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Resistência dos Materiais Aplicada à Arquitetura Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Ricardo Alferes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Deformação e Limites de Carga • Introdução; • Gráfico Tensão x Deformação; • Elasticidade e Rigidez; • Múltiplos de Unidade de Medida; • Cargas Limite; • Ruptura Dúctil x Ruptura Frágil. • Estudar o conceito de deformação em sólidos; • Apresentar a Lei de Hooke e os gráfi cos de tensão x deformação; • Apresentar os métodos para verifi cação de cargas limite. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Deformação e Limites de Carga Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Deformação e Limites de Carga Introdução Nesta Unidade, abordaremos, a princípio, o conceito de deformação nos materiais. Deformação, para a resistência dos materiais, é uma alteração nas dimensões ou no formato de um material quando submetido a um esforço. Compare, por exemplo, o que acontece quando sentamos em uma cadeira de madeira maciça (ou um banco de praça feito de concreto), e quando opta- mos por sentar em uma cadeira de plástico, daquelas simples. O esforço (peso de quem senta) é o mesmo, o que muda é o material e, consequentemente, a deformação ocorrida. Assim, a melhor forma de começar a falar sobre o conceito de deformação é observando o comportamento dos materiais. Como boa parte dos materiais utiliza- dos nas estruturas das edificações é, em geral, bastante rígido, não é fácil observar a deformação em peças de aço ou concreto, por exemplo. Por isso, vamos tomar como exemplo materiais mais deformáveis. Pegue alguns elásticos novos, daqueles que geralmente são utilizados para di- nheiro ou figurinhas. Com eles vamos observar como se comporta um material sob tensão. Figura 1 Fonte: Getty Images Corte o elástico em um ponto, para que ele deixe de ter um formato circular e possa ser utilizado como uma linha. Depois, meça o comprimento do elástico aberto, sem esticar. Prenda uma das pontas a uma superfície firme e prenda a outra ponta a um peso conhecido, mas não algo tão pesado que possa romper o elástico. Você vai notar que o elástico aumenta de tamanho quando o peso é aplicado. Meça o comprimento do elástico esticado e veja o quanto ele aumentou de tama- nho com o peso. 8 9 P L L LFinal �L Figura 2 Corte mais um elástico. Dessa vez, corte um pedaço menor do que anterior. Por exemplo, se o primeiro elástico tinha 20 centímetros quando aberto, sem esticar, corte agora um pedaço de 10 centímetros. Aplique o mesmo peso e meça o quanto ele aumenta de tamanho esticando. P L/2 L/2 L /2Final �L/2 Figura 3 Se você comparar os dois resultados, já poderá notar que o elástico mais curto, mesmo sendo do mesmo material do anterior, submetido ao mesmo peso P, au- menta menos de tamanho. Provavelmente, o elástico mais curto, que tinha metade do comprimento quando aberto, também teve metade do ganho no comprimento, ou seja, a deformação de um mesmo material, com o mesmo peso, é diretamente proporcional ao compri- mento inicial da peça. Sendo assim, futuramente, nesta Unidade, quando estivermos descrevendo a deformação em um material, estaremos nos referindo à deformação específica (ε), que é justamente uma forma de levar em consideração esse comprimento total: � � �L L onde L é o comprimento inicial do material, antes da aplicação da força, e ∆L é a variação no comprimento de um material, ou seja, o comprimento esticado menos o comprimento inicial: 9 UNIDADE Deformação e Limites de Carga �L L Lfinal� � Agora, corte mais um pedaço do tamanho do primeiro (o mais comprido). Pen- dure ao lado do primeiro elástico e coloque exatamente o dobro do peso. Observe que, como já era esperado, com mais peso, o elástico se deforma mais. Meça essa deformação. Se você não colocou peso demais (algo perto do limite do elástico), a deformação medida deverá ser o dobro daquela obtida no primeiro teste: P P L L 2�L LFinal Figura 4 Disso, podemos observar também que a deformação de um material é direta- mente proporcional ao peso aplicado. E agora, para a última variação no experimento de observação sobre deforma- ção nos materiais, o ideal seria ter um elástico com maior seção transversal, ou seja, um elástico “mais grosso”. Caso não seja possível, corte outras duas peças do mesmo elástico e as use lado a lado, como se fosse um elástico com o dobro da área: Figura 5 Com esse elástico duplo (ou um elástico mais grosso), cortado no mesmo com- primento do teste anterior, aplique o mesmo peso que foi aplicado no primeiro teste . E, mais uma vez, compare os resultados obtidos com a medição da deforma- ção do primeiro teste: 10 11 Figura 6 Se você usou os dois elásticos juntos, como se fossem um só, irá notar que a de- formação anotada foi, provavelmente, a metade da deformação do elástico sozinho. Caso tenha utilizado um elástico mais espesso, notará que a deformação, ainda assim, foi menor, talvez numa proporção diferente. A partir desse terceiro resultado, concluímos, também, que a deformação de um material é inversamente proporcional à área da seção transversal, isto é, a deforma- ção aumenta com o acréscimo de peso e diminui com o acréscimo na área. Se observarmos o conceito anterior, de tensão, onde � � F A/ , quanto maior a tensão aplicada, maior a deformação. Gráfico Tensão x Deformação Tendo as medidas da área transversal do elástico, você poderá calcular a tensão de tração aplicada para cada peso pendurado. Se você fizer um gráfico apontando os dados para cada tensão aplicada e a de- formação específica medida em cada caso, notará que o gráfico tende a apresentar um formato retilíneo. Figura 7 11 UNIDADE Deformação e Limites de Carga Isso significa que, até certo ponto, o comportamento desse elástico vai ser cons- tante, a deformação vai crescer em relação à tensão, com a mesma proporção. Se você aplicar peso demais, chegando próximo ao limite do elástico, provavel- mente, esse gráfico sofrerá distorções. Diversos materiais sólidos também apresen- tam esse comportamento de constância quando sob ação de forças. Quando um material apresenta esse comportamento de constância na propor- cionalidade entrea tensão aplicada e a deformação, diz-se que ele está obedecendo à Lei de Hooke. Outra forma de dizer isso é que ele apresenta um comportamento elástico, pois, ao cessar a força aplicada, o material volta ao formato inicial, que estava antes da aplicação da força. O nome da Lei de Hooke, sobre a deformação dos Materiais foi dado em ho- menagem ao cientista Robert Hooke, que descreveu as primeiras teorias sobre propriedades elásticas da matéria. Segundo ele, a deformação que um material sofreria dependeria da força aplica- da e de uma propriedade específica daquele material. É como imaginar diferentes tipos de mola. Algumas serão mais fáceis de deformar do que outras. Sobre quem foi Robert Hooke, acesse: http://bit.ly/2MwwHVN Ex pl or Elasticidade e Rigidez Vamos imaginar, por exemplo, dois materiais diferentes: A e B. Se aplicássemos diferentes valores de tensão, σ1, σ2 e σ3 crescentes, e anotássemos a deformação específica ε1, ε2 e ε3 ocorrida em cada material, os resultados seriam duas retas distintas, uma para cada material, de forma genérica, similar à imagem a seguir: Figura 8 12 13 Imagine, por exemplo, que os materiais A e B sejam dois elásticos, feitos com matérias-primas diferentes. Quando aplicamos a mesma tensão σ1 nos dois materiais, os dois elásticos so- frem uma deformação específica ε1, porém, para a mesma tensão aplicada, o elás- tico B apresentou uma deformação maior do que o elástico A. Considerando que os dois materiais estejam no comportamento elástico (obe- decendo à Lei de Hooke), dobramos a tensão aplicada até uma tensão σ2, e os materiais dobram as deformações específicas para um valor ε2. Por esse gráfico, podemos observar que, independente da tensão aplicada, o elástico B sempre se deforma mais do que o elástico A. Diz-se que o elástico A é mais rígido que o B, ou seja, para um mesmo valor de tensão, um material menos rígido irá apresentar menos deformação do que um mais rígido. Dessa forma, teremos uma propriedade chamada Módulo de Elasticidade, ou Módulo de Young. Essa propriedade é a relação entre a tensão aplicada e a deformação específica ocorrida num material. Quanto maior o módulo de elasticidade, maior terá de ser a tensão aplicada para se exercer uma deformação, isto é, mais rígido será o material. E � � � onde: • E: Módulo de elasticidade, geralmente, medido em múltiplos do Pascal (Pa); • σ: Tensão aplicada, geralmente medida em múltiplos de Pascal (Pa); • ε: Deformação específica, adimensional. O nome Módulo de Young é uma homenagem ao físico, médico e egiptólogo Thomas Young. Saiba mais sobre a história dele em: http://bit.ly/2ZqcggDEx pl or O módulo de elasticidade é uma propriedade intrínseca da matéria. Para alguns materiais, pode variar de acordo com a resistência, modo de produção e algumas características mecânicas; porém, no geral, cada material apresenta um valor mé- dio para o módulo, ou seja, é possível observar de antemão quais materiais pro- vavelmente serão mais ou menos rígidos do que outros quando se busca alguma aplicação prática, estrutural ou não. Observe um gráfico σ x ε (Tensão x Deformação) de um material qualquer “X”. Você terá um valor de tensão (σx) e um valor equivalente de deformação (εx) e uma inclinação (α) para a reta do gráfico a seguir. 13 UNIDADE Deformação e Limites de Carga �x x X � � � � Figura 9 Se observarmos o ângulo entre a reta no gráfico e o eixo horizontal (eixo da deformação), o cálculo da tangente do ângulo é dado pela equação: tg Catetooposto Catetoadjacente �� � � � � que, nesse caso, resulta na fórmula: tg Ex x x� � � � � � � isto é, a tangente do ângulo de inclinação de uma reta no gráfico tensão x deforma- ção equivale ao módulo de elasticidade do material em questão. Quanto mais inclinada a reta (sabendo que ela estará compreendida num ângulo de inclinação entre 0° e 90°), mais rígido é aquele material. Múltiplos de Unidade de Medida Antes de apresentar os valores médios de Módulo de Elasticidade dos materiais mais comuns, é imprescindível entender como vão funcionar os múltiplos das uni- dades de medida, pois, por exemplo, sendo a unidade básica de medida do módulo de elasticidade o Pascal (Pa), seria muito pouco prático dizer que, por exemplo, o módulo de elasticidade do aço é 210000000000 Pa. Embora essa seja o número exato, é fácil notar que é um número muito alto, o que dificulta a leitura. Por causa disso, é natural que lidemos com múltiplos e sub- múltiplos de várias unidades de medida. 14 15 Algumas já estão naturalmente integradas ao nosso dia a dia. Por exemplo, sabemos que em rodovias ao longo do país é comum encontrarmos um limite de velocidade de “oitenta quilômetros por hora (80km/h)”. Você já viu alguém falando “oitenta mil metros por hora (80000m/h)”? No outro oposto, temos os submúltiplos. Observe um catálogo de tubulações de PVC para residências. Se não estiver referido como polegadas, você poderá obser- var tubos de “quarenta milímetros (40mm)”, por exemplo. Será que alguém ofereceria a você um tubo de “zero vírgula zero quatro metros (0,04m)”? Por isso, quando formos lidar com unidades de medida muito maiores ou muito menores que uma unidade básica (nos exemplos acima, a unidade básica é o me- tro), iremos utilizar os múltiplos e os submúltiplos. Veja a Tabela a seguir. Ela traz diversos múltiplos e submúltiplos utilizados: Tabela 1 Nome Símbolo Fator de multiplicação tera T 1012 = 1 000 000 000 000 giga G 109 = 1 000 000 000 mega M 106 = 1 000 000 quilo k 103 = 1 000 – – – centi c 10-2 = 0,01 mili m 10-3 = 0,001 micro μ 10-6 = 0,000 001 nano n 10-9 = 0,000 000 001 Para lidar com esses múltiplos, basta dividir a unidade base pelo fator de multi- plicação que estamos querendo utilizar. Veja os exemplos a seguir: 2600 2600 1000 2 6gramas grama� � , quilo 0 025 0 025 0 001 25, , , metros metros� � mili 50000000000 50000000000 1000000000 50bytes bytes� � giga Isso é essencial para o estudo de resistência dos materiais, pois as unidades de medida em geral são muito altas, a resistência da maioria dos materiais é medida em megapascal (MPa) e as unidades de módulo de elasticidade em gi- gapascal (GPa). 15 UNIDADE Deformação e Limites de Carga Agora que já foram apresentados os múltiplos das unidades de medida, veja uma Tabela com valores de módulos de elasticidade médios para alguns materiais comuns. Esses valores são próprios para cada material e às vezes podem variar de acordo com algumas características, como porosidade, no caso do concreto, ou composição, no caso da fibra de carbono. Tabela 2 Material Módulo de elasticidade (GPa) Borracha sintética 0,004 – 0,075 Nylon 2,8 Concreto 30 Vidro 70 Cobre 110 Aço 200 - 210 Fibra de Carbono 400 Exemplo Prático 1 Você tem uma tira de borracha, com uma seção transversal de 2cm x 2cm e 1m de comprimento e pendura um saco de 5kg. Considerando que o módulo de elasticidade dessa borracha é 0,05 GPa, qual é o comprimento final da borracha ao deformar? Vamos iniciar pela fórmula do módulo de elasticidade: E � � � Como o objetivo é analisar a deformação, temos que: � � � E Para o cálculo da tensão, utilizamos a fórmula: � � F A A força aplicada na borracha vem do peso de um saco de 5kg, ou seja, é uma força de 50N: F N= 50 16 17 A área de aplicação da força é uma seção quadrada de 2cm x 2cm, ou seja: 0,02m x 0,02m A x m= =0 02 0 02 0 0004, , , ² Para o cálculo da tensão, utilizamos a fórmula: � � � � F A Pa50 0 0004 125000 , Utilizando as conversões para múltiplos e submúltiplos: 125000 125 0 125 0 000125Pa kPa MPa GPa= = =, , Voltando à fórmula da deformação: � � � � � E 0 000125 0 05 0 0025 , , , Essa é a deformação específica na tira, e a fórmula para deformação específica: � � �L L onde L é o comprimento inicial, ou seja: � � � � � � � � � � L L L m L x m m0 0025 2 0 0025 2 0 005, , , Dessa forma, a tira de borracha descrita teria um alongamento de 0,005m, re- sultandonum comprimento alongado de 2,005m após a aplicação do peso do saco de 5kg. Exemplo Prático 2 Considere um tubo de plástico, com 1m de comprimento, seção transversal de 0,0025m² e módulo de elasticidade de 5GPa. Qual a força necessária que deverá ser aplicada nesse tubo para que ele deforme até ter 1,010m de comprimento? Partindo da fórmula do módulo de elasticidade, temos: E E� � �� � � �. 17 UNIDADE Deformação e Limites de Carga Um comprimento final L mfinal =1 10, de um comprimento inicial L m=1 000, compreende um �L m� � �1 010 1 0 010, , Logo, temos: � � � � �L L 0 010 1 0 010 , , Voltando à fórmula inicial para tensão: � �� � � �E Pa MPa. . ,5000000000 0 01 50000000 50 ou seja, para alongar os 0,010 metros (10 milímetros) apontados, seria necessária uma tensão de 50 MPa aplicada neste plástico. Aplicada essa tensão, um tubo de inicialmente 1 metro se alongaria 10 milíme- tros; porém, uma das características principais de análise da resistência dos mate- riais diz respeito à tensão máxima a que um material resiste. E se esse plástico não for capaz de suportar uma tensão de 50MPa? Cargas Limite Até agora, da forma como se falou sobre deformação dos materiais, aplica-se uma tensão e o material é deformado. No entanto, há, para cada material, um limi- te de tensão que pode ser aplicada antes que haja alguma consequência, no geral, uma ruptura. Em várias oportunidades do dia a dia, nós nos deparamos com uma possibili- dade de escolher materiais diferentes para uma mesma aplicação. Por exemplo, podemos escolher entre uma cadeira de madeira, plástico ou aço, ou comer em um prato de louça, plástico ou papel. Desconsiderando-se as especificidades em relação à conforto da cadeira ou hi- gienização dos pratos, muito do que consideramos nas nossas decisões em relação aos materiais leva em consideração a resistência dos materiais envolvidos. De forma simplificada, podemos dizer que a carga limite de um material é o valor máximo suportado para determinado esforço antes da ocorrência da ruptura, ou seja, no nosso dia a dia, a carga limite nos é apresentada, por exemplo, quando num elevador se observa uma placa informando “Peso máximo: 700 kg”. Claro que, na prática, se colocarmos 701kg isso não significa que os cabos do elevador irão romper e causar uma queda. No dia a dia dos projetos, incorporamos coeficientes para garantir uma margem de segurança. 18 19 Outro fator que deve ser levado em consideração é que entre peças idênticas do mesmo material podemos encontrar variação de resistência. Alguns materiais terão variação maior, principalmente, devido à sua natureza. Madeira, por exemplo, é um material altamente influenciado pelas condições. No entanto, para um estudo inicial sobre carga máxima (ou carga limite, tensão limite), vamos assumir a hipótese de que os valores de resistência apontados são o limite de cada material, sem variações entre peças semelhantes. Ao falar em ruptura, uma das coisas essenciais a se esclarecer é como há di- ferentes formas de ruptura entre os materiais. Veja por exemplo, um gráfico de tensão x deformação de uma amostra comum de concreto: max max A C B � � � � ax Figura 10 Dentro desse gráfico, podemos estabelecer pelo menos três pontos distintos: • O ponto A representa o momento no qual não foi aplicada ainda nenhuma carga, o concreto não sofreu nenhuma deformação. Iniciado o carregamento da amostra, o concreto segue o comportamento previsto na Lei de Hooke até o ponto B, ou seja, há um acréscimo na tensão seguido de um acréscimo pro- porcional na deformação; • A partir do ponto B, o concreto começa a apresentar pequenas fissuras cres- centes, o acréscimo de carga continua, porém, a deformação medida já não é mais proporcional, ou seja, o material já não apresenta o comportamento elástico descrito na Lei de Hooke; • Ao chegar no ponto C, o concreto finalmente rompe. Nesse momento, é possí- vel que se observe qual foi a deformação específica máxima obtida no material, bem como a tensão limite do material, ou seja, a tensão máxima que o concre- to foi capaz de suportar no teste. 19 UNIDADE Deformação e Limites de Carga Veja agora como é um gráfico tensão x deformação que representa o compor- tamento de certas ligas de aço (lembre-se de que os gráficos aqui apresentados são simplificados em relação aos gráficos reais obtidos em medições de Laboratório que, em geral, apresentam mais variações e curvas ao longo do ensaio): maxA B C D � � � � max � escoamento Figura 11 Notam-se os seguintes pontos: • Entre os pontos A e B, há o comportamento elástico no aço, seguindo a Lei de Hooke, no qual o aumento de deformação obedece a uma proporcionalidade ao aumento de tensão; • A partir do ponto B, o trecho BC é conhecido como escoamento do aço. Nes- sa etapa, há um acréscimo da deformação do aço sem acréscimo do aumento da tensão. Entenda esse fenômeno como semelhante àquele momento em que esticamos tanto uma mola que percebemos que ela começa a deformar além da capacidade e “estragamos” a mola; • Ao fim da etapa de escoamento, entre os pontos C e D, nota-se que o aço volta a apresentar um aumento na tensão resistente aplicada, seguido de uma ruptura, no ponto D. Em geral, para o caso de lidarmos com peças e estruturas de aço que tenham um comportamento semelhante ao indicado nesse gráfico, a tensão que conside- ramos como máxima se refere à tensão na qual se inicia o escoamento, apesar de ser inferior à tensão máxima suportada pelo material, pois isso garante que não teremos uma deformação específica muito alta na nossa estrutura. Ruptura Dúctil x Ruptura Frágil Da mesma forma que cada material apresenta uma elasticidade distinta, a ruptu- ra também será diferente entre tipos diferentes de materiais. 20 21 Você já viu como acontece a ruptura de uma placa de vidro comum? Um vidro de janela, por exemplo? Se sim, provavelmente notou que o vidro, ao quebrar, tem um comportamento brusco, isto é, de repente há a ruptura, sem que desse para perceber alguma de- formação. Se em vez de vidro houvesse uma placa plástica, seria uma ruptura tão brusca? Vários plásticos, assim como algumas ligas metálicas e borrachas, antes de rom- per, apresentam um valor alto de deformação específica e, por causa disso, é possí- vel notar que aquele material está provavelmente chegando ao seu limite de ruptura. A B � � Figura 12 Veja o gráfico acima, representando dois materiais quaisquer: A e B. Por esse gráfico, podemos afirmar que o material A apresentou uma tensão máxima (σmáx) superior à do material B, mostrando-se mais resistente; porém, o material B apre- sentou maior deformação antes da ruptura. O que isso significa? Significa que, caso os dois materiais estivessem sendo submetidos a um esforço crescente, apesar de o material A requerer uma tensão maior, sua ruptura seria brusca e com menos aviso, enquanto o material B, mesmo requerendo uma tensão menor, teria uma ruptura mais pronunciada, por apresentar uma deformação espe- cífica maior, servido de “aviso”. Esse processo de ruptura pronunciada é imprescindível quando se fala sobre segurança das estruturas, pois caso haja alguma falha estrutural, uma estrutura que apresente ruptura brusca poderia vir a cair e ainda por cima afetar um número elevado de vítimas, ao passo que uma estrutura com um processo de ruptura lento e pronunciado abre a possibilidade de uma intervenção para recuperação estrutural e/ou um processo de evacuação das pessoas presentes. Mas como uma estrutura “avisa” que algo está errado? 21 UNIDADE Deformação e Limites de Carga Geralmente, as estruturas vão apresentar fissurações em diversos pontos. Além disso, a abertura de fissuras em estruturas de concreto armado, geralmente, é acom- panhada por sons característicos e o desprendimento gradual de diversas partícu- las, como as camadas de revestimento e parte do próprio concreto se desprende. A figura acima exemplifica uma estrutura numgrau avançado de fissuração. Esse tipo de situação nos permite observar que há um problema na estrutura antes que ela venha a ruir por completo. Por isso, na etapa de escolha de um material para compor uma estru- tura, devem ser levadas em conside- ração diversas características neces- sárias e/ou desejadas. O material ideal para compor uma estrutura deve apresentar resistência, rigidez e também a forma de ruptura necessária, além de combinar fatores como economia e impacto ambiental adequados à aplicação. Exemplo Prático 3 Você quer dar um novo uso a um edifício antigo já construído e, para isso, de- verá analisar qual a capacidade da estrutura existente. Para isso, considere a exis- tência dos pilares que têm diâmetro de 30cm e o concreto com uma capacidade de tensão limite de 12MPa. Calcule o peso máximo que cada pilar suporta: Figura 14 Começa-se pela fórmula inicial da tensão, focando no cálculo da força máxima suportada pelo pilar: � �� � � F A F A. Figura 13 Fonte: Getty Images 22 23 Parte-se para o cálculo da área da seção circular: A r� � . ² Com diâmetro de 30cm, calcula-se o raio do pilar, em metros: d cm r d� � �30 2/ r cm cm= =15 0 15, A m= =3 14 0 15 0 07072 2, . , , Voltando-se para a fórmula de tensão: � � �12 12000000MPa N m/ ² F N kN= = =12000000 0 0707 848230 02 848 23. , , , ou seja, os pilares feitos com concreto de 12MPa e diâmetro de 30cm suportam até 848,23kN cada (aproximadamente 84 toneladas). Exemplo Prático 4 Considere que você está escolhendo o tamanho da barra de aço que deverá ser o suporte de um elevador de carga. O aço tem uma tensão de escoamento de 200MPa, e deverá suportar uma carga de 1800 kg. Qual a área mínima necessária que a barra deverá ter para esse serviço? Sabendo a área mínima, escolha uma seção quadrada para o suporte do elevador: Figura 15 Partindo-se da fórmula de tensão, dessa vez focando na área mínima necessária: � � � � � F A A F� 23 UNIDADE Deformação e Limites de Carga Calculando-se a força do peso, partindo da massa que deverá ser transportada: F kg N= =1800 18000 � � �200 200000000MPa N m/ ² A F m� � � � 18000 200000000 0 00009, ² Essa é a área mínima necessária para que o aço com a tensão descrita seja capaz de sustentar. Como deverá ser especificada uma seção quadrada, cuja área é o produto dos lados, que são iguais, através da raiz da área, obtemos o valor mínimo do lado da barra, e o aproximamos para um valor inteiro, apenas a título de praticidade numa eventual escolha de um material: A lado x lado= = 0 00009, lado m cm cm� � � �0 00009 0 009487 0 9487 1, , , ou seja, uma barra de aço com resistência de 200MPa e seção transversal de 1cm x 1cm seria capaz de suportar os 1800kg do elevador descrito. 24 25 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Resistência dos materiais – Para entender e gostar BOTELHO, M. H. C. Resistência dos materiais – Para entender e gostar. 4.ed. São Paulo: Blucher, 2017. Mecânica Vetorial para Engenheiros: Estática BEER, F. P. et al. Mecânica Vetorial para Engenheiros: Estática. 9.ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. Estruturas Isostáticas ALMEIDA, M. C. F. Estruturas Isostáticas. São Paulo: Oficina de Textos, 2009. Vídeos Aula 10 – Tensão e deformação https://youtu.be/dQQMV9Hz5y8 Comportamento Tensão-Deformação https://youtu.be/tkp-Vk2OW9E 25 UNIDADE Deformação e Limites de Carga Referências BEER, F. P. et al. Mecânica Vetorial para Engenheiros: Estática. 9.ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. BOTELHO, M. H. C. Resistência dos materiais – Para entender e gostar. 4.ed. São Paulo: Blucher, 2017. HIBBELER, R. C. Resistência dos Materiais. 7.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. 26
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