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1 Turbinas a vapor O treinamento básico sobre as turbinas a vapor está segmentado em princípios de funcionamento, cálculos termodinâmicos, equipamentos de controle e segurança e sistemas auxiliares. 2.1. Princípio do funcionamento de turbinas a vapor As turbinas a vapor são máquinas rotativas, as quais transformam a energia interna e cinética do vapor em energia cinética rotativa no seu eixo. Essa energia pode ser utilizada para o acionamento de compressores, ventiladores e bombas para fins quaisquer, ou ainda, acionando um gerador síncrono trifásico, com o objetivo de converter energia mecânica em energia elétrica. Energia interna do vapor Energia cinética no rotor Acionamento de máquinas Energia elétrica Fig. 2.1a - Conversão de energia do vapor para fins industriais. 2 O vapor, estando a alta temperatura e pressão, possui grande quantidade de energia, estando na forma de vibrações intermoleculares e diferença de pressão entre vapor e atmosfera. Esta energia é quantificada sob o nome de entalpia. Este vapor é produzido por um gerador de vapor, mais conhecido como caldeira. A caldeira aquece água pela queima de um combustível (gás, óleo ou bagaço de cana), produzindo vapor, o qual é conduzido da caldeira por uma tubulação. Este vapor então é introduzido na turbina, até um segmento de injetores, os quais têm a função de converter a entalpia do vapor em velocidade. Além de velocidade, o vapor também perde pressão e se expande. Em seguida, o vapor passa por palhetas, conectadas ao rotor da turbina. Estas palhetas recebem o impacto do vapor, produzindo movimento nas palhetas e impulsionando o rotor, fazendo assim com que o eixo da turbina gire, produzindo energia mecânica de rotação. O vapor é então expelido da turbina, podendo estar a pressões acima ou abaixo da atmosférica. A figura 2.1b ilustra um sistema composto de caldeira e turbina. Turbina Caldeira Combustível Vapor de saída WT Vapor de entrada Fig. 2.1b - Sistema caldeira - turbina. 3 2.1.1. Princípio de ação e reação Podemos imaginar o princípio de movimentação do rotor da turbina observando o desenho da figura 2.1.1a. No princípio de reação, ilustrado segundo o exemplo A, o tanque possui rodas, de tal forma que a força de reação à pressão do vapor de escape movimenta o peso. No exemplo B, o vapor é introduzido no tanque a uma pressão P1, de modo que o vapor de saída, a uma pressão P2, P2 < P1, impulsione a palheta e levante o peso, ilustrando o princípio de ação. W Vapor P1 Força de reação (A) (B) Vapor P1 W Força de ação Fig. 2.1.1a - Princípios de ação e reação. Em turbinas, o princípio de ação e reação é classificado segundo a perda de pressão na passagem da palheta. Nas turbinas de ação, o vapor ao entrar em contato com a palheta perde somente velocidade, mas mantém suas propriedades termodinâmicas, como pressão, volume específico e entalpia. Em palhetas de reação, ocorre uma perda de velocidade e também de pressão e volume específico, resultando em uma perda entálpica e expansão do vapor . Pressão Volume Velocidade Injetor Palheta Pressão Volume Velocidade Injetor Palheta ( A ) ( B ) Fig. 2.1.1b - Propriedades do vapor em turbinas de ação (A) e reação (B). 4 Na verdade, todas as turbinas são de reação, pois sempre há uma perda entálpica nas palhetas. Porém, as turbinas de ação apresentam grau de reação(*) de no máximo 15% da perda com relação ao conjunto injetores-palhetas, enquanto que as de reação apresentam um grau de reação de 50%. 2.1.2. Classificação das turbinas a vapor As turbinas a vapor são classificadas de acordo com os seguintes aspectos: a) Princípio de ação do vapor • Turbinas de ação: de acordo com o exemplificado em 2.1.1.1, somente há queda de pressão nos injetores. • Turbinas de reação: de acordo com 2.1.1.1, a queda ocorre também nas palhetas. b) Número de estágios • Turbinas simples estágio: a expansão do vapor é realizada uma única vez, podendo o rotor possuir 1 fileira de palhetas (tipo Laval) ou de 2 até 4 fileiras de palhetas (tipo Curtis). As turbinas simples estágio são sempre de ação. • Turbinas multiestágio: a expansão do vapor é realizada em várias etapas, sendo que o rotor possui entre as palhetas móveis, um ou mais blocos de injetores intermediários (diafragmas) ou palhetas diretrizes (dependendo do tipo de turbina, se for de ação ou reação), fixados na carcaça da turbina. Isso resulta em maiores eficiências para grandes diferenças de entalpia, além do fato que os injetores não suportariam o aumento do volume específico. c) Direção do escoamento de vapor • Axial: O vapor escoa paralelamente pelo eixo de rotação da turbina. • Radial: O vapor escoa radialmente ao eixo de rotação da turbina. (*) Grau de reação é definido pela seguinte relação: G.R. = (Queda entálpica na palheta) / (Queda entálpica no conjunto injetor-palheta) 5 d) Tipo de serviço • Turbinas de contrapressão: a pressão de escape é maior que a pressão atmosférica. Nesse caso, o vapor será aproveitado para um processo qualquer. • Turbinas de condensação: a pressão de escape é menor que a pressão atmosférica. Este tipo de turbina é mais utilizada para aproveitamento total da energia do vapor, o qual é condensado após a saída da turbina por um condensador. • Turbinas com extração: Possível tanto para turbinas de contrapressão quanto de condensação. É realizada uma retirada de vapor em um ponto intermediário da turbina, para ser aproveitado em outro processo. Tanto para turbinas de ação como de reação, é possível controlar a vazão de extração. (*) Princípio de ação Ação Reação Número de estágios 1 2 ou mais Direção de fluxo Radial Axial Tipo de serviço Contrapressão Condensação Extração Fig. 2.1.2a - Classificação das turbinas a vapor. (*) A extração pode ser: a) Controlada: onde se controla tanto a vazão como a pressão de vapor que é extraído da turbina, independente da carga mecânica solicitada ao eixo da turbina. b) Não controlada ou tomada simples: onde se controla somente a vazão de vapor extraída da máquina. A pressão estará sujeita a variações dependendo da carga no eixo da turbina. 6 2.2. Componentes principais de turbinas a vapor Cada componente de uma turbina, em virtude do trabalho sob diferentes condições de serviço, sua dimensão, tipo de fabricação, esforços a que está submetido, leva a definir um certo número de critérios que permite escolher entre os diversos materiais que poderiam ser empregados em sua fabricação, aquele que permita assegurar os serviços exigidos. Além disto os materiais devem satisfazer determinadas condições físicas e químicas, como por exemplo: • apresentar boa resistência à corrosão e oxidação; • possuir boa estabilidade estrutural sob elevada temperatura durante um espaço de tempo prolongado; • ter dureza superficial para resistir à erosão; • ser soldável, pois em alguns casos o único modo de montagem é a soldagem. Quando a dureza for um fator relevante, uma têmpera será suficiente, mas em peças onde se deseja outras carcterísticas, é necessário uma nitretação. Qualquer peça tratada não pode ser usinada ou lixada, pois ocorrerá remoção do tratamento influenciado no seu desempenho, principalmente durabilidade e confiabilidade. A descrição dos componentes segue uma seqüência a partir do caminho que o vapor faz dentro da turbina, desde a admissão até o escape. Outras peças que não entram em contato direto com o vapor também serão mencionadas, dada a sua importância. 2.2.1. Câmara de vapor Esta peça é feita em ferro ou aço fundido para atender as condições máximas de trabalho. No seu interior estão localizadas as válvulas de regulagem de vapor, que realizam o controle de entrada de vapor, e a válvula de emergência que, em caso de disparo da turbina, fecha automaticamente. Assim que o vapor entra na turbina ele é obrigado a passarpor um filtro de tela de aço inox. Este é um complemento normalmente padrão em todas as turbinas. 7 2.2.2. Carcaça É o suporte das partes estacionárias tais como diafragmas, palhetas fixas, mancais, válvulas, etc. Na grande maioria das turbinas são de partição horizontal, na altura do eixo, o que facilita sobremaneira a manutenção. O material empregado na carcaça da turbina pode ser ferro fundido, aço ou liga de aço, dependendo das condições de pressão e temperatura. Por serem bipartidas, são unidas por parafusos prisioneiros com junta metálica entre elas. A carcaça pode ser sub- dividida ao longo de seu comprimento caracterizando as seções de alta e baixa pressão. A carcaça de alta pressão é fundida. Para condições de temperatura e pressão severas, o material da carcaça é um aço de baixa liga ou em condições extremas de aço inoxidável. Para condições de trabalho moderadas tem-se carcaça de aço fundido. Na parte de baixa pressão, geralmente seu material é o ferro fundido, podendo ser de aço carbono fundido em condições um pouco mais elevadas. Em turbinas condensantes de potência elevada, a carcaça de baixa pressão é bastante avantajada fisicamente. Nestes casos é bastante comum, por finalidade construtiva, a adoção de uma construção soldada, a partir de chapas de aço carbono, que oferece também como vantagens, maior rigidez, menor tempo e custo de fabricação e união perfeita com o condensador diretamente por soldagem. 2.2.3. Válvula de fecho rápido A maneira usual de parar uma turbina a vapor é pelo fechamento de uma válvula, chamada válvula de fecho rápido, colocada em série com válvula de controle de admissão, o que corta totalmente a admissão de vapor para a turbina. Esta válvula é também conhecida como válvula de bloqueio automático ou válvula de "trip". Em uma turbina de uso geral a válvula de fecho rápido é mantida, durante a operação da turbina, totalmente aberta, contra a ação de uma mola, travada por um conjunto de alavancas externo, conhecidas como gatilho e alavanca de "trip". O gatilho do "trip" pode ser acionado pelo dispositivo de desarme por sobrevelocidade ou manualmente pelo operador, em ambos os casos liberando a alavanca de "trip", que sob a ação da mola, fechará a válvula de fecho rápido, cortando a admissão de vapor e parando a turbina. 8 O dispositivo de desarme por sobrevelocidade consiste, como mostra a figura 2.2.3a, de um pino excêntrico no eixo da turbina. Este é mantido em seu alojamento pela força de uma mola, disposta de modo a anular a força centrífuga a qual tende a expulsar o pino. A força centrífuga aumenta à medida que aumenta a velocidade, então quando a turbina atinge uma determinada rotação, conhecida como velocidade de "trip", a força centrífuga vence a força da mola e o pino excêntrico‚ expulso de seu alojamento, aciona o gatilho disparador. Este, por sua vez, libera a alavanca de "trip", o que provoca o fechamento de válvula de fecho rápido e a parada da turbina. A velocidade em que o dispositivo de desarme por sobrevelocidade atuará pode ser regulada, pela modificação da tensão inicial da mola. Fig. 2.2.3a - Pino disparador e válvula de fecho rápido. O dispositivo de desarme por sobrevelocidade protege a turbina, impedindo que opere em velocidade superiores à velocidade de "trip", onde as tensões resultantes da força centrífuga poderiam ser perigosas para a resistência mecânica do conjunto rotativo da turbina. Em turbinas de uso especial, a válvula de fecho rápido, bem como as válvulas de controle de admissão e extração, exigem forças bastante elevadas para sua movimentação e posicionamento. Por isto não 9 podem ser acionadas simplesmente por uma transmissão mecânica, como nas turbinas de uso geral, exigindo acionamento hidráulico por servo-motores, que permite a ampliação do esforço de saída, respectivamente, do mecanismo de "trip" e o do regulador, de maneira a torná-los suficientes ao acionamento da válvula de bloqueio automático e das válvulas de controle de admissão. Para aplicações onde são requeridas uma maior confiabilidade e segurança, assim como turbinas para potências maiores, utiliza-se um sistema de controle eletrônico para desarme por sobrevelocidade no lugar do pino excêntrico. 2.2.4. Válvulas de controle de admissão e extração São válvulas que regulam a vazão de vapor na turbina, tanto na admissão quanto na extração. Para evitar a erosão de seu plugue ou sede, o que prejudicaria suas caraterísticas de controle, ou a corrosão de sua haste, guias e buchas de vedação, o que poderia causar seu emperramento, as válvulas de controle têm plugue, sede, haste, guias e buchas de vedação fabricadas em material resistente a corrosão-erosão, normalmente um aço inoxidável ferrítico. Uma vez que a turbina opera normalmente entre condições de vapor estáveis, as variações da carga devem ser atendidas por meio do controle da vazão de vapor admitida na máquina. Esta função é executada, automaticamente, pelas válvulas de controle de admissão, sob controle de um dispositivo, o regulador de velocidades, a ser explicado mais adiante. Existem dois tipos básicos para as válvulas de controle de admissão: a construção "multi-valve" e a construção "single-valve". Fig. 2.2.4a - Bloco de 3 válvulas de admissão. 10 a) "Multi-valve": neste tipo de construção, o controle da admissão de vapor é feito através de várias válvulas, em paralelo, cada uma alimentando um grupo de expansores. A abertura destas válvulas é sequencial, isto é, para uma carga muito baixa, a vazão de vapor necessária seria muito pequena, e estaria aberta, total ou parcialmente, apenas uma válvula, alimentando, portanto, apenas um grupo de injetores, permanecendo bloqueados os demais grupos. À medida que a carga aumenta, exigindo uma vazão maior de vapor, vão sendo abertas, sequencialmente, as demais válvulas, alimentando outros grupos de injetores, até a condição de carga máxima, onde todas as válvulas estarão abertas e todos os injetores recebendo vapor. Esta abertura sequencial permite que, à medida que a vazão total de vapor cresce, para atender ao aumento da carga, a quantidade de injetores que está recebendo vapor cresça proporcionalmente. Assim, a vazão de vapor através de cada injetor em operação pode ser mantida constante e igual à sua vazão de projeto, a despeito da carga. Isto aumenta bastante a eficiência da turbina, principalmente em condição de baixa carga. Estas válvulas de admissão de vapor, de construção múltipla e abertura sequencial, são também conhecidas, devido à sua função, como válvulas parcializadoras, figura 2.2.4a. Em turbinas de uso especial usamos quase sempre esta construção, pois permite obter uma melhor eficiência para a turbina e um controle mais preciso. b) "Single-valve": em turbinas de uso geral, onde a obtenção de uma solução de simples e econômica‚ mais importante que o aumento da eficiência da turbina ou a precisão do controle, usamos este tipo de construção, caracterizado pelo estrangulamento da passagem de vapor. Nesta construção, a válvula de controle da admissão do vapor é única, admitindo vapor simultaneamente para todos os injetores. Esta construção‚ bastante ineficiente quando a turbina opera com carga baixa e, em consequência, com baixa vazão total de vapor, que será dividida igualmente por cada injetor. Isto fará com que a vazão em cada injetor seja bastante interior à sua vazão de projeto e prejudicará a eficiência da turbina. Algumas turbinas possuem uma retirada parcial de vapor, em um estágio intermediário, e portanto a uma pressão intermediária, entre a admissão e a de descarga, conhecida como extração. Como a pressão em um ponto qualquer ao longo da turbina varia, quando variam as condições de carga da turbina, se a extração consistir simplesmente em um flange, através do qual poderemos retirar vapor, após um determinado estágio da máquina, a pressãodo vapor extraído será influenciada pelas condições de carga da turbina. Em alguns casos, como por exemplo na retirada de vapor para aquecimento regenerativo de água de alimentação da caldeira, esta flutuação na pressão do vapor extraído é perfeitamente aceitável. A este tipo de 11 extração chamamos de extração não controlada ou tomada. 12 Em outras ocasiões, entretanto, como no caso das refinarias, desejamos uma retirada do vapor, a pressão constante, para uso no processo ou para acionamento de máquinas menores. Para manter a pressão do vapor extraído constante, a despeito das flutuações da carga da turbina ou do consumo de vapor extraído, a turbina deverá ter um conjunto de válvulas de controle de extração. As válvulas de controle de extração funcionam de maneira semelhante às válvulas de controle de admissão, só que controladas pela pressão do vapor extraído, através do regulador. Assim, em qualquer aumento incipiente da pressão de extração, seja causado por flutuação da carga da turbina ou do consumo de vapor extraído, o controlador de pressão de extração comandará uma abertura maior da válvula de extração, permitindo um maior fluxo de vapor para a descarga da máquina, e, em consequência, um fluxo menor para a extração, o que restabelecerá a pressão no nível controlado. Em caso de diminuição da pressão de extração a ação do controlador de pressão seria inversa, comandando o fechamento da válvula de extração. Este tipo de extração, com controle de pressão, chamamos de extração automática. 2.2.5. Regulador de velocidades Em caso de baixa pressão na linha de escape, a turbina tenderá a demandar mais vapor que o necessário, resultando também em um aumento na rotação no eixo. Para evitar que isto ocorra, existe um regulador de velocidades, o qual controla a admissão de vapor de acordo com a rotação da turbina, movimentando as válvulas do bloco de admissão através de um sistema de atuação conectado com o regulador. O regulador pode ser mecânico, hidráulico ou eletrônico. O regulador mecânico é ligado ao eixo da turbina, diretamente ou por meio de uma redução, girando, portanto, a uma rotação igual ou proporcional à rotação da turbina, e sente as flutuações da carga por intermédio de seu efeito sobre a velocidade da turbina. Assim, quando ocorre, por exemplo, um aumento de carga, se a vazão do vapor permanecer inalterada, haverá uma queda da velocidade incipiente e comanda uma abertura maior das válvulas de controle de admissão, permitindo a passagem de um a vazão maior de vapor, necessária ao aumento de carga e ao reestabelecimanto da velocidade inicial. 13 O regulador eletrônico é preferido por sua maior precisão e confiabilidade no controle de carga para turbinas maiores, além de sua operação justificar o custo mais elevado com relação aos reguladores mecânicos. Ainda, este modelo é utilizado quando as válvulas de controle de admissão e extração requerem forças motrizes muito elevadas. O regulador emite um sinal elétrico para um conversor eletro- hidráulico, o qual transforma o sinal de corrente em impulso de óleo pressurizado. Este óleo é injetado em um servo-motor, responável pelo controle de abertura e fechamento da haste das válvulas. Os reguladores eletrônicos também podem regular as válvulas de extração, através do controle de pressão de extração por um transmissor de pressão posicionado na câmara da válvula. O regulador hidráulico atualmente anda em desuso, devido ao avanço dos dispositivos eletrônicos, porém ainda é utilizado. 2.2.6. Dispositivo de giro lento Para turbinas de porte maior, é necessário fazer uma partida e parada progressivas, devido à dilatação térmica conseqüente da alta temperatura do vapor. Para isso, o regulador de velocidades atua em conjunto com um dispositivo chamado giro-lento, turning gear device, o qual reduz a velocidade da turbina nos períodos de partida e parada. Durante a partida da turbina, o regulador é programado para admitir somente uma fração de vapor para a turbina, de modo que esta passe por um pré-aquecimento, permitindo uma dilatação térmica suave dos componentes. O giro lento consiste em um motor elétrico que aciona um conjunto de engrenagens engatadas ao eixo de alta rotação do redutor. Comandado pelo regulador, o motor aciona o dispositivo o qual obriga a turbina a girar a uma baixa rotação durante o período de pré-aquecimento. A mesma lógica é executada inversamente durante a parada, quando se quer evitar brusca queda de temperatura. 14 2.2.7. Injetores O injetor é o elemento cuja função é orientar o jato de vapor sobre as palhetas móveis. No injetor o vapor perde pressão e ganha velocidade. Podem ser convergentes ou convergentes-divergentes, conforme sua pressão de descarga seja, respectivamente maior ou menor que 55% da pressão de admissão. São montados em determinada quantidade, de acordo com o tamanho e a potência da turbina, e consequentemente terão formas construtivas específicas, de acordo com sua aplicação. É fundamental que os injetores tenham: • bom acabamento superficial; • razão de expansão correta; • igualdade dimensional. Os injetores de uma turbina de ação, conforme sua situação na máquina, podem estar colocados em um arco de injetores (primeiro estágio ou estágio único) ou em um anel de injetores. Um arco de injetores pode ser obtido a partir de uma peça única onde são usinados os injetores. Esta construção é muito usada para turbinas pequenas de estágio único. O arco de injetores usado no primeiro estágio de máquinas de multiestágios‚ obtido pela usinagem individual dos injetores, são a partir de blocos de aço inoxidável ferrítico com cromo. Estes injetores são, então, encaixados e soldados no arco de injetores. Os estágios intermediários de uma turbina de ação têm os injetores constituindo o que se chama um anel de injetores. O anel de injetores fica colocado em uma peça circular, encaixada na carcaça da turbina, o diafragma. Os diafragmas são constituídos por dois semicírculos, que separam os diversos estágios de uma turbina de ação multiestágio. São fixados no estator, suportam os injetores e abraçam o eixo sem tocá-lo. Entre o eixo e os diafragmas existe um conjunto de vedação que reduz a fuga de vapor de um para outro estágio através da folga entre o diafragma e o eixo, de forma que o vapor só passa pelos injetores. Este conjunto de vedação, geralmente labirintos, podem ser fixos no próprio diafragma, no eixo ou em ambos. Este tipo de vedação‚ chamada selagem interna. Os diafragmas de estágios intermediários, onde a pressão‚ mais elevada, são usualmente de construção soldada. Já os diafragmas dos estágios finais, onde a pressão‚ menor, são normalmente fundidos. Em ambos os casos, os injetores são normalmente de aço inoxidável ferr¡tico com cromo, enquanto as partes estruturais, externas e internas, são de aço carbono nos diafragmas fundidos. 15 2.2.8. Rodas As rodas são elementos que suportam as palhetas ou injetores. Geralmente são de aço forjado. A roda fixa ou estator é o elemento fixo da turbina cuja função é transformar a energia potencial (térmica) do vapor em energia cinética, e é quem envolve o rotor. A roda móvel é o elemento da turbina cuja função é transformar a energia cinética do vapor em trabalho mecânico, sendo envolvido pelo estator. Rotor é o termo usado para definir o conjunto girante e é composto basicamente pelas rodas e o eixo. O diâmetro do eixo‚ determinado afim de transmitir o torque e garantir que a turbina será de eixo rígido nas simples estágio e de eixo flexível nas multiestágios. a) Eixo Rígido: quando a primeira velocidade crítica está acima da velocidade máxima contínua de operação. b) Eixo Flexível: quando a primeira velocidade crítica está abaixo da velocidade máxima contínua. O conjunto rotativo de uma turbina é usualmente obtido por meio de rodas montadas, com interferência e chaveta,em um eixo único; o eixo pode ser usinado a partir de uma barra de aço laminada, para temperaturas de trabalho moderadas, ou a partir de uma barra laminada ou um tarugo de aço liga, para temperaturas de trabalho mais elevadas. As rodas podem ser usinadas a partir de chapas de aço carbono laminadas, para temperaturas moderadas, ou a partir de discos forjados em aço liga, para temperaturas elevadas. Em máquinas de alta rotação, entretanto, usa-se uma construção integral para o conjunto rotativo, com rodas e o eixo obtidas a partir de uma peça forjada em aço liga. Fig. 2.2.8a. Conjunto rotor-estator. 16 2.2.9. Palhetas São chamadas palhetas móveis, as fixadas ao rotor; e fixas, as fixadas ao estator. As palhetas fixas (guias, diretrizes) orientam o vapor para a coroa de palhetas móveis seguinte. As palhetas fixas podem ser encaixadas diretamente no estator (carcaça), ou em rebaixos usinados em peças chamadas anéis suportes das palhetas fixas, que são, por sua vez, presos na carcaça. As palhetas móveis, são peças com finalidade de receber o impacto do vapor proveniente dos injetores (ou palhetas fixas) para movimentação do rotor. São fixadas na fita de cobertura pela espiga ao disco do rotor pelo malhete e, ao contrário das fixas, são removíveis. Sua fixação do disco do rotor (ou tambor para as de reação) depende da configuração do malhete. Fig. 2.2.9a - Palheta. O projeto de uma palheta de turbina deve considerar: a performance termodinâmica e a eficiência da palheta, sua resistência mecânica na temperatura de trabalho, seu comportamento com relação a vibrações e sua resistência à erosão. As palhetas de turbinas são quase sempre feitas em aço inoxidável ferrítico com 13% de cromo, porque este material apresenta boa resistência mecânica em temperaturas elevadas, boa capacidade de amortecimento de vibrações e boa resistência à erosão. As palhetas de pequena altura dos estágios iniciais da turbina, que recebem vapor da alta pressão e alta temperatura, são normalmente obtidas por usinagem a partir de barras laminadas a quente. As palhetas de maior altura dos estágios seguintes, que recebem vapor em pressão e temperatura mais baixas, podem ser obtidas a partir de perfis laminados a frio. As palhetas de grandes dimensões dos últimos estágios das turbinas 17 condensantes de grande potência são muitas vezes obtidas por forjamento. Em algumas aplicações particulares, em turbinas que recebem vapor de alta temperatura e trabalham com elevada rotação, pode ser usado um conjunto rotativo completo (eixo, rodas e também palhetas) usinado por eletroerosão. Neste caso, o conjunto rotativo‚ obtido a partir de uma única peça forjada, usinada por eletroerosão, isto é‚ por uma corrosão eletroquímica controlada. 2.2.10. Porta palhetas O disco do rotor ou porta palhetas é a peça da turbina destinada a receber o empalhetamento móvel. Este empalhetamento é chamado de coroa de palhetas, o qual é montado na periferia do porta palhetas e dependendo do tipo e da potência da turbina pode existir de uma a cinco coroas em cada disco do rotor. 18 2.2.11. Fita de cobertura É uma tira metálica, seccionada, presa às espigas das palhetas móveis com dupla finalidade: aumentar a rigidez do conjunto, diminuindo a tendência à vibração das palhetas e reduzindo também a fuga de vapor pela sua periferia. São utilizadas nos estágios de alta e média pressão envolvendo de 6 a 8 palhetas cada seção, figura 2.2.11a. Nos estágios de baixa pressão, é substituído por um arame amortecedor, que liga as palhetas, não por suas extremidades, mas em uma posição intermediária mais próxima da extremidade que da base da palheta. Fig. 2.2.11a - Fita de cobertura envolvendo palhetamento. 2.2.12. Selagem Para evitar o escapamento de vapor para o exterior da turbina ou a passagem do mesmo, de um estágio para outro, que não seja pelas palhetas ou expansores, são utilizados dispositivos de selagem, os mais utilizados são: • anéis de carvão; • labirintos. Os anéis de carvão são tripartidos para facilitar a montagem e são mantidos próximos ao eixo através da pressão de uma mola. A superfície do eixo onde os anéis trabalham‚ metalizada para garantir uma alta resistência ao desgaste por atrito e prevenir corrosão. A vedação‚ feita radialmente através de uma pequena folga anel-eixo e axialmente através do contato anel-placa espaçadora. As placas são de aço inox. As placas e os anéis são peças estacionárias, girando o eixo. A quantidade de anéis e placas espaçadoras depende da pressão de trabalho da turbina e o tipo do anel depende da temperatura de operação. Os labirintos são peças metálicas circulares com ranhuras existentes nos locais onde o eixo sai do interior da máquina atravessando a carcaça, cuja finalidade é evitar o escapamento de vapor para o exterior nas 19 turbinas não condensantes e não permitir a entrada de ar para o interior nas turbinas condensantes. Esta vedação é chamada de selagem externa. Nas turbinas de baixa pressão utiliza-se vapor de fonte externa ou o próprio vapor de vazamento da selagem de alta pressão para auxiliar a selagem, evitando-se assim não sobrecarregar os ejetores e não prejudicar o vácuo que se obtém no condensador. Ao escapar entre os anéis e o eixo, o vapor sofre sucessivas quedas de pressão, enquanto que a velocidade decorrente destas expansões‚ reduzida pelo turbilhonamento. Nas selagens externas de uma turbina a vapor ocorre uma condensação contínua de vapor. Para resistir à corrosão, nestas condições, todos os componentes da selagem, como labirintos, espaçadores dos anéis de carvão, molas, devem ser de material resistente à corrosão, como aço inoxidável, monel, inconel. Segue um esquema típico de selagem e de compensação axial na figura 2.2.12a. Fig. 2.2.12a - Esquema de selagem e balanceamento. 20 2.2.13. Pistão de balanceamento O vapor de fuga, ao invés de ser despejado para a atmosfera, pode ser reaproveitado através do pistão de balanceamento. Este sistema consiste simplesmente de buchas de labirinto imediatamente antes da câmara da roda de regulagem, às quais uma tubulação recolhe o vapor de fuga destes labirintos e despeja para uma região de menor pressão da turbina. O vapor retido entre a câmara da roda e os labirintos funciona como uma compensação sobre as forças axiais no eixo da turbina. Este é aproveitado em duas faixas de pressão. A primeira (AK I) é a do vapor imediatamente antes da câmara da roda, lançado para os estágios de alta pressão. A segunda (AK II) corresponde ao vapor remanescente da primeira bucha de labirintos, a pressões mais baixas que AK I, sendo lançado na parte de condensação. 2.2.14. Mancais Os mancais são os elementos responsáveis pela sustentação do eixo na carcaça. Eles permitem o movimento relativo entre o eixo (rotação) e a carcaça (estacionária). São divididos em: a) mancais radiais ou de apoio b) mancais axiais ou de escora Os mancais radiais são distribuídos, normalmente, um em cada extremo do eixo da turbina com a finalidade de manter o rotor numa posição radial exata. Os mancais de apoio suportam o peso do rotor e também qualquer outro esforço que atue sobre o conjunto rotativo, permitindo que o mesmo gire livremente com um mínimo de atrito. Em aplicação de turbinas, os mancais utilizados são de deslizamento, divididos em lubrificação por anéis pescadores e por sistema pressurizado de óleo. A primeira configuração somente é utilizada para turbinas de pequenas potências e que são mantidas como stand-by. 21 Os mancais de deslizamento de sistema pressurizado, como mostra a figura 2.2.14a, constituídos por casquilhos revestidos com metal patente, com lubrificação forçada, o que melhora sua refrigeração e ajuda a manter o filme de óleo entre o eixo e casquilho. São bipartidos horizontalmente e nos casos das máquinas de alta rotação existeum rasgo usinado no casquilho superior que cria uma cunha de óleo forçando o eixo para baixo mantendo-o numa posição estável, isto é, que o munhão flutue sobre uma película de óleo. Os casquilhos dos mancais de apoio podem ser de aço, bronze ou ferro fundido, porém sempre revestidos internamente por uma camada de metal patente. Fig. 2.2.14a - Mancal de deslizamento por lubrificação forçada. Os moentes do eixo (regiões de trabalho dos mancais radiais) devem ser usinados de maneira apresentar um ótimo acabamento superficial, pois qualquer irregularidade poderá prejudicar o formação da cunha de óleo essencial ao bom funcionamento do mancal. Algumas vezes esta região recebe uma deposição eletrolítica de cromo, conhecida como "cromo duro", que permite obter um ótimo acabamento superficial e uma resistência ao desgaste. 22 O mancal de escora é responsável pelo posicionamento axial do conjunto rotativo em relação as partes estacionárias da máquina e, consequentemente, pela manutenção das folgas axiais. Deve ser capaz de verificar ao empuxo axial atuante sobre o conjunto rotativo da máquina, que é mais acentuado nas turbinas de reação. Em turbinas de pequena potência o mancal de escora resume-se a apenas um rolamento em consequência do esforço axial ser pequeno. Para as turbinas de uso especial, usa-se mancais de deslizamento, que consiste em dois conjuntos de pastilhas oscilantes (tilting pads), revestidas de metal patente, que se apoiam um em cada lado de uma peça solitária ao eixo, o colar (anel) de escora. Como os casquilhos dos mancais radiais, as pastilhas oscilantes dos mancais são também revestidos de metal patente. O colar de escora, sobre o qual se apoiam as pastilhas, pode ser integral com o eixo ou não. No primeiro caso seu material será obviamente igual ao do eixo. No segundo caso o colar de escora poderá ser de material diferente, ou receber um tratamento térmico diferente, visando aumentar sua dureza e diminuir seu desgaste. 23 2.3. Sistema de lubrificação O sistema de lubrificação forçada é fundamental para a lubrificação dos mancais e a regulagem das válvulas de vapor servo-assistidas. Neste sistema estão contidos elementos responsáveis pela alimentação, filtragem, armazenamento, resfriamento e monitoração do óleo da turbina. O óleo de circulação possui duas funções básicas, as quais são lubrificar os mancais hidrodinâmicos da turbina e atuar no sistema de regulagem e segurança. Posteriormente serão discutidos os componentes dos sistemas de regulagem e segurança. Os equipamentos serão descritos de acordo com o caminho de circulação de óleo. 2.3.1. Tanque de óleo Responsável pelo armazenamento do óleo circulante, este deve possuir uma capacidade suficiente para que o óleo seja resfriado em tempo hábil, e o demande a uma velocidade de escoamento admissível a fim de evitar a perda das características lubrificantes. Os tanques de óleo são dispostos em duas possíveis configurações. Podem fazer parte do quadro base da turbina e da máquina acionada, ficando o tanque então embaixo destes. É possível também o tanque ser separado do quadro base da turbina. 2.3.2. Exaustor de névoa O óleo, devido à constante circulação, tem a tendência de espumar quando retorna ao tanque. Esta espuma, chamada de névoa de óleo, é bombeada junto com o óleo de circulação, prejudicando em muito a lubrificação e a regulagem. Para evitar a formação desta névoa, é implantado um exaustor sobre o tanque de óleo, de modo a expelir o ar contido na espuma para a atmosfera. 24 2.3.3. Trocador de calor O trocador de calor é indispensável para o resfriamento do óleo dos mancais, que se aquecem devido à alta temperatura (até 90 oC) do metal patente. Como a função do óleo de circulação é, além de formar a película hidrodinâmica para os mancais, refrigerar e evitar altas temperaturas, é necessário que haja um constante resfriamento deste. O trocador de calor normalmente é posicionado após o tanque de óleo. Em turbinas, onde não se deve parar o funcionamento do sistema em caso de manutenção, costuma-se utilizar trocadores duplos, onde um é reserva do outro. Em caso de problemas com o ativo, basta acionar uma válvula para direcionar o óleo para o trocador reserva, para que seja feita a manutenção do equipamento defeituoso. 2.3.4. Filtro de óleo Com o natural desgaste do equipamento, eventuais impurezas podem contaminar o óleo de lubrificação, como por exemplo lascas de metal da tubulação. Para evitar tais problemas utiliza-se um filtro de óleo, o qual impede a passagem de impurezas para o corpo dos mancais. Os filtros possuem uma malha de filtragem de metal, com dois possíveis graus de filtragem (10 ou 25 microns). Assim como nos trocadores, é comum o uso de filtros duplos para uma manutenção sem interrupção de funcionamento. 2.3.5. Válvula redutora e placas de orifício O óleo de circulação é bombeado a um certo valor de pressão, necessária para a adequada circulação. Esta pressão é muito alta para ser transmitida diretamente para os mancais. Ainda, em caso de trip, o óleo de circulação deve ser desviado de volta para o tanque de óleo. Através de uma válvula redutora de pressão, situada após o filtro, o óleo é reduzido até a uma pressão menor, para ser conduzido até os mancais ou para retornar ao tanque. A redução de pressão é necessária pois o óleo de retorno deve ter a mesma pressão que o tanque. Após a válvula redutora, o óleo ainda passa por placas de orifício. Também conhecidas como orifícios de restrição, as placas de orifício são malhas com orifícios, os quais reduzem um pouco mais a pressão do óleo em sua passagem, a níveis adequados para a lubrificação dos mancais. 2.3.6. Bombas de circulação de óleo O óleo é circulado pelo sistema através de uma bomba hidráulica, a 25 uma certa pressão de recalque de modo que o óleo possa ser utilizado tanto para a lubrificação quanto para a regulagem, utilizando válvulas redutoras e orifícios de restrição. Como este equipamento é fundamental para o funcionamento do sistema de óleo, normalmente existem três diferentes bombas em turbinas: a) Bomba principal: acionada pelo eixo de baixa rotação do redutor. Em caso de turbinas com acionamento direto, a altas rotações (compressores segundo normas API), a bomba deve ser acionada por uma turbina a vapor, destinada exclusivamente para esse fim. b) Bomba auxiliar: em caso de falha da bomba principal, quando há queda na pressão da linha, um sinal elétrico aciona a bomba auxiliar, acionada por um motor elétrico de corrente alternada. c) Bomba de emergência: se a bomba auxiliar também falhar, uma bomba de emergência acionada por um motor de corrente contínua é responsável para suprir óleo para os mancais, durante o trip da máquina. Dimensionada para uma parcela da vazão total, esta só funciona para o período de desarme. 2.3.7. Bomba de elevação de rotor Esta bomba, também conhecida como jacking oil pump, é utilizada em grandes turbinas onde o peso do rotor é muito grande. Como consequência, durante a partida ou parada, somente com o sistema de óleo não há pressão suficiente para garantir o filme de óleo necessário à ação hidrodinâmica, havendo risco de se ter a decapagem dos casquilhos dos mancais. Em adição, o giro-lento torna-se muito grande devido ao alto torque necessário. A bomba de elevação do rotor capta uma pequena porção de óleo do circuito de lubrificação e direciona a uma bomba de alta pressão. Esta envia o óleo diretamente aos mancais da turbina, e quando necessário, aos mancais do gerador ou máquina acionada, elevando o(s) rotor(es) e assim garantindo a formação do filme de óleo. Sua atuação é sincronizada com o dispositivo de giro-lento, tanto na partida quanto na parada. 26 2.4. Sistema de regulagem e segurança Naturalmente, para desarmar uma turbina em caso de emergência, não basta simplesmente bloqueara passagem de vapor. Como já foi visto, deve-se manter a lubrificação dos mancais via bomba elétrica em caso de falha, entre outras medidas. O sistema de trip da turbina é responsável pela segurança do equipamento como um todo, evitando que qualquer anomalia advinda de vibrações excessivas, altas temperaturas ou mesmo de fontes externas (por exemplo, caso ocorram problemas semelhantes com a máquina acionanda) possam danificar a máquina, causando grandes prejuízos materiais e físicos (dependendo da gravidade do problema). Assim, um conjunto de sensores, pressostatos e termostatos conectados às mais diversas partes da turbina, monitoram constantemente o comportamento daquelas variáveis que poderão eventualmente ser a causa de algum problema. O trip ou desarme de emergência pode ser acionado pelas seguintes fontes, dentre outras: • Sobrevelocidade do eixo da turbina; • Pressão de lubrificação insuficiente nos mancais; • Pressão de escape alta; • Temperatura do metal patente dos mancais alta; • Excesso de vibração radial e/ou deslocamento axial do eixo. O desarme pode ser também manual via botoeira que controla a válvula solenóide ou via chave comutadora localizada na tubulação de óleo que alimenta a válvula de fecho-rápido. Seguem abaixo os principais instrumentos e equipamentos de controle e segurança de uma turbina a vapor. 2.4.1. Termômetros Utilizados para monitoração local, eles são colocados diretamente nos poços usinados na turbina, e seu sinal lido por um ponteiro. As variáveis geralmente monitoradas são: • Temperatura de óleo nos mancais de turbina, redutor e gerador; • Temperatura no tanque de óleo; • Temperatura para o sistema de selagem. 27 2.4.2. Manômetros Também para monitoração local, estes são colocados no próprio ponto de medição, ou em um suporte local de instrumentos através de um capilar, que envia mecanicamente o sinal de presão desde o ponto de medição até o instrumento. Estes medem a pressão principalmente nos seguintes pontos de interesse: • Pressão de vapor para sistema de selagem; • Pressão de óleo após bombas de circulação. 2.4.3. Resistance temperature detectors (RTD´s) Os RTD´s são conversores de sinal, os quais transformam um sinal de temperatura para um valor de resistência elétrica. Utilizados para transmissão de sinal para uma indicação digital de temperatura, se aplicam para faixas de temperatura relativamente baixas (até 100 oC). Como principais aplicações temos: • Temperatura do metal patente nos mancais; • Temperatura de óleo antes do resfriador de óleo; • Temperatura de óleo após o resfriador de óleo. 2.4.4. Termopares Semelhantes aos RTD´s, os termopares convertem um sinal de temperatura em tensão elétrica, com maior resistência ao calor e precisão a altas temperaturas. São utilizados para medições de vapor, com transmissão de sinal para um indicador digital. Como aplicações temos: • Temperatura de vapor vivo; • Temperatura de vapor de extração; • Temperatura de vapor de escape. 2.4.5. Transmissores de pressão Utilizados no lugar dos manômetros, os transmissores de pressão convertem o sinal de pressão em um sinal elétrico, transmitindo a informação para um indicador digital. Aplicados geralmente em: • Pressão de vapor vivo; • Pressão de vapor na câmara da roda de regulagem (em turbinas multiestágio); • Pressão de vapor de extração; 28 • Pressão de de vapor de escape; • Pressão de óleo após filtro (óleo de impulso P1); • Pressão de óleo após válvula redutora (óleo de lubrificação); • Pressão de óleo para servo-motor (óleo de regulagem P3). 2.4.6. Transmissores de temperatura Estes elementos tem como finalidade converter os sinais de resistência vindos dos RTD e/ou termopares em sinal de corrente em 4 a 20 mA. Estes sinais permitem uma maior precisão e melhor gerenciamento do sinal, que podem ser repetidos diretamente dos transmissores até um sistema supervisório digital de controle (SDCD). Os sinais são os mesmos já mencionados para os RTD’s e termopares. 2.4.7. Indicadores digitais São os dispositivos de recepção dos sinais vindos dos RTD´s, termopares e transmissores de pressão e temperatura. Estes convertem os sinais elétricos em valores digitais, informados na tela do aparelho. A preferência por sinais elétricos é justificada pela transmissão de sinal para um painel de instrumentos, ao invés do suporte local. Ainda, este sinal elétrico pode ser passado para um SDCD. Os sinais de temperatura podem vir tanto de transmissores quanto diretamente dos RTD´s ou termopares. A diferença é que a repetição de sinal fica restrita somente ao indicador no segundo caso, enquanto que no primeiro caso os sinais podem ser repetidos diretamente do transmissor local. Ainda pode-se desejar uma melhor precisão na detecção da temperatura, e para isto se utilizam os transmissores como transdutores auxiliares. Os sinais indicados são os mesmos já citados na instrumentação dos RTD´s, termopares e transmissores de pressão e temperatura. 2.4.8. Pressostatos e termostatos Os pressostatos e termostatos são instrumentos que emitem um sinal elétrico quando a variável a ser medida alcança um valor pré- determinado. Portanto, servem para detectar quando uma pressão está demasiado baixa ou uma temperatura está muito alta, por exemplo. Estes instrumentos emitem o sinal para um alarme ou para uma válvula solenóide responsável pelo trip da turbina. Os principais pressostatos e termostatos para uma turbina a vapor são os seguintes: 29 Função Local Atuação Baixa pressão de impulso (P1) Após filtro Liga bomba auxiliar Muito baixa pressão de lubrificação Antes dos mancais Alarme Liga bomba de emergência Sinal de trip Alta pressão de vapor de escape Flange de escape Alarme Sinal de trip Alta temperatura metal patente dos mancais RTD’s mancais Alarme Sinal de trip Alta pressão diferencial Filtro de óleo Alarme Alta temperatura óleo Trocador de calor Alarme Normalmente quando já há transmissão de pressão ou temperatura nos pontos de interesse, são utilizados os próprios transmissores de pressão e temperatura para o envio do sinal, ao invés de pressostatos ou termostatos. 2.4.9. Sistema de monitoração de vibração Em função das turbinas de reação funcionarem a rotações mais altas, muitas vezes existem problemas quanto à vibração radial e axial. A vibração excessiva resulta em elevado nível de ruído, desgaste dos mancais e até empenamento do rotor. Em função disso, existe o sistema de monitoração de vibração axial e radial, os quais estão diretamente ligados a sinais de alarme e ao sistema de trip em caso de valores inadmissíveis. Um sensor de vibração conhecido como proximeter, é instalado nos mancais e transmite o sinal a um monitor instalado no painel da turbina. Este monitor processa o sinal e o converte em valor de leitura, geralmente um sinal de amplitude. Em caso de deslocamento axial, os sensores fornecem sinais para medição de distância relativa e não de amplitude de vibração. Para análises mais detalhadas, pode ser utilizado um medidor de ângulo de fase (keyphasor). 2.4.10. Equipamentos do sistema de regulagem e segurança O sistema para controle e proteção da turbina consiste em uma série de equipamentos que, sobre qualquer anomalia detectada pela instrumentação, atuam nas válvulas de admissão e na válvula de fecho rápido. 30 Abaixo segue um breve descritivo de um sistema de regulagem e segurança eletrônico e seus equipamentos. O eixo da turbina possui uma roda dentada em uma de suas extremidades. Um sensor de rotação é direcionado para a roda, de modo a registrar a rotação instantânea e convertê-la em um sinal elétrico. Este sinal é emitido para o regulador de velocidades da turbina. Um sinal de óleo após o filtro é transmitido para um conversor eletro- hidráulico (CPC), responsável para converter o sinal elétricodo regulador de velocidades em impulso de óleo; o outro sinal, para transmitir para uma das admissões do servo-motor das válvulas de regulagem. O impulso de óleo vindo do CPC é inserido na outra admissão do servo-motor, de forma que os dois sinais hidráulicos atuam no comando de abertura e fechamento das válvulas. Todo sinal elétrico de trip é transmitido para uma válvula solenóide. Esta solenóide aciona uma válvula direcionadora de fluxo, que desvia o curso do óleo, direcionado para um aparelho de comando. O aparelho de comando é uma bóia tipo fole, a qual permanece cheia de óleo. A ausência de óleo força o aparelho a levantar a bóia, a qual está conectada com a haste da válvula de fecho rápido. 31 2.5. Cálculos termodinâmicos 2.5.1. Expansão isoentrópica De acordo com a Primeira Lei da Termodinâmica, temos para o processo ocorrido na turbina, em regime permanente: ( ) ( )& & & &Q m h V g Z m h V g Z WVC e e e s s s VC+ + + = + + +. . . .2 2 Simplificando de acordo com as hipóteses convenientes (desprezar variação de energia cinética e potencial, não considerar perdas de calor): ( )& & .W m h hVC = −2 0 O processo de expansão isoentrópica do vapor pode ser melhor observado no Diagrama de Mollier, segundo a figura 2.5.1a. h s T0 P0 h0 h1 Fig. 2.5.1a - Expansão isoentrópica no Diagrama de Mollier. Devem ser levados em conta algumas perdas a serem descontadas na estimativa da potência. Todas essas perdas termodinâmicas são representadas pelo rendimento interno da turbina, ηi. 32 2.5.2. Perdas termodinâmicas e mecânicas Algumas perdas são significativas e devem ser estimadas para o cálculo da eficiência da turbina. Segue abaixo as principais causas de perda de eficiência em turbinas a vapor. • Perdas no bloco de válvulas de admissão O vapor, antes de ser introduzido entre o segmento de injetores, passa pelas válvulas de admissão da turbina, as quais controlam o fluxo necessário de operação. Como o processo de controle baseia-se em estrangulamento da secção de admissão, existem perdas de velocidade e pressão do vapor, mas a energia disponível não se perde. O processo se resume a uma pequena queda entálpica, seguida de um ganho de entalpia a pressão constante até o mesmo valor de entalpia anterior (ver gráfico em figura 2.5.2a). A pressão a ser utilizada para os cálculos será P1 ao invés de P0. h P0 h0 Perda entálpica nas válvulas P1 Fig. 2.5.2a - Processo de perda no bloco de válvulas de admissão. • Perdas na saída das palhetas Se toda a energia cinética do vapor fosse convertida em movimento na sua passagem pelas palhetas, teríamos aproveitamento total desta energia. Porém, isto é impossível, já que o vapor sai da turbina com uma certa velocidade. Este vapor é então considerado como uma quantidade de energia que se perde. 33 • Perdas por atrito e ventilação O vapor, passando pela roda palhetada, produz efeitos indesejáveis como o atrito de fricção tangencial na roda, e turbulências devido à rotação no topo das palhetas. Esses efeitos produzem perdas de energia do vapor, chamadas de perdas por atrito e ventilação. • Perdas por fuga de vapor A turbina possui entre seus mancais, dispositivos de modo a impedir que ocorram perdas de água ou vapor por estes. São os labirintos de selagem, os quais consistem em um caminho sinuoso o qual o vapor de fuga adentra, e é condensado com os choques nas paredes. Este condensado é recolhido por canais (ver figura 2.5.2b). Logicamente, este vapor não está sendo aproveitado para gerar energia, e isto é então considerado como uma perda. Entrada de vapor de fuga Retorno de condensado Saída de vapor de fuga Fig. 2.5.2b - Esquema de funcionamento de labirinto de selagem. • Perdas mecânicas A turbina, como todo equipamento mecânico, não transmite integralmente os esforços devido à perda de potência nos mancais, já que eventualmente ocorrem contatos metal-metal e dissipação de calor. Para turbinas, essas perdas são de certo modo significativas, e devem ser levadas em conta. 34 2.5.3. Expansão real Considerando os rendimentos devido às perdas termodinâmicas e mecânicas ilustradas anteriormente, podemos escrever: ( )& & . . .W m h hVC i m= −2 0 η η Este processo pode ser observado no Diagrama de Mollier na figura 2.5.3a. h s T1 P1 h0 h2 P0 P2 h2´ Expansão isoentrópica Expansão real Fig. 2.5.3a - Expansão real no Diagrama de Mollier.
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