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Sobre os instrumentos

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Sobre os instrumentos, os signos e a palavra
Na análise das relações entre o sujeito e o ambiente, tal como Piaget (1988) e outros estudiosos, Vygotsky (1998) enfatiza a importância dos diversos instrumentos, desde os mais simples até os mais complexos. O autor argumenta, alinhando-se com as ideias marxistas sobre os meios de produção e as concepções darwinianas sobre a evolução humana, que ao longo do desenvolvimento humano, os indivíduos empregam instrumentos que lhes permitem interagir com a realidade natural e social, explorando-a em benefício próprio e coletivo, ao mesmo tempo em que também se transformam. Nesse contexto, a evolução da inteligência prática ao longo da filogênese está intimamente entrelaçada não apenas com o domínio sobre a natureza, mas também com o controle sobre o próprio indivíduo. As narrativas da evolução do trabalho e da linguagem estão intrinsecamente ligadas e são interdependentes. O ser humano não apenas inventou ferramentas de trabalho para subjugar as forças naturais, mas também desenvolveu estímulos que direcionaram e regularam seu próprio comportamento na interação com essas forças, desempenhando assim um papel crucial na sua evolução (VYGOTSKY, 1998). Nesse contexto mais amplo, um instrumento pode ser definido como um meio, que pode ser físico ou mental, utilizado para alcançar um objetivo, que também pode ser de natureza material ou mental. Por exemplo, o uso de uma tesoura para cortar um fio ou a leitura de um material para se preparar para um seminário. Esses instrumentos atuam como intermediários que conectam o indivíduo que busca atingir um determinado objetivo (cortar ou preparar-se) com o ambiente que contém a condição desejada (a presença do fio ou do seminário). De acordo com as obras de Vygotsky (1998), é possível categorizar os instrumentos em três categorias distintas: 41 ➢ Instrumentos formados por ferramentas: tais instrumentos podem ser exemplificados como elementos naturais inalterados, aqueles que foram adaptados (como um galho modificado), ou ainda, como objetos fabricados (como uma pá) para realizar tarefas como a escavação de terra, por exemplo. ➢ Instrumentos de imitação: esses instrumentos incluem a observação das ações realizadas por outras pessoas ou animais, bem como fenômenos naturais e interações em grupos, que nos possibilitam replicá-las. Isso pode envolver a imitação de um personagem famoso, a imitação do som de um cachorro, a reprodução do rugido do vento, ou mesmo a replicação da sintonização de um rádio, por exemplo. ➢ Instrumentos constituídos por signos: nesse grupo, encontramos os sinais que indicam a presença de coisas, mas não as coisas em si. Esses sinais podem ser divididos em dois tipos: os ‘signos linguísticos’, que estão relacionados à linguagem, e os ‘signos não linguísticos’, que se baseiam nas características físicas das coisas. Por exemplo, um termo como ‘perigo’ em linguagem pode alertar para uma situação potencialmente prejudicial, enquanto um estrondo alto e repentino, sem a necessidade de palavras, pode indicar um possível acidente. É importante ressaltar que as duas primeiras formas instrumentais, são empregadas tanto por seres humanos quanto por algumas espécies animais. Por exemplo, um macaco pode aprender por conta própria a usar um pedaço de vara para alcançar um fruto distante, como foi demonstrado nas experiências de insight realizadas por Kohler com chimpanzés. Além disso, existe a imitação instintiva em animais, que os permite copiar ações de seus semelhantes para sobrevivência e adaptação, como o comportamento de caça em predadores. No entanto, é fundamental salientar que a semelhança na utilização de ferramentas por imitação entre animais e seres humanos é superada qualitativamente pelo ser humano.

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