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Métodos Instrumentais de Análise São Cristóvão/SE 2011 Elisangela de Andrade Passos Elaboração de Conteúdo Elisangela de Andrade Passos Passos, Elisangela de Andrade P289m Métodos instrumentais de análise / Elisangela de Andrade Passos. – São Cristóvão : Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2011. 1. Química analítica - Instrumentos. 2. Espectrofotometria. 3. Análise cromatográfi ca. I. Título. CDU 543 Copyright © 2011, Universidade Federal de Sergipe / CESAD. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização por escrito da UFS. FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Métodos Instrumentais de Análise Projeto Gráfi co Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo Capa Hermeson Alves de Menezes Diagramação Neverton Correia da Silva Presidente da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Fernando Haddad Diretor de Educação a Distância João Carlos Teatini Souza Clímaco Reitor Josué Modesto dos Passos Subrinho Vice-Reitor Angelo Roberto Antoniolli Chefe de Gabinete Ednalva Freire Caetano Coordenador Geral da UAB/UFS Diretor do CESAD Antônio Ponciano Bezerra coordenador-adjunto da UAB/UFS Vice-diretor do CESAD Fábio Alves dos Santos Diretoria Pedagógica Clotildes Farias de Sousa (Diretora) Diretoria Administrativa e Financeira Edélzio Alves Costa Júnior (Diretor) Sylvia Helena de Almeida Soares Valter Siqueira Alves Coordenação de Cursos Djalma Andrade (Coordenadora) Núcleo de Formação Continuada Rosemeire Marcedo Costa (Coordenadora) Núcleo de Avaliação Hérica dos Santos Matos (Coordenadora) Núcleo de Tecnologia da Informação João Eduardo Batista de Deus Anselmo Marcel da Conceição Souza Raimundo Araujo de Almeida Júnior Assessoria de Comunicação Guilherme Borba Gouy Coordenadores de Curso Denis Menezes (Letras Português) Eduardo Farias (Administração) Paulo Souza Rabelo (Matemática) Hélio Mario Araújo (Geografi a) Lourival Santana (História) Marcelo Macedo (Física) Silmara Pantaleão (Ciências Biológicas) Coordenadores de Tutoria Edvan dos Santos Sousa (Física) Raquel Rosário Matos (Matemática) Ayslan Jorge Santos da Araujo (Administração) Carolina Nunes Goes (História) Viviane Costa Felicíssimo (Química) Gleise Campos Pinto Santana (Geografi a) Trícia C. P. de Sant’ana (Ciências Biológicas) Vanessa Santos Góes (Letras Português) Lívia Carvalho Santos (Presencial) Adriana Andrade da Silva (Presencial) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Cidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos” Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze CEP 49100-000 - São Cristóvão - SE Fone(79) 2105 - 6600 - Fax(79) 2105- 6474 NÚCLEO DE MATERIAL DIDÁTICO Hermeson Alves de Menezes (Coordenador) Marcio Roberto de Oliveira Mendonça Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo AULA 1 Princípios de Instrumentação Química.............................................. 07 AULA 2 Espectrofotometria de absorção molecular na região do UV–VIS .... 17 AULA 3 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS .............. 33 AULA 4 Espectroscopia de emissão na região do UV-VIS ............................. 49 AULA 5 Espectrometria de massas ................................................................ 63 AULA 6 Métodos eletroanalíticos – Parte I. .................................................... 79 AULA 7 Métodos eletroanalíticos – Parte II........................................................97 AULA 8 Cromatografi a – Introdução, classifi cação e princípios básicos .......113 AULA 9 Cromatografi a gasosa, cromatografi a líquida e suas aplicações .... 123 AULA 10 Preparo de amostras para análise instrumental .............................. 135 AULA 11 Prática 01 - Introdução ao trabalho no laboratório de Química Analíca Instrumental.......................................................... 149 AULA 12 Prática 02 – Espectrofotometria de absorção molecular no UV–VIS: operação e resposta do espectrofotômetro........................................155 AULA 13 Prática 03 – Espectrofotometria de absorção molecular no UV–VIS: lei de beer. ................................................................... 161 Sumário AULA 14 Prática 04 - Titulação potenciométrica de uma solução de ácido clorídrico com hidróxido de sódio. .................................... 167 AULA 15 Prática 05 - Cromatografi a. ............................................................. 171 Aula 1 Elisangela de Andrade Passos PRINCÍPIOS DE INSTRUMENTAÇÃO QUÍMICA META Apresentar os fundamentos da química analítica; apresentar os métodos instrumentais; apresentar a calibração de um instrumento. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: defi nir química analítica; classifi car e defi nir os métodos analíticos; classifi car e defi nir os métodos instrumentais; entender a seleção de um método analítico; analisar a calibração de métodos instrumentais; defi nir de sinais, ruídos e razão sinal-ruído. PRÉ-REQUISITOS Saber os fundamentos de química analítica. 8 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Nesta aula será defi nido o conceito de química analítica, diferenciado analítica qualitativa da quantitativa e classifi cados e subclassifi cados os métodos analíticos. Ainda serão apresentados os tipos de métodos instru- mentais e demonstrada como calibrar um método. Por fi m, será apresentada a defi nição de sinais, ruídos e razão sinal-ruído. Ao fi nal desta aula, você deverá saber defi nir química analítica, dis- tinguir entre a análise qualitativa e quantitativa e classifi car e subclassifi car os métodos analíticos. Você será capaz de descrever os parâmetros de desempenho de um instrumento e, por fi m, compreender a importância da razão sinal-ruído. INTRODUÇÃO A QUÍMICA ANALÍTICA A química analítica é a ciência que estuda os princípios e métodos teóricos da análise química. A análise química consiste em um conjunto de técnicas que permite identifi car quais os componentes que se encontram presentes em uma determinada amostra e sua quantidade. Esta é dividida em análise qualitativa e análise quantitativa. A análise qualitativa consiste em identifi car os componentes de uma amostra. Já a análise quantitativa permite determinar a quantidade dos componentes de uma amostra. As substâncias identifi cadas e quantifi cadas são chamadas de analitos e os locais de onde foram retiradas estas amostras são chamados de matriz. CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS ANALÍTICOS Os métodos analíticos são classifi cados em clássicos ou instrumentais. Esta classifi cação é histórica, com os métodos clássicos precedendo os instrumentais por um século ou mais. MÉTODOS CLÁSSICOS Os métodos clássicos são subclassifi cados em métodos gravimétricos e volumétricos. Os métodos gravimétricos determinam a massa do analito ou de algum composto quimicamente a ele relacionado. No método volu- métrico mede-se o volume da solução contendo reagente em quantidade sufi ciente para reagir com todo analito presente. Nestes métodos envolvem reações químicas, dissolução, extração e estequiometria. Quando realizadas corretamente apresentam elevada exatidão e precisão, às vezes até superiores aos métodos instrumentais, embora sejam mais demoradas. É hoje, muitas 9 Princípios de Instrumentação Química Aula 1 vezes, a saída para laboratórios de pequeno porte já que um dos instru- mentos utilizados em uma análise química clássica é uma balança analítica. Os métodos clássicos para separação e determinação de um analito ainda continuam sendo usados em vários laboratórios, entretanto, suas aplicações estão se restringindo com o avanço tecnológico dos processos. Nos primórdios da Química as análises eram realizadas através da separação do componente de interesse (analito) em uma amostra por precipitação, extração oudestilação. MÉTODOS INSTRUMENTAIS Os métodos analíticos instrumentais consistem na medida das pro- priedades físicas do analito, tais como condutividade, potencial de eletrodo, absorção ou emissão de luz, razão massa/carga e fl uorescência. Nestes métodos envolvem a utilização de equipamentos sofi sticados, mas também pode envolver reações químicas em algumas etapas. Muitas vezes são me- nos precisas do que os métodos clássicos, embora sejam mais rápidos. São utilizados na quantifi cação e identifi cação dos constituintes minoritários. Os químicos começaram a explorar outros fenômenos relacionados com as propriedades dos analitos nos anos 30, mais precisamente na metade. A medida das propriedades físicas do analito começou a ser empregada para análise quantitativa de uma variedade de analitos orgânicos, inorgânicos e bioquímicos. Um pouco mais tarde, surgiram as técnicas cromatográfi cas que substituíram a destilação, extração e precipitação de componentes em misturas complexas, antes da determinação qualitativa ou quantitativa. Estes novos métodos para separação e determinação de espécies químicas são conhecidos em conjunto como Métodos Instrumentais de Análise. A Figura 1 mostra a classifi cação e subclassifi cação dos Métodos Analíticos. Classifi cação e subclassifi cação dos Métodos Analíticos. 10 Métodos Instrumentais de Análise TIPOS DE MÉTODOS INSTRUMENTAIS A Tabela 1 mostra uma relação entre o método instrumental e o sinal empregado para caracterizá-lo. Tabela 1. Sinais empregados nos métodos analíticos. Sinal Emissão de Radiação Absorção de Radiação Espalhamento de Radiação Refração de Radiação Difração de Radiação Rotação de Radiação Potencial Elétrico Carga Elétrica Corrente Elétrica Resistência Elétrica Razão Massa/Carga Velocidade de Reação Propriedades Térmicas Radioatividade Método Instrumental Espectroscopia de Emissão (raio-X, UV, visível, elétron) Fluorescência, Fosforescência e Luminescência (raio-X, UV, visível). Espectrofotometria e Fotometria (raio-X, UV, visível, IV), Espectroscopia Fotoacustica, Ressonância Nuclear Magnética e espectroscopia de Ressonância Elétron Spin. Turbidimetria, Nefelometria, Espectroscopia Raman. Refratometria, interferometria. Raio-X e Métodos de Difração de Elétron. Polarímetro Potenciometria e Cronopotenciometria. Coulometria. Polarografi a, Amperometria. Condutometria. Espectrometria de Massa. Métodos Cinéticos. Condutividade térmica e Métodos Entalpimétricos. Métodos de ativação e diluição de isótopos. 11 Princípios de Instrumentação Química Aula 1 SELEÇÃO DE UM MÉTODO ANALÍTICO O método analítico selecionado deve ser efi ciente, sempre que pos- sível, simples, rápido; não deve implicar em danos aos materiais em que as amostras serão tratadas e analisadas; não deverá ser passível de erros sistemáticos (perdas por volatilização e adsorção, riscos de contaminações, etc.); a seletividade deve ser conhecida; deverá se empregado com mínima manipulação e, os resultados serão obtidos com a máxima segurança op- eracional. Idealmente, a escolha deverá ser feita por um método devidamente validado. O método validado estabelece quais os analitos que poderão ser determinados, especifi cando-se a matriz ou as matrizes e os riscos de interferências, ou seja, fornece as condições apropriadas para a obtenção dos resultados que possibilitem a solução do problema. Para seleção de um método analítico é essencial defi nir claramente a natureza do problema analítico. CALIBRAÇÃO DE MÉTODOS INSTRUMENTAIS A calibração é uma etapa fundamental na medida. Ela pode ser analisada através do desempenho de um instrumento. Os critérios de desempenho característico de um instrumento, critérios estes que podem ser usados para decidir se um método instrumental é ou não apropriado para resolver determinado problema analítico, são classifi cados em precisão, bias, sensi- bilidade, limite de detecção, faixa de concentração e seletividade. PRECISÃO A precisão pode ser defi nida como sendo a medida da reprodutibilidade de um experimento. Em outras palavras, é a proximidade dos resultados em relação aos demais, obtidos exatamente da mesma forma. BIAS Bias é a medida do erro sistemático, dada pela equação 01: txbias −μ= (01), onde μ é concentração média de um analito em uma amostra que tem uma concentração verdadeira de xt. 12 Métodos Instrumentais de Análise SENSIBILIDADE A sensibilidade é indicada pela capacidade do equipamento em medir a menor concentração possível do analito. Dois fatores limitam a sensibilidade: a inclinação da curva de calibração e a reprodutibilidade ou precisão dos dispositivos de medida. Quando dois métodos apresentam a mesma pre- cisão, o método que apresentar a maior inclinação na curva será escolhido. LIMITE DE DETECÇÃO A defi nição mais usual para limite de detecção é que este é dado pela menor concentração do analito que pode ser detectado em um nível con- fi ança preestabelecido. FAIXA DE CONCENTRAÇÃO A faixa de concentração é aquela até onde permanece ou apresenta a linearidade da curva de calibração, conforme mostra a Figura 2. Faixa de concentração usual de um método analítico 13 Princípios de Instrumentação Química Aula 1 SELETIVIDADE A seletividade refere-se ao quanto o método aplicado a determinado analito está livre de interferências de outras espécies contidas na amostra. Os critérios de desempenho de um instrumento estão apresentados na Tabela 3 e podem ser defi nidos e relacionados como seguem: Tabela 3. Critérios numéricos e características para seleção de um método analítico. Critérios Precisão Bias Sensibilidade Limite de Detecção Faixa de Concentração Seletividade Características Desvio Padrão Absoluto, Desvio Padrão Relativo, Coefi ciente de Variação, Variância. Erro Sistemático Absoluto, Erro Sistemático Relativo. Sensibilidade de Calibração, Sensibilidade Analítica. Desvio Padrão do Branco Limite de Quantifi cação, Limite de Linearidade. Coefi ciente de Seletividade Além disso, outras características devem ser consideradas na escolha do método a ser empregado, são elas: velocidade facilidade e conveniência, habilidade requerida do operador, custo e disponibilidade de equipamentos e, custo por amostra. SINAIS, RUÍDO E RAZÃO SINAL-RUÍDO O sinal de saída de um instrumento analítico fl utua de uma forma aleatória. Essas fl utuações limitam a precisão do instrumento e representam o resultado de um grande número de variáveis incontroláveis do instru- mento e do sistema químico em estudo. O termo ruído é empregado para descrever essas fl utuações e cada variável não controlada é uma fonte de ruído. Sendo assim, o valor médio da saída de um instrumento é camada 14 Métodos Instrumentais de Análise de sinal e o desvio padrão do sinal é a medida do ruído. A relação sinal-ruído é geralmente defi nida como a razão entre o valor médio do sinal de saída e o desvio padrão. À medida que os instrumentos modernos tem se tornado mais computadorizados e controlados por circui- tos eletrônicos sofi sticados, muitos métodos tem sido desenvolvidos para se aumentar a razão sinal-ruído das saídas dos instrumentos. LEIA MAIS Para compreender melhor as informações acima leiam o artigo intitu- lado “A espectroscopia e a química da descoberta de novos elementos ao limiar da teoria quântica“ que está disponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias do texto. CONCLUSÃO Nessa sessão foi reapresentada a defi nição de química analítica e sua classifi cação em qualitativa e quantitativa, empregando métodos clássicos ou instrumentais. Os métodos analíticos instrumentais consistem na medida das propriedades físicas do analito, tais como condutividade, potencial de eletrodo, absorção ou emissão de luz, razão massa/carga e fl uorescência. Para seleção de um método analítico é essencial defi nir claramente a natureza do problema analítico.Na calibração são analisados os critérios do desempenho de um instrumento e são classifi cados em precisão, bias, sensibilidade, limite de detecção, faixa de concentração e seletividade. O sinal analítico é o valor médio da saída de um instrumento e o desvio padrão do sinal é a medida do ruído. A relação sinal-ruído é geralmente defi nida como a razão entre o valor médio do sinal de saída e o desvio padrão. RESUMO A química analítica é a ciência de medição e caracterização química. Esta é usada para identifi car os componentes presentes em uma amostra (análise qualitativa) e determinar as quantidades exatas dos componentes identifi cados (análise quantitativa). Os métodos analíticos são divididos em clássicos e instrumentais (objetivo dessa disciplina). Os métodos clássicos são baseados na medida da massa (gravimetria) e volume (volumetria) e os métodos instrumentais são baseados na medida de uma propriedade física. O método analítico selecionado deve ser efi ciente, sempre que possível, simples, rápido e de baixo custo. O desempenho de um instrumento pode 15 Princípios de Instrumentação Química Aula 1 ser usado para decidir se um método instrumental é ou não apropriado para resolver determinado problema analítico. Estes são classifi cados em precisão, bias, sensibilidade, limite de detecção, faixa de concentração e seletividade. ATIVIDADES O bafômetro é um instrumento de medida do teor de álcool no or- ganismo. Como isso ocorre? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES A concentração de álcool gasoso exalada ao soprar um bafômetro é diretamente relacionada à concentração de álcool no sangue. Essa medida vem sendo amplamente usada para defi nir se uma pessoa está ou não sob infl uencia de álcool. No Brasil, foi estabelecido se o teor de álcool no sangue for superior a 0,2 mg L-1 o individuo está incapaz de conduzir um veículo. Existem quatro tipos de dosadores de álcool: (1) tipo indicador, que envolve mudança de cor de um reagente, (2) tipo células combustíveis, onde o etanol é oxidado em CO2 e água, (c) tipo absorção de radiação infravermelha (IR), onde é aplicado feixes radiação IR sob uma célula contendo gás contendo álcool e componentes orgânicos, e (d) tipo sensor à base de um semicondutor, onde o álcool é adsorvido na superfície de um semicondutor. AUTO-AVALIAÇÃO - Entendo a defi nição de química analítica? - Consigo classifi car e defi nir os métodos analíticos? - Consigo classifi car e defi nir os métodos instrumentais? - Sou capaz de entender a seleção de um método analítico? 16 Métodos Instrumentais de Análise PRÓXIMA AULA Na próxima aula iremos abordar acerca da Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV-VIS. REFERÊNCIAS HARRIS, D. Analise Química Quantitativa. Ed. LTC, 5 ed.; Rio de Janeiro, 2001. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. CHRISTIAN, G.D. Analytical Chemistry, 6 ed. Ed. John Wiley & Sons Inc, EUA, 2004. Filgueiras, C.A.L. A espectroscopia e a química da descoberta de novos el- ementos ao limiar da teoria quântica. Química Nova na Escola, n. 3, 1996. Aula 2 Elisangela de Andrade Passos ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORÇÃO MOLECULAR NA REGIÃO DO UV–VIS META Apresentar a natureza da energia radiante e as regiões espectrais; apresentar as medidas de transmitância e absorbância; apresentar as fontes de radiação e monocromadores; apresentar a lei de Beer – Lambert; apresentar a instrumentação: espectrofotômetros e fotômetros; apresentar as aplicações da espectrofotometria de absorção molecular no UV-VIS. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: reconhecer as regiões espectrais e seus respectivos comprimentos de onda; diferenciar entre energia transmitida e absorvida; interpretar a Lei de Beer – Lambert; identifi car a instrumentação analítica relacionada a Espectrofotometria; aplicar a Espectrofotometria de Absorção Molecular no UV–VIS em análises qualitativas e quantitativas. PRÉ-REQUISITOS Conhecimentos em estrutura atômica e molecular. 18 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na aula anterior foi introduzido o conceito sobre metodologias analíti- cas e instrumentações. Foi contextualizada a seleção de uma metodologia analítica, a instrumentação envolvida e o processo de calibração instrumental para aplicação da metodologia em um processo analítico quantitativo. Nesta aula trataremos da Espectrofotometria de absorção molecular no Ultravioleta–Visível (UV–VIS), a qual utiliza as propriedades de inte- ração da matéria com a radiação eletromagnética (luz) para se determinar características qualitativas e quantitativas de um analito. A toda técnica que empregue luz para determinar estas características de espécies químicas pode ser chamada de espectrofotometria. Das muitas interações (físicas e em alguns casos químicas) entre a matéria e a luz estudaremos a absorção e emissão. NATUREZA DA RADIAÇÃO A base da espectrofotometria foi a colorimetria. Inicialmente a cor de uma solução podia ser utilizada na identifi cação de uma espécie (análise qualitativa), enquanto que a intensidade da cor era utilizada na determinação da concentração desta espécie (análise quantitativa). Esta técnica foi em- pregada pela primeira vez para compreender a espectroscopia de absorção em análises químicas. A técnica está baseada na passagem de luz branca através de uma solução a qual, por exemplo, apresenta uma coloração ver- melha. A luz branca que é composta por uma gama enorme de radiações, de diferentes comprimentos de onda, e consequentemente diferentes cores, tem as cores complementares ao vermelho, o amarelo e azul, absorvidas pela espécie em solução. Sendo assim, quanto maior a concentração da espécie em solução, mais amarelo e azul será absorvida e maior será a intensidade da coloração vermelha da solução. A radiação eletromagnética pode ser descrita como uma onda (Fig. 1), com propriedades como comprimento de onda, frequência, velocidade e amplitude, a qual não requer suporte para propagar-se, sendo transmitida pelo espaço a velocidade superior a 1 milhão de vezes mais rápida que o som. 19 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 A frequência (ν), que representa o número de oscilações da onda por segundo, cuja unidade é o Hertz (Hz), pode ser relacionada com o compri- mento de onda (λ) e a velocidade da luz no vácuo (c) (2,99792 x 108 m s-1) da seguinte forma: (01) A absorção de radiação eletromagnética pela matéria altera sua energia. Esta interação entre a matéria e a radiação eletromagnética é melhor com- preendida se considerarmos que a radiação eletromagnética é composta por partículas energéticas, denominadas Fótons. Quando um fóton atinge a matéria, ele é destruído, e sua energia (E) é absorvida pela mesma. A en- ergia de um fóton, e consequentemente da radiação, é proporcional a sua frequência, através da relação com a constante de Planck (h) (6,626 x 10-34 J s) como mostra a equação 02, com o comprimento de onda conforme equação 03, e com o número de onda (ν) conforme equação 04: (02) (03) (04) O número de onda é outra forma de se descrever a radiação eletromagné- tica, e é defi nido como o número de ondas por centímetro (unidade cm-1), o que equivale ao inverso do comprimento de onda, sendo comumente empregado para descrever a radiação na região do infravermelho. Representação da radiação eletromagnética em relação ao campo elétrico. 20 Métodos Instrumentais de Análise ATIVIDADES Exemplo envolvendo Energia dos Fótons: Uma solução contendo um analito é incidida com radiação eletromagnética com comprimento de onda de 254 nm. Qual será o ganho energético por mol de analito? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES Sabemos que a energia de um fóton é dada por: E = h ν; então: REGIÕES ESPECTRAIS Os olhos humanos podemenxergar apenas a luz visível (VIS), na qual a radiação apresenta um comprimento de onda de 780 a 380 nm. A outra faixa de radiação estudada, a Ultravioleta (UV), inicia em 380 nm e fi naliza em 180 nm. Ambas as radiações possuem energia sufi ciente para excitar elétrons de valência de átomos e moléculas, e consequentemente estão envolvidas com excitações eletrônicas. A esta faixa de radiações com diferentes energias (frequências), e, portanto, de comprimentos de ondas atribui-se o nome de espectro ele- tromagnético. O espectro eletromagnético (Fig. 2) engloba radiações de Ressonância Nuclear Magnética (RMN), com energia na ordem de 10-3 J mol-1, passando por Ressonância de Spin Eletrônica (RSE), Microonda, Infravermelho, Visível e Ultravioleta, Raios X, chegando aos Raios γ, com energia na ordem de 109 J mol-1. Regiões do espectro eletromagnético. 21 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 FONTES DE RADIAÇÃO E LEI DE BEER – LAMBERT As fontes mais comuns de radiação eletromagnética são as lâmpadas de H2 e D2 (160 – 380 nm), tungstênio (320 – 2400 nm) e xenônio (200 – 1000 nm). Fontes térmicas e químicas também são aplicadas em casos específi cos. Quando um analito está sem a ação de nenhum estímulo, ele encontra- se no seu estado fundamental. Quando ele é submetido a uma radiação eletromagnética e absorve um fóton, algumas das espécies do analito so- frem uma transição para um estado de maior energia ou estado excitado. Através deste processo obtemos informações sobre o analito medindo-se a radiação eletromagnética emitida quando ele retorna ao estado funda- mental ou a quantidade de radiação eletromagnética absorvida decorrente da excitação, sendo que a parte da molécula responsável pela absorção de luz chamada de cromóforo. Aos dois processos descritos chamamos de espectroscopia de fotoluminescência ou emissão e espectroscopia de absorção, respectivamente. Na espectroscopia de absorção, a Absorbância (A) de uma solução está relacionada com a transmitância de forma logarítmica (05). (05) A transmitância é defi nida como a fração da luz original que passa pela amostra. Considere um feixe de radiação com potência inicial P0 (Fig. 3), este ao atravessar uma solução contendo uma espécie, absorve fótons e a potência radiante decresce ao nível P. A transmitância será expressa como a equação 06, e a transmitância percentual (%T) conforme equação 07. (06) (07) Portanto a Absorbância pode ser reescrita da seguinte forma: (08) Atenuação de um feixe de radiação por uma solução absorvente. 22 Métodos Instrumentais de Análise Então, quando nenhuma luz é absorvida (P = P0), A será igual a zero. Se 90 % da luz é absorvida, 10 % será transmitida e P = P0/10. Para esta razão, A = 1. Assim, se apenas 1 A este processo está atribuída a Lei de Absorção, também conhecida como Lei de Beer – Lambert. Esta lei nos diz quantitativamente como a grandeza da atenuação depende da concentração das moléculas absorventes (C) e da extensão do caminho (b) sobre o qual ocorre a absorção. A Lei de Beer, como também é chamada, está representada a seguir: (09) A grandeza ε (epsílon) representa a absortividade molar, e é expressa em L mol-1 cm-1, o que torna a Absorbância adimensional. A absortividade molar indica qual a quantidade de luz que é absorvida num determinado comprimento de onda. O caminho óptico (b) é expresso em cm, e a con- centração (C) expressa em mol L-1. MONOCROMADOR Como há a possibilidade de mais de um analito presente na amostra, contribuir para absorção de radiação dentro de uma larga faixa de com- primento de onda, por esta razão usualmente tentamos selecionar um comprimento de onda específi co, onde o analito apresente o maior valor de absortividade molar e/ou que possa ser distinguido dentre os demais interferentes da solução. Para realizar esta seleção são mais comumente empregados os monocromadores. A vantagem dos monocromadores está na possibilidade de selecionar diferentes comprimentos de onda sem a necessidade de modifi cações físicas no instrumento, diferente dos fi ltros de absorção, além da melhor resolução e das limitações de comprimentos de ondas que os fi ltros podem apresentar. No monocromador (Fig. 4), a luz policromática é direcionada por espelho para uma grade de difração, a qual separa a luz nos seus diferentes comprimentos de onda, enviando a outro espelho que direcionará a fenda de saída. A seleção do comprimento de onda é feito através da rotação da grade de difração. 23 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 O primeiro detector em espectroscopia óptica foi o olho humano, que naturalmente possui precisão e sensibilidade limitada quanto à radiação eletromagnética. Modernos detectores usam sensíveis transdutores para converter sinais baseados em fótons em sinais elétricos, sendo os mais comuns os fototubos e os fotomultiplicadores. ATIVIDADES Exemplo envolvendo Absorbância, Transmitância e Lei de Beer: Determine o percentual de luz que emerge (%T) de uma solução 0,00240 mol L-1 de uma substância com coefi ciente de absortividade molar de 313 L mol-1 cm-1 numa célula com 20 mm de caminho óptico. COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES Através da Lei de Beer será possível determinar a Absorbância da solução. Para isto precisamos da concentração molar da solução, da absortividade molar e do caminho óptico. Todos em unidades que levem a um valor adimensional, como mostrado a seguir: A = ε b C = (313 L mol-1 cm-1) (2 cm) (0,00240 mol L-1) = 1,50 Sendo: A = - log T; T = 10-A = 10- 1,50 = 0,0316 Então: %T = T x 100 = 3,16 % Apenas 3,16 % da luz incidente emergem da solução. Esquema típico de monocromador com dispersão de radiação por grade de difração. 24 Métodos Instrumentais de Análise OS LIMITES DA LEI DE BEER Existem poucas exceções para o comportamento linear entre a absor- bância e o caminho óptico a uma concentração fi xa. Contudo observamos os desvios da proporcionalidade direta entre a absorbância e a concentração, quando o caminho óptico b é mantido constante. Limitações reais: A Lei de Beer descreve o comportamento da absorção somente para soluções diluídas. Para concentrações que excedem 0,01 mol L-1, a distância média entre os íons ou moléculas da espécie absorvente diminui a ponto de que cada partícula afeta a distribuição de carga, e assim a extensão da absorção das suas vizinhas, afetando diretamente na relação linear absorbância x concentração. Efeito similar pode ocorrer em soluções diluídas que apresentam altas concentrações de outras espécies, como por exemplo, eletrólitos. Limitações aparentes: Desvios químicos - aqueles que ocorrem devido à associação ou dissocia- ção da espécie absorvente ou então o constituinte não é completamente convertido em uma única espécie absorvente; Desvios Instrumentais - i) são desvios que ocorrem devido ao instrumento utilizado na medição da absorbância. ii) Largura fi nita da faixa espectral escolhida; iii) Radiação estranha refl etida dentro do equipamento que alcançou o detector; iv) Variação da resposta do detector; v) Flutuação da intensidade da fonte. ESPECTROFOTÔMETROS E FOTÔMETROS Os componentes básicos dos instrumentos analíticos para a espec- troscopia de absorção, bem como para espectroscopia de emissão e fl uo- rescência, são notavelmente semelhantes em sua função e nos seus requisitos de desempenho, quer sejam desenhados para a radiação ultravioleta (UV), visível (VIS) ou infravermelha (IV), por isso, ambos são reconhecidos como instrumentos ópticos. Em geral os instrumentos ópticos que operam com UV-VIS e IV, apre- sentam 5 componentes básicos: 1) uma fonte estável de energia radiante; 2) um seletor de comprimento de ondaque isola uma região limitada do espectro para a medida; 3) um ou mais recipientes para a amostra; 4) um de- tector de radiação; e 5) uma unidade de processamento e de leitura do sinal. A Figura 5 apresenta um esquema para um espectrofotômetro de varredura com feixe duplo. 25 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 As fontes contínuas de radiação já foram discutidas anteriormente, assim como o princípio de funcionamento do monocromador, que neste caso se diferencia por realizar a seleção unitária de comprimento de onda durante toda a extensão da região do UV-VIS, num determinado intervalo de tempo, fazendo com que a amostra seja submetida a análise em toda a extensão do espectro, o que é conhecido como modo Scan. O recipiente que irá conter a amostra, a Cubeta, assim como as demais partes do instrumento que terão contato com a radiação, como lentes, espe- lhos, janelas e células, deve ser capaz de conduzi-la sem causar interferências ou que sejam interferências sistemáticas e controladas. As cubetas, por exemplo, para aplicações na região do visível, podem ser confeccionadas em vidro silicato comum, devido seu baixo custo. Já para aplicações na região do UV devem ser substituídas por quartzo, já que o vidro começa a absorver radiação com comprimento de onda inferior a 380 nm. A função do detector é converter as informações espectroscópicas, como potência radiante transmitida, fl uorescente ou emitida em uma quantidade mensurável. Os sistemas mais empregados são os detectores de fótons, como os fototubos, tubos fotomultiplicadores, fotodiodos de silício e o arranjo de fotodiodos. Nos dois primeiros, uma camada de material fotoemissor que está sobre a superfície côncava de um fotocátodo, emite elétrons quando irradiado com luz de energia apropriada. Estes fotoelé- trons na presença de um eletrodo carregado positivamente produzem uma fotocorrente a qual pode ser amplifi cada e medida. Neste contexto, o tubo fotomultiplicador é mais sensível que o fototubo, por apresentar diversos eletrodos (dinodos) para captura dos fotoelétrons, como mostra a Figura 6. Diagrama esquemático de um espectrofotômetro de varredura com feixe duplo. 26 Métodos Instrumentais de Análise O Detector de Arranjo de Diodos, em função da sua estrutura compacta e miniaturizada, cerca de 1000 fotodiodos de silício podem ser fabricados lado a lado em uma única lâmina (chip) de silício, proporcionam quando um ou dois arranjos são colocados na extensão do plano focal do mono- cromador, analisar de forma simultânea todos os comprimentos de onda incidentes na amostra. Além dos sistemas mais usuais descritos acima, outros sistemas de detecção podem ser encontrados em espectrômetros. Assim, um espectrômetro é um instrumento espectroscópico que utiliza um monocromador (ou policromador) juntamente com um transdu- tor (detector) para converter as intensidades radiantes em sinais elétricos. Os espectrofotômetros são os espectrômetros que permitem a medida da razão entre as potências de dois feixes, uma exigência para se medir a absorbância. Já os fotômetros empregam um fi ltro para a seleção do com- primento de onda ao invés do monocromador. Sua vantagem em relação ao espectrofotômetro é a simplicidade, robustez e baixo custo. A principal desvantagem é que o monocromador na espectrofotometria possibilita a alteração contínua do comprimento de onda sendo possível obter infor- mações a cerca do espectro de absorção da amostra (Scan), diferente da limitação do fi ltro de absorção. APLICAÇÕES DA ESPECTROFOTOMETRIA Um fato importante antes de iniciarmos nossos estudos da aplicação desta técnica, é lembrarmos que a absorbância de uma solução em qualquer comprimento de onda, é a soma das absorbâncias de todas as espécies pre- sentes em solução, logo, devemos tomar cuidado quando estamos tratando de uma solução contendo mistura de espécies moleculares que absorvem a radiação ultravioleta e visível. A absorção da radiação ultravioleta e visível por moléculas geralmente ocorre em uma ou mais bandas de absorção eletrônicas, identifi cadas no espectro como as regiões de maior intensidade da absorbância. Cada uma das bandas é constituída de muitas linhas discretas, mas próxima umas das Esquema de um tubo fotomultiplicador. 27 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 outras, originadas pela transição de um elétron de um estado fundamental para um dos muitos estados vibracionais e rotacionais associados com cada estado excitado de energia eletrônica. ABSORÇÃO POR COMPOSTOS ORGÂNICOS A absorção de radiação por moléculas orgânicas na região de compri- mento de onda entre 180 e 780 nm resulta das interações entre fótons e elétrons que estão participando diretamente da formação de uma ligação química (e são, assim, associados a mais de um átomo) ou estão localizadas sobre átomos como os de oxigênio, enxofre, nitrogênio e halogênios. O comprimento de onda no qual uma molécula orgânica absorve depende de quão fortemente seus elétrons estão ligados. Assim, a energia necessária para deslocar o elétron de seu estado fundamental para um excitado, está inversamente relacionada ao comprimento de onda, como já estudado. Os elétrons compartilhados em ligações simples carbono-carbono e carbono-hidrogênio, estão tão fortemente ligados, que é necessária uma energia relacionada a radiação eletromagnética com comprimentos de ondas inferiores a 180 nm, por isso, não tem sido amplamente explorados para fi nalidades analíticas. Já os elétrons envolvidos em ligações duplas e triplas das moléculas orgânicas são mais facilmente excitados exibindo picos de absorção úteis. Os grupos orgânicos insaturados que absorvem nas regiões do ultravioleta e visível são conhecidos como cromóforos, sendo os mais comuns os alcenos, dienos, carbonila, aromáticos, azo, entre outros. As características de uma banda de absorção não são consequência das car- acterísticas de um cromóforo isolado, pois estes podem sofrer infl uência do solvente, bem como por outros detalhes estruturais da molécula, como por exemplo, a conjugação entre dois ou mais cromóforos, causando um deslocamento do máximo do pico. ABSORÇÃO POR COMPOSTOS INORGÂNICOS Em geral, os íons e os complexos dos elementos das primeiras duas séries de transição absorvem as bandas largas da radiação visível em pelo menos um de seus estados de oxidação e são como resultado, coloridos. Estas absorções estão relacionadas às transições eletrônicas entre os orbitais d preenchidos e não-preenchidos, com energias que dependem dos ligantes dos átomos metálicos. APLICAÇÕES QUALITATIVAS As medidas espectrofotométricas com a radiação ultravioleta e visível são úteis para identifi car a presença dos grupamentos cromóforos já cita- 28 Métodos Instrumentais de Análise dos anteriormente, uma vez que a maior parte da estrutura das moléculas orgânicas não absorve nestas regiões. Picos na região de 200 a 400 nm indicam a presença de grupos insaturados ou átomos como o de enxofre ou dos halogênios. Através do espectro (Scan) do analito é possível ter uma idéia da estrutura química, em função dos grupos cromóforos identifi cados pelas relações entre as absorbâncias e os comprimentos de ondas, contudo, os espectros não apresentam informações sufi cientes para a identifi cação inequívoca da molécula, sendo necessário estar relacionada a outras técni- cas complementares como, ressonância magnética nuclear, infravermelho, espectrometria de massas, entre outras. APLICAÇÕES QUANTITATIVAS A espectroscopia de absorção apresenta algumas características que a coloca como uma das técnicas mais úteis disponíveis ao químico para uma análise quantitativa. Dentre estas características podem ser citadas: Ampla aplicabilidade – um número enorme de compostos (orgânicos e inorgâni- cos) absorve na região do UV-VIS, e parte das não-absorventes podem ser convertidas em um derivado que absorve; Alta sensibilidade– a técnica é capaz de detectar concentrações da ordem de 10-5 mol L-1, podem chegar a alguns casos até 10-7 mol L-1; Seletividade – com frequência pode se tra- balhar em um comprimento de onda específi co ao seu analito, tornando assim, desnecessário qualquer método prévio de separação, ou ainda, caso ocorra à sobreposição de bandas, medidas adicionais podem eliminar estas interferências; Boa exatidão – os erros relativos relacionados a esta técnica estão na faixa de 1 % a 5 %, podendo ser frequentemente reduzidos a décimos por cento; Acessibilidade – as medidas espectrofotométricas são realizadas de forma fácil e rápida. Uma primeira etapa em qualquer análise espectrofotométrica é o desenvolvimento de condições que produzam uma relação reprodutível (preferencialmente linear) entre a absorbância e a concentração do analito. Para isto, deve-se trabalhar na seleção do comprimento de onda carac- terístico ao analito e onde ocorra o máximo de absorbância, que pode ser obtido através de uma análise prévia de varredura, o que dará maior sensibilidade ao método. A determinação da relação entre a absorbância e a concentração, que estabelecerá a curva de calibração, deve abranger uma faixa razoável de concentração e englobar a composição da amostra. Deve-se fi car atento as variáveis que podem infl uenciar a absorbância, tais como, o pH, a temperatura, altas concentrações de eletrólitos e a presença de interferentes. A adição de padrão pode minimizar o efeito desta última. A Figura 7 apresenta um resumo desta aplicação. 29 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 Através da curva de calibração é possível obter uma equação da reta do tipo y = ax + b, onde y = absorbância; x = concentração do analito na solução; a = coefi ciente angular da reta; e b = coefi ciente linear da reta. De posse dos dados da equação da reta é possível submeter a amostra a análise nas mesmas condições, obtendo-se a absorbância da solução. Através do valor da absorbância pode-se aplicar na equação da reta e encontrar a concentração molar do analito na amostra analisada. LEIA MAIS Leiam o artigo intitulado “Espectroscopia molecular“ que está dis- ponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias do texto. PARA SABER MAIS Se você se interessou pelo tema e deseja saber mais, consulte os capítulos 24 e 26 do livro Fundamentos de Química Analítica, 8a Edição, Editora Thomson, escrito pelos autores Skoog, West, Holler e Crouch. . a) cubetas contendo soluções padrão de diferentes concentrações; b) região do espectro escolhida para a análise quantitativa por apresentar as características necessárias; c) curva de calibração que relaciona a Absorbância x Concentração do analito nas soluções padrão. 30 Métodos Instrumentais de Análise CONCLUSÃO Nesta aula foram apresentados os conceitos relacionados à base da espectrofotometria, suas características, instrumentação e aplicação. RESUMO A espectrofotometria está baseada na utilização da radiação eletromag- nética (luz) para obter informações estruturais de compostos orgânicos e inorgânicos, análise qualitativa, e pode ser aplicada na determinação da concentração de um analito num determinado sistema, análise quantitativa. No modo qualitativo, a espectrofotometria de varredura (Scan), apresenta um espectro referente a absobância do analito em toda a extensão da região do UV-VIS, sendo empregado na identifi cação de grupos cromóforos na estrutura da molécula, e funcionando como uma prévia da análise quan- titativa para a seleção onde se encontra o máximo de absorbância num comprimento de onda específi co para o analito. Na análise quantitativa, o foco está na seleção da melhor região do espectro que apresente uma relação absorbância x concentração, que tenha preferencialmente uma relação linear englobando uma ampla faixa de concentração que atenda a concentração do analito na solução problema. Para todas estas aplicações é importante conhecer a natureza da energia radiante, suas regiões e as energias envolvidas em cada comprimento de onda, uma vez que a técnica relaciona a energia absorvida ou emitida para a excitação de elétrons. ATIVIDADES 1. Qual a energia por fóton da linha D do átomo de sódio (λ = 589 nm)? 2. Uma amostra apresenta uma transmitância de 50 %. Qual será sua ab- sorbância? 3. Uma solução 5,00 x 10-4 mol L-1 de um analito foi colocada em um cubeta com caminho óptico igual a 1 cm. Quando submetido ao comprimento de onda de 490 nm, a solução do analito apresentou uma absorbância igual a 0,338. Qual é a absortividade molar do analito neste comprimento de onda? 4. Sabendo que a curva de calibração, apresentada na Figura 7, representa a determinação de Ferro em água pelo método da о-Fenantrolina, e que a curva apresenta uma equação da reta do tipo A = 200 M + 0; determine a concentração molar de Ferro em uma amostra que foi analisada nas mesmas condições e apresentou absorbância igual a 0,665. 31 Espectrofotometria de Absorção Molecular na região do UV–VIS Aula2 COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES 1. Sabemos que a energia de um fóton é dada por: E = h ν; então substituindo a frequência (ν) pela relação entre a velocidade da luz / comprimento de onda, temos: Como sabemos este é o valor da energia referente a um fóton, caso queiramos extrapolar para um mol de moléculas devemos multiplicar pelo número de Avogadro, 6,02 x 1023. 2. Vamos relembrar o como obtemos %T; O %T = T 100, logo a transmitância será: 50 = T 100; T = 50 / 100; T = 0,500 Sabendo que a relação entre transmitância e absorbância é dada por A = - log T, a absorbância será: A = - log 0,500; A = 0,301 3. Através da Lei de Beer é possível relacionar a Absorbância da solução, a concentração da solução, o caminho óptico e a absortividade molar como mostrado a seguir: A = ε b C Substituindo os valores que o enunciado fornece, temos: A = ε b C 0,338 = ε (1 cm) (5,00 x 10-4 mol L-1) ε = 676 L mol-1 cm-1 4. Como a equação da reta referente a curva de calibração já apresenta a relação Absorbância x Concentração, temos: A = 200 M M = A / 200 = 0,665 / 200 = 0,00332 mol L-1 de Ferro na amostra 32 Métodos Instrumentais de Análise AUTO-AVALIAÇÃO - Consigo reconhecer as regiões espectrais e seus respectivos comprimentos de onda? - Diferencio entre energia transmitida e absorvida? - Sou capaz de interpretar a Lei de Beer – Lambert? - Consigo identifi car a instrumentação analítica relacionada a Espectrofo- tometria? - Sinto-me capaz de aplicar a espectrofotometria de absorção molecular no UV–VIS em análises qualitativas e quantitativas? PRÓXIMA AULA Na próxima aula iremos trabalhar a espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS. REFERÊNCIAS HARRIS, D. C. Análise Química Quantitativa. 7 ed. Tradução de Bor- dinhão, J. [et al.]. Rio de Janeiro: LTC, 2008. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. HARVEY, D. Modern Analytical Chemistry, 1st edition, McGraw Hill: Boston, 2000. ROBINSON, J.W.; FRAME, E.M.S; FRAME II, G.M. Undergraduate In- strumental Analysis, 6th edition, Marcel Dekker, New York, 2005. OLIVEIRA, L.F.C. Espectroscopia molecular. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, n. 4, 2001. Aula 3 Elisangela de Andrade Passos ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO ATÔMICA NA REGIÃO DO UV-VIS META Apresentar um breve histórico da espectrometria de absorção atômica (AAS); apresentar os fundamentos da AAS; apresentar os componentes de um espectrômetro de absorção atômica; apresentar os tipos de introdução da amostra em um espectrômetro de absorção atômica; apresentar as aplicações da AAS; apresentar as limitações da AAS; apresentar os métodos de cálculos na AAS. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: defi nir espectrometria de absorção atômica; entender a evolução histórica da AAS; entender o funcionamento de um espectrômetro de absorçãoatômica; distinguir entre as técnicas de introdução da amostra em um espectrômetro de absorção atômica; entender as aplicações e limitações da AAS. PRÉ-REQUISITOS Saber os fundamentos da espectroscopia de absorção molecular na região do UV-VIS. 34 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na aula anterior foram relatados acerca os princípios da espectrosco- pia de absorção molecular na região do UV-VIS. Foram relatados sobre a natureza da energia radiante, das regiões espectrais e medida de transmitân- cia e absorbância. Além disso, foram apresentadas as fontes de radiação, monocromadores, a Lei de Beer-Lambert, a descrição detalhada da instru- mentação de Espectrofotômetros e Fotômetros. Por fi m foram apresentadas as aplicações da espectrofotometria de absorção molecular no UV-VIS. Nesta aula serão apresentados os fundamentos da espectrometria de absorção atômica (AAS) na região do UV-VIS. Foi apresentado um breve histórico da AAS e os componentes de um espectrômetro de absorção atômica. Além disso, foram analisadas as técnicas de introdução da amostra que substituem o queimador na FAAS. Por fi m, as principais aplicações e limitações da AAS foram apresentadas. Ao fi nal desta aula, você deverá compreender os princípios da espec- trometria de absorção atômica e você será capaz de entender o funciona- mento de um espectrômetro de absorção atômica. Além disso, você deverá saber distinguir entre as técnicas de introdução da amostra e conhecer as principais aplicações e limitações da AAS. A espectrometria de absorção atômica (AAS, do inglês Atomic Ab- sorption Spectrometry) baseia-se na absorção da energia radiante pelas espécies atômicas neutras, não-excitadas, em estado gasoso. Cada espécie atômica possui um espectro de absorção formado por uma série de est- reitas raias características devidas a transições eletrônicas envolvendo os elétrons externos. A AAS utiliza esse fenômeno para a determinação quantitativa de me- tais, semi-metais e alguns não metais em amostras ambientais, biológicas, alimentos, etc. A espectrometria de absorção atômica com Chama (FAAS, do inglês Flame Atomic Absorption Spectrometry) é a técnica mais utilizada para analises elementares em níveis de mg L-1, enquanto que a espectrome- tria de absorção atômica com atomização eletrotérmica em forno de grafi te (ETAAS, do inglês Electrothermal Atomic Absorption Spectrometry) é utilizada para determinações de baixas concentrações (μg L-1). BREVE HISTÓRICO Os primeiros estudos a cerca da absorção da luz datam de 1802, quando Wollaston iniciou estudos do espectro da luz solar. Em 1814, Fraunhofer descobriu raias visíveis no espectro solar. Brewster, em 1832, nos seus estudos concluiu que as raias de Fraunhofer eram devidas à presença de vapores na atmosfera. Em 1860, Kirchoff desenvolveu a Lei fundamental 35 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 da Absorção Atômica: “todos os corpos podem absorver radiação que eles próprios emitem”. Wood, em 1902, demonstrou o fenômeno de absorção e emissão atômica. Em 1955, AlanWalsh estabeleceu a primeira proposta instrumental do AAS com a determinação de mais de 70 elementos. COMPONENTES DE UM AAS Os principais componentes dos espectrofotômetros de absorção incluem: fonte, sistema de modulação de sinal, célula de absorção, mono- cromador, detector, amplifi cador e sistema de leitura. Fonte. A fonte para AAS deve emitir radiação estável e intensa do elemento de interesse. A radiação deve ser estreita e não deve fornecer radiação de fundo ou linhas estranhas emitidas dentro da banda do monocromador. As fontes são basicamente de dois tipos: lâmpadas de cátodo oco e lâmpadas de descarga. As lâmpadas de cátodo oco são usadas mais amplamente, e consistem num tubo de vidro com grossas paredes contendo Neônio ou Argônio à baixa pressão (1-2 atm), provido de um cátodo feito ou recoberto do elemento interessado, comumente em forma de cilindro fechado em uma das extremidades, e um ânodo em forma de fi o de Tungstênio. A face frontal da lâmpada é feita de quartzo ou vidro, de acordo com os compri- mentos de onda a se transmitir. As lâmpadas de descarga produzem um espectro de raias por meio da passagem de uma corrente elétrica através de vapor de metal. Estas são úteis para produzir espectros dos metais alcalinos e do mercúrio. Sistema modulador de sinal. O Sistema modulador de sinal permite minimizar ruído do sistema atomizador e minimizar problemas devido à instrumentação. Célula de absorção. A função da célula de absorção é converter a amostra em átomos no estado fundamental no caminho óptico, ou seja, onde ocorre a atomização. As células de absorção são basicamente de três tipos: chama, forno de grafi te e célula de quartzo com ou sem aquecimento. A amostra é liquida e para ser convertida em átomos gasosos seguem as seguintes etapas: Processos que levam à produção de átomos, moléculas e íons em sistemas contínuos de introdução de amostras em uma chama. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 801.) 36 Métodos Instrumentais de Análise Segundo a Figura 1 a amostra contendo os elementos de interesse é convertida em pequenas gotas no processo de nebulização (v/g) que ocorre no nebulizador, dispositivo que serve para dispersar a amostra em forma de partículas atômicas neutras no caminho óptico do aparelho. As pequenas gotas penetram na chama e o solvente é vaporizado (s/g) e o vapor é dis- sociado em átomos gasosos mais outros processos não desejáveis podem ocorrer como íons e moléculas excitadas. A chama é formada no queimador que pode são de titânio por ser resistente a corrosão e não conter os elementos de interesse na sua com- posição. Os queimadores são de dois tipos: com fenda de 10 cm, usados na chama ar/acetileno, e de 10 cm de fenda para óxido nitroso/acetileno. O combustível mais utilizado é o acetileno (C2H2) e o oxidante mais utilizado é o ar atmosférico. Essa mistura confere a chama uma temperatura de 2100-2400 oC. A mistura óxido nitroso (N2O)/acetileno confere a chama uma temperatura de 2600-2800 oC. Esta última é empregada para elementos que forma na chama compostos refratários. Uma aplicação desse tipo de chama é a determinação do alumínio, cromo, vanádio, etc. Monocromador. O monocromador é um dispositivo capaz de isolar a raia analítica e de bloquear as raias ou bandas vizinhas, bem como a radiação de fundo da chama tanto quanto possível. O dispositivo monocromador deve deixar passar a maior quantidade de luz possível, ou seja, suas fendas devem ser ajustáveis para dar abertura a uma faixa espectral com amplitude estreita. Os espectrofotômetros necessitam que o monocromador seja capaz de isolar mais de um comprimento de onda sem a necessidade de se al- terar signifi cativamente sua construção. Neste caso, a rede de difração é empregada como elemento monocromador. Uma rede de difração típica que opera por refl exão é construída como mostrado na Figura 2. Rede de difração refl exiva. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 713.) 37 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 Redes de difração construídas para operar na região UV-VIS possuem, normalmente, entre 300 e 2.000 ranhuras por milímetro. Estas ranhuras, normalmente referidas como linhas, são produzidas de forma a apresentar um ângulo que permita uma maior efi ciência para certa faixa de compri- mento de onda. As redes de difração podem fornecer excelente resolução espectral, isolando faixas muito estreitas de comprimento de onda. Esta habilidade depende não somente do número de ranhuras por milímetro, mas, também, de toda a construção e características de outros elementos ópticos empregados na construção do espectrofotômetro, comoespelhos e fendas de entrada e saída de luz. A Figura 3 mostra um monocromador denominado de Czerny-Turner, constituído por uma rede de difração, dois espelhos côncavos e duas fen- das. A fenda de saída pode ser posicionada para isolar um determinado comprimento de onda. Alternativamente, a fenda de saída pode ser fi xa e a rede de difração ser movimentada, alterando-se o ângulo de incidência da luz policromática e permitindo que os diferentes comprimentos de onda sejam projetados sobre a fenda de saída. Sistema monocromador de Czerny-Turner simétrico. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 711.) Detectores de Radiação. Um detector de radiação é um dispositivo capaz de converter a energia radiante, que sobre este incide em um sinal elétrico normalmente constituído por uma corrente elétrica cuja grandeza é proporcional a intensidade da radiação monitorada. Os detectores apre- sentam, sem exceção, sensibilidade dependendo do comprimento de onda 38 Métodos Instrumentais de Análise da radiação que sobre este incide. Os detectores na AAS são basicamente de três tipos: fototubo a vácuo, tubo fotomultiplicador e Diodo de Silício. Um fototubo a vácuo é um detector de radiação constituído de um tubo de vidro selado no interior do qual se faz vácuo e onde estão contidos dois eletrodos, um catodo cilíndrico, cuja superfície é revestida por um material fotoemissível (que emite elétrons ao ser atingido pela luz) e um fi o metálico que constitui o ânodo. Entre os eletrodos é aplicado um potencial que faz com que os elétrons emitidos fl uam para o ânodo gerando uma fotocor- rente. Esta fotocorrente pode ser facilmente amplifi cada para fornecer um sinal proporcional à intensidade de luz que incide sobre o fotocatodo. A faixa de comprimento de onda que pode ser monitorada por este tipo de detector depende do material que reveste o cátodo. De uma forma geral, a região entre 200 e 900 nm pode ser monitorada por dispositivos deste tipo. A fi gura 4 mostra o esquema de um detector de fototubo a vácuo. Esquema de um detector de fototubo à Vácuo. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 723.) Quando a intensidade da radiação a ser medida é baixa, pode-se em- pregar um tubo fotomultiplicador, Este detector pode ser descrito como uma série de eletrodos nos quais o fl uxo de elétrons gerado em um é empregado na obtenção de uma corrente elétrica maior. Esta corrente é originada pelo choque dos elétrons, acelerados por um campo elétrico, con- tra a superfície do outro eletrodo. Cada eletrodo recebe o nome de dinodo e entre estes é estabelecida uma diferença de potencial da ordem de 90 V. É possível, devido a amplifi cação do número de elétrons a cada estágio, em um sistema de nove dinodos, produzir cerca de 106 elétrons para cada 39 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 fóton incidente no cátodo do fototubo. Esta corrente atinge fi nalmente o anodo e pode ser ainda mais amplifi cada. A Figura 5 mostra o esquema de um detector de fotmultiplicador. Esquema de um detector de tubo fotomultiplicador. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 723.) Outro tipo de detector, de uso bastante difundido na moderna espec- trofotometria é aquele de Diodo de Silício. Este detector é constituído de uma junção pn polarizada reversamente. A condutância da junção é prati- camente nula no escuro, porém a incidência de fótons sobre esta junção pode gerar pares de elétrons e “buracos”, promovendo o aparecimento de uma fotocorrente. Detectores deste tipo podem ser empregados na faixa espectral entre 190 a 1100 nm, com sensibilidade intermediária entre a do fototubo e da fotomultiplicadora. A Figura 6 mostra o esquema de um detector de diodo de silício. . Esquema de um detector de diodo de silício. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 725.) 40 Métodos Instrumentais de Análise Amplifi cador e sistema de leitura. O sinal de saída da fotomultiplicadora é ainda amplifi cado antes de ir para ao sistema de leitura. A amplifi cação de corrente alternada é preferida a corrente continua, sendo sujeita a fl utuações. O sistema de leitura mais simples são os analógicos. Hoje, praticamente, todos os AAS tem mostradores digitais, que são mais acurados reduzindo o erro de leitura. É comum o uso de microprocessadores no sistema de leitura. INTERFERÊNCIAS EM AAS As interferências em AAS é qualquer fato que altere a população de átomos já que a concentração é proporcional a população de átomos. As interferências são basicamente de três tipos: interferências espectrais, emissão de fundo, ionização e interferências aniônicas. Interferências espectrais. Radiações emitidas de outras espécies e seus óxi- dos dentro da faixa de comprimento de onda isolada pelo aparelho. Sua extensão depende do tipo de instrumento usado, da temperatura da chama e da relação de concentrações do interferente e do elemento. O problema pode ser resolvido utilizando espectrofotômetros à base de fi ltros. Emissão de fundo. Radiações contínuas de fundo emitidas pela própria chama. Se a emissão for proveniente da chama pode-se usar o recurso de aspirar o solvente puro da chama subtraindo a resultante leitura das medidas com a amostra. Pode ser absorvida pela mesma espécie no estado funda- mental. Assim. A auto-absorção impede que um fóton emitido alcance o detector (a auto-absorção aumenta proporcionalmente à concentração do elemento emissor). Ionização. A chama quando muito quente fornece energia sufi ciente para ionizar os metais alcalinos, e a ionização diminui a concentração de átomos neutros disponíveis. Sendo assim, observa-se a diminuição da intensidade da emissão nas chamas mais quentes. Outro efeito relacionado é a exaltação catiônica, que resulta da repressão do metal interessado pela presença do metal interessado pela presença de um segundo; e pode ser amenizada pela adição de uma alta concentração do elemento potencialmente interferente (tampão de radiação) aos padrões e à amostra, de modo a diminuir o efeito das pequenas concentrações dos interferentes presentes na amostra. Interferências aniônicas. Envolve formação, com o cátion em questão, de- composto que se volatilizam apenas lentamente à temperatura da chama, de forma incompleta. Ou seja, as concentrações dos átomos neutros dis- poníveis para excitação são limitadas pela incompleta volatilização. Às vezes é recomendável a substituição do ânion passando a solução através de uma resina trocadora de ânions, ou o uso de agentes precipitantes apropriados, ou ainda a adição de agentes liberatórios, que se combinam com o ânion interferente ou o deslocamento pela complexação do cátion. 41 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 FORNO DE GRAFITE Em 1958, L´vov introduziu o conceito de atomização eletrotérmica. Ele propôs o uso de um forno de grafi te como atomizador (substituindo o nebulizador na chama), baseado no forno de King que foi projetado em 1905. A idéia de L´vov era que a atomização da amostra deveria ocorrer em uma única etapa, dentro de um forno de grafi te aquecido eletricamente, permitindo dessa forma, obter uma grande melhoria da sensibilidade da técnica, com menor consumo de amostra. Assim a técnica fi cou conhecida como espectrometria de absorção atômica com atomização eletrotérmica em forno de grafi te (ETAAS, do inglês Electrothermal Atomic Absorption Spectrometry), fazendo uso de atomizadores metálicos ou de grafi te, sendo o último o mais popular e extremamentedifundido em pesquisas. Na técnica ETAAS, um pequeno volume da amostra (5-100 μL) é in- troduzido por uma micropipetador ou autoamostrador no interior de um tubo de grafi te postado no caminho óptico do aparelho. Ou seja, no local do queimador do FAAS. O aquecimento da amostra se dá em três etapas: (a) secagem, onde o tubo é levado à temperatura de vaporização do solvente (50-200 oC); (b) pirólise, onde o tubo é levado à temperatura que o analito se volatilize e elimine os contaminantes (200-800 oC); (c) atomização, o forno é levado à temperatura de atomização do analito, e, (d) limpeza, nessa etapa o tubo é limpo para a próxima análise. Atomizador de forno de grafi te (a) e A plataforma de L’vov e sua posição no forno de grafi te (b). (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 810.) 42 Métodos Instrumentais de Análise Entre as vantagens do forno de grafi te podemos destacar: a alta sensibi- lidade, requer pouca amostra, possibilidade de automação, maior tempo de residência. Algumas interferências são conferidas à técnica, para minimizá- las foi introduzido por Slavin o conceito de STPF (do inglês Stabilized temperature platform furnace). Resumindo o conceito STPF estabelece que: (a) o analito deve ser estável até a temperatura de pirólise; (b) deve ser aplicável a um grande número de analito; (c) aumentar o tempo de vida do tubo; (d) reduzir a interferência de fundo, e, (e) aquecimento rápido e menor consumo de gás de arraste, em geral o argônio é o mais popular e extremamente difundido em pesquisas. GERADOR DE HIDRETO Elementos como S, Bi, Ge, Pb, Sb, S, Se e Te possuem a propriedade em formar hidretos ao reagirem com hidrogênio nascente. Os compostos binários de H com alguns elementos as conhecidos como hidretos e são car- acterizados para se apresentarem em estado gasoso à temperatura ambiente. O hidreto formado é transportado para a célula de atomização A amostra acidifi cada ao se mis- turar com um hidreto reage e forma hidretos voláteis de algumas espécies. A geração dessas espécies é conhecida como geração de hidreto. De forma semelhante pode gerar vapor frio, por exemplo, Hg. A geração dessa espécie é conhecida como geração de vapor frio. O hidreto pode ser formado por diversos reagentes redutores, sendo o borohidreto de sódio (NaBH4) em meio ácido o mais utilizado, devido a reação ser rápida permite assim a automação. O hidreto gerado é transportado pelo gás de arraste, geralmente argônio, a uma célula de quarto postado no caminho óptico do aparelho. Ou seja, no local do queima- dor do FAAS. Esquema de um Gerador de Hidreto (Fonte: http://www.scielo.br/pdf/aa/v39n4/v39n4a23.pdf acessado em 12/02/2011) 43 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 As principais vantagens dessa técnica são: a redução dos interferentes, já que o analito é separado da matriz; a concentração do analito; possibilidade de especiar o analito, e, automação do sistema. As principais limitações são: cinética de geração dos hidretos metálicos; pH reacional, e, que os estados de oxidação afetam as medidas. VAPOR FRIO Esta técnica é especifi ca para mercúrio O mercúrio é o único elemento metálico que existe na forma atômica na temperatura ambiente. Assim, basta proceder na redução e transportá-lo pelo gás de arraste, geralmente argônio, a uma célula de quarto postado no caminho óptico do aparelho. Ou seja, no local do queimador do FAAS. O cloreto de estanho, SnCl2, em meio ácido é usado como redutor. Este reduz somente o mercúrio inorgânico e alguns organomercurosos, o metil-Hg, não é reduzido. A redução completa do metil-Hg pode ser alcan- çada com SnCl2 em meio básico, na presença de CdCl2, ou usando NaBH4. Esquema de um Gerador de Vapor frio (Fontes: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-20611999000100006 acessado em 12/02/2011) 44 Métodos Instrumentais de Análise APLICAÇÕES A espectrofotometria permite determinar em torno de 70 elementos na faixa de 1 a 10 mg L-1. A FAAS determina aproximadamente 64 elementos, o ETAAS, aproximadamente 55 elementos, a geração de hidretos, 8 elementos e vapor frio um elemento (Hg). As técnicas de absorção atômica podem ser aplicadas a vários tipos de amostras, tais como: ambiental (solos, águas, plantas, sedimentos), biológica (urina, cabelo, outros fl uidos), alimentos e industrial (fertilizantes, lubrifi cantes, minérios). LIMITAÇÕES A espectrometria de absorção atômica tem como limitações (a) não fornecer informações sobre a forma química do metal (especiação); (b) a preparação de amostras pode ser demorada; (c) técnica limitada a metais e metalóides; (d) técnica destrutiva da amostra; (e) custo do aparelho elevado e, (f) técnica monoelementar. Alguns pesquisadores vem desenvolvendo instrumentação para a determinação multielementar. LEIA MAIS Leiam o artigo intitulado “Espectrometria de absorção atômica: o caminho para determinações multi-elementares“ que está disponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias do texto. MÉTODOS DE CÁLCULO O cálculo da concentração do analito por AAS pode ser por dois mé- todos: curva analítica e método de adição de padrão. Curva Analítica. Depois de localizar o comprimento de onda apropriado para a medida da absorbância da substância que se quer determinar, deve- se verifi car se o sistema segue a lei de Beer, o que se consegue a partir da representação gráfi ca de valores de absorbância, para um dado número de soluções-padrão, em função da sua concentração. Método da adição de Padrão. É um método empregado para eliminar, ou minimizar, os efeitos dos constituintes não desejados, conhecidos como interferentes. No método de adição de padrão as leituras de absorbância são feitas em várias soluções, todas elas contendo a mesma alíquota de solução amostra e concentrações diferentes de padrão adicionado. Ver Figura 10. 45 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 PARA SABER MAIS Se você se interessou pelo tema e deseja saber mais, consulte os capítulos 25 e 28 do livro Fundamentos de Química Analítica, 8a Edição, Editora Thomson, escrito pelos autores Skoog, West, Holler e Crouch. Método da Adição de Padrão CONCLUSÃO Nessa sessão foram apresentados os fundamentos espectrometria de absorção atômica na região do UV-VIS. Foi também apresentado a evolução dos primeiros estudos acerca da AAS de 1802 a 1955. Os componentes de um espectrômetro de absorção atômica foram detalhados. Assim como as interferências espectrais, emissão de fundo, ionização e interferências aniônicas. São técnicas de introdução da amostra o forno de grafi te, o gerador de hidreto e o vapor frio, já que são postados no caminho óptico e, portanto substituem o queimador na FAAS. Na interpretação dos resultados podem ser usadas a curva analítica e o método de adição de padrão. 46 Métodos Instrumentais de Análise RESUMO A espectrometria de absorção atômica refere-se ao conjunto de técnicas fundamentadas na interação entre a radiação e os átomos no estado livre. Esta técnica é aplicada na determinação quantitativa de metais, semi-metais e alguns não metais em amostras ambientais, biológicas, alimentos, etc. Alan Walsh, em 1955, estabeleceu a primeira proposta instrumental do AAS com a determinação de mais de 70 elementos. Os principais componentes dos espectrofotômetros de absorção incluem: fonte, sistema de modulação de sinal, célula de absorção, monocromador, detector, amplifi cador e sistema de leitura. As interferências em AAS são eventos que alteram a população de átomos. Estas são classifi ca- das em interferências espectrais, emissão de fundo, ionização e interferências aniônicas. O forno de grafi te, o gerador de hidreto e o vapor frio são técnicas de introdução da amostra, uma vez que substituem o queimador no caminho ópticoda FAAS. Os resultados obtidos por AAS podem ser calculados pela a curva analítica e pelo método de adição de padrão. ATIVIDADES A determinação de íons metálicos empregando técnicas de espectrometria de absorção atômica requer que as amostras a serem analisadas estejam na forma de solução. Isso ocorre por meio de técnicas de digestão, seja ela uma fusão ou dissolução ácida, levando a diluição da concentração do analito na amostra em sua forma fi nal. Qual seria uma alternativa viável para evitar esse problema? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES Uma alternativa seria aumentar a massa amostra. Em alguns casos isto não é possível, como por exemplo, em amostras biológicas, tal como sangue. Não é aconselhável retirar um grande volume de sangue em humanos, para análise de um analito. Uma alternativa viável seria o emprego da técnica de amostragem sólida, na qual a determinação do analito é realizada diretamente no equipamento. Além disso, reduz sensivelmente as contaminações e/ou perdas do analito durante o preparo da amostra, diminui o uso de reagentes e, ainda, torna a análise mais rápida. Para compreender melhor os conceitos e aplicações da amostragem sólida leiam o artigo intitulado “Amostragem de suspensões: Emprego da técnica na análise direta de amostras“ que está disponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias do texto. 47 Espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS Aula3 AUTO-AVALIAÇÃO - Entendo os princípios dar espectrometria de absorção atômica? - Sou capaz de entender a evolução histórica da AAS? - Consigo entender o funcionamento de um espectrômetro de absorção atômica? - Distingo entre as técnicas de introdução da amostra em um espectrômetro de absorção atômica? - Entendo as aplicações e limitações da AAS? PRÓXIMA AULA Na próxima aula iremos abordar acerca da Espectroscopia de Emissão Atômica no UV-VIS. REFERÊNCIAS HARRIS, D. Analise Química Quantitativa. Ed. LTC, 5 ed.; Rio de Janeiro, 2001. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Funda- mentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. CHRISTIAN, G.D. Analytical Chemistry, 6 ed. Ed. John Wiley & Sons Inc, EUA, 2004. MAGALHÃES, C.E.C.; ARRUDA, M.A.Z, Amostragem de suspensões: emprego da técnica na análise direta de amostras. Química Nova, v.21, n.4, p.459-466, 1998. AMORIM, F.A.C.; LOBO, I.P.; SANTOS, V.L.C.S.; FERREIRA, S.L.C. Espectrometria de absorção atômica: o caminho para determinações multi- elementares. Química Nova, v.31, n.7, p.1784-1790, 2008. Aula 4 Elisangela de Andrade Passos ESPECTROSCOPIA DE EMISSÃO NA REGIÃO DO UV-VIS META Apresentar os fundamentos da espectrometria de emissão atômica; apresentar os componentes de um ICP; apresentar as aplicações das fontes de plasma; apresentar as vantagens do ICP frente ao AAS; apresentar a espectroscopia de emissão baseada em fontes emissão por chama e suas aplicações. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: defi nir espectrometria de emissão atômica; entender o funcionamento de um ICP; analisar as aplicações da fonte de plasma; entender a diferença entre um ICP e um AAS; defi nir emissão por chama. PRÉ-REQUISITOS Saber os fundamentos da espectroscopia de absorção atômica na região do UV-VIS. 50 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na aula anterior foram apresentados os fundamentos da espectrome- tria de absorção atômica (AAS) na região do UV-VIS. Foram relatados um breve histórico da AAS e os componentes de um espectrômetro de absor- ção atômica. Além disso, foram apresentadas as técnicas de introdução da amostra e as principais aplicações e limitações da AAS. Nesta aula serão apresentados os fundamentos da espectrometria de emissão atômica. Foram apresentados os componentes de um plasma in- dutivamente acoplado (ICP). Além disso, foram apresentadas as aplicações das fontes de plasma. Por fi m, diferenciar um ICP de um AAS e defi nir a técnica de emissão por chama. Ao fi nal desta aula, você deverá compreender os princípios da espectro- metria de emissão atômica e você será capaz de entender o funcionamento de um plasma indutivamente acoplado. Além disso, você deverá saber distinguir entre um ICP de um AAS e conhecer as principais aplicações de um espectrômetro de emissão por chama. A espectrometria de emissão atômica baseia-se na propriedade dos áto- mos neutros ou íons no estado gasoso de emitirem, quando termicamente ou eletricamente excitados, radiações em comprimentos de ondas caracter- ísticos nas regiões UV-VIS. Os atomizadores convertem os componentes das amostras em átomos ou íons elementares e nesse processo, excitam uma fração dessas espécies a altos estados eletrônicos. A alta relaxação dessas espécies é acompanhada pela produção de linhas espectrais ultravioletas e visíveis, que são úteis na análise elementar qualitativa e quantitativa. Ao longo de uma década a nova técnica, que utilizava uma fonte de plasma para produzir espectros de emissão a partir da excitação e decai- mento de átomos e íons de interesse, tornou-se gradativamente atraente para a comunidade científi ca da área quando, em 1975 foi introduzido no mercado o primeiro espectrômetro de emissão ótica com fonte de plasma induzido (ICP OES). Desde então a técnica se transformou numa poderosa ferramenta analítica para e determinação de metais, semi-metais e não-metais em diversos tipos de amostras. ESPECTROSCOPIA DE EMISSÃO BASEADA EM FONTES DE PLASMA Por defi nição, um plasma é uma mistura gasosa condutora de eletricidade, que contém uma concentração signifi cativa de cátions e elé- trons (as concentrações dos dois são tais que a carga total aproxima-se de zero). Em um plasma de argônio, freqüentemente empregado para análises por emissão, os íons argônio e elétrons são as principais espécies 51 Espectroscopia de emissão na região do UV-VIS Aula4 condutoras, embora os cátions da amostra também estejam presentes em menor quantidade. Os íons argônio, uma vez formados em um plasma, são capazes de absorver energia sufi ciente para manter a temperatura em um nível no qual ionizações adicionais sustentam o plasma, indefi nidamente; temperaturas maiores que 10.000 K são encontradas. Três tipos de plasma de alta temperatura são encontrados (1) o plasma indutivamente acoplado (ICP), (2) o plasma de corrente contínua (DCP), e (3) o plasma induzido por microondas (MIP). As primeiras duas fontes são comercializadas por muitas companhias e a fonte de plasma induzido por microondas não é muito empregada para análise elementar. Em nosso curso vamos estudar com detalhes apenas a fonte de plasma indutivamente acoplado. FONTE DE PLASMA INDUTIVAMENTE ACOPLADO (ICP) A Figura 1 mostra um esquema de uma fonte típica de plasma induti- vamente acoplado, chamada de tocha. Ela consiste de três tubos de quartzo concêntricos através dos quais passam fl uxos de gás argônio. Dependendo do projeto da tocha, a vazão total de consumo de argônio é de cerca de 5 a 20 L min-1. O diâmetro do tubo mais largo é de cerca de 2,5 cm. Envolvendo a parte superior desse tubo encontra-se uma bobina de indução refrigerada a água e alimentada por um gerador de radiofreqüência capaz de produzir cerca de 2 kW de energia a 27 ou 41 MHz. Representação esquemática de uma tocha de plasma. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 803.) 52 Métodos Instrumentais de Análise O fl uxo de argônio passa através da tocha e é ionizado pelo campo magnético produzido pela bobina de indução; o campo magnético tem linhas de força axiais e as partículas de argônio encontram resistência, produzindo aquecimento e mais ionização. O fl uxo de gás é semeado de elétrons livres que interagem com o campo magnético, adquirindo energia sufi ciente para ionizar ainda mais o fl uxo de gás. Um plasma em forma de chama de vela aparecesobre a tocha de quartzo e se autosustenta pela continuidade do processo. Nos três tubos de quartzo da tocha fl ui argônio: entre o mais externo e o intermediário escoam cerca de 15 L min-1e sua função é de resfriamento e formar o plasma; entre o intermediário e o central passa 1 L min-1e este fl uxo, chamado auxiliar, é semeado com íons e elétrons por meio da bobina de indução. E sua função é estabilizar o plasma. O tubo central é o que arrasta a amostra em forma de aerossol, a partir do nebulizador (0,3 a 1,5 L Ar min-1). A razão de argônio através de uma tocha típica é grande o sufi ciente para gerar um custo signifi cativo. A temperatura obtida no plasma, perto da bobina indutora, é de 10.000 K. A observação do plasma em ângulos retos é denominada geometria de observação radial e quando a tocha é girada a 90º é denominada geometria de observação axial (Fig. 2). Com a geometria axial a tocha fi ca alinhada horizontalmente com o sistema do espectrômetro. A radiação emitida pelo centro do plasma é então usada na análise. Este arranjo pode melhorar o limite de detecção por um fator de quatro a dez vezes. Geometrias de observação de fontes de ICP. (a) Geometria radial empregada em espectrômetros de emissão atômica de ICP; (b) geometria axial utilizada em espectrômetros de massas de ICP e em diversos espectrômetros de emissão atômica de ICP. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 803.) 53 Espectroscopia de emissão na região do UV-VIS Aula4 Introdução da Amostra. As amostras são transportadas para a tocha por ar- gônio fl uindo entre 0,3 a 1,5 L min-1, através do tubo de quartzo central (Fig. 3). A amostra em solução é levada até o plasma da tocha por uma bomba peristáltica, cujo controle de fl uxo pode ser regulado e deve ser mantido constante durante a etapa de calibração e analise, para não gerar erros. A introdução da amostras pode ser feita por nebulizadores, que converte a solução amostra em aerossol, cujas gotículas devem ter o menor diâmetro possível, para que sejam efi cientemente transportadas para o plasma (Fig. 4). Outras técnicas de introdução da amostra são a vaporização eletrotérmica, geração de hidreto e dispositivos de ablação para sólidos. Esquema do conjunto nebulizador-câmara de nebulização-tocha. (Fonte: http://web.cena.usp.br/apostilas/krug/icpoes%20FANII.pdf acessado em 15/02/2011) Esquema de umnebulizador concêntrico e camara de nebulização Scott de duplo passos. Fonte: http://web.cena.usp.br/apostilas/krug/icpoes%20FANII.pdf acessado em 15/02/2011 54 Métodos Instrumentais de Análise Aparência do Plasma e do Espectro. Um plasma típico apresenta um núcleo branco, não-transparente, brilhante, muito intenso, acima do qual segue uma cauda em forma de chama. O núcleo que se estende por alguns milí- metros acima do tubo produz um espectro contínuo, ao qual se superpõe o espectro atômico do argônio. A origem deste contínuo vem aparentemente da recombinação do argônio e de outros íons com os elétrons. Na região entre 10 a 30 mm acima do núcleo, o contínuo desaparece, e o plasma é opticamente transparente. As observações espectrais são, geralmente, feitas a uma altura de 15 a 20 mm acima da bobina de indução. Aqui, a radiação de fundo é notavelmente livre de linhas de argônio e adequada para análise. Atomização e Ionização do Analito. No momento em que os átomos e íons do analito atingem o ponto de observação no plasma, eles já permanecerem por cerca de 2 ms em temperaturas entre 6.000 e 8.000 K. Esses tempos e temperaturas são aproximadamente duas a três vezes maiores que os encontrados nas chamas mais quentes de combustão (acetileno/óxido ni- troso) usadas nos métodos de chama. Como conseqüência, a atomização é mais completa, e surgem menos problemas de interferências químicas. Surpreendentemente, os efeitos de interferência pela ionização são peque- nos, ou inexistem, provavelmente devido à concentração muito grande de elétrons provenientes da ionização do argônio quando comparada com a resultante da ionização dos componentes da amostra. COMPONENTES DE UM ICP A Figura 5 é uma representação esquemática dos componentes de um típico ICP. Representação esquemática dos componentes de um típico ICP. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 811.) 55 Espectroscopia de emissão na região do UV-VIS Aula4 Sistema de Introdução de Amostra: geralmente formado por um nebulizador-câmara de nebulização, tocha de quartzo (geração do plasma) e fonte de radiofreqüência. Sistema Óptico: para permitir a efi ciente separação dos diferentes com- primentos de onda o espectro de emissão é gerado por átomos excitados, íons excitados, moléculas excitadas e por processos gerados de recombi- nação íon-elétron. A separação das linhas emitidas é feita utilizando um policromador que contém uma ou duas redes de difração. Sistema de Detecção: Sistema eletrônico que permite detectar a luz transmitida através do sistema e transformá-la em um sinal capaz de ser medido (elétrico). Os detectores mais usados em ICP-OES são fotomultipli- cadores e detectores de estado sólido. As fotomultiplicadoras caracterizam- se por ótima razão sinal/ruído e resposta linear em uma ampla faixa de comprimento de onda. Os detectores de estado sólido: são dispositivos de dimensão física reduzida, não apresentando uma razão sinal/ruído tão favoráveis quanto os fotomultiplicadores e devem ser operados em baixa temperatura em uma célula Peltier. ESPECTRÔMETROS PARA FONTES DE PLASMA A maioria espectrômetros de emissão por plasma abrange o espectro ultravioleta/visível inteiro, de 170 a 800 nm. Poucos instrumentos estão equipados para operação a vácuo. Que se estende do ultravioleta até 150 ou 160 nm. Esta região de menor comprimento de onda é importante porque elementos como fósforo, enxofre e carbono têm linhas de emissão nesta região. Os instrumentos para espectroscopia de emissão são basicamente de três tipos: seqüencial, multicanal simultâneo e de transformada de Fourier. Os instrumentos de transformada de Fourier não são largamente utiliza- dos. Os instrumentos seqüenciais normalmente estão programados para se moverem de uma linha de um elemento para a linha de um segundo elemento, pausando tempo sufi ciente (uns poucos segundos) em cada uma até obter uma relação sinal-ruído satisfatória (Fig. 6). Em contraste, os instru- mentos multicanais estão projetados para medir as intensidades das linhas de emissão para um grande número de elementos (algo em torno de 50 a 60) simultaneamente, ou quase isso (Fig. 7). Quando muitos elementos devem ser determinados, o tempo de excitação em um instrumento seqüencial deve ser signifi cativamente maior que para os outros dois tipos de instru- mento. Assim, estes instrumentos embora mais simples, são dispendiosos em termos de tempo e de consumo de amostra. Tanto os espectrômetros de emissão multicanal como o seqüencial são de dois tipos gerais, um em- pregando um monocromador clássico de rede, e outro com monocromador tipo echelle. Existem, ainda, equipamentos simultâneos e seqüenciais, a parte 56 Métodos Instrumentais de Análise simultânea é útil para ganhar tempo na rotina, e o seqüencial pode trazer a versatilidade necessária em pesquisa de outros elementos. Esquema de um Espectrômetro Seqüencial com montagem de Czerny –Turner. (Fonte: http://web.cena.usp.br/apostilas/krug/icpoes%20FANII.pdf acessado em 15/02/2011) Esquema de um Espectrômetro Simultâneo Multicanal. PMT: válvula fotomultiplicadora. (Fonte: http://web.cena.usp.br/apostilas/krug/icpoes%20FANII.pdf acessado em 15/02/2011) 57 Espectroscopia de emissão na região do UV-VIS Aula4 APLICAÇÕES DAS FONTES DE PLASMA As fontes de plasma são ricas em linhas de emissão características,de forma que são úteis tanto para a análise elementar qualitativa como quan- titativa. A excelência dos resultados vem da sua alta estabilidade, baixo ruído, baixa radiação de fundo, e por serem livres de interferências quando operadas em condições apropriadas. Preparação das Amostras. A espectroscopia de emissão por plasma indu- tivamente acoplado é usada, principalmente, para a análise qualitativa e quantitativa de amostras dissolvidas ou suspensas em líquidos aquosos ou orgânicos. As técnicas de preparo das soluções são similares às descritas para os métodos de absorção por chama. Para a emissão do plasma, entretanto, existem métodos que se aplicam à análise direta de sólidos. Estes procedi- mentos incluem vaporização eletrotérmica, ablação por laser e centelha, e descarga luminosa. As suspensões de sólidos em soluções também podem ser manuseadas com o nebulizador Babington. Determinação de Elementos. Em princípio, todos os elementos metálicos podem ser determinados pela espectrometria de emissão em plasma. Um espectrômetro a vácuo é necessário para a determinação de boro, fósforo, nitrogênio, enxofre e carbono, porque as linhas de emissão destes elemen- tos aparecem em comprimentos de onda abaixo de 180 nm, nos quais os componentes da atmosfera absorvem. A utilidade para a determinação dos metais alcalinos é limitada por duas difi culdades: (1) as condições de operação ajustadas para detectar a maioria dos outros elementos são inad- equadas para os metais alcalinos; (2) as linhas mais intensas do Li, K, Rb e Cs são localizadas nos comprimentos de onda do infravermelho próximo, o que leva a problemas detecção em muitos espectrômetros de plasma que são projetados principalmente para detectar radiação ultravioleta. Por causa desses problemas, a espectroscopia de emissão por plasma é geralmente limitada à determinação de cerca de 60 elementos. Seleção das Linhas. A maioria dos elementos tem várias linhas proeminentes que podem ser usadas para fi ns de identifi cação e determinação. Em muitas publicações podem ser encontrados os dados de comprimento de onda, armazenados com três casas decimais, com informação apropriada sobre a intensidade para as linhas proeminentes de cerca de 70 elementos. Assim, uma linha adequada para a determinação de qualquer elemento pode ser facilmente encontrada. A seleção depende das considerações sobre quais outros elementos estão presentes na amostra, e se há qualquer probabilidade de superposição das linhas. Curvas de Calibração. As curvas de calibração para os espectrômetros de emissão por plasma muitas vezes consistem de uma voltagem ou corrente de saída de um transdutor, em função da concentração de um analito. Dois métodos serão abordados: 58 Métodos Instrumentais de Análise Método de adição de analito. Soluções contendo alíquotas da amostra e quantidades diferentes da solução padrão do elemento. Elimina interferên- cias de matriz decorrentes das diferentes propriedades físicas e a curva deve ser linear e passar através da origem. Não elimina interferências espectrais. Método de Padrão Interno. Um padrão interno é freqüentemente usado em espectrometria de emissão. O padrão interno não deve está presente na amostra. São adicionados a amostras numa concentração da mesma ordem de grandeza. Apresentam alto grau de pureza, as propriedades físicas e químicas semelhantes (ponto de ebulição, solubilidade) e os potenciais de excitação e ionização próximos Interferências. As interferências químicas e os efeitos da matriz são redu- zidos de forma mais signifi cativa nas fontes de plasma do que em outros atomizadores. Em baixas concentrações de analito, entretanto, a emissão de fundo, devido à recombinação dos íons argônio com os elétrons, é sufi cientemente grande e requer correções cuidadosas. As Interferências de transporte ocorrem no processo de nebulização e são causadas por variações de propriedades físicas das soluções das amostras (viscosidade e tensão superfi cial). As interferências de ionização ocorrem quando são introduzidas amostras com uma elevada concentração de íons facilmente ionizáveis, tais como Na+ e K-. As interferências espectrais são causadas pela complexidade do espectro de emissão dos elementos introduzidos no plasma devido à alta temperatura. Limites de Detecção. Em geral, os limites de detecção com fonte de plasma indutivamente acoplado parecem compatíveis ou melhores que os de outros procedimentos espectroscópicos anatômicos. Alguns elementos podem ser detectados ao nível de 10 partes por bilhão ou menos, com a excitação por plasma, do que por outros métodos de emissão ou absorção. VANTAGENS DO ICP FRENTE AO AAS Nesse tipo de excitação predomina uma população de átomos ionizados sobre átomos neutros, favorecendo a obtenção de limites de detecção muito mais baixos que nas outras fontes convencionais. O sistema de excitação ICP apresenta algumas vantagens sobre a absorção atômica (AAS), a saber: 1) Técnica multielementar, podendo determinar vários elementos em uma única operação,e com uma cobertura de concentração muito mais ampla. 2) Faixa linear de trabalho dos ICP-AES é usualmente de 0,1a 1000 ìg/ mL . A faixa de trabalho dos instrumentos de AAS é normalmente de 1 a 10 ìg/mL. 3) Apresenta sensibilidade aumentada, principalmente para elementos nos quais falham os métodos de absorção atômica (Be, B, P, Ge, Nb, Sn, La, Hf, W e U). 4) Pode-se, no caso de um instrumento de análise simultânea, aumentar a 59 Espectroscopia de emissão na região do UV-VIS Aula4 precisão com padrões internos, com um desvio padrão relativo típico de 0,1 a 1,0%. A precisão, no caso dos instrumentos de AAS de chama, é, normalmente, de 1 a 2% e, nos instrumentos de forno de 1 a 3%. 5) A ablação e outros métodos de vaporização permitem a medida rápida de muitas amostras sólidas. ESPECTROSCOPIA DE EMISSÃO BASEADA EM FONTES EMISSÃO POR CHAMA Por muitos anos, as chamas foram empregadas para excitar os espectros de emissão para vários elementos, e os espectrômetros de absorção mais modernos podem ser prontamente adaptados para trabalhar com emissão por chama. As chamas não são, entretanto, largamente utilizadas, porque os métodos de absorção tão bons ou melhores em termos de precisão, conveniência e limites de detecção para a determinação de um elemento. Na análise multielementar, as fontes de plasma são muito superiores às de chamas na maioria dos casos. Por essas razões, a espectrometria de emissão por chama atualmente encontra pouco uso, exceto para a determinação de metais alcalinos e ocasionalmente cálcio. Esses elementos são excitados em chamas de temperaturas relativamente baixas, fornecendo espectro que são extremamente simples e livres de interferências de outras espécies metálicas. Os espectros dos metais alcalinos, em geral, consistem de relativamente poucas linhas intensas, muitas das quais estão na região do visível e são adequadas para as medidas quantitativas de emissão. Devido à simplicidade espectral, nas determinações de rotina dos me- tais alcalinos e alcalinos-terrosos (Fig. 8), é sufi ciente o uso de fotômetros simples de fi ltro. Muitos fabricantes de instrumentos fornecem fotômet- ros de chama projetados, especifi camente para a determinação de sódio, potássio e algumas vezes cálcio em soro sanguíneo, urina e outros fl uidos biológicos. Os instrumentos automáticos desse tipo podem processar cerca de cem amostras por hora. O presente modelo de utilidade diz respeito a fotômetro de chama para dosagens de Na, K e Li. Fotômetro de chama para dosagens de Na, K e Li (1); pressostato (2); aquecedor (3); regulador (4); válvula solenóide (5); câmara da mistura (6); frasco dreno (7) e agulha de aspiração (8). (Fonte: http://www.patentesonline.com. br/fotometro-de-chama-para-dosagens- de-na-k-e-li-221586.html acessado em 15/02/2011) 60 Métodos Instrumentais de Análise A aplicação espectrofotômetro de emissão por chama trata-se da iden- tifi cação qualitativade espécies metálicas demonstram que os elementos podem emitir radiação quando excitados num meio energético como a chama produzida. Este fenômeno pode ser aproveitado em procedimentos quantitativos para a determinação de uma série de elementos presentes em uma solução e em fl uidos biológicos. Dentro destes elementos se destacam os metais alcalinos (Li, Na,e K). PARA SABER MAIS Se você se interessou pelo tema e deseja saber mais, consulte os capítulos 25 e 28 do livro Fundamentos de Química Analítica, 8a Edição, Editora Thomson, escrito pelos autores Skoog, West, Holler e Crouch. CONCLUSÃO Nessa sessão foram apresentados os fundamentos espectrometria de emissão atômica. Os componentes de um plasma indutivamente acoplado foram detalhados. Parâmetros importantes como introdução da amostra, aparência do plasma e do espectro e atomização e ionização do analito foram abordados. Na interpretação dos resultados é usada curvas de calibração, método de adição de analito e método de padrão interno. Uma distinção entre um ICP de um AAS foi abordada. Os fundamentos e principais aplicações de um espectrômetro de emissão por chama foram apresentados. RESUMO A espectrometria de emissão atômica consiste na emissão da radiação quando átomos neutros ou íons no estado gasoso são termicamente ou eletricamente excitados. Em 1975, foi introduzido no mercado o primeiro espectrômetro de emissão óptica com fonte de plasma induzido (ICP OES). A tocha do plasma consiste de três tubos de quartzo concêntricos envolvido na parte superior por uma bobina de indução refrigerada por um gerador de radiofreqüência. Os componentes de um ICP como introdução da amostra, aparência do plasma e do espectro, atomização e ionização do analito foram detalhados. Os instrumentos para espectroscopia de emissão são basicamente de três tipos: seqüencial, multicanal simultâneo e de transformada de Fourier. Outros parâmetros importantes são preparo das amostras, determinação de elementos, seleção das linhas, interferências e limites de detecção. Os fotômetros simples de fi ltro são aplicados nas determinações de rotina dos metais alcalinos e alcalinos-terrosos, tis como: sódio, lítio, potássio e cálcio, devido à simplicidade espectral. 61 Espectroscopia de emissão na região do UV-VIS Aula4 ATIVIDADES Vamos tecer mais alguns comentários pertinentes a respeito às vanta- gens do ICP frente a AAS. COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES Como vimos, a espectrometria de emissão atômica tem limites de detecção menores do que a espectrometria de absorção atômica por chama. Umas das aplicações da técnica ICP MS é o atendimento aos limites máximos permitidos (LMP) na determinação de elementos inorgânicos, segundo a resolução CONAMA nº 357, que estabelece as normas de qualidade do meio ambiente, principalmente dos recursos hídricos no Brasil, tratando da classifi cação dos corpos de água e do tratamento de efl uentes. Os LMP para esses elementos estabelecidos na referida resolução exigem procedimentos e técnicas analíticas com melhores limites de detecção. Assim sendo, entre as técnicas espectroanalíticas, a ICP-MS é uma das mais adequadas para análises de águas de acordo com as exigências da legislação. Além da alta sensibilidade, também se caracteriza pela capacidade multielementar e, conseqüente, elevada freqüência analítica. Entretanto, a GFAAS também pode ser aplicada para elementos presentes em baixas concentrações, porém nesse caso há uma perda de freqüência analítica pelo caráter monoelementar da técnica. Para entender as informações acima citadas leiam o artigo intitulado “Resolução CONAMA nº 357 e técnicas espectroanalíticas: meios adequados aos fi ns?“ que está disponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias do texto. AUTO-AVALIAÇÃO - Entendo os princípios da espectrometria de emissão atômica? - Sou capaz de entender o funcionamento de um ICP? - Consigo analisar as aplicações da fonte de plasma? - Distingo entre um ICP e um AAS? - Consigo entender os princípios da emissão por chama? 62 Métodos Instrumentais de Análise PRÓXIMA AULA Na próxima aula iremos abordar acerca da espectroscopia de massas. REFERÊNCIAS HARRIS, D. Analise Química Quantitativa. Ed. LTC, 5 ed.; Rio de Janeiro, 2001. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. CHRISTIAN, G.D. Analytical Chemistry, 6 ed. Ed. John Wiley & Sons Inc, EUA, 2004. ROSINI,F.; MATOS, W.O.; SANTOS, .C.; NOBREGA, M.C. Resolução CONAMA nº 357 e técnicas espectroanalíticas: meios adequados aos fi ns? Revista Analytica, v.22, p.74-85, 2006. Aula 5 Elisangela de Andrade Passos ESPECTROMETRIA DE MASSAS META Apresentar a espectrometria de massas molecular; apresentar os espectrômetros de massas; apresentar as fontes de íons; apresentar as aplicações da espectrometria de massas moleculares; apresentar demais aplicações da espectrometria de massas. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: reconhecer um espectro de massas molecular; compreender a formação de um espectro de massas; interpretar um espectro de massas; identifi car a instrumentação analítica relacionada à espectrometria de massas; aplicar a espectrometria de massas em análises qualitativas e quantitativas. PRÉ-REQUISITOS Conhecimentos em estrutura molecular 64 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na aula anterior foi relatado acerca dos fundamentos da espectrometria de emissão atômica no UV-VIS. Foram apresentadas a instrumentação e aplicações dessa técnica espectroanalítica. Nesta aula trataremos da Espectrometria de Massas. Serão abordados assuntos relacionados aos conceitos e princípios da técnica, a instrumen- tação, a aplicação e a interpretação de resultados. ESPECTROMETRIA DE MASSAS A espectrometria de massas (MS) está baseada na criação de íons em fase gasosa, provenientes de moléculas ou átomos presentes em uma determinada amostra. Estes íons são separados em função da sua relação massa/carga (m/z), os quais têm posteriormente suas abundâncias relativas determinadas. Estes íons recebem o nome de fragmentos, os quais repre- sentam frações distintas da molécula ou até o próprio átomo, no caso da aplicação da técnica na área da inorgânica. O resultado desta ionização dá origem ao espectro de massas, que possui um perfi l característico em função do método de ionização empregado. O espectro de massas e composto por linhas que representam os fragmentos com suas relações m/z, e suas respectivas abundâncias. Através do espe- ctro de massas de um analito é possível se obter informações estruturais da molécula, além da massa molar representada pelo fragmento de maior relação m/z, também chamado de pico do íon molecular, e o fragmento de maior estabilidade, que atinge a abundância de 100 %, chamado de pico base. Detalhamento do espectro de massas para a molécula do ácido acetilsalicílico. 65 Espectrometria de massas Aula5 Através do espectro de massas podemos concluir que a massa molar do ácido acetilsalicílico é de 180 g mol-1, baseado no fragmento que repre- senta o pico do íon molecular. O fragmento cineticamente mais favorável (abundância = 100 %) é o de razão m/z 120, que representa a quebra (clivagem) da ligação C–O e a perda do grupamento acetil da estrutura. ESPECTRÔMETROS DE MASSAS Os espectrômetros de massas são compostos basicamente por: uma interface com o sistema de introdução de amostra, uma fonte de ionização, um acelerador de íon, um analisador de massas e um detector, sendo que todo o sistema encontra-se sob a ação de alto vácuo. Os espectrômetros de massas normalmente aparecem associados a outras técnicas analíticas, como por exemplo, a cromatografi a a gás (GC), cromatografi a líquida (LC) e plasma induzido (ICP), além da possibilidade de inserção direta da amostra, conhecidos como sistemas de introdução de amostra. Na cromatografi a a gás, por exemplo,uma mistura de compostos é previamente separada e os compostos introduzidos no espectrômetro de massas através da coluna capilar. Processo semelhante a cromatografi a líquida, a qual é aplicada a compostos ou misturas de compostos termica- mente instáveis que sofreriam decomposição em sistemas de cromatografi a a gás. O Probe de inserção direta é empregado nos casos em que o analito não é passível de análise por GC ou LC, normalmente aplicado a amostras líquidas e sólidas que apresentam baixa pressão de vapor. FONTES DE IONIZAÇÃO Neste tópico, trataremos dos sistemas mais comuns e convencionais de ionização. Existem vários sistemas de ionização do analito, que em geral excitam uma molécula neutra, a qual libera um elétron dando origem a um cátion radical (M+•), outro método utiliza uma reação íon molecular para gerar aductos do tipo MH+, ambos conhecidos como Ionização por Elétrons (EI) e Ionização Química (CI) respectivamente. Estas duas formas de ionização ocorrem estritamente na fase gasosa. Outras formas de ionização como Fast Atom Bombardment (FAB), Atmosferic Pressure Ionization (API) e Eletrospray (ESI) e Matrix Assisted Laser Desorption Ionization (MALDI), entre outras são aplicados ao analito na sua forma condensada. O modo de ionização por elétron é a técnica mais comum aplicada na espectrometria de massas, devido sua grande abrangência de moléculas na fase gasosa e por apresentar espectros com grande reprodutibilidade, sendo muito empregado na identifi cação de moléculas através da comparação do espectro do analito com espectrotecas, como por exemplo, a NIST e a 66 Métodos Instrumentais de Análise Wiley. Sua limitação é o alto grau de fragmentação da molécula, omitindo na grande maioria dos casos o pico do íon molecular. Nesta técnica o analito é ionizado atravessando um feixe de elétrons, produzido através da passagem de uma corrente elétrica através de um fi lamento (resistência), que possui elétrons acelerados a uma energia de 70 eV. Estes elétrons com esta energia é que são responsáveis por arrancar os elétrons de valência produzindo cátions radicais e fragmentando a molécula (quebra de ligações químicas formando fragmentos menores carregados positivamente). A abundância dos íons gerados na fragmentação da molécula é resultante da cinética de fragmentação e da energia aplicada. Alterando a energia, altera-se a distri- buição da fragmentação. A Ionização Química é reconhecida como um modo soft de ionização, ou seja, é um modo o qual se aplica uma quantidade de energia inferior a EI, o que por consequência gera um número muito menor de fragmentações, enfatizando o pico do íon molecular, e atuando como uma técnica comple- mentar a EI. Na CI o analito é ionizado por uma nuvem iônica, gerada pela previa ionização de um gás reagente pelo feixe de elétrons empregado na EI, o qual posteriormente irá ionizar o analito. Os gases reagentes mais comuns são: metano, amônia, isobutano e acetonitrila. O esquema a seguir demonstra as etapas da CI. Esquema de reações no processo de Ionização Química (CI). Na técnica de ionização Fast Atom Bombardment (FAB), um feixe de alta energia produzido pelo movimento de átomos neutros de um gás inerte (argônio) e usado para arrancar e ionizar em uma única etapa a molécula do analito a partir da matriz, normalmente líquida ou sólida, ou dissolvida em um solvente inerte e não volátil como o glicerol. Esta técnica opera muito bem para moléculas com massa molecular na ordem de alguns milhares de Dalton (1000 - 10000 Dalton). Esta técnica é muito empregada na análise de amostras biológicas principalmente na caracterização de proteínas e demais compostos que se decompõem termicamente pelas técnicas convencionais. 67 Espectrometria de massas Aula5 A Atmosferic Pressure Ionization (API) e Eletrospray (ESI) caracteriza- se pela ionização da amostra a pressão atmosférica, com ampla aplicação aos compostos termicamente instáveis como, peptídeos, proteínas e polímeros sem a necessidade de prévia preparação. Neste modo os íons formados são direcionados ao espectrômetro de massas através de diferentes estágios de vácuo. O MALDI (Matrix Assisted Laser Desorption Ionization) ioniza e va- poriza o analito na sua forma condensada a partir da aplicação de um laser sobre a amostra. A preparação da amostra em uma matriz, que pode ser o glicerol, favorece a distribuição da energia do laser na amostra, tornando-o um método soft de ionização, favorecendo a identifi cação do pico do íon molecular, e ampliando sua aplicação a moléculas de alta massa molecular, chegando a 200.000 Dalton. Outros métodos de ionização podem ser encontrados e vem sendo desenvolvidos visando aplicações específi cas. O ICP é uma das técnicas mais avançadas para aplicação na identifi ca- ção de compostos inorgânicos. Nesta técnica o analito é ionizado através de um plasma de argônio a temperaturas aproximadas de 10.000 K. Desta forma a técnica proporciona a ionização de 100 % dos átomos de pratica- mente toda a tabela periódica, sendo possível determinar simultaneamente aproximadamente 70 metais num período de 3 minutos. Associado a sua alta sensibilidade possui grande aplicação principalmente em análises ambientais. ANALISADORES DE MASSAS Após os íons serem formandos na região da fonte de ionização eles são direcionados ao analisador de massas por um campo eletromagnético. O analisador de massas separa os íons através das suas relações m/z. A seleção de um analisador de massas depende da resolução, faixa de mas- sas, taxa de escaneamento e limite de detecção para a aplicação específi ca. Cada analisador apresenta características muito diferentes e a seleção de um instrumento requer um grande conhecimento da aplicação. Os analisadores são tipicamente distribuídos em contínuos e pulsados. Analisadores contínuos incluem os quadrupolos e seção magnética. Neste analisador opera como um fi ltro, podendo selecionar apenas um íon de m/z específi ca melhorando signifi cativamente a relação sinal/ruído (S/N) do equipamento. A desvantagem e a perda de informações do restante dos íons formados. Os analisadores de massas pulsado representam a maioria dos analisadores, que incluem: Time-of-fl ight (TOF), Ion Cyclotron Reso- nance (ICR) e Ion Trap. Quadrupolo: é o mais comum dos analisadores. É compacto, possui alta taxa de escaneamento, alta efi ciência de transmissão e requer um sistema de vácuo moderado, excelente para quem procura um equipamento com 68 Métodos Instrumentais de Análise boa relação custo x benefício. Sua limitação está na resolução e na faixa de massas que pode chegar a 1000 Da. Neste analisador, o íon é acelerado por um campo elétrico da região da fonte de ionização, ao analisador de massas que compreende 4 eletrodos dispostos paralelamente com cargas contrárias como mostra a Figura 3. Esquema de um analisador de massas tipo quadrupolo. Seção Magnética: foi o primeiro analisador de massas desenvolvido por J.J. Thomson em 1897, que emprega um magneto para determinar a razão m/z. Possui maior resolução que o quadrupolo, porém necessita de um alto vácuo e sua taxa de escaneamento é baixa. Analisa massas de até 5.000 Da, podendo ser estendido até 30.000 Da. Time-of-fl ight (TOF): os íons são separados em função do tempo de voo através de um tubo. É um analisador muito simples, que opera com voltagens fi xas e não requer campo magnético. O ponto negativo é a baixa resolução. As vantagens são: alta efi ciência de transmissão, baixos limites de detecção, sem limites para a relação m/z e alta taxa de escaneamento. Neste modo um pacote de íons são formados rapidamente na ordem de nanosegundos, e acelerados num tubo de voo pela ação de um campo elétrico aplicado entre as extremidades. Como todos os íons estão sujeitos a mesma distância, sob a mesma força, ambos possuem a mesma energia cinética, a relação m/z é determinada em função da velocidade atingida pelo íon, que esta relacionadaao tempo de voo do íon através da secção de campo livre do tubo. Esquema de um analisador de massas TOF. 69 Espectrometria de massas Aula5 Ion Trap: é um analisador que vem se tornando popular, em função de seu custo, da sua alta sensibilidade e taxa de escaneamento. Neste analisa- dor todos os íons são presos e analisados, o que aumenta a relação S/N. O analisador consiste de um eletrodo na forma de um anel com outros dois como se fossem tampas deste primeiro, como mostra a fi gura 5. Esquema de um analisador de massas Ion Trap. Ion Cyclotron Resonance: este tipo de analisador de massas tem uma alta resolução (ca. 109). Esta é uma técnica bastante recente, comercial- mente desde 2003, o que torna o equipamento extremamente caro. Nesta técnica o íon se movimenta numa órbita circular provocada por um mag- neto supercondutor. Além da altíssima resolução, outra vantagem é que se trata de uma técnica não-destrutiva, o que possibilita o acúmulo de íons e a diminuição considerável da relação S/N. ESPECTROMETRIA DE MASSAS MODO TANDEM Este é o nome dado a técnica que opera na forma de massa-massa (MS-MS; MSn). Neste processo um íon pai é novamente submetido a ion- ização dando origem a um íon fi lho e assim sucessivamente quantas vezes o instrumento permitir. No caso dos analisadores quadrupolos, comercial- mente encontramos o triplo quadrupolo. No caso dos Ion Trap, existem confi gurações capazes de operar com MS6, ou seja, com seis fragmentações sucessivas do íon pai. A técnica de ICR também permite operar no modo Tandem. Este modo tem uma vasta aplicação na elucidação de estruturas complexas. 70 Métodos Instrumentais de Análise DETECTORES A maioria dos espectrômetros de massas determina um valor de razão m/z por escaneamento. Um detector de canal simples é usado nestes in- strumentos, como o Copo de Faraday e a Multiplicadora de elétrons. Já os analisadores TOF, Ion Trap e ICR possuem a capacidade de monitorar diversos íons com razões m/z simultaneamente desde que desejado. Multiplicadora de elétrons: este detector possui o mesmo conceito que os tubos fotomultiplicadores empregados na espectroscopia óptica (Figura 6). Esquema básico de uma multiplicadora de elétrons. O modelo apresentado na Figura 6 representa uma multiplicadora de elétrons de dinodo contínuo. Seu formato cônico é para minimizar os ruí- dos elétricos e prevenir que íons positivos saiam do detector. A superfície condutora com alta resistência elétrica, assim que colidida com um íon positivo, libera uma quantidade de elétrons proporcional a carga do íon, os quais são acelerados em função de um diferencial de potência para o amplifi cador, se multiplicando a cada colisão com a superfície do detector. Copo de Faraday: o mais barato dos detectores, consiste em um copo de metal ou carbono, que captura íons e acumula sua carga. A pequena corrente gerada, na ordem de microamperes, é amplifi cada e medida. Este detector é absoluto e pode ser empregado na calibração de outros detectores, e em função das suas características, sua principal aplicação é em determinações de razões isotópicas. Por operar de forma diferente aos sistemas que empregam dinodos, com a multiplicação de elétrons, o Copo de Faraday apresenta baixa sensibilidade. Outros detectores classifi cados como Array Detectors, baseados em pratos multicanais de detecção que substituem os pratos fotográfi cos, são empregados em alguns sistemas TOF. 71 Espectrometria de massas Aula5 INTERPRETAÇÃO ESPECTRAL O espectro de massas é considerado uma impressão digital da estrutura molecular, possibilitando a comparação com padrões de fragmentação para a identifi cação de compostos em uma matriz, porém um dos principais equívocos é a falta de conhecimento na interpretação e compreensão dos espectros, tomando como verdadeira a sugestão de identifi cação dos soft- wares relacionados às espectrotecas. O procedimento para interpretar um espectro de massas consiste dos seguintes passos: 1. Identifi que o íon molecular: a interpretação do espectro de massas inicia pela identifi cação do pico do íon molecular, o qual apresenta o maior valor de relação m/z, e está relacionado à massa molar do analito. Porém esta identi- fi cação deve ser feita com ressalvas, pois, o pico com maior relação m/z no espectro necessariamente não é proveniente da molécula em estudo, e sim de contaminantes, ruído, fase estacionária da coluna devido sangramento entre outros. Deve-se observar também, que em sistemas de ionização EI (70 eV) não é muito comum observar o fragmento referente ao pico do íon molecular. Como alguns instrumentos operam com valores unitários de massas, e o íon molecular representa a somatória das massas dos isóto- pos abundantes na molécula, podem ocorrer divergências entre os valores teóricos e os observados no espectro de massas. Para isso emprega-se como técnica complementar a ionização química como discutido anteriormente. 2. Aplique a regra do Nitrogênio: através da massa molar identifi cada pelo íon molecular é possível prever a fórmula molecular do analito na forma CxHyNzOn através dos valores tabelados encontrados na literatura. Com isso é possível prever quantas insaturações e ciclizações a molécula apresenta através da equação 01. Duplas ligações + ciclizações = X – ½ Y + ½ Z + 1 (01) Por exemplo, para a Piridina (C5H5N): Duplas ligações + ciclizações = 5 – ½ 5 + ½ 1 + 1 Duplas ligações + ciclizações = 5 – 2,5 + 0,5 + 1 = 4 Sendo assim, confi rmamos que a molécula da Piridina apresenta 3 insaturações + a ciclização, como mostra a Figura 7. 72 Métodos Instrumentais de Análise 3. Avalie os sistemas (A+2); (A+1); e (A): a partir do pico do íon molecular (A) identifi que a presença de isótopos. O íon molecular que representa os elementos (A) que possuem apenas um isótopo natural abundante é caracterizado pela presença de hidrogênio, fl úor, fósforo ou iodo. (A+1) representa os elementos que apresentam dois isótopos naturais, sendo o segundo com 1 u.m.a. (unidade de massa atômica) a mais que o isótopo mais abundante. Três elementos contribuem para esta propriedade, são eles o hidrogênio, o carbono e o nitrogênio, porém, o hidrogênio apre- senta uma baixa relação isotópica podendo ser desconsiderado. (A+2) é o mais fácil de reconhecer e representa os elementos em que o segundo isótopo apresenta 2 u.m.a a mais que o isótopo mais abundante, comumente encontrado em íons que possuem na sua estrutura, oxigênio, silício, enxofre, cloro e bromo. Sendo que destes o oxigênio é o que apre- senta a menor relação isotópica, cerca de 0,2 %. Estrutura e fórmula molecular para a Piridina. Representação dos sistemas isotópicos em um espectro de massas. 73 Espectrometria de massas Aula5 4. Procure por fragmentos característicos: identifi que no espectro de mas- sas fragmentos de perda de massas a partir do pico do íon molecular que sejam característicos a alguns sistemas, como por exemplo, M+• menos 15 atribuído a perda de uma metila (M+• - •OCH3); M +• menos 31 atribuído a perda de uma metoxila (M+• - •OCH3); M +• menos 18 atribuído a perda de uma molécula de água (M+• - H2O) e assim por diante. Também por íons característicos de sistemas aromáticos, como por exemplo, m/z 77 referente a anel benzênico; m/z 91 referente a anel benzênico monosubstituído por uma metila (íon tropílio); m/z 105 referente a anel benzênico disubstituído por duas metilas; e m/z 128 dois anéis benzênicos condensados. O perfi l também traz informações importantes, como por exemplo, para alcanos que apresentam em seu espectro fragmentos com relações m/z 43, 57, 71, 85, ..., separados entre si por uma relação m/z 14, característico de grupo CH2. Diferentes classes orgânicas como alcoóis, éteres, apresentam fragmen- tações características, mas as cetonas, aldeídos entre outras apresentam um fragmento característico de um rearranjo, conhecido como Rearranjo de MacLafferty. Rearranjode MacLafferty. Neste rearranjo, o hidrogênio na posição gamma da cadeia lateral é capturado pelo oxigênio da carbonila, desencadeando um rearranjo que irá dar origem a um fragmento iônico com massa determinada pelo radical R, além de gerar um alceno neutro. APLICAÇÕES A espectrometria de massas possui uma vasta aplicação qualitativa na identifi cação de analitos presentes em uma matriz através do espectro de massas como discutido até o momento, principalmente por não necessitar de um padrão inicial de referência. Vale salientar que a confi rmação da estrutura deve ser realizada com base em outras técnicas complementares como ressonância magnética nuclear de hidrogênio e carbono ou utilizando um padrão primário como referência. No âmbito quantitativo, a espectrometria de massas surge como uma excelente ferramenta para elucidar os problemas de coeluição entre analito e interferentes, já que a quantifi cação pode ser realizada baseada em um fragmento específi co do analito. Na quantifi cação pode ser trabalhado 74 Métodos Instrumentais de Análise tanto com o Cromatograma de Íons Totais (TIC), como também com o Cromatograma de Íon Monitorado ou Seletivo (SIM). Em ambos se trab- alha com integração de área do pico relacionado a um padrão interno ou uma curva de calibração externa conforme será discutido nas aulas sobre cromatografi a. A espectrometria de massas é aplicada em análises forenses, ambientais, petroquímicas, geoquímicas, biológicas, inorgânicas entre outras. PARA SABER MAIS Para entender as informações acima citadas leia o artigo intitulado “Es- pectrometria de massa e RMN multidimensional e multinuclear: Revolução no estudo de macromoléculas biológicas“ que está disponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias do texto. CONCLUSÃO Nesta aula foram apresentados os conceitos relacionados à base da espectrometria de massas, suas características, instrumentação e aplicação. RESUMO A espectrometria de massas está baseada na identifi cação e quantifi - cação de um analito através da sua relação m/z. Após a ionização os íons formados são selecionados através de um analisador de massas e direcio- nados a um detector, o qual irá determinar qual a relação m/z de cada íon formado, chamados de fragmentos. O resultado deste processo é o espectro de massas o qual pode ser considerado uma impressão digital da molécula. Através dele é possível identifi car o pico do íon molecular, que nos dá a informação da massa molar da molécula analisada, além dos fragmentos que podem ser identifi cados e correlacionados com a estrutura desconhe- cida da molécula. Algumas ferramentas como as espectrotecas auxiliam na identifi cação, porém devem ser utilizadas de maneira cuidadosa. Além da análise qualitativa, a qual identifi ca a molécula, a técnica também é aplicada em análises quantitativas na determinação da quantidade do analito presente na matriz, principalmente por tratar-se de uma técnica extremamente seletiva e com alta sensibilidade. 75 Espectrometria de massas Aula5 ATIVIDADES 1. Com base no espectro a seguir a que tipo de classe orgânica o composto analisado pertence? 2. O espectro de massas abaixo foi obtido para a molécula da cocaína. Indique qual a relação m/z para o pico do íon molecular, para o pico base e para o fragmento referente ao anel aromático. 3. Determine o índice de insaturações e ciclização para a molécula com fórmula molecular C7H7NO. 4. Abaixo está apresentado o espectro de massas para a molécula do safrol. Faça a previsão dos principais fragmentos. 76 Métodos Instrumentais de Análise COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES 1 . Analisando o perfi l de fragmentação é possível observar uma sequência de razões m/z intercalados de 14 unidades, o que está correlacionado a grupamentos CH2. Este perfi l indica que a molécula analisada trata-se de um n-alcano, onde cada fragmento representa a perda de um CH2. 2. O pico do íon molecular está representado pela razão m/z 303. O pico base apresenta razão m/z 82 e o fragmento referente ao anel aromático é o de m/z 77. 77 Espectrometria de massas Aula5 3. Aplicando a equação 01: Duplas ligações + ciclizações = X – ½ Y + ½ Z + 1 Temos: Duplas ligações + ciclizações = 7 – ½ 7 + ½ 1 + 1 Duplas ligações + ciclizações = 7 – 3,5 + 0,5 + 1 = 5 4. O principal fragmento neste caso do íon molecular (m/z 162) também é equivalente ao pico base (abundância 100%), logo representa a molécula como um todo, apenas na forma de cátion radical. Os demais fragmentos, m/z 135, 131, 104 e 77 estão propostos na sequência. 78 Métodos Instrumentais de Análise AUTO-AVALIAÇÃO - Consigo reconhecer um espectro de massas molecular? - Sou capaz de explicar a formação de um espectro de massas? - Consigo interpretar um espectro de massas? - Sinto-me capaz identifi car a instrumentação analítica relacionada a Espe- ctrometria de Massas? - Prevejo as aplicações da Espectrometria de Massas em análises qualitativas e quantitativas? PRÓXIMA AULA Na próxima aula iremos abordar acerca dos métodos eletroanalíticos. REFERÊNCIAS MACLAFFERTY, F.W.; TURECEK, F. Interpretation of mass spectra. 4 ed. University Science Books, Mill Valley, California, 1993. ROBINSON, J.W.; FRAME, E.M.S; FRAME II, G.M. Undergraduate In- strumental Analysis, 6th edition, Marcel Dekker, New York, 2005. SILVERSTEIN, R.M.; WEBSTER, F.X.; Spectrometric Identifi cation of Organic Compounds, 6 th ed., John Wiley & Sons, 1998. COLNAGO, L.A.; ALMEIDA, F.C.L.; VALENTE, A. P. Espectrometria de massa e RMN multidimensional e multinuclear: Revolução no estudo de macromoléculas biológicas. Química Nova na escola, v.16, p. 9-14, 2002. Aula 6 Elisangela de Andrade Passos MÉTODOS ELETROANALÍTICOS – PARTE I META Apresentar os fundamentos da química eletoanalítica; apresentar as células eletroquímicas; apresentar os fundamentos de potenciais em células eletroanalíticas; apresentar os fundamentos da potenciometria. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: defi nir os princípios da química eletroanalítica; defi nir e classifi car as células eletroquímicas; defi nir os potenciais em células eletroquímicas; analisar o efeito da concentração nas células eletroquímicas; defi nir os princípios da potenciometria; defi nir e classifi car os eletrodos. PRÉ-REQUISITOS Saber os fundamentos de eletroquímica. 80 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na aula anterior foram introduzidos os conceitos da espectrometria de massas. Foram abordados assuntos relacionados aos conceitos e princípios da técnica, a instrumentação, a aplicação e a interpretação de resultados. Nesta aula será defi nido o princípio da química eletroanalítica, con- ceituado e classifi cado as células eletroquímicas e como representá-la. Por fi m, serão apresentados os fundamentos da potenciometria e defi nido e classifi cado os eletrodos. Ao fi nal desta aula, você deverá saber defi nir química eletroanalítica, distinguir entre uma célula galvânica e eletrolítica. Você será capaz de rep- resentar uma célula eletroquímica e, por fi m, compreender os princípios da potenciometria. INTRODUÇÃO À QUÍMICA ELETOANALÍTICA Os métodos eletroanalíticos se baseiam em reações de oxidação- redução. Esses métodos incluem a potenciometria, a voltametria e a condu- timetria. Os fundamentos eletroquímicos necessários para a compreensão dos princípios desses procedimentos são apresentados nas aulas 5 e 6. CÉLULAS ELETROQUÍMICAS. Antes de iniciar o estudo das células eletroquímicas vamos relembrar acerca de oxidação e redução. As reações de oxidação e redução envolvem transferências de elétrons de uma espécie molecular ou iônica para outra. Os dois processos ocorrem simultaneamente e não podem coexistir in- dependentemente. A redução ocorre quando uma espécie ganha elétrons enquanto a oxidação ocorre quando uma espécie perde elétrons. Uma reação de oxidação-redução envolve a reação de um redutor com um oxidante. O redutorou agente redutor é o reagente que perde elétrons e então é oxidado. O oxidante ou agente oxidante ganha elétrons e então é reduzido. Uma célula eletroquímica consiste em dois condutores chamados ele- trodo, cada um deles imerso em uma solução eletrolítica. Na maioria das células, as soluções nas quais os eletrodos estão imersos são diferentes e precisam ser mantidas separadas para evitar a reação direta entre os reagen- tes. Isso pode ser evitado com o uso de uma ponte salina entre as soluções. A condução de corrente elétrica é feita por migração dos íons constituintes da ponte salina de uma solução para outra. Para entender melhor vamos considerar a célula eletroquímica ilustrada na Figura 1. Observando a fi gura notamos que lâminas de cobre e zinco metálico fi cam em contato com as soluções de seus respectivos íons, e es- sas lâminas, chamadas eletrodos, são ligadas através de um fi o condutor. 81 Métodos Eletroanalíticos – Parte I Aula6 Essa combinação resulta numa célula eletroquímica. Os elétrons fl uem do eletrodo de zinco para o eletrodo de cobre. O fl uxo de elétrons de uma semi-célula a outra provocaria uma região com falta e outra com excesso de cargas negativas. A ponte salina, constituída por um sal como KCl ou KNO3, permite a movimentação de íons entre as semi-células e garante a eletroneutralidade do sistema. Célula galvânica típica com ponte salina. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 468.) CÁTODOS E ÂNODOS Os eletrodos recebem nomes especiais: aquele onde ocorre a oxidação é denominado de ânodo e onde ocorre a redução é o catodo. No nosso exemplo o eletrodo de zinco é o ânodo e o de cobre o catodo. A equação que representa a reação de oxidação-redução é Zn0 + Cu2+ → Cu0 + Zn2+ TIPOS DE CÉLULAS ELETROQUÍMICAS As células eletroquímicas podem ser galvânicas ou eletrolíticas. Elas podem ser também classifi cadas em reversíveis e irreversíveis. A célula galvânica ocorre uma reação de oxidação redução espontânea que pode produzir trabalho útil, como fornecer energia para uma calculadora eletrônica. Elas armazenam energia elétrica. As baterias são formadas de 82 Métodos Instrumentais de Análise varias dessas células conectadas em série. O sistema mostrado na Figura 1 é uma típica célula galvânica. Uma célula eletrolítica, em contraste com a célula galvânica, requer uma fonte externa de energia elétrica para operação. Se fornecermos en- ergia elétrica ao sistema da Figura 1 por meio de uma fonte externa aos eletrodos, forçaremos a reação inversa: Cu0 + Zn2+→ Zn0 + Cu2+ e daí teríamos o processo denominado de eletrólise e, neste caso teríamos uma célula eletrolítica. A célula reversível ocorre quando a inversão da corrente reverte a reação da célula. Uma célula irreversível, a inversão da corrente provoca a ocorrência de uma semi-reação diferente em um ou ambos os eletrodos. A bateria dos automóveis (bateria de chumbo ácido) é um exemplo de uma série de células reversíveis. REPRESENTAÇÃO DE UMA CÉLULA ELETROQUÍMICA Por conversão (IUPAC), considerando o exemplo da Figura 1, a célula eletroquímica é escrita da seguinte forma: Cu/Cu2+ (x mol L-1)// Zn2+ (x mol L-1)/Zn, onde / indica o limite entre as fases ou interface a qual o potencial se desenvolve e // representa a ponte salina. POTENCIAIS EM CÉLULAS ELETROANALÍTICAS Ainda considerando a célula da Figura 1, se as concentrações de Zn2+ e de Cu2+ nos copos fossem 1,0 mol L-1 leríamos no voltímetro 1,10 Volts e essa voltagem iria variar conforme a concentração dos íons em solução. Esse valor é o potencial da célula que é uma medida da capacidade do reagente (no estado sólido ou líquido) em ser reduzido ou oxidado. POTENCIAIS DE ELETRODO Os potenciais de eletrodo são medidos em relação ao eletrodo pa- drão de hidrogênio (SHE) também conhecido como o eletrodo normal de hidrogênio (NHE). Este consiste de um fi o de platina imerso em uma solução iônica de hidrogênio de atividade unitária onde se borbulha gás hidrogênio a pressão de 1 atm. O SHE é representado como: Pto(s)/H2(f = 1 atm, gas), H+ (a = 1, aquosa). Neste contexto, a meia reação que ocorre é 2 H+ + 2e- → H2(g) cujo o potencial é 0,000 V. Um potencial de eletrodo 83 Métodos Eletroanalíticos – Parte I Aula6 é defi nido como o potencial de uma célula na qual o eletrodo em questão é aquele do lado direito e o SHE é o da esquerda. Trabalhando em condições padrão, com soluções na concentração 1 mol L-1, o potencial será denominado de potencial padrão da célula, sim- bolizada por Eºcel. O valor de EºCel pode ser considerado como a soma algébrica dos potenciais padrão de cada semi-reação. Para o sistema representado na Figura 1, os potenciais de eletrodo serão dados pela equação 01: Eºcel = ECu - Ezn (01) EFEITO DA CONCENTRAÇÃO: A EQUAÇÃO DE NERNST O potencial padrão de um eletrodo (Eo) é o potencial que é estabelecido quando todos os constituintes existem em seus estados padrões (isto é, atividade unitária para todas as espécies dissolvidas). O potencial do eletrodo será, portanto diferente quando os constituintes da oxiredução (redox) não estão em seus estados padrões. Nernst foi o primeiro pesquisador a estabelecer uma teoria para ex- plicar o aparecimento da diferença de potencial nos eletrodos. Através de raciocínios termodinâmicos, ele deduziu uma equação que permite calcular a diferença de potencial existente entre um metal e uma solução aquosa de um de seus sais, isto é, o potencial E do eletrodo. Sendo assim, chegou a equação de Nernst que é usada para calcular o potencial de eletrodo para atividades diferentes das condições padrões das espécies redox. Para isso vamos considerar a meia reação geral: Aox + ne- →Ared A equação de Nernst é: E= E0 – (RT/nF) ln aAred / aAox (02) onde: E = potencial (em volts) de eletrodo contra SHE; E0 = potencial padrão do eletrodo (obtido em tabela) R = constante universal dos gase (8,3145 Joules/ (K mol); T = temperatura absoluta em Kelvin; n = número de elétrons envolvidos na estequiometria da reação; F = constante de Faraday (96.485,309 Coulombs); A = atividade das espécies consideradas. A 25 oC, substituindo as várias constantes numéricas e transformando logaritmo neperiano em decimal resulta na seguinte equação 03: 84 Métodos Instrumentais de Análise E= E0 – (0,0592/nF) log aAred / aAox (03) Em unidades de concentração ela se torna: E= E0 – (RT/nF) ln [Ared] / [aAox] (04) A equação de Nernst pode ser utilizada para calcular tanto o potencial de eletrodos individuais como a diferença de potencial em uma célula (ou pilha). Em geral, é mais conveniente aplicar a equação de Nernst para um eletrodo de cada vez. POTENCIOMETRIA INTRODUÇÃO À POTENCIOMETRIA Os métodos potenciométricos de analise baseiam-se na medida do potencial de uma célula eletroquímica na ausência de uma quantidade apre- ciável de corrente. Esta medida é realizada com o auxilio de dois eletrodos imersos na solução em estudo, sendo que um recebe o nome de eletrodo de referencia e o outro eletrodo indicador. O instrumento utilizado para realizar esta medida é denominado potenciômetro (também pH) e normal- mente permite que a medida seja feita na escala de milivolts (mV) ou pH. O potencial de uma célula eletroquímica pode ser medido através da potenciometria direta, a qual permite relacionar o potencial com a atividade (ou a concentração) de uma espécie iônica ou através de uma titulação po- tenciométrica, que mede a variação do potencial da célula após cada adição de um titulante sobre a amostra. CELA ELETROQUÍMICA Uma cela (ou célula) eletroquímica é a combinação dos eletrodos com a solução contida em um recipiente. O seu potencial é dado pela diferença entres o potencial doseletrodos indicadores e de referência mais o potencial de junção líquida, podendo ser representado por: Ecel = Eind - Eref + Ejun (05) onde: Ecel = potencial da cela eletroquímica Eind = potencial do eletrodo indicador Eref = potencial do eletrodo de referência Ejun = potencial de junção líquida 85 Métodos Eletroanalíticos – Parte I Aula6 O potencial de junção líquida é estabelecido na interface entre duas soluções de eletrólitos como conseqüência das diferentes mobilidades dos íons presentes nestas soluções. No caso de medidas potenciométricas, este potencial é mais comumente encontrado na junção do eletrodo de referên- cia com a solução presente na cela. Assim, O potencial de junção liquida resulta de uma distribuição desigual de cátions e ânions junto à interface. Os potenciais de cada eletrodo podem ser encontrados através da equa- ção de Nernst, a qual estabelece uma relação entre o potencial e a atividade de uma espécie na solução. Existe uma relação linear entre o potencial de cela (Ecel) e o logaritmo da concentração de uma espécie da solução (ou sua atividade, se f não for mantido constante durante o experimento) é a base do método potenciométrico. * cel 0,05916 log nE E A +⎡ ⎤= + ⎣ ⎦ (06) ELETRODO DE REFERÊNCIA Um eletrodo de referência tem seu potencial conhecido, constante e completamente insensível, independentemente das propriedades da solução na qual está imerso. Os dois eletrodos mais comumente empregados como referência são os de calomelano e prata/cloreto de prata. O eletrodo de calomelano pode ser representado como: Hg/Hg2Cl2 (saturado), KCl, (x mol L)// A semi-reação e a equação de Nernst podem ser escritos como: (07) O eletrodo de Prata/cloreto de prata pode ser representado como: Ag/AgC2 (saturado), KCl, (saturado)// A semi-reação e a equação de Nernst podem ser escritos como: (08) 86 Métodos Instrumentais de Análise Como podemos perceber ambos os eletrodos respondem à atividade (ou á concentração) de cloreto (aCl-). Como a atividade dos íons cloreto, presente dentro do eletrodo, não varia durante a medida, o potencial do eletrodo permanece constante. O potencial de cada eletrodo vai depender da concentração do eletrólito interno, sendo que na prática, soluções de KCl 3 mol L-1 e KCl saturada são as mais utilizadas. Nestas soluções são também adicionadas pequenas quantidades de +22g H e Ag+ sufi cientes para saturá-las, respectivamente, com Hg2Cl2 e AgCl, evitando, desta forma, a dissolução destes sais presentes em cada um dos eletrodos e prolongando os seus tempos de vida. A Figura 2 mostra os aspectos principais destes dois tipos de eletrodo de referencia. POTENCIAL DE JUNÇÃO LÍQUIDA A junção líquida tem a função de fazer o contato elétrico com a solução presente na cela eletroquímica. Este contato é feito pela passagem lenta do eletrólito interno através da junção do eletrodo pela ação da gravidade. É possível utilizar como eletrólito interno outros sais que contenham como ânion o Cl-, porém o KCl é preferido uma vez que os íons K+ e Cl- pos- suem mobilidades iônicas muito próximas, diminuindo, desta forma, o potencial de junção líquida. Dependendo da solução em estudo, o íon Cl- pode se tomar um importante interferente para a medida do potencial da cela (na titulação de Ag+, por exemplo). Neste caso, pode ser empregada uma ponte salina ou pode ser usado um eletrodo de referência com dupla Aspectos principais do eletrodo de referencia de calomelano e prata/cloreto de prata. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 556-557.) 87 Métodos Eletroanalíticos – Parte I Aula6 junção. Este eletrodo possui um segundo reservatório onde é adicionado outro eletrólito, como por exemplo, NaNO3. ELETRODO INDICADOR Um eletrodo indicador responde a espécie de interesse e o seu potencial refl ete a atividade (ou a concentração) desta espécie. É importante que o eletrodo responda de maneira seletiva para uma espécie em particular e que outros compostos presentes na amostra não interfi ram na medida. Existem, atualmente, diversos eletrodos indicadores, seletivos para as mais diferen- tes espécies de interesse analítico. Podem ser de três tipos: metálicos, de membrana e baseados em transistores de efeito de campo seletivo de íons. É conveniente classifi car os eletrodos indicadores metálicos como eletrodo de primeiro tipo, eletrodos de segundo tipo ou eletrodos redox inertes. O eletrodo de primeiro tipo é constituído de um metal puro que está em equilíbrio direto com seu cátion em solução. Um exemplo deste tipo de eletrodo é o eletrodo de prata, que consiste de um fi o de prata imerso em uma solução contendo íons prata. O eletrodo de segundo tipo é aquele que responde a atividade de um anion com o qual seu íon forme um precipitado ou complexo estável. O eletrodo de platina é um eletrodo inerte, também chamado eletrodo redox, podendo ser utilizado tanto em potenciometria direta para se determinar o potencial redox de uma solução como em titulação potenciométrica de oxidação-redução. Por exemplo, na titulação de Fe2+ com dicromato, o potencial do eletrodo antes do ponto de equivalência depende do par Fe3+/Fe2+. A equação de Nernst para este eletrodo pode, então, ser escrita como: (09) Os eletrodos de membrana são caracterizados pela diferença de poten- cial que existe através da membrana. Estes eletrodos possuem excelente sele- tividade e por isso, muitas vezes, são chamados de eletrodos íons-seletivos. Um exemplo típico desse tipo de eletrodo é o eletrodo íon-seletivo para H+ também se caracteriza por apresentar uma membrana seletiva, porém, devido a sua grande importância, em geral é classifi cado separadamente como eletrodo de vidro ou de pH. O eletrodo de pH podem ser construídos de duas formas; uma con- tendo apenas o eletrodo indicador e outra na forma combinada com um eletrodo de referência. O eletrodo é constituído de um corpo de vidro con- tendo na extremidade inferior uma fi na membrana de vidro, denominado bulbo, sensível á atividade (ou concentração) de íons H+. Dentro do bulbo existe uma solução 0,1 mol L-1 de HCl em contato com um fi o de prata recoberto por cloreto de prata, o qual serve como uma referência interna. 88 Métodos Instrumentais de Análise Como a concentração de Cl- permanece constante, o potencial interno do eletrodo é mantido constante. O potencial do eletrodo desenvolvido na membrana é função da atividade dos íons H+ presente no lado interno e externo da membrana. Nenhum íon H+ cruza a membrana, apenas penetra um pouco no seu interior, em uma faixa muito pequena, dependendo da sua concentração. Como a aH+ do lado interno da membrana é constante, o potencial do eletrodo é função apenas da seletividade deste íon do lado externo da membrana, ou seja, do pH da solução da amostra. Assim, a cela eletroquímica completa contendo um eletrodo de vidro e um eletrodo de referência (externo) pode ser representada por: Ag | AgCl , mol L-1 | Membrana de vidro || Eletrodo de referência externo A equação de Nernst pode ser dada por: Ecel = E* + 0, 05916 log aH+ ou Ecel = E* - 0,05916 pH (10) Os potenciômetros permitem a medida direta do pH da solução de uma amostra, mas para que esta medida seja exata é preciso que o eletrodo de vidro seja calibrado. Isto é feito com o auxilio de soluções tampão, cu- jos pHs são bem conhecidos. A calibração pode ser feita apenas com um tampão, quando não é necessária uma alta exatidão; caso contrário, existe a necessidadedo uso de dois tampões. Um próximo de pH 7 e um segundo que pode ter pH próximos de 4 ou 9, dependendo da faixa de interesse Os eletrodos íons seletivos (EIS) respondem ao desenvolvimento de um potencial através de uma membrana. Esta membrana pode ser altamente seletiva, contribuindo para popularidade dos EIS como ferramenta analítica. A resposta é similar a equação de Nernst. Os EIS apresentam algumas vantagens e desvantagens, tais como: (a) medem atividade e não concentração; (b) medem o íon livre; (c) não são específi cos, mas meramente mais sensíveis a um íon particular; (d) funcio- nam em soluções turvas ou coloridas, onde os métodos fotométricos não podem ser aplicados; (e) têm uma resposta logarítma, o qual resulta num extenso intervalo de trabalho; (f) exceto em soluções diluídas, para per- mitir monitoramento “on line”; (g) a resposta é dependente da temperatura, RT/nF; (h) o equipamento necessário, pode ser portátil para operações em campo e usa amostras pequenas; (i) a amostra não é destruída na medida; (j) alguns eletrodos podem operar abaixo de 10-6 mol L-1; (l) é necessário calibração freqüente; (m) são disponíveis alguns padrões, como existem para medidas de pH. Impurezas, especialmente em padrões diluídos, podem causar resultados errados. 89 Métodos Eletroanalíticos – Parte I Aula6 Atualmente, existem diversos tipos de EIS que são seletivos a diferentes espécies de interesse analítico. São exemplos os eletrodos de membrana de vidro, de precipitado, do estado sólido, líquido-líquido, de enzimas e sensíveis a gases. Os eletrodos de membranas de vidro são de três tipos: tipo pH, são seletivos principalmente a H+, tipo cátion-sensível, responde em geral a cátions monovalentes, tipo sódio-sensível, responde principalmente ao Na+. Todos os eletrodos respondem ao H+, mas os dois últimos são muito menos sensíveis. Por isso, eles devem ser usados a pH sufi cientemente elevado, de modo que a atividade de H+ seja mais baixa do que a do íon de interesse.O limite mais baixo de pH varia de eletrodo para eletrodo e com o tipo de íon. O eletrodo de sódio pode ser usado para determinar Na+ na presença de quantidade apreciável de potássio. Sua seletividade para sódio sobre potássio é da ordem de 3000 ou mais. Os eletrodos de precipitado são primariamente usados para medir ânions. Consistem de um sal pouco solúvel tendo o ânion a ser medido, é suspenso numa matriz inerte semifl exível, para manter o precipitado no lugar. Tal membrana é chamada de heterogênea ou membrana de precipi- tado impregnado. O suporte inerte pode ser borracha de silicone, cloreto de polivinílico etc., A Figura 3 mostra um esquema representativo da con- strução de um eletrodo ion-seletivo de precipitado. Esquema representativo da construção de um eletrodo íon-seletivo de precipitado. 90 Métodos Instrumentais de Análise O eletrodo de fl uoreto (F-) é mais usado eletrodo do estado sólido. Sua membrana consiste de um único cristal de fl uoreto de lantânio dopado com európio (III), para aumentar a condutividade do cristal. O fl uoreto de lantânio é muito insolúvel e tem resposta Nernstiana até 10-5 M e não Nernstiana abaixo de 10-6 M (19ppb). Este eletrodo tem seletividade para F- 1000 vezes mais que para Cl-, Br-, I-, NO3-, SO42-, HPO42- e CO 32- e 10 vezes mais que para H+. O íon OH- parece ser a única interferência séria. O pH é limitado pela formação de HF e pela resposta ao OH-; intervalo de pH 4 - 9. Para minimizar interferências com o eletrodo de F- é utilizado a solução de TISAB (Total Ionic Strength Adjustment Buffer), que consiste em tampão acetato pH 5,0-5,5, NaCl 1mol L-1; CDTA (ácido ciclohexileno- dinitrilo tetracético) 1mol L-1. O TISAB mantém um pH no qual HF não se forma, não existe resposta a OH- e o CDTA complexa Al3+, Fe3+ e Si4+, os quais complexam o F- variando a atividade do F-. A Figura 4 mostra um esquema representativo da construção de um eletrodo íon-seletivo a fl uoreto. Eletrodo íon-seletivo a fl uoreto. (Fonte www.cg.iqm.unicamp.br/material/qa582/eletroana- litica-Fracassi.pdf acessado em 12/02/2011.) 91 Métodos Eletroanalíticos – Parte I Aula6 O eletrodo líquido-líquido está baseado no princípio da extração com solvente. Usa um trocador iônico líquido, insolúvel em água, em solução num solvente orgânico, também insolúvel em água. O trocador iônico e o seu solvente são mantidos no lugar, por meio de uma membrana porosa inerte. A membrana porosa permite o contato entre a solução teste e o trocador iônico, mas minimiza a mistura. Ela pode ser uma membrana sin- tética fl exível ou vidro poroso. A solução interna contém o íon para o qual o trocador é específi co, mais o haleto do eletrodo de referência interno. O eletrodo íon-seletivo de cálcio é um exemplo deste tipo de eletrodo onde o trocador iônico é o organofosfato de cálcio. A sensibilidade é governada pela solubilidade do trocador iônico na solução teste. A resposta é Nernstiana até 5 - 10-5 mol L-1. A seletividade é 3000 sobre K+ e Na+, 200 sobre Mg++ e 70 sobre Sn++ a pH 5,5-11. A Figura 5 mostra um esquema representativo da construção de um eletrodo líquido-líquido. 5. Esquema representativo da construção de um eletrodo líquido-líquido. (Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 568.) 92 Métodos Instrumentais de Análise Os eletrodos íons-seletivos usados com enzimas imobilizadas, po- dem servir como base de eletrodos que são seletivos para um específi co substrato. Enzimas são proteínas que catalisam reações específi cas com alto grau de especifi cidade. Um eletrodo de uréia é exemplo deste tipo de eletrodo. Este pode ser preparado pela imobilização da urease num gel e aplicando-o sobre a superfície de um eletrodo de vidro tipo cátion sensível. Quando o eletrodo é mergulhado numa solução contendo uréia, a uréia se difunde para a camada do gel e a enzima catalisa a sua hidrólise, formando íons NH4+. O NH4+ difunde para a superfície do eletrodo a ele sensível, dando um potencial. Os eletrodos sensíveis a gases podem ser usados para analisar soluções de gases como a amônia, o dióxido de carbono, o dióxido de nitrogênio, o dióxido de enxofre e o sulfeto de hidrogênio. Na análise deste último gás utiliza-se um eletrodo sensível ao íon sulfeto; para o dióxido de nitrogênio, o eletrodo empregado é sensível ao dióxido de nitrogênio, e para os demais gases mencionados o eletrodo usado é um eletrodo de vidro para pH. Para determinar a proporção de qualquer destes gases numa corrente gasosa, a mistura gasosa passa por um lavador no qual o gás se dissolve em água; o líquido resultante é então examinado pelo eletrodo sensível apropriado. A Figura 6 mostra um esquema representativo da construção de um eletrodo íon-seletivo a gases. Esquema representativo da construção de um eletrodo seletivo a gases (Fonte www.cg.iqm.unicamp.br/material/qa582/eletroanalitica-Fracassi. pdf acessado em 12/02/2011.) 93 Métodos Eletroanalíticos – Parte I Aula6 Para entender as informações acima citadas leia o artigo intitulado “Eletrodos íon-seletivos: histórico, mecanismo de resposta, seletividade e revisão dos conceitos“ que está disponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias do texto. TÉCNICAS DE MEDIDAS O potencial de uma célula eletroquímica pode ser medido através da potenciometria direta ou através de uma titulação potenciométrica. Na po- tenciometria direta a amostra a ser analisada é pré-tratada quando necessário e então os eletrodos são imersos nela. O potencial medido é comparado com uma curva analítica, obtida com padrões tratados de maneira semel- hante à amostra. As medidas potenciométricas diretas também podem ser aplicadas no registro continuo e automáticos de dados analíticos. Podem ser usados no campo “on line” com previa calibração com solução padrão (medidasde pH, por exemplo). Um exemplo de potenciometria direta é o método de adição de padrão. Esta técnica consiste na medida do potencial da amostra, antes e após a adição de uma quantidade conhecida da espécie que se está determinando. Esta pode ser calculada através da seguinte equação 11: Ca = C V V V V s E s o o10Δ / ( )+ − (11) onde: Ca = concentração na amostra Cs= concentração do padrão Vo= volume da amostra V = volume do padrão Como mencionado acima a determinação de pH utilizando um in- strumento chamado pHmetro é um exemplo de potenciometria direta. O conceito de pH foi defi nido por Sorensen como sendo o logaritmo negativo da concentração hidrogeniônica: pH = - log [H+] = - log aH+ (12) Uma defi nição teórica de pH é: 0,059 EE H p * Cel −= (13) 94 Métodos Instrumentais de Análise Nas medidas potenciométricas de pH ocorre alguns erros, são eles: erro alcalino, erro ácido, erro de desidratação, erros em soluções de fraca força iônica, variação no potencial de junção e erro nos pHs dos tampões padrões. PARA SABER MAIS Se você se interessou pelo tema e deseja saber mais, consulte os capítulos 18, 19 e 21 do livro Fundamentos de Química Analítica, 8a Edição, Editora Thomson, escrito pelos autores Skoog, West, Holler e Crouch. CONCLUSÃO Nessa sessão foi reapresentada a defi nição de química eletroanalítica e a defi nição e classifi cação das células eletroquímicas. Foram defi nidos os potenciais de eletrodo que são grandezas medidas em relação ao eletrodo padrão de hidrogênio (SHE). Os métodos potenciométricos consistem na medida do potencial de uma célula eletroquímica com o auxilio de dois eletrodos imersos na solução: o eletrodo de referência e o eletrodo indicador. Para isto é usado o potenciômetro ou pHmetro e a medida seja feita na escala de milivolts (mV) ou pH. RESUMO Os métodos eletroanalíticos se baseiam em reações de oxidação- redução. Esses métodos incluem a potenciometria, a voltametria e a condu- timetria. Uma célula eletroquímica consiste em dois condutores chamados eletrodo. Os eletrodos recebem nomes especiais: aquele onde ocorre a oxidação é denominado de ânodo e onde ocorre a redução é o catodo. As células eletroquímicas podem ser galvânicas ou eletrolíticas. A célula galvânica ocorre uma reação de oxidação redução espontânea enquanto a eletrolítica ocorre uma reação não espontânea. Os métodos potenciomé- tricos consistem na medida do potencial de uma célula eletroquímica com o auxilio de dois eletrodos imersos na solução: o eletrodo de referencia e o eletrodo indicador. O potenciômetro ou pHmetro é o instrumento usado para medir milivolts (mV) ou pH. O potencial de uma célula eletroquímica pode ser medido através da potenciometria direta ou através de uma titu- lação potenciométrica. 95 Métodos Eletroanalíticos – Parte I Aula6 ATIVIDADES Qual a importância de se calibrar um pHmetro e em qual faixa isto deve ser feito? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES Os pHmetros permitem a medida direta do pH em uma amostra, mas para que esta medida seja exata é preciso que o eletrodo de vidro seja calibrado. Isto é feito com o auxilio de soluções tampão, cujos pHs são bem conhecidos. A calibração pode ser feita apenas com um tampão, quando não é necessária uma alta exatidão; caso contrário, existe a necessidade do uso de dois tampões. Quando são usados duas soluções tampões é comum empregar um tampão próximo de pH 7 e um segundo que pode ter pH próximos de 4 ou 9, dependendo da faixa de interesse. Neste caso, o procedimento para a calibração do eletrodo é inicialmente ajustando o fator de correção de temperatura de acordo com a temperatura da solução e a inclinação para 100%, com os botões de ajuste de temperatura e de inclinação, respectivamente. O eletrodo de vidro é mergulhado no tampão com pH 7 (ou próximo a 7) e, com o auxilio do botão de ajuste de calibração, o pH mostrado no “display” do instrumento é acertado para o pH do tampão. Após devidamente lavado e seco, o eletrodo é mergulhado no segundo tampão, com pH menor ou maior que o primeiro e, agora utilizando o botão de ajuste de inclinação, o pH mostrado no instrumento é acertado para o pH do tampão. AUTO-AVALIAÇÃO - Entendo os princípios da química eletroanalítica? - Sou capaz de defi nir e classifi car as células eletroquímicas? - Consigo defi nir os potenciais em células eletroquímicas? - Sinto-me capaz de analisar o efeito da concentração nas células eletro- químicas? - Entendo os princípios da potenciometria? - Consigo defi nir e classifi car os eletrodos? 96 Métodos Instrumentais de Análise PRÓXIMA AULA Na próxima aula iremos abordar acerca dos métodos eletroanalíticos – Parte II. REFERÊNCIAS HARRIS, D. Analise Química Quantitativa. Ed. LTC, 5ª ed.; Rio de Janeiro, 2001. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Funda- mentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. CHRISTIAN, G.D. Analytical Chemistry, 6 ed. Ed. John Wiley & Sons Inc, EUA, 2004. FERNANDES, J.C.B.; KUBOTA, L.T.; NETO, G.O. Eletrodos íon-seleti- vos: histórico, mecanismo de resposta, seletividade e revisão dos conceitos. Química Nova, v.24, n.1, 120-130, 2001. Aula 7 Elisangela de Andrade Passos MÉTODOS ELETROANALÍTICOS – PARTE II META Apresentar os fundamentos da titulação potenciométrica; apresentar a localização do ponto fi nal da titulação potenciométrica; apresentar os fundamentos da condutimetria; apresentar os fundamentos da voltametria. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: defi nir e classifi car as titulações potenciométricas; entender a localização do ponto fi nal na titulação potenciométrica; defi nir os fundamentos da condutimetria; defi nir os fundamentos da voltametria; distinguir os tipos de voltametria. analisar o tratamento de dados em polarografi a e voltametria. PRÉ-REQUISITOS Saber os fundamentos de eletroquímica. 98 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na aula anterior foram relatados acerca os princípios da química ele- troanalítica, defi nido e classifi cado as células eletroquímicas. Além disso, foram apresentados os fundamentos da potenciometria e defi nido e clas- sifi cado os eletrodos. Nesta aula serão defi nidas e classifi cadas as titulações potenciométricas. Ainda será apresentada a localização do ponto fi nal na titulação potencio- métrica. Por fi m, serão apresentados os fundamentos da condutimetria e voltametria. Ao fi nal desta aula, você deverá saber distinguir os tipos de titulações potenciométricas e entender como encontrar o ponto fi nal destas titulações. Você será capaz de representar entende o principio da condutimetria, por fi m, compreender os princípios da voltametria. Além de distinguir os tipos de voltametria e analisar o tratamento de dados desta técnica eletroanalítica TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA Na titulação potenciométrica a força eletromotriz da célula é medida no curso da titulação. Estas são acompanhadas de variações bruscas de concentração nas imediações do ponto de equivalência, o que provoca uma variação brusca no potencial do eletrodo indicador e, portanto, também na força eletromotriz da célula. A solução titulante é adicionada e em seguida o potencial é medido. Esses potenciais são relacionados com o volume de solução titulante consumida. A variação do potencial estabelece com pre- cisão o ponto de equivalência que determinará a concentração da espécie de interesse. A titulação potenciométrica requer equipamento especial e é mais trabalhosa do que a técnica volumétrica com indicadores visuais. Apesar disso, apresenta uma série de vantagens sobre a técnica convencional: maior sensibilidade; como se quer a variação de potencial, e não sua medida absoluta, o potencial de junção e o coefi ciente de atividade não causam problema nesse tipo de análise; pode serempregada para soluções colori- das ou turvas; pode ser aplicada para certas reações que não disponham de indicadores visuais adequados; podem-se determinar sucessivamente vários componentes; pode ser aplicada em meio não aquoso, e, pode ser adaptada a instrumentos automáticos. Atualmente, as titulações potenciométricas podem ser executadas manual ou automaticamente, com ou sem registro da curva. Na titulação manual, utiliza-se um pHmetro e um conjunto de titulação, que compreende uma bureta de pistão, montada junto com um agitador sobre uma base com- pacta. Esse tipo de titulação potenciométrica requer o controle constante das diversas etapas, anotando o volume de reagente dosado e o respectivo 99 Métodos Eletroanalíticos – Parte II Aula7 potencial, dados que posteriormente são utilizados para construir a curva de titulação, de onde é calculado o volume de reagente gasto até o ponto de equivalência e a concentração da espécie analisada. Titulações automáticas dispensam todas as operações manuais e representam um grande avanço sobre as automatizadas, que dependem de operações manuais e são comu- mente encontradas nos laboratórios de controle de qualidade de matérias- primas ou de produtos fi nais, enquanto que as titulações automáticas são empregadas na área industrial. As titulações potenciométricas são aplicáveis em vários tipos de reações, estas devem ser estequiométricas, rápidas e completas no ponto de equivalência. TIPOS DE TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA As técnicas de titulação potenciométrica são largamente aplicadas e podem se basear em vários tipos de reação: neutralização ácido-base, pre- cipitação, oxidação-redução e complexação. Como nos métodos clássicos, essas reações têm que ser relativamente rápidas e completas. Do mesmo modo, as soluções em análise têm que ter concentrações relativamente altas, embora o método potenciométrico possa dosar teores um pouco menores do que o método clássico. Titulações de neutralização. Podem ser empregados eletrodos indicador de pH e o eletrodo de calomelano é em geral, o eletrodo de referência tanto para titulações de ácidos como base com a vantagem frente as clássicas de aplicação em amostras coloridas e turvas. A exatidão com que o ponto fi nal pode ser localizado potenciometricamente depende da grandeza da variação da força eletrotriz nas vizinhanças do ponto de equivalência, e esta variação dependem da concentração e da força do analito (ácido ou base). Em todos os casos os resultados são satisfatórios exceto: os que se obtêm com um ácido, ou com uma base muito fracos (K<10-8) e com soluções muito diluídas e os que se obtém com o ácido e a base, ambos fracos. Neste último caso, pode-se conseguir uma exatidão da ordem 1 % com soluções 0,1 mol L-1. Ainda podem ser empregados para determinação da constante de dissociação de ácidos. Gráfi co obtido: pH x Vtitulante. Titulações de Formação de complexos. São exemplos deste tipo de titulação as titulações de cátions que formam complexos com EDTA usando eletro- dos de mercúrio de gota pendente e de fi lme de Hg. Deve se ter cuidados com o armazenamanto e o manuseio do Hg pois seus vapores são tóxicos. A concentração do íon no ponto de equivalência é determinada pelo con- stante de formação do complexo formado durante a titulação. Titulações de precipitação. São empregados entre outras nas titulações de medidas de cloretos, sulfetos, fl uoretos etc. usando AgNO3 como titulante e eletrodos indicadores de Cl-, S2- e F-, respectivamente. A concentração do íon no ponto de equivalência é determinada pelo produto de solubilidade 100 Métodos Instrumentais de Análise do material pouco solúvel formado durante a titulação. Na precipitação do íon na solução, pela adição de um reagente apropriado, a concentração deste na solução sofrerá modifi cação mais rápida na região do ponto fi nal. O Gráfi co obtido é E x Vtitulante. Titulações redox. É exemplo deste tipo de titulação a determinação de Ferro (II) com Cério (IV). O eletrodo indicador, em geral, é um fi o, ou uma lâmina, de platina polida, e o agente oxidante fi ca na bureta. O fator determinante é a razão entre as concentrações das formas oxidadas e reduzidas de certa espécie iônica. O potencial do eletrodo indicador na solução é, então, con- trolado pela razão entre as concentrações. Durante a oxidação de um agente redutor, ou durante a redução de uma agente oxidante, a razão se altera com maior rapidez nas vizinhanças do ponto fi nal da reação e assim o potencial também se altera rapidamente. Por isso as titulações que envolvem estas reações podem ser acompanhadas potenciometricamente e proporcionam curvas de titulações caracterizadas por uma brusca modifi cação do potencial no ponto de equivalência. Gráfi co obtido: E x Vtitulante. LOCALIZAÇÃO DO PONTO FINAL NA TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA As curvas das titulações potenciométricas, isto é, o gráfi co das leituras da força eletromotriz, contra o volume adicionado de titulante, pode ser levantado ou pela plotagem manual dos dados experimentais, ou pela plota- gem automática, mediante instrumentação apropriada, durante o decorrer de qualquer titulação. A curva, em geral, tem a mesma forma que a curva de neutralização de um ácido, ou seja, é uma curva sigmóide. O ponto fi nal está localizado na meia altura do salto sobre a curva de titulação. Esta se caracteriza por uma variação grande de potencial (ou de pH) nas proximi- dades do ponto fi nal, sendo que a variação depende, entre outros fatores, das concentrações do titulante e do titulado. A precisão e a exatidão de uma titulação potenciométrica dependem, muitas vezes, da escolha apropriada do método de análise da curva potenciométrica para encontrar o ponto fi nal da titulação. Existem diferentes formas de se fazer isto, sendo que as mais emprega- das são os métodos geométricos (o método das bissetrizes, das tangentes paralelas e o método dos círculos tangentes), o método da primeira e da segunda derivada e o método de Gran. Métodos geométricos. A exatidão dos resultados na determinação do ponto fi nal empregando os métodos geométricos depende da habilidade com que a curva de titulação foi desenhada. Estes métodos podem ser aplicados às curvas potenciométricas simétricas. O ponto fi nal deve coincidir com o ponto de infl exão da sigmóide que se origina de E (mV) × V (mL), onde E (mV) é o potencial lido e V (mL) é o volume de titulante adicionado. 101 Métodos Eletroanalíticos – Parte II Aula7 Na Figura 1 estão esquematizados o método das tangentes paralelas e o método dos círculos tangentes Esquema do método das tangentes paralelas (a) e o método dos círculos tangentes (b). Métodos analíticos. Os métodos analíticos são de três tipos: primeira de- rivada, segunda derivada e método de Gran. O método da primeira derivada consiste na plotagem de ^E/^V contra V. O ponto de equivalência está localizado pelo máximo, que corresponde à infl exão da curva de titulação. O método da segunda derivada consiste na plotagem de ^2E/^V2contra V. A segunda derivada é nula no ponto de infl exão e proporciona uma local- ização mais exata do ponto de equivalência. Na Figura 2 está apresentada a determinação gráfi ca do ponto de equivalência pelo método analítico da primeira e segunda derivada. 102 Métodos Instrumentais de Análise O método de Gran, ou o método de inclinação, utiliza o anti-logarítmo do potencial ou do pH em função do volume de titulante para a construção da curva de titulação. Desta maneira, a curva de titulação potenciométrica, que inicialmente possui um formato semelhante a um “S”, é convertida em duas retas com inclinações diferentes. No ponto fi nal, os dois ramos da curva cortam-se no ponto correspondente ao ponto de equivalência. Na Figura 3 está apresentada a determinação gráfi ca do ponto de equivalência pelo método de Gran. Determinação gráfi ca do ponto de equivalência pelos métodos analíticos (a) da curva, (b) primeira derivada e (c) segunda derivada.(Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 588.) Determinação gráfi ca do ponto de equivalência pelo método analítico de Gran. Fonte: http://vsites.unb.br/iq/lmc/fais/Potenciometria/Potenciometria01.ppt acessado em 12/02/2011. 103 Métodos Eletroanalíticos – Parte II Aula7 CONDUTIMETRIA A condutometria mede a condutância elétrica de soluções iônicas. A condução da eletricidade através das soluções iônicas se dá à custa da mig- ração de íons positivos e negativos, com a aplicação de um campo eletros- tático. A condutância de uma solução iônica depende do número de íons presentes, da carga e da mobilidade dos íons. A condutância elétrica de uma solução é a soma das condutâncias individuais da totalidade das espécies iônicas presentes, portanto, a condutância não é específi ca. A condutância de uma solução iônica é dada pela equação 01: L = k A / ℓ (01) onde: k = condutância específi ca 1/ cm = Scm-1. A = área da seção transversal ℓ = comprimento A condutância específi ca das soluções eletrolíticas é função da concen- tração. Para eletrólitos fortes, a condutância específi ca aumenta marcada- mente com a concentração. Para eletrólitos fracos a condutância específi ca aumenta gradualmente com a concentração. A resistência e a condutância variam com a temperatura. Na condução eletrônica (metálica) a resistência cresce com o aumento da temperatura. Na condução iônica a resistência decresce com o aumento da temperatura. Em geral as resistências específi cas dos eletrólitos são muito maiores do que as dos metais. A resistência de uma solução iônica é dada pela seguinte equação: R = ρ ℓ / A (ohms) (02) onde: A = área da seção transversal ℓ = comprimento ρ = resistência específi ca do material (Ω. cm). VOLTAMETRIA A voltametria é uma técnica eletroanalítica qualitativa e quantitativa obtida a partir do registro de curvas corrente-potencial. Esta ocorre durante a eletrólise da espécie de interesse em uma cela eletroquímica constituída de pelo menos dois eletrodos. O primeiro é um microeletrodo (o eletrodo de trabalho) e o segundo é um eletrodo de superfície relativamente grande (o eletrodo de referência). Quando o microeletrodo é constituído de um eletrodo gotejante de mercúrio, a técnica é chamada de polarografi a. O potencial é aplicado entre os dois eletrodos em forma de varredura, isto é, 104 Métodos Instrumentais de Análise variando-o a uma velocidade constante em função do tempo. O potencial e a corrente resultante são registrados simultaneamente. A curva corrente verso potencial obtida é chamada de voltamograma. Em 1922, foram feitos por Heyrovsky e Kuceras os primeiros estudos voltamétricos usando um eletrodo gotejante de mercúrio como eletrodo de trabalho e como eletrodo de referência um eletrodo de calomelano saturado. Assim, a primeira técnica voltamétrica desenvolvida foi a polaro- grafi a. A curva corrente versos voltagem obtida nesse caso é chamada de polarograma. AS CÉLULAS VOLTAMÉTRICAS As células eletroquímicas utilizadas em voltametria/polarografi a são, evidentemente, do tipo eletrolítico e podem ter dois ou três eletrodos. Na célula de dois eletrodos tem-se um eletrodo de trabalho, de superfície pequena, ou seja, um microeletrodo. No caso da polarografi a o eletrodo de trabalho é um microeletrodo gotejante de mercúrio. As células de dois eletrodos tem algumas limitações e por isso foi desenvolvida a célula de três eletrodos. O terceiro eletrodo é chamado de eletrodo auxiliar, podendo ser de platina, ouro, carbono vítreo, etc. Ele foi introduzido na célula voltamé- trica para assegurar o sistema potenciostático. De um modo geral, a célula de três eletrodos apresenta as vantagens: é mais adequada para soluções diluídas, pode ser usada para soluções de alta resistência (solventes orgâni- cos, mistura água mais solvente orgânico) e pode ser usada com eletrólitos de suporte mais diluídos. ELETRODO GOTEJANTE DE MERCÚRIO O eletrodo gotejante de mercúrio é constituído por um reservatório de mercúrio conectado a um tubo capilar de vidro com comprimento variando entre 5 cm e 20 cm. O mercúrio, forçado pela gravidade, passa através desse tubo, formando um fl uxo constante de gotas idênticas, que se formam entre 1 e 5 segundos, devido à pressão constante exercida pelo mercúrio. Este tipo de meia-célula de mercúrio nasceu com a polarografi a e é principalmente utilizado nos instrumentos de células com dois eletrodos. Nos polarógrafos modernos não se usa a gravidade para controlar o gotejamento do mercúrio. O capilar é quase que conectado diretamente ao reservatório de mercúrio. Todo o conjunto de operações, envolvendo for- mação da gota, tempo de duração da gota, varredura de potencial, medida da corrente e registro do polarograma/voltamograma é feito de maneira sincronizada e automática, em razão dos recursos eletrônicos presentes nos polarógrafos. Este tipo de meia-célula de mercúrio praticamente é o preferido para ser usado em sistemas de células de três eletrodos. 105 Métodos Eletroanalíticos – Parte II Aula7 O MÁXIMO POLAROGRÁFICO E REMOÇÃO DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO O máximo polarográfi co é um fenômeno que ocorre durante o regis- tro do polarograma devido a turbulências envolvendo a gota de mercúrio e a camada de difusão adjacente a ela. Na maior parte das vezes ele tem uma forma aguda. A maneira de evitar a formação de máximos na prática é utilizar os chamados supressores de máximo, que são substâncias tenso- ativas. As moléculas dessas substâncias são adsorvidas junto à superfície da gota de mercúrio formando um fi lme protetor. O supressor mais comum é a gelatina, o vermelho de metila e o triton X-100. Quando se trabalha na região catódica, como é o caso da polarografi a, há a necessidade da remoção do oxigênio atmosférico dissolvido nas soluções. Isto porque o O2 é eletroativo e produz duas ondas polarográfi cas nessa região. Por isso é necessário remover o O2 dissolvido na solução antes das medidas serem feitas. Isto é feito desaerando-se a solução pela passagem de um gás inerte isento de O2. O gás é borbulhado na solução durante alguns minutos, remove o O2, e fi ca dissolvido em seu lugar. É eletroquimicamente inerte e não produzirá nenhuma corrente polarográfi ca ou voltamétrica. Os gases mais usados para esse fi m são: N2, Ar, Ne e He. O Nitrogênio é o mais usado principalmente por ser mais barato. TIPOS DE VOLTAMETRIA Voltametria (Polarografi a) Clássica. Na voltametria Clássica, o potencial aplicado ao eletrodo de trabalho varia linearmente com o tempo, esta técnica possibilita a aplicação de velocidades de varredura relativamente altas (até 1000 mV s-1), no entanto não é uma técnica muito sensível. A corrente é lida de forma direta, em função do potencial aplicado, desta forma a cor- rente total lida possui contribuições tanto da corrente faradaica quanto da corrente capacitiva (ruído). A corrente de fundo faradaica pode ser reduzida ou mesmo eliminada usando-se reagentes mais puros e removendo-se o oxigênio pela passagem de um gás inerte. Voltametria (Polarografi a) de Pulso Diferencial. Na voltametria de pulso diferencial, pulsos de amplitude fi xos sobrepostos a uma rampa de potencial crescente são aplicados ao eletrodo de trabalho. No primeiro tipo, ocorre a sobreposição de pulsos periódicos sobre uma rampa linear, esta forma de excitação é utilizado em equipamentos analógicos. O segundo tipo é usado em equipamentos digitais, nestes equipamentos combina-se um pulso de saída com um sinal em degrau. A corrente é medida duas vezes, uma antes da aplicação do pulso (S1) e outra ao fi nal do pulso (S2). A primeira cor- rente é instrumentalmente subtraída da segunda, e a diferença das correntes é plotada versus o potencialaplicado, o voltamograma resultante consiste 106 Métodos Instrumentais de Análise de picos de corrente de forma gaussiana, cuja área deste pico é diretamente proporcional à concentração do analito. Voltametria de Onda Quadrada. Esta técnica pode ser usada para realizar experimentos de um modo bem mais rápido do que a técnica de pulso diferencial, com sensibilidade semelhante ou um pouco melhor, pois aqui também ocorrem compensações da corrente capacitiva. Um experimento típico que requer cerca de três minutos para ser feito pela polarografi a de pulso diferencial pode ser feito em segundos pela voltametria de onda quadrada. A medida de corrente na voltametria de onda quadrada é feita amostrando-se a mesma duas vezes durante cada ciclo da onda quadrada, uma vez no fi nal do pulso direto e a outra no fi nal do pulso reverso. Na voltametria de onda quadrada moderna usa-se o eletrodo de mercúrio no modo estático. Neste eletrodo a gota é formada rapidamente de tal modo que ela permanece de tamanho constante durante todo o tempo despen- dido para a medida experimental, não apresentando os problemas de área superfi cial que ocorrem com o eletrodo gotejante de mercúrio. Voltametria cíclica. A voltametria cíclica é a técnica mais comumente usada para adquirir informações qualitativas sobre os processos eletroquímicos. Nesta técnica, o potencial é varrido linearmente com o tempo no eletrodo de trabalho estacionário, em uma solução sem agitação, usando um potencial em forma de triângulo. A onda triangular produz a varredura no sentido direto e depois no sentido inverso. Os potenciais em que a reversão ocorre são chamados de potenciais de inversões. A direção da varredura inicial pode tanto ser negativa (varredura direta) quanto positiva (varredura inversa). Dependendo da informação desejada, simples ou múltiplos ciclos podem ser utilizados. Durante a varredura do potencial, o potenciostato mede a corrente resultante desta corrente versus o potencial aplicado. Vários eletro- dos de trabalhos podem ser empregados nesta técnica são eles: eletrodo de platina, fi lme de mercúrio, carbono vítreo, ouro, grafi te e pasta de carbono. Na Figura 4 estão representados os tipos de voltametria mencionados acima. Representação da voltametria clássica (a), voltametria de pulso diferencial (b), voltametria de onde quadrada (c) e voltametria cíclica (d). Fonte: SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8ª edição Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Página 629. 107 Métodos Eletroanalíticos – Parte II Aula7 Voltametria de Redissolução Anódica. Uma das técnicas que se utiliza de processos de pré-concentração é a voltametria de redissolução anódica, muito utilizada na determinação de metais pesados, uma vez que vários deles podem ser depositados no eletrodo de mercúrio através de eletrólise de soluções de seus íons. Nesta técnica a etapa de pré-concentração con- siste de uma eletrodeposição o potencial constante e controlado da espécie eletroativa sobre um eletrodo estacionário. Esta etapa é seguida por uma etapa de repouso e uma de determinação, sendo que esta última consiste na redissolução de volta à solução da espécie anteriormente eletrodepositada. A pré-concentração faz com que a concentração, na gota de mercúrio, devido ao seu volume minúsculo, seja muito maior que na solução, obtendo-se as- sim um sinal analítico bem maior relativamente à concentração presente na solução, explicando-se o aumento da sensibilidade da técnica. Voltametria Adsortiva por Redissolução. A voltametria adsortiva por redis- solução foi desenvolvida mais recentemente. Esta técnica a pré-concentração é feita pela adsorção da espécie eletroativa na superfície do eletrodo. No caso de metais isto é feito através de seus íons complexos. Adiciona-se então à solução contendo o íon metálico um complexante adequado e o complexo formado (metal-ligante) é que será acumulado junto à superfície do eletrodo. Dessa maneira a pré-concentração não depende da solubilidade do metal no mercúrio, como no caso da voltametria de redissolução convencional, e metais pouco solúveis (no mercúrio) poderão ser determinados. Devido a essas características, a técnica também é aplicável a um número ilimitado de substâncias orgânicas, bastando que elas apenas tenham propriedades superfície-ativa, para poderem ser adsorvidas na superfície do eletrodo de trabalho, e que sejam, evidentemente, eletroativas. Quanto à detectabilidade, o limite de detecção pode chegar a valores ao redor de 100 vezes menor dos que os observados na voltametria de redissolução anódica. Para entender as informações acima citadas leiam os artigos intitulados “Vol- tametria de onda quadrada. Primeira parte: aspectos teóricos“ e “Voltametria de onda quadrada. Segunda parte: aplicações“ que estão disponíveis na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias de cada texto. TRATAMENTO DE DADOS EM POLAROGRAFIA E VOLTAMETRIA O tratamento de dados em polarografi a e voltametria para fi ns de análise quantitativa consistem em medir-se a corrente de difusão ou as correntes de pico no caso de outras técnicas polarográfi cas/voltamétricas como pulso diferencial e onda quadrada. As correntes obtidas são então relacionadas às concentrações de soluções padrões da espécie eletroativa e à concent- ração dessa espécie na amostra de interesse. Os três tipos de tratamento são método da curva padrão, adição padrão e padrão interno ou íon piloto. 108 Métodos Instrumentais de Análise Método da curva padrão. Nesse método, também chamado de curva de calibração ou ainda curva analítica, mede-se a corrente polarográfi ca/ voltamétrica de soluções padrão de várias concentrações da substância em estudo (analito), colocando-se os valores de corrente versus os valores de concentração em um gráfi co de coordenadas cartesianas. A curva obtida apresenta um comportamento linear na região de concentração de interesse, passando pela origem no caso das técnicas clássicas. No caso de técnicas mais sensíveis, devido às correntes de fundo, ela pode não passar pela ori- gem, o que não afeta o uso do método. A concentração é calculada pela interpolação da corrente medida da amostra na curva padrão. Método da adição de padrão. O método da adição de padrão é usado com o objetivo de minimizar-se o problema de efeito de matriz. Nesse procedimento, a amostra é adicionada à célula polarográfi ca/voltamétrica juntamente com o eletrólito de suporte e a corrente referente à espécie de interesse (analito) é registrada. A seguir, adiciona-se sobre a solução da amostra uma alíquota de alguns microlitros da solução padrão do analito, de tal modo que a variação do volume total seja desprezível. Após a adição do padrão, lê-se a corrente referente à soma da concentração do analito mais a concentração adicional da solução padrão do analito adicionada. Método do padrão interno ou íon piloto. Em voltametria/polarografi a pode-se também usar o método do padrão interno para minimizar o efeito de matriz. Nesse método usa-se uma substância padrão diferente da substância a ser determinada (analito) que é adicionada à amostra. Essa substância (piloto) deve ter um potencial de meia onda ou de pico diferente do analito, mas não muito distante, para que não se use uma varredura de potencial muito longa. A corrente devido à onda ou ao pico polarográfi co é registrada para ambos em um mesmo voltamograma. Assim, assume-se que tudo o que afetar o pico (ou onda) do analito afetará também do mesmo modo o pico (ou onda) do piloto. É claro que o método pode ser aplicado tanto para espécies iônicas quanto moleculares. A concentração do analito é determinada pela razão entre a corrente de pico do analito e do íon piloto. PARA SABER MAIS Se você se interessou pelo tema e deseja saber mais, consulte os capítulos 21 e 23 do livro Fundamentos de Química Analítica, 8a Edição, Editora Thomson, escritopelos autores Skoog, West, Holler e Crouch. 109 Métodos Eletroanalíticos – Parte II Aula7 CONCLUSÃO Nessa sessão foi apresentada a defi nição e classifi cação das titulações potenciométricas. Foram também apresentadas maneiras de encontrar o ponto fi nal destas titulações através dos métodos geométricos e analíticos. Os métodos eletroanalícos condutimetria e voltametria foram funda- mentados. Foram apresentados os tipos de voltametria e o tratamento de dados que podem ser empregados nesta técnica eletroanalítica. RESUMO A titulação potenciométrica consite no acompanhamento da variação do potencial de uma cela eletroquímica com a adição de um titulante. A curva de titulação se caracteriza por uma variação grande de potencial (ou de pH) nas proximidades do ponto fi nal, sendo que esta variação depende, entre outros fatores, das concentrações do titulante e do titulado. As titulações potenciométricas são aplicáveis em vários tipos de reações, estas devem ser estequiométricas, rápidas e completas no ponto de equivalência. O ponto fi nal da titulação pode ser encontrado por diferentes formas, sendo que as mais empregadas são o método da bissetriz, o método da primeira e da segunda derivada e o método de Gran. As técnicas de titulação potenciomé- trica são largamente aplicadas e podem se basear em vários tipos de reação: neutralização ácido-base, precipitação, oxidação-redução e complexação. A condutometria mede a condutância elétrica de soluções iônicas. A condução da eletricidade através das soluções iônicas se dá à custa da migração de íons positivos e negativos, com a aplicação de um campo eletrostático. A voltametria é uma técnica eletroanalítica qualitativa e quantitativa que ocorre durante a eletrólise da espécie de interesse em uma cela eletroquímica con- stituída de pelo menos dois eletrodos. O eletrodo de trabalho e o eletrodo de referência. Quando o eletrodo indicador é constituído de um eletrodo gotejante de mercúrio, a técnica é chamada de polarografi a.. A curva gerada pela corrente aplicada entre os dois eletrodos em forma de varredura é chamada de voltamograma. A voltametria pode ser classifi cada em voltame- tria clássica, voltametria de pulso diferencial, voltametria de onde quadrada, voltametria cíclica, voltametria de redissolução e voltametria adsortiva de redissolução. O tratamento de dados em voltametria é, em geral, de três tipos: a curva padrão, a adição padrão e o uso padrão interno. 110 Métodos Instrumentais de Análise ATIVIDADES A polarografi a consiste no emprego do eletrodo gotejante de mercúrio como eletrodo de referência. Por que essa técnica pode ser considerada de risco eminente ao analista? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES O eletrodo gotejante de mercúrio é constituído por um reservatório de mercúrio conectado a um tubo capilar de vidro com comprimento de até 20 cm. O mercúrio, forçado pela gravidade, passa através desse tubo, e é gotejada na solução problema. O risco associado a esta técnica é devido ao emprego do mercúrio. O mercúrio é um metal pesado tóxico, principalmente na forma gasosa. Deve ser manuseado com muito cuidado e seu descarte deve ser controlado. AUTO-AVALIAÇÃO - Sou capaz de defi nir e classifi car as titulações potenciométricas? - Consigo entender a localização do ponto fi nal na titulação potenciomé- trica? - Entendo os princípios da condutimetria? - Sinto-me capaz de defi nir os fundamentos da voltametria? - Distingo os tipos de voltametria? - Consigo analisar o tratamento de dados em polarografi a e voltametria? PRÓXIMA AULA Na próxima aula iremos abordar os aspectos gerais da cromatografi a e seus princípios. 111 Métodos Eletroanalíticos – Parte II Aula7 REFERÊNCIAS COMPLETAS: HARRIS, D. Analise Química Quantitativa. Ed. LTC, 5 ed.; Rio de Janeiro, 2001. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Funda- mentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. SOUZA, D.; MACHADO S.A.S.; AVACA, L.A. Voltametria de onda quadrada. Primeira parte: aspectos teórico. Química Nova, v.26, n. 1, 81- 89, 2003. SOUZA, D.; CODOGNOTO, L.; MALAGUTTI, A.R. TOLEDO, R.A. PEDROSA, V.A. OLIVEIRA, R.T.S.; MAZO, L.H.; AVACA, L.A.; Vol- tametria de onda quadrada. Segunda parte: aplicações. Química Nova, v.27, n.5, 790-797, 2004. Aula 8 Elisangela de Andrade Passos CROMATOGRAFIA – INTRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E PRINCÍPIOS BÁSICOS META Discutir a história da Cromatografi a e sua evolução; entender e classifi car os diferentes tipos de cromatografi a; entender os princípios básicos que rege a cromatografi a OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: entender o processo evolutivo da cromatografi a; saber diferenciar os tipos de cromatografi a; entender e aplicar os princípios básicos da cromatografi a com o intuito de obter o máximo de aproveitamento do sistema cromatográfi co. PRÉ-REQUISITOS Conhecimento de equilíbrio químico entre diferentes fases 114 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na aula anterior foram introduzidos os conceitos sobre os seguintes métodos eletroanalíticos: Potenciometria; Voltametria; e Condutimetria. Foram abordados temas como células eletroquímicas, potenciais em células eletroanalíticas e potenciais de eletrodos. Nesta aula iremos abordar os aspectos gerais da cromatografi a e seus princípios. Discutiremos também um pouco da história da cromatografi a e sua evolução instrumental. Baseados no equilíbrio químico que acontece entre duas fases será possível conceber a teoria básica que rege a cromato- grafi a e sua utilização para o melhoramento da efi ciência de separações cromatográfi cas. HISTÓRICO Historicamente, os métodos de separação tem origem na antiguidade, (extração, troca iônica, etc), com a “cromatografi a em papiro”, descrita por volta de 50 D.C. Bem mais tarde, já no século XIX, alguns estudos de identifi cação de compostos inorgânicos por cromatografi a em papel, real- izados por Runge foram publicados em um livro em 1850. Neste mesmo período, Schönbein e Goppelscröder, introduziram a cromatografi a em papel ascendente e em 1889, Beyerlink descreveu a cromatografi a em camada delgada. No entanto, foram os estudos de Michael S. Tswett, um botânico russo, publicados em 1906 que apresentaram ao mundo a cro- matografi a. Do grego chroma, com o signifi cado de cor, e “grafi a” também do grego graphe, signifi cando escrever. A partir deste período, a pesquisa com cromatografi a amplia-se, tornando-se instrumental. Primeiro com a cromatografi a gasosa e liquida, e depois todas as variações possíveis entre fases estacionárias e fases móveis. CLASSIFICAÇÃO A base de todos os tipos de cromatografi a está na partição dos com- postos da amostra entre uma fase chamada de estacionária e outra, que se move através desta, denominada de fase móvel. As várias combinações entre fases sólidas, líquidas e gasosas é que permitem a classifi cação desta técnica em Cromatografi a Gasosa (CG), a Cromatografi a Líquida (CL) e a Cromatografi a com Fluído Supercrítico (CFS) (Tab. 1). 115 Cromatografi a – Introdução, Classifi cação e Princípios Básicos Aula8 Além dessa classifi cação, muitas outras são possíveis, dependendo do suporte da fase estacionária (Planar ou Coluna), do tipo de interação dos compostos das amostras (adsorção, partição, exclusão, etc.), e ainda do fl uxo da fase móvel, natureza da fase móvel (para Cromatografi a Líquida), pressão, etc. Além disso, algumas técnicas afi ns, tais como a eletroforese, eletroforese capilar e a cromatografi a Eletrocinética Micelar Capilar, per- mitem sua classifi cação dentro da cromatografi a. PRINCÍPIOS DAS SEPARAÇÕES CROMATOGRÁFICAS Embora os mecanismos de retenção para os vários tipos de cromato- grafi a diferem entre si, todos são baseados no estabelecimento, como já foi mencionado, de um equilíbrio dos compostos presentes em uma amostra, entre uma fase estacionária e uma fase móvel. A Figura 1 ilustra a separação dos componentesde uma amostra em uma coluna cromatográfi ca. Supercrítica (CFS) Fluído supercrítico Líquida Sólida Tabela 1. Classifi cação da cromatografi a conforme natureza das fases Cromatografi a Fase móvel Fase estacionária Gasosa (CG) Gás Líquida Sólida Líquida (LC) Líquida Líquida Sólida Princípio das separações cromatográfi cas (Fonte: http://www.slideshare.net/b.cortez/cromatografi a-princpios-cg , acessado em 28/02/2011) Uma pequena alíquota de amostra é colocada no topo da coluna, re- cheado com a fase estacionária e adicionada de solvente. Uma vez na coluna, a amostra é carregada (eluída) com um solvente apropriado (fase móvel) adicionado à coluna. Os componentes individuais da amostra interagem diferentemente com a fase estacionária e a fase móvel, 116 Métodos Instrumentais de Análise Am Aest Assim, podemos escrever uma constante de distribuição entre as duas fases, segundo equação (1): (1) Onde [A]est é a concentração da espécie A na fase estacionária no equilíbrio e [A]m é a concentração de A na fase móvel. Essa constante de equilíbrio é governada pela temperatura, o tipo de composto e as fases móveis e estacionárias empregadas na separação. Dessa forma, por exemplo, espécies com alto valor de Kc têm maior afi nidade pela fase estacionária, e portanto fi carão mais retidas na coluna cromatográfi ca. A Figura 2 ilustra a distribuição de duas espécies A e B em uma coluna cromatográfi ca durante a separação. Se medirmos a concentração da espécie que deixa a coluna em um determinado tempo, o gráfi co resultante será denominado cromatograma. Note que a medida que ocorre a separação, os picos correspondentes aos compostos separados (ou analitos) vão alar- gando. Esse alargamento, apesar de indesejável, não signifi ca a perda do analito, pois a área sob o pico continua a mesma. m est c A A K ][ ][ = ←→ TEORIA BÁSICA O alargamento dos picos em um cromatograma (Fig. 2) ocorre devido a uma série de fatores, infl uenciando na efi ciência da separação. Baseado em alguns parâmetros obtidos no próprio cromatograma, podemos medir a efi ciência de uma coluna cromatográfi ca e avaliar os fatores que contribuem para isto. Assim, temos: Distribuição de duas substâncias A e B em uma típica separação cromatográfi ca. 117 Cromatografi a – Introdução, Classifi cação e Princípios Básicos Aula8 Pratos Teóricos (N): A efi ciência de uma separação de uma coluna pode ser medida em termos de número de pratos teóricos. Um prato teórico pode ser pensado como sendo o equilíbrio de partição que acontece em um determinado intervalo de tempo, ou seja, cada “estágio de equilíbrio” é chamado de Prato Teórico (Fig. 3). Baseado nas informações obtidas a partir do cromatograma (Fig. 4), podemos obter o número de pratos teóricos de uma coluna, ou seja, podemos medir sua efi ciência. Quanto maior o número de pratos teóricos apresentado por uma coluna, maior será sua efi ciência. Assim sendo, o número de pratos teóricos poderem ser obtido da seguinte maneira: Representação esquemática da série de estágios independentes onde acontece o equilíbrio entre o analito dissolvido na fase estacionária e na fase móvel. Fonte: http://www.slideshare.net/b.cortez/cromatografi a-princpios-cg , acessado em 28/02/2011 Obtenção do número de pratos teóricos a partir dos dados do cromatograma 118 Métodos Instrumentais de Análise onde N é o número de pratos de uma coluna, TR é o tempo de reten- ção de um determinado composto e wb é a largura do pico, medido em unidades de tempo. Altura Equivalente de um Prato Teórico (H): Podemos defi nir como sendo a altura de cada estágio de equilíbrio que acontece ao longo de uma sepa- ração cromatográfi ca. Matematicamente, pode-se escrever a equação (2): H = L N (2), onde L é comprimento da coluna. Uma coluna efi ciente apresenta H pequeno, ou seja, quanto menor o H mais efi ciente será a coluna cro- matográfi ca. Fator de retenção ou capacidade (k’): Como a medida das concentrações do analito A em cada uma das fases é impraticável, podemos obter, a partir da equação fundamental e dos dados do cromatograma uma relação entre o fator de retenção e o tempo de retenção do analito, como segue (Fig. 5): Equação Fundamental da Cromatografi a VR = VM + KcVS (3), onde tR e tM são os tempos de retenção e tempo morto do analito A, respectivamente. Obtenção do fator de retenção ou capacidade a partir dos dados do cromatograma. (Fonte: http://www.tu-cottbus.de/zal/zal/prakt/orgaanal.htm acessado em 28/02/2011) Seletividade (α): Também conhecida como fator de separação, é uma me- dida da separação entre dois picos em um cromatograma. Se temos dois picos A e B, o primeiro com tempo de retenção igual a trA e o segundo com o tempo de retenção trB, podemos obter o valor α da seguinte maneira, rA rB MrA MrB t t tt tt = − − =α (4) 119 Cromatografi a – Introdução, Classifi cação e Princípios Básicos Aula8 Resolução (Rs): Assim como a seletividade, é uma medida da separação de dois picos em um cromatograma. A resolução, no entanto, leva também em consideração a largura dos picos, portanto, torna-se uma ferramenta muito mais útil do que a própria seletividade. Considerando dois picos A e B, com tempos de retenção trA e trB e largura wA e wB, podemos calcular a resolução através da relação: BA rArB ww tt + − = )(2 (5) Assim sendo, otimizando todos os parâmetros supracitados, pode-se chegar à melhor separação cromatográfi ca possível, com picos bem sepa- rados e resolvidos. LEIA MAIS Para entender as informações acima citadas leia o artigo intitulado “Cromatografi a: uma breve revisão“ que estão disponíveis na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias de cada texto. Rs CONCLUSÃO Após uma pequena introdução histórica, nesta aula foram apresentados e discutidos os princípios básicos de cromatografi a e a relevância destes na melhoria dos processos de separação cromatográfi cas. Foram apresentados termos como Resolução, Seletividade, Prato teórico e Altura equivalente a um prato teórico. Todos estes termos são fundamentais para entender e avaliar a efi ciência da análise por cromatografi a. RESUMO Apesar da cromatografi a ter evoluído nos últimos anos, o princípio de separação é valido para todos os diferentes tipos de cromatografi a. É de fundamental importância o conhecimento dos princípios de equilíbrio químico, pois a separação cromatográfi ca nada mais é do que o equilíbrio de partição de uma analito entre duas fases, uma móvel e outra estacionária. As diferentes combinações entre fases móveis e estacionárias permitem a classifi cação da cromatografi a em três grandes grupos: a cromatografi a gasosa, a cromatografi a líquida e a cromatografi a com fl uído supercrítico. A otimização das condições cromatográfi cas e consequente melhora em sua efi ciência pode ser avaliada a partir dos dados presentes no cromatograma, que é a resposta gráfi ca do processe cromatográfi co. Parâmetros como Pratos Teóricos, Resolução e Seletividade são fundamentais para entender e melhorar uma separação em cromatografi a. 120 Métodos Instrumentais de Análise ATIVIDADES Dois compostos, heptano e tolueno, com tempos de retenção de 15,4 min e 16,5 min, respectivamente, foram separados em uma coluna empa- cotada de 1,0 m de comprimento. O tempo de retenção de uma espécie não retida foi de 1,8 min. As larguras dos picos medidas em suas bases foram 1,15 min para o heptano e 1,20 min parao tolueno. Com base nes- sas informações, calcule: a) A resolução dos picos b) O número de pratos teóricos em relação ao heptano c) O fator de retenção k’ para o tolueno COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES a) Dado a equação da resolução, podemos substituir os valores dos tempos de retenção dos dois analitos (Heptano e Tolueno) e suas respectivas larguras. Vale lembrar que, dado os valores de retenção, verifi camos que o heptano é o primeiro composto a deixar a coluna, portanto, na equação, seu tempo será representado por trA e sua largura wA , enquanto que o tolueno terá seu tempo de retenção descrito como trB e largura wB. Dessa forma, substituindo os valores e resolvendo a questão, temos: b) Como o número de pratos teóricos depende de um único pico no cromatograma, podemos calculá-lo em função do heptano. Uma alternativa seria calcular para ambos os analitos e obter a média. Para o heptano, precisamos apenas do seu tempo de retenção e da largura do pico. Prontamente obtemos esse valores das informações fornecidas, assim: c) Apesar de relacionar a quantidade de analito entre duas fases, o fator de retenção de um determinado composto é função apenas do seu tempo de retenção e do tempo de retenção de um composto não retido (tempo morto), assim, utilizando os valores dados, temos: k ' = (16, 5 1,8) 1,8 = 8, 2 ( - ( 121 Cromatografi a – Introdução, Classifi cação e Princípios Básicos Aula8 AUTO-AVALIAÇÃO - Entendo o processo evolutivo da cromatografi a? - Diferencio os tipos de cromatografi a e entender a razão de sua classifi - cação? - Consigo entender e aplicar os princípios básicos da cromatografi a? PRÓXIMA AULA Na próxima aula discutiremos as características da instrumentação moderna para cromatografi a líquida e gasosa REFERÊNCIAS SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. CHRISTIAN, G.D. Analytical Chemistry, 6 ed. Ed. John Wiley & Sons Inc, EUA, 2004. KEBBEKUS, B.B.; MITRA, S. Environmental Chemical Analysis. 1a Ed- ição. Ed. CRC press company, EUA, 1998. DEGANI, A.L.G.; CASS, Q.B.; VIEIRA, P.C. Cromatografi a: uma breve revisão. Química Nova na Escola, n.7, 1998. Aula 9 Elisangela de Andrade Passos CROMATOGRAFIA GASOSA, CROMATOGRAFIA LÍQUIDA E SUAS APLICAÇÕES META entender os princípios da Cromatografi a gasosa e sua instrumentação; entender os princípios da Cromatografi a líquida de alta efi ciência, seus diferentes tipos e instrumentação; estudar as fases estacionárias e colunas para cromatografi a; estudar as aplicações da cromatografi a. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: conhecer os princípios da cromatografi a gasosa e líquida, suas diferenças, vantagens e desvantagens; conhecer as diferentes fases estacionárias utilizadas em cromatografi a; conhecer os componentes básicos de uma cromatógrafo; conhecer as possíveis aplicações da cromatografi a. PRÉ-REQUISITOS Conhecimento dos princípios básicos da cromatografi a. 124 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na aula anterior foram abordados os aspectos gerais da cromatografi a e seus princípios. Foram discutidos um pouco da história da cromatografi a, sua evolução instrumental a efi ciência das separações cromatográfi cas. Nesta aula iremos abordar os aspectos gerais da cromatografi a gasosa e líquida. Iremos conhecer quais são os principais componentes de um cro- matógrafo e suas implicações nas análises. Também veremos os diferentes tipos de fases estacionárias que são utilizadas em cromatografi a gasosa e líquida e suas aplicações. Por fi m, iremos abordar sucintamente as várias aplicações da técnica e entender quando usar a cromatografi a gasosa em detrimento à cromatografi a líquida e vice versa. CROMATOGRAFIA GASOSA Vimos na aula anterior que o princípio básico da cromatografi a é a partição de um composto entre duas fases, uma móvel e outra estacionária. Vimos também que a classifi cação dos tipos de separações cromatográfi cas é devido à fase móvel. Dessa forma, quando falamos de cromatografi a gasosa, devemos entender que a fase móvel é um gás e a fase estacionária pode ser um líquido ou sólido. Assim sendo, em cromatografi a gasosa, o eluente ou fase móvel é um gás inerte, geralmente hélio, hidrogênio e nitrogênio. Na verdade, o efeito do gás de arraste na separação é mínimo, pois esta é governada mais pela volatilidade de cada componente de uma amostra e sua interação com a fase estacionária. Basicamente, podemos considerar que um sistema para cromatografi a gasosa consiste de três itens básicos: Um sistema de injeção, uma coluna e seu controlador de temperatura e um detector. Dessa forma, uma amostra contendo os componentes a serem separados é colocada ou injetada em uma coluna. Esta por sua vez vai separar estes componentes enquanto os mesmos são transportados pelo gás de arraste, chegando ao detector, que fará um registro daquilo que chega até ele, normalmente relacionado à sua quantidade. Devido a sua característica, a cromatografi a gasosa deve ser utilizada quando os componentes a ser separado possuírem boa volatilidade ou possam ser convertidos em compostos voláteis. Isto porque, para que haja a separação, ou melhor, para que os analitos não fi quem totalmente retidos na fase estacionária, os mesmos deverão eventualmente estar na fase móvel (equilíbrio de partição). Por isso a importância de um controlador de temperatura para a coluna, pois a volatilidade é diretamente proporcional ao aumento da temperatura, isto é, quanto mais quente, maior a quantidade de uma substância que passa da fase líquida para a fase gasosa. 125 Cromatografi a gasosa, cromatografi a líquida e suas aplicações Aula9 INSTRUMENTAÇÃO Como vimos anteriormente, um cromatógrafo gasoso pode ser dividido em três componentes principais, um sistema de injeção, uma coluna e seu controlador de temperatura (forno) e um detector. Claro que, por ser a fase móvel uma gás, precisaremos também de uma reservatório para o gás de arraste. Podemos ter também, associado ao detector um processador (computador). Além disso, dependendo do detector utilizado, este pode ou não necessitar de mais gases para o seu funcionamento (Fig. 1) Componentes de uma cromatógrafo gasoso. Reservatório do gás de arraste – A; Injetor – B; Coluna e forno – C; Detector – D; Processador do sinal do Detector – E. Fonte: http://hiq.linde-gas.com.br/international/web/lg/br/like35lgspgbr.nsf/repositorybyalias/ ana_meth_gc/$fi le/GC_principle.gif acessado em 03/03/2011 Gás de arraste (fase móvel): Um gás de arraste tem que possuir certas car- acterísticas, porém a mais importante é, como citado anteriormente, ser inerte. Um gás inerte será aquele que não reage com a amostra nem com a fase estacionária nas temperaturas utilizadas na separação. Além disso, deve ter alto grau de pureza, preferencialmente barato e compatível com o detector utilizado. Normalmente em cromatografi a gasosa são utilizados como gás de arraste o Hélio, o Hidrogênio ou o Nitrogênio. Injetor: Um bom sistema de injeção, capaz de introduzir na coluna com boa reprodutibilidade uma pequena quantidade de amostra, é fundamental no processo de separação cromatográfi co. O injetor mais comum utilizado em cromatografi a gasoso é o Injetor do tipo Split-Splitless (Fig. 2). Esta porta de injeção é constituída por um septo (rubber septum), pelo qual o dispositivo de descarga da amostra passa (por exemplo, uma micro-seringa), um insertor (liner), utilizado para proteger a câmara de vaporização (va- 126 Métodos Instrumentais de Análise pourisation chamber), a entrada do gás de arraste (Carrier gas inlet), a saída de purga do septo (septum purge outlet) e a saída para a válvula de Split (Split outlet). Este injetor tem como função principal vaporizar a amostra, fazendo com que parte dela seja introduzida na coluna. Além deste tipo de injetor,outros tantos são utilizados, com menor frequência, em cromatografi a gasosa, tais como Purga e Armadilha (purge and trap), Dessorção Térmica (termal desorption), Pirolisador, entre outros. Colunas: Podemos dizer que a coluna é o coração do processo de separação. Em sistemas de cromatografi a gasosa, elas estão inseridas em um forno de temperatura variável. Podem ser classifi cadas de acordo com o tipo de tubo e empacotamento (Fig. 3) Injetor tipo Split-Splitless http://teaching.shu.ac.uk/hwb/chemistry/tutorials/chrom/splitinj.gif acessado em 03/03/2011 Tipos de colunas para sistemas de cromatografi a líquida 127 Cromatografi a gasosa, cromatografi a líquida e suas aplicações Aula9 Normalmente, a decisão entre o uso de uma coluna empacotada ou coluna aberta está baseado no tipo de amostra a ser estudada. Quando há necessidade de determinação de gases e moléculas muito voláteis, tem-se preferência pelo uso de colunas empacotadas, pois estas apresentarão mel- hores resultados de resolução, por exemplo. Outro fator onde é preferível o uso de colunas empacotadas é a concentração da amostra. Se a amostra for muito concentrada no analito que se quer determinar, então opta-se pelo uso de coluna empacotada. Por outro lado, quando temos amostras complexas e com baixa concentração, utilizamos colunas tubulares, ou melhor, conhecidas como colunas capilares. O termo coluna capilar surge devido ao seu pequeno diâmetro. En- quanto as colunas empacotadas pode ter até 5 mm de diâmetro, as colunas capilares possuem valores típicos de diâmetro em torno de 0,32 mm. Devido ao seu avanço e a possibilidade de uma infi nidade de fases estacionárias, as colunas capilares são dominantes em sistemas cromatográfi cos gasosos, deixando as colunas empacotadas restritas às determinações de gases e compostos muito voláteis. As colunas capilares são revestidas com uma película de Poliimida, o que confere às colunas grande fl exibilidade. Internamente, elas possuem uma fi na camada de fase estacionária (espessura variando entre 0,1 e 10 μm), que pode ser sólida ou líquida. É graças às inúmeras possibilidades de revestimentos (fases estacionárias), que a cromatografi a gasosa com coluna capilar encontra uma vasta aplicabilidade (Tab. 1) Fase Estacionária Nome comercial Temperatura máxima (oC) Tabela 1. Algumas fases estacionárias líquidas utilizadas em colunas capilares Polietileno Glicol Carbowax 20M 250 Polidimetilsiloxano OV-1, HP1 350 5% fenil- polidimetilsiloxano OV-3, DB5 350 OV-17 25050% fenil- polidimetilsiloxano OV-210 20050% trifl uorpropil polidimetilsiloxano Detectores: Após o analito atravessar a coluna, ele é direcionado para um ou mais detectores. Sua passagem ou chegada ao detector produz um sinal que é proporcional à quantidade ou concentração presente no detector em um dado momento. O sinal produzido, que varia entre os diferentes tipos de detectores, é escritos na forma de um gráfi co, denominado de cro- 128 Métodos Instrumentais de Análise matograma, que mostra a magnitude do sinal versus o tempo. Ou seja, como vimos na aula anterior, o pico cromatográfi co informará além da quantidade de material correspondente ao analito, o seu tempo de retenção na coluna. A resposta de um detector varia de acordo com a classe de compos- tos analisados. O detector de condutividade térmica, por exemplo, é de- nominado de detector universal, pois pode ser utilizado para a detecção de qualquer composto. Já o detector fotométrico de chamas, é utilizado para a determinação de compostos contendo enxofre e/ou fósforo. Independente do tipo de detector, as características fundamentais que eles devem apresentar são: Alta sensibilidade, estabilidade, boa linearidade e de preferência que tenha um volume interno pequeno. A seguir são apresentados alguns detectores, seu princípio de análise e aplicações (Tab. 2) Tabela 2. Comparação entre alguns detectores utilizados em Cromatografi a gasosa. Seletivo para aromáticos Detector Princípio Aplicação TCD Detector de condutividade térmica Mudança de condutividade Universal FID Detector de ionização em chama Queima e ionização Universal para hidrocarbonetos ECD Detector de captura de elétrons Compostos eletronegativos capturam elétrons PID Detector de fotoionização Seletivo para halogênios Compostos ionizados por luz UV LEIA MAIS Para entender as informações acima citadas leia o artigo intitulado “Acoplamento cromatografi a gasosa - espectrometria de absorção atômica em estudos de especiação: uma revisão“ que estão disponíveis na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias de cada texto. CROMATOGRAFIA LÍQUIDA A cromatografi a líquida, tal qual vimos anteriormente, é também um processo onde a separação de um composto ocorre pelo equilíbrio deste entre duas fases. Neste caso, entre uma fase estacionária sólida ou líquida e 129 Cromatografi a gasosa, cromatografi a líquida e suas aplicações Aula9 uma fase móvel líquida. Historicamente, a cromatografi a líquida não neces- sita necessariamente de uma instrumentação adequada, bastando dispor de uma coluna recheada com a fase estacionária por onde passa a fase móvel. No entanto, devido os avanços tecnológicos, muito tem sido desen- volvido em relação a técnica cromatográfi ca, e não seria a Cromatografi a Líquida a única a não experimentar esse desenvolvimento. Por isso, ela é conhecida normalmente como Cromatografi a Líquida de Alta Efi ciência (CLAE). Este fato, por si só, torna a cromatografi a líquida de alta efi ciência o tipo mais versátil e mais amplamente empregado de cromatografi a por eluição. O tipo e classifi cação de cromatografi a líquida de alta efi ciência é geralmente defi nido pelo mecanismo de separação ou pelo tipo de fase estacionária (Tab. 3). Tabela 3. Classifi cação simplifi cada da cromatografi a líquida Partição entre líquidos imiscíveis Classifi cação Fase Estacionária Mecanismo de Separação Troca iônica Resina de troca iônica Troca Iônica Exclusão por tamanho Gel polimérico Filtração Líquido-líquido ou partição Líquido Adsorvido em um sólido Líquido-sólido ou adsorção Sólido Adsorção Podemos ainda ampliar a classifi cação da cromatografi a líquida de alta efi ciência de partição com base nas polaridades relativas das fases estacionária e móvel. Dessa forma, temos: Cromatografi a de fase normal, onde a fase estacionária é polar e a fase móvel é apolar e a Cromatografi a em fase reversa, onde a fase estacionária é apolar e a fase móvel é polar. INSTRUMENTAÇÃO A Cromatografi a Líquida de Alta Efi ciência é um tipo de cromatogra- fi a que emprega uma fase móvel líquida e uma fase estacionária fi namente dividida. Por esta razão, a cromatografi a líquida requer o uso de equipa- mentos sofi sticados capazes de suportar altas pressões. Basicamente, um cromatógrafo líquido pode ser dividido em 5 partes: Reservatório e sistema de tratamento de solventes; Sistema de bombeamento; Injetor; Coluna e Detector (Fig. 4) 130 Métodos Instrumentais de Análise Reservatório e Sistema de Tratamento de Solventes: o reservatório consiste em um ou mais recipiente onde o solvente utilizado como fase móvel é armazenado e o sistema de tratamento consiste em um aparelho degas- eifi cador, que retira os gases dissolvidos na fase móvel. Quando apenas um solvente é utilizado ou quando dois ou mais solventes são utilizados em proporções fi xas durante toda a separação, esta é chamada de eluição isocrática. Quando a mistura de solventes varia durante a análise, é chamada de eluição gradiente. Sistema deBombeamento: É um sistema de uma ou mais bombas que geram altas pressões, com boa reprodutibilidade de vazão, resistência à corrosão, etc. Há três tipos básicos de bombas utilizadas em cromatografi a líquida de alta efi ciência: a de seringa acionada por rosca; a bomba recíproca e a bomba pneumática de pressão constante. Injetor: O método mais empregado em cromatografi a líquida de alta efi ciência para introdução da amostra é baseado em um sistema de alça de amostragem, onde um determinado volume é colocado na alça e depois liberado para a coluna através da mudança da direção do fl uxo da fase móvel. Esse sistema de alça também é empregado mesmo quando o equipamento dispõe de auto-amostrador. Coluna: Assim como na cromatografi a gasosa, existe uma variedade imensa de colunas para cromatografi a líquida. Estas colunas consistem de um tubo de aço inoxidável recheado com a fase estacionária. Por esta razão, varia em comprimento, diâmetro, tamanho de partícula e tipo de fase estacionária, dependendo da aplicação. Uma coluna analítica típica para cromatografi a liquida de alta efi ciência tem entre 10 e 30 cm de comprimento, 0,4 – 1,0 cm de diâmetro e tamanho de partícula 3-5 μm. Já as colunas preparativas são mais robustas, com diâmetro que pode chegar a 5 cm. As fases estacionária mais utilizadas em cromatografi a em fase reversa são as de sílica ligada a cadeias carbônicas de 18 ou 8 átomos (C18 ou C8, respectivamente) e em fase normal a de sílica. Detector: Um detector ideal deve ser sensível a pequenas concentrações de todos os analitos, fornecer uma resposta linear e não causar alargamento dos picos eluídos. Além disso, ele deve ser insensível às variações de tem- peratura e composição do solvente. Os tipos de detectores mais utilizados em cromatografi a líquida são os de índice de refração, muito utilizado na Esquema de um sistema de cromatografi a líquida de alta efi ciência 131 Cromatografi a gasosa, cromatografi a líquida e suas aplicações Aula9 determinação de açucares; fl uorescência, para determinação de compostos aromáticos e arranjo de fotodiodo, que vem substituindo o UV-VIS, na determinação de compostos que absorvem a radiação ultravioleta ou visível. APLICAÇÕES DA CROMATOGRAFIA A cromatografi a é um método empregado de forma ampla e que per- mite a separação, identifi cação e determinação de componentes químicos em misturas complexas. Nenhum outro método é tão efi caz e de aplicação tão generalizada quanto à cromatografi a. Ela permite que sejam determi- nados diversos compostos em uma única análise. É muito utilizada na in- dústria alimentícia, no controle de qualidade de seus produtos, na indústria farmacêutica, para separação de princípios ativos. É também utilizada para o monitoramento ambiental e em indústria de petróleo. Enfi m, é infi ndável o número de possíveis aplicações da cromatografi a, e este número continua crescendo. PARA SABER MAIS Se você se interessou pelo tema e deseja saber mais, consulte os capítulos 31 e 32 do livro Fundamentos de Química Analítica, 8a Edição, Editora Thomson, escrito pelos autores Skoog, West, Holler e Crouch. CONCLUSÃO O advento da cromatografi a gasosa e cromatografi a líquida tem trazido inúmeros benefícios à indústria e à pesquisa. Suas várias possibilidades, onde é possível analisar desde o conteúdo de gases presentes na atmosfera até a concentração de um determinado princípio ativo em um novo medica- mento, nos remete a pensar como isso tudo seria feito sem o auxílio desta técnica. Assim sendo, vimos que as determinações cromatográfi cas são de fundamentais importância para a ciência hoje em dia. RESUMO Devido a sua aplicação, podemos dividir a cromatografi a em gasosa e líquida. A primeira faz uso de uma fase móvel gasosa, enquanto a segunda, a fase móvel é líquida. Em ambas, a fase estacionária pode ser sólida ou líquida, sendo este líquido, muitas vezes, ligado a um sólido. Um equipamento para cromatografi a pode ser dividido em 3 partes: Um sistema de injeção, uma 132 Métodos Instrumentais de Análise coluna de separação e um detector. Claro que as necessidades tecnológicas ampliam um instrumento com muitas outras partes, como por exemplo, um processador para o sinal do detector. A sílica é de fundamental importância em cromatografi a, seja como parte da estrutura das colunas capilares em cromatografi a gasosa, ou como fase estacionária em cromatografi a líquida. Não obstante suas diferenças, a cromatografi a encontra vasta aplicação, isto muito provavelmente à sua grande versatilidade dado os diferentes tipos possíveis de fases móveis e estacionárias. ATIVIDADES 1. Qual a diferença entre cromatografi a gás-líquido e cromatografi a gás- sólido? 2. Quando devo usar uma coluna preparativa em cromatografi a líquida de alta efi ciência? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES 1. Ambas são classifi cadas como cromatografi a gasosa por possuírem um gás como fase móvel, no entanto, na cromatografi a gás-líquido, a fase estacionária é um líquido (polidimetilsiloxano, por exemplo). Sua separação baseia-se no princípio de partição entre a fase móvel e a fase estacionária. Já na cromatografi a gás-líquido, a fase estacionária é um sólido e a adsorção tem papel importante na separação. 2. Por defi nição, uma coluna preparativa, como o próprio nome nos remete a pensar, é uma coluna onde o processo de separação tem como objetivo isolar, em grande quantidade, uma determinada porção da amostra ou um único analito. Assim sendo, se existe a necessidade de separar um princípio ativo de um determinado extrato de planta para testes bioquímicos, uma grande quantidade destes compostos precisa ser isolada, digamos, alguns miligramas. É nessa situação que se faz uso de coluna preparativa, lembrando é claro que, o instrumento deve ser capaz de suportar grandes pressões pois as colunas preparativas são muito maiores do que as colunas analíticas 133 Cromatografi a gasosa, cromatografi a líquida e suas aplicações Aula9 AUTO-AVALIAÇÃO - Entendo os princípios da cromatografi a gasosa e líquida, suas diferenças, vantagens e desvantagens? - Consigo diferenciar as fases estacionárias utilizadas em cromatografi a? - Sinto-me capaz de apontar quais são os componentes básicos de um cromatógrafo? - Conheço as possíveis aplicações da cromatografi a? PRÓXIMA AULA Na próxima aula discutiremos os métodos de preparo de amostra para análise instrumental. REFERÊNCIAS SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. CHRISTIAN, G.D. Analytical Chemistry, 6 ed. Ed. John Wiley & Sons Inc, EUA, 2004. KEBBEKUS, B.B.; MITRA, S. Environmental Chemical Analysis. 1a Ed- ição. Ed. CRC press company, EUA, 1998. CAMPOS R.C.; GRINBERG, P. Acoplamento cromatografi a gasosa - espectrometria de absorção atômica em estudos de especiação: uma revisão Química Nova, v.24, n.2, p.220-227, 2001. Aula 10 Elisangela de Andrade Passos PREPARO DE AMOSTRAS PARA ANÁLISE INSTRUMENTAL META Discutir as técnicas para preparo de amostras para a análise instrumental; Entender os métodos de extração de analitos orgânicos; Entender os métodos de extração de metais. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: entender as diferentes técnicas de preparo de amostras para análise instrumental; saber diferenciar os tipos de preparo de amostras para análise de compostos orgânicos; entender os diferentes tipos de métodos de extração de metais. PRÉ-REQUISITOS Conhecimento das técnicas instrumentais de análise. 136 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na aula anterior foram abordados os aspectos gerais da cromatogra- fi a gasosa e líquida e os principais componentes de um cromatógrafo e suas implicações nas análises. Também vimos os diferentes tipos de fases estacionárias que são utilizadas em cromatografi a gasosa e líquida e suas aplicações. Nesta aula iremos abordar os aspectos geraisdo preparo de amostras para análise instrumental. A preparação de amostras para análise é o passo subsequente após as amostras terem sido coletadas e armazenadas. Normal- mente, a coleta da amostras, que é um passo fundamental para o processo analítico, ocorre após meticuloso planejamento, que levam em consideração condições climáticas, amostradores, número de réplicas, entre outros aspec- tos. Muito raramente uma amostra coletada pode ser diretamente analisada, por isso a importância do seu preparo, que normalmente é o fator limitante na velocidade de geração dos resultados. É nesta etapa também que muitos dos erros de análise podem acontecer, por isso a importância de entender e saber aplicar os diferentes tipos de preparo de amostras para os diferentes tipos de analitos e de análise instrumental. TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO Como vimos, a preparação de amostras é o passo entre a amostragem e a análise. Este é o ponto onde os analitos são transferidos de uma matriz amostral para uma forma possível de análise instrumental. Um método de extração deve, preferencialmente, ser rápido, simples, barato e boa repetibi- lidade. É sabido, no entanto, que dependendo da complexibilidade da matriz amostral, esses atributos de extração podem ser inatingíveis, principalmente quando os analitos a serem estudados estão em baixas concentrações. Nesses casos, o analista deve fi car atento à contaminação, evitando-a com alguns simples procedimentos, a saber: - minimizar o manuseio da amostra - usar o mínimo possível de aparato laboratorial - manter a área de preparo limpa - usar o mínimo possível de reagentes/solventes A seguir (Fig. 1) são apresentados alguns métodos de extração para diferentes tipos de amostras. 137 Preparo de amostras para análise instrumental Aula10 EXTRAÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS DE AMOSTRAS LÍQUIDAS Basicamente, para extração de compostos orgânicos de amostras líquidas, dois métodos são bastante difundidos e empregados: A extração líquido-líquido e em fase sólida. Vejamos Extração líquido-líquido (ELL): É o método mais popular de extração de compostos orgânicos de amostras líquidas, principalmente a água. É empregado para analitos que têm baixa volatilidade e não são passíveis de extração pelo método direto de purga e armadilha (Purge and Trap) ou pela amostragem direta a atmosfera acima da amostra (Headspace). Esse tipo de extração baseia-se na distribuição no analito entre duas fases distintas (Eq. 01), a amostra aquosa e um solvente orgânicos imiscível. D = Cso Caq (1), onde D é o coefi ciente de partição ou distribuição, Cso e Caq representam a concentração do analito no solvente orgânico e na fase aquosa, respectiva- mente. Pela equação acima, vemos que quanto maior o volume de solvente orgânico utilizado, maior será a quantidade do analito no mesmo, pois D deve permanecer constante. Se conhecermos o coefi ciente de partição D, podemos determinar qual a fração de analito (FA) extraído pelo solvente, segundo a Equação (2): FA = (CsoVso) (CsoVso+CaqVaq = 1 1+CaqVaqCsoVso = 1 1+Vr D (2), Métodos de extração de analitos de interesse a partir de diferentes matrizes. 138 Métodos Instrumentais de Análise onde Vr é a razão entre o volume da fase aquosa e o volume da fase orgânica. Geralmente, uma simples extração líquido-líquido não é sufi ciente para recuperar todo o analito para uma determinada análise. Por isso, frequent- emente, é realizada sucessivas extrações. Após a primeira extração, a quan- tidade de analito remanescente na fase aquosa deve ser 1 - FA. Lembre-se que, mantido os volumes de extração, a porcentagem do analito extraído em cada passo será o mesmo, fazendo com que, a cada extração, mais e mais analito seja separado para a fase orgânica. A instrumentação mais simples para a extração líquido-líquido é o funil de separação, que dispõe de uma válvula em sua parte inferior que permite a retirado do líquido mias denso (Fig. 2). Funil de separação para extração líquido-líquido. (Fonte: http://www.prof2000.pt/users/anitsirc/decant.%20em%20funil.gif acessado em 08/03/2011) Extração em Fase Sólida (EFS): Também conhecida como extração líquido-sólido, ela baseia-se na retenção dos analitos de interesse por um adsorvente sólido. Neste tipo de extração, um tubo é recheado com o ad- sorvente (cartucho de EFS), pelo qual a amostra líquida é passada. Uma vez terminada a passagem da amostra líquida pelo cartucho de EFS, o analito que fi cou retido no mesmo é recuperado pela passagem de uma pequena quantidade de solvente, que retira o analito pré-concentrado no cartucho de EFS e o transfere para um solvente orgânico (Fig. 3). 139 Preparo de amostras para análise instrumental Aula10 Da mesma forma que a extração líquido-líquido, a separação dos anali- tos por EFS é regida pela partição do composto de interesse entre duas fases, uma aquosa, contendo a amostra e a outra sólida, que irá adsorver os analitos. Como vimos na Figura 3, o processo é bastante simples e traz uma série de vantagens sobre a extração líquido-líquido, pois esta técnica é rápida; não consome grandes quantidades de solventes orgânicos; a etapa de concentração do solvente, quando necessária, também é rápida; oferece maior seletividade e precisão, devido aos diferentes tipos de adsorventes; e gera menor resíduo pós extração. Micro-Extração em Fase Sólida (SPME): a sigla SMPE vem do inglês, Solid Phase Micro Extraction. Esta é uma técnica de extração razoavelmente nova e utiliza uma fi bra revestida com um material polimérico para a extração dos compostos de interesse. Esse fato, por si só, já demonstra a grande vantagem de utilizar esse tipo de extração, pois existe uma infi nidade de revestimento para uma grande gama de analitos orgânicos. Além disso, não utiliza solvente orgânico, pois os analitos são adsorvidos na fi bra, que é levada diretamente ao instrumento de análise, como mostra a Figura 4. Modelo esquemático de uma extração em fase sólida. 1. Column Solvation (solvatação da coluna/ condicionamento); 2. Sample Loading (Adição da amostra); 3. Column Washing (lavagem da coluna); 4. Target Compound Elution (Eluição dos compostos de interesse); Eluted interferentes (Interfer- entes eluídos); Target Compound (Composto alvo/de interesse). (Fonte:http://www.biotage.com/graphics/9223.jpg acessado em 08/03/2011) 140 Métodos Instrumentais de Análise EXTRAÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS DE AMOSTRAS SÓLIDAS A extração de analitos de amostras sólidas normalmente é mais dispen- diosa do que as extrações em amostras líquidas. Isso de deve ao fato de que os analitos em amostras sólidas estão mais ligados à matriz amostral. Desta forma, geralmente um etapa de redução do tamanho de partículas (mac- eração, moagem, etc.) é fundamental para a extração de amostras sólidas. Extração por Soxhlet: Basicamente, neste tipo de extração, a amostra sólida é imersa diversas vezes em um solvente extrator, que vai concentrando o extrato (Fig. 5). Etapas envolvidas em uma micro-extração em fase sólida. (Fonte: http://www.scielo.br/img/fbpe/qn/v22n2/1113f1.gif acessado em 08/03/2011) Extrator Soxhlet (Fonte: http://www.qmc.ufsc.br/organica/exp7/images/anim_soxhlet.gif acessado em 08/03/2011) 141 Preparo de amostras para análise instrumental Aula10 Neste aparato de extração, a amostra seca é colocada em um cartucho que na câmara de extração. O Solvente que é destilado do reservatório é levado para a câmara de extração, preenchendo-a gradualmente, até o seu nível atingir o sifão, que retornará o solvente, para o seu reservatório. Dessa forma, a amostra é por várias vezes colocadas em contato com o solvente destilado e retorna para o reservatório, onde os compostos extraídos são concentrados. Extração por solvente acelerada: Assim como cozinhar alimentos sob alta pressão e temperatura acelera o processo de cozimento, a extração de analitos de uma amostra sólida a altas pressõese com temperatura acima do ponto de ebulição do solvente de extração acelera e melhora a extração de compostos de amostras sólidas. Para isso, já existe instrumentação (Fig. 6). Aparato de extração por solvente acelerada. 1 – Reservatório nitrogênio gasoso; 2 – Bomba de pressurização; 3 – Válvula; 4 – Forno; 5 – Célula de extração; 6 – Frasco coletor; 7 – Manômetro. (Fonte: http://www.scielo.br/img/revistas/jbchs/v20n5/a16fi g01.gif acessado em 08/03/2011) Neste tipo de instrumento, a amostra sólida seca é colocada em uma célula extratora, onde é colocado solvente sob pressão e aquecido. O tempo de extração, dependendo do analito, pode ser de alguns minutos. A efi ciência de extração também é aumentada devido às altas pressões e temperaturas, pois o solvente tem melhor contato com a matriz da amostra. Extração por Ultrassom: A extração utilizando ultrassom é outra técnica bastante difundida para amostras sólidas. O processo ultrassônico permite que o solvente extrator tenha maior contato com a matriz da amostra. A van- tagem do uso do ultrassom é que ele permite que sejam realizadas dezenas de extrações simultâneas com baixo custo, pois o banho ultrassônico per- mite a acomodação de diversos frascos extratores ao mesmo tempo. Além de ser mais rápida do que a extração por soxhlet, a efi ciência de extração é comparável a este, e melhor quando se trata de compostos semivoláteis. Extração com fl uído supercrítico: Um fl uído supercrítico é uma substância acima de sua temperatura e pressão crítica. Por apresentar características de gás e solvente, simultaneamente, esse tipo de fl uido é muito atrativo 142 Métodos Instrumentais de Análise como extrator. Pela necessidade de altas temperaturas e pressões, também requer, como a extração por solvente acelerada, equipamentos especiais para sua realização. Basicamente, o fl uído supercrítico mais comumente utilizado é o CO2, e a instrumentação se resume em um reservatório deste, uma bomba de pressurização e uma célula de extração. Após a extração, o CO2, que a temperatura ambiente é um gás, é dissipado, permanecendo apenas o extrato desejado. TRATAMENTO PÓS-EXTRAÇÃO Após a extração por solvente, muitas vezes existe a necessidade de redução do volume para a análise instrumental. Em função disto faz-se a evaporação do excesso de solvente extrator. Isso pode ser feito num evapo- rador rotativo ou sob fl uxo de nitrogênio, dependendo da quantidade e do tipo de analito que se quer determinar. Depois da redução do volume, pode ou não haver a necessidade de limpeza da amostra. Isso depende do tipo de matriz e do analito, pois muitas vezes, durante o processo de extração, centenas de compostos, além do analito de interesse, podem ser extraídos. Normalmente, a limpeza da amostra envolve o uso de uma coluna recheada com alguma fase estacionária que retém o analito de interesse, que pode ser recuperado com um segundo solvente de extração, ou pelo contrário, a fase estacionária pode reter os interferentes, deixando o analito pronto para a análise. LEIA MAIS Para entender as informações acima citadas leia o artigo intitulado “Microextração em fase sólida: aspectos termodinâmicos e cinéticos“ que está disponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias de cada texto. EXTRAÇÃO DE ANALITOS METÁLICOS Os analitos metálicos são encontrados de diversas formas no ambiente, incluindo íons hidratados, complexados, óxidos insolúveis, hidróxidos, entre outros. Podem estar fortemente ligados as matrizes amostrais. Em qualquer caso, assim como os compostos orgânicos, os metais, na maioria das vezes, precisam ser extraídos da amostra para a análise instrumental. Em matrizes aquosas, os metais podem estar dissolvidos ou associados ao material particulado. Dessa forma, se dissolvido, uma etapa de pré- concentração muitas vezes se faz necessário. No caso de estar associado ao material particulado, este pode ser fi ltrado e ser tratado como matriz sólida, onde normalmente uma etapa de digestão ácida está envolvida. Vejamos: 143 Preparo de amostras para análise instrumental Aula10 Digestão ácida: Os metais associado ao material particulado ou a amostras sólidas são normalmente extraídos utilizando ácidos. Ácidos como o ácido nítrico (HNO3), Ácido clorídrico (HCl) e Ácido Fluorídrico (HF) são bastante utilizados, juntamente com espécies oxidativas, tais como H2O2 e H2SO4. Basicamente, após eliminação da matéria orgânica associada à matriz, esta e levada, juntamente com um pequeno volume de ácido (ou mistura destes), ao aquecimento por determinado tempo. Após a esta etapa de extração, pode ou não haver a necessidade de concentração da amostra. Isso dependerá da concentração do analito na amostra. Deve-se ressaltar que o uso de aquecimento na extração de metais, seja em frascos abertos ou fechados, normalmente está associado à determinação do que chamamos de metais totais. Quando existe a necessidade de determinação de metais biodisponíveis, uma extração branda deve ser utilizada. Esta extração branda varia com a metodologia adotada e com o tipo de metal a ser determinado (Fig. 7). Digestão ácida. (Fonte: http://bcortez.fi les.wordpress.com/2008/08/aula-2-preparo-de-amostras.ppt acessado em 08/03/2011.) Digestão com auxílio de microondas: É utilizada em detrimento da ex- tração em frascos abertos para a determinação de metais totais. O princípio do forno de microondas é o mesmo daqueles utilizados em nossas cozinhas, porém adaptado a realidade de um laboratório, onde o controle de pressão e temperatura é fundamental (Fig. 8). 144 Métodos Instrumentais de Análise Extração por ultrassom: Ao contrário da extração com forno de mi- croondas, a extração com ultrassom é um procedimento brando de extração. É utilizada principalmente na determinação de analitos bastante solúveis em água (Fig. 9). Digestão com auxílio de microondas (Fonte: http://bcortez.fi les.wordpress.com/2008/08/aula-2-preparo-de-amostras.ppt acessado em 08/03/2011.) Extração por ultrassom. (Fonte: http://www.lfequipamentos.com.br/produtos_detalhes.aspx?ProdutoID=657&Categoria ID=2 acessado em 08/03/2011.) Extração orgânica de metais: Este tipo de extração é utilizado para a determinação de analitos metálicos iônicos dissolvidos em água. Sabe-se que espécies iônicas são praticamente insolúveis em solventes orgânicos. Dessa forma, quando um complexo metálico pode ser formado entre a espécie metálica e um agente quelante, este pode ser extraído da fase aquosa mediante uma simples extração líquido-líquido. 145 Preparo de amostras para análise instrumental Aula10 LEIA MAIS Para entender as informações acima citadas leia o artigo intitulado “Mecanização no preparo de amostras por microondas: o estado da arte“ que está disponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto das principais idéias de cada texto. ANÁLISE DE AMOSTRAS GASOSAS A análise de amostras gasosas depende do tipo de amostragem e do tipo de analito a ser determinado. Se a amostragem é feita com amostrador ativo, onde um fi ltro é utilizado para a retirada do material particulado de uma atmosfera a ser analisada, então, o fi ltrado pode ser submetido a extração por ultrassom ou soxhlet, se o analito a ser determinado for um composto orgânico. Se o que se deseja determinar for um metal, então procede-se um extração por digestão ácida. Se, por outro lado, o analito for um gás (CO2, NOx, etc), ou um com- posto orgânico volátil, então pode-se levar a amostra diretamente à análise ou fazer sua pré-concentração utilizado o mesmo princípio da extração em fase sólida. CONCLUSÃO Nesta aula foram apresentados e discutidos os principais métodos de extração para as diversas matrizes amostrais e analitos. Vimos que uma determinação analítica não termina na amostragem, pelo contrário, é a partir desta etapa que inicia-se um exaustivo trabalho de secagem, moagem e extração, de forma a minimizar os interferentes, aumentar a sensibilidadee promover assim melhor precisão e exatidão em um método analítico. RESUMO Os métodos de preparo de amostras para análise instrumental são um importante passo no desenvolvimento analítico. Insere-se entre a amostragem e a análise instrumental propriamente dita. Por isso sua im- portância, pois esta etapa deve ser realizada com o maior rigor possível para que não exista erro na determinação do analito desejado. Devemos lembrar que o preparo da amostra é dependente do tipo de amostra e do tipo de analito a ser determinado. Assim, para determinação de analitos orgânicos em amostras sólidas, podemos utilizar métodos clássicos, como a extração por soxhlet, ou métodos que utilizem equipamentos modernos, como o 146 Métodos Instrumentais de Análise ultrassom e o extrator acelerado por solvente. Em amostras líquidas, o mé- todo mais difundido é a extração líquido-líquido. Porém, técnicas modernas como a extração em fase sólida e a micro extração em fase sólida estão ocupando lugar de destaque em metodologias analíticas para determinação de compostos orgânicos em matrizes aquosas. Quando tratamos da deter- minação de analitos metálicos, o procedimento mais utilizado é a extração por digestão ácida. Tanto para analitos em amostras sólidas ou presentes em material particulado. Para a análise de metais em água pode-se fazer sua complexação com um agente quelante orgânico e fazer sua extração, tal qual a extração líquido-líquido. Amostras gasosas podem ser analisadas diretamente após a amostragem ou então utilizar um pré-concentrador, que em algumas vezes reage com o analito a ser determinado, sendo sua quantifi cação feita indiretamente. Em suma, independente da amostra a ser determinada, é fundamental que o método de preparação da mesma seja confi ável, reprodutível, baixo custo e de fácil execução. ATIVIDADES Considere uma extração líquido-líquido onde o coefi ciente de distri- buição D é 5 e o volume da amostra é de 100 mL. O que será mais efi ciente, uma extração com 100 mL de solvente imiscível ou 2 extrações com 50 mL? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES Para a extração com 100 mL, a fração do analito extraído será Para uma única extração com 50 mL, temos Dessa forma, uma única extração com 100 mL nos oferece 83 % de efi ciência. Se considerarmos que uma única extração com 50 mL nos dá 71 % de efi ciência e que uma segunda extração com 50 mL, dos remanescente 29 % da amostras terá também uma efi ciência de 71 % (os volumes da amostra e do solvente extrator continuam os mesmos), ao fi nal, teremos um total de 92 % de analito extraído. Isso nos mostra que é preferível fazer duas ou mais extrações a uma única com o mesmo volume de solvente. 147 Preparo de amostras para análise instrumental Aula10 AUTO-AVALIAÇÃO - Sinto-me capaz de diferenciar as técnicas de preparo de amostras para análise instrumental? - Consigo entender os diferentes tipos de preparo de amostras para análise de compostos orgânicos? - Consigo entender os diferentes tipos de métodos de extração de metais? PRÓXIMA AULA Na próxima aula faremos uma breve introdução ao laboratório, ressal- tando a necessidade do uso de equipamento de proteção individual (EPI) e das normas de segurança em laboratório. REFERÊNCIAS SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. CHRISTIAN, G.D. Analytical Chemistry, 6 ed. Ed. John Wiley & Sons Inc, EUA, 2004 KEBBEKUS, B.B.; MITRA,S. Environmental Chemical Analysis. 1 ed. CRC press company, EUA, 1998. DOREA, H.S.; GAUJAC, A.; NAVICKIEN, S. Microextração em fase sólida: aspectos termodinâmicos e cinéticos. Scientia plena, v.4(7), p.1-7, 2008. ARRUDA, M.A.Z.; SANTELLI, R. E. Mecanização no preparo de amostras por microondas: o estado da arte. Química nova, v.20(6), p.638- 643, 1997. Aula 11 Elisangela de Andrade Passos PRÁTICA 01 - INTRODUÇÃO AO TRABALHO NO LABORATÓRIO DE QUÍMICA ANALÍCA INSTRUMENTAL META Apresentar o objetivo da parte prática da disciplina; apresentar as instruções de trabalho no laboratório; apresentar o modelo para confecção do relatório. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: entender como trabalhar com segurança no laboratório de química analítica; saber confeccionar o relatório experimental. PRÉ-REQUISITOS Saber os fundamentos dos métodos instrumentais de análise; estar no laboratório de química instrumental. Estar vestindo todos os EPIs (Equipamento de Proteção Individual) necessários. 150 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na última aula encerramos o conteúdo teórico da disciplina. A partir desse momento iniciaremos a parte experimental que consiste em cinco aulas práticas a serem desenvolvidas no laboratório de química analítica. Ao longo desta aula, faremos uma introdução aos trabalhos no laboratório enfatizando o procedimento experimental e as instruções para confecção do relatório experimental. É de fundamental importância que o aluno compareça ao laboratório usando guarda-pó e munido do procedi- mento experimental. INTRODUÇÃO AO TRABALHO NO LABORATÓRIO DE QUÍMICA ANALÍTICA A disciplina método instrumental de análise – Parte experimental tem como principal objetivo tornar o discente capaz de relacionar os conhe- cimentos teóricos com alguns instrumentos utilizados em laboratório de química analítica instrumental. LABORATÓRIO PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Os procedimentos experimentais são apresentados em cada aula prática com objetivo de apresentar os trabalhos de forma clara, simples e objetiva de modo a capacitar o discente a realizar suas próprias experiências. Estes devem ser seguidos conscientemente, de forma que as experiências sejam melhores compreendidas e as conclusões sejam facilmente observadas. EXECUÇÃO DO TRABALHO PRÁTICO A prática deve ser realizada seguindo as instruções abaixo: - Comparecer ao laboratório usando apropriadamente guarda-pó (jaleco, avental, etc.) na hora marcada, munido do procedimento da experiência e do caderno para anotações; - Com o objetivo defi nido da prática, anotar todos os fenômenos relacio- nando-os com as condições iniciais e fi nais do experimento; - Conferir todo o material a ser utilizado na prática, observando se existe material sujo, quebrado ou faltando de acordo com previsto no procedi- mento experimental; 151 Prática 01 - Introdução ao trabalho no laboratório de Química... Aula11 - Concluído o trabalho prático, coloque todo material utilizado na pia, evitando amontoa-lo para que as vidrarias não se quebrem. RELATÓRIO A elaboração do relatório da prática deverá seguir as instruções abaixo: - Deverá ser escrito de forma clara, organizada e objetiva, que expresse todo conteúdo do trabalho científi co realizado; - Deverá constar dos seguintes itens: Titulo: Frase sucinta expressando o principal objetivo do trabalho prático. Resumo: Texto sucinto com, no máximo, seis linhas sobre todo trabalho realizado, incluindo os resultados alcançados. Introdução teórica: Breve revisão bibliográfi ca da teoria necessária para compreensão do trabalho prático e interpretação dos resultados; ressaltando no fi nal desse item o objetivo do trabalho fundamentado em conhecimento prático e teórico. Desenvolvimento experimental: Descrever claramente o procedimento experimental, ressaltando os materiais, equipamentos utilizados e metodo- logia aplicada. Resultados e Discussão: Apresentação de todos os dados obtidos na ex- ecução da prática em laboratório. A discussão dos resultados, que podem ser apresentados em forma de tabelas e gráfi cos, deve ser feita através de texto explicativo comparando-os com os dados da literatura. Além disso, a discussão deve mostrar que o aluno relacionou bem os conhecimentos teóricos e práticos; por isso todo cuidado é pouco nesse item. Conclusão: Observações pessoais e conclusivas do trabalho realizado. Referências Bibliográfi cas: Livros e artigos usados para escrever o relatório,indicados no texto e relacionados neste item conforme exemplos abaixo: - no texto: segundo Baccan (2005) ou segundo Passos et al. (2005).... - neste item: BACCAN, N.; DE ANDRADE, J. C.; GODINHO, O. E. S.; BARONE, J. S. Química Analítica Quantitativa Elementar. 3ª. Ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2001. CONCLUSÃO Nesta aula foram apresentadas as instruções para o trabalho experi- mental e confecção do relatório. O aluno somente deve adentrar ao labo- ratório usando guarda-pó, sapatos fechados e calça comprida. Além disso, deve sempre está munido do procedimento experimental para o melhor acompanhamento da prática. 152 Métodos Instrumentais de Análise RESUMO A parte experimental da disciplina Métodos Instrumentais de Análise consiste em relacionar os conhecimentos teóricos com alguns instrumentos utilizados em laboratórios de química. Em cada aula prática são apresenta- dos os procedimentos experimentais de forma clara, simples e objetiva de modo a capacitar o discente a realizar suas próprias experiências. O aluno deverá comparecer ao laboratório usando jaleco, munido do procedimento da experiência e do caderno para anotações. O relatório experimental será ser confeccionado e constará de título, resumo, introdução teórica, desen- volvimento experimental, resultados e discussão, conclusão e referências bibliográfi cas. ATIVIDADES 1. Qual a importância da obrigação do uso em laboratório de itens de se- gurança como jaleco e óculos de proteção? 2. Por que devemos redigir um relatório a cada aula prática, qual a sua fi nalidade? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES 1. O aluno só deve trabalhar no laboratório utilizando os itens de segurança como jaleco e óculos de proteção. Esses itens são indispensáveis no manuseio de produtos químicos. Em alguns experimentos manipulamos ácidos e bases concentradas e há emissão de gases tóxicos. Outra regra fundamental no trabalho experimental é está munido de calça comprida e sapato fechado. Queimaduras com ácidos ou bases podem ser evitadas com uso segura das substancias e vestimenta adequada. 2. O relatório representa o relato da aula prática. Ele é indispensável. Sua principal fi nalidade é descrever com riquezas de detalhes o que houve no experimento. Qualquer pessoa que leia deve consegui reproduzir o experimento sem difi culdades. Um relatório bem redigido representa um bom desenvolvimento do experimento. 153 Prática 01 - Introdução ao trabalho no laboratório de Química... Aula11 AUTO-AVALIAÇÃO - Consigo entender como trabalhar com segurança no laboratório de química analítica? - Sou capaz de confeccionar o relatório experimental? PRÓXIMA AULA Na próxima aula, Aula Prática 02, iremos aprender as operações iniciais relacionadas a um espetrofotômetro e sua aplicação na análise qualitativa de uma solução de azul de bromotimol. REFERÊNCIAS HARRIS, D. C. Análise Química Quantitativa. 7 ed. Tradução de Bor- dinhão, J. [et al.]. Rio de Janeiro: LTC, 2008. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Aula 12 Elisangela de Andrade Passos PRÁTICA 02 – ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORÇÃO MOLECULAR NO UV–VIS: OPERAÇÃO E RESPOSTA DO ESPECTROFOTÔMETRO META Proporcionar o contato do aluno com a instrumentação analítica empregada em análises espectrofotométricas abordando as questões técnicas e operacionais; desenvolver habilidades e competências referentes à espectrometria; redigir o relatório prático. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: reconhecer um espectrofotômetro de absorção no UV–VIS; reconhecer os acessórios relacionados a instrumentação analítica estudada; operar um espectrofotômetro; interpretar os resultados obtidos em análises empregando o espectrofotômetro; preparar o relatório da prática, segundo as instruções da aula Prática 01. PRÉ-REQUISITOS Conhecer os fundamentos da espectrometria de absorção molecular na região do UV-VIS (conteúdo abordado na Aula 02); estar no laboratório de química instrumental; estar vestindo todos os EPIs (Equipamento de Proteção Individual) necessários. 156 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na última aula foram abordados os conceitos básicos e introdutórios referentes a atividades em um laboratório químico e as instruções para confecção do relatório experimental. Ao longo desta aula aprenderemos as operações iniciais relacionadas a um espetrofotômetro, desde a conexão a rede elétrica, as regulagens básicas, até a obtenção de espectros de soluções contendo o analito de interesse. FUNDAMENTOS TEÓRICOS Como apresentado na Aula 02, à espectrofotometria está baseada na utilização da radiação eletromagnética (luz) para determinar algumas car- acterísticas do analito. Para isto empregamos um instrumento chamado espectrofotômetro. O espectrofotômetro pode ser constituído por uma das duas formas de estrutura: com fi ltro de absorção (seleção de um com- primento de onda específi co) ou monocromador (possibilidade de efetuar uma análise por varredura – diversos comprimentos de onda). O azul de bromotimol é um composto orgânico, de fórmula química C27H28Br2O5S, comumente empregado como indicador ácido-base por apresentar a car- acterística de alteração de cor em função do pH da solução em que está presente. Nesta aula iremos verifi car algumas características espectrais do azul de bromotimol. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL OPERAÇÃO DO ESPECTROFOTÔMETRO Para iniciarmos os trabalhos com o espectrofotômetro devemos ob- servar os seguintes detalhes: a) se a rede elétrica é estável ou possui um estabilizador compatível com a potência do instrumento; b) qual a tensão de operação do instrumento; c) conectar o equipamento a rede elétrica, ligar e aguardar 30 minutos até a utilização. Reconhecendo o equipamento: a) existem vários equipamentos comerciais, que apresentam diferentes aspectos físicos visuais, porém um Espectrofotômetro UV–VIS pode ser reconhecido pela presença de um compartimento que possui um suporte para uma ou mais cubetas, a depender do modelo do equipamento; b) modelos mais antigos apresentam visor digital ou analógico de Absor- 157 Prática 02 – Espectrofotometria de absorção molecula... Aula12 bância ou Transmitância (%T), além de botões de regulagem para seleção do comprimento de onda, Absorbância e Transmitância, ou teclado digital com funções semelhantes; c) modelos mais modernos aparecem acoplados a um computador e pos- suem controle do equipamento através de software específi co; d) identifi que o modo de operação do equipamento, se é através de com- primento de onda fi xo ou por varredura. Esta informação pode ser obtida no manual ou site do fabricante, através do modelo do equipamento, ou verifi cando se o instrumento permite programar par leitura uma faixa de comprimento de onda ou um comprimento de onda fi xo. e) identifi que quantos suportes de cubetas o equipamento possui; f) verifi que se o material da cubeta é compatível com o solvente que será usado no procedimento analítico, as cubetas de quartzo são as mais indica- das, porém requerem maiores cuidados; g) certifi que-se que próximo ao equipamento tenha um béquer, um pissete com água destilada e papel absorvente macio; este material será usado na limpeza da cubeta. DETERMINAÇÃO DO ESPECTRO UV–VIS DE UMA SOLUÇÃO DE AZUL DE BROMOTIMOL: Para esta prática serão necessários os seguintes materiais: a) solução de azul de bromotimol; b) solução de ácido clorídrico 1 mol L-1; c) solução de hidróxido de sódio 1 mol L-1; d) balão volumétrico de 50 mL e pipetas. PROCEDIMENTO a) Em um balão volumétrico de 50 mL adicione aproximadamente 25 mL de água destilada, uma gota de solução de azul de bromotimol e 1 mL de solução de hidróxido de sódio 1 mol L-1. Afi ra o volume do balão com água destilada e agite para homogeneizar. Em outro balão acrescente apenas a água e a solução de hidróxido de sódio, a esta solução atribui-se o nome de branco. b) Se o espectrofotômetropermitir operar no modo varredura, programe uma varredura entre 380 a 780 nm. Adicione a solução em branco a cubeta, enxugando a face polida com o auxílio de papel absorvente macio, seguran- do-a com os dedos, polar e indicador através da face opaca. Acondicione a cubeta ao suporte que encontra-se no compartimento de leitura e faça a zeragem da linha base do sistema. Este procedimento é conhecido como o branco da análise, ou seja, o equipamento irá registrar toda a interferência da cubeta e do solvente empregado na análise para aqueles comprimentos 158 Métodos Instrumentais de Análise de onda selecionados. Para realizar este procedimento de zeragem, verifi que junto ao manual do equipamento ou peça auxílio ao professor. Retire a cu- beta do compartimento, descarte a água, adicione 1/3 do volume da cubeta com a solução de azul de bromotimol preparada anteriormente, e descarte logo após. Acrescente novamente 1/3 do volume descartando logo em seguida. Repita este procedimento no mínimo 3 vezes, para garantir uma ambientalização da cubeta com a solução a ser analisada. Este procedimento deve ser repetido sempre e em qualquer situação que exija a substituição da solução contida na cubeta. Após a ambientalização, preencha 90 % do volume da cubeta com a solução, enxugue, acondicione no suporte dentro do compartimento de leitura e efetue a obtenção do espectro da solução. c) Se o espectrofotômetro permitir operar apenas em comprimento de onda fi xo, faça a zeragem do equipamento (100% de transmitância e absorbância zero) em 595 nm. Peça auxílio para identifi car o procedimento para o mod- elo de equipamento que estará usando. Substitua a solução em branco pela solução de azul de bromotimol e efetue a leitura da Absorbância variando manualmente o comprimento de onda de 595 a 635 nm a cada 5 unidades de comprimento de onda. d) Registre o espectro obtido ou os valores das absorbâncias, dependendo do modo em que operou, e identifi que em qualquer um dos casos, em qual comprimento de onda se obtem a maior absorbância, conhecido como o λmáx. do analito. e) Repita os itens de 1 a 4 substituindo a solução de hidróxido de sódio por ácido clorídrico, e no caso do instrumento de comprimento de onda fi xo, efetue leituras de 415 a 445 nm com intervalos de 5 unidades de compri- mento de onda. CONCLUSÃO Nesta aula foram apresentadas as características básicas para reconhecer um espectrofotômetro e sua aplicação na análise qualitativa de uma solução de azul de bromotimol. RESUMO A obtenção do espectro de absorção de uma solução contendo o analito na região do UV–Vis tem grande aplicação na identifi cação de uma espécie em solução. Sem o conhecimento prévio da espécie a ser analisada, e consequentemente sem o controle das concentrações, a técnica pode ser inicialmente empregada na determinação de parâmetros relacionados ao analito, como o λmáx. Através das bandas de absorção é possível identifi car a espécie e o λmáx. poderá ser empregado em uma posterior análise quantitativa. 159 Prática 02 – Espectrofotometria de absorção molecula... Aula12 ATIVIDADES Uma solução contendo um analito desconhecido foi submetido a análise por varredura pela técnica de espectrofotometria UV–Vis. O espectro resultante está apresentado abaixo. Com base no espectro obtido indique qual o λmáx. para a região do ultravioleta e para a região do visível. Qual a absorbância para as duas situações para a concentração em que o analito se encontra? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES Como sabemos a região do UV abrange o comprimento de onda de 380 a 180 nm e a região do visível de 780 a 380 nm. Logo, com base no espectro obtido podemos determinar os λmáx., que é a região do espectro onde se observa a maior absorbância, como mostrado abaixo. Na região do ultravioleta o λmáx. = 280 nm com uma absorbância de ~ 0,58. Para a região do visível oλmáx. = 570 nm com uma absorbância de ~ 0,82. 160 Métodos Instrumentais de Análise AUTO-AVALIAÇÃO - Consigo reconhecer um espectrofotômetro de absorção no UV–VIS? - Consigo reconhecer os acessórios relacionados a instrumentação analítica estudada? - Sou capaz de operar um espectrofotômetro? - Sou capaz de interpretar os resultados obtidos em análises empregando o espectrofotômetro? - Sinto-me capaz de preparar o relatório da prática, segundo as instruções da aula Prática 01? PRÓXIMA AULA Na próxima aula, Aula Prática 03, iremos aplicar a Lei de Beer na de- terminação da concentração de uma solução de permanganato de potássio e avaliar os possíveis desvios que a Lei de Beer pode sofrer. REFERÊNCIAS HARRIS, D. C. Análise Química Quantitativa. 7ª ed. Tradução de Bor- dinhão, J. [et al.]. Rio de Janeiro: LTC, 2008. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Aula 13 Elisangela de Andrade Passos PRÁTICA 03 – ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORÇÃO MOLECULAR NO UV–VIS: LEI DE BEER META Habilitar o aluno na utilização da espectrofotômetria em determinações quantitativas; redigir o relatório prático. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: utilizar a espectrofotometria de absorção no UV–VIS para determinações quantitativas; interpretar os resultados obtidos em análises empregando o espectrofotômetro; preparar o relatório da prática, segundo as instruções da aula Prática 01. PRÉ-REQUISITOS Conhecer o conteúdo abordado nas Aulas 02 e 12; estar no laboratório de química instrumental; estar vestindo todos os EPIs (Equipamento de Proteção Individual) necessários. 162 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na última aula foram abordados os conceitos básicos e introdutórios referentes a atividades envolvendo a espectrofotometria. Ao longo desta aula aplicaremos os conceitos da Aula 12: Prática 02, na determinação da concentração de uma solução de permanganato de potássio e as infl uências que a Lei de Beer pode sofrer e quais suas consequências. FUNDAMENTOS TEÓRICOS Como discutido na Aula 02 e realizado na Aula 12: Prática 02, a espec- trofotometria pode ser aplicada na quantifi cação de um analito em solução, determinando sua concentração. Para isto pode-se partir da construção de uma curva de calibração, utilizando-se um padrão primário do analito, ou através da Lei de Beer (A = ε b C), desde que se conheça o caminho óptico e a absortividade molar da espécie, num determinado comprimento de onda. O permanganato de potássio é um sal, oxidante forte, e em solução aquosa apresenta uma coloração intermediária entre roxo a violeta. Seu λmáx. = 525 nm e sua ε = 2,24 x 103 L mol-1 cm-1 para este comprimento de onda. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE UMA SOLUÇÃO DE KMNO4: Proceda com as verifi cações e procedimentos operacionais conforme trabalhados na Aula 12: Prática 02. Para iniciarmos a análise para determinação da concentração de uma solução de permanganato de potássio, siga os itens abaixo: a) Regule o espectrofotômetro para leituras da absorbância conforme o λmáx. para o KMnO4; b) Certifi que-se qual o caminho óptico da cubeta; c) Utilize água destilada como branco e efetue a zeragem do espectrômetro conforme discutido na aula anterior; d) Em um balão volumétrico de 50 mL, acrescente ~ 25 mL de água destilada, junte 1 mL de uma solução de permanganato de potássio de concentração desconhecida e afi ra com água destilada até o menisco dando origem a solução 1; e) Transfi ra a solução para a cubeta, e efetue a leitura da absorbância no comprimento de onda específi co; Se a absorbância exceder 2,000, dilua novamente a solução 1, tranferindo 1 mL da solução para um balão de 50 mL e aferindo novamente com água destilada, originando a solução 2; 163 Prática 03 – Espectrofotometria de absorção molecular... Aula13 f) A partir da absorbância, caminho óptico e absortividade molar, determine a concentração da solução inicial. AVALIAÇÃO DOS DESVIOS DA LEI DE BEER a) A partir da soluçãodiluída de permanganato de potássio prepare 5 soluções de diferentes concentrações. Com o auxílio de uma bureta, trans- fi ra 12,5 mL da solução 1 para um balão volumétrico de 25 mL e afi ra com água destilada; repita este procedimento para os volumes 6,0; 3,0 e 1,5 mL. Calcule a concentração das soluções resultantes com base na concentração da solução determinada anteriormente. b) Efetue a leitura da absorbância de todas as soluções; c) Construa um gráfi co (curva de calibração) entre a Absorbância x Con- centração Molar; d) Através da regressão linear determine a equação da reta e avalie a lin- earidade através do coefi ciente de correlação (r); e) Repita os passos de a a d, acrescentando 5 mL de solução 10 % de NaCl junto as alíquotas da solução 1, antes da aferição; f) Discuta a infl uência da presença de um eletrólito forte na solução. CONCLUSÃO Nesta aula foi trabalhada a aplicação da espectrofotometria na determi- nação da concentração de um analito em solução aplicando-se a Lei de Beer. Também foi avaliado o desvio que a Lei de Beer pode sofrer pela pre- sença de um eletrólito forte na solução de análise. RESUMO A concentração de um analito em solução pode ser determinada através da Lei de Beer. Para isto é necessário conhecer o caminho óptico e a absortividade molar do analito em um determinado comprimento de onda (λmáx.). Conhecendo-se o analito e a concentração de diversas soluções padrões, pode-se construir uma curva de calibração através de um gráfi co entre a Absorbância x Concentração Molar, a qual poderá ser usada também na determinação da concentração do analito em uma solução problema. 164 Métodos Instrumentais de Análise ATIVIDADES 0,570 g de uma amostra de aço foi dissolvida em ácido. O manganês presente foi oxidado para permanganato, MnO4- (MM = 118,936 g mol -1), usando persulfato de potássio e a solução toda aferida para 100 mL. Uma quantidade da solução foi colocada em uma cubeta com 1 cm de caminho óptico e a transmitância (%T) foi de 30 % a 525 nm. Conhecendo a ab- sortividade molar do permanganato neste comprimento de onda (2,24 x 103 L mol-1 cm-1), determine o percentual em massa do manganês (Mn, MM = 54,938 g mol-1) na amostra de aço. COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES Como conhecemos a relação entre T e A, podemos determinar a absorbância assim: Sendo: %T = T x 100 30 = T x 100 T = 0,300 Então: A = - log T A = - log 0,300 = 0,523 Como temos a absorbância, o caminho óptico e a absortividade molar, é possível calcular a concentração molar C da solução resultante através da Lei de Beer: A = ε b C 0,523 = (2,24 x 103 L mol-1 cm-1) (1 cm) C C = 2,33 x 10-4 mol L-1 A concentração molar encontrada nos indica quantos moles de MnO4- foram formados pela reação do Mn2+ com persulfato de potássio. Se C = 2,33 x 10-4 mol L-1, então em 100 mL de solução que foram preparadas temos 2,33 x 10-5 moles de MnO4-, que são proporcionais ao mesmo número de moles de Mn2+ presentes na amostra. Logo através da massa molar (MM) do Mn podemos encontrar a massa de manganês na amostra: 54,938 g => 1 mol X g => 2,33 x 10-5 mol X = 0,0013 g de Mn 165 Prática 03 – Espectrofotometria de absorção molecular... Aula13 Como temos a massa da amostra inicial, é possível determinar a relação percentual massa/massa: 0,570 g => 100% 0,0013g => Y% Y = 0,23% (m/m) de Mn na amostra AUTO-AVALIAÇÃO - Sou capaz de utilizar a espectrofotometria de absorção no UV–VIS para determinações quantitativas? - Consigo interpretar os resultados obtidos em análises empregando o espectrofotômetro? - Sinto-me capaz de preparar o relatório da prática, segundo as instruções da aula Prática 01? PRÓXIMA AULA Na próxima aula, Aula Prática 04, serão trabalhados os conceitos e técnicas de potenciometria. REFERÊNCIAS HARRIS, D. C. Análise Química Quantitativa. 7 ed. Tradução de Bor- dinhão, J. [et al.]. Rio de Janeiro: LTC, 2008. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Aula 14 Elisangela de Andrade Passos PRÁTICA 04 - TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA DE UMA SOLUÇÃO DE ÁCIDO CLORÍDRICO COM HIDRÓXIDO DE SÓDIO META Determinar a concentração de uma solução de ácido clorídrico por potenciometria; Redigir o relatório prático OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: entender o processo de titulação potenciométrica ácido-base; determinar a concentração do hidróxido utilizando uma técnica eletroanalítica; preparar o relatório da prática, segundo as instruções da aula Prática 01. PRÉ-REQUISITOS Saber os fundamentos da titulometria potenciométrica (conteúdo abordado na Aula 07); estar no laboratório de química instrumental; estar vestindo todos os EPIs (Equipamento de Proteção Individual) necessários. 168 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na última aula foram realizados experimentos relacionados à espec- trofometria de absorção molecular no UV-VIS. Ao longo desta aula realizaremos uma prática relacionada à titulação potenciométrica, na qual utilizaremos uma base forte, hidróxido de sódio, como titulante na determinação da concentração de ácido clorídrico. FUNDAMENTOS TEÓRICOS As titulações potenciométricas são aplicáveis em vários tipos de rea- ções, estas devem ser estequiométricas, rápidas e completas no ponto de equivalência. Sendo assim são largamente aplicadas e podem se basear em vários tipos de reação: neutralização ácido-base, precipitação, oxidação- redução e complexação. As titulações de neutralização podem ser empregados eletrodos in- dicador de pH e o eletrodo de calomelano. Este é, em geral, o eletrodo de referência tanto para titulações de ácidos como base com a vantagem frente às clássicas de aplicação em amostras coloridas e turvas. A exatidão com que o ponto fi nal pode ser localizado potenciometricamente depende da grandeza da variação da força eletrotriz nas vizinhanças do ponto de equivalência, e esta variação dependem da concentração e da força do analito (ácido ou base). Em todos os casos os resultados são satisfatórios exceto: os que se obtêm com um ácido, ou com uma base muito fracos (K<10-8) e com soluções muito diluídas e os que se obtém com o ácido e a base, ambos fracos. Neste último caso, pode-se conseguir uma exatidão da ordem 1 % com soluções 0,1 mol L-1. Ainda podem ser empregados para determinação da constante de dissociação de ácidos. O gráfi co obtido consiste na plotagem do pH verso Vtitulante. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE ÁCIDO CLORÍDRICO PELO MÉTODO POTENCIOMÉTRICO: A determinação da concentração do ácido clorídrico é feita seguindo o procedimento: a) Utilizar um eletrodo de vidro para medida do pH; b) Transferir 10,0 mL da solução de HCl para um béquer, se necessário completar o volume com água destilada até permitir mergulhar o eletrodo. Agite para homogeneizar a solução; 169 Prática 04 - Titulação potenciométrica de uma solução de ácido... Aula14 c) Titule com NaOH 0,1 mol L-1, adicionando incrementos de 0,5 mL através de uma bureta, até um volume de 20 mL. Anote os valores do potencial após cada adição. Repita duas vezes; d) Calcular concentração do ácido; e) Traçar a curva de titulação. CONCLUSÃO Nesta aula foram apresentadas aplicações práticas das titulações poten- ciométricas de neutralização com ácidos e bases fortes. A determinação do ponto fi nal pode ser feita usando o método geométrico e analítico. RESUMO As titulações potenciométricas ácido-base podem ser empregadas na determinação quantitativa de ácidos ou bases. O ponto fi nal pode ser de- terminado pelo método da bissetriz, o método da primeira e da segunda derivada e o método de Gran. Todas as determinações são efetuadas em triplicata para o cálculodas variáveis estatísticas. ATIVIDADES As titulações potenciométricas podem ser executadas manual ou au- tomaticamente, com ou sem registro da curva. Quais a vantagens frente à volumetria de neutralização? COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES As titulações potenciométricas apresentam uma série de vantagens sobre a técnica convencional. Dentre elas temos: a maior sensibilidade; como se quer a variação de potencial, e não sua medida absoluta, o potencial de junção e o coefi ciente de atividade não causam problema nesse tipo de análise; pode ser empregada para soluções coloridas ou turvas; pode ser aplicada para certas reações que não disponham de indicadores visuais adequados; podem-se determinar sucessivamente vários componentes; pode ser aplicada em meio não aquoso, e, pode ser adaptada a instrumentos automáticos. 170 Métodos Instrumentais de Análise AUTO-AVALIAÇÃO - Entendo o processo de titulação potenciométrica ácido-base? - Consigo determinar a concentração do hidróxido utilizando duas técnicas eletroanalíticas? - Sinto-me capaz de preparar o relatório da prática, segundo as instruções da aula Prática 01? PRÓXIMA AULA Na próxima aula, Aula Prática 05, iremos determinar o fator de retenção (Rf) de componentes presentes na tinta de caneta. REFERÊNCIAS HARRIS, D. C. Análise Química Quantitativa. 7 ed. Tradução de Bor- dinhão, J. [et al.]. Rio de Janeiro: LTC, 2008. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007. Aula 15 Elisangela de Andrade Passos PRÁTICA 05 - CROMATOGRAFIA META Estudar o princípio básico da cromatografi a; redigir o relatório prático. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: entender o processo de separação cromatográfi ca; entender o processo de adsorção; preparar o relatório da prática segundo as instruções da aula prática 01. PRÉ-REQUISITOS Saber os fundamentos da cromatografi a; estar no laboratório de química instrumental; estar vestindo todos os EPIs (Equipamento de Proteção Individual) necessários. 172 Métodos Instrumentais de Análise INTRODUÇÃO Na última aula foi realizada uma prática relacionada às técnicas eletrona- liticas, na qual utilizamos uma base forte, hidróxido de sódio, como titulante na determinação da concentração de ácido clorídrico por potenciometria. Seguindo nosso programa de ensino, veremos nessa aula uma maneira simples e barata de entender o processo cromatográfi co. Estudaremos a cromatografi a em papel. Nesse tipo de cromatografi a, os componentes constituintes das amostras serão separados de acordo com o equilíbrio de adsorção dos analitos entre a fase estacionária (papel) e a fase móvel. Desta forma, em uma prática simples iremos separar os constituintes das tintas de canetas hidrocor. O mesmo princípio poderá ser utilizado para a sepa- ração de outras misturas, bastando lembrar que a efi ciência da separação irá depender do equilíbrio que acontece com o analito entre a fase móvel e a fase estacionária. FUNDAMENTOS TEÓRICOS Dentre as técnicas modernas de análise, a cromatografi a ocupa lugar de destaque pois ela sozinha ou associada a outros instrumentos permite que sejam separadas, identifi cas e quantifi cadas diferentes espécies químicas presentes em uma mistura. O surgimento da cromatografi a remonta séculos, porém, foi somente no ano de 1906 que um botânico russo chamado de Michael Tswett desenvolve um estudo mais sistemático da separação de substâncias presentes em uma mistura através da passagem de uma amostra, com o auxílio de uma fase móvel, por uma coluna contendo uma fase esta- cionária. Dos diferentes tipos de cromatografi a que vimos anteriormente (Aula 08), uma certamente podemos dar destaque devido sua simplicidade e efi ciência: A cromatografi a em papel. Esta técnica, como o próprio nome diz, utiliza papel como fase estacionária. Esta, quando recebe a amostra a ser separada, é levada para um recipiente que contém uma fase móvel, que, por capilaridade, irá ascender no papel, separando a mistura estudada. Com o auxílio de padrões, a identidade de cada componente da amostra pode ser defi nida. E mais, com um simples cálculo, podemos obter o fator de retenção (Rf) para um determinado analito, como segue: 173 Prática 05 - Cromatografi a Aula15 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL a) Recorte uma pedaço de papel fi ltro com 10 cm de comprimento e 5 cm de largura. b) Com o auxílio de uma régua, faça uma linha reta com um lápis a exata- mente 1,5 cm em cada uma das extremidades do papel, marcando 3 pontos equidistantes em uma delas. c) Faça pequenos pontos com cada uma das canetas escolhidas por sua equipe d) Coloque o papel em um béquer contendo uma solução 1:1:1 de etanol:1- butanol:amônia 2mol L-1 e) Cubra o béquer com um vidro de relógio f) Aguarde até o solvente atingir a linha superior traçada com um lápis anteriormente. Quando isto acontecer, remova o papel do béquer. g) Aguarde o papel secar h) Após seco, faça um círculo em cada mancha observada e calcule os Rf. i) Repita o procedimento acima descrito utilizando outro conjunto de canetas. Cálculo do fator de retenção Rf. Fonte: Paloshi, R.; Zeni, M.; Riveros, R. (1998) Cromatografi a em giz no ensino de química: didática e economia, Química Nova na Escola, v.7, pag. 35-36 CONCLUSÃO Nesta aula foram apresentadas aplicações práticas da cromatografi a através da separação dos componentes presentes na tinta de canetas. En- tendemos como calcular o fator de retenção e como este está relacionado a identidade de um analito. 174 Métodos Instrumentais de Análise RESUMO A cromatografi a tem evoluído muito deste o seu surgimento em 1906, quando um botânico russo, Michael Tswett, pela primeira vez utilizou este termo para descrever a separação de componentes coloridos de uma mistura. Sabendo que a cromatografi a baseia-se no princípio de equilíbrio de uma determinada substância entre uma fase móvel e outra estacionária, podemos dividi-la em diversas formas. Uma das técnicas cromatográfi cas bastante difundidas é a cromatografi a em papel. Sua simplicidade e facili- dade de execução tornam-a uma excelente ferramenta para o entendimento das separações cromatográfi cas. Ela tem por princípio o equilíbrio de um analito que acontece entre a fase estacionária (papel) e a fase móvel (solvente). Baseado nas distâncias percorridas pelo solvente e pelo analito obtém-se o fator de retenção (Rf) que pode ser associado à identidade do analito em questão. ATIVIDADES Considerando que em uma análise utilizando cromatografi a em papel foi observado que a distância percorrida pelo solvente foi de 8 cm e que os componentes A e B de uma amostra percorreram 5 e 7 cm, respectivamente, calcule o Rf para os compostos A e B. COMENTARIO SOBRE AS ATIVIDADES Como sabemos os valores que as substâncias A e B percorreram, assim como sabemos a distância percorrida pelo solvente, podemos prontamente calcular Rf para os compostos aplicando diretamente a equação, assim Para composto A Para o composto B 175 Prática 05 - Cromatografi a Aula15 AUTO-AVALIAÇÃO - Consigo entender o processo de separação cromatográfi ca? - Entendo o processo de adsorção? - Sou capaz de preparar o relatório da prática, segundo as instruções da aula prática 01? REFERÊNCIAS PALOSHI, R.; ZENI, M.; RIVEROS, R. Cromatografi a em giz no en- sino de química: didática e economia, Química Nova na Escola, v.7, 1998. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fun- damentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson; São Paulo, 2007.