonte externa de energia, exceto que um gradiente de concentração é exigido para mover moléculas através da membrana celular. O transporte ativo é um transporte mediado por proteínas que requer uma fonte externa de energia, seja ATP ou energia potencial armazenada no gradiente de concentração que foi criado pelo uso de ATP. Moléculas polares atravessam a membrana celular por difusão facilitada, com o auxílio de proteínas. Íons, açúcares e aminoácidos são exemplos de moléculas que entram ou deixam as células utilizando a difusão facilitada. Por exemplo, a família de proteínas carreadoras chamadas de transportadores GLUT* transportam a glicose e outros açúcares pelas membranas. Os canais de Na+ permitem a entrada deste íon nas células. A difusão facilitada possui as mesmas propriedades da difusão simples. As moléculas transportadas movem-se a favor do seu gradiente de concentração, o processo não requer adição de energia externa e o movimento líquido cessa em equilíbrio, quando a concentração dentro da célula se iguala à de fora. O transporte ativo é um processo que transporta as moléculas contra os seus gradientes de concentração – isto é, de áreas de concentração mais baixa para áreas de concentração mais alta. Em vez de criar um estado de equilíbrio, quando a concentração da molécula é igual em todo o sistema, o transporte ativo cria um estado de desequilíbrio, tornando a diferença de concentração mais pronunciada. Transportar as moléculas contra o seu gradiente de concentração requer gasto de energia externa. A energia para o transporte ativo vem direta ou indiretamente das ligações fosfato ricas em energia do ATP. O transporte ativo pode ser dividido em dois tipos. No transporte ativo primário (direto), a energia que empurra as moléculas contra os seus gradientes de concentração vem diretamente das ligações fosfato de alta energia do ATP. O transporte ativo secundário (indireto) usa a energia potencial armazenada no gradiente de concentração de uma molécula para empurrar outras moléculas contra os seus gradientes de concentração. Todo transporte ativo secundário depende, em última análise, do transporte ativo primário, pois o gradiente de concentração que impulsiona o transporte secundário é criado a partir da energia do ATP. O mecanismo para ambos os tipos de transporte ativo parece ser similar ao da difusão facilitada. Para que possa ser transportado, o substrato liga-se a um carreador de membrana que, então, muda a sua conformação, liberando o substrato no compartimento oposto. O transporte ativo difere da difusão facilitada porque a mudança de conformação da proteína carreadora requer entrada de energia. A bomba de sódio-potássio é provavelmente a proteína de transporte mais importante em células animais, uma vez que mantém os gradientes de concentração de Na+ e K+ através da membrana celular. O transportador encontra-se disposto na membrana celular de modo que bombeia 3Na+ para fora da célula e 2K+ para dentro da célula para cada ATP consumido. Em algumas células, a energia necessária para moveresses íons utiliza 30% de todo o ATP produzido pela célula. O gradiente de concentração de sódio, com uma concentração alta de Na+ no líquido extracelular e baixa no interior da célula, é uma fonte potencial de energia que a célula pode aproveitar para outras funções. Por exemplo, os neurônios utilizam o gradiente de sódio para transmitir sinais elétricos, e as células epiteliais o utilizam para captação de nutrientes, íons e água. Os transportadores de membrana que utilizam energia potencial armazenada em gradientes de concentração para transportar moléculas são denominados transportadores ativos secundários. O transporte ativo secundário utiliza a energia cinética de uma molécula que se move a favor do seu gradiente de concentração para empurrar outras moléculas contra seus gradientes de concentração. As moléculas cotransportadas podem ir na mesma direção através da membrana (simporte) ou em direções opostas (antiporte). Os sistemas de transporte ativo secundário mais comuns são impulsionados pelo gradiente de concentração do sódio. Um exemplo de transporte ativo secundário é o realizado pelo simporte Na+- glicose (SGLT). Tanto o Na+ como a glicose se ligam à proteína SGLT no lado do líquido extracelular. O sódio liga-se primeiro, causando uma mudança conformacional na proteína que cria um sítio de ligação de alta afinidade para a glicose. Quando a glicose se liga ao SGLT, a proteína muda de conformação novamente e abre seu canal para o lado do líquido intracelular. O sódio é liberado para o LIC enquanto se move a favor do seu gradiente de concentração. A perda de Na+ a partir da proteína altera o local de ligação para a glicose, de modo que a glicose é liberada e segue o fluxo de Na+ para o citoplasma. O resultado final é a entrada de glicose na célula contra seu gradiente de concentração, acoplada ao movimento de Na+ para a célula a favor do seu gradiente de concentração. O SGLT consegue mover a glicose para as células apenas porque a glicose tem de seguir o gradiente de Na+. Proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo sem autorização prévia do autor.
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