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1 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Prof. Me. Luiz Fernando Santos Tross 2 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PROF. ME. LUIZ FERNANDO SANTOS TROSS 3 Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Profa. Dra. Fabiana Miraz de F. Grecco Revisão técnica: Prof. Me. Bruno Ferreira Mendes Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luíza Mendes Leite Fernanda Cristine Barbosa Prof. Esp. Guilherme Prado Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Eliza P. Campos © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza- ção escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 4 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 1° edição Ipatinga, MG Faculdade Única 2021 5 Mestre em Educação Física pela USJT, 2018. Pós-graduação em Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido: na saúde, na doença e no envelhecimento pelo IBEP-CECAFI-USP, 2008. Graduação em Educação Física pela UNI- TAU, 2006. Coordenador de academia por 3 anos e, atualmente, Professor concursado pelo SESI Taubaté e docente na Faculdade de Educação Física da Anhanguera Taubaté (grupo Kroton). Preparador físico da ADC -GM por 10 anos e Professor da Faculdade de Educação Física na UNITAU, 2010. Experiência atuando em clubes e academias e ministra cursos na área fitness. Ministrante de cursos e palestras nas Univer- sidades de Taubaté (UNITAU), Cruzeiro (ESC), Lorena (UNISAL), São José dos Campos (UNIP), Campos do Jordão (SENAC), em prefeituras e outras instituições, além de banca em traba- lhos de conclusão na graduação. Apresenta tra- balhos em congressos e simpósios, entrevistas em rádios, publicações em revistas regionais e autor principal em 3 capítulos de livros na área de Educação Física. Atualmente, no mundo di- gital como mentor e consultor dos profissionais da saúde. LUIZ FERNANDO SANTOS Para saber mais sobre a autora desta obra e suas quali- ficações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link : http://lattes.cnpq.br/6372389336647179 Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado. 6 LEGENDA DE Ícones Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas quais você precisa ficar atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro. Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações. Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro. Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO 7 UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 UNIDADE 4 SUMÁRIO 1.1 Introdução à Bioenergética ....................................................................................................................................................................................................................................................10 1.2 Fontes Energéticas e Metabolismo: Carboidratos, Proteínas e Gorduras ..............................................................................................................................................13 1.3 ATP e Energia para a Atividade Física .............................................................................................................................................................................................................................16 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................................................................................................................................................................................................18 2.1 Sistema Anaeróbio Alático .................................................................................................................................................................................................................................................... 22 2.2 Sistema Anaeróbio Lático ..................................................................................................................................................................................................................................................... 23 2.3 Sistema Aeróbio ...........................................................................................................................................................................................................................................................................26 2.4 Abordagem Sistêmica das Vias Metabólicas ............................................................................................................................................................................................................31 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................34 3.1 Sistema Respiratório e Atividade Física ........................................................................................................................................................................................................................38 3.2 Sistema Cardiovascular e Atividade Física ..................................................................................................................................................................................................................41 3.3 Processo de Contração Muscular e Atividade Física ..........................................................................................................................................................................................43 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................47 BIOENERGÉTICA E ATIVIDADE FÍSICA SISTEMAS ENERGÉTICOS MECANISMOS FISIOLÓGICOS RELACIONADOS À ATIVIDADE FÍSICA 4.1 Adaptações Metabólicas Agudas e Crônicas ao Exercício ................................................................................................................................................................................51 4.2 Resposta endócrina ao Exercício .....................................................................................................................................................................................................................................53 4.3 Obesidade, Fatores de Risco e Doenças Relacionadas ....................................................................................................................................................................................58 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................60ADAPTAÇÕES METABÓLICAS AO EXERCÍCIO 5.1 Adaptações da Criança ao Exercício ...............................................................................................................................................................................................................................64 5.2 Adaptações do Idoso ao Exercício ...................................................................................................................................................................................................................................66 5.3 Diferenças Sexuais no Exercício Físico .........................................................................................................................................................................................................................68 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................72 EXERCÍCIOS E APLICAÇÕES ESPECÍFICAS 6.1 Exercício e Adaptações Fisiológicas ao Calor ...........................................................................................................................................................................................................76 6.2 Exercício e Adaptações Fisiológicas ao Frio .............................................................................................................................................................................................................79 6.3 Exercício e Adaptações Fisiológicas à Altitude ......................................................................................................................................................................................................80 FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................................................................................................................................................................................................83 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO........................................................................................................................................................................................................................86 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................................................................................................................................................................87 FATORES AMBIENTAIS E SUAS IMPLICAÇÕES FISIOLÓGICAS UNIDADE 5 UNIDADE 6 8 O N FI R A N O L I C V R O UNIDADE 1 A Unidade 1 introduz ao aluno um conhecimento básico e necessário relacionado à bioenergética e atividade física, incorporando o entendimento sobre as fontes energéticas e metabolismo dos diferentes substratos, além de apresentar o conceito fundamental da energia para a atividade física, o ATP. UNIDADE 2 A Unidade 2, após o entendimento alicerçado na Unidade 1, apresenta os diferentes sistemas energéticos existentes durante a prática de exercícios físicos, formas em que o nosso corpo utiliza a energia, conhecimento essencial para qualquer profissional de educação física. UNIDADE 3 A Unidade 3 aborda os diferentes mecanismos fisiológicos relacionados à atividade física, como os sistemas respiratório, cardiovascular e o processo de contração muscular, conteúdo indispensável no repertório de conhecimento de todo profissional da área. UNIDADE 4 A Unidade 4 aprimora o entendimento sobre as adaptações metabólicas, tanto agudas como crônicas, ao exercício, assim como introduz às diferentes respostas endócrinas causados pelo exercício e apresenta as mudanças fisiológicas causadas pela obesidade e doenças relacionadas. UNIDADE 5 A Unidade 5 especifica as diferentes aplicações que o exercício causa nos diversos públicos, direcionando como as respostas fisiológicas mudam de acordo com a idade e o sexo das pessoas e o quanto isto é relevante no momento da prescrição de exercício específico. UNIDADE 6 A Unidade 6 reflete sobre como os fatores externos e ambientais afetam o desempenho durante os exercícios, buscando deixar claro como as adaptações fisiológicas divergem na presença de calor, frio e/ou altitude. 9 BIOENERGÉTICA E ATIVIDADE FÍSICA 10 1.1 INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA O conhecimento acerca das reações químicas é essencial para o entendimento do organismo humano, inclusive por profissionais de educação física, os quais devem ter, entre seus muitos saberes, o profundo conhecimento do movimento humano, já que não há movimento humano sem reações bioquímicas. Reações bioquímicas acontecem aos milhares a cada minuto, geralmente dentro das células em nosso corpo, sendo que a este conjunto de reações celulares denominamos metabolismo. Tais reações resultam na degradação ou quebra de moléculas, chamadas de reações catabólicas, assim como podem resultar na síntese ou produção de moléculas, ou seja, reações anabólicas (ALBERTS et al., 2017). Mesmo quando se está dormindo ou em repouso, nosso corpo demanda energia para manter suas funções (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016). Além disso, ao se praticar alguma atividade física, nosso corpo necessita de energia contínua para se manter em movimento. Como as células precisam de energia, as reações (vias) bioquímicas transformam/convertem os alimentos que ingerimos em energia utilizável biologicamente (POWERS; HOWLEY, 2017). O processo metabólico de conversão destes alimentos (proteínas, carboidratos e gorduras, por exemplo) em energia denominamos bioenergética. Quando a energia não é disponível prontamente em nosso organismo, a contração muscular necessária para se manter o movimento não consegue ocorrer, sendo a compreensão abrangente da bioenergética um alicerce fundamental para todos que estudam e promovem o movimento humano. Para se aprimorar o entendimento da bioenergética, é importante analisar a estrutura e a função celular. A estrutura celular é composta por três partes básicas: a membrana celular, o citoplasma e o núcleo. Nos músculos, a membrana celular é denominada sarcolema e o citoplasma recebe o nome de sarcoplasma. A membrana celular tem a função de atuar como barreira protetora das células, diferenciando o ambiente extracelular e o interior da célula, assim como regulam a entrada e saída de diversos elementos para o meio intracelular (citoplasma), composto por diversas organelas, cada qual com uma função específica. No núcleo, encontram-se os genes, os quais regulam a síntese de proteínas dentro das células. Seja na questão estrutural ou no funcionamento dos diversos elementos que compõem a célula, a energia geralmente estará presente, ou no resultado de uma reação que a produza ou utilizando-a para que alguma função ocorra (ALBERTS et al., 2017). As diversas formas de energia, seja ela mecânica, térmica, química ou elétrica, são intercambiáveis, ou seja, permutam funções, sendo que um tipo de energia pode gerar ou se utilizar de outra, caso haja necessidade. Um exemplo didático, para entendimento, é a conversão de energia química (adquirida nos alimentos) em energia mecânica pelas fibras musculares, através de inúmeras reações bioquímicas, as quais geram contração muscular e movimentação articular. As transferências de energia em nosso organismo ocorrem através da liberação da energia adquirida nas ligações químicas de várias moléculas, ligações estas que, em grandes quantidades de energia, são denominadas “ligações de alta energia”. Essa transferência de energia a partir dos alimentos, para ser utilizada no corpo, promove uma série de reações bioquímicas celulares. Quando há a necessidade de se adicionar 11 energia aos reagentes antes de se prosseguir uma determinadareação, ou até mesmo adicionar diretamente à reação, denominamos de “reações endergônicas”. Entretanto, quando as reações emitem/geram energia a partir dos resultados de seus processos químicos, são conhecidas como “reações exergônicas” (POWERS; HOWLEY, 2017). Há, ainda, as reações bioquímicas que são acopladas, ou seja, são reações com conexões entre si, em que a liberação de energia livre em uma reação é utilizada para iniciar ou potencializar uma outra reação. Em outras palavras, é uma reação exergônica liberando energia para ativar uma reação endergônica, estando as duas acopladas entre si. Um exemplo é a importante reação de oxidação-redução (ALBERTS et al., 2017). Entende-se por oxidação, segundo Alberts et al. (2017), o processo de remoção de um elétron de uma molécula ou átomo (não necessariamente o oxigênio), e por redução o processo de adição de um elétron a uma molécula ou átomo. A redução e a oxidação são reações consideradas constantemente acopladas, já que uma molécula/átomo só é oxidada ao doar elétrons (agente redutor) a outra molécula/átomo, sendo a que recebe denomina-se agente oxidante. O oxigênio tem esta propriedade de receber elétrons, produzindo energia utilizável (que será discutido na Unidade 2 ao abordarmos a “cadeia de transporte de elétrons”). Há, ainda, a possibilidade de uma molécula agir tanto como agente redutor como agente oxidante, recebendo elétrons em uma reação e, posteriormente, transfere estes elétrons em uma outra reação para produzir a então reação de oxidação-redução. Estas reações geralmente envolvem a transferência de átomos de hidrogênio e seus elétrons, ao invés de elétrons livres isolados. Assim, uma molécula que doa um átomo de hidrogênio, consequentemente, doa um elétron, sendo, então, oxidada. Duas moléculas são importantes na transferência de elétrons: a nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD), derivada da vitamina B3, e a flavina adenina dinucleotídeo (FAD), derivada da B2. NAD+ é considerada a forma oxidada de NAD e NADH a sua forma reduzida, sendo que com FAD ocorre similarmente, em que FAD é a forma oxidada e FADH a sua forma reduzida. A velocidade com que ocorrem as reações bioquímicas celulares é controlada por moléculas catalisadoras conhecidas como enzimas. As enzimas são proteínas que simplesmente regulam a velocidade em que as reações ocorrem, mas não fazem com que aconteçam e não modificam o tipo ou resultado de uma reação. Uma reação química só ocorre quando os reagentes têm energia necessária para sua ação (energia de ativação), sendo o papel das enzimas reduzir a energia de ativação, para se aumentar a velocidade das reações e, consequentemente, elevar a taxa de formação de um determinado produto (ALBERTS et al., 2017). As características estruturais de uma enzima se diferem de outras, sendo que cada O livro “Introdução à Bioquímica” de Conn e Stumpf (1980, 4ªed), traduzido por Magalhães e Mennucci (2017), traz um entendimento básico sobre reações bio- químicas e metabolismo. Disponível em: https://bit.ly/3eKp5M7. Acesso em: 23 ago. 2021. BUSQUE POR MAIS 12 uma possui cristas e sulcos específicos, denominados “sítios ativos”. Estas características fazem com que uma determinada enzima possa se juntar a uma dada molécula reativa em particular (substrato) que se encaixa nas cristas e/ou sulcos. Este conceito de adaptação específica de uma enzima a um determinado substrato tem a mesma relação analógica da “chave e fechadura” (Figura 1). A conformação do sítio ativo da enzima específica para o formato do substrato específico forma o complexo enzima-substrato. Depois de formar o complexo enzima- substrato, a energia de ativação diminui e a reação se conclui mais facilmente, ocorrendo a dissociação da enzima e do produto posteriormente. As enzimas classificam-se em quinases, desidrogenases, isomerases, oxidases e algumas mantêm os termos mais antigos a elas associadas, como a pepsina, renina e tripsina. O sufixo “ase” característico nos nomes das enzimas dizem respeito à função da enzima e à reação por ela catalisada, como, por exemplo, as quinases, que fosforilam (acrescentam um grupo fosfato) uma molécula específica; as desidrogenases, que retiram átomos de hidrogênio de seus substratos; as oxidases, catalisadoras das reações de oxidação-redução que envolvem oxigênio; e as isomerases, que reorganizam os átomos nas moléculas de substrato para constituir isômeros estruturais (moléculas com fórmulas estruturais diferentes mas com a mesma fórmula molecular). Alguns fatores podem alterar a atividade enzimática, como a temperatura e o pH. Uma temperatura ideal faz com que as enzimas sejam mais ativas, ou seja, uma pequena elevação da temperatura corporal acima dos 37º C (normal) eleva a atividade da maioria das enzimas (Gráfico 1 - a). Isto é essencial e útil durante o exercício físico, pois intensifica a produção de ATP, através das reações bioenergéticas. O pH também exerce um amplo efeito sobre a atividade enzimática, pois ocorre similarmente à temperatura, isto é, as enzimas têm um pH ideal para otimização de suas funções, caso contrário, sua atividade enzimática diminui, o que pode acarretar implicações importantes durante o exercício (Gráfico 1 - b). Note que a atividade enzimática não é máxima à 37º C (temperatura corporal normal), e que o aumento da temperatura induzido pelo exercício físico provoca uma elevação da atividade enzimática. Figura 1: Formação do complexo enzima-substrato, resultando da reação os produtos distintos C e D Fonte: Powers e Howley (2017, p. 45) 13 Observe que um aumento ou diminuição do pH (acidez ou alcalinidade da solução), além da faixa ideal, provoca queda da atividade enzimática, e é o que acontece durante o exercício intenso, pois os músculos esqueléticos podem produzir grandes quantidades de íons hidrogênio (H+). O acúmulo em grandes quantidades de H+ provoca a queda do pH dos líquidos corporais (acidez) em índices menores do que a faixa ideal de enzimas bioenergéticas, resultando na diminuição da capacidade de fornecer a energia (ATP) necessária para a contração muscular eficiente. Isto será discutido novamente na Unidade 4. O corpo humano é composto basicamente por quatro substâncias químicas básicas (elementos): oxigênio com 65%, carbono, hidrogênio e nitrogênio, sendo 18%, 10% e 3%, respectivamente (FOX, 2013). Outros elementos, importantíssimos também no processo que resulta em movimento humano, porém em menor proporção, incluem o cálcio, potássio, sódio, ferro, cloreto, magnésio e zinco. As conexões destes elementos, através das ligações químicas, formam compostos ou moléculas. Compostos podem ser orgânicos ou inorgânicos, sendo que os orgânicos (exemplo: proteínas, carboidratos e gorduras) contêm carbono em sua estrutura e os inorgânicos, como a água (H²O), não. Conforme mencionado na seção 1 desta unidade, o corpo humano utiliza-se dos nutrientes adquiridos através da alimentação para a transformação em energia a ser utilizável de diversas maneiras no nosso organismo, seja para que ocorra uma determinada reação, para que entre uma partícula no meio intracelular, para a própria manutenção Gráfico 1: a) Efeito da temperatura corporal sobre a atividade enzimática; b) Efeito do pH sobre a atividade enzimática Fonte: Powers e Howley (2017, p. 46) Como visto, tanto o pH como a temperatura interferem positiva ou negativamente na atividade enzimática. Será este um dos motivos que nós, profissionais de educação física, devemos sempre buscar controlar volume-intensidade-descanso dos exercícios e, se pos- sível, a temperatura ambiente? Caso não controlemos estas variáveis, o que pode aconte- cer no decorrer da prática de exercício para nossos alunos? VAMOS PENSAR? 1.2 FONTES ENERGÉTICAS E METABOLISMO: CARBOIDRATOS, PROTEÍNAS E GORDURAS 14 das atividades celulares ou para que haja movimento humano. Os combustíveis que mais geram energia para o ser humano, principalmente para a práticade exercício físico, são os carboidratos, as gorduras e as proteínas. Quando se pensa em exercício, os primeiros nutrientes utilizados para a obtenção de energia são os carboidratos e as gorduras. Já as proteínas contribuem com um percentual baixo da energia total utilizada (BROOKS, 2012). Carboidratos (CHO) são estruturalmente formados por átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio, conhecidos antigamente por glicídios. Ao serem armazenados no organismo humano, fornecem uma forma de energia disponibilizada rápida e prontamente, se necessário, sendo que 1 grama (g) fornece cerca de 4 kcal de energia (TYMOCZKO; BERG; STRYER, 2009). Segundo Tymoczko, Berg e Stryer (2009), há três formas conhecidas de CHO: monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos. Monossacarídeos são açúcares simples, como a frutose, a glicose e a galactose (açúcar do leite). A frutose é encontrada nas frutas ou no mel e é o carboidrato simples mais adocicado (REED, 2010). A glicose é encontrada nos alimentos e trato digestivo, através da degradação de carboidratos mais complexos. É mais conhecida e popularmente referenciada como “açúcar do sangue” e é a única forma de carboidrato que pode ser metabolizada de maneira direta para obtenção de energia (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016). Dissacarídeos são constituídos pela união de dois monossacarídeos. A sacarose (açúcar que normalmente utilizamos no dia a dia, também encontrada na cana-de-açúcar, beterraba e mel), por exemplo, é composta por glicose e frutose, assim como a maltose, composta por duas moléculas de glicose. Segundo Kraemer, Fleck e Deschenes (2016), mesmo sendo consumidos na alimentação, os dissacarídeos precisam ser degradados em monossacarídeos no trato digestivo antes de estarem na corrente sanguínea. Já os polissacarídeos são considerados carboidratos mais complexos, com, pelo menos, três monossacarídeos (moléculas pequenas) ou centenas deles combinados (moléculas grandes). Nas plantas, as duas formas mais encontradas são o amido e a celulose, mas os seres humanos não digerem a celulose, descartando-a como resíduo fecal. Em contrapartida, o amido (encontrado em grãos, feijão, milho, ervilha e batata) é digerido facilmente no organismo humano, o que contribui para uma fonte de carboidratos importante na dieta (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). Após sua ingestão, o amido é degradado (quebrado) formando monossacarídeos que podem ser utilizados rapidamente pelas células como energia ou armazenados para futuras necessidades energéticas. No tecido animal, armazena-se um polissacarídeo conhecido como glicogênio, importantíssimo provedor de energia para o corpo humano e responsável por uma das vias energéticas durante os exercícios. O glicogênio é sintetizado pela ação da enzima glicogênio sintase, ocasionando na união de centenas a milhares de moléculas de glicose. Como forma de suprir as demandas de carboidrato como fonte de energia, as células armazenam glicogênio, que é degradado em glicose pelo processo de glicogenólise para ser usado como energia nas contrações musculares durante o exercício, por exemplo. Esta degradação de glicogênio também acontece no fígado, liberando glicose livre na corrente sanguínea, sendo então levada para todo o organismo (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; POWERS; HOWLEY, 2017). 15 As moléculas de glicose também se combinam, tanto no tecido muscular como no fígado, para formar glicogênio através de um processo denominado glicogênese, abordada mais profundamente na Unidade 2. No entanto, a reserva de glicogênio total não é relativamente grande e pode ser reduzida drasticamente após sua constante degradação durante exercícios prolongados, principalmente. Por tal motivo, deve-se analisar e controlar individualmente tanto a ingestão de carboidratos nas dietas como a relação volume-intensidade-duração dos exercícios físicos. Gorduras contêm elementos químicos idênticos aos carboidratos, mas a relação proporcional de carbono-oxigênio é consideravelmente maior nas gorduras. As gorduras também são conhecidas popularmente por lipídios e são combustíveis ideais para exercício prolongado (ver mais na Unidade 2), pois suas moléculas contêm mais que o dobro de energia (9 Kcal/g) do que proteínas e carboidratos (4 Kcal/g) (DEVLIN, 2010; REED, 2010). São insolúveis em água (basta analisar como gotas de gordura ou óleo não se misturam com água) e podem ser classificadas em esteroides, fosfolipídios, triglicerídeos e ácidos graxos. Esteroides são lipídios que não possuem ácidos graxos em sua estrutura, estando no corpo humano na forma de hormônios sexuais, vitamina D ou esteróis, como o colesterol. Colesterol é o esteroide mais comum, encontrado em todas as membranas celulares e nos alimentos, é sintetizado em cada célula do nosso corpo e necessário para a síntese de hormônios sexuais, como a testosterona, estrogênio e progesterona (FOX, 2013). Entretanto, mesmo com inúmeras funcionalidades importantes, nível elevado de colesterol sanguíneo é considerado um fator de risco para cardiopatias (MASSON et al., 2017), e será mais abordado na Unidade 4. Os fosfolipídios (lipídios associados ao ácido fosfórico) também são sintetizados em quase todas as células e tem entre suas funções biológicas a manutenção integral das membranas celulares e o revestimento das fibras nervosas, formando uma bainha isolante (FOX, 2013). Porém, esteroides e fosfolipídios não são usados como substratos energéticos durante o exercício (TIIDUS; TIPLING; HOUSTON, 2012). Ácidos graxos são constituídos por um grupo carboxila (grupo de carbono, oxigênio e hidrogênio) ligado a cadeias longas de átomos de carbono. Os ácidos graxos podem ser classificados como saturados e insaturados, sendo estes ainda categorizados em monoinsaturados ou polinsaturados. Ácidos graxos são a forma de gordura primária utilizado pelo miócito (células musculares) para obtenção de energia e são armazenados na forma de triglicerídeos, no organismo humano. Os triglicerídeos compõem-se por três moléculas de ácidos graxos e uma de glicerol Tanto o glicogênio armazenado no fígado quanto na musculatura esquelética são enzimaticamente degradados (glicogenólise) durante a atividade física (alta demanda energética), mas não com o mesmo objetivo. A glicogenólise do fíga- do busca restaurar os níveis normais de glicose sanguíneo reduzidos durante a atividade física, no entanto, quando o músculo esquelético realiza a glicogenó- lise intracelular, a glicose-6-fosfato resultante é utilizada como substrato para a glicólise, fornecendo ATP para o próprio músculo utilizar. Portanto, a quebra do glicogênio intramuscular não restabelece níveis de glicose sanguíneo. FIQUE ATENTO 16 (tipo de álcool e que não é gordura), armazenados, em sua maioria, nos adipócitos (células gordurosas), mas também em diversos tipos celulares, inclusive o músculo esquelético. Quando há necessidade, os triglicerídeos são degradados (processo conhecido por lipólise, realizado pelas enzimas lipases), liberando ácidos graxos, que podem ser usados como fonte energética pelos músculos ou outros tecidos, e liberando glicerol, que não é uma fonte energética para o músculo, mas pode ser reaproveitado para sintetizar glicose, pelo fígado. Assim, uma molécula de triglicerídeo é inteiramente aproveitada como fonte de energia para o corpo, inclusive durante a prática de exercícios físicos, através dos ácidos graxos. Os estoques de gordura são abundantes no organismo, mesmo em indivíduos magros. Assim, não ocorre a depleção de energia oriunda da gordura durante a atividade física, mesmo que de longa duração, o que elimina a depleção de gordura como precursora de fadiga (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016). Proteínas são compostas pela união de diversos aminoácidos, que se ligam por meio das chamadas ligações peptídicas. São necessários algumas dezenas de tipos de aminoácidos para formar enzimas, tecidos e proteínas sanguíneas, por exemplo. De maneira geral, umapequena quantidade de proteína/aminoácidos é metabolizada com a função de fornecer energia. Para servir como substrato energético, as proteínas devem ser degradadas nos aminoácidos que compõem sua fórmula. No fígado, o aminoácido alanina pode ser converter em glicose, a qual pode ser usada como fonte energética após a sua síntese em glicogênio. Este glicogênio hepático pode ser quebrado em glicose e ser transportado ao músculo pela corrente sanguínea, também usado em forma de energia (ver unidade 2). Outros aminoácidos, como a leucina, isoleucina e valina, podem ser convertidos em intermediários metabólicos nos miócitos e colaborar diretamente nas vias bioenergéticas, como combustível (GIBALA, 2007). Portanto, o corpo usa os macronutrientes ingeridos diariamente para obter a energia necessária e manter as atividades celulares, seja em repouso ou em exercício. Muito falamos de substrato energético, fontes bioenergéticas e obtenção de energia, mas agora vamos aprofundar nosso conhecimento sobre o que é esta energia que mantém nosso organismo funcionando, sendo a molécula mais importante que transporta energia nas células conhecida como ATP e, na sua ausência, a maioria das células tende a morrer rapidamente. Quando se pensa em contração muscular, compostos de fosfatos de alta energia são solicitados como fonte de energia imediata para que haja recrutamento destas fibras musculares e possa haver movimento, fosfatos estes denominados trifosfato de adenosina ou adenosina trifosfato – o ATP (REED, 2010). Independentemente da forma como a energia útil é produzida (aeróbia ou anaeróbia), o produto resultante é a molécula de ATP (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016). O ATP tem, por sua estrutura, uma constituição de ligação entre adenina e ribose (estas duas moléculas combinadas formam a molécula de adenosina), e três fosfatos e é conhecido como doador de energia universal. O ATP pode ser formado a partir do difosfato de adenosina ou adenosina difosfato (ADP), fosfato inorgânico (Pi) e íon de hidrogênio (H+). Posteriormente, o ATP é degradado em ADP e Pi, liberando energia que 1.3 ATP E ENERGIA PARA A ATIVIDADE FÍSICA 17 pode ser usada nos processos celulares, como várias ações musculares. As moléculas de ADP, ATP e Pi não são destruídas durante as reações, mas sim as ligações químicas que mantêm os grupos de fosfato unidos, as quais são degradadas a fim de liberar energia; ou então é adicionada energia para refazer a ligação que une o Pi à molécula de adenosina, formando novamente o ATP. O aumento da produção do H+ quando o ATP é decomposto pode levar ao processo de acidose intramuscular, o que interfere negativamente durante os exercícios físicos; em contrapartida, a necessidade de H+ quando ADP e Pi se combinam para produção do ATP promove a redução desta acidose. A energia que é necessária para que haja a ligação do ADP com o Pi pode ser obtida da reação aeróbia ou anaeróbia, que será discutido no capítulo 2. Após a degradação de alimentos no nosso trato digestivo, libera-se a energia para se tornar útil para todas as células. As células utilizam as quebras destes alimentos (reações exergônicas) para formar ATP via reações endergônicas, o qual pode ser utilizado para impulsionar os metabolismos celulares que necessitam de energia. Assim, há quase sempre associação das reações liberadoras de energia com as que necessitam de energia (POWERS; HOWLEY, 2017). Para entender mais sobre fontes de ATP e exercício, consulte o capítulo 5 do livro de Fisiologia do Exercício disponível na Minha Biblioteca Única. Disponível em: https://bit.ly/3qKYnc0. Acesso em: 24 ago. 2021. BUSQUE POR MAIS 18 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (IBADE- 2018). O metabolismo é o conjunto de processos de obtenção e utilização de energia para a realização das funções biológicas que mantêm as pessoas vivas. Esses processos abrangem diferentes vias metabólicas, que trabalham de maneira coordenada e envolvem a aquisição de energia química do ambiente e a conversão dos nutrientes em moléculas funcionais. Os principais nutrientes dos quais as células extraem energia são o oxigênio e, um ou mais tipos de alimentos (glicose, ácidos graxos e aminoácidos). No interior da célula, dentro das mitocôndrias, essas substâncias alimentares reagem quimicamente com o oxigênio sob a influência de várias enzimas, que controlam a intensidade e a velocidade dessas reações, canalizando a energia liberada para um fim adequado. Este metabolismo de produção de energia é: a) anaeróbico. b) alático. c) lático. d) aeróbico. e) misto. 2. Sobre o glicogênio, julgue como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações abaixo: ( ) É um açúcar de reserva energética para os animais (encontrado no fígado e nos músculos) ( ) O glicogênio é sintetizado após a degradação da glicose ( ) Após degradado, origina moléculas de glicose, podendo ser usadas como energia Assinale a sequência correta obtida no sentido de cima para baixo. a) V – V – V. b) V – F – V. c) F – V – F. d) F – F – V. e) V – F – F. 3. Sobre metabolismo, analise se as afirmativas são verdadeiras (V) ou falsas (F). ( ) É o conjunto de transformações e reações químicas através das quais se realizam os processos de síntese e degradação (ou decomposição) das células. ( ) O metabolismo acontece com a ajuda de enzimas através de uma cadeia de produtos neurais e armazenados sob a forma de oxigênio. ( ) Está relacionado com três funções vitais: nutrição (inclusão de elementos essenciais), respiração (oxidação desses elementos essenciais para produção de energia química) e síntese de moléculas estruturais (utilizando a energia produzida). ( ) O processo metabólico se divide em dois grupos denominados anabolismo (reações 19 de síntese) e catabolismo (reações de degradação). A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a a) V – F – V – V. b) V – F – F – V. c) V – V – F – F. d) F – V – F – V. e) F – F – V – V. 4. As principais funções dos lipídios no organismo são: I. Fonte e reserva de energia. II. Proteção dos órgãos vitais. III. Restauração da composição óssea. IV. Isolamento térmico. V. Carreador de vitaminas e supressor de fome. a) Somente as assertivas II, IV e V estão CORRETAS. b) Somente as assertivas I, II, III e IV estão CORRETAS. c) Somente as assertivas I, II, IV e V estão CORRETAS. d) Somente as assertivas II, III e V estão CORRETAS. e) Somente as assertivas I, III, IV e V estão CORRETAS. 5. As células do corpo humano necessitam de energia de reações químicas que ocorrem em diferentes sistemas do metabolismo celular (resultado de todas as reações da célula). Neste caso, como se chamam as reações que armazenam e liberam a energia das células do corpo? Escolha a alternativa correta. a) Reações agonistas (anabólicas) e antagonistas (catabólicas). b) Reações anaeróbias (anabólicas) e aeróbias (catabólicas). c) Reações intrínsecas (anabólicas) e extrínsecas (catabólicas). d) Reações simples (anabólicas) e complexas (catabólicas). e) Reações endergônicas (anabólicas) e exergônicas (catabólicas). 6. Para ter energia, precisamos ingerir ________, que são os carboidratos, gorduras e proteínas. Dos três elementos, o(a) ________ é o que fornece mais energia (9 Kcal/g). Porém, outros elementos são essenciais na dieta alimentar de todos os humanos, como os minerais e vitaminas, conhecidos por ___________. Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas do texto. a) Macronutrientes; carboidrato; energéticos. b) Micronutrientes; carboidrato; macronutrientes. c) Macronutrientes; proteína; micronutrientes. 20 d) Micronutrientes; gordura; energéticos. e) Macronutrientes; gordura; micronutrientes. 7. Tanto o fígado como o músculo armazenam o glicogênio, porém com objetivos diferentes. Quando há a necessidade, ambos realizam um processo em que se auxiliam mutuamente. Que nome se dá ao processo de cooperação metabólica entre músculo e fígado, por meio da qual se dá a conversão do lactato emglicose? a) Ciclo de Bari. b) Ciclo de Gorsky. c) Ciclo de Cori. d) Ciclo de Osman. e) Ciclo de Krebs. 8. As enzimas são moléculas catalisadores que regulam velocidade com que ocorrem as reações bioquímicas celulares. As enzimas se ligam aos _____________, através dos _________________, formando o que conhecemos pelo complexo __________________, analogia ao modelo “chave-fechadura”. Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas do texto. a) Substratos; Filamentos; Enzima-substrato. b) Sítios ativos; Substratos; Enzimático. c) Substratos; Sulcos de ligação; Enzimático. d) Sítios ativos; Substratos; Enzima-substrato. e) Substratos; Sítios ativos; Enzima-substrato. 21 SISTEMAS ENERGÉTICOS 22 Os miócitos devem ter vias metabólicas que tenham a capacidade de produzir e fornecer energia rapidamente, ou seja, ATP. Quando nos exercitamos, os músculos necessitam constantemente de suprimento de ATP para que haja contração, porém, os miócitos armazenam quantidades restritas de ATP (POWERS; HOWLEY, 2017). A produção de ATP acontece por meio de uma via metabólica ou a combinação de três vias. No entanto, o que é mais aceito pela literatura científica, já que o termo certo em se referir a uma via metabólica é que ela está predominante, e que uma via metabólica atua em maior proporção que outras dependendo da intensidade e duração do esforço. Isso fará mais sentido após estudarmos as três vias metabólicas (anaeróbia alática, anaeróbia lática e aeróbia), e a abordagem sistêmica entre estas vias na sessão 1.4 desta unidade. Para o metabolismo anaeróbio alático, temos o fator/método mais rápido de produção de ATP entre todas as vias metabólicas, pois envolve a doação de um grupo fosfato e a energia de ligação da creatina fosfato ou fosfocreatina (CP ou PC) para o ADP, formando assim o ATP, sendo esta reação regulada pela atividade da enzima creatina quinase (REED, 2010; TYMOCZKO; BERG; STRYER, 2009), como mostra a Figura 2. No entanto, essa via é capaz de manter o exercício por apenas cerca de 30 segundos, sendo que se o exercício continuar, uma próxima via metabólica passa a ser a responsável por reabastecer o ATP para os músculos em funcionamento por até aproximadamente três minutos (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016). A creatina quinase é ativada devida ao aumento das concentrações sarcoplasmáticas de ADP e é inibida por altos níveis de ATP. Ao começar o exercício, o ATP é degradado em ADP + Pi para fornecer energia para contração muscular e, com o aumento imediato das concentrações de ADP, a creatina quinase é estimulada a decompor a PC em Pi e creatina, resultando em doação de Pi para o ADP, para que ocorra a ressíntese do ATP. Inclusive, já se começa a estudar o quanto o Pi existente no corpo pode se unir ao ADP circulante para já produzir rapidamente ATP nos primeiros 3-5 segundos de exercício. 2.1 SISTEMA ANAERÓBIO ALÁTICO O conteúdo intracelular de ATP também é relativamente pequeno nos miócitos, ou seja, durante a atividade física estas concentrações de ATP reduzem rapidamente e, se os níveis de ATP não forem repostos proveniente dos ciclos metabólicos, pode- se resultar no declínio da produção de força muscular. Porém, a elevação da acidose intramuscular, decorrente do aumento da concentração de H+ causada pela atividade anaeróbia (a degradação do ATP resulta na liberação de 1 íon de hidrogênio, liberando Figura 2: A energia liberada da degradação da fosfocreatina é usada para produzir ATP Fonte: Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 33) 23 Quando se continua o exercício, após alguns segundos, outras vias metabólicas aumentam sua predominância, atuando cada vez mais para produzir a energia para a contração muscular, mesmo porque o sistema ATP-CP já não consegue gerar o ATP com eficiência. A glicólise (quebra da glicose) ou glicogenólise (quebra do glicogênio), é o próximo processo metabólico a atuar de forma mais prioritária que outras vias, produzindo ATP rapidamente e sem a utilização do oxigênio em suas reações. Esta glicólise forma duas moléculas de piruvato ou lactato, transferindo sua energia de ligação para unir o fosfato inorgânico (Pi) ao ADP. O processo envolve diversas reações acopladas e catalisadas por enzimas, gerando, ao final do processo de quebra de uma energia útil), também pode ser um fator que limita a produção de força. Outra hipótese é a compartimentalização do ATP, o que significa que mesmo em níveis altos de ATP intramusculares, há ausência de ATP nos miócitos para fornecer energia para a produção de força. Um estudo de Meyers e Wiseman (2006) propõe que o acúmulo de Pi resultante da degradação rápida do ATP desempenha um papel na fadiga muscular. Esta relação do ATP armazenado e a CP denomina-se sistema ATP-CP ou sistema fosfagênico, sendo considerada uma via metabólica anaeróbia alática, por não usar o oxigênio para transformar em energia e por não produzir lactato resultante de suas reações. Para a formação de PC necessita-se de ATP, o que ocorre somente na recuperação do exercício, e este um dos motivos importantes do controle da recuperação em atividades como a musculação, por exemplo. Por isso, após um período de treinamento, melhora- se a capacidade de realizar exercícios de alta intensidade e curta duração decorrente da capacidade do músculo de restabelecer os níveis de fosfagênio (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016). O sistema ATP-CP é essencial e a principal fonte de ATP para praticantes de exercícios de pouca duração e atletas que disputam provas intensas e de curta duração, como um levantamento de peso olímpico, um sprint curto em uma partida de futebol, um saque ou uma cortada no voleibol, uma corrida de 50 metros do atletismo ou um salto em altura. Todos estes esportes ou movimentos específicos acontecem em apenas alguns segundos, o que explica a necessidade de um suprimento rápido de ATP. O sistema ATP-CP, através de uma reação simples, com uma única enzima, produz o ATP necessário para a realização destas atividades e outras que tenham o mesmo princípio, curta duração e alta intensidade. Assim, a depleção de PC pode limitar este tipo exercício, o que sugere a ingestão de creatina para melhorar o desempenho no exercício pois aumentaria a taxa de produção de ATP pelo sistema ATP-CP (GUALANO et al., 2012; MOON et al., 2013). Acesse o capítulo 11 do livro “Nutrição, Metabolismo e Suplementação na Ativi- dade Física - 2ª Edição” para melhor entendimento sobre creatina e atividade física. Disponível em: https://bit.ly/3sT6TYU. Acesso em: 28 ago. 2021. BUSQUE POR MAIS 2.2 SISTEMA ANAERÓBIO LÁTICO 24 molécula de glicose, duas moléculas de ATP e duas de lactato (GUYTON; HALL, 2006). A glicose provém tanto das reservas sanguíneas quanto dos estoques intramusculares de glicogênio, mas existe uma diferença entre a produção de ATP decorrente da quebra da glicose e da quebra do glicogênio. Caso a glicose seja utilizada, 1 ATP é necessário na reação que fornece 1 fosfato (fosforilação) para produzir glicose- 6-fosfato. Quando se inicia com o glicogênio, a ligação química entre as moléculas de glicose e glicogênio é degradada durante o processo denominado glicogenólise. Neste caso, a glicose é fosforilada pelo Pi já existente, resultando na formação de glicose-6- fosfato e poupando a utilização de 1 molécula de ATP, o que não acontece quando a glicose provém do sangue. Após a formação de glicose-6-fosfato, as etapas subsequentes da glicólise são exatamente iguais, independentemente se foi a glicose ou glicogênio que iniciou o processo, como mostra a Figura 4 (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; POWERS; HOWLEY, 2017). Para explicar a glicólise, primeiramente devemos esclarecer que há duas fases distintas, ou seja, uma fase de utilização de energia (uso do ATP) e uma fase de geração de energia (produz o ATP). As cinco reações iniciais constituem a fase de utilização de energia, em que fosfatos de açúcar são formados com a utilização do ATP armazenado. Apesardo resultado desta reação seja a produção de energia, há a utilização de ATP em dois momentos nesta primeira fase, sendo que o propósito é acrescentar grupos fosfato (fosforilação) à glicose e à frutose-6-fosfato. Já quando a glicólise usa o glicogênio como substrato, é necessário adicionar apenas um ATP, pois o glicogênio dispensa a fosforilação por ATP, já que é fosforilado pelo Pi. A partir de então, as últimas etapas da glicólise são propriamente para gerar energia, já que duas moléculas de ATP são produzidas em duas das reações na via glicolítica, finalizando com um saldo de dois ATP ao se usar a glicose e três ATP com o glicogênio Figura 3: Interação da glicose sanguínea e glicogênio muscular no processo de glicólise Fonte: Powers e Howley (2017, p. 51) Ácido láctico ou lactato? Estes termos são usados frequentemente para definir uma molécula apenas, mas, na ver- dade, são diferentes, apesar de terem relações muito próximas. O lactato é o sal do ácido VAMOS PENSAR? 25 Como substrato da glicólise, levando em consideração os ATP utilizados na primeira fase, como mostra resumidamente o fluxograma da glicólise na Figura a seguir. Duas moléculas transportadoras (NAD+ e FAD) carregam os hidrogênios (H+) e seus elétrons removidos dos substratos após as reações nas vias bioenergéticas. Estes H+ são usados posteriormente na geração de ATP na mitocôndria via processos aeróbios (próxima via metabólica, explicada na seção 3 desta unidade). Para que a glicólise aconteça, dois H+ precisam ser removidos do gliceraldeído 3-fosfato, que se une ao Pi e forma 1,3-difosfoglicerato. O NAD+ é o aceptor de apenas um dos H+ nessa reação (NADH é a forma reduzida de NAD+ ao aceitar o H+), sendo que os restantes ficam livres em solução. Os H+ removidos do gliceraldeído 3-fosfato devem ter a sua disposição uma Figura 4: Resumo do metabolismo anaeróbio da glicose Fonte: Powers e Howley (2017, p.52) láctico pois, após a dissociação e liberação de íons hidrogênio pelos ácidos, a molécula resultante é denominada base conjugada do ácido. Resumindo, o lactato é a base conju- gada do ácido lático após a ionização. 26 2.3 SISTEMA AERÓBIO quantidade significativa de NAD+ para que haja a ligação e a glicólise possa continuar (PRATT; CORNELY, 2011; BROOKS, 2012). O NADH forma novamente o NAD+ de duas formas: com a presença de oxigênio (O2) em quantidade suficiente, se une ao H+ na mitocôndria celular e assim contribui para a produção aeróbia de ATP; na ausência de O2, o piruvato aceita o H+ para formar lactato, catalisada pela enzima lactato desidrogenase (LDH). Este é o motivo de haver a formação de lactato, para que se prossiga o processo de glicólise. A glicose tem seis átomos de carbono, enquanto o piruvato e o lactato possuem três, e por isso há a produção de duas moléculas de piruvato ou lactato a partir de uma de glicose. Sem o envolvimento direto de O2 na glicólise e com a produção do lactato, denomina-se via metabólica anaeróbia lática. Caso haja presença de O2 na mitocôndria, o piruvato pode contribuir para a produção aeróbia de ATP, sendo a glicólise uma via capaz de produzir ATP de maneira anaeróbia e considerada a primeira etapa da degradação aeróbia de carboidratos. Após o entendimento das duas primeiras vias metabólicas (anaeróbia alática e lática), caso se mantenha o exercício associado a uma intensidade em que a glicólise já não consiga suprir a demanda de ATP, a predominância da via metabólica aeróbia passa a ser maior para a produção de energia. É dentro da mitocôndria que acontece a produção de ATP, a partir da interação de duas vias metabólicas cooperativas: o ciclo de Krebs e a cadeia de transporte de elétrons (CTE) (ALBERTS et al., 2017). O ciclo de Krebs, também conhecido como ciclo do ácido cítrico ou ciclo do ácido tricarboxílico, tem a função primária de remover o hidrogênio (oxidação) dos carboidratos, gorduras ou proteínas usando NAD+ e FAD como transportadores deste H+. Os H+, em decorrência dos elétrons que possuem, contém a energia em potencial, que pode ser usada na CTE para unir ADP + Pi e assim sintetizar novamente o ATP (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016). Segundo os autores, o O2 não atua nas reações do ciclo de Krebs, porém é o último aceptor de H+ ao final da CTE (cadeia respiratória), formando água (H2 + O → H2O). O processo de produção aeróbia de ATP ocorre em três estágios e é denominado fosforilação oxidativa: o primeiro estágio consiste na geração da acetil-CoA (molécula central com dois carbonos); no segundo estágio acontece a oxidação da acetil-CoA no ciclo de Krebs; no terceiro estágio ocorre o processo de fosforilação oxidativa na CTE. A entrada no ciclo de Krebs requer preparo da acetil-CoA, formada a partir da quebra de carboidratos, gorduras ou proteínas. A transformação da acetil-CoA a partir do piruvato (produto final da glicólise), libera um carbono na forma de CO2, para que a acetil- CoA combine-se com o oxaloacetato (quatro carbonos) para formar citrato (molécula com seis carbonos). Assim, iniciam-se reações para regeneração de oxaloacetato e duas moléculas de CO2, recomeçando a via (GUYTON; HALL, 2006). Lembrando que, na glicólise, cada molécula de glicose degradada gera duas moléculas de piruvato que, na presença de O2, são convertidas em duas moléculas de acetil-CoA, ou seja, que cada molécula de glicose ocasiona duas rodadas do ciclo de Krebs. Para entender melhor o ciclo de Krebs, observe que cada acetil-CoA resulta na produção de 1 ATP, CO2 e H+, os quais são carreados pelas moléculas carreadoras 27 de elétrons para a CTE, onde o metabolismo aeróbio produz a maioria dos ATP, como demonstrado na Figura 5 (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016). A função primária do ciclo de ácido cítrico é remover H+ e sua energia a partir de vários substratos envolvidos neste ciclo. Conforme ilustrado, a cada rodada do ciclo de Krebs, são formadas três moléculas de NADH e uma molécula de FADH, os quais podem retornar para sua forma oxidada (NAD e FAD, respectivamente) ao liberar elétrons para as moléculas carreadores dentro da CTE. Além da formação do NADH e FADH, o ciclo de Krebs forma outro composto rico em energia, o trifosfato de guanosina (GTP), que é capaz de transferir seu grupo fosfato terminal ao ADP, formando ATP. Esta formação, denominada fosforilação de nível de substrato, contribui apenas com uma pequena quantidade da conversão de energia total no ciclo de Krebs, pois a maior formação de energia provém da CTE (GUYTON; HALL, 2006). A produção de acetil-CoA, no entanto, não provém somente da glicólise (quebra do carboidrato), mas também da degradação das gorduras e proteínas (Figura 6). As gorduras (triglicerídeos) são degradadas formando ácidos graxos e glicerol, sendo que os ácidos graxos podem, após diversas reações, formar acetil-CoA (processo denominado betaoxidação) e assim adentrar no ciclo de Krebs (DEVLIN, 2010). Já o glicerol não é relevante como fonte de combustível muscular direta durante o exercício. A proteína, durante o exercício, não é considerada uma fonte de combustível relevante, pois contribui somente com 2-15% do combustível. A degradação da proteína gera diversos tipos de aminoácidos e, para eventos posteriores, depende-se de que tipo de aminoácidos resultou da quebra da proteína. Alguns são convertidos em glicose ou piruvato, outros em acetil-CoA, e alguns são intermediários do ciclo de Krebs. De forma resumida, o ciclo de Krebs completa a oxidação dos carboidratos, gorduras ou proteínas; produz CO2 e fornece elétrons para a CTE, para que se tenha energia para a produção aeróbia de ATP (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016). 28 Figura 5: Acetil-CoA obtida do catabolismo do piruvato entra no ciclo de Krebs Fonte: Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 49) 29 Figura 6: Relações entre o metabolismo de proteínas, carboidratos e gorduras Fonte: POWERS, HOWLEY (2017, p. 56) É na CTE, também denominada cadeia respiratória ou cadeia de citocromo, queocorre a produção aeróbia de ATP (fosforilação oxidativa), no interior das mitocôndrias. A produção aeróbia de ATP usa a energia potencial disponível nos transportadores de hidrogênio reduzido (NADH e FADH) para refosforilar ADP em ATP, mas o NADH e FADH não reagem diretamente com o O2. Em vez disso, os elétrons removidos H+ transportados por NADH e FADH passam por uma série de transportadores de elétrons conhecidos como citocromos, que liberam energia suficiente para refosforilar ADP e formar ATP (DEVLIN, 2010). A formação de duas moléculas de NADH pela glicólise estão fora da mitocôndria, e seus H+ devem ser transportados através da membrana mitocondrial por meio de mecanismos de “transporte” especiais. Pares de elétrons de NADH e FADH passam sucessivamente por uma série de compostos que sofrem oxidação e redução, com liberação de energia suficiente para sintetizar ATP (POWERS; HOWLEY, 2017). O FADH entra na via do citocromo em um ponto logo abaixo do nível de entrada para NADH e cada molécula de FADH que entra na CTE tem energia suficiente para formar apenas 1,5 molécula de ATP. Em contrapartida, a cada 2 elétrons que passa pela CTE do NADH ao oxigênio, existe energia suficiente para produzir 2,5 moléculas de ATP (FOX, 2013). Ao final da CTE, o O2 aceita os elétrons que passam adiante e se combina com o H+ para formar água (H2O). Quando não há oxigênio disponível para aceitar esses elétrons, a fosforilação oxidativa não ocorre, sendo que a formação de ATP somente acontecerá via metabolismo anaeróbio. Vamos entender melhor a betaoxidação? As gorduras são armazenadas no organismo na forma de triglicerídeos, nos adipó- citos ou nas próprias fibras musculares. A liberação de gordura ocorre via degra- dação dos triglicerídeos, liberando ácidos graxos que serão usados como combus- tível durante o metabolismo aeróbio, mas primeiramente devem ser convertidos em acetil-CoA. FIQUE ATENTO 30 O processo de formação aeróbia de ATP é conhecido como hipótese quimiosmótica. Conforme os elétrons são transferidos ao longo da cadeia de citocromos, a energia liberada é utilizada para bombear H+ liberados de NADH e FADH, de dentro para fora da mitocôndria, através da membrana mitocondrial interna, acarretando acúmulo de íons H+ no espaço intermembrana (entre as membranas interna e externa da mitocôndria). Este acúmulo de H+ é uma fonte de energia em potencial, que pode ser utilizada para recombinar Pi ao ADP e formar ATP (TIIDUS; TIPLING; HOUSTON, 2012). Existem três bombas que movem H+ da matriz mitocondrial para o espaço intermembrana: a primeira bomba usa NADH para mover quatro H+; a segunda também transporta quatro H+; a terceira bomba move apenas dois H+. Assim, a concentração de H+ no espaço intermembrana acaba se tornando maior do que na matriz mitocondrial, gerando a necessidade de difusão de H+ de volta para a matriz, pela diferença de gradiente. Entretanto, a membrana mitocondrial interna é impermeável ao H+, sendo que esses íons somente conseguem transpor a membrana via canais especializados (unidades respiratórias). O movimento de H+ através da membrana mitocondrial interna ativa a enzima ATP sintase, fosforilando ATP a partir da adição de Pi ao ADP. Mas por que se chama produção aeróbia de ATP se o oxigênio não parece ser relevante nestas reações? Observa-se que o objetivo da CTE é fazer os elétrons passarem por uma série de citocromos, o que fornece energia que impulsionará a produção de ATP na mitocôndria. Esse processo necessita que cada elemento da CTE passe por diversas reações de oxidação-redução. Caso o último citocromo (a3) não fosse oxidado pelo oxigênio adquirido do ar que respiramos, permaneceria em reduzido, o que o tornaria incapaz de aceitar mais elétrons, parando a CTE, ou seja, o oxigênio permite a continuidade das reações ao atuar como aceptor de elétrons final da cadeia de transporte de elétrons e a fosforilação oxidativa. Nesta etapa final, o oxigênio aceita dois elétrons de NADH ou FADH para formar H2O (Figura abaixo). A betaoxidação é, portanto, o processo de oxidação de ácidos graxos para forma- ção de acetil-CoA, que ocorre na mitocôndria e envolve uma série de etapas ca- talisadas por enzimas, começando com a “ativação” do ácido graxo. Logo após, o ácido graxo ativado é transportado para dentro da mitocôndria, onde o processo de betaoxidação começa, em uma sequência de quatro reações que quebra os ácidos graxos formando a acetil-CoA, que se transformará em fonte de combustí- vel para o ciclo de Krebs e leva à produção de ATP via CTE. 31 Portanto, de forma resumida, a produção aeróbia de ATP ocorre na mitocôndria, como resultado de uma interação complexa entre o ciclo de Krebs (função de completar a oxidação de substratos e formar NADH e FADH para entrar na CTE) e a cadeia de transporte de elétrons (formação de ATP e água). A água é formada por elétrons aceptores de oxigênio e, desta maneira, é o motivo pelo qual respiramos oxigênio usado como aceptor final de elétrons no metabolismo aeróbio. O metabolismo aeróbio de uma molécula de glicose acarreta a produção de 32 moléculas de ATP, enquanto o saldo aeróbio de ATP por quebra de glicogênio é 33 ATP. A eficiência geral da respiração aeróbia é de cerca de 34%, com os 66% de energia restantes sendo liberados como calor. Figura 7: Visão simplificada da formação de ATP em 3 locais na cadeia transportadora de elétrons Fonte: Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 50) Para se aprofundar no metabolismo aeróbio durante o exercício, acesse o capí- tulo 5 do livro “Fisiologia do Exercício - Para Saúde, Aptidão e Desempenho, 2ª edição” disponível na Minha Biblioteca Única. Disponível em: https://bit.ly/32W- qIDK. Acesso em: 26 ago. 2021. BUSQUE POR MAIS 2.4 ABORDAGEM SISTÊMICA DAS VIAS METABÓLICAS As vias metabólicas, responsáveis pela produção de ATP, são reguladas por sistemas de controle bioquímicos extremamente precisos. Cada uma dessas vias (anaeróbia alática, anaeróbia lática e aeróbia) contém reações catalisadas por enzimas específicas as quais, 32 em grande número, provocam o aumento da velocidade das reações bioquímicas. Assim, a regulação de uma ou mais enzimas de uma determinada via metabólica controla a taxa/velocidade dessa via em particular, ou seja, o metabolismo é regulado pelo controle da atividade enzimática, enzimas estas conhecidas como “limitadoras da velocidade” (POWERS; HOWLEY, 2017). No controle do metabolismo energético, o ATP é o exemplo clássico de um inibidor, enquanto ADP e Pi exemplificam substâncias estimuladoras da atividade enzimática (PRATT; CORNELY, 2011). Grandes quantidades de ATP celular inibem a produção metabólica de ATP, pois indicam baixo uso de ATP na célula. Entretanto, aumento dos níveis celulares de ADP e Pi (ATP baixo) indicam utilização elevada de ATP. Portanto, o ADP e Pi estimulam a produção de ATP para atender às necessidades energéticas aumentadas (KAVAZIS et al., 2009). Todas as enzimas atuantes nas vias metabólicas são apresentadas no quadro a seguir: Ao se analisar a prática de exercícios físicos diversos ou os vários tipos de esportes, percebemos que se diferem amplamente com relação à intensidade e à duração, e por isso a fonte de produção de energia também se difere em cada modalidade ou prática, havendo a predominância em porcentagem de cada via metabólica de produção de energia (anaeróbia versus aeróbia) decorrente destes fatores. Este entendimento sobre a interação entre produção anaeróbia e produção aeróbia de energia durante o exercício é extremamente necessária para técnicos, preparadores físicos, instrutores e professores planejarem e prescreverem exercícios físicos para pessoas e atletas. No Gráfico 2, podemos visualizar a porcentagens das contribuições da energia anaeróbia e aeróbia para a corrida de 1.500 metros do atletismo, por exemplo, e entender a interdependência dos sistemas energéticos. Percebe-se, no início, uma dependência maior das fontes anaeróbias deATP e, com a continuidade da corrida, a dependência maior do metabolismo aeróbio se desenvolve para gerar o ATP necessário. Quadro 1: Fatores que afetam a atividade de enzimas limitadoras da velocidade das vias metabólicas Fonte: Powers e Howley (2017, p. 62) Gráfico 2: Contribuição de energia anaeróbia e aeróbia em uma corrida de 1500 metros Fonte: Adaptado de Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 70) 33 Embora seja comum as pessoas falarem de exercício aeróbio versus exercício anaeróbio, na verdade a energia necessária para realização da maior parte dos tipos de exercício é oriunda de uma combinação destas fontes. É fato que a produção de energia pelo sistema ATP-PC, glicólise e fosforilação oxidativa ocorre simultaneamente nos músculos esqueléticos ativos, porém, o que ocorre, por exemplo, em sessões de exercícios muito rápidas (de 1 a 3 segundos), é que a contribuição da produção de energia por via aeróbia é extremamente pequena, devido ao tempo necessário para que aconteçam todas as reações envolvidas no ciclo de Krebs e na CTE. Por isso, a contribuição da produção anaeróbia de ATP é maior durante as atividades de curta duração e alta intensidade, enquanto a via aeróbia predomina nas atividades mais longas e de moderada/baixa intensidade (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Um exemplo é a corrida de 100 metros no atletismo, em que cerca de 90% do ATP necessário é fornecido anaerobicamente, proveniente do sistema ATP-CP. Já em uma corrida de 400 metros (em torno de 55 segundos), cerca de 70 a 75% é decorrente da via anaeróbia lática, pois a glicólise supre a maior parte do ATP. Em modalidades como maratonas contam com a produção predominantemente aeróbia de ATP para suprir à quantidade de energia necessária. Em uma abordagem sistêmica, observe o Gráfico 3 e como as contribuições das diferentes vias metabólicas acontecem durante os exercícios de curta, média e perspectiva de longa duração. O que muitos pensam é que uma via metabólica só inicia suas reações e aumenta sua demanda quando outra via metabólica anterior cessa, o que não é verdade. Nosso organismo funciona de maneira muito equilibrada e, quando entende que uma via metabólica começa a decair sua capacidade, outra via posterior começa a aumentar a velocidade de suas reações, para suprir a demanda de ATP, ou seja, as vias energéticas atuam de maneira concomitante. Gráfico 3: Contribuição das diferentes fontes energéticas no decorrer dos exercícios físicos Fonte: Adaptado de Marzzoco e Torres (2011, p. 322) 34 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Em rotinas de prescrição de exercício, o controle das variáveis de treinamento é fundamental, pois está diretamente relacionado aos objetivos do praticante. Nesse sentido, para a potencialização das vias energéticas serão imprescindíveis dois fatores. Assinale alternativa correta: a) Intensidade e tempo de duração do exercício. b) Frequência cardíaca até 50% FCmax e descanso. c) Treinamento resistido e treinamento aeróbio. d) Treinamento físico em intensidades intensas e pausa ativa. e) Intensidade e frequência cardíaca. 2. (FAUEL- 2018). A bioenergética refere-se às fontes energéticas para a atividade muscular. Essas fontes de energia provêm dos nutrientes ingeridos através da alimentação. Assim, a energia necessita ser convertida em Adenosina Trifosfato (ATP) antes que possa ser aproveitada pelo organismo na ação muscular. Nesse sentido, assinale a alternativa que apresenta os três principais sistemas de transferência de energia do organismo humano, respectivamente: a) Sistema glicolítico, ATP-CP e sistema oxidativo b) Sistema aeróbio, sistema anaeróbio e sistema integrativo c) ATP-CP, sistema lático e sistema alático d) Sistema glicolítico, sistema integrativo e sistema aeróbio e) ATP-CP, sistema glicolítico e sistema oxidativo 3. (SEDUC- 2012). As produções anaeróbica e aeróbica de energia são processos fisiológicos centrais da bioenergética e temas importantes para equacionar corretamente a atividade física, o esporte e a nutrição com a saúde de seus praticantes. Sobre os referidos processos, assinale a alternativa correta. a) O método mais rápido de produção de ATP envolve a doação de um grupo fosfato da CP para o ADP, formando o ATP, reação conhecida como sistema ATP-CP. b) Uma via metabólica capaz de produzir ATP rapidamente, com o envolvimento do Oxigênio, é a Glicólise, que envolve a degradação da glicose ou do glicogênio. c) A função do Ciclo de Krebs (ou ciclo do ácido pirúvico) é a inclusão do hidrogênio nos carboidratos, proteínas e gorduras, importante reação para a formação de ATP. d) O processo da produção anaeróbica de ATP é denominado fosforilação oxidativa, que possui vários estágios, e se inicia com a criação do acetil-CoA (primeiro estágio). e) Diversos estudos científicos demonstraram que não há formação de ácido lático durante o metabolismo anaeróbico da glicose, reação que gera produção de ATP. 4. Associe a segunda coluna de acordo com a primeira: Primeira coluna Segunda coluna 35 1- Sistema ATP-CP 2- Sistema Anaeróbio ( ) Corridas com estafetas. ( ) Brincadeiras que apresentam intervalos (intermitentes). ( ) Lançamento da bola numa queimada. Assinale a alternativa com a sequência correta: a) 2 – 1 – 2. b) 2 – 2 – 1. c) 1 – 1 – 2. d) 1 – 2 – 2. e) 2 – 1 – 1. 5. (CONPASS- 2018). Examinar o gasto energético apenas durante o exercício físico não nos fornece o quadro completo sobre o consumo, isto porque o metabolismo permanece temporariamente elevado após o termino da atividade (MARRA E MARQUES, 2005). Esse fenômeno é denominado de: a) consumo excessivo de oxigênio pós-exercícios. b) hipoglicemia. c) hipotensão. d) hiperplasia. e) sarcopenia. 6. (UPENET- 2014). A partir do exposto abaixo, sobre vias energéticas predominantes e o tempo (duração) de uma atividade determinação da via energética predominante de uma atividade física, assinale a alternativa que reflete adequadamente a relação entre via energética predominante e ação técnica respectivamente proposta. • Sistema a longo prazo (oxidativo) > 3 min • Sistema a curto prazo (ATP - CP + ácido lático) 1,5 min • Sistema imediato (ATP - CP) 10 seg • Sistema imediato (ATP) 4 seg a) Salto triplo = sistema aeróbio: alta intensidade e curta duração. b) Lançamento de dardo = ATP - CP + ácido lático: alta intensidade e longa duração. c) Saque do vôlei = ATP: alta intensidade e curta duração. d) Corridas de fundo e meio fundo = ATP: baixa intensidade e longa duração. e) Maratona = ATP- CP: baixa intensidade e curta duração. 7. (FUNCAB- 2012). Analise as afirmativas abaixo sobre os processos celulares para obtenção de energia. I. O principal processo de oxidação dos açúcares é a sequência de reações conhecida como glicólise; ela ocorre no citosol da célula e depende da presença de oxigênio 36 molecular para produção final de ATP. II. A formação das moléculas de CO2 ocorre durante ciclo do ácido cítrico, como produto final da oxidação completa da molécula de acetil-CoA. III. Os átomos de oxigênio necessários para produzir a molécula de CO2, a partir da oxidação completa da molécula de acetil-CoA durante o ciclo do ácido cítrico, são obtidos da quebra do oxigênio molecular. IV. O oxigênio molecular é o aceptor final dos íons de H+, formando as moléculas de água durante a fosforização oxidativa. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II b) II e IV c) III e IV d) I e III e) II e III 8. (INSTITUTO EXCELÊNCIA- 2019). Os mecanismos envolvidos na ressíntese de ATP para a realização da contração muscular que ocorre exclusivamente dentro das mitocôndrias na presença de oxigênio é: a) ATP-CP. b) Glicólise. c) Fosforilação oxidativa d) Fosforilação dioxidativa. e) Glicogenólise. 37 MECANISMOS FISIOLÓGICOS RELACIONADOS À ATIVIDADE FÍSICA 38 3.1 SISTEMA RESPIRATÓRIO E ATIVIDADE FÍSICA O processo de movimento e troca do ar dos pulmões com o ar do ambiente denomina-se ventilação pulmonar. O O2 é transferido do ar alveolar para o sangue doscapilares alveolares, sendo que, ao mesmo tempo, o CO2 no sangue vai para as câmaras alveolares para ser expelido para o ambiente (GUYTON; HALL 2006). No entendimento da mecânica da respiração, durante a inspiração, a cavidade torácica aumenta de tamanho, pois o diafragma desce quando as costelas sobem, ocasionando fluxo de ar para os pulmões. Durante a inspiração, além da ação diafragmática, os músculos intercostais externos, levantador da escápula, esternocleidomastóideos, escalenos anteriores, serráteis anteriores e eretores da espinha compõem os músculos que elevam e ampliam o tórax (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Já na expiração, as costelas oscilam para baixo, e o diafragma retorna para a posição relaxada, reduzindo o volume da cavidade torácica, expelindo, então, o ar. Os músculos responsáveis pela expiração são o reto do abdome, intercostais internos, serráteis posteriores e inferiores, os quais deprimem o tórax e reduzem sua dimensão. A expiração, durante o repouso ou uma atividade física leve, considera-se um processo passivo do movimento do ar para fora dos pulmões. A expiração cessa quando a força compressiva da musculatura respiratória termina e a pressão intrapulmonar cai e se iguala à pressão atmosférica. Durante a prática de atividade física, os movimentos altamente eficientes do diafragma, das costelas e esterno e dos músculos abdominais são totalmente sincronizados de forma a contribuir para o processo de inspiração e expiração. E você já percebeu que, com frequência, os atletas inclinam-se para a frente no nível da cintura quando estão cansados e precisam recuperar o fôlego? Pois é, esta posição do corpo facilita a respiração após um esforço físico prolongado, pois promove fluxo sanguíneo de volta ao coração e minimiza os efeitos antagonistas da gravidade sobre o sentido ascendente habitual dos movimentos inspiratórios. Inclusive, a posição da cabeça (pescoço em flexão e cabeça estendida anteriormente com a mandíbula paralela ao chão) e do dorso favorecem a ventilação pulmonar durante atividade física intensa (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). A frequência respiratória normal durante o repouso em um ambiente termoneutro é, em média, de 12 incursões por minuto, e o volume corrente médio é de 0,5 ℓ de ar por incursão respiratória, resultando em um volume de ar respirado a cada minuto igual a 6 ℓ, o que se denomina ventilação minuto. Caso haja o aumento tanto da frequência quanto da profundidade da respiração, ou ambas, resultará em um aumento da ventilação minuto. Durante a atividade física extenuante, adultos sadios aumentam sua frequência Respiração pulmonar e respiração celular são a mesma coisa? Embora estejam inexoravelmente ligados, a respiração celular define processos metabó- licos que ocorrem no interior da célula e geram energia por meio da utilização de O2 e da produção de CO2; já a respiração pulmonar define a ventilação pulmonar, com resultan- tes captação de O2 e eliminação de CO2, a fim de manter a homeostase. FIQUE ATENTO 39 respiratória cerca de 40 incursões por minuto, em média (GUYTON; HALL, 2006). Atletas de endurance respiram até 70 vezes por minuto durante esforços máximos, elevando a ventilação minuto para 100 ℓ ou mais (cerca de 17 a 20 vezes o valor de repouso). Os padrões respiratórios durante a atividade física normalmente progridem de maneira efetiva e altamente econômica, mas algumas respostas pulmonares podem afetar negativamente o equilíbrio fisiológico e/ou o desempenho, como: hiperventilação, dispneia, manobra de Valsalva. Chama-se por hiperventilação o aumento da ventilação pulmonar que ultrapassa as necessidades de consumo de O2 e de eliminação de CO2 do metabolismo. Este excesso de respiração reduz velozmente a concentração alveolar normal do CO2, expelindo o excesso desse gás dos líquidos corporais pela expiração, reduzindo também as concentrações de H+, elevando o pH plasmático. Se persistir por vários segundos, geralmente causa vertigem ou até inconsciência devido a liberação excessiva de CO2, caso seja uma hiperventilação prolongada (WARD; WARD; LEACH, 2012; TORTORA; DERRICKSON, 2017). Já, segundo os mesmos autores, a dispneia remete-se à falta de ar excessiva ou à angústia subjetiva ao respirar. A sensação de dificuldade em respirar durante a atividade física, principalmente em iniciantes, acompanha habitualmente o CO2 e H+ arteriais elevados, condições as quais excitam o centro respiratório, aumentando a frequência e a profundidade da respiração. A incapacidade de regular adequadamente o CO2 e H+ arteriais provavelmente está relacionada com baixos níveis de aptidão cardiorrespiratória e o baixo condicionamento da musculatura ventilatória. Com relação à manobra de Valsalva, acontece quando se realiza uma expiração forçada contra a glote fechada (glote é a porção mais estreita da laringe que leva o ar para a traqueia). Os músculos expiratórios participam nas manobras ventilatórias para espirra e tossir, além de contribuir para estabilizar as cavidades abdominal e torácica durante o levantamento de objetos pesados. O fechamento da glote após uma inspiração completa, com ativação máxima dos músculos expiratórios, produzirá forças compressivas que elevarão a pressão intratorácica durante expiração máxima contra esta glote fechada. Esta manobra normalmente acontece em levantamento de pesos submáximos e máximos, além de outras atividades que necessitam aplicação de força máxima em um curto período, pois estabiliza as cavidades abdominal e torácica e aprimora a ação muscular, gerando mais torque de força (HAYHOWSKY et al., 2003). Fisiologicamente, a manobra de Valsalva prolongada provoca queda brusca na pressão arterial (PA) durante sua execução, pois a pressão intratorácica é transmitida através das finas paredes das veias da região torácica e, já que o sangue venoso permanece sob pressão relativamente baixa, as veias torácicas sofrem colapso, reduzindo o retorno venoso para o coração. Esta redução diminui acentuadamente o volume de ejeção sistólica do coração, desencadeando queda na PA até abaixo do nível de repouso. Sua realização prolongada durante o exercício estático diminui o suprimento de sangue ao cérebro, geralmente causando vertigens, visões turvas ou desmaios. Quando a glote é reaberta e a pressão intratorácica é normalizada, o fluxo sanguíneo é restabelecido, porém com um pico excessivo na PA. Esta manobra pode acarretar os aumentos significativos da PA durante os exercícios de resistência pesados, pois elevam acentuadamente a resistência ao fluxo sanguíneo nos músculos ativos, com uma elevação correspondente na pressão arterial sistólica (HAYHOWSKY et al., 2003). A resistência vascular periférica aumentada eleva a PA e a 40 carga de trabalho do coração durante todo o tempo em que se exercita, representando um perigo potencial para os indivíduos com doença cardiovascular (como cardiopatas e hipertensos), inclusive é o motivo dos cardiologistas contraindicarem exercícios com cargas excessivas. Em contrapartida, a realização de exercícios contínuos e fluidos, incluindo o levantamento de pesos moderados, promove apenas elevação fisiológica da PA e da sobrecarga cardíaca. Duas moléculas importantes no processo de respiração, transporte, fornecimento e armazenamento de nutrientes para as células são a hemoglobina e a mioglobina. Ambas têm uma combinação reversível com o O2, apesar da mioglobina conter apenas um átomo de ferro, enquanto a hemoglobina contém quatro. Particularmente, a mioglobina, existente nos músculos esqueléticos e miocárdio, tem afinidade cerca de 240 vezes maior para o O2 do que a hemoglobina circulante na corrente sanguínea, tornando possível o armazenamento intramuscular de O2 (WARD; WARD; LEACH, 2012). Já o controle ventilatório decorre de complexos mecanismos neural, humoral e quimiorreceptores, os quais se ajustam às necessidades metabólicas do corpo. Sinais inibitórios e excitatórios provenientes de todas as partesdo corpo influenciam o ritmo normal dos neurônios bulbares, como o demonstrado na Figura 8. Durante a atividade física, os ajustes ventilatórios ocorrem em virtude de alterações mecânicas e/ou químicas nos músculos ativos e na vasos sanguíneos, para proporcionar um controle periférico de feedback do cerebelo para o centro respiratório (GUYTON; HALL, 2006). A atividade física afeta o consumo de O2 e a produção de CO2 mais do que qualquer outro estresse fisiológico. Durante o exercício leve a moderado, a ventilação aumenta linearmente com o consumo de O2 e com a produção de CO2. Em linhas geral, o consumo de O2 em repouso é de 300 mL/min, podendo aumentar para cerca de 3.000 mL/min em uma pessoa com condicionamento físico moderado e até́ 6.000 mL/min em um atleta de elite. Com relação à eliminação de CO2 ocorre de maneira similar, ou seja, em repouso são 240 mL/min e em atividade cerca de 3.000 mL/min. A taxa de troca respiratória cresce refletindo a grande dependência do carboidrato em lugar da gordura para a produção de ATP necessária, atingindo níveis ainda mais altos durante o estado de desequilíbrio Figura 8: Esquema dos fatores que afetam o controle bulbar da ventilação pulmonar Fonte: McArdle, Katch e Katch (2018, p.290), modificado de Moore, Dalley e Agur (2013) 41 Figura 9: Esquema da circulação pulmonar e sistêmica Fonte: Pithon-Curi (2013, p. 104) do exercício intenso, já que o ácido lático é produzido pela glicólise anaeróbica, e mais CO2 é eliminado do bicarbonato, uma vez que a elevada concentração de H+ estimula os quimiorreceptores periféricos, aumentando a necessidade de ventilação (WEST, 2013). Durante o exercício, à medida que a taxa de trabalho/força se eleva, aumenta-se o consumo de O2 de maneira linear. Porém, quando se atinge uma determinada taxa de trabalho, a VO2 se torna constante (VO2 máx), sendo que o aumento da taxa de trabalho acima desse nível ocorrerá somente pela glicólise anaeróbica. A ventilação também se comporta de forma semelhante e linear quando comparada à taxa de trabalho ou VO2. Entretanto, em valores elevados da VO2, a ventilação se eleva com mais rapidez em função do ácido láctico liberado, o que incrementa o estimulo ventilatório. Isso tem sido chamado de limiar anaeróbico ou limiar de ventilação ou limiar de lactato, embora ainda não haja concordância na literatura sobre o termo correto. Pessoas destreinadas produzem lactato em níveis de trabalho mais baixos, enquanto pessoas bem treinadas alcançam níveis elevados de trabalho antes que a glicólise anaeróbica se desenvolva. O sistema cardiovascular tem a finalidade de fornecer O e substratos energéticos para todos os órgãos e tecidos do corpo. Para que isso aconteça, o coração bombeia o sangue oxigenado vindo dos pulmões pelo sistema arterial para chegar até́ os capilares teciduais, nos quais ocorrem a transferência de nutrientes e metabólitos. O sangue retorna para o coração pelo sistema venoso e é bombeado aos pulmões para nova oxigenação, denominando-se circulação sanguínea. Já o ciclo contração-relaxamento do miocárdio (ciclo cardíaco), tem duas fases distintas, a sístole e a diástole. Na sístole, ocorre a contração dos ventrículos e o sangue é ejetado para fora do coração, com as válvulas atrioventriculares fechadas e as semilunares, 3.2 SISTEMA CARDIOVASCULAR E ATIVIDADE FÍSICA 42 abertas. Durante a diástole, o sangue chega ao coração preenchendo os átrios e parte dos ventrículos, com as válvulas atrioventriculares abertas e as semilunares fechadas. Já o débito cardíaco (DC) é o volume de sangue bombeado pelo coração, determinado pela multiplicação da FC e o volume sistólico (VS), que é o volume de sangue bombeado a cada contração ventricular. O aumento da FC ou do VS provoca elevação do DC (PITHON- CURI, 2013). A PA, medida em mmHg, é a força que o sangue exerce sobre as paredes dos vasos sanguíneos, resultado do DC e da resistência vascular periférica (RVP). Os valores de PA são dados pela pressão arterial sistólica (PAS) e pela pressão arterial diastólica (PAD). Uma PA com valores adequados e normais mantém a PAS em 120 mmHg e a PAD em 80 mmHg. A medida da PA também ajuda no diagnóstico da hipertensão arterial sistêmica (HAS), que é uma doença crônico-degenerativa de origem multifatorial e poligênica. A compreensão dos mecanismos que controlam a PA é de suma importância para o profissional de Educação Física, uma vez que o exercício físico é indicado tanto na prevenção como no tratamento da HAS. O sistema nervoso autônomo simpático (SNS) e parassimpático (SNP), associado aos pressorreceptores, quimiorreceptores e mecanorreceptores, são importantes na regulação de curto e longo prazo da PA. Já que o SNS e o SNP têm papel fundamental no controle da PA, é de grande relevância avaliar a influência da atividade física sobre os dois sistemas em pessoas normotensas ou hipertensas. A vasodilatação e a bradicardia induzidas pela acetilcolina são mecanismos importantes no controle da PA. A atividade física aumenta a atividade parassimpática e o aumento do tônus vagal está envolvido nos efeitos benéficos em indivíduos hipertensos. Já os barorreceptores (terminações nervosas que respondem à deformação ou ao estiramento das paredes dos vasos) são mediadores primários do sistema nervoso autônomo no controle da PA e da FC (TORTORA; DERRICKSON, 2017). A estimulação dos barorreceptores aórticos e carotídeos, por exemplo, em decorrência de um aumento da PA, desencadeia reflexamente uma inibição da descarga simpática, enquanto uma queda da PA produz o efeito contrário. Um dos efeitos da atividade física no controle da PA é o aumento do limiar de excitabilidade dos barorreceptores, promovendo maior inibição dos núcleos hipotalâmicos, reduzindo a atividade simpática e levando o coração a bradicardia e hipotensão pós-exercício, o que é um efeito muito benéfico, principalmente para hipertensos. Porém, este público deve evitar exercício físico estático e manobra de Valsava (vide seção 1 desta unidade), pois aumenta a PA. Durante a atividade física, alguns ajustes hemodinâmicos são necessários para a manutenção da PA em limiares normais. As primeiras alterações na FC ocorrem logo antes do iniciar o exercício físico (resposta antecipatória), sendo que a elevação da FC em aproximadamente 70% durante o exercício ocorre em resposta a estímulos pré-exercício, mesmo o simples fato de se preparar para o início do exercício, em decorrência da redução do tônus parassimpático. Aumentos adicionais da FC dependem da intensidade da atividade física, e são induzidos por estimulação simpática progressiva. Outra alteração importante é o aumento do VS e do DC, pois o VS é fortemente influenciado pelo retorno venoso, que durante a atividade física dinâmica é aumentado pela ação da atividade muscular, ritmo respiratório e venoconstrição. A contração muscular comprime as veias e impulsiona o sangue em direção ao coração. Um terceiro mecanismo que contribui para 43 o aumento do retorno venoso durante as atividades físicas é a constrição das veias que drenam o músculo em atividade, induzido por uma resposta reflexa simpática, fazendo a constrição da musculatura lisa das veias, reduzindo sua capacidade de estocar sangue (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). Durante o exercício, o aumento do DC contribui para o aumento do fluxo sanguíneo muscular. Entretanto, para atender a maior demanda de O2 e nutrientes para os músculos em atividade, o organismo reajusta os volumes de sangue para as regiões em que são mais solicitadas, principalmente durante exercícios de maior intensidade, denominando-se redistribuição do fluxo sanguíneo. Além disso, ocorre a redução da RVP proporcional ao aumento do DC, e consequente elevação da PAS. Outra adaptação do sistema cardiovascular em decorrência ao treinamento físico regular é a hipertrofia cardíaca, ou seja, um aumento do tamanho das câmaras cardíacas ou da espessura da parede muscular, especialmente doventrículo esquerdo, sem perda de funcionalidade. A hipertrofia cardíaca, diferentemente da hipertrofia patológica, tem relação com o tipo de treinamento executado, pois exercícios aeróbios tendem a provocar hipertrofia ventricular relacionada com a sobrecarga volêmica, e o treinamento resistido provoca hipertrofia cardíaca na musculatura da parede do ventrículo esquerdo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). Os mecanismos de redução da FC ou bradicardia de repouso em resposta ao exercício submáximo não estão ainda completamente esclarecidos. Acredita-se numa interação complexa entre mecanismos neurais, humorais e hemodinâmicos parece estar envolvida nesse fenômeno. Os mecanismos neurais que provocam redução da FC estão relacionados com o aumento da atividade parassimpática e/ou redução da atividade simpática sobre o nodo sinoatrial. Os mecanismos hemodinâmicos envolvem aumento do VS, menor RVP e redução do retorno venoso, tornando o coração mais eficiente. Assim, a FC pode ser reduzida visto que a cada batimento o coração “adaptado” ejeta volume de sangue suficiente para perfusão adequada de órgãos e tecidos, o que explica a bradicardia em repouso de pessoas treinadas. Acesse o capítulo 5 do livro “Fisiologia Prática” para entender melhor o processo de regulação da pressão arterial. Disponível em: https://bit.ly/3mRQT5O. Acesso em: 27 ago. 2021. FIQUE ATENTO 3.3 PROCESSO DE CONTRAÇÃO MUSCULAR E ATIVIDADE FÍSICA Para entender do processo de contração muscular durante um exercício ou alguma atividade física, primeiro devemos ter uma certa clareza das estruturas que compõem o sistema musculoesquelético, para depois analisarmos sua fisiologia durante uma contração muscular. A figura 10 mostra a maioria das estruturas responsáveis direta ou indiretamente por uma contração muscular. 44 Figura 10: Organização de uma fibra muscular Fonte: Plowman e Smith (2009, p. 478) As proteínas contráteis dos miofilamentos (proteínas contráteis) deslizam umas sobre as outras fazendo com que os músculos se contraiam, o que se denomina teoria do filamento deslizante (teoria do deslizamento dos filamentos) da contração muscular. Os filamentos grossos (espessos) são constituídos principalmente por moléculas de miosina, sendo que cada uma possui uma cauda semelhante a uma haste e duas cabeças globulares, as quais se estendem para fora e formam pontes cruzadas quando interagem com os filamentos finos (constituídos principalmente por actina – proteína contrátil). As cabeças de miosina possuem dois sítios (locais) reativos, permitindo, ao mesmo tempo, unir-se ao filamento de actina e ao ATP. É somente quando as cabeças de miosina se unem aos sítios ativos sobre a actina, formando uma ponte cruzada, que pode ocorrer a contração (TORTORA; DERRICKSON, 2017). As moléculas de actina contêm também tropomiosina e troponina, proteínas que regulam a interação entre actina e miosina. A tropomiosina é uma longa proteína helicoidal formada por dois cordões que se enrolam ao redor do eixo longitudinal do suporte principal da actina, e atua bloqueando o local ativo sobre a actina, inibindo a ligação de actina e miosina em condições de repouso. A troponina é um pequeno complexo de proteínas globulares que controlam a posição da tropomiosina. Quando o cálcio se fixa na troponina, esta proteína sofre uma mudança de configuração, removendo a tropomiosina de sua posição bloqueadora, expondo dessa forma os sítios ativos existentes na actina. Uma vez expostos os sítios ativos, as cabeças de miosina tornam-se capazes de se fixar na actina, formando as pontes cruzadas. Sendo assim, o cálcio é o elemento essencial para controlar a contração muscular. Segundo Tortora e Derrickson (2017), para que haja contração de um músculo, é preciso que seja gerado um potencial de ação no neurônio motor que inerva as fibras musculares do músculo em questão, até chegar à junção neuromuscular. Finalmente, o potencial de ação é conduzido ao longo do sarcolema e para o interior da fibra muscular, a fim de estimular os miofilamentos a se movimentarem, processo denominado acoplagem excitação-contração (potencial de ação que inicia o deslizamento dos miofilamentos, 45 resultando em contração). Durante a contração, três fatores são essenciais: a posição dos miofilamentos, a localização dos Ca+ e o papel do ATP. Com relação à Teoria do Filamento Deslizante da Contração Muscular, temos como princípios básicos: a força da contração é gerada pelo processo que faz deslizar o filamento de actina sobre o filamento de miosina; os comprimentos dos filamentos grossos e finos não se modificam durante a contração muscular; o comprimento do sarcômero diminui quando os filamentos de actina deslizam sobre os filamentos de miosina e tracionam o disco Z na direção do centro do sarcômero. Quando o Ca+ é liberado pelo retículo sarcoplásmico, une-se a troponina sobre o filamento fino, induzindo uma mudança de configuração na troponina, removendo dessa forma a tropomiosina de sua posição bloqueadora no filamento de actina. Assim, inicia-se o ciclo das pontes cruzadas, onde a geração de tensão dentro dos elementos contráteis resulta da ligação das cabeças de miosina com os sítios de ligação da actina e consequente liberação da energia armazenada nas cabeças de miosina. A próxima etapa envolve a ligação do ATP nas cabeças de miosina e a consequente separação entre as pontes cruzadas de miosina e a actina. O relaxamento muscular é a fase final da contração muscular e acontece porque cessa o impulso nervoso e o Ca+ é bombeado de volta para dentro do retículo sarcoplásmico através do transporte ativo. Na ausência de Ca+, a tropomiosina retorna para sua posição bloqueadora na actina e as cabeças de miosina não serão mais capazes de se fixar na actina. Entender sobre este processo de contração muscular é essencial na Educação Física, haja visto que todo movimento no esporte, atividade física ou exercício não ocorre sem contração muscular, inclusive atividades isométricas, que tem contração muscular mesmo sem movimentação articular. Outro fator importante para o profissional de Educação Física, inclusive na sua atuação na intervenção, é conhecer sobre os tipos de fibras musculares, suas diferenças e propriedades. As classificações podem seguir a análise das propriedades contráteis ou propriedades metabólicas. Com relação às propriedades contráteis, as fibras musculares podem ser divididas em fibras de contração lenta (CL) ou tipo I, e de contração rápida (CR) ou tipo II. Já com relação às propriedades metabólicas, as fibras musculares podem ser divididas em glicolíticas, oxidativas, ou uma combinação de ambos (IIA e IIB). Os atletas que participam em esportes de endurance possuem tipicamente um percentual maior de fibras de contração lenta e atletas que participam em esportes de força/potência possuem tipicamente um percentual mais alto de fibras musculares de contração rápida. Porém, o sucesso atlético não é determinado exclusivamente pelo tipo de fibras. É a participação em um determinado esporte que influencia o tipo de fibra, ou o tipo de fibra que influencia a participação em um esporte? VAMOS PENSAR? 46 Para esclarecer o entendimento da estrutura e funcionamento do músculo em exercício, acesse os capítulos 1, 2 e 3 do link a seguir. Disponível em: https://bit. ly/3EO7ldy. Acesso em: 27 ago. 2021. BUSQUE POR MAIS 47 FIXANDO O CONTEÚDO 1. O débito cardíaco é um importante parâmetro hemodinâmico que avalia a capacidade funcional do sistema cardiovascular, que representa a quantidade de sangue bombeada pelo coração em 1 minuto. Assim, escolha a alternativa correta que diz respeito a determinação do débito cardíaco. a) É produto da pressão arterial sistólica e volume sistólico. b) É produto da frequência cardíaca e volume diastólico final. c) É produto da frequência cardíaca e volume sistólico. d) É produto da pressão arterial sistólica e frequência cardíaca. e) É produto da pressãoarterial diastólica e volume diastólico final. 2. A fibra muscular também apresenta uma microestrutura de organização que forma o sarcômero, permitindo que o músculo realize as contrações musculares mediante a ligação de proteínas que formam os filamentos fino e grosso. Quais são as proteínas que são classificadas como proteínas contráteis? Escolha a alternativa que contenha a informação correta de forma completa. a) Proteínas contráteis formadas pelos filamentos de actina e miosina. b) Proteínas contráteis formadas pelos filamentos de tropomiosina e troponina. c) Proteínas contráteis formadas pelos filamentos de nebulina e titina. d) Proteínas contráteis formadas pelos filamentos de actina e tropomiosina. e) Proteínas contráteis formadas pelos filamentos de miosina e troponina. 3. (FCC- 2010). A despolarização da membrana plasmática da terminação do axônio abre, transitoriamente, os canais dependentes de: a) Zinco. b) Sódio. c) Potássio. d) Cloreto. e) Cálcio. 4. Na junção neuromuscular, o estímulo elétrico causa um potencial de placa terminal e na fibra muscular (unidade motora), gerando uma onda de propagação do estímulo elétrico, desencadeando na despolarização de estruturas tubulares, permitindo a saída de cálcio do retículo sarcoplasmático. Assim, o que acontece dentro da célula muscular para que aconteça a contração muscular mediante o acoplamento entre os filamentos de actina e miosina que resulta na teoria dos filamentos deslizantes? Escolha a alternativa que contenha a informação correta de forma completa. 48 a) Acoplamento de íons de sódio nos filamentos de miosina, causando interação actino- miosina e a quebra de ATP pela ação da enzima ATPase. b) Liberação de acetilcolina pela fenda sináptica e a identificação de seus receptores de adrenalina. c) Acoplamento de íons de cálcio nos filamentos de troponina, causando interação actino-miosina e quebra de ATP pela ação da enzima ATPase. d) Acoplamento de íons de potássio nos filamentos de miosina, causando interação actina-miosina e o consumo de ATP pela ação da enzima ATPase (hidrólise). e) Lei do tudo ou nada. 5. (ENADE- 2004). Embora o exercício aeróbio seja importante para a prevenção de doenças cardiovasculares, o treinamento de força também pode contribuir para esta prevenção PORQUE existem estudos que mostram que o exercício de força pode ajudar na redução dos níveis de pressão arterial em repouso, bem como na redução da gordura corporal. A esse respeito, pode-se concluir que: a) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. b) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira. c) as duas afirmações são falsas. d) a primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa. e) a primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira. 6. (FCC- 2011). A quantidade máxima de oxigênio que o sistema cardiovascular pode transportar para o músculo denomina-se: a) Potência anaeróbio. b) Capacidade vital. c) VO2máximo. d) Resistência muscular localizada. e) Resistência máxima. 7. (FCC- 2011). Com relação às modificações fisiológicas decorrentes do treinamento aeróbio, três alterações cardiológicas normais podem ser identificadas. São elas: frequência cardíaca menor em repouso, consumo máximo de oxigênio maior e ... a) Débito cardíaco menos elevado. b) Volume sistólico menos elevado. c) Débito cardíaco mais elevado. d) Retorno à frequência cardíaca basal mais lento. e) Maior elevação da frequência cardíaca em qualquer exercício. 8. O consumo máximo de oxigênio (VO2max) é definido como a maior taxa de captação, transporte e utilização de oxigênio fornecido por gás atmosférico em situações de 49 esforço máximo e exaustivo. Existem testes diretos e indiretos de obtenção da medida de VO2max. Desta forma, qual é a finalidade de utilizar o VO2max em avaliações fisiológicas? Assinale a alternativa correta. a) A medida do VO2max é importante, pois é um bom indicativo do desempenho aeróbio para atletas, mas também oferece parâmetros do estado de saúde como um preditor de mortalidade em indivíduos saudáveis e doentes. b) O VO2max é importante, pois é um bom indicativo do desempenho aeróbio para atletas. Porém pouco oferece como parâmetro do estado de saúde e como um preditor de mortalidade em indivíduos saudáveis e doentes. c) A medida do VO2max é pouco importante como indicativo do desempenho aeróbio para atletas. Contudo mostra-se um bom parâmetro do estado de saúde como um preditor de mortalidade em indivíduos saudáveis e doentes. d) O VO2max é um pobre indicativo do desempenho aeróbio para atletas e também não oferece parâmetro para avaliar o estado de saúde como um preditor de mortalidade em indivíduos saudáveis e doentes. e) A medida do VO2max é o parâmetro mais importante do desempenho aeróbio para atletas. Porém nada tem a oferecer como parâmetro do estado de saúde e como um preditor de mortalidade em indivíduos saudáveis e doentes. 50 ADAPTAÇÕES METABÓLICAS AO EXERCÍCIO 51 4.1 ADAPTAÇÕES METABÓLICAS AGUDAS E CRÔNICAS AO EXERCÍCIO Quando realizamos exercícios físicos, ocorrem inúmeras adaptações com relação à produção e utilização de energia, conforme visto na unidade 1 e 2. O grau em que as adaptações ocorrem depende do nível inicial de aptidão do indivíduo e do fator genético. Os exercícios elevam o potencial para a produção de maiores quantidades de ATP pela fosforilação oxidativa, mas ainda são produzidos 36 ATP a partir da glicose no músculo esquelético. Entretanto, a quantidade de ATP e PC armazenada no músculo em repouso é maior em pessoas treinadas, especialmente quando há hipertrofia muscular. Além destas, ocorrem alterações agudas e crônicas no sistema endócrino, atividade enzimática, sistema cardiorrespiratório, sistema neuromuscular e outras que, em uma unidade não seria possível descrevê-los. Uma das principais e mais importantes adaptações metabólicas a um programa de treinamento são as alterações nos hormônios responsáveis pela regulação do metabolismo, dentre eles os fatores de liberação hipotalâmica e o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH); menor elevação do glucagon e menor supressão da insulina; menor elevação na norepinefrina e epinefrina; menor elevação do GH; menor elevação do cortisol (PLOWMAN; SMITH, 2009). As respostas agudas e crônicas do sistema endócrino serão mais exploradas na seção 2 desta unidade. Com relação às adaptações no sistema energético (combustível), temos, no metabolismo do carboidrato, aumentos no número e na concentração dos transportadores GLUT-4 no músculo esquelético, responsáveis pela velocidade e transporte da glicose nos músculos. Isso promove uma maior captação de glicose sob a influência da insulina. Apesar do aumento do GLUT-4, exercícios de endurance reduzem a utilização de glicose durante o exercício moderado. Tanto o treinamento de endurance quanto de alta velocidade acarreta um aumento nas reservas musculares e hepáticas de glicogênio. O maior aporte de glicogênio usado com menor rapidez permite as pessoas participar de atividades razoavelmente intensas com níveis submáximos por períodos mais longos antes de fadigar. Em contrapartida, o treinamento de alta velocidade também pode acelerar a glicogenólise, fornecendo um suprimento rápido de ATP quando necessária para atividade de potência máxima ou supramáxima. No metabolismo da gordura, a velocidade de oxidação dos ácidos graxos livres (AGL) não é determinada pela quantidade armazenada, e sim pela concentração de AGL na corrente sanguínea e pela capacidade dos tecidos em oxidar a gordura. O treinamento induz várias adaptações neste metabolismo, como: maior mobilização ou liberação de AGL pelo tecido adiposo; um nível aumentado de AGL no plasma durante o exercício submáximo; aumento no armazenamento de gordura adjacente às mitocôndrias dentro dos músculos; e maior capacidade de utilizar a gordura para qualquer concentração plasmática em particular. Já no metabolismo das proteínas, mesmo sendo umsubstrato energético menos importante, ocorrem mudanças com treinamento de endurance que realçam seu papel. Essas adaptações incluem: maior capacidade de utilizar o aminoácido de cadeia ramificada leucina; e maior capacidade de formar e liberar alanina a partir dos miócitos, provavelmente para uma remoção acelerada para a gliconeogênese. Nas provas de ultra-endurance, um maior efeito da gliconeogênese pode ser benéfico na manutenção dos níveis sanguíneos de glicose (PLOWMAN; SMITH, 2009). 52 Um elemento fundamental para se elevar a produção de ATP é a atividade enzimática, como visto na unidade 1. Sendo cada fase em cada via metabólica catalisada por uma enzima específica, a adaptação ao treinamento para influenciar a produção de energia é extremamente importante, porém, nem todas as enzimas respondem ao mesmo estímulo do treinamento. Três enzimas essenciais evidenciaram alterações significativas ao treinamento: glicogênio fosforilase, fosfofrutocinase (PFK) e desidrogenase láctica (LDH). A glicogênio fosforilase catalisa o fracionamento do glicogênio armazenado nos miócitos, para que possa ser utilizado como combustível na glicólise, ação importante em exercícios quase-máximo, máximo e supramáximo. A PFK é a principal enzima limitante de velocidade para a glicólise e a LDH catalisa a conversão de piruvato para lactato, pois o treinamento de endurance tende a produzir efeitos sobre a LDH, como a redução da atividade global da LDH. As mudanças nas enzimas mitocondriais do ciclo de Krebs, da CTE e da fosforilação oxidativa estão acopladas às mudanças nas próprias mitocôndrias e, tanto o tamanho quanto o número de mitocôndrias aumentam com o treinamento. As mitocôndrias interfibrilares são afetadas em menor grau que as mitocôndrias sarcolêmicas. A atividade contrátil parece ser o estímulo para que estas alterações aconteçam, pois apenas os músculos envolvidos diretamente nos exercícios sofrem essas mudanças (PLOWMAN, SMITH, 2009). Outra alteração importante e extremamente essencial que acontece com o treinamento é a captação máxima de oxigênio (VO2máx), o que pode deixar as atividades da vida e prática de esportes relativamente mais fácil e melhorar o desempenho de endurance. A concentração de mioglobina nos músculos também aumenta com o treinamento de endurance nos músculos envolvidos diretamente na atividade e, consigo, aumenta-se a velocidade de difusão do O2 através do citoplasma até o interior das mitocôndrias, tornando o O2 mais rapidamente disponível. O transporte do lactato é acelerado por uma combinação de maior afinidade do substrato, maior atividade intrínseca e maior densidade dos transportadores do lactato MCT1 da membrana mitocondrial e da membrana celular, ao mesmo tempo que o tamanho, o número e as concentrações enzimáticas das mitocôndrias estão elevados. Em conjunto, esses mecanismos permitem que os miócitos aumentem a captação global de lactato pelos músculos e, consequentemente, mais lactato poderá ser oxidado com maior rapidez durante o exercício. Conjuntamente, o fluxo sanguíneo para o fígado é acelerado, o que ajuda na remoção global do lactato, resultando menor concentração de lactato nos músculos e no sangue para uma mesma carga de trabalho após o treinamento, retardando a fadiga (PLOWMAN; SMITH, 2009). A capacidade de produção de trabalho mostra aprimoramentos induzidos pelo exercício, sendo que atletas de potência e velocistas apresentam valores maiores e melhores adaptações que atletas de resistência ou fundistas. Contudo, aerobicamente, um indivíduo treinado resiste a qualquer carga de trabalho submáxima específica por um tempo mais longo que alguém destreinado. Em síntese, uma pessoa treinada possui um sistema metabólico capaz de proporcionar um desempenho mais vigoroso, para níveis tanto submáximos quanto máximos. Inúmeras outras alterações acontecem como resposta tanto aguda como crônica ao exercício físico, porém são limitadas ao conteúdo deste livro e devem ser exploradas mais afundo em outras obras. 53 Nesta unidade, aprenderemos sobre o papel do sistema endócrino na regulação de vários processos fisiológicos que acontecem ao nos exercitarmos. Durante a prática de exercícios, nosso organismo enfrenta demandas extremas que requerem diversos ajustes fisiológicos, seja na produção de energia, remoção dos subprodutos metabólicos, ajustes nas funções cardiovascular e respiratória. Muitas destas regulações fisiológicas necessárias durante o exercício ocorrem por meio do sistema nervoso. Porém, outro sistema fisiológico afeta também as células, tecidos e órgãos, monitorando constantemente o organismo, regulando todas as alterações que ocorrem para garantir que a homeostase não seja dramaticamente quebrada, conhecido como sistema endócrino. Por ser um sistema muito complexo, nosso foco será a importância dos hormônios em realizar ajustes e manter a homeostase estável em alguns processos internos atuantes durante o exercício. Ao sair do repouso e iniciar um exercício, é necessário que a taxa de metabolismo aumente, para fornecimento da energia necessária, havendo necessidade da integração coordenada de diversos sistemas fisiológicos e bioquímicos, com responsabilidade em grande parte do sistema nervoso, mas o ajuste fino é responsabilidade principalmente do sistema endócrino, chamados coletivamente de sistema neuroendócrino. O sistema nervoso funciona mais prontamente (efeitos rápidos), ao passo que o sistema endócrino funciona de forma mais lenta (efeitos prolongados) (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). O sistema endócrino compõe todos os tecidos ou glândulas que secretam hormônios. Ao serem secretados por células endócrinas especializadas, os hormônios são transportados pela corrente sanguínea até as células-alvo específicas, as quais possuem receptores hormonais específicos, tendo como função controlar e regular as atividades do órgão, célula ou tecido-alvo. Alguns hormônios podem afetar diversos tecidos, enquanto outros atuam apenas em células muito específicas no corpo. As principais glândulas endócrinas que agem durante o exercício são a hipófise anterior, tireoide, suprarrenais e pâncreas. Como já mencionado, os hormônios têm um papel importante na regulação de inúmeras variáveis fisiológicas durante a prático do exercício, dentre os quais os mais importantes são descritos a seguir, conforme apresentado por Guyton e Hall (2006), e Molina (2021): Hipófise anterior – O exercício parece ser um forte estimulante do hipotálamo, por aumentar a velocidade de liberação de todos os hormônios da hipófise anterior. Dos seis hormônios secretados pela hipófise anterior, as respostas agudas ao exercício fazem aumentar a produção de quatro destes hormônios (Hormônio de Crescimento – GH; Tirotropina – TSH; Adrenocorticotropina – ACTH; e Prolactina) e outros dois sofrem pouco ou nenhuma alteração (Hormônio Folículo-estimulante – FSH; e Hormônio Luteinizante - LH). Porém, somente os hormônios GH e ACTH mudam seu padrão de atuação em resposta ao efeito do treinamento físico constante. O GH é um hormônio com ação anabólica, ou seja, promove crescimento e hipertrofia dos músculos, ao facilitar o transporte dos aminoácidos para o interior das células, além de estimular a lipólise, por aumentar a síntese de enzimas envolvidas na glicólise. As concentrações GH são altas no exercício aeróbio, proporcional com a intensidade e, em geral, permanecem elevadas por um tempo após o fim do exercício. Hipófise posterior – secreta os hormônios antidiurético (ADH ou vasopressina) e 4.2 RESPOSTA ENDÓCRINA AO EXERCÍCIO 54 Ocitocina. Somente o ADH tem respostas ao exercício agudo, assim como tem efeito com o treinamento físico. Os hormônios secretados por esta glândula auxiliam no controle da excreção de H2O pelos rins e eleva a PA, ao promover vasoconstrição. O ADH entra no sangue, desloca-se até os rins e promove retenção de H2O, em um esforço de diluir a concentração dos eletrólitos devolta à normalidade no plasma, ou seja, o ADH minimiza a extensão da perda de água e, consequentemente, o risco de grave desidratação durante períodos de sudorese intensa e exercício extenuante. Tireoide – Secreta dois hormônios não esteroides importantes, a triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4), que regulam o metabolismo em geral, e o hormônio calcitonina, que ajuda na regulação do metabolismo do cálcio. T3 e T4 partilham de funções similares, pois aumentam a taxa metabólica de praticamente todos os tecidos, assim como aumentam a síntese proteica, o número de mitocôndrias na maioria das células, a glicólise e gliconeogênese, a rápida absorção celular de glicose, além de melhorar a mobilização dos lipídios, aumentando a disponibilidade dos ácidos graxos livres (AGL) para a oxidação. A liberação de TSH pela hipófise anterior aumentada durante o exercício estimula a liberação de T3 e T4 pela tireoide, os quais aumentam a FC e a contratilidade do coração. Paratireoide – esta glândula secreta o paratormônio (PTH) que tem sua liberação aumentada como resposta aguda ao exercício. Tem como objetivo controlar a concentração de Ca+ no líquido extracelular por meio de sua influência nos ossos, intestinos e rins. Glândulas suprarrenais – são divididas em duas partes, sendo a parte interna composta pela medula suprarrenal que produz a epinefrina (adrenalina) e a norepinefrina (noradrenalina), coletivamente chamados de catecolaminas. Esses dois hormônios nos deixam preparados para a ação imediata, conhecida como ação de “luta ou fuga”. Seus efeitos combinados resultam no aumento da FC, força de contração tanto do miocárdio quanto das arteríolas e vênulas, taxa metabólica, glicogenólise e lipólise no fígado e músculo, aumenta fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos, aumento da liberação de glicose e AGL para o sangue, elevação da PA e do consumo de O2. A secreção destas catecolaminas recebe influência de fatores como posição do corpo, estresse psicológico e intensidade de exercício. Nas cargas de trabalho acima de 50% do VO2máx, há aumento da secreção de noradrenalina, já a adrenalina não se eleva significativamente até que se exceda de 60 a 70% do VO2máx na intensidade de exercício. Após atividades de longa duração e intensidade moderada, os níveis de adrenalina retornam a seus valores de repouso em poucos minutos, o que pode demorar horas em relação a noradrenalina. Na parte externa está o córtex suprarrenal, que secretam mais de 30 hormônios esteroides diferentes, denominados corticosteroides e geralmente classificados em três tipos: mineralocorticoides, glicocorticoides e gonadocorticoides (hormônios sexuais). Os mineralocorticoides mantêm o equilíbrio dos eletrólitos nos líquidos extracelulares, especialmente do sódio (Na+) e do potássio (K+). A aldosterona é o principal destes tipos de hormônios, responsável por cerca de 95% de toda a atividade dos mineralocorticoides, promovendo reabsorção renal de Na+ e retendo-o no corpo, forçando a H2O também a ficar retida e que ocorra a excreção do K+. Assim, tanto a aldosterona como o ADH resultam em retenção de água. Já os glicocorticoides adaptam facilmente ao exercício e a outras formas de estresse, além de ajudar a manter concentrações plasmáticas de glicose razoavelmente consistentes, mesmo durante um longo tempo sem ingerir alimento. O cortisol (hidrocortisona) é o principal corticosteroide, responsável em torno 55 de 95% por toda atividade glicocorticoide no organismo. Este hormônio estimula a gliconeogênese (aporte de energia), mobilização dos AGL (ATP disponível), diminui a utilização da glicose (poupa combustível para o cérebro), estimula a degradação das proteínas em aminoácidos para reparos teciduais, síntese de enzimas e produção de ATP, ação anti-inflamatória, e aumenta a vasoconstrição causada pela adrenalina. Pâncreas – secreta principalmente insulina e glucagon, hormônios com ações antagônicas de controle da concentração plasmática de glicose. Quando ocorre a hiperglicemia (concentração elevada), o pâncreas libera insulina no sangue, pois a insulina facilita o transporte da glicose para o interior das células, especialmente no tecido muscular, promove a glicogênese e inibir a gliconeogênese, além de facilitar a síntese de proteínas e gorduras. Para que o glucagon seja secretado, é necessário que a concentração plasmática de glicose cai abaixo dos níveis de normalidade (hipoglicemia), pois promove a glicogenólise hepática e o aumento da gliconeogênese. Durante um exercício com média-longa duração, o organismo busca manter os níveis de glicose sanguíneo, mas os níveis de insulina tendem a declinar. A capacidade de ligação da insulina com seus receptores nos miócitos se eleva durante o exercício, aumentando a sensibilidade à insulina e diminuindo a necessidade de manter os níveis de insulina sanguíneo elevadas para o transporte da glicose até os miócitos. Em contrapartida, o glucagon plasmático aumenta gradualmente durante todo o exercício, para manter os níveis de glicose sanguíneo circulante em decorrência da glicogenólise hepática, para possíveis demandas metabólicas aumentadas. Pessoas bem treinadas têm maior capacidade de manter as concentrações plasmáticas de glicose. Há, também a somatostatina, hormônio que diminui a secreção de insulina e glucagon. Rins – produzem a renina e a eritropoetina (EPO). A renina ajuda no controle da PA (pelos níveis de concentração do Na+) e a EPO estimulam a produção de eritrócitos (glóbulos vermelhos) com a estimulação das células da medula óssea. Os eritrócitos são importantes no transporte de O2 até os tecidos e remoção do CO2, sendo a EPO extremamente importante na adaptação ao treinamento e à altitude. Os rins também podem atuar como órgãos endócrinos, embora não sejam tipicamente considerados. Determinam a concentração de aldosterona no sangue e, junto com os reguladores primários (Na+ e K+) contribuem para a regulação do equilíbrio hídrico corporal. Em resposta a uma queda na PA ou no volume plasmático, o fluxo sanguíneo para os rins é diminuído. Os rins liberam renina, uma enzima liberada na circulação para converter o angiotensinogênio em angiotensina I, para depois chegar a sua forma ativa, angiotensina II. Já nos pulmões, com a ajuda da enzima conversora de angiotensina (ECA), a angiotensina II estimula a liberação de aldosterona pelo córtex suprarrenal para a reabsorção de Na+ e H2O nos rins, mecanismo denominado renina-angiotensina- aldosterona. Testículos – secretam a testosterona, hormônio responsável pelas características sexuais masculinas e pela promoção do crescimento muscular. Há pequenos aumentos na produção deste hormônio como resposta aguda ao exercício. Ovários – produzem os estrogênios e a progesterona, os quais promovem as características sexuais femininas, além de aumentar as reservas de gordura e ajudar na regulação do ciclo menstrual. Para que haja regulação do metabolismo dos carboidratos durante o exercício, precisamos lembrar que a glicose é a fonte de energia para os músculos, armazenada em 56 forma de glicogênio, principalmente nos músculos e no fígado. Quatro são hormônios atuam para aumentar a quantidade de glicose circulante na corrente sanguínea: glucagon; adrenalina; noradrenalina e cortisol. Durante o repouso, a liberação de glicose pelo fígado é facilitada pelo glucagon, o qual degrada o glicogênio hepático para formação de glicose a partir de aminoácidos, sendo que durante o exercício, aumenta- se a secreção de glucagon. O exercício também acelera a liberação de epinefrina e norepinefrina pela medula suprarrenal, os quais somatizam com a ação do glucagon para se elevar ainda mais a taxa de degradação do glicogênio. Já o cortisol tende a aumentar sua concentração após alguns minutos de exercício, aumentando o catabolismo das proteínas para liberar aminoácidos para a gliconeogênese no fígado. Sendo assim, todos estes quatro hormônios podem aumentar a glicose plasmáticaao promoverem os processos de glicogenólise e/ou gliconeogênese. O GH também atua no processo de aumento da glicose circulante, pois aumenta a mobilização de AGL e diminuição da absorção de glicose pelas células. Já T3 e T4 promovem o catabolismo da glicose e a metabolização das gorduras. A quantidade de glicose liberada pelo fígado depende da duração e da intensidade do exercício, pois o aumento da intensidade leva a uma maior liberação das catecolaminas, fazendo com que o fígado libere mais glicose do que os músculos ativos podem absorver, já que o músculo tem seu próprio estoque de glicose armazenado na forma de glicogênio. Por isso é que, durante ou logo após uma corrida de velocidade e curta duração, as concentrações sanguíneas de glicose podem estar até 50% acima do nível em repouso. Entretanto, em exercícios que se prolongam por horas, a velocidade de liberação hepática de glicose fica em convergência com as necessidades musculares. Neste caso, os níveis de glucagon aumentam significativamente, e, juntamente com o cortisol, melhoram a gliconeogênese, proporcionando mais combustível (KENNEY, WILMORE, COSTILL, 2013). No entanto, a liberação de níveis suficientes de glicose no sangue não garante a sua utilização como fonte energética pelos miócitos, já que o transporte da glicose para o interior das fibras e membranas celulares é controlado pela insulina. O que surpreende é a contradição entre a concentração plasmática de insulina e a necessidade dos músculos quanto à glicose, já que os níveis de insulina tendem a diminuir durante o exercício submáximo prolongado, mesmo com o ligeiro aumento na concentração plasmática de glicose e absorção pelos músculos. Assim, é importante lembrar que a atividade de um hormônio é determinada também pela sensibilidade celular a este hormônio, e não só pela sua concentração na corrente sanguínea. É desta forma que dizemos que o exercício melhora a sensibilidade insulínica, ao melhorar a ligação da insulina aos receptores existentes na fibra muscular, implicando menor necessidade de níveis elevados de insulina plasmática para o transporte da glicose através da membrana para o interior da célula. Entenda que, durante o exercício, quatro hormônios buscam formar e/ou liberar glicose, e concentrações elevadas de insulina se oporiam à sua ação, o que impediria o aumento necessário ao suprimento de glicose plasmática para os músculos (MOLINA, 2021). 57 Já com relação à regulação do metabolismo das gorduras durante o exercício, contribuem menos que o carboidrato para as necessidades energéticas, sendo essenciais principalmente para exercícios de resistência. Durante exercícios prolongados, são depletadas as reservas de carboidrato e o corpo precisa depender intensamente da lipólise para de ATP, como visto na unidade 2. A velocidade desta lipólise é controlada por cinco hormônios, pelo menos: insulina (diminuída); adrenalina; noradrenalina; cortisol; GH. A queda dos níveis circulantes de insulina é o principal fator responsável pela lipólise durante exercício, assim como há aumento da lipólise, também, com elevação dos níveis de adrenalina e noradrenalina. O cortisol, além de atuar na gliconeogênese, também acelera a lipólise para obtenção de energia durante o exercício, atingindo seu pico depois de 30 a 45 minutos de prática, declinando logo em seguida. Mesmo assim, a concentração plasmática de AGL continua a aumentar ao decorrer da atividade, demonstrando que a lipase continuou ativada por outros hormônios, como as catecolaminas e o GH. Outra função importante da regulação hormonal durante o exercício é o equilíbrio hidroeletrolítico que é fundamental para um funcionamento metabólico, cardiovascular e termorregulador satisfatório. As glândulas endócrinas envolvidas na homeostase de líquidos e eletrólitos são a hipófise posterior e o córtex suprarrenal. Os rins, além de também servirem como glândulas por si só, são o alvo primário dos hormônios liberados por essas glândulas. Além de estimular a liberação de aldosterona pelo córtex suprarrenal, a angiotensina II também causa a vasoconstrição. Importante citar que, pelo fato de catalisar a conversão de angiotensina I em angiotensina II, inibidores da ECA podem ser algumas vezes prescritos para indivíduos hipertensos, já que a vasodilatação reduz a PA. Lembre-se de que a principal ação da aldosterona é promover a reabsorção do Na+ nos rins, fazendo com que a água também se retenha. As influências hormonais do ADH e da aldosterona persistem por 12 a 48 horas após o exercício, reduzindo a produção de urina e protegendo o organismo contra uma maior desidratação. A maioria dos atletas As concentrações plasmáticas de glicose são aumentadas pelas ações do glucagon, da adrenalina, da noradrenalina e do cortisol. Isso é importante durante o exercício, parti- cularmente o de longa duração ou de alta intensidade; de outra forma, poderia ocorrer declínio nas concentrações sanguíneas de glicose durante esse tipo de exercício. VAMOS PENSAR? Uma visão geral das principais glândulas endócrinas e seus hormônios foi apresentada neste livro, porém, por não ser possível cobrir todos os aspectos do sistema regulatório endócrino durante o exercício. Para aprimorar seus conhe- cimentos sobre o assunto, deve-se incluir a leitura de artigos e capítulos de livro, como o sugerido capítulo 3 do livro “Fisiologia Humana”. Disponível em: https:// bit.ly/3Pz0LNc. Acesso em: 02 abr. 2021. BUSQUE POR MAIS 58 que praticam treinamentos intensos exibem aumento do volume plasmático, diluindo os vários constituintes do sangue, fenômeno conhecido como hemodiluição (KENNEY, WILMORE, COSTILL, 2013). A quantidade total de energia consumida diariamente pode ser dada como a somatória de três componentes: taxa metabólica em repouso (TMR), efeito térmico de uma refeição (ETR) e efeito térmico da atividade (ETA). A TMR é tida como a taxa metabólica do nosso organismo no início da manhã, após um jejum noturno e cerca de 8h de sono, representando a quantidade mínima de gasto energético necessária para a manutenção dos processos fisiológicos básicos, ou seja, cerca de 60 a 75% da energia total que nós consumimos diariamente. O ETR representa o aumento na taxa metabólica associado à digestão, absorção, transporte, metabolismo e armazenamento dos alimentos ingeridos, responsável por aproximadamente 10% de nosso gasto energético diário total. Por fim, o ETA é simplesmente a energia despendida além da TMR, na realização de uma determinada tarefa ou atividade, responsável de 15 a 30% do gasto energético diário total. O sobrepeso e a obesidade estão associados a um aumento da taxa de mortalidade geral ligada com diversas doenças crônicas (CDC, 2011). Dentre as principais temos: doença coronariana, hipertensão arterial, acidente vascular encefálico (AVE), diabetes tipo 2, alguns tipos de câncer (endométrio, mama e cólon), doença da vesícula biliar, esteatose hepática, síndrome metabólica, osteoartrite, apneia do sono e problemas respiratórios (KENNEY, WILMORE E COSTILL, 2013). Problemas respiratórios são bastante comuns entre os obesos, inclusive apneia do sono, o que pode levar a letargia (preguiça, lentidão), por causa dos níveis elevados de CO2 no sangue e policitemia (aumento da produção dos eritrócitos) em resposta à menor oxigenação do sangue arterial. Isto pode acarretar uma coagulação anormal do sangue (trombose), dilatação do coração e insuficiência cardíaca congestiva. Indivíduos obesos geralmente tem tolerância reduzida ao exercício devido aos problemas respiratórios, além da maior massa corporal que deve ser movimentada durante um movimento ou exercício. A obesidade também eleva o risco de ocorrência de certas doenças crônico- degenerativas, como a hipertensão e a aterosclerose, além de vários distúrbios metabólicos e endócrinos, como comprometimento do metabolismo dos carboidratos e diabetes melito tipo 2. A forma como se acumula a gordura e localtambém interferem como fator de risco para muitas doenças, principalmente doenças cardiovasculares, as 4.3 OBESIDADE, FATORES DE RISCO E DOENÇAS RELACIONADAS Utilizamos, no dia a dia do professional de educação física, a expressão “taxa metabólica basal” (TMB), o que muitas vezes é confundida e usada erroneamente para designar a TMR. Porém, é necessário que a pessoa jejue de 12 a 18 horas e durma no hospital para que seja determinada a TMB. VAMOS PENSAR? 59 quais são as que mais matam no mundo. Homens tendem a armazenar gordura no tronco, mais especificamente na região abdominal (androide - formato de maçã), enquanto as mulheres tendem a acumular mais na parte dos quadris, nádegas e coxas (genoide - formato de pera). Já se sabe que a gordura, especialmente a gordura visceral, é o fator de risco mais importante para muitas destas doenças e mortalidade. A inatividade é a principal causa de obesidade em muitos países. Sendo assim, a prática de exercícios e atividades físicas é componente essencial para qualquer programa de redução ou controle do peso. No entanto, a consideração do consumo energético somente durante o exercício não mostra uma visão geral do problema, já que o metabolismo permanecerá temporariamente elevado, mesmo após o término do exercício, o que conhecemos atualmente como consumo elevado de oxigênio pós- exercício ou simplesmente EPOC (elevated post-exercise oxygen consumption). O retorno da taxa metabólica ao seu nível basal anterior ao início da prática do exercício poderá necessitar de alguns minutos (após andar, por exemplo), algumas horas (após treinamento exaustivo como o HIIT – high intensity interval training, ou seja, treinamento intervalado de alta intensidade), ou até dias (após exercício exaustivo e prolongado – correr uma maratona no calor e com umidade alta). Ao levar em consideração o período total necessário para recuperação, em decorrência do EPOC pode-se implicar na necessidade aumentada de gasto energético. Como exemplo, imaginemos que o EPOC permaneça elevado em apenas 0,05 L/min em média, o que representaria cerca de 15 kcal/h por cinco horas, e isso adicionaria um gasto de 75 kcal, gasto este ignorado na maioria dos cálculos dos custos energéticos das atividades. Se o mesmo indivíduo se exercitar cinco dias na semana, consumiria 375 kcal (cerca de 0,05 kg de gordura) em uma semana, apenas com o gasto calórico adicional durante o período de recuperação. Assim, evidências revelam que o exercício constante é parte importante de qualquer programa de perda de peso, mas a combinação com a redução/controle da ingestão calórica é essencial para que sejam maximizados os resultados. Com isso, uma boa notícia surge no horizonte para os que parecem destinados a permanecer obesos ou com sobrepeso: uma vida ativa, com níveis de moderados a elevados de condicionamento físico podem reduzir drasticamente a mortalidade por doenças crônico-degenerativas, como a doença arterial coronariana e o diabetes. Para se aprofundar na temática obesidade e exercício, convido a acessar a seção 6 do livro “Fisiologia do Exercício - nutrição, energia e desempenho hu- mano” 8ª ed. em Minha Biblioteca Única. Disponível em: https://bit.ly/3HvqEKq. Acesso em: 29 ago. 2021. BUSQUE POR MAIS 60 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (INSTITUTO PRÓ-MUNICÍPIO, 2018). A homeostase é uma condição no qual o meio interno do corpo permanece estável, dentro de certos limites. Desta forma, a homeostase é regulada pelo _______ e pelas _______. a) Sistema linfático, artérias. b) Sistema muscular, conexões fibrosas. c) Sistema nervoso, glândulas endócrinas. d) Sistema circulatório, câmaras do coração. e) Sistema musculoesquelético, veias. 2. Uma das principais adaptações fisiológicas e celulares relacionadas a um longo período de treinamento aeróbio (endurance) é o tamanho e número de mitocôndrias na célula, aumentando a capacidade de consumo de oxigênio para produção de ATP. Assim, há sinais fisiológicos que estimularão a célula a gerar biogênese mitocondrial. Assim, qual alternativa contempla os sinais que podem induzir uma biogênese mitocondrial com a prática regular do treinamento aeróbio. a) Processos de destruição celular (autofagia, apoptose ou necrose) aumentando assim os sinais inflamatórios excessivos e persistentes. b) Aumento na quantidade de núcleo da célula. c) Aumento dos íons Ca+ intramuscular e participação das espécies reativas de O2. d) Aumento no volume de sangue ofertado em repouso. e) Maior liberação de agentes anti-inflamatórios intracelular. 3. Os hormônios são substâncias endócrinas e podem afetar células distintas que se ligam aos seus receptores, sendo classificados de três diferentes tipos. Assinale a alternativa correta sobre a classificação dos tipos de hormônios. a) Proteolíticos, esteroides e derivados do carboidrato tirosina ou grupo aminas. b) Peptídeos, esteroides e derivados do aminoácido tirosina ou grupo aminas. c) Peptídeos, esteroides e derivados do carboidrato tirosina ou grupo ácido graxo. d) Proteicos, estiloides e derivados do aminoácido tirosina ou grupo aminas. e) Proteolíticos, esteroides e derivados do aminoácido tirosina ou grupo ácido graxo. 4. O hormônio do crescimento (GH), ou somatotrofina, é sintetizado na hipófise anterior, em repouso pela influência da secreção de hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH) pelo hipotálamo, promovendo a função anabólica no organismo. Porém, a secreção do GH pode ser controlada e inibida com a liberação de somatostatina. Assim, analise as seguintes assertivas. 61 I) Promover o crescimento linear estimulando as cartilagens das epífises ósseas nos ossos longos, promover a liberação de proteínas nos tecidos. II) Promover o aumento da massa muscular. III) Desencadear fatores de crescimento semelhantes à insulina, liberados pelo fígado. Assinale a alternativa correta ao analisar as assertivas. a) As assertivas I, II e III estão corretas. b) Somente a assertiva I está correta. c) Somente a assertiva II está correta. d) Somente a assertiva III está correta. e) Somente as assertivas I e II estão corretas. 5. A relação dose-resposta de um exercício físico pode ser observada em termos de curto (efeitos agudos) e longo prazo (efeitos crônicos). Isso porque as respostas ou ajustes fisiológicos decorrentes da prática são, geralmente, dependentes do tempo de prática de um determinado programa de exercícios. Nesse sentido, como podemos definir “respostas crônicas” do exercício físico? a) Treinamento no qual a frequência cardíaca não ultrapassa o limiar de lactato. b) Respostas fisiológicas após um programa contínuo, que apresente uma frequência de treinamento. c) Respostas de uma única sessão de treinamento. d) Respostas de um treinamento periodizado de 24 horas. e) Respostas em que são ativadas as vias metabólicas. 6. (AMEOSC- 2019). Os hormônios são substâncias químicas específicas fabricadas pelo nosso sistema endócrino, com grande importância para o funcionamento adequado do nosso organismo. O exercício físico provoca respostas hormonais com influência fisiológica e psicológica. Das alternativas abaixo qual hormônio não tem relação direta com exercícios: a) Endorfina. b) Glucagon. c) Insulina. d) Tireoide. e) GH. 7. (INSTITUTO EXCELÊNCIA, 2019). As adaptações metabólicas ao treinamento, os exercícios de força e a hipertrofia, dentre outros com características anaeróbicas aumentam: a) A atividade enzimática glicolítica e os estoques de ATP- PCr intramuscular. b) A densidade capilar e mitocondrial. c) A quantidade de mioglobina muscular. d) A quantidade de enzimas do ciclo de Krebs e cadeia transportadora de elétrons. 62 e) O número de vasos sanguíneos nos músculos. 8. (FUNDEP - 2017). O sistema endócrino integra e regula as funções corporais, proporcionando estabilidade ao organismo em estados de repouso e de exercício. A integração dos sistemas nervoso e hormonal auxilia para que o controle neural regule o controle hormonal em respostasaos estímulos externos e internos, fazendo com que os hormônios atuem nos órgãos-alvo e em seus respectivos receptores. Então, o hormônio: a) insulina estimula o crescimento tecidual e mobiliza os ácidos graxos para obtenção de energia. b) adrenalina facilita a atividade simpática, eleva o débito cardíaco, regula os vasos sanguíneos e aumenta o catabolismo do glicogênio e a liberação de ácidos graxos. c) GH controla o aumento do volume muscular, provoca aumento do número de hemácias, reduz a gordura corporal e acentua as características sexuais masculinas. d) testosterona promove o transporte dos carboidratos, aminoácidos e ácidos graxos para dentro das células, aumenta o catabolismo dos carboidratos e reduz a glicose sanguínea. e) tirosina controla a temperatura corporal, assim como regula a ação da insulina. 63 EXERCÍCIOS E APLICAÇÕES ESPECÍFICAS 64 5.1 ADAPTAÇÕES DA CRIANÇA AO EXERCÍCIO A compreensão do processo de crescimento e desenvolvimento infantil é essencial, já que os determinantes da fisiologia do exercício e desempenho surgem em conjunto com o crescimento somático, sendo que a própria atividade física pode influenciar não somente o processo de crescimento, como muitas outras variáveis fisiológicas no organismo da criança. Uma questão de grande preocupação dos pais, treinadores e professores de educação física é com relação a prática de atividade física e sua possível interferência negativa no crescimento da criança. Alguns estudos já sugeriram que o treinamento intenso poderia retardar o crescimento, porém outros aceitam que o aumento da atividade física e o estresse musculoesquelético são importantes para promover o crescimento nas crianças, inclusive com benefícios específicos em longo prazo para a saúde, ou seja, uma possível estimulação do crescimento e densidade óssea pode amenizar o risco de uma futura osteoporose (ROWLAND, 2008; KLENTROU, 2016). A prática de atividade física poderia influenciar o crescimento das crianças por meio de três possíveis mecanismos: a atividade física atuando sobre os estoques calóricos compete com a demanda energética do crescimento normal pelos nutrientes disponíveis; o exercício serve como estímulo potencial para a produção de fatores de crescimento; e a atividade muscular gera estresse mecânico local, ativando o crescimento musculoesquelético. A revisão de Klentrou (2016) mostra o que se sabe e o que ainda não está esclarecido em termos de crescimento, desenvolvimento e adaptação óssea relacionados à atividade física na infância. A carga mecânica e exercícios de alto impacto promovem a resistência óssea, como já se sabe na literatura, entretanto, o treinamento intenso antes da puberdade pode afetar negativamente o desenvolvimento ósseo. O final da infância é uma fase propícia para desenvolvimento ósseo, inclusive com exercícios de alto impacto para benefícios na estrutura e mineralização óssea (GUNTER; ALMSTEDT; JANZ, 2012). Não apenas o momento da atividade é importante para manter/ melhorar a massa óssea, mas também o tipo de exercício, pois os ossos parecem ter uma resposta adaptativa a certos estímulos de carga, tornando o osso mais receptivo a novos níveis de demanda mecânica. Já Fazeli et al. (2013) mostra evidências de que atividade física excessiva ou supertreinamento podem estar ligados a problemas ósseos em atletas jovens de alto rendimento, principalmente mulheres. Em contrapartida, um estudo mostrou que exercícios de salto associados à suplementação de cálcio durante os períodos pré- púberes são considerados eficazes na estimulação do crescimento ósseo e no aumento do conteúdo mineral ósseo, mas as meninas devem ser iniciadas durante o período pré- menarca para maximizar efetivamente o pico de massa óssea (IWAMOTO, 2011). O desenvolvimento da resistência óssea em crianças ocorre por meio da aplicação de adequadas cargas mecânicas sobre o osso, por exemplo, contrações musculares. As contrações musculares e as forças de reação do solo fornecem carga mecânica suficiente para influenciar o desenvolvimento ósseo quando diverge do ponto de ajuste fisiológico (SCOTT; KHAN; DURONIO, 2008). No entanto, o limite no qual a atividade física benéfica progride para o exercício excessivo e seu impacto no nível ideal o desenvolvimento ósseo ainda é mal compreendido. Assim, o efeito das modificações induzidas pelo exercício na estrutura óssea pode ser 65 benéfico ou prejudicial, dependendo do tipo de exercício, intensidade, duração, idade / maturidade, sexo e ingestão alimentar (KLENTROU, 2016). A utilização do treinamento resistido (TR) para crianças merece atenção no que diz respeito a aplicação de cargas absolutas e relativas sobre o crescimento ósseo, procurando se evitar cargas de treinamento próximas a capacidade contrátil máxima (cerca de 1 repetição máxima – RM), pois podem acelerar o fechamento das epífises ósseas, influenciando negativamente no crescimento físico. Contudo, a prática e orientação do TR para crianças deve ser apropriado para cada faixa etária e obedecendo a escolha de exercícios adequados e dando atenção aos fatores maturacionais. A periodização deve ser gradual e progressiva e sempre orientada e acompanhada de supervisão profissional para promover os benefícios esperados (BEHM et al., 2008). A prática de TR é efetivo no aprimoramento da força em indivíduos de idade pré- púbere porém, estudos em crianças raramente detectam evidências de hipertrofia muscular, provavelmente pela ausência do efeito da testosterona em crianças. Ao contrário, o aprimoramento da força com exercícios resistidos em crianças parece ocorrer, supostamente, por modificações de origem neural. Acredita-se que essas adaptações neurais ao TR sejam as mesmas responsáveis pelos ganhos de força em adultos, nas primeiras fases dos programas de treinamento (KLENTROU, 2016). Na literatura, é consenso o nível diminuído da treinabilidade fisiológica aeróbia em crianças. Com um período de TR, os aumentos no VO2máx observados nos estudos pediátricos são, geralmente, no máximo um terço daqueles esperados nos adultos. Algumas explicações têm sido propostas, mas parece mais provável que um mecanismo biológico seja responsável pelo aprimoramento no VO2máx com o TR, como aumentos do volume plasmático e da capacidade aeróbia celular, duas das prováveis explicações para diferenças relativas à maturidade (ROWLAND, 2008). Considerando que o crescimento e maturação óssea estão sob o controle de diversos hormônios e esteroides sexuais, o IGF-I pode ser considerado o principal determinante do desenvolvimento cortical ósseo (WU et al., 2011). Breen et al. (2011) demonstrou prospectivamente uma forte influência de IGF-I no aumento da massa óssea dos adolescentes. Embora resultados ósseos não foram relatados no estudo por Dalskov et al. (2015), associações positivas significativas entre IGF-I e índice de massa livre de gordura foram observados em meninas de 8-11 anos. Os benefícios musculoesqueléticos da atividade física e da participação em práticas esportivas são numerosos, e como sugerido por Warden et al. (2014) persistem na idade adulta. A participação ao longo da vida em atividades com carga e de maior impacto está associada a uma maior resistência óssea. Detter et al. (2014) mostraram que uma intervenção de exercício escolar de 6 anos teve um benefício substancial para a área óssea total da tíbia diafisária (38% local), sem aumentar risco de fratura. Atividades físicas realizada durante a infância também pode beneficiar adiposidade muscular (FARR et al., 2012). Componentes específicos da dieta também foram propostos para desenvolvimento muscular e ósseo, particularmente no contexto das interações nutriente-exercício (DALY; DUCKHAM; GIANOUDIS, 2014; LEWIS; LAING, 2015). Estudos tem buscado entender a relação de pelo menos três fatores relacionados à ingestão e seus efeitos na fisiologia musculoesquelética associados aos exercícios: cálcio, vitamina D e proteínas.As principais respostas fisiológicas ao exercício em crianças são muito semelhantes 66 em adultos, porém existem algumas particularidades, como: • Existe um aumento do VO2máx, em termos absolutos ao longo da idade, intimamente ligado ao aumento da força, ou seja, o VO2máx/kg de peso corporal permanece constante com a idade para os meninos, mas há um declínio progressivo em meninas. • No treinamento aeróbico, não se deve utilizar o VO2máx como um parâmetro para avaliar a performance de crianças, já que representa apenas 1/3 dos valores esperados em adultos. • Não existe diferença da potência anaeróbica entre meninos e meninas antes da puberdade, porém aumenta proporcionalmente nos meninos após a puberdade decorrente das diferenças hormonais (principalmente testosterona). • Crianças apresentam uma menor produção de ácido lático, tendo sua recuperação mais rápida que adultos, após um exercício. • Crianças durante o exercício físico apresentam menos sede durante o exercício devido às características diferenciadas de termorregulação, portanto estão mais propensas à desidratação, diferentemente de adultos. A intensidade dos exercícios deve estar entre 60 a 90% da FCmáx para que realmente ocorra um aumento da performance nas crianças, podendo também utilizado o MET (equivalente metabólico) para quantificar a intensidade do exercício, ou seja, a quantidade de oxigênio consumida proporcional ao gasto energético utilizado durante a prática desta atividade física (OMS, 2018). O que nunca devemos esquecer, como profissionais de educação física, é que, para crianças, devemos priorizar atividades recreacionais e lúdicas, despertando nas crianças um grande interesse, prazer e motivação. O processo completo de envelhecimento tem início no momento da concepção da vida, ainda no útero da mãe e continua por toda a vida, até a morte. O envelhecimento promove, dentre outras centenas de alterações no organismo humano, declínio da capacidade funcional e a atividade física, apesar de não ser necessariamente uma “fonte da juventude”, promove retardo deste declínio e muitos outros benefícios (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). Da mesma forma, observa-se que as perdas funcionais que acompanham o processo de envelhecimento podem ser atribuídas a três fatores associados: envelhecimento propriamente dito; doenças; fenômeno do desuso. Justamente as perdas decorrentes da inatividade, e doenças a ela associadas, podem ser diminuídas ou eliminadas pela adoção de hábitos mais ativos, afinal, as evidências são claras de que ter uma vida física e mentalmente ativa pode retardar o processo de envelhecimento e dar mais qualidade de vida a todas as pessoas (NAHAS, 2017). Taylor e Johnson (2015), descrevem algumas alterações fisiológicas e bioquímicas comuns no processo de envelhecimento, as quais estão descritas a seguir: diminuição da função renal; aparecimento de artrite; aparecimento de osteoporose; diminuição do índice cardíaco; diminuição da velocidade de condução nervosa; diminuição da acuidade dos sentidos; diminuição da imunidade. Demonstram, também, alterações a nível neuromuscular: diminuição da massa muscular, força e contratilidade (sarcopenia); encurtamento das fibras musculares; alterações enzimáticas; diminuição do número de fibras de contração rápida; atrofia muscular; declínio do condicionamento físico; aumento do tempo de reação; aumento 5.2 ADAPTAÇÕES DO IDOSO AO EXERCÍCIO 67 do tempo de movimento; diminuição da atividade da ATPase; diminuição do número de neurônios motores; diminuição do limiar de excitação muscular; aumento da tensão de distensão; novos ramos nervosos axonais; diminuição da condução nervosa. No sistema cardiorrespiratório, temos: diminuição da captação do O2; diminuição da frequência cardíaca máxima; intensificação da doença cardiovascular; aumento da incidência de hipertensão. O TR é uma excelente forma de combater os efeitos sobre a função muscular e óssea que debilitam os idosos. Uma prescrição de exercícios adequada pode ocasionar alterações positivas e consideráveis tanto na força como na saúde óssea e, consequentemente, na qualidade de vida dos idosos. A atividade física com carga, em especial, está associada a uma estrutura óssea mais forte e ao risco reduzido de fraturas de quadril em idosos. A prevenção da osteoporose é muito importante, já que se trata de uma condição incurável e multifatorial, inclusive com componente genético. A atividade física é vital para a saúde dos ossos e constitui uma parte importante do programa de prevenção e tratamento da osteoporose, pois melhora também a força muscular, a coordenação e o equilíbrio, além de promover uma condição geral de saúde melhor. O melhor exercício para os ossos é o TR (exercícios com peso/sobrecarga e/ou sustentação do peso do próprio corpo contra a ação da gravidade). Alguns exemplos são a caminhada, corrida, subir escadas, tênis, boliche, badminton, natação basquete, futebol, dança, musculação, ginástica localizada, hidroginástica, treinamento funcional e outros. Entretanto, algumas doenças relacionadas ao envelhecimento acabam por limitar o exercício: doença de Parkinson: distrofia muscular oftalmoplégica; tremor essencial; doença de Huntington; distonia; mioclônus; osteoartrite, por exemplo (TAYLOR, JOHNSON, 2015). Os benefícios da atividade física a partir da meia-idade podem ser analisados na perspectiva individual (aspectos fisiológicos, psicológicos e sociais) ou da sociedade como um todo. Os benefícios fisiológicos agudos mais relevantes para pessoas acima de 60 anos são: controle dos níveis de glicose; estímulo para ativação de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina); melhor qualidade do sono. Já os benefícios a médio prazo contam com: maior eficiência e capacidade aeróbica (cardiorrespiratória) conferindo menor risco de doenças cardiovasculares; manutenção ou menor perda na massa muscular, força e resistência, proporcionando a capacidade de realizar atividades diárias com mais eficiência e menor risco de lesões; melhoria ou manutenção da flexibilidade para se atingir movimentos com maior amplitude e menores riscos de lesões; e manutenção ou menor perda nos níveis de equilíbrio, coordenação e velocidade de movimento (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). Estas são variáveis muito importantes para a segurança e prevenção de acidentes No livro intitulado “Fisiologia do exercício na terceira idade” de Albert W. Taylor e Michel J. Johnson, de 2015, cita-se dois tipos de envelhecimento: o eugérico e o patogérico. • Eugérico: envelhecimento verdadeiro; alterações relacionadas à idade, que acontecem em qualquer indivíduo e inevitavelmente. • Patogérico: envelhecimento patológico, que não é uma parte predestinada do enve- lhecimento. FIQUE ATENTO 68 dos idosos, principalmente quedas que podem levar a fraturas pélvicas e de fêmur, complicações, acamamento e até morte. Portanto, diversos aspectos funcionais e de saúde podem ser melhorados com atividades físicas regulares: Equilíbrio, Postura, Locomoção, Mobilidade, Tempo de reação, Osteoporose, Dificuldade respiratória, Dores lombares, Ansiedade e depressão, Circulação Periférica. Além disso, McArdle, Katch e Katch (2018 – tabela p. 894) descrevem as tendências gerais para os efeitos da atividade física regular e/ou aptidão física aumentada e risco para condições patológicas crônicas, como: mortalidade devido todas as causas, doenças coronarianas, hipertensão, obesidade, diabetes e osteoporose, dentre outras. Todos os esforços acadêmicos e intervenções relacionados à promoção de estilos de vida ativos e saudáveis desta população são direcionados à seguinte questão principal: Como as pessoas podem permanecer independentes e produtivas à medida que envelhecem? O objetivo é aumentar a expectativa de vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive as mais frágeis e fisicamente incapacitadas (NAHAS, 2017). Há evidências epidemiológicasna literatura que mostram a força da associação entre ausência de exercício e risco de cardiopatia, transformando o sedentarismo no maior fator de risco para cardiopatia, já que mais pessoas apresentam estilos de vida sedentários que aquelas com um ou mais dos outros fatores de risco primários para doenças cardiovasculares e mortalidade decorrente. Os benefícios da atividade física regular estão associados muito mais à prevenção da mortalidade prematura do que ao prolongamento da expectativa de vida (TAYLOR, JOHNSON, 2015; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). Quando abordamos diferenças sexuais na atividade física, logo fica claro que um contexto histórico influencia bastante, já que era comum meninas serem consideradas Em uma leitura diferenciada, aprenda mais sobre os idosos e a atividade física lendo o capítulo 2, a partir da página 51 do livro proposto. Disponível em: https:// bit.ly/3qMyXdU. Acesso em: 30 ago. 2021. BUSQUE POR MAIS Para entender melhor todas as centenas de alterações fisiológicas que acom- panham o envelhecimento, assim como as respostas ao treinamento físico, acesse a seção 7 do livro “Fisiologia do Exercício - nutrição, energia e desem- penho humano” 8ª ed. em Minha Biblioteca Única. Disponível em: https://bit. ly/3FPDZww. Acesso em: 30 ago. 2021. BUSQUE POR MAIS 5.3 DIFERENÇAS SEXUAIS NO EXERCÍCIO FÍSICO 69 mais frágeis e menos adequadas para participar de atividades físicas vigorosas, enquanto garotos eram considerados mais aptos, subiam em árvores, corriam uns atrás dos outros e praticavam diversos esportes. Porém, percebe-se que o porte físico e composição corporal são parecidos em meninos e meninas no início da infância. (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). As diferenças de composição corporal entre gêneros ocorrem principalmente decorrente das mudanças endócrinas. Na puberdade, a hipófise anterior começa a secretar maiores quantidades dos hormônios gonadotrópicos, o hormônio folículo-- estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH), hormônios estes que estimulam as gônadas (ovários e testículos). Nas meninas, ocorre o desenvolvimento dos ovários e início a secreção de estrogênio e, nos meninos, o desenvolvimento dos testículos que iniciam a secreção de testosterona. A testosterona tem como, em algumas de suas funções, aumentar a formação dos ossos e acelerar a síntese proteica (aumento de massa muscular), resultando em rapazes adolescentes com maior estatura e mais musculosos do que o sexo oposto. Ao final da maturidade, a distribuição da MLG também é diferenciada, já que, nos homens, o porcentual de massa muscular é maior na parte superior do corpo (42,9 versus 39,7% nas mulheres) (JANSSEN et al., 2000). O estrogênio também influencia significativamente o crescimento do corpo, pois alarga a pelve, estimula o desenvolvimento das mamas e aumenta a deposição de gordura, especialmente em coxas e quadris. Por causa dessas diferenças, as mulheres são, em média, 13 cm mais baixas; 14 a 18 kg mais leves; 3 a 6 kg mais pesadas em massa de gordura que os homens, o que interfere fisiologicamente tanto na escolha como na prática de muitos esportes. Quando mulheres e homens praticam uma sessão de exercícios, de forma aguda, as respostas diferem entre gêneros, tanto em relação à capacidade de força como em respostas cardiovasculares, respiratórias e metabólicas. Com relação à função cardiovascular e respiratória, as mulheres, em geral, apresentam resposta mais alta de FC em qualquer nível absoluto de exercício submáximo, mas a FC máxima é a mesma para ambos os gêneros. O VS é mais baixo em mulheres, porém o débito cardíaco (Q) é praticamente similar em mulheres e homens, pois a resposta mais alta da FC submáxima em mulheres parece compensar um VS mais baixo. Um VS mais baixo é resultante das mulheres possuírem corações menores (ventrículos esquerdos menores) e das baixas concentrações de testosterona. No entanto, estudos mais recentes demonstraram que mulheres jovens na pré-menopausa foram capazes de aumentar seu volume sistólico com um treinamento idêntico aos homens (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). Em termos aeróbios e de consumo máximo de oxigênio (VO2máx), as frequências cardíacas das mulheres, em média, ficam ligeiramente elevadas em comparação com os homens, provavelmente pelo menor conteúdo de hemoglobina, diminuindo o conteúdo de oxigênio arterial e reduzindo o potencial oxidativo muscular. Este conteúdo mais baixo de hemoglobina contribui para as diferenças específicas de gênero em relação ao VO2máx, pois uma menor quantidade de oxigênio por volume sanguíneo é liberada para o músculo ativo, interferindo na capacidade aeróbia em práticas físico esportivas. Contudo, as diferenças entre respostas respiratórias ao exercício pouco diferem entre os gêneros, mas os volumes corrente e ventilatório são menores em mulheres em uma mesma produção de potência relativa e absoluta. Embora os gêneros respondam similarmente ao exercício tanto em respostas 70 fisiológicas agudas como crônicas, deve-se levar em conta diversos outros aspectos pertinentes as diferenças de gênero. Um exemplo é que homens superam as mulheres no desempenho esportivo como o arremesso de peso, em que níveis elevados de força na parte superior do corpo são fundamentais para que o atleta tenha performance. Alterações específicas do organismo feminino, como as diversas fases do ciclo menstrual, podem influenciar o desempenho esportivo, mas estão sujeitas a uma considerável variação individual. Não existem dados confiáveis que demonstrem qualquer mudança significativa no desempenho atlético em nenhum momento do ciclo menstrual, mesmo porque diversos resultados expressivos nos esportes têm sido atingidos por atletas do sexo feminino durante todas as fases do ciclo menstrual (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). Mulheres atletas podem vivenciar disfunções em seu ciclo menstrual normal, dentre eles a amenorreia (ausência de menstruação), independente da intensidade do treinamento (DE SOUZA et al., 2010). Algumas causas possíveis são: histórico de disfunção menstrual; efeitos agudos do estresse; grande volume ou intensidade de treinamento; pouco peso ou baixo nível de gordura corporal; alterações hormonais; déficit energético decorrente de nutrição inadequada e/ou distúrbios alimentares (REDMAN; LOUCKS, 2005). Outro diferencial de gênero que todo profissional de educação física deve se atentar é a prescrição do treino para gestantes. Segundo Kenney, Wilmore e Costill (2013), quatro fatores fisiológicos importantes estão associados ao exercício durante a gravidez: • Risco agudo associado à redução do fluxo sanguíneo uterino (sangue é desviado para os músculos ativos da mãe), levando à hipóxia fetal. • Hipertermia fetal associada ao aumento da temperatura corporal interna da mãe durante a prática de exercício aeróbio durante longos períodos ou exercício em altas temperaturas. • Redução da disponibilidade de carboidrato para o feto, pois o corpo da mãe utiliza mais glicogênio como substrato energético. • Possibilidade de aborto e de finalização da gestação. Uma das grandes preocupações para a saúde das mulheres associadas ao envelhecimento é a osteoporose, fator que pode ser acelerado pela deficiência de estrogênio, ingestão inadequada de cálcio e atividade física inadequada. Embora o primeiro desses fatores seja inevitável (menopausa), os dois últimos refletem hábitos mutáveis que deveriam ser saudáveis. Em geral, o exercício é um fator positivo para a saúde óssea por estar associado a um aumento da massa óssea, ou pelo menos à sua manutenção em mulheres jovens, de meia idade e idosas, principalmente a prática de exercícios resistidos e com contrações musculares vigorosas. Um último fator a ser abordado, mas de extrema importância no âmbito esportivo, Uma questão acerca da relação entre menarca e treinamento de rendimento é formu- lada: “Meninas com menarca naturalmente mais tardia têm certa vantagem em alguns esportese, por isso, iniciam sua prática, ou seu envolvimento precoce no esporte é o que causa o atraso da menarca?” VAMOS PENSAR? 71 é a tríade da mulher atleta. É uma síndrome de condições correlacionadas que envolve distúrbios alimentares (não necessariamente) ou baixa disponibilidade de energia (ou ambos), baixa massa óssea e amenorreia em mulheres fisicamente ativas e atletas. Durante um período, uma atleta que possui baixa disponibilidade de energia pode apresentar alterações anormais na menstruação, que. com o passar do tempo, pode ocasionar redução da massa óssea. Estes distúrbios alimentares geralmente estão associados com pressões internas e externas para que as atletas mantenham um baixo peso corporal (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). 72 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (ENADE - 2004). O exercício físico é essencial para o crescimento ósseo em comprimento e, consequentemente, para o aumento da estatura da criança PORQUE a compressão intermitente das placas de crescimento decorrente do peso corporal e o exercício podem provocar maior mineralização e densidade óssea. A esse respeito, pode-se concluir que a) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. b) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira. c) As duas afirmações são falsas. d) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa. e) A primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira. 2. O envelhecimento é relacionado diretamente aos fatores psicológicos, biológicos, situação socioeconômica, hábitos de vida, entre outros fatores que influenciam a vida. Entre esses fatores, a atividade física possui uma influência relevante para um envelhecimento saudável. A esse respeito, é correto afirmar que: a) Sarcopenia proveniente do envelhecimento é um processo dependente da prática regular de atividade física. b) A atividade física para o idoso deve se privar da presença de outros praticantes por pertencer a um grupo de risco. c) O processo do envelhecimento pouco afeta a capacidade termorregulatória do organismo do idoso. d) A ganho de massa magra decorrente do processo envelhecimento reduz a função motora do idoso. e) A prática sistematizada de atividade física viabiliza a manutenção e melhoria da mobilidade do idoso que diminui com o envelhecimento. 3. (ENADE - 2004). O Sr. João tem 67 anos e é sedentário, aposentado e obeso. Por recomendação médica decidiu iniciar um programa de exercícios físicos. Assim, o profissional de Educação Física que ele procurar deve indicar exercício(s): a) Anaeróbio láctico, em uma pista de atletismo, para provocar maior resistência nas tarefas do dia a dia. b) Anaeróbio alático, em uma piscina de 25 metros, para aumentar sua resistência sem provocar impacto nas articulações. c) Aeróbio de alta intensidade, na esteira rolante, para provocar adaptações neuromusculares capazes de prevenir o câncer. d) De velocidade de deslocamento, numa pista de atletismo, para aumentar sua velocidade de locomoção. 73 e) De força dinâmica, na musculação, para prevenção da osteopenia e da sarcopenia. 4. A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte apresenta um posicionamento da atividade física e saúde da mulher, em que são destacadas diferenças fisiológicas entre homem e mulher. No que se refere a diferenças fisiológicas normativas entre os sexos, assinale a alternativa correta. a) Nas mulheres, a doença arterial coronariana ocorre cerca de 10 anos antes que nos homens, devido ao papel protetor do estrogênio mantido até a menopausa. b) Devido a maior massa muscular estar presente nos homens que nas mulheres, os homens apresentam menor eficiência termorreguladora em exercícios no frio. c) Mulheres apresentam menor consumo de oxigênio máximo em comparação aos homens durante exercícios aeróbicos. d) Mulheres apresentam maior massa adiposa e menor massa muscular em comparação aos homens, e assim possuem maior atividade catabólica que homens. e) O homem apresenta menor volume de fibras do tipo I ou II em comparação a mulher e essa característica confere ao homem maior potência e resistência muscular. 5. O sedentarismo na adolescência aumenta a incidência de doenças cardiovasculares na vida adulta, sendo a prática de exercícios físicos aeróbios indicada para o combate das doenças hipocinéticas, desde que orientadas por profissionais da área de Educação Física. Caracteriza-se como efeito do treinamento aeróbio em adolescentes: a) Elevação da frequência cardíaca de repouso. b) Aumento da diferença entre a frequência cardíaca máxima e a de repouso. c) Redução da velocidade de corrida no início do acúmulo de lactato. d) Aumento do recrutamento das fibras musculares tipo II, o que pode causar hiperplasia ou hipertrofia mitocondrial. e) Redução do consumo de oxigênio máximo (VO2 máximo). 6. (IBADE- 2017). O crescimento físico se refere a mudanças no tamanho ou massa, por isso, é correto dizer que uma criança cresce em estatura (altura) e/ou massa corporal (peso). Este fenômeno do aumento no tamanho do corpo de um indivíduo durante o processo de amadurecimento é causado pela multiplicação ou aumento das células. O aumento do número de células durante o período de crescimento das crianças é denominado: a) Estirão. b) Acreção. c) Hipertrofia. d) Hiperplasia. e) Maturação. 7. O sistema endócrino é complexo e regula diversas ações no organismo tanto masculino como o feminino. Porém, alguns hormônios são secretados por um gênero não são 74 secretados pelo outro gênero. Sendo assim, dentre os principais hormônios sexuais femininos, temos: a) Testosterona e estrógeno. b) Estrógeno e adrenalina. c) Estrógeno e progesterona. d) Testosterona e progesterona. e) Adrenalina e noradrenalina. 8. (SEGPLAN- 2018). Uma das consequências inevitáveis do processo de envelhecimento diz respeito ao enfraquecimento do organismo, especialmente, do sistema esquelético. O aumento do número de fratura óssea entre idosos é causado pela Osteoporose. Qual o fator que responde pela redução do aparecimento de casos de osteoporose entre idosos ativos? a) A atividade física regular diminui o índice de fraturas. b) O esforço físico nos exercícios modifica a massa cardíaca c) A atividade física regular contribui para a manutenção da massa óssea. d) A atividade física proporciona o aumento da massa muscular e esquelética. e) O esforço físico nos exercícios não interfere no fortalecimento dos ossos. 75 FATORES AMBIENTAIS E SUAS IMPLICAÇÕES FISIOLÓGICAS 76 6.1 EXERCÍCIO E ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS AO CALOR O controle da temperatura corpórea em decorrência das alterações de temperatura ambiente tem fundamental importância para a sobrevivência e manutenção das respostas fisiológicas normais do corpo humano. Para que houvesse a evolução humana, foi necessário que o ser humano desenvolvesse um sistema termorregulador eficiente, o que lhe permitiu habitar regiões com condições climáticas extremas. A temperatura exerce influência direta em diversos fatores do organismo, como nas reações químicas, já que afeta a velocidade em que ocorrem (vide Unidade 1). O eficaz sistema termorregulador humano permite não somente a sobrevivência em temperaturas extremas, mas também a prática de exercícios nestas condições (ANDRADE, LIRA, 2016). Existem três processos físicos que nos fazem trocar de calor com o ambiente/objeto: por condução, por convecção e por irradiação. A transferência de calor por condução se dá de molécula para molécula, sempre no sentido da molécula de maior energia térmica para a de menor energia térmica, já que as de maior temperatura vibram com maior intensidade, transferindo parte desta energia ao entrar em contato com outras de menor temperatura, agitando-as. A transferência de calor por convecção ocorre pelo transporte de matéria entre as regiões. Durante a prática de exercícios, a camada de ar adjacente à pele adquire, por condução, energia térmica e passa a ocupar maior volume, tornando-se menos densa e subindo, transferindoparte do calor armazenado na pele para o ambiente. No seu lugar, é reposta uma camada de ar mais fria que receberá calor da pele, recomeçando o ciclo e formando as correntes de convecção. Este processo ocorre somente em líquidos e gases, e a presença de vento favorece a troca de calor por convecção, pois permite a remoção mais rápida das moléculas mais próximas da pele em direção ao ambiente. Para a transferência de calor por irradiação, não é necessário nem a proximidade molecular nem o transporte de matéria, pois a irradiação consegue se propagar mesmo no vácuo. Quanto maior a temperatura ambiente, maior a emissão de radiação em direção ao organismo, sendo parte dessa radiação refletida de volta para o ambiente e parte absorvida pela superfície do corpo. Quanto maior a absorção, maior será a temperatura da região, e cores escuras absorvem mais esta radiação, o que nos faz ter a sensação de que uma roupa mais escura esquenta mais do que uma mais clara (GUYTON; HALL, 2006). Durante a prática de atividade física, a maior parte da energia utilizada é na forma de calor. Quanto maior a intensidade do exercício, maior a produção de energia térmica, elevando a temperatura da pele e favorecendo a velocidade de troca de calor da pele com o ambiente, situação positiva em ambiente com temperaturas inferiores à do corpo humano. Assim, o exercício aumenta a transferência de calor por condução, convecção e irradiação. Porém, em ambientes cuja temperatura está próxima à do organismo, há prejuízo da dissipação de calor. Em locais com temperaturas próximas de 40°C, o sentido de troca se inverte, fazendo com que o corpo passe a receber calor do ambiente ao invés de liberá-lo, prejudicando todos os processos descritos anteriormente e dificultando a manutenção da temperatura central. Se houvesse dependência somente dos processos físicos de troca de calor, seria impossível a regulação da temperatura corporal em ambientes quentes. Por isso, o organismo humano tem um mecanismo adicional: a 77 produção de suor (POWERS; HOWLEY, 2017). Quando se aumenta a temperatura central corporal acima de determinado limiar, estimula-se a produção de suor pelas glândulas sudoríparas. O suor carrega parte da energia térmica armazenada no interior do organismo em direção à superfície do organismo, para que seja evaporado (transferência desta energia térmica ao ambiente) e o organismo seja resfriado. Entretanto, o processo de evaporação do suor depende da saturação de vapor de água no ambiente externo. Para que este mecanismo ocorra, é necessário que a pressão do suor supere a pressão de vapor do ambiente, caso contrário, o suor permanecerá na pele e a energia térmica não será dissipada. Ambientes com umidade relativa do ar elevada (alta saturação de vapor de água) e alta temperatura propõem uma grande sobrecarga ao sistema termorregulador, ou seja, nessa situação, a manutenção da temperatura fica prejudicada, o que favorece um quadro de hipertermia (GUYTON; HALL, 2006). O principal centro termorregulador do nosso organismo localiza-se na área pré-óptica anterior ao hipotálamo, mas também existem sensores espalhados tanto na superfície corporal quanto nas regiões mais internas do corpo, permitindo o reconhecimento instantâneo de variações de temperatura interna e externa. Todas estas informações são enviadas ao hipotálamo, o qual decide se o organismo deve aumentar a dissipação ou a conservação de calor para manter a temperatura central mais próxima dos 37°C. Todo momento em que a temperatura corporal se elevar acima do valor normal, alguns neurônios da área pré-óptica aumentam sua taxa de disparo para que haja respostas fisiológicas com o objetivo de transferir calor para o ambiente, entre as quais temas: a vasodilatação, o estímulo para a sudorese e o aumento na ventilação pulmonar (ANDRADE; LIRA, 2016). A primeira destas respostas fisiológicas ao calor é a vasodilatação, que consiste em redirecionar fluxo sanguíneo às regiões mais periféricas do organismo., o que faz com que a temperatura aumente e, consequentemente, aumente o gradiente de temperatura entre pele e ambiente, permitindo maior velocidade de transferência de calor para o meio externo e resfriando mais rápido do organismo (transferências de calor por condução, convecção e irradiação aumentam com o aumento de temperatura cutânea) (POWERS, HOWLEY, 2017). O estímulo para a sudorese e consequente produção de suor também são facilitados, uma vez que circula maior quantidade de sangue próximo às glândulas sudoríparas. O estímulo da produção de suor tem como objetivo a transferência de parte da temperatura armazenada no organismo em direção ao meio externo (ambiente), após a evaporação deste suor e resfriamento da pele. Caso o suor não evapore, essa energia térmica permanece na pele, prejudicando o resfriamento do corpo. A produção deste suor depende de fatores genéticos (pessoas diferem na quantidade de produção de suor), intensidade do exercício, temperatura ambiente, umidade relativa do ar, estado de aclimatização e tipo de vestimenta utilizada (PLOWMAN; SMITH, 2009). Segundo os autores, são alterações metabólicas resultantes da exposição e da prática de atividade física em ambientes de temperatura elevada: maior degradação do glicogênio muscular, maior produção de lactato e menor utilização de lipídios como substrato energético. O fluxo de sangue para os músculos poderá ser prejudicado, dependendo da intensidade do exercício e das condições ambientais e, para se manter ativa, a musculatura dependerá cada vez mais do metabolismo anaeróbio 78 para suporte energético (maior utilização de carboidrato e maior produção de lactato). Ademais, o estresse térmico promove maior liberação de catecolaminas (aumento nos níveis circulantes de adrenalina), que promovem alterações no metabolismo como a substituição dos lipídios pelos carboidratos como substrato energético preferencial. A queda de desempenho na prática de atividades físicas é algo que ocorre em ambientes com temperaturas extremas (calor ou frio). No calor, dois fatores parecem estar relacionados diretamente à queda de desempenho esportivo: o aumento da temperatura central e o aumento do estresse cardiovascular. Para demonstrar um valor limite de temperatura central na qual um ser humano consegue realizar exercício físico, um estudo observou que, atingidos os valores superiores a 40°C, o organismo entra em estado de exaustão precoce, inclusive com redução dos estímulos elétricos do córtex motor para a musculatura em atividade, ocasionando fadiga antecipada. Poderíamos analisar como uma tentativa do SNC de minimizar a produção de calor e manter a integridade física do organismo, diante de alto risco de hipertermia (ACSM, 2007). O aumento de temperatura central promove, ainda, outras alterações que promoverão maior exaustão, como: • Maior liberação de serotonina e redução de dopamina, associadas, individualmente, ao surgimento de fadiga. • Maior atividade de enzimas-chave na degradação do glicogênio muscular. • Menor recrutamento de fibras musculares, afetando a geração de força. • Maior recrutamento de fibras tipo II, com maior consumo de glicogênio muscular e produção de lactato. Por tal motivo, é tão importante se atentar ao tipo de exercício, intensidade, local, temperatura e umidade, além da vestimenta, para praticar exercícios de uma maneira segura e sem risco à saúde, principalmente em ambientes abertos e externos. Algumas enfermidades podem ocorrer quando se pratica atividade física associada à altas temperaturas, como cãibras, que são espasmos musculares dolorosos comuns quando o exercício tem duração prolongada e é em ambiente quente, decorrente da perda excessiva de Na+ pelo suor (alteração no potencial de repouso da membrana da fibra muscular). Trata-se com repouso e reposição hídrica com Na+ ou na alimentação. Já a exaustão pelo calor ocorre pela incapacidade de continuar o exercício pelo prejuízo na dissipaçãode calor pelo organismo em ambientes quentes, associadas a profundos distúrbios eletrolíticos e insuficiência cardíaca, sendo normalmente tratada com elevação das pernas e reposição de fluidos. Entretanto, a enfermidade mais grave relacionada ao calor é a intermação, que pode ser de esforço, ou seja, soma da carga de calor recebida do ambiente (temperatura externa) e da carga de calor endógena produzida (esforço físico). Além de manifestar distúrbios do SNC, é caracterizada por temperatura central elevada rapidamente podendo chegar acima de 40°C, nível crítico para o desenvolvimento de lesão de fibras musculares, falência renal e arritmias cardíacas (ACSM, 2007; NYBO; RASMUSSEN; SAWKA, 2014). FIQUE ATENTO Entre os objetivos da ingestão de líquidos durante a prática de atividade física, 79 A temperatura central do corpo humano é próxima dos 37°C, provido assim de energia térmica ou energia vibração molecular, o que não acontece somente se atingirmos a temperatura do zero absoluto (-273°C). Quando entramos em contato com outro corpo/objeto ou região de diferente energia térmica, ocorre a transferência espontânea de energia na forma de calor, sempre da superfície ou região de maior temperatura para o de menor temperatura. Quanto maior o diferencial da temperatura dos corpos/regiões, maior a velocidade de troca de calor entre corpos/regiões. Assim, toda vez que formos expostos a um ambiente de temperatura inferior à nossa temperatura central normal, haverá transferência de calor do nosso corpo para o ambiente, proporcionalmente ao gradiente de temperatura, ou seja, a velocidade da perda de calor pelo nosso organismo é maior a uma temperatura de 5°C do em um ambiente a 25°C, o que favorece um quadro de hipotermia. Quando a temperatura corpórea central é reduzida para valores abaixo do normal, outros neurônios da área pré-óptica aumentam suas taxas de disparo para que haja respostas fisiológicas com o objetivo de maior retenção e produção de calor. Os limiares de temperatura variam de pessoa para pessoa, sendo que estas respostas termorregulatórias acontecem quando são ultrapassados estes limiares. Um exemplo ocorre em idosos, que possuem limiares de vasoconstrição mais reduzidos, ou seja, precisam de maior redução de temperatura central para se iniciarem as respostas de termorregulação ao frio, tornando-os menos tolerantes a esse tipo de ambiente (ANDRADE; LIRA, 2016). A diminuição da temperatura central abaixo do limiar de vasoconstrição muda a circulação periférica, redirecionando parte do fluxo sanguíneo das regiões periféricas (ponta dos dedos, nariz e orelhas), para a região centrais (proteção dos órgãos essenciais), reduzindo a temperatura da pele. Dependendo da intensidade do frio ambiente, o fluxo sanguíneo destas extremidades pode ser reduzido a valores tão críticos que podem promover lesão tecidual. Esta redistribuição do sangue melhora o retorno venoso e colabora com melhorias no volume de ejeção e no Q, aumentando a PA nos meses mais frios do ano. Caso a diminuição da transferência de calor para o ambiente por meio da vasoconstrição não seja suficiente para a manutenção da temperatura central em níveis normais, há estímulo adicional conhecido como tremor, que ocorre com aumento do tônus muscular para aumentar a liberação de calor, aumentando a produção de calor endógena (GUYTON; HALL, 2006). Assim, segundo Guyton e Hall (2006), o organismo aumenta seu metabolismo para regular a temperatura central em ambientes frios, sempre que o valor de temperatura crítica (cerca de 25°C no ar e de 35°C na água) é diminuído abaixo dos limiares para cada ambiente. No meio líquido, o valor é maior porque a água é 25 vezes mais condutora que o ar, resultando em maior taxa de transferência de calor com menor tolerância principalmente em dias quentes, estão: a prevenção da desidratação excessi- va (> 2% de perda do peso corporal em virtude de déficit de água); e as altera- ções excessivas no equilíbrio eletrolítico a fim de evitar o comprometimento do desempenho e a morte. 6.2 EXERCÍCIO E ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS AO FRIO 80 à exposição, justificando a ocorrência mais frequente de hipotermia em indivíduos molhados ou que permanecem por longos períodos submersos. Portanto, é fator importante para os profissionais de educação física se atentar quanto à intensidade, tipo de exercício, temperatura ambiente (ar e água) e vestimenta de seus alunos/clientes, para evitar a perda da temperatura para o ambiente e outras respostas fisiológicas termorregulatórias que podem, inclusive, prejudicar o desempenho e colocar em risco a saúde das pessoas. A queda de desempenho em ambientes frios está associada à maior liberação de catecolaminas com maior utilização de carboidratos, ou seja, para manter o equilíbrio térmico corporal, exercícios no frio envolvem maior gasto energético. Com isso, devemos nos atentar quanto a necessidade de ingestão de carboidratos. Adicionalmente, o frio influencia o padrão de recrutamento neuromuscular, diminuindo a capacidade de exercer força máxima e acarretando movimentos descoordenados por alteração dos estímulos nervosos junto às fibras musculares (CASTELLANI; YOUNG, 2012). Uma das enfermidades relacionadas ao frio é o broncoespasmo induzido pelo exercício, que se dá pelo estreitamento temporário de vias aéreas com o aparecimento de sintomas semelhantes aos da asma, após uma resposta inflamatória à contínua exposição e inalação de ar seco e frio, principalmente durante a prática de exercícios de alta intensidade. Diversos atletas têm realizado treinamentos em altitude com objetivo de melhorar a performance aeróbia. Existem evidências de que estes treinamentos em altitude, também conhecidos como treinamento hipóxico, resultaram em desempenhos positivos à nível do mar, geralmente onde acontece a maior parte das competições. Inclusive, quando competições acontecem em locais com grandes atitudes, o treinamento hipóxico também tem sido utilizado, mas com objetivo de aclimatação dos atletas, que poderão sofrer queda no desempenho decorrente de um ambiente de menor pressão atmosférica e menor disponibilidade de oxigênio. Quando um atleta se desloca de um ambiente ao nível do mar para um ambiente com ar rarefeito (elevadas altitudes), a menor pressão parcial de oxigênio (PO2) prejudica a performance aeróbia inicialmente, situação denominada hipóxia hipobárica, pois há redução da PO2 decorrência da diminuição da pressão barométrica (PB). A Figura 11 mostra esta relação. Quanto a exposição prolongada ao frio pode ser prejudicial em esportes de inverno? A vasoconstrição periférica prolongada durante a exposição ao frio intenso em esportes que exigem a permanência nestas condições, produz temperaturas da pele e das extre- midades perigosamente baixas, particularmente quando isso é agravado por grandes aumentos na perda de calor por convecção e condução, como em exercícios. A superex- posição que ocorre quando não se presta a devida atenção aos sinais de alerta resulta em enregelamento; nos casos extremos, ocorre dano irreversível que torna necessária a remoção cirúrgica do tecido lesionado. VAMOS PENSAR? 6.3 EXERCÍCIO E ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS À ALTITUDE 81 Ao decorrer de algumas semanas permanecendo em altitude, o organismo tende a se adapta às novas condições de hipóxia e a capacidade de treinamento/desempenho começam a ser recuperados. Alguns fatores podem estar relacionados à melhora da performance aeróbia após um período de treinamento em altitude, como: alterações da capacidade de tamponamento muscular, ajustes ventilatórios, neurais e hemodinâmicos, aumento dos níveis de EPO, do hematrócito (HT), de hemoglobina (Hb) e do consumo máximo de oxigênio (VO2máx). A exposição a baixas PO2 em altitude gera menor gradiente de pressão na unidade alveolocapilar, dificultando as trocas gasosas, comprometendo, também, a pressão arterial de O2 e a oferta de O2 aos tecidos. Este método supõe que oorganismo humano, como resposta, aumenta a produção de eritrócitos buscando aumentar o transporte e a disponibilidades de O2 aos tecidos-alvo, melhorando o VO2máx e a performance aeróbia ao nível do mar. No entanto, resultados inconclusivos de alguns estudos formularam a hipótese de que os benefícios adquiridos com o treinamento hipóxico eram compensados pela perda do condicionamento aeróbio, como consequência da redução da intensidade de treinamento, em provas ao nível do mar. Em outras palavras, se um atleta não consegue treinar em altitude na mesma intensidade/carga em que treinaria ao nível do mar, seu desempenho ao nível do mar provavelmente não será superior, apesar das adaptações fisiológicas proporcionadas pelo treinamento hipóxico (ANDRADE; LIRA, 2016). A diminuição no custo da ventilação e aumento na utilização de carboidratos para fosforilação oxidativa junto com o aumento da eficiência mitocondrial, são os prováveis mecanismos que levariam à melhoria do desempenho. Apesar de muitos estudos apontarem para esses resultados positivos, outros não obtiveram sucesso buscar demonstrar melhoria adicional com o treinamento hipóxico (ROBACH et al., 2006). É possível que o estresse gerado pelo treinamento, nível da altitude, duração do treinamento e recuperação sejam os fatores mais determinantes para as adaptações fisiológicas, ao invés do estímulo hipóxico isoladamente. Para se obter resultados positivos com o treinamento hipóxico, 4 semanas de exposição com pelo menos 12 horas diárias parecem ser suficientes para induzir a alterações hematológicas significativas e Figura 11: Relação entre diferentes altitudes, valores de pressão barométrica e porcentagem dos valores de pressão atmosférica e pressão de O2 Fonte: Andrade e Lira (2016, p.806) 82 melhora do desempenho aeróbio (WILBUR, 2007; CLARK et al., 2009). Caso não seja feita uma pré-aclimatação dos atletas antes da subida para altitudes severas (maiores do que 4.000 metros), podem ocorrer sintomas do que se denomina mal agudo da montanha (MAM), caracterizado por uma manifestação de cansaço, dores de cabeça, anorexia, náusea e vômito. Sem aclimatação, os momentos iniciais em ambientes com altitude são caracterizados por ajustes cardiovasculares, ou seja, aumentos da frequência respiratória, FC e PA, ajustes os quais podem colaborar para uma queda no rendimento físico em qualquer atividade física desenvolvida nessas condições (ANDRADE; LIRA, 2016). Para os apaixonados por corrida, segue a sugestão de leitura da seção 7.3 do livro “Treinamento de corrida de rua – uma abordagem fisiológica e metodoló- gica”, em que se explora a corrida e a altitude. Disponível em: https://bit.ly/3eI- 4VTb. Acesso em: 30 ago. 2021. Para saber mais sobre as respostas fisiológicas no calor, frio e altitude, segue a sugestão de leitura da seção 5 do livro “Fisiologia do Exercício - Nutrição, Ener- gia e Desempenho Humano” em sua 8ª edição, que aborda o desempenho do exercício e o estresse ambiental. Disponível em: https://bit.ly/3sTRDv1. Acesso em: 30 ago. 2021. BUSQUE POR MAIS BUSQUE POR MAIS 83 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (CONSESP - 2017). Quando uma pessoa é exposta a temperaturas baixas, precisa de prevenção às doenças do frio. Assinale a alternativa correta: a) O atleta pode usar roupas leves, pois durante o treino ele irá se aquecer. b) Não há motivos para se preocupar porque o corpo tenta ganhar / conservar o calor. c) Os atletas devem estar bem agasalhados, sem se preocupar com a evaporação do suor. O importante é se proteger do frio. d) Manter os atletas em atividade para conservar o calor do corpo. e) Os atletas devem treinar com muita roupa, principalmente nas mãos e pés, onde é mais importante manter aquecido pela perda de calor para o ambiente. 2. Jogadores de futebol que vivem em altitudes próximas ao nível do mar sofrem adaptações quando jogam em cidades de grande altitude. Algumas adaptações são imediatas, outras só ocorrem após uma permanência de pelo menos 3 semanas. Qual são as adaptações imediatas e as que podem ocorrer em longo prazo? a) Imediatas: aumento somente da frequência respiratória e da pressão arterial. Longo prazo: aumento do número de hemácias. b) Imediatas: diminuição somente da frequência respiratória e da frequência cardíaca. Longo prazo: manutenção do número de hemácias. c) Imediatas: aumento somente da frequência cardíaca e diminuição da pressão arterial. Longo prazo: diminuição do número de hemácias. d) Imediatas: aumento da frequência respiratória, da frequência cardíaca e da pressão arterial. Longo prazo: aumento do número de hemácias. e) Imediatas: diminuição da frequência respiratória e da frequência cardíaca, e aumento da pressão arterial. Longo prazo: diminuição do número de hemácias. 3. Um atleta morador de uma cidade a nível do mar irá participar de uma competição a 3.650 metros de altitude. Sugeriram que ele viajasse semanas antes para a cidade. Escolha a alternativa que melhor justifica essa sugestão: a) O treinamento em altitude nessas semanas anteriores garantiria sua vitória. b) É necessário um período de aclimatação, para que o organismo se adapte às novas condições de pressão atmosférica e de pressão parcial de O2. c) Somente depois dessas semanas ocorreriam adaptações cardiovasculares. d) Esse período de adaptação anterior denomina-se aclimatação, caracterizado pelo treinamento hipóxico intenso nas semanas anteriores à competição. e) Em La Paz, existe menos O2 e o atleta deve viajar algumas semanas antes para se adaptar à falta de O2. 4. (IBADE, 2019) A atividade física em um clima frio, pode ressecar a garganta e 84 desencadear tosse durante o período de recuperação. A tosse pós-exercício no clima frio torna-se prevalente e está relacionado à: a) perda de água pelo sistema respiratório. b) perda de calor pelo sistema respiratório. c) umidade relativa do ar aumentada. d) desidratação global. e) pressão barométrica total. 5. Analise as assertivas em relação às influências da altitude no desempenho físico em atividades anaeróbias e aeróbias em homens e mulheres em provas do atletismo. I. As corridas de características anaeróbias (provas de 60 m, 100 m e 200 m) sofrem benefício quando realizadas na altitude, principalmente acima de 2.000 m de altitude. II. As corridas de predominância aeróbias (de 800 m a maratona) sofrem prejuízo quando realizadas na altitude, principalmente acima de 2.000 m de altitude. III. A corrida de 400 m no atletismo sofre benefício quando realizada na altitude, principalmente acima de 2.500 m de altitude. Assinale a alternativa correta. a) Somente a assertiva I está correta. b) Somente as assertivas I e II estão corretas. c) Somente as assertivas II e III estão corretas. d) Somente as assertivas I e III estão corretas. e) Todas as assertivas estão corretas. 6. O corpo humano apresenta mecanismos fisiológicos de produção e perda de calor que são sempre acionados para manutenção da temperatura corporal em repouso próximo a 37 °C, suportando uma maior variação de perda de calor (~10 °C) em regiões mais periféricas, com impacto maior do que a tolerância à elevação de temperatura (~5 °C). Neste caso, qual é o efeito esperado se o indivíduo atingir a temperatura corporal próxima ou acima de 42 °C em exercício físico? Assinale a alternativa correta: a) Isto não causará qualquer risco de intermação ao indivíduo. b) Isto poderá aumentar o desempenho físico anaeróbio. c) Isto poderá aumentar o desempenho físico aeróbio. d) Isto poderá facilitar a atividade das enzimas do metabolismo energético. e) Isto poderá levar o indivíduo à óbito por intermação. 7. Os calafrios geram calor metabólico, porém a atividade física faz a maior contribuição na defesa contra o frio. O metabolismo energético durante o movimento mantém uma temperatura central constante em um ambiente com até menos 30°C (–22°F) sem depender de uma roupa restritiva e pesada que funcione como barreira. Os dois hormônios da medulasuprarrenal, elevam a produção de calor durante a exposição ao 85 frio são, e são: a) Insulina e glucagon. b) Cortisol e GH. c) Epinefrina e norepinefrina. d) Testosterona e estrogênio. e) Leptina e adiponectina. 8. (AMEOSC, 2021) Em relação aos mecanismos autonômicos termorregulatórios durante a prática esportiva, a temperatura central aumentará, principalmente devido à maior produção metabólica de calor (Edwards e Clark, 2006). Assim: a) A evaporação do suor, a partir da pele, será o principal mecanismo de dissipação, principalmente, durante as práticas esportivas em ambientes quentes. b) A temperatura corporal durante a prática esportiva será uma resultante entre o ganho e a perda de calor e sua regulação se dará por meio de mecanismos comportamentais. c) O estresse térmico ambiental, comprovadamente, não interferirá nessa variável e, consequentemente, no desempenho esportivo. d) A desidratação devido à perda hídrica, via urinária, representará a maior preocupação para o jogo em ambiente quente. e) Todas as assertivas estão corretas. 86 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO UNIDADE 1 UNIDADE 3 UNIDADE 5 UNIDADE 2 UNIDADE 4 UNIDADE 6 QUESTÃO 1 D QUESTÃO 2 B QUESTÃO 3 A QUESTÃO 4 C QUESTÃO 5 E QUESTÃO 6 E QUESTÃO 7 C QUESTÃO 8 E QUESTÃO 1 A QUESTÃO 2 E QUESTÃO 3 A QUESTÃO 4 E QUESTÃO 5 A QUESTÃO 6 C QUESTÃO 7 B QUESTÃO 8 C QUESTÃO 1 C QUESTÃO 2 A QUESTÃO 3 E QUESTÃO 4 C QUESTÃO 5 A QUESTÃO 6 C QUESTÃO 7 C QUESTÃO 8 A QUESTÃO 1 C QUESTÃO 2 C QUESTÃO 3 B QUESTÃO 4 C QUESTÃO 5 B QUESTÃO 6 D QUESTÃO 7 A QUESTÃO 8 B QUESTÃO 1 E QUESTÃO 2 E QUESTÃO 3 E QUESTÃO 4 C QUESTÃO 5 B QUESTÃO 6 D QUESTÃO 7 C QUESTÃO 8 C QUESTÃO 1 D QUESTÃO 2 D QUESTÃO 3 B QUESTÃO 4 A QUESTÃO 5 E QUESTÃO 6 E QUESTÃO 7 C QUESTÃO 8 A 87 ALBERTS, B. et al. Biologia Molecular da Celular. Tradução: Ardala Elisa Breda Andrade ... et al.; – 6. ed. – Porto Alegre, RS. Editora Artmed, 2017. AMERICAN COLLEGE OS SPORTS MEDICINE - ACSM. Exertional heat illness during training and competition. American College of Sports Medicine position stand. Med Sci Sports Exerc. 39(3):556-72, 2007. ANDRADE, M. S.; LIRA, C. A. B. Fisiologia do exercício. Barueri, SP: Editora Manole, 2016. BEHM, D. et al. Canadian Society for Exercise Physiology position paper: Resistance training in children and adolescents. Applied physiology, nutrition, and metabolism = Physiologie appliquée, nutrition et métabolisme. 33. 547-61, 2008. 10.1139/H08-020. BREEN, M. E et al. 25-hydroxyvitamin D, insulin-like growth factor-I, and bone mineral accrual during growth. J Clin Endocrinol Metab. 96:E89–E98, 2011. BROOKS, G. A. Bioenergetics of exercising humans. Compr Physiol. 2(1): 537–562, 2012. CASTELLANI, J. W.; YOUNG, A. J. 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