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Maria Laura C. Tonhon DEFINIÇÃO Infecção que acomete o endocárdio (região mais interna do coração, em contato com o sangue, dentro das cavidades). Estruturas valvares fazem parte do endocárdio, além de defeitos septais (ex. CIV) e dispositivos (ex. marcapasso). FISIOPATOLOGIA 1. Lesão endotelial: mais comum de acontecer em lugares com turbilhonamento de fluxo, ex. alguém que tenha um dispositivo intracardíaco, ou lesão valvar prévia (ex. estenose) etc. 2. Essa lesão irá causar a endocardite trombótica não bacteriana (ETNB), formando-se trombos (se há lesão, tem que ter cicatrização, ativando a cascata de coagulação e formando trombos). 3. Bacteremia transitória: bactérias eventualmente que estão no sangue (ex. quando escovamos os dentes e passamos fio dental, as bactérias entram em contato com o sangue), passam pela região da ETNB. 4. Colonização e formação de biofilme: essas bactérias são passageiras, mas algumas vezes podem permanecer naquela região, recrutar novas bactérias e formar um biofilme. Dessa forma, se instaura a endocardite infecciosa. EPIDEMIOLOGIA Nos países ricos, o principal fator de risco é cirurgia valvar, enquanto nos países mais pobres, é mais comum o fator de risco ser febre reumática. Outros fatores de risco incluem valvopatias, prótese valvar, dispositivo cardíaco eletrônico implantável (DCEI, ex. marcapasso, cardiodesfibrilador etc.), usuários de drogas IV, EI prévia, cardiopatias congênitas (ex. defeitos de septo podem predispor ao turbilhonamento de fluxo). QUADRO CLÍNICO A EI pode ser dividida em aguda e subaguda. EI aguda: ocorre em dias, pode se apresentar como sepse. EI subaguda: ocorre em semanas, pode se apresentar como uma febre (quadro inespecífico, pode ser diagnosticada como febre de origem a esclarecer). Sintomas mais comuns: • Febre (90%); • Sopros (85%); • Sintomas constitucionais: mal-estar, mialgia, fraqueza, quadro arrastado, perda de energia e de apetite. FENÔMENOS IMUNOLÓGICOS Maria Laura C. Tonhon Bactérias no endocárdio podem causar reações imunológicas que levarão a lesões de pele, como nódulos subcutâneos (nódulos de Osler, palpa da mão e planta do pé), além de manchas de Roth (lesão hemorrágica com centro pálido). FENÔMENOS EMBÓLICOS (VASCULARES) Hemorragias conjuntivais, hemorragias de Splinter (no leito ungueal) e lesões de Janeway (manchas que ocorrem em palma da mão e planta do pé). - Nódulos de Osler (dedos) e lesões de Janeway (palma da mão). MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS Insuficiência cardíaca é o mais comum, e pode estar relacionado a insuficiência valvar. Pode-se ter também abscesso perivalvar (desconfiar em pacientes com BAVs e bacteremia persistente, quando a hemocultura segue positiva mesmo com antibiótico). - Ocorre BAV pois se há abscesso perivalvar o nodo AV será acometido, ocasionando o BAV. COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS Aneurismas micóticos (relacionado com a infecção), meningoencefalite, AVC isquêmico por embolia e hemorragias. COMPLICAÇÕES RENAIS Infarto/abscesso e glomerulonefrite por imunocomplexos. EMBOLIZAÇÃO SÉPTICA Pode haver embolização pulmonar, daí se suspeita da valva tricúspide e pulmonar, e é menos comum, mas é mais comum em usuários de droga IV (mais comumente tem bacteremias sistêmicas que vão para lado direito do coração). Embolia esplênica: abscesso esplênico. DIAGNÓSTICO CRITÉRIOS DE DUKE MODIFICADOS Maiores: Cultura positiva; ECO com vegetação; Sopro novo (sopro de regurgitação; não vale piora de sopro antigo). Menores: Predisposição; Imunológicos; Febre; Embólicos; Microrganismos atípicos (que não preenchem critério maior). EI definitiva: 2M, 1M + 3m; 5m. EI possível: 1M + 1m; 3m. HEMOCULTURA POSITIVA Para Streptococcus viridans, Staphylococcus aureus, Streptococcus gallolyticus (S. bovis), grupo HACEK, Enterococcus sp. ECOCARDIOGRAMA Vegetação, abscesso e deiscência de prótese. PREDISPOSIÇÃO Maria Laura C. Tonhon Aqueles pacientes que possuem fatores de risco, ex. usuários de drogas, uso de dispositivos ou valvulopatias. FENÔMENOS IMUNOLÓGICOS Glomerulonefrite, aumento de fator reumatoide, nódulos de Osler, manchas de Roth. FENÔMENOS EMBÓLICOS/VASCULARES Embolia séptica, hemorragia conjuntival, lesões de Janeway. SITUAÇÕES ESPECÍFICAS EI aguda: o principal causador é S. aureus. EI subaguda: o principal causador é o S. viridans. Prótese precoce (< 1 ano): S. aureus e S. epidermidis. Prótese tardia (>1 ano): S. viridans (mais comum da nossa flora bucal). Valva nativa (paciente não fez troca valvar): S. viridans. Procedimento em TGU ou TGI: Enterococcus sp. Usuário de drogas IV: Staphylococcus aureus. Câncer colorretal: Streptococcus gallolyticus (S. bovis). - Se paciente com endocardite por S. bovis mas sem diagnóstico de câncer de colorretal, é importante fazer a investigação. TRATAMENTO A primeira coisa que se deve saber é se a válvula é nativa ou se é prótese valvar. Valva nativa: 4-6 semanas de tratamento. EI subaguda (S. viridans): Penicilina ou Ampicilina ou Ceftriaxone + Gentamicina. TGU/TGI (Enterococo): Penicilina ou Ampicilina + Gentamicina. EI aguda ou uso de drogas IV (S. aureus): Oxacilina (MSSA – sensível à Meticilina) e Vancomicina (MRSA – resistente à Meticilina). *Meticilina é a Oxacilina. - Paciente sem internação recente, sem nenhum fator de risco, melhor começar com Oxacilina. Se for paciente com internação recente ou fator de risco, melhor começar com Vancomicina e esperar sair a hemocultura. - Não fazer gentamicina de rotina se for S. aureus! Sempre considerar ATB VO se boa evolução. Estudos mais recentes comprovam que pacientes com boa evolução depois de tratamento com 7-10 dias com ATB EV, pode ser considerado tratamento VO domiciliar, mas são casos específicos, por isso considerar avaliação. Em caso de valva protética, o tratamento deve ser considerado por 6-8 semanas. - Se for uma prótese precoce (< 1 ano), considerar germes hospitalares (Estafilo coagulase -, que é o epidermidis): Vancomicina + Gentamicina + Rifampicina (a Rifampicina ajuda quando forma biofilme, como a prótese possui material mecânico ou biológico, e quando forma biofilme, ela ajuda no tratamento). - Se for uma prótese tardia (> 1 ano), pensar no S. viridans, e pode trocar Vancomicina por Ampicilina + Oxacilina (mas depois deve se guiar pelo resultado da hemocultura). PROFILAXIA Maria Laura C. Tonhon Pacientes de alto risco para desenvolver endocardite: EI prévia, prótese valvar e cardiopatia congênita cianogênica (ex. tetralogia de Fallot). Procedimentos de alto risco: odontológico com perfuração de gengiva (limpeza, extração dentária – S. viridans). Procedimento de risco intermediário: inclui TGI e TGU (ex. endoscopia, colonoscopia, cistoscopia etc.). importante entender o risco, pois a indicação de profilaxia é diferente no BR e no exterior (Europa e EUA só fazem profilaxia em pacientes de alto risco, mas o BR tem indicação mais ampla, indica em pacientes mesmo que não sejam de alto risco, ex. paciente com doença valvar moderada e vai fazer endoscopia com biópsia, BR indicaria). Não tem indicação: paciente que fez cirurgia de revascularização (ex. ponte de safena, pois isso não vai causar turbilhonamento de fluxo), paciente que colocou marcapasso ou CDI (apesar de ter um risco, não é o maior risco), Stent (Stent intracoronário não causa turbilhonamento de fluxo nem lesão endotelial), CIA isolada, prolapso de valva mitral sem regurgitação. COMO FAZER A PROFILAXIA? Primeira escolha: Amoxicilina 2g VO, 30-60min antes do procedimento. Em alérgicos pode usar Clindamicina, Azitromicina ou Claritromicina, ou Cefalxina (é uma cefalosporina, tem relação com Amoxicilina, portanto, se a alergia for grave, incluindo angioedema eintubação, evitar).
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