Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
i Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Anasarca Fetal no Bulldog Inglês Efeitos da alimentação na cadela grávida Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Isabel Maria Stella da Silva Orientador: Professora Doutora Rita Payan Carreira Composição do Júri: ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ Vila Real, 2013 ii “as doutrinas apresentadas neste trabalho são da inteira responsabilidade do autor” iii Agradecimentos Agradeço a todos os que estiveram presentes na minha vida e que tornaram possível este trabalho. À minha família, aos meus colegas e amigos pela sua presença, pelo companheirismo e incentivo. Agradeço com especial carinho, a: Minha família, mãe, Adelaide, Ana Maria, Carlos, Helena, Inês, Isabel, Joana, João, Jorge Stella, Jorge, Luís Miguel, Miguel, Miguel Stella, Paula, Paulo, Rita, Sílvia e Tiago Meus amigos, Ana Faustino André Mendonça António Fernandes Carlos Achando Celina Conde Daniela Cunha Dário Pereira Francisco Cardoso Jean-Baptist Berlier João Seabra Maria Melo Raquel Carvalho Rita Pires Rui Conde Sílvia Rachinhas Stéphannie Lima À minha orientadora, Professora Doutora Rita Payan Carreira iv Aos meus professores da UTAD Aos meus amigos companheiros de uma vida. E quão amigos, Bono, Puma, Micky e Peúga Aos meus bulldog, motivo da realização deste trabalho, Pilar, Pipa, Sancha, Judy, Zé Luís, Tó Zé e Boo A todos os que não constam aqui mas não foram esquecidos Todos sabem porquê Obrigada v “A man’s dog stands by him in prosperity and in poverty… He will kiss the hand that had no food to offer… He guards the sleep of his pauper master as if he were a prince. When all other friends desert, he remains.” George Graham Vest vi Resumo A anasarca fetal ou síndrome do bebé de água é uma síndrome relativamente frequente no Bulldog Inglês. Muitas são as condições genéticas e/ou ambientais que podem alterar a hemodinâmica materna e fetal resultando no desenvolvimento de edema. São também várias as condições ambientais uterinas, ainda que decorrentes da genética materna, que podem influenciar diretamente o movimento dos fluidos corporais fetais, ou indiretamente, causando lesões estruturais em órgãos como o coração ou rins, que culminarão, também, no desequilíbrio das forças de Starling. Neste trabalho procurou comparar-se o efeito da alimentação materna (dieta comercial vs preparado caseiro), em particular no que respeita aos teores de sal, na incidência de edema ou fenda do palato em ninhadas de Bulldog Inglês. As cadelas alimentadas durante a gestação com uma dieta à base de carne e arroz, suplementada com vitaminas, cálcio e ácido fólico, sem adição de sal, quando comparadas com cadelas alimentadas com rações comerciais, tiveram um menor número de cachorros com aquelas lesões. Os dados foram recolhidos por inquérito, passado a 29 criadores da raça bulldog, abrangendo um universo de 72 ninhadas com um total de 453 cachorros nascidos. Nestas ninhadas houve registo de 30,68% (139/453) fetos com anasarca e de 6,62% (30/453) com fenda do palato. A incidência de cachorros com anasarca foi claramente superior em crias nascidas de cadelas alimentadas com ração comercial, foi de 45,81% (126/275) comparativamente com os nascidos de cadelas alimentadas com carne e arroz que foi 7,30% (13/178). A anasarca é uma síndrome decorrente da interação de múltiplos fatores, em que a co-existência de certas condições favorece uma ação sinérgica nefasta na génese de lesões neuronais, capilares, cardíacas, renais ou hepáticas, ou ainda desencadeia alterações da osmolalidade plasmática fetal que estão, provavelmente, subjacentes ao número de indivíduos afetados. A reversão do edema em cachorros prontamente tratados após o nascimento, como testado ainda neste trabalho, suporta a hipótese de que a origem da síndrome, nestes cachorros, se encontra associado a efeitos ambientais durante a gestação, afastando a hipótese de um defeito genético. Para melhor compreender a fisiopatologia desta síndrome é fundamental rastrear as patologias que podem acompanhar a gestação e proceder ao estudo anatomopatológico, histológico e genético dos cachorros afectados. Palavras-chave: anasarca fetal, edema generalizado, diabetes mellitus gestacional vii Abstract Anasarca fetal or “water puppy syndrome” is a relatively common syndrome in English Bulldog. There are many genetic and/or environmental conditions that may alter the maternal and fetal hemodynamics resulting in the development of edema. Are also several uterine environmental conditions, arising from maternal genetic, that can directly influence the movement of bodily fluids or indirectly causing fetal structural lesions in organs such as the heart or kidneys, that will culminate, too, in the imbalance of forces Starling. This study sought to compare the effect of maternal nutrition (commercial diet vs prepared homemade), in particular as regards levels of salt, with the incidence of edema or cleft palate in litters of English Bulldog. Bitches fed during gestation with a diet of meat and rice, supplemented with vitamins, calcium and folic acid, no salt added, compared with dogs fed commercial diets, had a lower number of dogs with those injuries. The data were collected by inquiry from 29 Bulldog breeders covering a universe of 72 litters with a total of 453 puppies born. These litters produced 30,68% (139/453) fetuses with anasarca and 6,62% (30/453) with cleft palate. The incidence of dogs with anasarca was clearly superior in offspring born to female dogs fed with commercial ration was 45.81% (126/275) compared with those born from bitches fed with meat and rice was 7,30% (13/178). The anasarca is a syndrome resulting from the interaction of multiple factors, in which the coexistence of certain conditions favoring a synergistic action deplorable in the genesis of neuronal injury, capillaries cardiac, renal, or hepatic, or triggers changes in fetal plasma osmolality that are probably behind the number of individuals affected. The reversal of edema in pups handled promptly after birth, as tested in this work, supports the hypothesis that the origin of the syndrome in these pups is associated with environmental effects during pregnancy, ruling out the hypothesis of a genetic defect. To better understand a pathophysiology of this syndrome is critical to track the diseases that can accompany pregnancy and proceed to pathology, histological and genetic study of dogs affected. Key-words: fetal anasarca, generalized oedema, diabetes mellitus gestational viii Índice Geral: Agradecimentos ……..………………………….….…………………………………………………………....…...... v Resumo …………………………………………………………………………………………………………….…......... ix Abstract …………………………………………………………………………………………………………..….…....... x Índice Geral ………………………………………………………………………………………………………..…….... xi Índice de Figuras …………………………………………………………………………………………………......... xii Índice de Quadros ………………………………………………………………………………………….….......... xiii Índice de Tabelas ……………………………………………………………………………………………….……... xiii Índice de Anexos ………..………………………………………………..……………………………….………..... xiii Índice de Abreviaturas ………………………………………………………………………….…………..….…... xiv 1. INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………………………............ 1 1.1. Fisiologia da Troca de Líquidos ……………………………………………………........... 2 1.2. Forças de Starling e Equação de Starling ………………………………………….……. 3 1.3. Alterações Fisiológicas que Aumentama Filtração ……………………………..... 5 1.4. Regulação da Osmolalidade dos Fluidos Corporais ……………………………….. 6 1.4.1 Osmorregulação …………………………………………………………………………………. 6 1.4.2. Hormona Antidiurética ou Vasopressina .........………………………………….. 7 1.4.3. Regulação do Volume Extracelular e Excreção de NaCl …………………….... 7 1.4.4. Sensores de Volume e Variáveis Dependentes do Volume ………............ 8 1.4.5. Efectores do Controlo do Volume Extracelular …………………………………... 9 1.4.5.1. Actividade Simpática Renal e Níveis Catecolaminas Circulantes .. 9 1.4.5.2. Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona ………………………….…… 9 1.4.5.3. Factor Natriurético Auricular ……………………………………………….…. 10 1.4.5.4. Hormona Antidiurética ……………………………………………………….….. 10 1.5. Mecanismos da Formação de Edema ………………………………………………………. 11 1.6. Patofisiologia dos Edemas …………………………………………………....................…. 12 1.6.1 Edema Localizado ……………………………………………………………………………… 12 1.6.2. Mecanismos de Defesa Contra os Edemas …………………………………….…. 13 1.6.3. Edemas Generalizados ………………………………………………………………........ 13 1.6.4. Edema Renal ………………………………………………………………………………..….. 15 1.6.4.1. Edema Nefrítico ……………………………………………………………………... 15 1.6.4.2. Edema Nefrótico ………………………………………………………………….…. 16 1.6.5. Edema Cardíaco ……………………………………………………………………………..... 17 1.6.6. Edema Causado por Hipoproteínemia …………………………………………..…. 18 1.6.7. Linfedema ………………………………………………………………………………………… 19 1.6.8. Edema por Reacção Alérgica ou Inflamação …………………………………….. 20 1.7. Fisiologia da Gestação ……………………………………………………………………………... 21 1.7.1. Adaptação Endócrina na Gestação …………………………………………………… 21 1.7.2. Adaptações Metabólicas Durante a Gestação ………………………………..... 23 1.7.2.1 Metabolismo da Glucose ……………………………………………………….... 23 ix 1.7.2.2. Metabolismo Lipídico ………………………………………………………….….. 24 1.7.2.3. Metabolismo Proteico ……………………………………………………………. 25 1.7.2.4. Metabolismo da Água …………………………………………………………….. 25 1.8. Hidrópsia Fetal Não Imune no Humano …………………………………………….……… 25 1.9. Anasarca Fetal no Bulldog Inglês ………………………………………………………….….. 27 1.9.1. Genética ……………………………………………………………………………………….….. 27 1.9.2. Patofisiologia ……………………………………………………………………………………. 28 1.9.3. Tratamento ………………………………………………………………………………….…… 29 1.10. Doenças que Podem Provocar Anasarca Fetal …………………………………….…. 30 1.10.1. Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) ………………………………………….…. 30 1.10.2. Pressão Arterial ………………………………………………………………………….…… 31 1.10.3. Hipertensão Arterial ..........………………………………………………………….….. 33 1.10.4. Hipertensão Arterial na Gestação ……………………………………………….….. 34 1.10.4.1. Tratamento ………………………………………………………………………….. 35 1.10.5. Hipercortisolismo …………………………………………………………………………... 39 1.10.5.1. Tratamento ……………………………………………………………………………….... 40 2. OBJECTIVOS ………………………………………………………………………………….………..….…… 41 3. MATERIAL E MÉTODOS ……………………………………………………….…….…………...….…. 41 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO …………………………………………………………….………...…. 41 4.1. Limitações do Estudo ………………………………………………………………………….…… 54 5. CONCLUSÃO …………………………………………………………………………….………………..….. 55 6. BIBLIOGRAFIA ………………………………………………………………………………….……….….… 56 7. ANEXOS ………………………………………………………………………………………………….………. 60 Índice de Figuras Figura 1 Mecanismos de Regulação do Volume Extracelular ……………………………….…….... 8 Figura 2 Edema Causado por Aumento da Pressão Venosa ……………………………….……….. 12 Figura 3 Forças que Controlam o Fluido Capilar ……………………………………………..………….. 13 Figura 4 Retenção de Sódio e Controlo do Volume Arterial Efectivo ……………….....……… 14 Figura 5 Mecanismos formadores de edema na Síndrome Nefrítica ………………….………. 15 Figura 6 Mecanismos formadores de edema na Síndrome Nefrótica …………………......…. 16 Figura 7 Mecanismos da formação de edema na Insuficiência Cardíaca Congestiva …... 17 Figura 8 Edema Causado por Hipoproteinemia ………………………………………………………….. 18 Figura 9 Mecanismos Formadores de Edema na Cirrose Hepática …………..……….….....… 19 Figura 10 Edema Causado por Obstrução Linfática (Linfedema) ………………………..…….… 20 Figura 11 Edema Causado por Lesão ou Reacção Alérgica …………………….……….………..... 21 Figura 12 Consequências da Hipervolémia ……………………………………………..……….…......... 33 Figura 13 Cachorro com Edema Ligeiro …………………………………………………..…….……......… 52 Figura 14 Cachorro com 7 Semanas ………………………………………………………..…….………...… 52 Figura 15 Cachorro com Edema Ligeiro ………………………………………………………………….…… 52 Figura 16 Cachorro com Edema Moderado ……………..…………………………................…….... 52 x Figura 17 Cachorro com Edema Moderado ……………..……………………………………..…..…….. 53 Figura 18 Cachorro com Edema Moderado ……………..………………………………….…..….…..... 53 Figura 19 Cachorro com Edema Moderado ……………..………………………………………....…..... 53 Figura 20 Cachorro com Edema Severo …………………………………………………………….……..... 53 Figura 21 Cachorro com Edema Severo ……………………………………………………..…..………….. 54 Figura 22 Cachorro com Edema Severo …………………………………………………………………..…. 54 Índice dos Quadros Quadro 1 Mecanismos Hemodinâmicos de Doenças Associadas com Hipertensão ….... 37 Quadro 2 Doenças Associadas com Hipertensão ……………………………………………………….. 48 Quadro 3 Temperatura e Água Ingerida Mês Março ……………………………………..…………... 61 Quadro 4 temperatura e Água Ingerida Mês Abril …………………………………………………..…. 62 Índice de Tabelas Tabela 1 Diurese de Água vs Diurese Osmótica vs Antidiurese ……….……….…………………… 6 Tabela 2 Osmorregulação vs Regulação do Volume Extracelular ………………………………… 11 Tabela 3 condições Associadas à HFNI ............................................................................ 26 Tabela 4 Valores de Pressão Arterial Com Medição Oscilométrica e Doppler ………..…… 32 Tabela 5 Classificação da Hipertensão com Base no Risco de Lesão de Orgãos …………… 38 Tabela 6 Dados Recolhidos no Inquérito (Ração comercial vs comida caseira) ……..….... 42 Tabela 7 Dados relativos a duas cadelas bulldog ............................................................ 44 Índice de Anexos Anexo I Rótulos apresentados por algumas rações à venda em Portugal ……………….….. 60 Anexo II Temperatura Média e Água Ingerida no Mês de Março ................................... 61 Anexo III temperatura Média e Água Ingerida no Mês de Abril ..................................... 62 Anexo IV Receita para Confecção da Refeição de Carne com Arroz ……………………………. 63 Anexo V Inquérito ........................................................................................................... 64 xi Índice de Abreviaturas e Símbolos ACTH Hormona Adrenocorticotrófica ADH Hormona Antidiurética ADN Ácido Desoxirribonucleico AMPc Monofosfato Cíclico de Adenosina ANGII Angiotensina II ANP Peptídeo Natriurético Atrial ARN Ácido Ribonucleico BI Bulldog Inglês CH Gonadotrofina Coriónica CL Corpo Lúteo CO2 Dióxido de Carbono CPC Clube Português de Canicultura CRF Factor de Libertação de Corticotróficos CRH Hormona Libertadora de Corticotrofinas CS Somatomatropina Coriónica DC Débito Cardíaco DHEG Doença Hipertensiva Específica da Gravidez dl Decilitro DM Diabetes Mellitus DMG Diabetes Mellitus Gestacional ECA Enzima de Conversão da Angiotensina FG Filtração Glomerular FNA Factor Natriurético Auricular FSH Hormona Folículo Estimulante g Grama GC Glucocorticóides GH Hormona do Crescimento GHRH Hormona Libertadora da Hormona do Crescimento Gl. Glândulas GLU Glucose GnRH Hormona Libertadora de Gonadotrofinas H+ Ião Hidrogénio HAC Hiperadrenocorticismo HC Hipercortisolismo HFNI Hidrópsia Fetal Não Imune HT Hipertensão HTA Hipertensão Arterial I.M. Intramuscular IC Insuficiência Cardíaca ICC Insuficiência Cardíaca Congestiva xii IECA Inibidor da Enzima de Conversão da Angiotensina IR Insuficiência Renal K+ Ião Potássio KCl Cloreto de Potássio Kf Coeficiente de Filtração LI Líquido Intersticial mEq Miliquivalentemg Miligrama ml Mililitro mm Hg Milímetros de Mercúrio mOsm Miliosmole MSH Hormona Estimulante dos Melanócitos Na+ Ião Sódio NaCl Cloreto de Sódio NO Óxido Nítrico O2 Oxigénio OSM Osmolalidade P.O. Per Os (via oral) P4 Progesterona PA Pressão Arterial Pc Pressão Hidrostática Capilar Pd Pressão Diastólica PGs Prostaglandinas PH Pressão Hidrostática Pi Pressão Hidrostática no Líquido Intersticial PO Pressão Oncótica P.O. Via oral (per os) PRL Prolactina Ps Pressão Sistólica PU/PD Poliúria/Polidipsia PV Pressão Venosa RVP Resistência Vascular Periférica SNA Sistema Nervoso Autónomo SNAS Sistema Nervoso Autónomo Simpático SNC Sistema Nervoso Central SRAA Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona TFG Taxa de Filtração Glomerular TGFβ Factor Beta Transformador de Crescimento TRH Hormona Libertadora de Tireotropina TSH Hormona Estimulante de Tireotropina VE Ventrículo Esquerdo xiii VEC Volume de Fluido Extracelular vgh Variante da Hormona do Crescimento VS Volume Sistólico VSAE Volume de Sangue Arterial Efectivo β Beta πc Pressão Oncótica no Plasma πi Pressão Oncótica no Líquido Intersticial 1 1. INTRODUÇÃO Anasarca fetal é uma síndrome caracterizada pela presença de edema subcutâneo generalizado do feto, em grau variável, que se desenvolve durante a vida intra-uterina. Esta síndrome pode afetar um ou mais cachorros, ou até, por vezes, toda a ninhada. Os fetos com anasarca são uma importante causa de distócia devido ao maior volume que apresentam. Enquanto criadora de Bulldog Inglês pude constatar que a mortalidade neo-natal destes cachorros é muito elevada e a sua sobrevivência depende da etiologia predominante (genética vs. ambiental) da doença que provocou o edema e da prontidão do tratamento instituído após o nascimento. O Bulldog Inglês (BI) é a raça que mais problemas reprodutivos apresenta. Para isso contribui a sua genética e a conformação anatómica que, comparada com outras raças: (1) não lhe permite uma cópula natural eficiente sem a sujeitar a um esforço perigoso; (2) faz com que tenha uma das maiores taxas de mortalidade materna e neonatal. Desde a conceção ao desmame dos cachorros, passando pela difícil tarefa do parto, a criação do BI é um desafio que pode tornar-se numa enorme frustração para criadores e clínicos. No parto é a raça que mais distócias apresenta devido à pélvis pequena da mãe e tamanho relativamente grande dos fetos, com cabeças e ombros largos. Segundo Jackson (citado por Purohit e Gaur, 2004), o risco de distócia pode rondar os 100%. Num estudo retrospetivo, verificou-se que 75% das causas de distócia tinham origem materna e 25% se deviam a causa fetal (Darvelid e Linde-Forsberg, citados por Wydooghe et al., 2013). As principais causas de distócia de origem fetal são a má apresentação fetal e a desproporcionalidade de tamanho entre o feto e a mãe. Nas raças braquicefálicas o desvio ventral da cabeça é uma causa comum de distócia (Jackson, 1995), assim como as malformações fetais, de que são exemplos a hidrocefalia, herniação cerebroespinal ou cerebral. Uma importante causa de distócia no BI, mas que é rara nas outras raças, é a hidropisia fetal, caracterizada pela presença de edema generalizado no cachorro – também conhecida como anasarca fetal. Esta condição, por vezes, proporciona fetos com o triplo do tamanho de um cachorro normal. Num inquérito internacional realizado a criadores de BI na Bélgica, Holanda e República Checa, verificou-se que em 220 cachorros nascidos vivos, 8.2% (18/220) morreram por patologia congénita; destes, 38.8% (7/18) apresentaram fenda do palato e 27.7% (5/18) anasarca (Wydooghe et al., 2013). A anasarca fetal traduz-se na excessiva acumulação de fluido no feto, atribuída a um distúrbio na regulação do movimento do fluido fetal entre os espaços vascular e intersticial. Ocorre quando a taxa de produção de fluido intersticial ultrapassa a taxa de retorno deste fluido à circulação através dos vasos 2 linfáticos. As diferenças de desenvolvimento da microcirculação e do sistema linfático dos fetos (como sejam uma permeabilidade capilar acrescida e uma maior influência da pressão venosa no retorno linfático) tornam-nos mais suscetíveis à acumulação de fluido intersticial. Assim, o equilíbrio entre a produção de fluido intersticial e a sua remoção é mais facilmente comprometido. 1.1 FISIOLOGIA DA TROCA DE LÍQUIDOS A água move-se através das paredes dos capilares tanto por difusão como por fluxo de volume. No que diz respeito à troca de água entre plasma capilar e o líquido intersticial (LI) há que considerar dois aspectos importantes: (1) as forças que determinam o movimento da água são mais complexas do que aquelas que afetam o movimento dos solutos; (2) a acumulação de uma quantidade excessiva de água no espaço intersticial resulta em edema (Cunningham, 1999). Solutos como o O2, CO2, a glucose (GLU), os ácidos gordos e os eletrólitos, movem-se entre o plasma capilar e o LI por difusão. A água também se move por difusão através dos poros capilares – osmose. Este movimento através da membrana dá-se no sentido em que a concentração de solutos é maior. Os pré- requisitos para a osmose são: (1) presença de uma membrana semipermeável (permeável à água mas não a solutos específicos); (2) diferença de concentração total de solutos impermeáveis nos dois lados da membrana (Cunningham, 1999). A parede capilar constitui uma membrana semipermeável pois é permeável à água mas não a certas moléculas. Em termos gerais, as paredes dos capilares da maioria dos órgãos são impermeáveis a proteínas plasmáticas (albumina, globulinas e outras proteínas) por estas serem demasiado grandes para atravessar a parede capilar. A concentração normal de proteínas plasmáticas no plasma capilar é de 7 g/dl e apenas de 0,2 g/dl no LI. Esta concentração de proteína mais alta dentro dos capilares, cria uma tendência para as moléculas de água se moverem por osmose do LI para o plasma sanguíneo, sendo a tendência da água em se mover por difusão dependente da pressão osmótica. A pressão normal criada pelas proteínas no plasma é de 25 mm Hg, ou seja, o efeito osmótico das proteínas plasmáticas é equivalente a uma pressão de 25 mm Hg que leva água para dentro dos capilares. Esta pressão osmótica provocada pelas proteínas plasmáticas designa-se por pressão oncótica (PO) ou coloidosmótica. A concentração de proteínas no LI é baixa. A PO criada por essas proteínas é, normalmente, de 1 mm Hg. Em equilíbrio, o efeito osmótico do capilar é muito maior do que o efeito osmótico do LI, de modo que a água se move do LI para o capilar. O movimento da água do LI para dentro do capilar, é chamado de reabsorção. O movimento oposto é chamado filtração. A PO favorece a reabsorção. A PO resultante que age sobre a água é calculada subtraindo 3 a PO do LI da PO do sangue capilar, ou seja, 25 mm Hg – 1 mm Hg = 24 mm Hg, favorecendo, assim, a filtração (Cunningham, 1999). Além das forças de difusão (osmóticas) o movimento da água também responde a diferenças de pressão hidrostática (PH) através da parede do capilar. As diferenças de PH entre o plasma capilar e o LI movimentam a água através dos poros dos capilares. A PH dentro dos capilares (pressão sanguínea capilar) é mais alta na extremidade arteriolar do que na venosa. Considera-se uma média representativa, a pressão 18 mm Hg. A PH do LI, normalmente situa-se nos −7 mm Hg (o sinal – significa que é inferior à pressão atmosférica). Por convenção, as pressões hidrostáticas medidas nos capilares e no LI, são sempre medidas tendo como referência a pressão atmosférica. A PH negativa do LI (−7 mm Hg) junto com a PH positiva no capilar (18 mm Hg) cria uma diferença de PH de 25 mm Hg. Essa diferençatende a forçar a água para fora dos capilares, para o espaço intersticial, ou seja, a PH normal favorece a filtração. O efeito de filtração resultante da diferença de PH é quase contrabalançado pelo efeito de reabsorção resultante da PO. Todavia, o equilíbrio raras vezes é perfeito e, em geral, a diferença de PH (que favorece a filtração) excede ligeiramente a diferença de PO (que favorece a reabsorção), de maneira que há uma pequena filtração não compensada pela reabsorção. Esse excesso de água é recolhido pelos vasos linfáticos que a devolvem à corrente sanguínea através das veias subclávias (Cunningham, 1999). A linfa move-se através dos vasos linfáticos, por fluxo de volume e a força direcional para esse fluxo é dada pela diferença de PH entre o LI e a pressão na veia subclávia. Este fluxo unidirecional é promovido pela contração dos músculos esqueléticos e pelas valvas dos vasos linfáticos, que impedem o refluxo de linfa (Cunnigham, 1999). 1.2. Forças de Starling e Equação de Starling As forças hidrostáticas e oncóticas que agem sobre a água são geralmente chamadas de Forças de Starling. A taxa real do movimento da água através das paredes dos capilares é afetada tanto pela magnitude do desequilíbrio entre as forças hidrostáticas e oncóticas, como pela permeabilidade da parede capilar à água, num jogo que é designado por Equilíbrio de Starling, e que está expressa na seguinte equação (Cunnigham, 1999). Fluxo de água transcapilar= ��[�� − � � − �� − � �] 4 onde, Kf corresponde ao coeficiente de filtração; Pc à pressão hidrostática capilar; Pi à pressão hidrostática no líquido intersticial; πc à pressão oncótica no plasma e πi à pressão oncótica no líquido intersticial. Esta equação diz-nos que o movimento da água é igual ao coeficiente da permeabilidade da parede do capilar (coeficiente de filtração – Kf) com a diferença resultante entre a pressão hidrostática e oncótica (Cunnigham, 1999). A análise desta equação revela que a tendência da deslocação da água para fora do capilar (filtração) está dependente de três variáveis: (1) do aumento da diferença de pressão hidrostática entre o sangue capilar e o líquido intersticial; (2) da redução da pressão osmótica (e a água ser reabsorvida); (3) do aumento da permeabilidade do capilar à água (aumento do coeficiente de filtração) (Cunnigham, 1999). A Equação de Starling expressa a interação entre as pressões osmóticas e hidrostáticas na determinação da pressão resultante que atua sobre a água. Os valores nominais para cada pressão também estão relacionados (Cunnigham, 1999). Pressão resultante = [(Pc - Pi) – (πc - πi)] onde, Pc representa a pressão hidrostática capilar; Pi a pressão hidrostática no líquido intersticial; πc a pressão oncótica no plasma; e πi a pressão oncótica no líquido intersticial. (Cunnigham, 1999). Se resolvermos a equação tomando em consideração osvalores nominais para os capilares sistémicos Pc = 18 mm Hg;Pi = −7 mm Hg,πc = 25 mm Hg,πi = 1 mm Hg), então: Pressão resultante(mm Hg) = [(18)−(−7)]−[(25)−(1)] = +1 mm Hg O sinal positivo para a pressão resultante indica que ela favorece a filtração e a sua magnitude, 1 mm Hg, indica que as forças hidrostáticas e osmóticas que afetam o 5 movimento da água estão quase em equilíbrio, com uma tendência ligeira para a filtração (+1 mm Hg) (Cunnigham, 1999). 1.3. Alterações Fisiológicas que Aumentam a Filtração O aumento da PH capilar favorece a filtração de água. A PH capilar pode aumentar com o aumento da pressão sanguínea arterial ou pela redução da resistência arteriolar. O aumento da pressão arterial faz com que mais pressão seja transmitida através das arteríolas para os capilares. Do mesmo modo, um decréscimo na resistência arteriolar (dilatação das arteríolas) permite que uma maior parte da pressão arterial seja transmitida para os capilares. A PH capilar também pode aumentar devido ao retorno de sangue venoso (Cunnigham, 1999). O aumento da pressão venosa central faz com que o sangue se acumule nos capilares e eleva a pressão capilar. Qualquer obstrução ao efluxo venoso, faz com que o sangue retorne, aumentando a PH capilar. Ao contrário da PH capilar que é afetada por vários fatores, a PH intersticial está dependente praticamente apenas do volume de líquido no espaço intersticial. A acumulação de líquido no espaço intersticial, eleva a PH intersticial. Do mesmo modo, a retirada de LI diminui a PH intersticial. Esta pressão, hidrostática intersticial, é sub-atmosférica (-7 mm Hg). Quando a PH do LI ultrapassa a pressão atmosférica, a acumulação de líquido torna- se perceptível – e forma-se o edema. As forças osmóticas exercidas sobre a água dependem das concentrações de proteína tanto no plasma capilar como no LI. A concentração normal de proteína no plasma é de 7 g/dl de plasma, resultando numa PO plasmática de 25 mm Hg. Qualquer alteração na concentração de proteínas no plasma capilar altera a PO plasmática. Da mesma maneira, alterações na concentração de proteínas no LI, alteram a PO do LI (Cunnigham, 1999). Em circunstâncias normais as moléculas de proteína são demasiado grandes para passar através de poros ou fendas dos capilares. A via principal de libertação de proteínas plasmáticas no LI, é através da pinocitose, mecanismo mediado por quimiotaxia, presente nas inflamações. Um aumento da atividade pinocitótica acelera a libertação de proteínas plasmáticas no LI. Em circunstâncias fora do normal, como é o caso da inflamação, os poros dos capilares podem dilatar-se o suficiente para permitir a passagem direta de proteínas plasmáticas do sangue capilar para o LI. As proteínas plasmáticas são retiradas do espaço intersticial através dos vasos linfáticos que as transportam para o ducto torácico, onde a linfa entra nas veias subclávias (Cunnigham, 1999). 6 1.4. Regulação da Osmolalidade dos Fluidos Corporais O volume total dos fluidos corporais mantém-se constante ao longo do dia através do ajuste dos ganhos com as perdas de água. A água é obtida pelos alimentos, pelo metabolismo ou por ingestão direta, e perdida através da urina, das fezes, da transpiração e por processos insensíveis como a perspiração e expiração, que fazem parte das perdas e ganhos “obrigatórios”. No entanto, as quantidades de água perdidas na urina e ganhas pela sua ingestão direta são reguladas de modo a igualar o total de perdas com o total de ganhos (Cunningham, 1999; Feldman e Nelson, 2000). 1.4.1. Osmorregulação Uma vez que a ingestão direta de água não afeta a taxa de excreção de solutos urinários, a osmolalidade (OSM) urinária varia inversamente ao fluxo urinário e afeta de igual modo os volumes intra e extra-celulares. Quando a ingestão de água é normal, o fluxo urinário é de 1-2 mL/min. e a OSM urinária de 500-700 mOsm/Kg. Quando a ingestão de água é elevada, a OSM plasmática diminui e os rins excretam um grande volume de urina hiposmolar relativamente ao plasma (mínimo ~30 mOsm / Kg). Quando a ingestão de água é baixa, ocorre o contrário: a OSM dos fluidos corporais aumenta e os rins excretam um pequeno volume de urina hiperosmolar relativamente ao plasma (máximo ~1200 mOsm / Kg). Esta capacidade de concentrar a urina, propriedade encontrada apenas nos mamíferos e em algumas aves, foi uma importante adaptação à vida terrestre uma vez que permite reduzir o grau de dependência da água. Deste modo, o mecanismo de feedback homeostático negativo para estabilizar a OSM dos fluidos corporais tem como efetores o controlo de ingestão de água pela sede e a resposta renal à hormona antidiurética (ADH) (Cunningham, 1999; Feldman e Nelson, 2000). Relacionando a OSM urinária com o volume de urina podemos definir 3 estados (Tab. 1): Tabela 1. Distinção entre diurese de água, diurese osmótica e antidiurese.(Adaptado de Coelho e Moreira, 2011). Osmolalidade Urinária Volume Urinário Antidiurese Baixo Diurese de água Elevado Diurese osmótica Elevado (com excreção solutos ↑) 7 1.4.2. Hormona Antidiurética ou Vasopressina A hormona antidiurética (ADH) ou vasopressina é um peptídeo sintetizado pelos neurónios dos núcleos supra-óptico e paraventricular do hipotálamo, e armazenado nos terminais axonais ao nível da hipófise posterior, sendo libertada para a circulação sistémica a partir deste local. O seu duplo nome deve-se aos seus dois principais efeitos: a) Efeito antidiurético, que ocorre via receptores V2 e com concentrações plasmáticas relativamente baixas; b) Efeito vasoconstritor que é mediado por receptores V1 e ocorre com concentrações plasmáticas superiores. A sua libertação é controlada por osmorrecetores (presentes no hipotálamo) e por barorrecetores periféricos. Um aumento da OSM plasmática acima dos 280 mOsm/Kg provoca um aumento nos níveis plasmáticos da ADH. A sede é estimulada a OSM superiores como segunda linha de defesa contra a hiperosmolalidade (Rose e Post, 2000; Coelho e Moreira, 2011). Os efeitos da ADH são a redução do fluxo urinário e aumento da OSM da urina (faz a ligação fisiológica entre as osmolalidades plasmática e urinária), e o aumento da permeabilidade à água do epitélio do ducto colector (10 a 20 vezes) .Ao nível do ducto colector, a ADH liga-se ao receptor V2 presente na membrana basolateral, o qual conduz à formação de AMPc que activa a proteína cinase A; esta leva à produção de aquaporinas tipo 2 (por intermédio da fosforilação de proteínas ainda desconhecidas) que são inseridas na membrana apical aumentando assim a permeabilidade à água por parte das células epiteliais do ducto colector (Rose e Post, 2000; Coelho e Moreira, 2011). A sede é o componente principal dos mecanismos de osmorregulação na resposta ao aumento da OSM plasmática. A sede - o impulso para beber - resulta na retenção de água até que a resposta de ingerir água irá adicionar nova quantidade de água ao corpo; só esta adição de água poderá corrigir corretamente o aumento da OSM plasmática (que estimula também a libertação de ADH) (Feldman e Nelson, 2000; Coelho e Moreira 2011; Thadhani e Maynard, 2013). Quanto à diminuição da OSM plasmática os efeitos renais da ADH são suficientes para repor a OSM normal. 1.4.3. Regulação do Volume Extracelular e Excreção de NaCl Os rins desempenham um papel fundamental na manutenção do volume apropriado do sistema vascular e indispensável para a perfusão adequada dos 8 tecidos. Essa capacidade de regular o volume do fluido extracelular (VEC) é conseguida a partir da excreção ou reabsorção de Na+. Em condições normais, o volume do VEC deve-se à massa de solutos extracelulares. Os sais de Na+ são o soluto extracelular mais abundante, e o VEC aumenta quando aumenta o conteúdo corporal de Na+ e diminui quando este diminui (Cunnigham, 1999; Coelho e Moreira, 2011). A regulação do VEC é um mecanismo reflexo e monitorizado por sensores próprios. A excreção de Na+ pode ser alterada pela reabsorção de Na+ ou pela taxa de filtração glomerular (TFG) e é dada pela seguinte equação: 1.4.4. Sensores de Volume e Variáveis Dependentes do Volume O volume plasmático determina a magnitude de algumas variáveis hemodinâmicas (Coelho e Moreira, 2011) (Fig.1). Modificações no volume plasmático causam alterações na tensão da parede de algumas estruturas vasculares que possuem terminais nervosos sensíveis ao estiramento e que são processados, via nervo vago, nos centros cardiovasculares e no tronco cerebral. Alterações no retorno venoso, débito cardíaco e enchimento cardíaco, provocam modificações na pressão arterial, detetadas pelos barorrecetores arteriais do arco aórtico e seio carotídeo. Estes impulsos nervosos atingem o centro cardiovascular através dos nervos vago e glossofaríngeo. Alterações no volume plasmático são detectadas pelo complexo justaglomerular, sensível à concentração de NaCl no fluido tubular e à pressão na arteríola aferente, atuando localmente e modificando a secreção de renina. Fig. 1 Mecanismos de regulação do volume extracelular (Adaptado de Coelho e Moreira, 2011). Excreção Na+=(TFG x [Na+])−Reabsorção Na+ 9 1.4.5. Efetores do Controlo do Volume Extracelular O controlo do volume extracelular está dependente da interação de vários sistemas, donde se destacam o sistema nervoso simpático e o sistema renina- angiotensina-aldosterona. 1.4.5.1. Atividade Simpática Renal e Níveis Catecolaminas Circulantes A expansão do VEC reduz a atividade simpática renal, conduzindo ao aumento da excreção de Na+. Ao contrário, a depleção do VEC aumenta a atividade simpática renal estimulando a reabsorção de Na+ (Coelho e Moreira, 2011). 1.4.5.2. Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona A renina é uma enzima secretada pelas células granulares (células musculares lisas modificadas, localizadas na média das arteríolas aferentes renais) que integram o sistema justaglomerular (Coelho e Moreira, 2011). A renina degrada o angiotensinogénio (proteína circulante produzida pelo fígado e rins) em angiotensina I que por sua vez, é convertida em angiotensina II, pela enzima de conversão da angiotensina (ECA). O nível plasmático de angiotensina II é determinado pelo nível de renina plasmática (Feldman e Nelson, 2000; Coelho e Moreira, 2011). a) A secreção de renina é estimulada por 3 mecanismos principais (Coelho e Moreira, 2011):Aumento da atividade simpática, através de receptores β presentes nas células granulares; b) Redução da pressão arteriolar aferente (mecanismo desconhecido); c) Diminuição da concentração de NaCl na mácula densa. A concentração de NaCl neste local é dependente do sódio corporal total e é influenciada pela taxa de filtração glomerular e pela reabsorção tubular proximal; as duas variáveis que são modificadas pelo VEC. Um aumento na concentração de NaCl na mácula densa inibe a libertação de renina. A angiotensina II estimula diretamente a reabsorção de Na+ em vários segmentos tubulares, em particular no túbulo proximal, onde ativa a bomba de iões Na+ / H+. Em concentrações mais elevadas, diminui a TFG por vasoconstrição da arteríola aferente e pela diminuição do coeficiente de filtração (Kf). A produção de angiotensina II plasmática é auto-limitada porque a sua formação inibe a secreção de renina (Coelho e Moreira, 2011). 10 A aldosterona é uma hormona esteroide sintetizada na zona glomerulosa do córtex da glândula suprarrenal. A sua produção é estimulada: 1) Pela Angiotensina II 2) Por uma diminuição da concentração plasmática de Na+ 3) Pelo aumento da concentração plasmática de K+ 4) Pela ACTH 5) Por uma diminuição dos níveis plasmáticos do peptídeo natriurético auricular O factor principal no controlo da secreção de aldosterona é a angiotensina II plasmática. A aldosterona estimula a reabsorção de Na+ renal atuando diretamente sobre as células principais do ducto coletor, pois atravessa a membrana destas células e liga-se a um recetor citosólico (Coelho e Moreira, 2011). 1.4.5.3. Factor Natriurético Atrial O fator natriurético atrial (FNA) é uma hormona peptídica que é sintetizada pelos miócitos auriculares e libertada em resposta à distensão atrial. O FNA inibe diretamente a reabsorção de Na+. Em concentrações mais elevadas aumenta a TFG (por vasodilatação das arteríolas aferentes e aumento da Kf) (Coelho e Moreira, 2011). 1.4.5.4. Hormona Antidiurética (ADH) A libertação de ADH dependente da informação de barorrecetores: diminuições marcadas no volume sanguíneo aumentam muito a ADH plasmática que vai atuar como vasoconstritora. Do ponto de vista da osmorregulação, a libertação de ADH é inadequada (porque a osmolalidade plasmática é normal).Deste modo, numa depleção grave de volume, a homeostasia osmótica é sacrificada pela conservação de um volume máximo (Coelho e Moreira, 2011). Os sistemas homeostáticos para controlo da OSM plasmática e do volume extracelular são distintos. As principais diferenças entre eles estão sumariadas na tabela 2. Uma perturbação na osmorregulação manifesta-se pela incapacidade de excretar quantidades apropriadas de água de forma a manter a isotonicidade 11 plasmática. Os sintomas típicos são a hiponatrémia ou hipernatrémia (concentração baixa ou elevada de Na+ plasmático, respetivamente). Apesar de condições distintas, as perturbações do volume e da osmorregulação apresentam-se muitas vezes associadas. Uma perturbação da regulação do volume manifesta-se pela incapacidade de excretar quantidades apropriadas de Na+ para manter um VEC normal. Os sintomas típicos são o edema ou depleção de volume. (Coelho e Moreira, 2011). Sistema Osmorregulação Regulação de Volume É sentido Osmolalidade plasmática Volume circulante efetivo Sensores Osmorrecetores plasmáticos Recetores seio carotídeo, grandes veias, aurículas e intrarrenais Efetores ADH; sede Renina/angiotensina; aldosterona; nervos simpáticos; ANP: ADH É afetada Osmolalidade urinária; ingestão de água Excreção urinária de Na+ Tabela 2. Distinção Entre Osmorregulação e Regulação do VEC (Coelho e Moreira, 2011). 1.5. Mecanismos da Formação de Edema O edema é definido como a acumulação excessiva de líquido no espaço intersticial, resultante de uma filtração excessiva para fora dos capilares ou de uma função deficiente do sistema linfático. Para que o edema ocorra terá de haver uma falha dos mecanismos que controlam a distribuição do volume de líquido no espaço intersticial. Essa falha pode ser localizada e envolver apenas os fatores que influenciam o fluxo de líquido ao longo do capilar, ou pode ser provocada por alterações dos mecanismos de controlo de volume do compartimento extracelular e do volume de líquido total do corpo, levando ao aparecimento de edema generalizado – anasarca. A compreensão dos mecanismos que levam à formação de edema é complexa e ainda muito incompleta (Coelho, 2004).Perturbações nas variáveis que determinam o equilíbrio de Starling poderão ocasionar edema. Se estas perturbações envolverem apenas alguns capilares, haverá um edema localizado. Pelo contrário, se estas alterações forem sistémicas e provocadas pela falha nos mecanismos de controlo de volume extracelular, haverá edema generalizado com aumento do volume extracelular e do peso corporal (Thadhani e Maynard, 2013; Coelho, 2004). 12 1.6. Patofisiologia do Edema À semelhança do que acontece com outras doenças, a ocorrência de edema é um processo multifatorial, em que vários fatores atuam simultânea e conjuntamente para desencadear a patologia. 1.6.1. Edema localizado O edema localizado pode ser resultado de uma resposta inflamatória a uma lesão tecidular (inflamação local), ou dever-se a um aumento da pressão venosa (PV) decorrente de obstrução da circulação (p. ex. garrote num membro). A constrição das veias impede o efluxo de sangue venoso, elevando assim a PV. Em seguida, o sangue volta para os capilares e aumenta a PH capilar (Fig. 2) (Cunningham, 1999; Coelho, 2004). ↑↑↑↑ Pressão Venosa ↑ Pressão Hidrostática Capilar ↑↑↑↑ Filtração ↑↑↑↑ Volume do LI (Edema) ↑↑↑↑ Pressão do LI ↑↑↑↑ Fluxo Linfático ↓ Concentração Intersticial de proteína retroalimentação negativa Figura 2. Etiopatogenia do Edema Causado por Aumento da Pressão Venosa. Adaptado de Cunnigham, 1999) A insuficiência cardíaca é outra situação clínica que leva ao aumento da PV e, por isso, provoca uma PH capilar elevada, que pode culminar com a formação de edema.Uma insuficiência no ventrículo esquerdo acarreta aumento da pressão atrial esquerda e venosa pulmonar. O resultado é o aumento da filtração capilar nos pulmões, que provoca aumento da quantidade de LI no tecido pulmonar - edema pulmonar (Cunningham, 1999; Coelho, 2004). 13 1.6.2. Mecanismos de Defesa Contra os Edemas Existem três fatores limitam o grau de edema, dependendo todos do pressuposto de que um aumento no volume de LI acarreta aumento da PH do líquido intersticial. O primeiro fator é que o aumento na pressão do LI atua contrariando a filtração. A pressão do LI não tem de aumentar acima da PH capilar para limitar o edema. O segundo fator é que o aumento da pressão do LI que se opõe à filtração também promove o aumento do fluxo linfático. O terceiro fator é decorrente do aumento do fluxo linfático: o LI tem normalmente uma pequena percentagem de proteínas plasmáticas, resultante da pinocitose, que exerce uma PO pequena mas significativa que se opõe à reabsorção osmótica de água. No caso de filtração excessiva com formação de edema, o líquido recém- formado é quase inteiramente isento de proteína e à medida que a linfa transporta LI para fora do espaço intersticial, as proteínas são removidas do espaço intersticial, reduzindo assim a concentração intersticial de proteína e a PO do LI, tendo como consequência a diminuição da filtração (Cunnigham, 1999). 1.6.3. Edema generalizado O edema generalizado é uma consequência de alterações na homeostase do sódio e da água, e geralmente está dependente de um ou vários fatores (Fig. 3); dependendo dos fatores implicados, pode ser denominado de edema cardíaco, edema renal, edema cirrótico ou nutricional (Fig. 4). Esta nomenclatura deve-se às características patofisiológicas próprias de cada grupo e, também, à apresentação de uma etiologia específica (Cunningham, 1999; Coelho , 2004). Figura 3. Forças que controlam o fluido capilar. Pc: pressão hidrostática capilar; πc: pressão oncótica capilar; Kf: coeficiente de filtração ∆p e ∆π: diferença de pressão hidrostática e oncótica respetivamente (Adaptado de Coelho, 2004) 14 Na figura 4 estão resumidos os principais aspetos fisiológicos de controlo do volume extracelular, que atuam no sentido da retenção de sódio. Foram omitidos alguns mediadores do sistema natriurético como o ANP, prostaglandinas, cininas, óxido nítrico e ADH. Os rins são, desta forma, não só o principal efetor no balanço de água e sódio, mas também um importante sensor do volume extracelular através das aferências nervosas que levam informação ao sistema nervoso central. Em adição a estes sensores de volume e pressão, localizados nas arteríolas aferentes, a mácula densa é também um importante sensor da concentração de sódio no interior dos túbulos renais e, em conjunto com o sistema nervoso autónomo simpático (SNAS), controla a libertação de renina no aparelho justaglomerular renal. O volume de sangue arterial efectivo (VSAE), um parâmetro de difícil mensuração, representa o volume de sangue necessário para manter o retorno venoso, a perfusão tecidular e o débito cardíaco em valores normais. O VSAE depende do volume de sangue ejetado pelo coração (volume sistólico), que é diretamente influenciado pelo retorno venoso ao átrio direito (Lei de Frank-Starling), e que, por sua vez, depende do tónusdas grandes veias e, principalmente, do volume de sangue intravascular. Uma redução no VSAE ativará os mecanismos de controlo de volume no sentido de haver retenção de água e de sódio. As síndromes dos grandes edemas são acompanhadas por alteração do VSAE ou do seu principal órgão regulador, os rins (Cunningham, 1999; Coelho, 2004). Figura 4. Vias relacionadas com a retenção de sódio para controlo do volume arterial efetivo (Adaptado de Coelho, 2004) 15 1.6.4. Edema Renal 1.6.4.1. Edema Nefrítico Nas síndromes nefríticas, a causa principal do edema é a redução da taxa de filtração glomerular (TFG). O edema é tão mais grave quanto a diminuição da TFG, pois como consequência desta redução, observa-se uma diminuição acentuada da quantidade filtrada de Na+, agravada ainda mais por uma maior reabsorção tubular deste ião. A pequena oferta distal de sódio permitirá a reabsorção quase total do Na+ tubular no nefrónio distal (Cunningham, 1999; Coelho, 2004). Com a queda da excreção renal de sódio, há retenção de Na+ e água (para o equilíbrio osmótico). Se houver restrição dietética rigorosa de cloreto de sódio (NaCl), poderá não se formar edema, pois equilibra-se a ingestão com a baixa excreção, sem haver retenção. Se não houver restrição de NaCl na dieta, ocorrerá retenção de sódio e expansão do volume extracelular. Nestas condições haverá edema e hipertensão arterial (Cunningham, 1999; Coelho, 2004). A figura 5 ilustra o mecanismo da formação de edema na síndrome nefrítica. A presença de edema nesta síndrome dependerá da associação entre a redução da TFG, redução na carga excretada de sódio e aporte de sódio na dieta. Lesão renal Diminuição da TFG Redução da excreção de água e sal Elevação da PH capilar Hipertensão arterial EDEMA Figura 5. Mecanismos formadores de edema na Síndrome Nefrítica (Adaptado de Coelho, 2004) 16 1.6.4.2. Edema Nefrótico Lesões específicas da membrana basal glomerular e/ou dos pedicelos das células epiteliais glomerulares, levam a um aumento da permeabilidade glomerular às macromoléculas. Assim, as proteínas plasmáticas são filtradas em grandes quantidades (proteinúria). Este quadro pode estar presente em várias patologias. Nesta síndrome, o edema reflete a redução da PO do plasma, o que provoca uma menor reabsorção de fluido intersticial na extremidade venosa do leito capilar. A hipoproteinemia resultante da perda urinária de proteínas, é agravada pelo catabolismo aumentado da albumina. A redução da PO resultante da hipoproteinemia, por si só, leva à formação de edema (Cunningham, 1999; Coelho, 2004). A figura 6 mostra esquematicamente as alterações presentes na síndrome nefrótica e que são responsáveis pela formação de edema. Lesão glomerular Alteração da Redução da membrana de excreção de Na+ filtração Retenção de Na+e água Proteinúria Elevação da PH capilar Hipoalbuminemia EDEMA Redução da PO Redução da Venosa capilar π do plasma Figura 6. Mecanismos formadores de edema na Síndrome Nefrótica (Adaptado de Coelho, 2004) Outro aspeto importante nesta situação é o facto de esta condição poder induzir uma diminuição do volume intravascular, que pode levar à redução do débito cardíaco (redução da pré-carga) e redução da perfusão renal. Esta redução da perfusão renal, por sua vez, ativará o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), reduzindo assim a excreção renal de sódio (Cunningham, 1999; Coelho, 2004). A queda do volume plasmático e da pressão arterial estimula ainda a libertação da hormona antidiurética (ADH) que irá atuar no sentido de haver retenção de água (para repor o volume intravascular) e consequentemente, o sódio (Cunningham, 1999; Coelho, 2004). A retenção de água livre de solutos, por ação da 17 ADH, tem um efeito diluidor das proteínas plasmáticas, agravando a redução da PO do plasma (Coelho, 2004). 1.6.5. Edema cardíaco Quando o ventrículo direito tem um problema de contractilidade diminuída, o sangue reflui ao átrio direito e veia cava, gerando um aumento da PV atrial. Este aumento na PV atrial, em certa medida, é benéfico, pois ajuda a encher o ventrículo deficiente. Ao mesmo tempo que aumenta a PV sistémica, reduz-se o volume de sangue arterial efetivo (VSAE). O volume de sangue que banha os átrios cardíacos, ventrículo esquerdo, arco aórtico, seio carotídeo e arteríola aferente renal é fundamental para o controlo da volémia, pois esses segmentos possuem recetores de volume e pressão. Desse modo, quando se fala de redução do VSAE), entende-se um enchimento deficiente do leito vascular arterial (Cunningham, 1999; Coelho, 2004). A figura 7 esquematiza a forma como a queda do débito cardíaco (DC) na insuficiência cardíaca congestiva (ICC), leva a uma elevação da pressão venosa sistémica e alterações do equilíbrio das forças de Starling nos capilares periféricos, prevalecendo a pressão hidrostática (PH) nas extremidades venosas capilares e consequente dificuldade do retorno do líquido intersticial para o capilar. Ainda, com a queda do DC haverá diminuição do VSAE, e consequentemente um enchimento deficiente do leito vascular arterial, que acarretará uma sensibilização dos recetores de volume e pressão (Cunningham, 1999; Coelho, 2004). Doença miocárdio/Redução contractilidade Redução do débito cardíaco Redução do volume Aumento da pressão arterial efetivo capilar pulmonar Ativação simpática – SRAA Aumento da pressão venosa – Estase jugular Retenção de sal e água Elevação da PH capilar EDEMA Figura 7. Mecanismos de formação de edema na ICC. SRAA: sistema renina-angiotensina-aldosterona; PH: pressão hidrostática (Adaptado de Coelho, 2004) 18 1.6.6. Edema causado por hipoproteinemia A baixa concentração de proteína plasmática é uma das causa de edema, devido à redução da pressão oncótica (Fig. 8).As causas para uma queda na concentração plasmática de proteína estão geralmente relacionadas com a perda de proteína corporal, redução da síntese de albumina pelo fígado, ou desnutrição grave. As perdas de proteína são frequentemente provocadas por doença renal, enteropatias prolongadas perdedoras de proteínas, ou, mais raramente em medicina veterinária, por lesões extensas da pele como acontece nas queimaduras extensas de terceiro grau (Cunningham, 1999; Coelho, 2004). ↓ Concentração Plasmática de Proteína ↓↓↓↓ Pressão Coloidosmótica ↑↑↑↑ Filtração↑↑↑↑ Volume do LI (Edema) ↑↑↑↑ Pressão do LI ↑↑↑↑ Fluxo Linfático ↓↓↓↓ Concentração Intersticial de Proteína retroalimentação negativa Figura 8. Etiopatogenia do edema Causado por Hipoproteinemia (Adaptado de Cunnigham, 1999) Na insuficiência hepática há relaxamento do tónus vascular devido à redução do metabolismo de várias substâncias vasodilatadoras e aumento da produção de NO. Assim, com a redução da resistência vascular periférica, observa-se redução do VSAE e ativação dos mecanismos de controlo de volume extracelular (Fig. 9), no sentido de promover a retenção de água e sódio. A par disso, há, também, uma hiperatividade simpática com ativação do SRAA, com consequente hiperaldosteronismo secundário (Cunningham, 1999; Coelho, 2004). 19 Doença Hepática Redução da síntese Aumento resistência albumina vascular portal Vasodilatação Periférica Redução π plasma Contração do Aumento da volume arterial PH portal Ascite Ativação renal do SRAA Retenção de água e sal EDEMA Figura 9. Mecanismos formadores de edema na cirrose hepática (Adaptado de Coelho, 2004) 1.6.7. Linfedema Linfedema é o edema causado pela obstrução ao fluxo linfático. Esta falha na drenagem linfática pode ser causada por obstrução dos capilares linfáticos ou linfonodos. Por sua vez, esta pode ser consequência de doenças inflamatórias, parasitárias ou neoplásicas (Cunningham, 1999). A obstrução linfática diminui o fluxo de linfa. O líquido intersticial acumula- se em vez de ser removido. Este acúmulo aumenta a pressão do LI, que age como fator de segurança, limitando o excesso de filtração. Todavia, o segundo e terceiro fatores que limitam os edemas (já discutidos) não estão presentes no linfedema, pois dependem do aumento do fluxo linfático. Outro fator que atua no sentido de agravar o edema instalado quando o fluxo linfático está comprometido, é que as proteínas que se acumulam no espaço intersticial vão aumentar a PO do líquido intersticial e, também, a filtração. A figura 10 expõe as causas de edema após obstrução linfática (Cunningham, 1999). 20 Obstrução Linfática ↓↓↓↓ Fluxo Linfático ↑↑↑↑ Concentração Intersticial de Proteína ↑↑↑↑ Filtração Capilar ↑↑↑↑ Volume Líquido Intersticial ↑↑↑↑ Pressão Líquido Intersticial retroalimentação negativa Figura 10. O linfedema é um problema clínico porque apenas 1 dos 3 factores de segurança atua (Adaptado de Cunnigham, 1999) 1.6.8. Edema por Reacção Alérgica ou Inflamação Este edema resulta de uma reação alérgica ou por estimulação antigénica. Estas provocações estimulam a libertação de histamina dos mastócitos. A histamina tem dois efeitos que causam edema: (1) aumenta a permeabilidade dos capilares às proteínas. À medida que as proteínas se acumulam no tecido lesado, aumentam a pressão oncótica do LI, promovendo a filtração; (2) a histamina promove ainda a filtração ao relaxar o músculo liso arteriolar. As arteríolas dilatam-se e a resultante queda da resistência arteriolar permite uma maior pressão sanguínea arteriolar sobre os capilares, o que acarreta aumento da pressão hidrostática capilar (Fig. 11) (Cunningham, 1999). 21 Lesão ou Acção Antigénica ↑↑↑↑ Histamina ↑↑↑↑ Permeabilidade ↓↓↓↓ Resistência Capilar a Proteínas Arteriolar ↑↑↑↑ Concentração ↑↑↑↑ Pressão Intersticial de Proteína Hidrostática Capilar ↑↑↑↑ Filtração ↑↑↑↑ Volume de Líquido Intersticial ↑↑↑↑ Pressão do Líquido Intersticial ↑↑↑↑ Fluxo Linfático retroalimentação negativa Figura 11. Edema mediado pela histamina (Adaptado de Cunningham, 1999) 1.7. Fisiologia da Gestação na Cadela A cadela gestante passa por profundas alterações anatómicas e fisiológicas em vários órgãos. Esta adaptação ao estado de grávida começa logo no início da gestação e evolui até ao parto, para se reverter quase por completo poucas semanas depois. O objectivo destas alterações visa assegurar as necessidades fetais. 1.7.1. Adaptação Endócrina na Gestação A adaptação endócrina materna envolve vários patamares endócrinos, incluindo o hipotálamo, hipófise, paratiróide, tiróide, glândulas supra-renais e ovários. Existe uma estreita interação entre estes órgãos e a placenta. Na cadela, as alterações endócrinas que acompanham a gestação são praticamente desconhecidas. Contudo, em traços gerais devem aproximar-se do reportado para outras espécies, coordenando as alterações registadas ao nível do metabolismo 22 energético, lipídico e do cálcio, com o objectivo final de garantir a manutenção da gestação e o suporte prioritário ao desenvolvimento do(s) feto(s). No que respeita à regulação da pressão e do equilíbrio hídrico do organismo, sabe-se que em humanos o sistema renina-angiotensina é o principal determinante da secreção de aldosterona adrenal, embora a ACTH e a hipercalémia também tenham influência. O sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) é estimulado durante a gestação devido à associação da redução da resistência vascular, diminuição da pressão arterial e declínio da resposta vascular à angiotensina II. A progesterona liga-se aos receptores mineralocorticóides e, por isso, o efeito natriurético está aumentado durante a gestação. Assim, durante a gestação há um aumento dos níveis séricos de aldosterona. Alguns investigadores postularam que os níveis plasmáticos elevados de aldosterona durante a gestação são uma resposta compensatória aos factores “perdedores de sal” como a progesterona e o aumento da filtração renal. Numerosos estudos, no entanto, indicam que a ação da aldosterona pode ser separada da progesterona e dão como exemplo, a adaptação dos níveis de aldosterona às variações de sódio da dieta; com níveis elevados de sódio o nível de aldosterona plasmática cai para valores observados em euvolémicos mesmo em presença de elevados níveis de progesterona. Portanto, parece haver evidência de que a aldosterona tem um papel crítico na manutenção do balanço do sódio em caso de dilatação vascular periférica. Esta proposta foi reforçada porestudos da gravidez em ratos, como resultado da ação direta de um fator vasodilatador - a relaxina. Esta hormona, da família da insulina, produz alterações vasculares características da gestação se administrada a machos ou fêmeas castradas. A relaxina é, normalmente, produzida no corpo lúteo, mas durante a gravidez é também produzida pela placenta (Feldman e Nelson, 2000; Petraglia e D’Antona, 2012). Outros fatores humorais contribuem para a regulação do volume plasmático. A concentração do peptídeo natriurético atrial, atinge o seu valor mais baixo no final da gestação quando a atividade plasmática da renina e a concentração sérica de aldosterona atingem o seu pico ( Foley, 2013). As urocortinas são membros da família dos factores de libertação corticotróficos (CRF) e para além de atuarem sobre a libertação da ACTH (Petraglia e D’Antona, 2012), foi também demonstrado que a urocortina 1 regula a resistência dos vasos da placenta ao fluxo de sangue. (Petraglia e D’Antona, 2012; Foley, 2013). Recetores para a urocortina foram encontrados em células endoteliais e do músculo liso, e a sua ativação modula a resistência vascular periférica (por via do óxido nítrico) e estimula diretamente o relaxamento do músculo liso vascular. As concentrações de urocortina estão correlacionadas com alterações hemodinâmicas do fluxo sanguíneo da mãe para o feto através da placenta, pelo que se crê que a 23 urocortina libertada, em doses elevadas, pelas membranas fetais na circulação sanguínea materna, reduz a resistência vascular e incrementa a perfusão de sangue na placenta. Assim, representa uma resposta fetal adaptativa aos problemas hipertensivos da mãe (Foley, 2013). 1.7.2. Adaptações Metabólicas Durante a Gestação A fisiologia materna, principalmente no final da gestação, é primariamente influenciada por hormonas placentárias e do corpo lúteo na cadela. Estas hormonas afetam o metabolismo dos carbohidratos e lípidos com o intuito de assegurar ao feto, a todo o tempo, os nutrientes necessários ao crescimento. A placenta transfere glucose, aminoácidos e corpos cetónicos para o feto mas é impermeável a grandes lípidos. Assim, a placenta afeta o metabolismo nutricional tanto da mãe como do feto de duas maneiras: (1) pela produção de hormonas que afectam o metabolismo materno de carbohidratos e lípidos e (2) controlando a passagem transplacentária de glucose, gordura e proteína (Petraglia e D’Antona D., 2012). Durante os dois meses de gestação, as necessidades do feto canino aumentam exponencialmente, já que este adquire 75% do seu peso, entre os dias 40 e 55. Para corresponder a esta exigência fetal, o organismo materno é alterado, promovendo o desvio da utilização dos carbohidratos a favor da utilização da gordura. Esta substituição é facilitada pela resistência à insulina e pelo aumento da concentração sanguínea de hormonas lipolíticas. Estas adaptações devem-se ao facto de haver grandes flutuações nos níveis de glucose e insulina entre as refeições. Durante o jejum, a concentração de glucose plasmática cai mas os combustíveis alternativos, sob a forma de ácidos gordos livres, glicerol e cetonas, estão disponíveis para a mãe; em contrapartida, a glucose é reservada para o feto (Wolter, 1988; Petraglia e D’Antona, 2012). 1.7.2.1. Metabolismo da Glucose A gestação normal é caracterizada por uma hiperplasia das células beta pancreáticas produtoras de insulina, aumentando a secreção de insulina que, no início, provoca um aumento da sensibilidade mas que logo é seguido por uma resistência progressiva àquela hormona. A Insulina e os fatores de crescimento de tipo insulina são essenciais para a regulação do metabolismo energético, proliferação celular, desenvolvimento de tecidos e diferenciação (Wolter, 1988; Petraglia e D’Antona, 2012).O aumento das células beta pancreáticas é consequente ao aumento na secreção de prolactina e de uma hormona lactogénica, a somatomatropina coriónica (CS). 24 A resistência materna à insulina resulta do aumento da secreção de hormonas placentárias diabetogénicas, como a GH, CRH (acionam a libertação de ACTH e cortisol), somatomatropina coriónica e progesterona (P4) (na cadela, a P4 é produzida apenas pelo corpo lúteo); algumas destas hormonas têm um efeito direto na hiperglicemia. A resistência à insulina resulta também de defeitos nos recetores que contribuem para a redução da ação da insulina. No entanto, estes mecanismos de sensibilidade à insulina e que estão sob o efeito de hormonas placentárias e do CL, não estão bem caracterizados na cadela. Sabe-se, contudo, que a homeostasia materna da glucose, mostra diferenças importantes relativamente ao estado não gravídico (Feldman e Nelson, 1999; Petraglia e D’Antona, 2012).A resistência à insulina na gestação pode originar diabetes mellitus gestacional (DMG), que ocorre quando a função pancreática não é suficiente para compensar esta resistência. Esta situação desaparece habitualmente após o parto, com a diminuição da concentração de progesterona e cessação da produção de somatomatropina, que tem uma semi-vida curta (Feldman e Nelson, 1999; Petraglia e D’Antona, 2012). 1.7.2.2. Metabolismo Lipídico O tecido adiposo branco é um órgão endócrino activo que liberta fatores endócrinos e parácrinos denominados de adipocinas (Petraglia e D’Antona, 2012). A Leptina e a Adiponectina são membros da família das adipocinas e têm um importante papel no metabolismo, inflamação, sistema endócrino e doenças cardiovasculares, mediando a interação entre os tecidos sensíveis à insulina (Petraglia e D’Antona, 2012). A leptina é uma hormona segregada pelo tecido adiposo e placenta e tem um papel chave no metabolismo da gordura. Durante a gravidez há um aumento significativo de leptina no soro materno, com o pico na metade da gestação e permanecendo elevado até ao parto. Nas mulheres, os níveis de leptina foram relacionados com patologias específicas da gravidez como diabetes gestacional, pré- eclâmpsia, e restrição do crescimento intra-uterino. Contudo, as funções da leptina na mulher grávida, feto e placenta não estão ainda claras; algumas observações sugerem que a leptina é capaz de modular a resistência à insulina (Petraglia e D’Antona, 2012). A adiponectina é uma proteína produzida pelo tecido adiposo materno e fetal e desempenha um papel na modulação do metabolismo da glucose e lípidos nos tecidos sensíveis à insulina e no desenvolvimento da diabetes gestacional (Petraglia e D’Antona, 2012). 25 1.7.2.3. Metabolismo Proteico Um aumento significativo da ingestão de proteína é importante para fazer face às necessidades do crescimento fetal, placenta e alterações maternas como o crescimento do útero, mama e aumento de volume das células sanguíneas (Petraglia e D’Antona, 2012). 1.7.2.4. Metabolismo da Água A retenção de água é um fenómeno fisiológico da gestação. Em média, nas mulheres, de 3 litros de água, e com frequência esta retenção é visível clinicamente como edema dos tornozelos e pernas (Petraglia e D’Antona, 2012). A queda de 10 mOsm/Kg na osmolalidade do plasma é das principais razões para a retenção de água. O limiar para a libertação de ADH e para a sede caem paralelamente e contribuem para a retenção de água (Feldman e Nelson, 1999; Petraglia e D’Antona, 2012). 1.8. Hidrópisia Fetal Não Imune no Humano A hidropisia fetal pode ocorrer em humanos, segundo duas etiologia, sendo uma delas a hidrópisia fetal não imune (HFNI). Trata-se da presença anormal de fluido em duas ou mais localizações do corpo: ascite; efusão pleural; efusão pericárdica; edema da pele; poli-hidrâmnios; espessamento placentário (Lockwood e Julien, 2013). A patogénese da HFNI permanece desconhecida mas crê-se que seja multifatorial. No feto, a homeostase dos líquidos entre os compartimentos vascular e intersticial,é controlada por pressão osmótica e pressão hidrostática explicada pela equação de Starling. As alterações no movimento dos fluidos entre o espaço vascular e o espaço intersticial podem dever-se a anomalias, como obstrução na drenagem linfática torácica e abdominal (p.ex. defeito congénito, neoplasia), ao aumento da permeabilidade capilar (p.ex. infecção), ao aumento da pressão venosa ou obstrução do retorno venoso ao coração, ou ainda a redução da pressão osmótica (p.ex. doença hepática, nefropatia, anemia) (Duarte et al., 2001; Lockwood e Julien, 2013). Estudos em humanos e modelos animais revelam níveis plasmáticos de fator natriurético e aldosterona anormais no feto hidrópico, mas a relação causa efeito não foi ainda estabelecida (Lockwood e Julien, 2013). A etiologia da HFNI pode ser muito variável e por vezes é classificada como idiopática. Dentro das causas mais comuns temos: anomalias cardíacas ou arritmias, anomalias cromossómicas, anomalias pulmonares e alterações hematológicas 26 (Duarte et al., 2001). Segundo Arcasoy e Gallagher (1995) citado por (Duarte et al., 2001), as doenças hematológicas estão associadas à HFNI em 10 a 27% do total dos fetos portadores desta complicação e na quase totalidade dos casos, a anemia levando à insuficiência cardíaca, edema, ascite e anasarca é o denominador comum para as alterações associadas. Na tabela 3 apresentam-se as condições clínicas associadas à HFNI: Tabela 3 Condições fetais Condições maternas anomalias estruturais: anomalias gerais Cranianas (encefalocele, hemorragia, porencefalia, aneurisma) Cardíacas (malformações, fibroelastose, arritmias, fechamento precoce do foramen oval) Pulmonares (malformação adenomatosa cística, quilotórax, hérnia diafragmática, linfangiectasia) Gastrointestinais (hérnia diafragmática, atresia duodenal, peritonite meconial, volvo intestinal, divertículo duodenal) Hepáticas (calcificação, fibrose, doença fibrocística, colestase, cirrose com HT portal, displasia portal, hepatite células gigantes) Renais (nefrose, displasia secundária a obstrução uretral, rim pélvico, hipoplasia, rins poliquísticos, trombose veia renal) Vascular (malformações arterio- venosas, teratoma sacro-coccígeo, trombose veia cava, calcificação arterial, hemangioendotelioma) Infecções Displasias ósseas Desordens metabólicas Síndromes Cromossomopatias Anemia Gemelaridade Medicamentosa (indometacina fecha precocemente ducto arterioso) Patológicas (síndrome Ballantyne, doenças sistémicas como diabetes mellitus, anemias, LES, hipoproteinemia e doenças metabólicas) A filtração do plasma dos capilares decorre da diferença de PH nos vasos e no interstício e a sua reabsorção depende da diferença entre PO capilar e intersticial, e da integridade funcional linfática local. Aquando das alterações que levam à acumulação de líquido intersticial, o feto, de modo a manter a homeostasia, tenta compensar através de: (1) aumento da extração de oxigénio pelos tecidos; (2) redistribuição do fluxo sanguíneo para cérebro e coração; (3) aumento do débito cardíaco e da contração miocárdica, pelo aumento de volume 27 de sangue. Estes mecanismos de compensação causam uma elevação da pressão venosa fetal e, consequentemente, aumentam o acúmulo de líquido no interstício. Isto deve-se, principalmente, à elevação da PH nos capilares, levando a aumento da filtração plasmática capilar; e aumento da pressão intersticial que vai diminuir a drenagem linfática. Finalmente, o aumento da pré-carga requer uma maior atividade miocárdica, que já estava aumentada, levando a insuficiência cardíaca fetal, podendo complicar ainda mais a hemodinâmica fetal (Duarte et al., 2001). O tratamento do feto hidrópico requer o tratamento das patologias intercorrentes quando diagnosticadas. É de extremo interesse para o conhecimento desta síndrome, a realização de autópsia dos fetos que não sobrevivem (Duarte et al., 2001). 1.9. Anasarca Fetal no Bulldog Inglês Anasarca fetal (síndrome do bebé de água ou do bebé morsa) é uma síndrome rara nos cães, apesar de a incidência estar a aumentar em várias raças, mas é relativamente frequente no Bulldog Inglês (BI). 1.9.1. Genética No BI é uma condição hereditária e resulta de um número de mutações em genes recessivos ou aberrações estruturais cromossómicas (Zoldag et al., 2001; Hopper et al., 2004). A criação e manutenção artificial de uma raça pura, permite preservar o tipo e todas as características que definem essa mesma raça. No entanto, a consanguinidade e seleção de linhas de cruzamento com o objectivo de obter determinado fenótipo, leva ao “efeito fundador” diminuindo a pool genética (Wheeler, 2011). A perda da variabilidade genética tem como consequência o aumento de doenças, diminuição da capacidade adaptativa e reprodutiva. Quanto menor for a variabilidade genética, mais provável é o aparecimento de defeitos genéticos na população; pois maior é a probabilidade de dois genes recessivos se alinharem em homozigotia e expressarem, assim, a mutação. Além do mais, o efeito do “macho popular” é frequente em raças que têm um número limitado de reprodutores na população, como é o caso do BI. Nesta raça este efeito foi provavelmente agravado pelas leis que restringiam a entrada de animais no país de origem e a seleção implementada na raça. Ainda hoje este efeito se observa na prática e agrava devido à facilidade com que a carga genética de um indivíduo atravessa o mundo, transportado numa dose de sémen. 28 No caso das patologias mais frequentes, como é o caso da síndrome anasarca no BI, a identificação de portadores de genes mutantes e eliminação dos mesmos de programas reprodutivos, levaria a uma diminuição ainda maior do pool genético. Além disso, a epigenética responsável pela plasticidade fenotípica continuaria presente, podendo alongar o tempo necessário a uma redução do problema. Atualmente sabe-se que o efeito do meio ambiente influencia e altera a expressão dos genes sem alterar a sequência do ADN (epigenética). Uma maneira de o fazer, é através da metilação da citosina do ácido nucleico, a qual contribui para o enrolar ou desenrolar da dupla hélice de ADN e sua associação às histonas. Temperatura, toxinas, défices ou excessos nutricionais, podem alterar o grau de metilação ativando genes quiescentes ou desativando genes funcionais. Esta desregulação dos genes pode levar a doenças como o cancro, doenças imunitárias e defeitos cardíacos. Foi demonstrado que a hipometilação está associada com numerosos cancros como linfomas, leucemias e hemangiossarcomas (Wheeler, 2011). 1.9.2. Patofisiologia O mecanismo que leva ao desenvolvimento desta síndrome na raça BI não é claro, mas a heterogeneidade das condições em que ela ocorre sugere uma alteração de tipo multifatorial, pelo que haveria mais do que um mecanismo patofisiológico responsável para o aparecimento de edema generalizado no feto. Em relação ao mecanismo patofisiológico de variadas síndromes e também da síndrome da anasarca fetal no BI, quando duas entidades estão presentes, não se traduz, obrigatoriamente, por uma relação de causa efeito, pois a associação entre duas entidades pode ser explicada por uma terceira entidade. No entanto, os mecanismos envolvidos na formação de edema, obedecem a alterações no equilíbrio de Starling sendo as leis da hemodinâmica fetal, as mesmas que para o adulto, ou seja, uma pressão hidrostática (PH) elevada e/ou uma pressão oncótica (PO) diminuída, favorecem o aparecimento de edema. Durante a gestação, o organismo materno altera o seu funcionamento em virtude de mudanças hormonais. Um erro na síntese e secreção de uma hormona que interfira no metabolismo ou na regulação hídrica, causado ou não por um ambiente desfavorável, altera a interdependência
Compartilhar