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Métodos Instrumentais de Análise São Cristóvão/SE 2011 Elisangela de Andrade Passos Elaboração de Conteúdo Elisangela de Andrade Passos Passos, Elisangela de Andrade P289m Métodos instrumentais de análise / Elisangela de Andrade Passos. – São Cristóvão : Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2011. 1. Química analítica - Instrumentos. 2. Espectrofotometria. 3. Análise cromatográfi ca. I. Título. CDU 543 Copyright © 2011, Universidade Federal de Sergipe / CESAD. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização por escrito da UFS. FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Métodos Instrumentais de Análise Projeto Gráfi co Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo Capa Hermeson Alves de Menezes Diagramação Neverton Correia da Silva Presidente da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Fernando Haddad Diretor de Educação a Distância João Carlos Teatini Souza Clímaco Reitor Josué Modesto dos Passos Subrinho Vice-Reitor Angelo Roberto Antoniolli Chefe de Gabinete Ednalva Freire Caetano Coordenador Geral da UAB/UFS Diretor do CESAD Antônio Ponciano Bezerra coordenador-adjunto da UAB/UFS Vice-diretor do CESAD Fábio Alves dos Santos Diretoria Pedagógica Clotildes Farias de Sousa (Diretora) Diretoria Administrativa e Financeira Edélzio Alves Costa Júnior (Diretor) Sylvia Helena de Almeida Soares Valter Siqueira Alves Coordenação de Cursos Djalma Andrade (Coordenadora) Núcleo de Formação Continuada Rosemeire Marcedo Costa (Coordenadora) Núcleo de Avaliação Hérica dos Santos Matos (Coordenadora) Núcleo de Tecnologia da Informação João Eduardo Batista de Deus Anselmo Marcel da Conceição Souza Raimundo Araujo de Almeida Júnior Assessoria de Comunicação Guilherme Borba Gouy Coordenadores de Curso Denis Menezes (Letras Português) Eduardo Farias (Administração) Paulo Souza Rabelo (Matemática) Hélio Mario Araújo (Geografi a) Lourival Santana (História) Marcelo Macedo (Física) Silmara Pantaleão (Ciências Biológicas) Coordenadores de Tutoria Edvan dos Santos Sousa (Física) Raquel Rosário Matos (Matemática) Ayslan Jorge Santos da Araujo (Administração) Carolina Nunes Goes (História) Viviane Costa Felicíssimo (Química) Gleise Campos Pinto Santana (Geografi a) Trícia C. P. de Sant’ana (Ciências Biológicas) Vanessa Santos Góes (Letras Português) Lívia Carvalho Santos (Presencial) Adriana Andrade da Silva (Presencial) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Cidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos” Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze CEP 49100-000 - São Cristóvão - SE Fone(79) 2105 - 6600 - Fax(79) 2105- 6474 NÚCLEO DE MATERIAL DIDÁTICO Hermeson Alves de Menezes (Coordenador) Marcio Roberto de Oliveira Mendonça Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo AULA 1 Princípios de Instrumentação Química.............................................. 07 AULA 2 Espectrofotometria de absorção molecular na região do UV–VIS .... 17 AULA 3 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS .............. 33 AULA 4 Espectroscopia de emissão na região do UV-VIS ............................. 49 AULA 5 Espectrometria de massas ................................................................ 63 AULA 6 Métodos eletroanalíticos – Parte I. .................................................... 79 AULA 7 Métodos eletroanalíticos – Parte II........................................................97 AULA 8 Cromatografi a – Introdução, classifi cação e princípios básicos .......113 AULA 9 Cromatografi a gasosa, cromatografi a líquida e suas aplicações .... 123 AULA 10 Preparo de amostras para análise instrumental .............................. 135 AULA 11 Prática 01 - Introdução ao trabalho no laboratório de Química Analíca Instrumental.......................................................... 149 AULA 12 Prática 02 – Espectrofotometria de absorção molecular no UV–VIS: operação e resposta do espectrofotômetro........................................155 AULA 13 Prática 03 – Espectrofotometria de absorção molecular no UV–VIS: lei de beer. ................................................................... 161 Sumário AULA 14 Prática 04 - Titulação potenciométrica de uma solução de ácido clorídrico com hidróxido de sódio. .................................... 167 AULA 15 Prática 05 - Cromatografi a. ............................................................. 171 Aula 1 Elisangela de Andrade Passos PRINCÍPIOS DE INSTRUMENTAÇÃO QUÍMICA META Apresentar os fundamentos da química analítica; apresentar os métodos instrumentais; apresentar a calibração de um instrumento. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: defi nir química analítica; classifi car e defi nir os métodos analíticos; classifi car e defi nir os métodos instrumentais; entender a seleção de um método analítico; analisar a calibração de métodos instrumentais; defi nir de sinais, ruídos e razão sinal-ruído. PRÉ-REQUISITOS Saber os fundamentos de química analítica. 8 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Nesta aula será defi nido o conceito de química analítica, diferenciado analítica qualitativa da quantitativa e classifi cados e subclassifi cados os métodos analíticos. Ainda serão apresentados os tipos de métodos instru- mentais e demonstrada como calibrar um método. Por fi m, será apresentada a defi nição de sinais, ruídos e razão sinal-ruído. Ao fi nal desta aula, você deverá saber defi nir química analítica, dis- tinguir entre a análise qualitativa e quantitativa e classifi car e subclassifi car os métodos analíticos. Você será capaz de descrever os parâmetros de desempenho de um instrumento e, por fi m, compreender a importância da razão sinal-ruído. INTRODUÇÃO A QUÍMICA ANALÍTICA A química analítica é a ciência que estuda os princípios e métodos teóricos da análise química. A análise química consiste em um conjunto de técnicas que permite identifi car quais os componentes que se encontram presentes em uma determinada amostra e sua quantidade. Esta é dividida em análise qualitativa e análise quantitativa. A análise qualitativa consiste em identifi car os componentes de uma amostra. Já a análise quantitativa permite determinar a quantidade dos componentes de uma amostra. As substâncias identifi cadas e quantifi cadas são chamadas de analitos e os locais de onde foram retiradas estas amostras são chamados de matriz. CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS ANALÍTICOS Os métodos analíticos são classifi cados em clássicos ou instrumentais. Esta classifi cação é histórica, com os métodos clássicos precedendo os instrumentais por um século ou mais. MÉTODOS CLÁSSICOS Os métodos clássicos são subclassifi cados em métodos gravimétricos e volumétricos. Os métodos gravimétricos determinam a massa do analito ou de algum composto quimicamente a ele relacionado. No método volu- métrico mede-se o volume da solução contendo reagente em quantidade sufi ciente para reagir com todo analito presente. Nestes métodos envolvem reações químicas, dissolução, extração e estequiometria. Quando realizadas corretamente apresentam elevada exatidão e precisão, às vezes até superiores aos métodos instrumentais, embora sejam mais demoradas. É hoje, muitas 9 Princípios de Instrumentação Química Aula 1 vezes, a saída para laboratórios de pequeno porte já que um dos instru- mentos utilizados em uma análise química clássica é uma balança analítica. Os métodos clássicos para separação e determinação de um analito ainda continuam sendo usados em vários laboratórios, entretanto, suas aplicações estão se restringindo com o avanço tecnológico dos processos. Nos primórdios da Química as análises eram realizadas através da separação do componente de interesse (analito) em uma amostra por precipitação, extração oudestilação. MÉTODOS INSTRUMENTAIS Os métodos analíticos instrumentais consistem na medida das pro- priedades físicas do analito, tais como condutividade, potencial de eletrodo, absorção ou emissão de luz, razão massa/carga e fl uorescência. Nestes métodos envolvem a utilização de equipamentos sofi sticados, mas também pode envolver reações químicas em algumas etapas. Muitas vezes são me- nos precisas do que os métodos clássicos, embora sejam mais rápidos. São utilizados na quantifi cação e identifi cação dos constituintes minoritários. Os químicos começaram a explorar outros fenômenos relacionados com as propriedades dos analitos nos anos 30, mais precisamente na metade. A medida das propriedades físicas do analito começou a ser empregada para análise quantitativa de uma variedade de analitos orgânicos, inorgânicos e bioquímicos. Um pouco mais tarde, surgiram as técnicas cromatográfi cas que substituíram a destilação, extração e precipitação de componentes em misturas complexas, antes da determinação qualitativa ou quantitativa. Estes novos métodos para separação e determinação de espécies químicas são conhecidos em conjunto como Métodos Instrumentais de Análise. A Figura 1 mostra a classifi cação e subclassifi cação dos Métodos Analíticos. Classifi cação e subclassifi cação dos Métodos Analíticos. 10 Métodos Instrumentais de Análise TIPOS DE MÉTODOS INSTRUMENTAIS A Tabela 1 mostra uma relação entre o método instrumental e o sinal empregado para caracterizá-lo. Tabela 1. Sinais empregados nos métodos analíticos. Sinal Emissão de Radiação Absorção de Radiação Espalhamento de Radiação Refração de Radiação Difração de Radiação Rotação de Radiação Potencial Elétrico Carga Elétrica Corrente Elétrica Resistência Elétrica Razão Massa/Carga Velocidade de Reação Propriedades Térmicas Radioatividade Método Instrumental Espectroscopia de Emissão (raio-X, UV, visível, elétron) Fluorescência, Fosforescência e Luminescência (raio-X, UV, visível). Espectrofotometria e Fotometria (raio-X, UV, visível, IV), Espectroscopia Fotoacustica, Ressonância Nuclear Magnética e espectroscopia de Ressonância Elétron Spin. Turbidimetria, Nefelometria, Espectroscopia Raman. Refratometria, interferometria. Raio-X e Métodos de Difração de Elétron. Polarímetro Potenciometria e Cronopotenciometria. Coulometria. Polarografi a, Amperometria. Condutometria. Espectrometria de Massa. Métodos Cinéticos. Condutividade térmica e Métodos Entalpimétricos. Métodos de ativação e diluição de isótopos. 11 Princípios de Instrumentação Química Aula 1 SELEÇÃO DE UM MÉTODO ANALÍTICO O método analítico selecionado deve ser efi ciente, sempre que pos- sível, simples, rápido; não deve implicar em danos aos materiais em que as amostras serão tratadas e analisadas; não deverá ser passível de erros sistemáticos (perdas por volatilização e adsorção, riscos de contaminações, etc.); a seletividade deve ser conhecida; deverá se empregado com mínima manipulação e, os resultados serão obtidos com a máxima segurança op- eracional. Idealmente, a escolha deverá ser feita por um método devidamente validado. O método validado estabelece quais os analitos que poderão ser determinados, especifi cando-se a matriz ou as matrizes e os riscos de interferências, ou seja, fornece as condições apropriadas para a obtenção dos resultados que possibilitem a solução do problema. Para seleção de um método analítico é essencial defi nir claramente a natureza do problema analítico. CALIBRAÇÃO DE MÉTODOS INSTRUMENTAIS A calibração é uma etapa fundamental na medida. Ela pode ser analisada através do desempenho de um instrumento. Os critérios de desempenho característico de um instrumento, critérios estes que podem ser usados para decidir se um método instrumental é ou não apropriado para resolver determinado problema analítico, são classifi cados em precisão, bias, sensi- bilidade, limite de detecção, faixa de concentração e seletividade. PRECISÃO A precisão pode ser defi nida como sendo a medida da reprodutibilidade de um experimento. Em outras palavras, é a proximidade dos resultados em relação aos demais, obtidos exatamente da mesma forma. BIAS Bias é a medida do erro sistemático, dada pela equação 01: txbias −μ= (01), onde μ é concentração média de um analito em uma amostra que tem uma concentração verdadeira de xt. 12 Métodos Instrumentais de Análise SENSIBILIDADE A sensibilidade é indicada pela capacidade do equipamento em medir a menor concentração possível do analito. Dois fatores limitam a sensibilidade: a inclinação da curva de calibração e a reprodutibilidade ou precisão dos dispositivos de medida. Quando dois métodos apresentam a mesma pre- cisão, o método que apresentar a maior inclinação na curva será escolhido. LIMITE DE DETECÇÃO A defi nição mais usual para limite de detecção é que este é dado pela menor concentração do analito que pode ser detectado em um nível con- fi ança preestabelecido. FAIXA DE CONCENTRAÇÃO A faixa de concentração é aquela até onde permanece ou apresenta a linearidade da curva de calibração, conforme mostra a Figura 2. Faixa de concentração usual de um método analítico 13 Princípios de Instrumentação Química Aula 1 SELETIVIDADE A seletividade refere-se ao quanto o método aplicado a determinado analito está livre de interferências de outras espécies contidas na amostra. Os critérios de desempenho de um instrumento estão apresentados na Tabela 3 e podem ser defi nidos e relacionados como seguem: Tabela 3. Critérios numéricos e características para seleção de um método analítico. Critérios Precisão Bias Sensibilidade Limite de Detecção Faixa de Concentração Seletividade Características Desvio Padrão Absoluto, Desvio Padrão Relativo, Coefi ciente de Variação, Variância. Erro Sistemático Absoluto, Erro Sistemático Relativo. Sensibilidade de Calibração, Sensibilidade Analítica. Desvio Padrão do Branco Limite de Quantifi cação, Limite de Linearidade. Coefi ciente de Seletividade Além disso, outras características devem ser consideradas na escolha do método a ser empregado, são elas: velocidade facilidade e conveniência, habilidade requerida do operador, custo e disponibilidade de equipamentos e, custo por amostra. SINAIS, RUÍDO E RAZÃO SINAL-RUÍDO O sinal de saída de um instrumento analítico fl utua de uma forma aleatória. Essas fl utuações limitam a precisão do instrumento e representam o resultado de um grande número de variáveis incontroláveis do instru- mento e do sistema químico em estudo. O termo ruído é empregado para descrever essas fl utuações e cada variável não controlada é uma fonte de ruído. Sendo assim, o valor médio da saída de um instrumento é camada 14 Métodos Instrumentais de Análise de sinal e o desvio padrão do sinal é a medida do ruído. A relação sinal-ruído é geralmente defi nida como a razão entre o valor médio do sinal de saída e o desvio padrão. À medida que os instrumentos modernos tem se tornado mais computadorizados e controlados por circui- tos eletrônicos sofi sticados, muitos métodos tem sido desenvolvidos para se aumentar a razão sinal-ruído das saídas dos instrumentos. LEIA MAIS Para compreender melhor as informações acima leiam o artigo intitu- lado “A espectroscopia e a química da descoberta de novos elementos ao limiar da teoria quântica“ que está disponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias do texto. CONCLUSÃO Nessa sessão foi reapresentada a defi nição de química analítica e sua classifi cação em qualitativa e quantitativa, empregando métodos clássicos ou instrumentais. Os métodos analíticos instrumentais consistem na medida das propriedades físicas do analito, tais como condutividade, potencial de eletrodo, absorção ou emissão de luz, razão massa/carga e fl uorescência. Para seleção de um método analítico é essencial defi nir claramente a natureza do problema analítico.Na calibração são analisados os critérios do desempenho de um instrumento e são classifi cados em precisão, bias, sensibilidade, limite de detecção, faixa de concentração e seletividade. O sinal analítico é o valor médio da saída de um instrumento e o desvio padrão do sinal é a medida do ruído. A relação sinal-ruído é geralmente defi nida como a razão entre o valor médio do sinal de saída e o desvio padrão. RESUMO A química analítica é a ciência de medição e caracterização química. Esta é usada para identifi car os componentes presentes em uma amostra (análise qualitativa) e determinar as quantidades exatas dos componentes identifi cados (análise quantitativa). Os métodos analíticos são divididos em clássicos e instrumentais (objetivo dessa disciplina). Os métodos clássicos são baseados na medida da massa (gravimetria) e volume (volumetria) e os métodos instrumentais são baseados na medida de uma propriedade física. O método analítico selecionado deve ser efi ciente, sempre que possível, simples, rápido e de baixo custo. O desempenho de um instrumento pode 15 Princípios de Instrumentação Química Aula 1 ser usado para decidir se um método instrumental é ou não apropriado para resolver determinado problema analítico. Estes são classifi cados em precisão, bias, sensibilidade, limite de detecção, faixa de concentração e seletividade. ATIVIDADES O bafômetro é um instrumento de medida do teor de álcool no or- ganismo. Como isso ocorre? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES A concentração de álcool gasoso exalada ao soprar um bafômetro é diretamente relacionada à concentração de álcool no sangue. Essa medida vem sendo amplamente usada para defi nir se uma pessoa está ou não sob infl uencia de álcool. No Brasil, foi estabelecido se o teor de álcool no sangue for superior a 0,2 mg L-1 o individuo está incapaz de conduzir um veículo. Existem quatro tipos de dosadores de álcool: (1) tipo indicador, que envolve mudança de cor de um reagente, (2) tipo células combustíveis, onde o etanol é oxidado em CO2 e água, (c) tipo absorção de radiação infravermelha (IR), onde é aplicado feixes radiação IR sob uma célula contendo gás contendo álcool e componentes orgânicos, e (d) tipo sensor à base de um semicondutor, onde o álcool é adsorvido na superfície de um semicondutor. AUTO-AVALIAÇÃO - Entendo a defi nição de química analítica? - Consigo classifi car e defi nir os métodos analíticos? - Consigo classifi car e defi nir os métodos instrumentais? - Sou capaz de entender a seleção de um método analítico? 16 Métodos Instrumentais de Análise PRÓXIMA AULA Na próxima aula iremos abordar acerca da Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV-VIS. REFERÊNCIAS HARRIS, D. Analise Química Quantitativa. Ed. LTC, 5 ed.; Rio de Janeiro, 2001. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. CHRISTIAN, G.D. Analytical Chemistry, 6 ed. Ed. John Wiley & Sons Inc, EUA, 2004. Filgueiras, C.A.L. A espectroscopia e a química da descoberta de novos el- ementos ao limiar da teoria quântica. Química Nova na Escola, n. 3, 1996. Aula 2 Elisangela de Andrade Passos ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORÇÃO MOLECULAR NA REGIÃO DO UV–VIS META Apresentar a natureza da energia radiante e as regiões espectrais; apresentar as medidas de transmitância e absorbância; apresentar as fontes de radiação e monocromadores; apresentar a lei de Beer – Lambert; apresentar a instrumentação: espectrofotômetros e fotômetros; apresentar as aplicações da espectrofotometria de absorção molecular no UV-VIS. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: reconhecer as regiões espectrais e seus respectivos comprimentos de onda; diferenciar entre energia transmitida e absorvida; interpretar a Lei de Beer – Lambert; identifi car a instrumentação analítica relacionada a Espectrofotometria; aplicar a Espectrofotometria de Absorção Molecular no UV–VIS em análises qualitativas e quantitativas. PRÉ-REQUISITOS Conhecimentos em estrutura atômica e molecular. 18 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na aula anterior foi introduzido o conceito sobre metodologias analíti- cas e instrumentações. Foi contextualizada a seleção de uma metodologia analítica, a instrumentação envolvida e o processo de calibração instrumental para aplicação da metodologia em um processo analítico quantitativo. Nesta aula trataremos da Espectrofotometria de absorção molecular no Ultravioleta–Visível (UV–VIS), a qual utiliza as propriedades de inte- ração da matéria com a radiação eletromagnética (luz) para se determinar características qualitativas e quantitativas de um analito. A toda técnica que empregue luz para determinar estas características de espécies químicas pode ser chamada de espectrofotometria. Das muitas interações (físicas e em alguns casos químicas) entre a matéria e a luz estudaremos a absorção e emissão. NATUREZA DA RADIAÇÃO A base da espectrofotometria foi a colorimetria. Inicialmente a cor de uma solução podia ser utilizada na identifi cação de uma espécie (análise qualitativa), enquanto que a intensidade da cor era utilizada na determinação da concentração desta espécie (análise quantitativa). Esta técnica foi em- pregada pela primeira vez para compreender a espectroscopia de absorção em análises químicas. A técnica está baseada na passagem de luz branca através de uma solução a qual, por exemplo, apresenta uma coloração ver- melha. A luz branca que é composta por uma gama enorme de radiações, de diferentes comprimentos de onda, e consequentemente diferentes cores, tem as cores complementares ao vermelho, o amarelo e azul, absorvidas pela espécie em solução. Sendo assim, quanto maior a concentração da espécie em solução, mais amarelo e azul será absorvida e maior será a intensidade da coloração vermelha da solução. A radiação eletromagnética pode ser descrita como uma onda (Fig. 1), com propriedades como comprimento de onda, frequência, velocidade e amplitude, a qual não requer suporte para propagar-se, sendo transmitida pelo espaço a velocidade superior a 1 milhão de vezes mais rápida que o som. 19 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 A frequência (ν), que representa o número de oscilações da onda por segundo, cuja unidade é o Hertz (Hz), pode ser relacionada com o compri- mento de onda (λ) e a velocidade da luz no vácuo (c) (2,99792 x 108 m s-1) da seguinte forma: (01) A absorção de radiação eletromagnética pela matéria altera sua energia. Esta interação entre a matéria e a radiação eletromagnética é melhor com- preendida se considerarmos que a radiação eletromagnética é composta por partículas energéticas, denominadas Fótons. Quando um fóton atinge a matéria, ele é destruído, e sua energia (E) é absorvida pela mesma. A en- ergia de um fóton, e consequentemente da radiação, é proporcional a sua frequência, através da relação com a constante de Planck (h) (6,626 x 10-34 J s) como mostra a equação 02, com o comprimento de onda conforme equação 03, e com o número de onda (ν) conforme equação 04: (02) (03) (04) O número de onda é outra forma de se descrever a radiação eletromagné- tica, e é defi nido como o número de ondas por centímetro (unidade cm-1), o que equivale ao inverso do comprimento de onda, sendo comumente empregado para descrever a radiação na região do infravermelho. Representação da radiação eletromagnética em relação ao campo elétrico. 20 Métodos Instrumentais de Análise ATIVIDADES Exemplo envolvendo Energia dos Fótons: Uma solução contendo um analito é incidida com radiação eletromagnética com comprimento de onda de 254 nm. Qual será o ganho energético por mol de analito? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES Sabemos que a energia de um fóton é dada por: E = h ν; então: REGIÕES ESPECTRAIS Os olhos humanos podemenxergar apenas a luz visível (VIS), na qual a radiação apresenta um comprimento de onda de 780 a 380 nm. A outra faixa de radiação estudada, a Ultravioleta (UV), inicia em 380 nm e fi naliza em 180 nm. Ambas as radiações possuem energia sufi ciente para excitar elétrons de valência de átomos e moléculas, e consequentemente estão envolvidas com excitações eletrônicas. A esta faixa de radiações com diferentes energias (frequências), e, portanto, de comprimentos de ondas atribui-se o nome de espectro ele- tromagnético. O espectro eletromagnético (Fig. 2) engloba radiações de Ressonância Nuclear Magnética (RMN), com energia na ordem de 10-3 J mol-1, passando por Ressonância de Spin Eletrônica (RSE), Microonda, Infravermelho, Visível e Ultravioleta, Raios X, chegando aos Raios γ, com energia na ordem de 109 J mol-1. Regiões do espectro eletromagnético. 21 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 FONTES DE RADIAÇÃO E LEI DE BEER – LAMBERT As fontes mais comuns de radiação eletromagnética são as lâmpadas de H2 e D2 (160 – 380 nm), tungstênio (320 – 2400 nm) e xenônio (200 – 1000 nm). Fontes térmicas e químicas também são aplicadas em casos específi cos. Quando um analito está sem a ação de nenhum estímulo, ele encontra- se no seu estado fundamental. Quando ele é submetido a uma radiação eletromagnética e absorve um fóton, algumas das espécies do analito so- frem uma transição para um estado de maior energia ou estado excitado. Através deste processo obtemos informações sobre o analito medindo-se a radiação eletromagnética emitida quando ele retorna ao estado funda- mental ou a quantidade de radiação eletromagnética absorvida decorrente da excitação, sendo que a parte da molécula responsável pela absorção de luz chamada de cromóforo. Aos dois processos descritos chamamos de espectroscopia de fotoluminescência ou emissão e espectroscopia de absorção, respectivamente. Na espectroscopia de absorção, a Absorbância (A) de uma solução está relacionada com a transmitância de forma logarítmica (05). (05) A transmitância é defi nida como a fração da luz original que passa pela amostra. Considere um feixe de radiação com potência inicial P0 (Fig. 3), este ao atravessar uma solução contendo uma espécie, absorve fótons e a potência radiante decresce ao nível P. A transmitância será expressa como a equação 06, e a transmitância percentual (%T) conforme equação 07. (06) (07) Portanto a Absorbância pode ser reescrita da seguinte forma: (08) Atenuação de um feixe de radiação por uma solução absorvente. 22 Métodos Instrumentais de Análise Então, quando nenhuma luz é absorvida (P = P0), A será igual a zero. Se 90 % da luz é absorvida, 10 % será transmitida e P = P0/10. Para esta razão, A = 1. Assim, se apenas 1 A este processo está atribuída a Lei de Absorção, também conhecida como Lei de Beer – Lambert. Esta lei nos diz quantitativamente como a grandeza da atenuação depende da concentração das moléculas absorventes (C) e da extensão do caminho (b) sobre o qual ocorre a absorção. A Lei de Beer, como também é chamada, está representada a seguir: (09) A grandeza ε (epsílon) representa a absortividade molar, e é expressa em L mol-1 cm-1, o que torna a Absorbância adimensional. A absortividade molar indica qual a quantidade de luz que é absorvida num determinado comprimento de onda. O caminho óptico (b) é expresso em cm, e a con- centração (C) expressa em mol L-1. MONOCROMADOR Como há a possibilidade de mais de um analito presente na amostra, contribuir para absorção de radiação dentro de uma larga faixa de com- primento de onda, por esta razão usualmente tentamos selecionar um comprimento de onda específi co, onde o analito apresente o maior valor de absortividade molar e/ou que possa ser distinguido dentre os demais interferentes da solução. Para realizar esta seleção são mais comumente empregados os monocromadores. A vantagem dos monocromadores está na possibilidade de selecionar diferentes comprimentos de onda sem a necessidade de modifi cações físicas no instrumento, diferente dos fi ltros de absorção, além da melhor resolução e das limitações de comprimentos de ondas que os fi ltros podem apresentar. No monocromador (Fig. 4), a luz policromática é direcionada por espelho para uma grade de difração, a qual separa a luz nos seus diferentes comprimentos de onda, enviando a outro espelho que direcionará a fenda de saída. A seleção do comprimento de onda é feito através da rotação da grade de difração. 23 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 O primeiro detector em espectroscopia óptica foi o olho humano, que naturalmente possui precisão e sensibilidade limitada quanto à radiação eletromagnética. Modernos detectores usam sensíveis transdutores para converter sinais baseados em fótons em sinais elétricos, sendo os mais comuns os fototubos e os fotomultiplicadores. ATIVIDADES Exemplo envolvendo Absorbância, Transmitância e Lei de Beer: Determine o percentual de luz que emerge (%T) de uma solução 0,00240 mol L-1 de uma substância com coefi ciente de absortividade molar de 313 L mol-1 cm-1 numa célula com 20 mm de caminho óptico. COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES Através da Lei de Beer será possível determinar a Absorbância da solução. Para isto precisamos da concentração molar da solução, da absortividade molar e do caminho óptico. Todos em unidades que levem a um valor adimensional, como mostrado a seguir: A = ε b C = (313 L mol-1 cm-1) (2 cm) (0,00240 mol L-1) = 1,50 Sendo: A = - log T; T = 10-A = 10- 1,50 = 0,0316 Então: %T = T x 100 = 3,16 % Apenas 3,16 % da luz incidente emergem da solução. Esquema típico de monocromador com dispersão de radiação por grade de difração. 24 Métodos Instrumentais de Análise OS LIMITES DA LEI DE BEER Existem poucas exceções para o comportamento linear entre a absor- bância e o caminho óptico a uma concentração fi xa. Contudo observamos os desvios da proporcionalidade direta entre a absorbância e a concentração, quando o caminho óptico b é mantido constante. Limitações reais: A Lei de Beer descreve o comportamento da absorção somente para soluções diluídas. Para concentrações que excedem 0,01 mol L-1, a distância média entre os íons ou moléculas da espécie absorvente diminui a ponto de que cada partícula afeta a distribuição de carga, e assim a extensão da absorção das suas vizinhas, afetando diretamente na relação linear absorbância x concentração. Efeito similar pode ocorrer em soluções diluídas que apresentam altas concentrações de outras espécies, como por exemplo, eletrólitos. Limitações aparentes: Desvios químicos - aqueles que ocorrem devido à associação ou dissocia- ção da espécie absorvente ou então o constituinte não é completamente convertido em uma única espécie absorvente; Desvios Instrumentais - i) são desvios que ocorrem devido ao instrumento utilizado na medição da absorbância. ii) Largura fi nita da faixa espectral escolhida; iii) Radiação estranha refl etida dentro do equipamento que alcançou o detector; iv) Variação da resposta do detector; v) Flutuação da intensidade da fonte. ESPECTROFOTÔMETROS E FOTÔMETROS Os componentes básicos dos instrumentos analíticos para a espec- troscopia de absorção, bem como para espectroscopia de emissão e fl uo- rescência, são notavelmente semelhantes em sua função e nos seus requisitos de desempenho, quer sejam desenhados para a radiação ultravioleta (UV), visível (VIS) ou infravermelha (IV), por isso, ambos são reconhecidos como instrumentos ópticos. Em geral os instrumentos ópticos que operam com UV-VIS e IV, apre- sentam 5 componentes básicos: 1) uma fonte estável de energia radiante; 2) um seletor de comprimento de ondaque isola uma região limitada do espectro para a medida; 3) um ou mais recipientes para a amostra; 4) um de- tector de radiação; e 5) uma unidade de processamento e de leitura do sinal. A Figura 5 apresenta um esquema para um espectrofotômetro de varredura com feixe duplo. 25 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 As fontes contínuas de radiação já foram discutidas anteriormente, assim como o princípio de funcionamento do monocromador, que neste caso se diferencia por realizar a seleção unitária de comprimento de onda durante toda a extensão da região do UV-VIS, num determinado intervalo de tempo, fazendo com que a amostra seja submetida a análise em toda a extensão do espectro, o que é conhecido como modo Scan. O recipiente que irá conter a amostra, a Cubeta, assim como as demais partes do instrumento que terão contato com a radiação, como lentes, espe- lhos, janelas e células, deve ser capaz de conduzi-la sem causar interferências ou que sejam interferências sistemáticas e controladas. As cubetas, por exemplo, para aplicações na região do visível, podem ser confeccionadas em vidro silicato comum, devido seu baixo custo. Já para aplicações na região do UV devem ser substituídas por quartzo, já que o vidro começa a absorver radiação com comprimento de onda inferior a 380 nm. A função do detector é converter as informações espectroscópicas, como potência radiante transmitida, fl uorescente ou emitida em uma quantidade mensurável. Os sistemas mais empregados são os detectores de fótons, como os fototubos, tubos fotomultiplicadores, fotodiodos de silício e o arranjo de fotodiodos. Nos dois primeiros, uma camada de material fotoemissor que está sobre a superfície côncava de um fotocátodo, emite elétrons quando irradiado com luz de energia apropriada. Estes fotoelé- trons na presença de um eletrodo carregado positivamente produzem uma fotocorrente a qual pode ser amplifi cada e medida. Neste contexto, o tubo fotomultiplicador é mais sensível que o fototubo, por apresentar diversos eletrodos (dinodos) para captura dos fotoelétrons, como mostra a Figura 6. Diagrama esquemático de um espectrofotômetro de varredura com feixe duplo. 26 Métodos Instrumentais de Análise O Detector de Arranjo de Diodos, em função da sua estrutura compacta e miniaturizada, cerca de 1000 fotodiodos de silício podem ser fabricados lado a lado em uma única lâmina (chip) de silício, proporcionam quando um ou dois arranjos são colocados na extensão do plano focal do mono- cromador, analisar de forma simultânea todos os comprimentos de onda incidentes na amostra. Além dos sistemas mais usuais descritos acima, outros sistemas de detecção podem ser encontrados em espectrômetros. Assim, um espectrômetro é um instrumento espectroscópico que utiliza um monocromador (ou policromador) juntamente com um transdu- tor (detector) para converter as intensidades radiantes em sinais elétricos. Os espectrofotômetros são os espectrômetros que permitem a medida da razão entre as potências de dois feixes, uma exigência para se medir a absorbância. Já os fotômetros empregam um fi ltro para a seleção do com- primento de onda ao invés do monocromador. Sua vantagem em relação ao espectrofotômetro é a simplicidade, robustez e baixo custo. A principal desvantagem é que o monocromador na espectrofotometria possibilita a alteração contínua do comprimento de onda sendo possível obter infor- mações a cerca do espectro de absorção da amostra (Scan), diferente da limitação do fi ltro de absorção. APLICAÇÕES DA ESPECTROFOTOMETRIA Um fato importante antes de iniciarmos nossos estudos da aplicação desta técnica, é lembrarmos que a absorbância de uma solução em qualquer comprimento de onda, é a soma das absorbâncias de todas as espécies pre- sentes em solução, logo, devemos tomar cuidado quando estamos tratando de uma solução contendo mistura de espécies moleculares que absorvem a radiação ultravioleta e visível. A absorção da radiação ultravioleta e visível por moléculas geralmente ocorre em uma ou mais bandas de absorção eletrônicas, identifi cadas no espectro como as regiões de maior intensidade da absorbância. Cada uma das bandas é constituída de muitas linhas discretas, mas próxima umas das Esquema de um tubo fotomultiplicador. 27 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 outras, originadas pela transição de um elétron de um estado fundamental para um dos muitos estados vibracionais e rotacionais associados com cada estado excitado de energia eletrônica. ABSORÇÃO POR COMPOSTOS ORGÂNICOS A absorção de radiação por moléculas orgânicas na região de compri- mento de onda entre 180 e 780 nm resulta das interações entre fótons e elétrons que estão participando diretamente da formação de uma ligação química (e são, assim, associados a mais de um átomo) ou estão localizadas sobre átomos como os de oxigênio, enxofre, nitrogênio e halogênios. O comprimento de onda no qual uma molécula orgânica absorve depende de quão fortemente seus elétrons estão ligados. Assim, a energia necessária para deslocar o elétron de seu estado fundamental para um excitado, está inversamente relacionada ao comprimento de onda, como já estudado. Os elétrons compartilhados em ligações simples carbono-carbono e carbono-hidrogênio, estão tão fortemente ligados, que é necessária uma energia relacionada a radiação eletromagnética com comprimentos de ondas inferiores a 180 nm, por isso, não tem sido amplamente explorados para fi nalidades analíticas. Já os elétrons envolvidos em ligações duplas e triplas das moléculas orgânicas são mais facilmente excitados exibindo picos de absorção úteis. Os grupos orgânicos insaturados que absorvem nas regiões do ultravioleta e visível são conhecidos como cromóforos, sendo os mais comuns os alcenos, dienos, carbonila, aromáticos, azo, entre outros. As características de uma banda de absorção não são consequência das car- acterísticas de um cromóforo isolado, pois estes podem sofrer infl uência do solvente, bem como por outros detalhes estruturais da molécula, como por exemplo, a conjugação entre dois ou mais cromóforos, causando um deslocamento do máximo do pico. ABSORÇÃO POR COMPOSTOS INORGÂNICOS Em geral, os íons e os complexos dos elementos das primeiras duas séries de transição absorvem as bandas largas da radiação visível em pelo menos um de seus estados de oxidação e são como resultado, coloridos. Estas absorções estão relacionadas às transições eletrônicas entre os orbitais d preenchidos e não-preenchidos, com energias que dependem dos ligantes dos átomos metálicos. APLICAÇÕES QUALITATIVAS As medidas espectrofotométricas com a radiação ultravioleta e visível são úteis para identifi car a presença dos grupamentos cromóforos já cita- 28 Métodos Instrumentais de Análise dos anteriormente, uma vez que a maior parte da estrutura das moléculas orgânicas não absorve nestas regiões. Picos na região de 200 a 400 nm indicam a presença de grupos insaturados ou átomos como o de enxofre ou dos halogênios. Através do espectro (Scan) do analito é possível ter uma idéia da estrutura química, em função dos grupos cromóforos identifi cados pelas relações entre as absorbâncias e os comprimentos de ondas, contudo, os espectros não apresentam informações sufi cientes para a identifi cação inequívoca da molécula, sendo necessário estar relacionada a outras técni- cas complementares como, ressonância magnética nuclear, infravermelho, espectrometria de massas, entre outras. APLICAÇÕES QUANTITATIVAS A espectroscopia de absorção apresenta algumas características que a coloca como uma das técnicas mais úteis disponíveis ao químico para uma análise quantitativa. Dentre estas características podem ser citadas: Ampla aplicabilidade – um número enorme de compostos (orgânicos e inorgâni- cos) absorve na região do UV-VIS, e parte das não-absorventes podem ser convertidas em um derivado que absorve; Alta sensibilidade– a técnica é capaz de detectar concentrações da ordem de 10-5 mol L-1, podem chegar a alguns casos até 10-7 mol L-1; Seletividade – com frequência pode se tra- balhar em um comprimento de onda específi co ao seu analito, tornando assim, desnecessário qualquer método prévio de separação, ou ainda, caso ocorra à sobreposição de bandas, medidas adicionais podem eliminar estas interferências; Boa exatidão – os erros relativos relacionados a esta técnica estão na faixa de 1 % a 5 %, podendo ser frequentemente reduzidos a décimos por cento; Acessibilidade – as medidas espectrofotométricas são realizadas de forma fácil e rápida. Uma primeira etapa em qualquer análise espectrofotométrica é o desenvolvimento de condições que produzam uma relação reprodutível (preferencialmente linear) entre a absorbância e a concentração do analito. Para isto, deve-se trabalhar na seleção do comprimento de onda carac- terístico ao analito e onde ocorra o máximo de absorbância, que pode ser obtido através de uma análise prévia de varredura, o que dará maior sensibilidade ao método. A determinação da relação entre a absorbância e a concentração, que estabelecerá a curva de calibração, deve abranger uma faixa razoável de concentração e englobar a composição da amostra. Deve-se fi car atento as variáveis que podem infl uenciar a absorbância, tais como, o pH, a temperatura, altas concentrações de eletrólitos e a presença de interferentes. A adição de padrão pode minimizar o efeito desta última. A Figura 7 apresenta um resumo desta aplicação. 29 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 Através da curva de calibração é possível obter uma equação da reta do tipo y = ax + b, onde y = absorbância; x = concentração do analito na solução; a = coefi ciente angular da reta; e b = coefi ciente linear da reta. De posse dos dados da equação da reta é possível submeter a amostra a análise nas mesmas condições, obtendo-se a absorbância da solução. Através do valor da absorbância pode-se aplicar na equação da reta e encontrar a concentração molar do analito na amostra analisada. LEIA MAIS Leiam o artigo intitulado “Espectroscopia molecular“ que está dis- ponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias do texto. PARA SABER MAIS Se você se interessou pelo tema e deseja saber mais, consulte os capítulos 24 e 26 do livro Fundamentos de Química Analítica, 8a Edição, Editora Thomson, escrito pelos autores Skoog, West, Holler e Crouch. . a) cubetas contendo soluções padrão de diferentes concentrações; b) região do espectro escolhida para a análise quantitativa por apresentar as características necessárias; c) curva de calibração que relaciona a Absorbância x Concentração do analito nas soluções padrão. 30 Métodos Instrumentais de Análise CONCLUSÃO Nesta aula foram apresentados os conceitos relacionados à base da espectrofotometria, suas características, instrumentação e aplicação. RESUMO A espectrofotometria está baseada na utilização da radiação eletromag- nética (luz) para obter informações estruturais de compostos orgânicos e inorgânicos, análise qualitativa, e pode ser aplicada na determinação da concentração de um analito num determinado sistema, análise quantitativa. No modo qualitativo, a espectrofotometria de varredura (Scan), apresenta um espectro referente a absobância do analito em toda a extensão da região do UV-VIS, sendo empregado na identifi cação de grupos cromóforos na estrutura da molécula, e funcionando como uma prévia da análise quan- titativa para a seleção onde se encontra o máximo de absorbância num comprimento de onda específi co para o analito. Na análise quantitativa, o foco está na seleção da melhor região do espectro que apresente uma relação absorbância x concentração, que tenha preferencialmente uma relação linear englobando uma ampla faixa de concentração que atenda a concentração do analito na solução problema. Para todas estas aplicações é importante conhecer a natureza da energia radiante, suas regiões e as energias envolvidas em cada comprimento de onda, uma vez que a técnica relaciona a energia absorvida ou emitida para a excitação de elétrons. ATIVIDADES 1. Qual a energia por fóton da linha D do átomo de sódio (λ = 589 nm)? 2. Uma amostra apresenta uma transmitância de 50 %. Qual será sua ab- sorbância? 3. Uma solução 5,00 x 10-4 mol L-1 de um analito foi colocada em um cubeta com caminho óptico igual a 1 cm. Quando submetido ao comprimento de onda de 490 nm, a solução do analito apresentou uma absorbância igual a 0,338. Qual é a absortividade molar do analito neste comprimento de onda? 4. Sabendo que a curva de calibração, apresentada na Figura 7, representa a determinação de Ferro em água pelo método da о-Fenantrolina, e que a curva apresenta uma equação da reta do tipo A = 200 M + 0; determine a concentração molar de Ferro em uma amostra que foi analisada nas mesmas condições e apresentou absorbância igual a 0,665. 31 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES 1. Sabemos que a energia de um fóton é dada por: E = h ν; então substituindo a frequência (ν) pela relação entre a velocidade da luz / comprimento de onda, temos: Como sabemos este é o valor da energia referente a um fóton, caso queiramos extrapolar para um mol de moléculas devemos multiplicar pelo número de Avogadro, 6,02 x 1023. 2. Vamos relembrar o como obtemos %T; O %T = T 100, logo a transmitância será: 50 = T 100; T = 50 / 100; T = 0,500 Sabendo que a relação entre transmitância e absorbância é dada por A = - log T, a absorbância será: A = - log 0,500; A = 0,301 3. Através da Lei de Beer é possível relacionar a Absorbância da solução, a concentração da solução, o caminho óptico e a absortividade molar como mostrado a seguir: A = ε b C Substituindo os valores que o enunciado fornece, temos: A = ε b C 0,338 = ε (1 cm) (5,00 x 10-4 mol L-1) ε = 676 L mol-1 cm-1 4. Como a equação da reta referente a curva de calibração já apresenta a relação Absorbância x Concentração, temos: A = 200 M M = A / 200 = 0,665 / 200 = 0,00332 mol L-1 de Ferro na amostra 32 Métodos Instrumentais de Análise AUTO-AVALIAÇÃO - Consigo reconhecer as regiões espectrais e seus respectivos comprimentos de onda? - Diferencio entre energia transmitida e absorvida? - Sou capaz de interpretar a Lei de Beer – Lambert? - Consigo identifi car a instrumentação analítica relacionada a Espectrofo- tometria? - Sinto-me capaz de aplicar a espectrofotometria de absorção molecular no UV–VIS em análises qualitativas e quantitativas? PRÓXIMA AULA Na próxima aula iremos trabalhar a espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS. REFERÊNCIAS HARRIS, D. C. Análise Química Quantitativa. 7 ed. Tradução de Bor- dinhão, J. [et al.]. Rio de Janeiro: LTC, 2008. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. HARVEY, D. Modern Analytical Chemistry, 1st edition, McGraw Hill: Boston, 2000. ROBINSON, J.W.; FRAME, E.M.S; FRAME II, G.M. Undergraduate In- strumental Analysis, 6th edition, Marcel Dekker, New York, 2005. OLIVEIRA, L.F.C. Espectroscopia molecular. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, n. 4, 2001. Aula 3 Elisangela de Andrade Passos ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO ATÔMICA NA REGIÃO DO UV-VIS META Apresentar um breve histórico da espectrometria de absorção atômica (AAS); apresentar os fundamentos da AAS; apresentar os componentes de um espectrômetro de absorção atômica; apresentar os tipos de introdução da amostra em um espectrômetro de absorção atômica; apresentar as aplicações da AAS; apresentar as limitações da AAS; apresentar os métodos de cálculos na AAS. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: defi nir espectrometria de absorção atômica; entender a evolução histórica da AAS; entender o funcionamento de um espectrômetro de absorçãoatômica; distinguir entre as técnicas de introdução da amostra em um espectrômetro de absorção atômica; entender as aplicações e limitações da AAS. PRÉ-REQUISITOS Saber os fundamentos da espectroscopia de absorção molecular na região do UV-VIS. 34 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na aula anterior foram relatados acerca os princípios da espectrosco- pia de absorção molecular na região do UV-VIS. Foram relatados sobre a natureza da energia radiante, das regiões espectrais e medida de transmitân- cia e absorbância. Além disso, foram apresentadas as fontes de radiação, monocromadores, a Lei de Beer-Lambert, a descrição detalhada da instru- mentação de Espectrofotômetros e Fotômetros. Por fi m foram apresentadas as aplicações da espectrofotometria de absorção molecular no UV-VIS. Nesta aula serão apresentados os fundamentos da espectrometria de absorção atômica (AAS) na região do UV-VIS. Foi apresentado um breve histórico da AAS e os componentes de um espectrômetro de absorção atômica. Além disso, foram analisadas as técnicas de introdução da amostra que substituem o queimador na FAAS. Por fi m, as principais aplicações e limitações da AAS foram apresentadas. Ao fi nal desta aula, você deverá compreender os princípios da espec- trometria de absorção atômica e você será capaz de entender o funciona- mento de um espectrômetro de absorção atômica. Além disso, você deverá saber distinguir entre as técnicas de introdução da amostra e conhecer as principais aplicações e limitações da AAS. A espectrometria de absorção atômica (AAS, do inglês Atomic Ab- sorption Spectrometry) baseia-se na absorção da energia radiante pelas espécies atômicas neutras, não-excitadas, em estado gasoso. Cada espécie atômica possui um espectro de absorção formado por uma série de est- reitas raias características devidas a transições eletrônicas envolvendo os elétrons externos. A AAS utiliza esse fenômeno para a determinação quantitativa de me- tais, semi-metais e alguns não metais em amostras ambientais, biológicas, alimentos, etc. A espectrometria de absorção atômica com Chama (FAAS, do inglês Flame Atomic Absorption Spectrometry) é a técnica mais utilizada para analises elementares em níveis de mg L-1, enquanto que a espectrome- tria de absorção atômica com atomização eletrotérmica em forno de grafi te (ETAAS, do inglês Electrothermal Atomic Absorption Spectrometry) é utilizada para determinações de baixas concentrações (μg L-1). BREVE HISTÓRICO Os primeiros estudos a cerca da absorção da luz datam de 1802, quando Wollaston iniciou estudos do espectro da luz solar. Em 1814, Fraunhofer descobriu raias visíveis no espectro solar. Brewster, em 1832, nos seus estudos concluiu que as raias de Fraunhofer eram devidas à presença de vapores na atmosfera. Em 1860, Kirchoff desenvolveu a Lei fundamental 35 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 da Absorção Atômica: “todos os corpos podem absorver radiação que eles próprios emitem”. Wood, em 1902, demonstrou o fenômeno de absorção e emissão atômica. Em 1955, AlanWalsh estabeleceu a primeira proposta instrumental do AAS com a determinação de mais de 70 elementos. COMPONENTES DE UM AAS Os principais componentes dos espectrofotômetros de absorção incluem: fonte, sistema de modulação de sinal, célula de absorção, mono- cromador, detector, amplifi cador e sistema de leitura. Fonte. A fonte para AAS deve emitir radiação estável e intensa do elemento de interesse. A radiação deve ser estreita e não deve fornecer radiação de fundo ou linhas estranhas emitidas dentro da banda do monocromador. As fontes são basicamente de dois tipos: lâmpadas de cátodo oco e lâmpadas de descarga. As lâmpadas de cátodo oco são usadas mais amplamente, e consistem num tubo de vidro com grossas paredes contendo Neônio ou Argônio à baixa pressão (1-2 atm), provido de um cátodo feito ou recoberto do elemento interessado, comumente em forma de cilindro fechado em uma das extremidades, e um ânodo em forma de fi o de Tungstênio. A face frontal da lâmpada é feita de quartzo ou vidro, de acordo com os compri- mentos de onda a se transmitir. As lâmpadas de descarga produzem um espectro de raias por meio da passagem de uma corrente elétrica através de vapor de metal. Estas são úteis para produzir espectros dos metais alcalinos e do mercúrio. Sistema modulador de sinal. O Sistema modulador de sinal permite minimizar ruído do sistema atomizador e minimizar problemas devido à instrumentação. Célula de absorção. A função da célula de absorção é converter a amostra em átomos no estado fundamental no caminho óptico, ou seja, onde ocorre a atomização. As células de absorção são basicamente de três tipos: chama, forno de grafi te e célula de quartzo com ou sem aquecimento. A amostra é liquida e para ser convertida em átomos gasosos seguem as seguintes etapas: Processos que levam à produção de átomos, moléculas e íons em sistemas contínuos de introdução de amostras em uma chama. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 801.) 36 Métodos Instrumentais de Análise Segundo a Figura 1 a amostra contendo os elementos de interesse é convertida em pequenas gotas no processo de nebulização (v/g) que ocorre no nebulizador, dispositivo que serve para dispersar a amostra em forma de partículas atômicas neutras no caminho óptico do aparelho. As pequenas gotas penetram na chama e o solvente é vaporizado (s/g) e o vapor é dis- sociado em átomos gasosos mais outros processos não desejáveis podem ocorrer como íons e moléculas excitadas. A chama é formada no queimador que pode são de titânio por ser resistente a corrosão e não conter os elementos de interesse na sua com- posição. Os queimadores são de dois tipos: com fenda de 10 cm, usados na chama ar/acetileno, e de 10 cm de fenda para óxido nitroso/acetileno. O combustível mais utilizado é o acetileno (C2H2) e o oxidante mais utilizado é o ar atmosférico. Essa mistura confere a chama uma temperatura de 2100-2400 oC. A mistura óxido nitroso (N2O)/acetileno confere a chama uma temperatura de 2600-2800 oC. Esta última é empregada para elementos que forma na chama compostos refratários. Uma aplicação desse tipo de chama é a determinação do alumínio, cromo, vanádio, etc. Monocromador. O monocromador é um dispositivo capaz de isolar a raia analítica e de bloquear as raias ou bandas vizinhas, bem como a radiação de fundo da chama tanto quanto possível. O dispositivo monocromador deve deixar passar a maior quantidade de luz possível, ou seja, suas fendas devem ser ajustáveis para dar abertura a uma faixa espectral com amplitude estreita. Os espectrofotômetros necessitam que o monocromador seja capaz de isolar mais de um comprimento de onda sem a necessidade de se al- terar signifi cativamente sua construção. Neste caso, a rede de difração é empregada como elemento monocromador. Uma rede de difração típica que opera por refl exão é construída como mostrado na Figura 2. Rede de difração refl exiva. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 713.) 37 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 Redes de difração construídas para operar na região UV-VIS possuem, normalmente, entre 300 e 2.000 ranhuras por milímetro. Estas ranhuras, normalmente referidas como linhas, são produzidas de forma a apresentar um ângulo que permita uma maior efi ciência para certa faixa de compri- mento de onda. As redes de difração podem fornecer excelente resolução espectral, isolando faixas muito estreitas de comprimento de onda. Esta habilidade depende não somente do número de ranhuras por milímetro, mas, também, de toda a construção e características de outros elementos ópticos empregados na construção do espectrofotômetro, comoespelhos e fendas de entrada e saída de luz. A Figura 3 mostra um monocromador denominado de Czerny-Turner, constituído por uma rede de difração, dois espelhos côncavos e duas fen- das. A fenda de saída pode ser posicionada para isolar um determinado comprimento de onda. Alternativamente, a fenda de saída pode ser fi xa e a rede de difração ser movimentada, alterando-se o ângulo de incidência da luz policromática e permitindo que os diferentes comprimentos de onda sejam projetados sobre a fenda de saída. Sistema monocromador de Czerny-Turner simétrico. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 711.) Detectores de Radiação. Um detector de radiação é um dispositivo capaz de converter a energia radiante, que sobre este incide em um sinal elétrico normalmente constituído por uma corrente elétrica cuja grandeza é proporcional a intensidade da radiação monitorada. Os detectores apre- sentam, sem exceção, sensibilidade dependendo do comprimento de onda 38 Métodos Instrumentais de Análise da radiação que sobre este incide. Os detectores na AAS são basicamente de três tipos: fototubo a vácuo, tubo fotomultiplicador e Diodo de Silício. Um fototubo a vácuo é um detector de radiação constituído de um tubo de vidro selado no interior do qual se faz vácuo e onde estão contidos dois eletrodos, um catodo cilíndrico, cuja superfície é revestida por um material fotoemissível (que emite elétrons ao ser atingido pela luz) e um fi o metálico que constitui o ânodo. Entre os eletrodos é aplicado um potencial que faz com que os elétrons emitidos fl uam para o ânodo gerando uma fotocor- rente. Esta fotocorrente pode ser facilmente amplifi cada para fornecer um sinal proporcional à intensidade de luz que incide sobre o fotocatodo. A faixa de comprimento de onda que pode ser monitorada por este tipo de detector depende do material que reveste o cátodo. De uma forma geral, a região entre 200 e 900 nm pode ser monitorada por dispositivos deste tipo. A fi gura 4 mostra o esquema de um detector de fototubo a vácuo. Esquema de um detector de fototubo à Vácuo. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 723.) Quando a intensidade da radiação a ser medida é baixa, pode-se em- pregar um tubo fotomultiplicador, Este detector pode ser descrito como uma série de eletrodos nos quais o fl uxo de elétrons gerado em um é empregado na obtenção de uma corrente elétrica maior. Esta corrente é originada pelo choque dos elétrons, acelerados por um campo elétrico, con- tra a superfície do outro eletrodo. Cada eletrodo recebe o nome de dinodo e entre estes é estabelecida uma diferença de potencial da ordem de 90 V. É possível, devido a amplifi cação do número de elétrons a cada estágio, em um sistema de nove dinodos, produzir cerca de 106 elétrons para cada 39 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 fóton incidente no cátodo do fototubo. Esta corrente atinge fi nalmente o anodo e pode ser ainda mais amplifi cada. A Figura 5 mostra o esquema de um detector de fotmultiplicador. Esquema de um detector de tubo fotomultiplicador. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 723.) Outro tipo de detector, de uso bastante difundido na moderna espec- trofotometria é aquele de Diodo de Silício. Este detector é constituído de uma junção pn polarizada reversamente. A condutância da junção é prati- camente nula no escuro, porém a incidência de fótons sobre esta junção pode gerar pares de elétrons e “buracos”, promovendo o aparecimento de uma fotocorrente. Detectores deste tipo podem ser empregados na faixa espectral entre 190 a 1100 nm, com sensibilidade intermediária entre a do fototubo e da fotomultiplicadora. A Figura 6 mostra o esquema de um detector de diodo de silício. . Esquema de um detector de diodo de silício. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 725.) 40 Métodos Instrumentais de Análise Amplifi cador e sistema de leitura. O sinal de saída da fotomultiplicadora é ainda amplifi cado antes de ir para ao sistema de leitura. A amplifi cação de corrente alternada é preferida a corrente continua, sendo sujeita a fl utuações. O sistema de leitura mais simples são os analógicos. Hoje, praticamente, todos os AAS tem mostradores digitais, que são mais acurados reduzindo o erro de leitura. É comum o uso de microprocessadores no sistema de leitura. INTERFERÊNCIAS EM AAS As interferências em AAS é qualquer fato que altere a população de átomos já que a concentração é proporcional a população de átomos. As interferências são basicamente de três tipos: interferências espectrais, emissão de fundo, ionização e interferências aniônicas. Interferências espectrais. Radiações emitidas de outras espécies e seus óxi- dos dentro da faixa de comprimento de onda isolada pelo aparelho. Sua extensão depende do tipo de instrumento usado, da temperatura da chama e da relação de concentrações do interferente e do elemento. O problema pode ser resolvido utilizando espectrofotômetros à base de fi ltros. Emissão de fundo. Radiações contínuas de fundo emitidas pela própria chama. Se a emissão for proveniente da chama pode-se usar o recurso de aspirar o solvente puro da chama subtraindo a resultante leitura das medidas com a amostra. Pode ser absorvida pela mesma espécie no estado funda- mental. Assim. A auto-absorção impede que um fóton emitido alcance o detector (a auto-absorção aumenta proporcionalmente à concentração do elemento emissor). Ionização. A chama quando muito quente fornece energia sufi ciente para ionizar os metais alcalinos, e a ionização diminui a concentração de átomos neutros disponíveis. Sendo assim, observa-se a diminuição da intensidade da emissão nas chamas mais quentes. Outro efeito relacionado é a exaltação catiônica, que resulta da repressão do metal interessado pela presença do metal interessado pela presença de um segundo; e pode ser amenizada pela adição de uma alta concentração do elemento potencialmente interferente (tampão de radiação) aos padrões e à amostra, de modo a diminuir o efeito das pequenas concentrações dos interferentes presentes na amostra. Interferências aniônicas. Envolve formação, com o cátion em questão, de- composto que se volatilizam apenas lentamente à temperatura da chama, de forma incompleta. Ou seja, as concentrações dos átomos neutros dis- poníveis para excitação são limitadas pela incompleta volatilização. Às vezes é recomendável a substituição do ânion passando a solução através de uma resina trocadora de ânions, ou o uso de agentes precipitantes apropriados, ou ainda a adição de agentes liberatórios, que se combinam com o ânion interferente ou o deslocamento pela complexação do cátion. 41 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 FORNO DE GRAFITE Em 1958, L´vov introduziu o conceito de atomização eletrotérmica. Ele propôs o uso de um forno de grafi te como atomizador (substituindo o nebulizador na chama), baseado no forno de King que foi projetado em 1905. A idéia de L´vov era que a atomização da amostra deveria ocorrer em uma única etapa, dentro de um forno de grafi te aquecido eletricamente, permitindo dessa forma, obter uma grande melhoria da sensibilidade da técnica, com menor consumo de amostra. Assim a técnica fi cou conhecida como espectrometria de absorção atômica com atomização eletrotérmica em forno de grafi te (ETAAS, do inglês Electrothermal Atomic Absorption Spectrometry), fazendo uso de atomizadores metálicos ou de grafi te, sendo o último o mais popular e extremamentedifundido em pesquisas. Na técnica ETAAS, um pequeno volume da amostra (5-100 μL) é in- troduzido por uma micropipetador ou autoamostrador no interior de um tubo de grafi te postado no caminho óptico do aparelho. Ou seja, no local do queimador do FAAS. O aquecimento da amostra se dá em três etapas: (a) secagem, onde o tubo é levado à temperatura de vaporização do solvente (50-200 oC); (b) pirólise, onde o tubo é levado à temperatura que o analito se volatilize e elimine os contaminantes (200-800 oC); (c) atomização, o forno é levado à temperatura de atomização do analito, e, (d) limpeza, nessa etapa o tubo é limpo para a próxima análise. Atomizador de forno de grafi te (a) e A plataforma de L’vov e sua posição no forno de grafi te (b). (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 810.) 42 Métodos Instrumentais de Análise Entre as vantagens do forno de grafi te podemos destacar: a alta sensibi- lidade, requer pouca amostra, possibilidade de automação, maior tempo de residência. Algumas interferências são conferidas à técnica, para minimizá- las foi introduzido por Slavin o conceito de STPF (do inglês Stabilized temperature platform furnace). Resumindo o conceito STPF estabelece que: (a) o analito deve ser estável até a temperatura de pirólise; (b) deve ser aplicável a um grande número de analito; (c) aumentar o tempo de vida do tubo; (d) reduzir a interferência de fundo, e, (e) aquecimento rápido e menor consumo de gás de arraste, em geral o argônio é o mais popular e extremamente difundido em pesquisas. GERADOR DE HIDRETO Elementos como S, Bi, Ge, Pb, Sb, S, Se e Te possuem a propriedade em formar hidretos ao reagirem com hidrogênio nascente. Os compostos binários de H com alguns elementos as conhecidos como hidretos e são car- acterizados para se apresentarem em estado gasoso à temperatura ambiente. O hidreto formado é transportado para a célula de atomização A amostra acidifi cada ao se mis- turar com um hidreto reage e forma hidretos voláteis de algumas espécies. A geração dessas espécies é conhecida como geração de hidreto. De forma semelhante pode gerar vapor frio, por exemplo, Hg. A geração dessa espécie é conhecida como geração de vapor frio. O hidreto pode ser formado por diversos reagentes redutores, sendo o borohidreto de sódio (NaBH4) em meio ácido o mais utilizado, devido a reação ser rápida permite assim a automação. O hidreto gerado é transportado pelo gás de arraste, geralmente argônio, a uma célula de quarto postado no caminho óptico do aparelho. Ou seja, no local do queima- dor do FAAS. Esquema de um Gerador de Hidreto (Fonte: http://www.scielo.br/pdf/aa/v39n4/v39n4a23.pdf acessado em 12/02/2011) 43 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 As principais vantagens dessa técnica são: a redução dos interferentes, já que o analito é separado da matriz; a concentração do analito; possibilidade de especiar o analito, e, automação do sistema. As principais limitações são: cinética de geração dos hidretos metálicos; pH reacional, e, que os estados de oxidação afetam as medidas. VAPOR FRIO Esta técnica é especifi ca para mercúrio O mercúrio é o único elemento metálico que existe na forma atômica na temperatura ambiente. Assim, basta proceder na redução e transportá-lo pelo gás de arraste, geralmente argônio, a uma célula de quarto postado no caminho óptico do aparelho. Ou seja, no local do queimador do FAAS. O cloreto de estanho, SnCl2, em meio ácido é usado como redutor. Este reduz somente o mercúrio inorgânico e alguns organomercurosos, o metil-Hg, não é reduzido. A redução completa do metil-Hg pode ser alcan- çada com SnCl2 em meio básico, na presença de CdCl2, ou usando NaBH4. Esquema de um Gerador de Vapor frio (Fontes: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-20611999000100006 acessado em 12/02/2011) 44 Métodos Instrumentais de Análise APLICAÇÕES A espectrofotometria permite determinar em torno de 70 elementos na faixa de 1 a 10 mg L-1. A FAAS determina aproximadamente 64 elementos, o ETAAS, aproximadamente 55 elementos, a geração de hidretos, 8 elementos e vapor frio um elemento (Hg). As técnicas de absorção atômica podem ser aplicadas a vários tipos de amostras, tais como: ambiental (solos, águas, plantas, sedimentos), biológica (urina, cabelo, outros fl uidos), alimentos e industrial (fertilizantes, lubrifi cantes, minérios). LIMITAÇÕES A espectrometria de absorção atômica tem como limitações (a) não fornecer informações sobre a forma química do metal (especiação); (b) a preparação de amostras pode ser demorada; (c) técnica limitada a metais e metalóides; (d) técnica destrutiva da amostra; (e) custo do aparelho elevado e, (f) técnica monoelementar. Alguns pesquisadores vem desenvolvendo instrumentação para a determinação multielementar. LEIA MAIS Leiam o artigo intitulado “Espectrometria de absorção atômica: o caminho para determinações multi-elementares“ que está disponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias do texto. MÉTODOS DE CÁLCULO O cálculo da concentração do analito por AAS pode ser por dois mé- todos: curva analítica e método de adição de padrão. Curva Analítica. Depois de localizar o comprimento de onda apropriado para a medida da absorbância da substância que se quer determinar, deve- se verifi car se o sistema segue a lei de Beer, o que se consegue a partir da representação gráfi ca de valores de absorbância, para um dado número de soluções-padrão, em função da sua concentração. Método da adição de Padrão. É um método empregado para eliminar, ou minimizar, os efeitos dos constituintes não desejados, conhecidos como interferentes. No método de adição de padrão as leituras de absorbância são feitas em várias soluções, todas elas contendo a mesma alíquota de solução amostra e concentrações diferentes de padrão adicionado. Ver Figura 10. 45 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 PARA SABER MAIS Se você se interessou pelo tema e deseja saber mais, consulte os capítulos 25 e 28 do livro Fundamentos de Química Analítica, 8a Edição, Editora Thomson, escrito pelos autores Skoog, West, Holler e Crouch. Método da Adição de Padrão CONCLUSÃO Nessa sessão foram apresentados os fundamentos espectrometria de absorção atômica na região do UV-VIS. Foi também apresentado a evolução dos primeiros estudos acerca da AAS de 1802 a 1955. Os componentes de um espectrômetro de absorção atômica foram detalhados. Assim como as interferências espectrais, emissão de fundo, ionização e interferências aniônicas. São técnicas de introdução da amostra o forno de grafi te, o gerador de hidreto e o vapor frio, já que são postados no caminho óptico e, portanto substituem o queimador na FAAS. Na interpretação dos resultados podem ser usadas a curva analítica e o método de adição de padrão. 46 Métodos Instrumentais de Análise RESUMO A espectrometria de absorção atômica refere-se ao conjunto de técnicas fundamentadas na interação entre a radiação e os átomos no estado livre. Esta técnica é aplicada na determinação quantitativa de metais, semi-metais e alguns não metais em amostras ambientais, biológicas, alimentos, etc. Alan Walsh, em 1955, estabeleceu a primeira proposta instrumental do AAS com a determinação de mais de 70 elementos. Os principais componentes dos espectrofotômetros de absorção incluem: fonte, sistema de modulação de sinal, célula de absorção, monocromador, detector, amplifi cador e sistema de leitura. As interferências em AAS são eventos que alteram a população de átomos. Estas são classifi ca- das em interferências espectrais, emissão de fundo, ionização e interferências aniônicas. O forno de grafi te, o gerador de hidreto e o vapor frio são técnicas de introdução da amostra, uma vez que substituem o queimador no caminho ópticoda FAAS. Os resultados obtidos por AAS podem ser calculados pela a curva analítica e pelo método de adição de padrão. ATIVIDADES A determinação de íons metálicos empregando técnicas de espectrometria de absorção atômica requer que as amostras a serem analisadas estejam na forma de solução. Isso ocorre por meio de técnicas de digestão, seja ela uma fusão ou dissolução ácida, levando a diluição da concentração do analito na amostra em sua forma fi nal. Qual seria uma alternativa viável para evitar esse problema? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES Uma alternativa seria aumentar a massa amostra. Em alguns casos isto não é possível, como por exemplo, em amostras biológicas, tal como sangue. Não é aconselhável retirar um grande volume de sangue em humanos, para análise de um analito. Uma alternativa viável seria o emprego da técnica de amostragem sólida, na qual a determinação do analito é realizada diretamente no equipamento. Além disso, reduz sensivelmente as contaminações e/ou perdas do analito durante o preparo da amostra, diminui o uso de reagentes e, ainda, torna a análise mais rápida. Para compreender melhor os conceitos e aplicações da amostragem sólida leiam o artigo intitulado “Amostragem de suspensões: Emprego da técnica na análise direta de amostras“ que está disponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias do texto. 47 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 AUTO-AVALIAÇÃO - Entendo os princípios dar espectrometria de absorção atômica? - Sou capaz de entender a evolução histórica da AAS? - Consigo entender o funcionamento de um espectrômetro de absorção atômica? - Distingo entre as técnicas de introdução da amostra em um espectrômetro de absorção atômica? - Entendo as aplicações e limitações da AAS? PRÓXIMA AULA Na próxima aula iremos abordar acerca da Espectroscopia de Emissão Atômica no UV-VIS. REFERÊNCIAS HARRIS, D. Analise Química Quantitativa. Ed. LTC, 5 ed.; Rio de Janeiro, 2001. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Funda- mentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. CHRISTIAN, G.D. Analytical Chemistry, 6 ed. Ed. John Wiley & Sons Inc, EUA, 2004. MAGALHÃES, C.E.C.; ARRUDA, M.A.Z, Amostragem de suspensões: emprego da técnica na análise direta de amostras. Química Nova, v.21, n.4, p.459-466, 1998. AMORIM, F.A.C.; LOBO, I.P.; SANTOS, V.L.C.S.; FERREIRA, S.L.C. Espectrometria de absorção atômica: o caminho para determinações multi- elementares. Química Nova, v.31, n.7, p.1784-1790, 2008. Aula 4 Elisangela de Andrade Passos ESPECTROSCOPIA DE EMISSÃO NA REGIÃO DO UV-VIS META Apresentar os fundamentos da espectrometria de emissão atômica; apresentar os componentes de um ICP; apresentar as aplicações das fontes de plasma; apresentar as vantagens do ICP frente ao AAS; apresentar a espectroscopia de emissão baseada em fontes emissão por chama e suas aplicações. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: defi nir espectrometria de emissão atômica; entender o funcionamento de um ICP; analisar as aplicações da fonte de plasma; entender a diferença entre um ICP e um AAS; defi nir emissão por chama. PRÉ-REQUISITOS Saber os fundamentos da espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS. 50 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na aula anterior foram apresentados os fundamentos da espectrome- tria de absorção atômica (AAS) na região do UV-VIS. Foram relatados um breve histórico da AAS e os componentes de um espectrômetro de absor- ção atômica. Além disso, foram apresentadas as técnicas de introdução da amostra e as principais aplicações e limitações da AAS. Nesta aula serão apresentados os fundamentos da espectrometria de emissão atômica. Foram apresentados os componentes de um plasma in- dutivamente acoplado (ICP). Além disso, foram apresentadas as aplicações das fontes de plasma. Por fi m, diferenciar um ICP de um AAS e defi nir a técnica de emissão por chama. Ao fi nal desta aula, você deverá compreender os princípios da espectro- metria de emissão atômica e você será capaz de entender o funcionamento de um plasma indutivamente acoplado. Além disso, você deverá saber distinguir entre um ICP de um AAS e conhecer as principais aplicações de um espectrômetro de emissão por chama. A espectrometria de emissão atômica baseia-se na propriedade dos áto- mos neutros ou íons no estado gasoso de emitirem, quando termicamente ou eletricamente excitados, radiações em comprimentos de ondas caracter- ísticos nas regiões UV-VIS. Os atomizadores convertem os componentes das amostras em átomos ou íons elementares e nesse processo, excitam uma fração dessas espécies a altos estados eletrônicos. A alta relaxação dessas espécies é acompanhada pela produção de linhas espectrais ultravioletas e visíveis, que são úteis na análise elementar qualitativa e quantitativa. Ao longo de uma década a nova técnica, que utilizava uma fonte de plasma para produzir espectros de emissão a partir da excitação e decai- mento de átomos e íons de interesse, tornou-se gradativamente atraente para a comunidade científi ca da área quando, em 1975 foi introduzido no mercado o primeiro espectrômetro de emissão ótica com fonte de plasma induzido (ICP OES). Desde então a técnica se transformou numa poderosa ferramenta analítica para e determinação de metais, semi-metais e não-metais em diversos tipos de amostras. ESPECTROSCOPIA DE EMISSÃO BASEADA EM FONTES DE PLASMA Por defi nição, um plasma é uma mistura gasosa condutora de eletricidade, que contém uma concentração signifi cativa de cátions e elé- trons (as concentrações dos dois são tais que a carga total aproxima-se de zero). Em um plasma de argônio, freqüentemente empregado para análises por emissão, os íons argônio e elétrons são as principais espécies 51 Espectroscopia de emissão na região do UV-VIS Aula4 condutoras, embora os cátions da amostra também estejam presentes em menor quantidade. Os íons argônio, uma vez formados em um plasma, são capazes de absorver energia sufi ciente para manter a temperatura em um nível no qual ionizações adicionais sustentam o plasma, indefi nidamente; temperaturas maiores que 10.000 K são encontradas. Três tipos de plasma de alta temperatura são encontrados (1) o plasma indutivamente acoplado (ICP), (2) o plasma de corrente contínua (DCP), e (3) o plasma induzido por microondas (MIP). As primeiras duas fontes são comercializadas por muitas companhias e a fonte de plasma induzido por microondas não é muito empregada para análise elementar. Em nosso curso vamos estudar com detalhes apenas a fonte de plasma indutivamente acoplado. FONTE DE PLASMA INDUTIVAMENTE ACOPLADO (ICP) A Figura 1 mostra um esquema de uma fonte típica de plasma induti- vamente acoplado, chamada de tocha. Ela consiste de três tubos de quartzo concêntricos através dos quais passam fl uxos de gás argônio. Dependendo do projeto da tocha, a vazão total de consumo de argônio é de cerca de 5 a 20 L min-1. O diâmetro do tubo mais largo é de cerca de 2,5 cm. Envolvendo a parte superior desse tubo encontra-se uma bobina de indução refrigerada a água e alimentada por um gerador de radiofreqüência capaz de produzir cerca de 2 kW de energia a 27 ou 41 MHz. Representação esquemática de uma tocha de plasma. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 803.) 52 Métodos Instrumentais de Análise O fl uxo de argônio passa através da tocha e é ionizado pelo campo magnético produzido pela bobina de indução; o campo magnético tem linhas de força axiais e as partículas de argônio encontram resistência, produzindo aquecimento e mais ionização. O fl uxo de gás é semeado de elétrons livres que interagem com o campo magnético, adquirindo energia sufi ciente para ionizar ainda mais o fl uxo de gás. Um plasma em forma de chama de vela aparece
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