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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Farmacocinética ......................................................... 3 3. Farmacodinâmica .....................................................12 Referências bibliográficas .........................................18 3FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA 1. INTRODUÇÃO Quando se trata de farmacologia, é importante compreender algumas propriedades dos medicamentos que são fundamentais para o sucesso do tratamento. Para se apropriar deste conhecimento, é essencial o estudo da farmacocinética e da farmacodi- nâmica. CONCEITO! A farmacocinética é a área da farmacologia responsável pelo estudo do caminho percorrido pelo medicamen- to no corpo, indo desde administração, absorção, distribuição, biotransformação até a excreção. Já a farmacodinâmica é o estudo da ação do medicamento no sítio de ligação, para que seu efeito desejado seja alcançado. DICA: FarmacoCinética é a ação do Corpo sobre a droga. FarmacoDinâmica é a ação da Droga sobre o corpo.] 2. FARMACOCINÉTICA Uma vez administrado por uma das várias vias disponíveis, o fármaco possui quatro propriedades farmaco- cinéticas (figura 1) que determinam a velocidade do início da ação, a inten- sidade do efeito e a duração da ação. CONCEITO! Absorção: processo pelo qual o agente terapêutico é transportado para o plas- ma sanguíneo (pode ser direta ou indi- retamente). Distribuição: processo através do qual o fármaco deixa a corrente sanguínea, passando para os tecidos (seja no in- terstício ou no interior das células). Biotransformação: processo de meta- bolização do fármaco, podendo ocorrer no fígado ou nos tecidos. Excreção: processo de eliminação do fármaco e seus metabólitos. Geralmente ocorre através da urina, das fezes ou da bile. 4FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Figura 1. Esquema, em ordem, das propriedades farmacocinéticas. Fonte: Adaptado de Clark, MA. Farmacologia Ilustrada. 5ª Ed. 2013. Fármaco no local da administração Absorção (entrada)1 Fármaco no plasma Fármaco e metabólito(s) na urina, na bile ou nas fezes Distribuição2 Biotransformação3 Excreção (saída)4 Fármaco nos tecidos Metabólito(s) nos tecidos Vias de administração A escolha adequada da via de admi- nistração é fundamental para a ade- são terapêutica e para a eficácia do tratamento. Com este objetivo, alguns critérios devem ser levados em conta: • Extensão do efeito desejado (local ou sistêmico); • Propriedades (lipo ou hidrossolu- bilidade) e forma (suspensão, solu- ção, drágea, cápsula, comprimido) do fármaco; • Necessidade de início de ação rápido; • Idade do paciente; • Tempo de tratamento. As principais vias de administração são: Via oral Esta é a via de administração mais comum, sendo a opção para fárma- cos líquidos e sólidos. Entre os líqui- dos estão as soluções e as suspen- sões, que têm seu uso priorizado para crianças, idosos e pacientes com sonda nasogástrica. Entre os sólidos há o comprimido, a drágea e a cápsula (figura 2). 5FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA a) b) c) Figura 2. Representação da diferença entre comprimido (a), drágea (b) e cápsula (c). O comprimido consiste em um pó (contendo o princípio ativo) compacta- do. Já a drágea se diferencia do com- primido por conter uma película exter- na que impede a degradação dos seus componentes no estômago, ou seja, na drágea, o objetivo é que o princípio ativo seja absorvido apenas no intesti- no delgado. A cápsula também possui um revestimento externo, porém este consiste em um material gelatinoso que objetiva facilitar a deglutição. Via sublingual Esta é uma via que oferece algumas vantagens quando comparada à via oral, entre elas: absorção muito mais rápida, evita metabolização hepática de primeira passagem, fração bio- disponível maior e efeito mais rápido. Como exemplo de medicamento ad- ministrado por esta via, há o dinitrato de isossorbida, um agente vasodila- tador utilizado na angina pectoris. Via parenteral Esta via é definida como a introdução de medicamentos diretamente em um compartimento ou cavidade do corpo, de forma a evitar as barreiras orgânicas (pele e mucosas). É utiliza- da principalmente em pacientes in- conscientes ou pouco colaborativos, que estejam com intolerância à dieta oral (náuseas, vômitos) e quando se deseja início rápido do efeito tera- pêutico. Entre as desvantagens estão: requer pessoal treinado e, geralmente, am- biente hospitalar, além de serem mé- todos mais invasivos. Esta via é subdividida em: Via intravenosa (IV) A injeção IV é vantajosa para admi- nistrar fármacos que podem causar irritação quando administrados por outras vias, porque o fármaco se dilui no sangue rapidamente. Porém, dife- rentes dos fármacos usados no trato gastrointestinal, os que são injetados por via IV não podem ser retirados por meio de estratégias como a ligação a carvão ativado. Via intramuscular (IM) Fármacos administrados por via IM podem estar em soluções aquosas que são absorvidas rapidamente ou em preparações especializadas de depósito que são absorvidas lenta- mente. 6FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Via subcutânea (SC) Essa via de administração, como a IM, requer absorção por difusão simples e é um pouco mais lenta do que a via IV. A injeção SC minimiza os riscos de hemólise ou trombose associados à injeção IV e pode proporcionar efeitos lento, constante e prolongado. A in- sulina é um exemplo de medicamento administrado por esta via. Via retal Esta via é uma alternativa à via oral para pacientes comatosos, nausea- dos e para crianças. Os medicamen- tos administrados por esta via podem ter ação local ou sistêmica, podendo ser na forma de enema ou de supo- sitório. Os enemas são soluções ou suspensões utilizadas principalmente para realização de exames radiológi- cos contrastados, enquanto os supo- sitórios podem ser usados para esti- mular a evacuação. Um aspecto relevante desta via é que, caso não se deseje que haja metabolização hepática de primeira passagem, o enema ou o supositó- rio deve ser inserido em região mais baixa. Isto porque, nesta região, a ab- sorção do medicamento se dá pelas veias hemorroidárias média e inferior, que drenam para a circulação sistê- mica. Já na região retal mais alta, a absorção ocorre através da veia he- morroidária superior, que drena para a circulação portal, o que submete o medicamento à metabolização hepá- tica de primeira passagem. Outras vias Há várias outras vias que são utiliza- das em casos específicos, entre elas: tópica, transdérmica, inalatória, vagi- nal, intra-arterial, epidural, peridural, intraóssea, intrassinovial e intratecal. Absorção Enquanto na via IV a absorção é com- pleta (100% da dose administrada chega à circulação sanguínea), nas demais vias esta absorção é parcial, o que reduz a biodisponibilidade do medicamento (ver conceito adiante). Fatores que influenciam na absorção de fármacos no trato gastrointestinal Alguns fatores interferem na absor- ção dos fármacos: pH Os fármacos, em geral, são bases ou ácidos fracos. Assim, cada um destes compostos sofre uma influência dife- rente pelo pH do ambiente da absor- ção. 7FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA HORA DA REVISÃO! Ácidos são substâncias que, em meio à água, liberam H+ (equação 1), enquanto as bases, neste mesmo meio, recebem H+ (equação 2). HA ↔ H+ + A- Equação 1 B + H+ ↔ BH+ Equação 2 Relembre que o equilíbrio das reações pode ser deslocado a depender do pre- domínio ou escassez de determinado reagente. A equação 1, por exemplo, quando ocorre em meio ácido (havendo um predomínio de H+), tem o seu equilí- brio deslocado para a esquerda, favore- cendo a formação de HA. Já na equação 2, quando em meio ao meio básico, há a presença de OH- e este consome o H+, levando à escassez deste e ao deslo- camento do equilíbrio da reação para a esquerda, favorecendo a formação de B. Um fármaco atravessa a membranaplasmática mais facilmente se ele es- tiver não ionizado, ou seja, a absorção é mais efetiva quando há predomínio das formas não ionizadas (HA e B) sobre as formas ionizadas (A- e BH+). De acordo com esta informação e com a revisão acima, é possível com- preender os meios em que a absor- ção de determinado fármaco é mais eficiente. Acompanhe: um fármaco ácido terá absorção melhor em meio ácido, uma vez que, nesta situação, há predomínio da sua forma não io- nizada (HA) que é absorvida mais fa- cilmente. Já um fármaco básico, a ab- sorção será melhor em meio básico, já que haverá deslocamento da equa- ção em direção à forma não ionizada (B), que atravessa a membrana mais facilmente. Desta forma, deduz-se também a lo- calização da absorção dos fármacos. Os ácidos serão absorvidos priorita- riamente no estômago, já que o suco gástrico é ácido. Enquanto isso, os fármacos básicos serão absorvidos, em sua grande parte, no intestino delgado, após ser misturado ao suco pancreático (básico). Fluxo de sangue no local da absorção O fluxo sanguíneo do local é direta- mente proporcional à absorção, dessa forma, como o fluxo de sangue para o intestino é muito maior do que o fluxo para o estômago, a absorção no in- testino é maior do que a que ocorre no estômago. Superfície disponível para absorção Quanto maior a superfície de contato com o fármaco, maior a sua absorção, de forma que, quando comparado ao estômago, o intestino delgado leva vantagem por possuir células com borda em escova e microvilosidades, o que torna sua superfície mil vezes maior. 8FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Tempo de contato com a superfície de absorção Quando o fármaco é deslocado muito rapidamente pelo trato gastrointes- tinal, este não é bem absorvido. Por outro lado, quando a passagem do fármaco do estômago para o intestino é retardada, a absorção também não será tão efetiva. Expressão da glicoproteína-P A glicoproteína-P é uma proteína transmembrana transportadora de várias moléculas, entre elas alguns fármacos. No intestino delgado, ela atua levando os fármacos de volta ao lúmen intestinal. Desta forma, em regiões em que há uma super ex- pressão desta proteína, a absorção é menor. Mecanismos de absorção A absorção no trato gastrointestinal é complexa e ocorre através de diferen- tes mecanismos: Difusão passiva Transporte que ocorre por meio de osmose, ou seja, é promovido através do gradiente de concentração, de for- ma que o fármaco passe da região de maior concentração (lúmen intestinal) para a de menor concentração (cito- sol das células entéricas). Neste me- canismo não há uso de transportador, os fármacos hidrossolúveis atraves- sam a membrana através de poros aquosos, enquanto os lipossolúveis atravessam por meio da sua dissolu- ção na bicamada lipídica. Difusão facilitada Transporte realizado através de pro- teínas transmembranas transporta- doras, que, ao sofrerem mudanças conformacionais, permitem a inter- nalização dos fármacos nas células entéricas. Este é um transporte que, apesar de ocorrer por meio de trans- portadores, também é promovido através do gradiente de concentração e, assim, não requer gasto de energia. Transporte ativo Através deste mecanismo, proteínas transportadoras transmembranas efetuam a passagem dos fármacos contra o gradiente de concentração, ou seja, do ambiente de menor con- centração para o de maior concen- tração, o que faz com que este seja um transporte que demanda gasto de energia. Esta, por sua vez, é pro- veniente da hidrólise do trifosfato de adenosina (ATP). Endocitose Este mecanismo de passagem é re- servado para fármacos que são ex- cepcionalmente grandes. Devido a esta desproporção do tamanho, as 9FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA moléculas são englobadas pela mem- brana plasmática e internalizadas por meio de uma vesícula. Biodisponibilidade A biodisponibilidade é definida como a fração da dose administrada que efetivamente é absorvida e chega à corrente sanguínea. Geralmente é expressada em percentual. Desta forma, caso 100 mg de determinado fármaco seja administrado por via oral e apenas 50 mg chegam inalterados à corrente sistêmica, a biodisponibili- dade é de 50%. Alguns fatores influenciam na biodis- ponibilidade dos fármacos. Entre eles: Biotransformação hepática de primeira passagem Na absorção a partir do trato gastroin- testinal, primeiro o fármaco entra na circulação portal para depois entrar na circulação sistêmica. Se o fármaco é rapidamente biotransformado no fí- gado ou na parede intestinal durante esta passagem inicial, a biodisponibi- lidade reduz, ou seja, a quantidade de fármaco inalterado que tem acesso à circulação sistêmica diminui. Solubilidade do fármaco Para que o fármaco seja bem absor- vido, ele deve ser levemente hidrofó- bico, possuindo alguma solubilidade em soluções aquosas. Isso porque, fármacos hidrofílicos não possuem a capacidade de atravessar as mem- branas lipídicas e os fármacos extre- mamente hidrofóbicos são totalmen- te insolúveis nos líquidos aquosos do organismo e, portanto, não têm aces- so à superfície das células. Instabilidade química Fármacos que facilmente sofrem al- terações na sua estrutura química, a partir da interação com o suco gás- trico ou com enzimas, têm menor ab- sorção e menor biodisponibilidade. Natureza da formulação do fármaco O tamanho da partícula, o tipo de sal, o polimorfismo cristalino, o revesti- mento entérico e a presença de exci- pientes podem influenciar a facilidade da dissolução e, por isso, alterar a ve- locidade de absorção. Distribuição O processo de passagem do fármaco do plasma sanguíneo ao interstício e, então, para as células teciduais de- pende principalmente do débito car- díaco e do fluxo sanguíneo regional, da permeabilidade capilar, do volume do tecido, do grau de ligação do fár- maco às proteínas plasmáticas e tis- sulares e da hidrofobicidade relativa do fármaco. 10FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Biotransformação O objetivo da biotransformação é transformar, por ação do fígado, os fármacos lipossolúveis em metabóli- tos hidrofílicos, para que seja possível a excreção pela via renal. As reações de biotransformação dos fármacos consistem em dois grupos gerais de reações. Estes são denominados rea- ções de fase I e fase II (figura 3). As reações da fase I, no geral, con- sistem em oxidações, reduções e/ou hidrólises a fim de transformar as mo- léculas lipofílicas em moléculas mais polares. Após esta fase, o fármaco me- tabolizado pode ter sua atividade au- mentada, reduzida ou inalterada. Estas reações podem ou não ser mediadas pelo citocromo P450, sendo mais co- mum o envolvimento deste sistema. As reações de fase II, por sua vez, consistem em conjugações entre o metabólito resultante da fase I e um substrato endógeno (como ácido gli- curônico, ácido sulfúrico, ácido acético ou aminoácido), de forma a produzir um composto hidrofílico e, em geral, inativo. Há fármacos que fogem desta linha cronológica de metabolização. Por exemplo, alguns entram diretamen- te na fase II, outros passam apenas pela fase I ( já que se tornam suficien- temente polarizados para serem eli- minados pelos rins após esta fase) e outros, como a isoniazida, passam pri- meiro pela fase II e depois pela fase I. Fármaco Fase I Fase II Oxidação, redução e/ou hidrólise Produtos de conjugação Após a fase I, o fármaco pode ser ativado, permanecer inalterado ou, com mais frequência, inativado. O fármaco conjugado geralmente é inativo. Alguns fármacos entram diretamente na fase II de biotransformação. Figura 3. Biotransformação dos fármacos. Fonte: Clark, MA. Farmacologia Ilustrada. 5ª Ed. 2013. Excreção A excreção, ou depuração, dos fárma- cos pode ser por via renal, fecal (se- jam os fármacos ingeridos por via oral e não absorvidos ou fármacos que fo- ram secretados diretamente no intes- tino ou na bile), pulmonar ou através do leite das lactantes. 11FARMACOCINÉTICAE FARMACODINÂMICA A via de excreção mais comum é a re- nal e para que os fármacos sejam eli- minados na urina, três processos são fundamentais: filtração glomerular, secreção tubular ativa e reabsorção tubular passiva. Na filtração glomerular, os fárma- cos livres (não ligados à albumina) atravessam as fendas dos capilares do plexo glomerular, chegando ao espaço de Bowman. Apesar de a li- possolubilidade e o pH não afetarem este processo, a velocidade de filtra- ção glomerular e a ligação a proteínas plasmáticas, como a albumina, po- dem reduzir a quantidade de fármaco que passa para o filtrado glomerular no espaço de Bowman. A parte dos fármacos que não foi fil- trada sai dos glomérulos por meio da arteríola eferente. Esta, por sua vez, forma um plexo em torno dos túbu- los proximais, através do qual ocorre secreção ativa dos fármacos. Dessa forma, há proteínas transportadoras transmembranas que fazem o trans- porte de cátions e ânions mediante gasto de energia (ATP). É importan- te ressaltar que prematuros e recém- -nascidos não têm esse mecanismo secretor tubular totalmente desen- volvido e, assim, podem reter certos fármacos. Ao chegar no túbulo contorcido distal, a concentração do fármaco aumentou a ponto de exceder a do espaço pe- rivascular, o que gera a reabsorção passiva (por osmose). Porém, ape- nas os fármacos neutros difundem-se para fora do lúmen e volta à circula- ção sistêmica. Desta forma, é possível reduzir a reabsorção e, consequente- mente, aumentar a excreção de fár- macos através da manipulação do pH. Usando a mesma lógica do desloca- mento do equilíbrio de reação (expli- cado anteriormente), entende-se que ácidos fracos podem ser eliminados em maior quantidade alcalinizando a urina, enquanto a eliminação de ba- ses fracas pode ser aumentada pela acidificação da urina. Outro fator que minimiza esta rea- bsorção é a biotransformação que os fármacos sofrem, pelo fígado, em metabólitos mais polares. Caso essa metabolização não ocorresse, os fár- macos lipossolúveis se difundiriam facilmente para fora do lúmen e vol- tariam para a corrente sanguínea, o que reduziria drasticamente a sua eli- minação pela urina. Meia-vida Alguns fármacos são eliminados mais rapidamente que outros. Esta velo- cidade é determinante para a meia- -vida, que é definida como o tempo necessário para que a concentração plasmática do fármaco reduza à me- tade. Algumas situações clínicas podem aumentar a meia-vida, entre elas: di- 12FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA minuição do fluxo sanguíneo renal ou hepático; diminuição na capacidade de extrair o fármaco do plasma, como na doença renal; e diminuição da bio- transformação, por exemplo, quando outros fármacos inibem a biotransfor- mação ou na insuficiência hepática. Na prática, isso significa que muitos medicamentos requerem ajuste da dose em caso de insuficiência hepá- tica ou renal. Há também situações em que há re- dução da meia-vida: aumento do flu- xo sanguíneo hepático; aumento da biotransformação; e menor ligação às proteínas plasmáticas. 3. FARMACODINÂMICA Este ramo da farmacologia estuda as várias maneiras (mecanismos de ação) como os fármacos agem sobre seus sítios-alvo para alcançar seus efeitos, desejados e indesejados. Local de ação Depois de terem sido administrados, absorvidos e distribuídos aos tecidos orgânicos, os fármacos encontram o seu local de ação: os receptores celu- lares, estejam eles presentes na su- perfície ou no interior das células. Assim, a interação fármaco-recep- tor nas células-alvo produz o efeito terapêutico desejado, enquanto que esta mesma interação em outras cé- lulas causa os efeitos colaterais. Em contrapartida, a depender da via de administração e das propriedades do fármaco, este pode atuar apenas em uma área específica do corpo. Mecanismos de ação Os mecanismos de ação, através dos quais os fármacos desencadeiam um efeito, são diversos, mas obedecem, de forma geral, a um mesmo conjun- to de etapas. A etapa inicial é ligação do fármaco ao receptor, formando o complexo fármaco-receptor (FR). Este, por sua vez é responsável por desencadear o processo de transdu- ção, ou seja, uma série de reações em cascata por meio de segundos men- sageiros, que resulta em uma respos- ta intracelular específica. Há receptores intracelulares e re- ceptores de membrana (transmem- brana). Entre estes estão os canais iônicos disparados por ligantes, re- ceptores acoplados à proteína G e receptores ligados a enzimas (figura 4). A formação do complexo FR com cada um destes receptores dá origem a reações diferentes, que serão abor- dadas agora. 13FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Canais iônicos transmembrana disparados por ligantes Os canais iônicos disparados por li- gantes são responsáveis pelo contro- le do fluxo de íons através das mem- branas celulares. Este controle se dá por meio da sua interação com ligan- tes. Quando os fármacos se ligam, os canais se abrem e permitem a entra- da ou a saída de íons, gerando alte- rações no potencial de membrana, o que pode desencadear, por exemplo, despolarizações ou hiperpolarizações das células. A resposta a estes receptores é bas- tante rápida (milissegundos)e diver- sas funções são intermediadas por meio deles, incluindo a neurotrans- missão, a condução cardíaca e a con- tração muscular. Receptores transmembrana acoplados à proteína G Esses receptores são constituídos de um peptídeo que tem sete regiões que se estendem através da mem- brana, sendo que o seu domínio ex- tracelular contém a área de fixação do ligante. A proteína G é composta por subunidades: a subunidade α (que se liga ao trifosfato de guanosina (GTP) ou difosfato de guanosina (GDT)) e a subunidade βγ. Quando é ocupado pelo ligante (fár- maco), o receptor passa a interagir com a proteína G no lado intracelu- lar, ativando-a. Assim, a subunidade α tem seu GDP substituído pelo GTP. Ocorre a dissociação da proteína G, e ambas as subunidades α-GTP e a subunidade βγ interagem com outros efetores celulares. Figura 4. Mecanismos de sinalização transmembrana. Fonte: Clark, MA. Farmacologia Ilustrada. 5ª Ed. 2013. 14FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Esta interação envolve a ativação da adenililciclase pelas subunidades α-GTP, a qual resulta na produção de monofosfato de adenosina cíclico (AMPc) - um segundo mensageiro que regula a fosforilação de proteínas. As proteínas G também ativam a fos- folipase C, que é responsável pela ge- ração de dois outros segundos men- sageiros, o trifosfato-1,4,5 de inositol (IP3) e o diacilglicerol (DAG). O IP3 é responsável pela regulação das con- centrações de cálcio intracelular livre, bem como de outras proteínas, en- quanto o DAG ativa várias enzimas, como a proteína quinase (PKC), no in- terior da célula, levando a uma série de efeitos fisiológicos. Efeitos estes que, em geral, duram de vários se- gundos até minutos. Receptores ligados a enzimas Estes receptores são compostos por diversos complexos de subunidades, que possuem, inclusive, ação enzimá- tica citosólica. Quando o fármaco se liga ao domínio extracelular, o recep- tor sofre alteração conformacional, passando da sua forma quinase inati- va para a ativa. O receptor ativado se autofosforila e fosforila os resíduos de tirosina em proteínas específicas. A introdução de um grupo fosfato pode modificar de modo substancial a estrutura tridimensional da proteí- na-alvo, atuando como um interrup- tor molecular que ativa múltiplas vias sinalizadoras. Este mecanismo ocor- re, por exemplo, com os receptores de insulina (figura 5) e a duração da res- posta a estes receptores é da ordem de minutos até horas. Figura 5. Mecanismo de ação dos receptores de insulina. Fonte: Clark, MA. Farmacologia Ilustrada. 5ª Ed. 2013. 15FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Receptores intracelulares O ligante destes receptores deve ser suficientemente lipossolúvel para que este se difunda pela membrana plasmática echegue até os recepto- res que estão localizados dentro das células. Uma vez formados os com- plexos FR, os alvos primários são os fatores de transcrição (localizados no núcleo da célula), que levam à trans- crição do DNA em RNA e à tradução do RNA em uma série de proteínas. Devido à modificação da expressão gênica e, por isso, da síntese proteica, as respostas celulares só são obser- vadas após um tempo considerável (30 minutos ou mais), e a duração da resposta (horas ou dias) é muito maior do que dos outros receptores. Exem- plos de receptores intracelulares são os receptores de hormônios esteroi- des e tireoidianos. Alguns aspectos da transdução de sinais A transdução de sinais tem dois as- pectos relevantes: a capacidade de amplificar sinais pequenos e a prote- ção da célula contra a estimulação ex- cessiva, por meio da dessensibilização dos receptores aos seus ligantes. Efeito A intensidade da resposta é propor- cional ao número de complexos FR, ou seja, a intensidade do efeito de- pende da concentração do fármaco no local do receptor que, por sua vez, é determinada pela dose do fármaco administrado e por fatores caracterís- ticos do perfil farmacocinético do fár- maco, velocidades de absorção, dis- tribuição e biotransformação. Há algumas propriedades relaciona- das ao efeito do fármaco: Potência A potência é definida como a medida da quantidade de fármaco necessária para produzir um efeito de uma dada intensidade. Para a determinação da potência analisa-se a concentração do fármaco que produz 50% do efei- to máximo. Entre dois fármacos (A e Z), se para alcançar metade do efeito máximo, o fármaco Z requer concentração maior que o fármaco A, pode-se afirmar que o fármaco A é mais potente que o Z, já que uma concentração inferior é capaz do mesmo efeito. Eficácia A eficácia diz respeito à habilidade do fármaco de provocar a resposta far- macológica quando interage com um receptor, ou seja, um fármaco é mais eficaz que outro quando possui efeito terapêutico máximo superior ao outro. 16FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA MAPA MENTAL - FARMACODINÂMICA Receptores intracelulares Mecanismo de ação FARMACODINÂMICA Efeito Local de ação Receptores ligados a enzimas Receptores transmembrana acoplados à proteína G Canais iônicos transmembrana disparados por ligantes Potência Eficácia Receptores celulares Superfície das células Interior das células 17FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA MAPA MENTAL - FARMACOCINÉTICA Farmacocinética Absorção Mecanismos BiotransformaçãoDistribuição Excreção Vias de administração BiodisponibilidadeInfluenciada por Tempo de contato Fluxo sanguíneo Superfície disponível Expressão de glicoproteína-P pH Transporte ativo Difusão facilitada Difusão passiva Endocitose Fator hepático Instabilidade química Solubilidade Natureza Fase I Fase II Moléculas lipídicas em moléculas polares Conjugação para produção de composto hidrofílico Retal Parenteral Oral Sublingual IV IM SC Renal Fecal Pulmonar Leite das lactantes Hidrofobicidade DC Fluxo sanguíneo Permeabilidade capilar Volume do tecido Grau de ligação à proteínas 18FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SILVA, Penildon. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. BRUNTON, Laurence L. et al (Edt.). Goodman & Gilman manual de farmacologia e tera- pêutica. Porto Alegre: AMGH, 2010. CLARK, Michelle A; FINKEL, Richard; REY, Jose A; WHALEN, Karen. Farmacologia ilustra- da. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. 19FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA
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