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Pós-Graduação Online 
 
Apresentação do conteúdo 
• O dano é o segundo pressuposto da responsabilidade civil e 
pode ser conceituado como sendo a “subtração ou diminuição de um 
bem jurídico, qualquer que seja a sua natureza, quer se trate de um 
bem patrimonial, quer se trate de um bem integrante da própria 
personalidade da vítima” (CAVALIERI FILHO, 2007). 
 A palavra dano deriva da palavra demere, cujo significado é tirar, 
apoucar, diminuir. Assim, quando se fala na existência de um dano 
indica que ocorreu uma modificação do estado de bem-estar do 
indivíduo, com diminuição ou perda de seus bens patrimoniais e 
extrapatrimoniais (CONTI, 2012). 
 Em razão de sua importância, entende-se que o dano é o 
elemento nuclear da responsabilidade civil, eis que sem o dano, por 
mais grave ou reprovável que seja a conduta, não existe prejuízo 
indenizável (KFOURI NETO, 2007). 
Com tranquilidade se pode asseverar que pode haver 
responsabilidade civil sem culpa (no caso de responsabilidade civil 
objetiva), mas não pode se conceber a existência de responsabilidade 
civil sem que haja dano. 
 
AULA 
08 
Danos indenizáveis 
Responsabilidade civil 
médica e odontológica 
 
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A Constituição Federal estabelece em seu art. 5º, incisos V e X 
que: 
Art. 5º [...] 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além 
da indenização por dano material, moral ou à imagem; [...] 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem 
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material 
ou moral decorrente de sua violação; 
A observância destes dois incisos do art. 5º da Constituição 
Federal permite afirmar que a Carta Magna estabeleceu de forma 
expressa a possibilidade de indenização por danos materiais e morais. 
O dano pode ser, então, de ordem patrimonial, também 
conhecido como dano material, ou de ordem moral. 
Os danos materiais se dividem em danos emergentes e lucros 
cessantes, conforme preconiza o art. 402, do Código Civil: 
Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as 
perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele 
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. 
 O que o credor efetivamente perdeu ou gastou corresponde aos 
danos emergentes, ao passo que os lucros cessantes correspondem 
àquilo que o credor razoavelmente deixou de lucrar. 
 Nas palavras de Cavalieri Filho (2007), os danos emergentes 
seriam os danos positivos (o que efetivamente se perdeu) e os lucros 
cessantes seriam os danos negativos (o que razoavelmente se deixou 
de lucrar). 
 Os danos emergentes, por sua vez, se subdividem em danos 
emergentes passados (aquilo que já foi gasto) e danos emergentes 
futuros (aquilo que será necessário gastar). 
 Os lucros cessantes também se subdividem em lucros 
cessantes em sentido estrito e pensão mensal. Os lucros cessantes em 
sentido estrito serão devidos nos casos em que o paciente retornou ao 
exercício da atividade laborativa, ou seja, a indenização a título de 
 
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lucros cessantes em sentido estrito considerará o período de 
inatividade do paciente, até o momento em que ele se recuperou e 
voltou a exercer o seu trabalho. Já a pensão mensal é devida pelo 
médico/cirurgião-dentista causador do dano quando o paciente, vítima 
do erro profissional, não puder retornar ao trabalho, seja porque ficou 
inabilitado para o exercício daquela atividade profissional, seja porque 
o erro médico/odontológico causou o seu óbito. 
 Se o paciente ficou inabilitado para o trabalho que 
desempenhava, o causador deste dano material deverá indenizar o 
paciente em montante equivalente a 100% do que ele recebia 
mensalmente. Esta indenização pode ser cumulada com outras 
indenizações da mesma natureza e com eventuais benefícios/auxílios 
governamentais. 
 Quando ocorrer a inabilitação para a atividade que 
desempenhava, o paciente poderá exigir que a indenização seja 
arbitrada e paga de uma só vez (art. 950, parágrafo único, do Código 
Civil). 
 Se o paciente faleceu, em decorrência de um erro 
médico/odontológico, poderá ser devido o pagamento de pensão 
mensal às pessoas que dependiam economicamente do paciente 
falecido. Entretanto, nesta hipótese, considerando que houve o 
falecimento e o entendimento jurisprudencial predominante, tem-se 
que a indenização a título de pensão mensal corresponde ao 
pagamento de montante equivalente a 2/3 do que o paciente recebia, 
posto que 1/3 do que era ganho pelo paciente, ele gastava consigo 
mesmo. 
 Nos casos de pensão por morte não se aplica o disposto no art. 
950, parágrafo único do Código Civil. 
Os danos morais, por sua vez, atingem os atributos da 
personalidade, caracterizados por uma ofensa aos bens e valores de 
ordem interna e anímica (STOCO, 2014). 
O dano moral, nos dizeres de Tartuce (2019), pode ser 
classificado como dano moral em sentido próprio (aquilo que a pessoa 
 
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sente, causando-lhe dor, tristeza, vexame, humilhação, angústia, 
depressão, etc.) e dano moral em sentido impróprio (ofensa aos direitos 
extrínsecos da personalidade, como o bom nome). Também pode ser 
dividido de acordo com a necessidade ou não de prova de sua 
ocorrência, sendo que a regra é o dano moral provado, o qual cabe ao 
autor da ação judicial provar que sofreu o dano alegado, mas também 
há o dano moral presumido (in re ipsa), que é aquele que não necessita 
de prova, como nos casos de morte de pessoa da família. Ainda, o dano 
moral pode ser direto ou indireto. O dano moral direto é aquele que 
atinge a própria pessoa, a sua honra subjetiva (autoestima) ou objetiva 
(repercussão social da honra). O dano moral indireto (ou em ricochete) 
é aquele que atinge a pessoa de forma reflexa, como nos casos de 
sofrimento do familiar pela dor do paciente (o dano moral direto seria 
do paciente; o indireto dos familiares). 
 Tavares da Silva (2007) defende que tanto as pessoas naturais 
como as empresas (pessoas jurídicas) podem sofrer danos morais que 
violam os aspectos extrínsecos da personalidade. Entretanto, somente 
as pessoas naturais podem ser vítimas de danos morais que violam os 
aspectos intrínsecos da personalidade. 
 Este também é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, 
contido na Súmula 227: 
Súmula 227 – A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. 
 Além dos danos material e moral, reconhece-se uma terceira 
espécie autônoma de dano indenizável: o dano estético. 
 Por dano estético pode se entender “qualquer modificação 
duradoura ou permanente na aparência externa de uma pessoa, 
modificação esta que lhe acarreta um ‘enfeamento’ que lhe causa 
humilhações e desgostos” (LOPEZ, 2004). 
Embora no conceito de dano estético apresentado haja a 
necessidade de “enfeamento”, o dano estético independe da beleza da 
pessoa. O que se analisa no dano estético sob a égide de “enfeamento” 
é o prejuízo à aparência da pessoa, causada pelo desequilíbrio de sua 
integridade corpórea, permanente ou duradoura, entre o passado e o 
 
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presente. Modificação permanente é a alteração irreparável. Diz-se 
duradoura a modificação de difícil reparação (TAVARES DA SILVA, 
2007). 
 De acordo com o entendimento reiterado do Superior Tribunal 
de Justiça, são cumuláveis os danos materiais, morais e estéticos, nos 
termos das Súmulas 37 e 387: 
Súmula 37 – São cumuláveis as indenizações por dano material e 
dano moral oriundos do mesmo fato. 
Súmula 387 – É lícita a cumulação das indenizações de dano estético 
e dano moral. 
 O rol de danos acima elencados (material, moral e estético) não 
é taxativo, permitindo que todos os danos sofridos por uma pessoa 
sejam objeto de indenização por aquele que deu causa ao dano, haja 
vista o Código Civil ter estabelecido, em seu art. 944, caput, o princípio 
da reparação integral dodano, impondo que a indenização deve ser 
medida pela extensão dos prejuízos sofridos pelo lesado. 
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. 
 Em razão disso se admitem alguns outros danos, podendo ser 
citados, apenas a título de exemplo, os danos morais coletivos, os 
danos sociais, os danos por perda de uma chance, os danos pela perda 
do tempo útil (“desvio produtivo do consumidor”), danos biológicos e os 
danos existenciais. 
 
 
Objetivos 
• Quando fazemos referência aos danos indenizáveis, pode ser 
destacada a nomenclatura utilizada para o recebimento destes danos, 
da seguinte forma: 
Ressarcimento: é o pagamento de todo prejuízo material sofrido, 
abrangendo o dano emergente e os lucros cessantes, o principal e os 
acréscimos que lhe adviriam com o tempo e com o emprego da coisa. 
 
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Reparação: é a compensação pelo dano moral/estético, a fim de 
minorar a dor sofrida pela vítima. 
Indenização: é reservada para a compensação do dano 
decorrente de ato lícito do Estado, lesivo ao particular, como ocorre nas 
desapropriações e nas requisições administrativas de bens e serviços. 
 Apesar da distinção acima feita, a expressão mais utilizada, 
inclusive pelo legislador, para todo e qualquer dano é indenização. 
Estaria incorreto se requerer o ressarcimento dos danos 
morais/estéticos (eis que não há a possibilidade de se devolver o status 
quo ante ao paciente), mas não há problemas em se dizer indenização 
por danos morais/estéticos e materiais. 
 No intuito de tentar permitir uma melhor compreensão quanto à 
diferença entre os danos material, moral e estético, segue abaixo 
apontamentos quanto à ação que gera os referidos danos e a 
consequente lesão causada em cada um deles: 
- Dano Material 
Ação: Ofensa aos direitos do complexo patrimonial da pessoa 
Lesão: Prejuízo econômico, calculável de forma aritmética 
- Dano Moral 
Ação: Ofensa aos direitos da personalidade, à integridade física, à 
imagem e à honra 
Lesão: Abalo nos aspectos intrínsecos ou extrínsecos da 
personalidade 
- Dano Estético 
Ação: Ofensa aos direitos da personalidade, à integridade física, à 
imagem e à honra 
Lesão: Modificação prejudicial, permanente ou duradoura, na 
aparência 
Note que a diferença entre a ação nos danos materiais e nos danos 
extrapatrimoniais. Considerando apenas os danos extrapatrimoniais, a 
ação é a mesma, porém a lesão ensejador do dano moral é diversa 
 
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daquela que fundamenta o dano estético, tornando possível, como já 
visto, a cumulação dos danos material, moral e estético. 
 Por fim, necessário se faz tecer algumas linhas sobre o termo 
inicial de juros moratórios e de correção monetária. 
 Mais uma vez a distinção entre responsabilidade civil contratual 
e extracontratual será útil e necessária, haja vista haver diferenças 
entre elas quanto o estabelecimento do marco inicial de juros do valor 
da condenação. 
 Na responsabilidade civil extracontratual, os juros moratórios, 
seja quanto aos danos materiais, seja em relação aos danos 
extrapatrimoniais, incidem desde o evento danoso (art. 398 do Código 
Civil e Súmula 54 do Superior Tribunal de Justiça): 
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e 
danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais 
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. 
SÚMULA 54 – Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, 
em caso de responsabilidade civil extracontratual. 
Na responsabilidade civil contratual, os juros moratórios, seja 
quanto aos danos materiais, seja em relação aos danos 
extrapatrimoniais, incidem desde a citação do requerido na ação de 
indenização 
 A correção monetária dos danos materiais, seja na 
responsabilidade civil contratual, seja na responsabilidade civil 
extracontratual, começam a fluir a partir do efetivo prejuízo (Súmula 43 
do Superior Tribunal de Justiça): 
 SÚMULA 43 - Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a 
partir da data do efetivo prejuízo. 
 A correção monetária dos danos extrapatrimoniais, seja na 
responsabilidade civil contratual, seja na responsabilidade civil 
extracontratual, começam a fluir a partir do efetivo prejuízo (Súmula 
362 do Superior Tribunal de Justiça): 
 
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SÚMULA 362 - A correção monetária do valor da indenização do dano 
moral incide desde a data do arbitramento. 
 Por fim, importante mencionar que a condenação ao pagamento 
de indenização a título de pensão mensal vitalícia leva em 
consideração para fixação do termo final a expectativa de vida do 
brasileiro, nos termos da Tábua Completa de Mortalidade para o Brasil 
do IBGE (e não a expectativa de vida ao nascer). 
 Dominar estes e outros elementos próprios dos danos 
indenizáveis pode significar, na prática, uma condenação em valor 
maior ou menor daquela que realmente seria devida, caso fossem 
seguidos os parâmetros legais, doutrinários e jurisprudenciais. 
 
 
Amplie o seu conhecimento 
1. TJSP – Apelação nº 1022799-31.2018.8.26.0053 
Relator(a): Paulo Barcellos Gatti 
Órgão julgador: 4ª Câmara de Direito Público 
Data do julgamento: 31/08/2020 
Ementa: APELAÇÃO – RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO – 
ERRO MÉDICO – CIRURGIA DE COLECISTECTOMIA 
VIDEOLAPAROSCÓPICA PARA RETIRADA DE PEDRA NA 
VESÍCULA BILIAR – INTESTINO PERFURADO E INFECCÇÃO 
GENERALIZADA – NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE NOVA 
CIRURGIA – AMPUTAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES – DANOS 
MORAIS, ESTÉTICOS, MATERIAIS E PENSÃO VITALÍCIA – 
Pretensão inicial do autor voltada à condenação da ré ao 
pagamento de indenização pelos danos morais, estéticos e 
materiais que alega ter suportado, além de pensão vitalícia, em 
decorrência de erro médico perpetrado por funcionários de 
hospital público municipal, que teriam perfurado o intestino do 
postulante durante cirurgia e, consequentemente, teve a 
 
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necessidade de outras intervenções cirúrgicas, inclusive em razão 
de infecção generalizada que, ao final, culminou com a amputação 
dos seus membros inferiores – sentença de primeiro grau que 
concluiu que os danos descritos na inicial não podem ser 
imputados à imperícia médica, mas sim fatalidade que decorre das 
próprias limitações dos procedimentos médicos, de modo que 
julgou improcedente o feito – irresignação do autor – análise da 
responsabilidade civil que deve se dar sob a ótica objetiva 
(Fazenda Municipal) pelos atos de seus agentes (art. 37, §6º, da 
CF/88) – acervo fático-probatório coligido aos autos que se mostra 
suficiente para evidenciar os elementos constitutivos da 
responsabilidade civil do Estado em decorrência de negligência 
de seus servidores no tratamento do paciente – documentos e 
laudo técnico que comprovam a postura negligente e imperita dos 
funcionários da Municipalidade – precedentes do TJ/SP – 
sentença de primeiro grau reformada para fins de julgar 
procedente a demanda. Recurso do autor provido. 
Trechos do acórdão: 
Ato seguinte, insta analisar o pedido de pensão mensal vitalícia. 
Note-se, pois, que a pensão alimentícia é admissível mesmo em caso 
de parcial perda da capacidade laborativa, bastando apenas prova da 
redução da aptidão para o trabalho. 
Em notas explicativas do referido artigo, ressaltando a diferença de 
natureza jurídica da pretendida pensão mensal (de caráter 
indenizatório) com o benefício previdenciário possivelmente auferido, 
e, citando precedentes do STJ, aponta o i. doutrinador Theotonio 
Negrão: 
“Art. 950: 1c. 'Diversamente do benefício previdenciário, a indenização 
de cunho civil tem por objetivo não apenas o ressarcimento de ordem 
econômica, mas, igualmente, o de compensar a vítima pela lesão 
causada pelo ato ilícito do empregador, que reduziu a sua capacidade 
laboral em caráter definitivo, inclusive pelo natural obstáculo de ensejar 
a busca por melhores condiçõese remuneração na mesma empresa 
ou no mercado de trabalho. Destarte, ainda que o empregado passe a 
 
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exercer funções melhor remuneradas, o desempenho do trabalho com 
maior sacrifício em face das sequelas permanentes há de ser 
compensado pelo pagamento de uma pensão indenizatória total' (STJ 
4.ª T., Resp 579.888, Min. Aldir Passarinho Jr., j.6.8.09, DJ 21.9.09).” 
(...) “Art. 950: 3. Para o dimensionamento da pensão, 'o que vale para 
a fixação do percentual, em princípio, é a incapacidade para o trabalho 
que exercia no momento do ato lesivo, pouco relevando que haja 
incapacidade apenas parcial para outras atividades, salvo a 
comprovação de que o ofendido efetivamente exerce outro emprego 
remunerado. A mera possibilidade de fazê-lo está fora da presunção 
legal' (STJ-RT 837/160: 3.ª T., REsp 569.351). No caso, tendo o laudo 
atestado incapacidade total para a atividade anteriormente exercida e 
estando a pessoa desempregada, o STJ fixou a pensão em valor 
equivalente a cem por cento do que ela recebia em seu trabalho, pouco 
importando a constatação pelo perito de incapacidade simplesmente 
parcial para o desenvolvimento de atividades laborativas em geral.” 
(NEGRÃO, Theotônio. Código Civil, 29. ed., São Paulo: Saraiva, 2010, 
p. 298.) 
Anota-se, aliás, que a jurisprudência do C. STJ é tranquila no sentido 
de que não se compensa o benefício previdenciário recebido pela 
vítima (no caso, por invalidez) com o pensionamento, ante a diferença 
entre as causas de concessão de cada uma das pensões (REsp 
1.537.273/SP, Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, DJe 
14/09/2015; AgRg no AREsp 25.260/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, 
TERCEIRA TURMA, DJe 29/06/2012). 
Com efeito, a indenização de cunho civil não visa somente ressarcir a 
vítima economicamente, mas também de compensá-la pela lesão física 
causada pelo ato ilícito do agente estatal diante da diminuição da sua 
capacidade laborativa de forma definitiva, bem como pelo fato de que 
qualquer outra atividade laboral demandará maior sacrifício em razão 
das sequelas permanentes. 
Portanto, não obstante o fato de o autor perceber aposentadoria por 
invalidez do INSS (fls. 237/271), é cabível o pagamento de pensão 
mensal, nos termos do art. 950 do Código Civil. 
 
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2. AgInt no AREsp 1713056 / SP 
Relator(a): Ministro RAUL ARAÚJO 
Órgão Julgador: T4 - QUARTA TURMA 
Data do Julgamento: 26/10/2020 
Ementa 
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 
DECISÃO DA PRESIDÊNCIA. RECONSIDERAÇÃO. AÇÃO DE 
INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. PENSÃO MENSAL AO 
CÔNJUGE SOBREVIVENTE. DOIS TERÇOS DA REMUNERAÇÃO 
DO DE CUJUS. EXPECTATIVA DE VIDA VERIFICADA NA DATA DO 
ÓBITO. CONSONÂNCIA DO ACÓRDÃO RECORRIDO COM O 
ENTENDIMENTO DO STJ. AGRAVO INTERNO PROVIDO PARA 
CONHECER DO AGRAVO E NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO 
ESPECIAL. 
1. Agravo interno contra decisão da Presidência que não 
conheceu do agravo em recurso especial, em razão da falta de 
impugnação específica de fundamento decisório. 
Reconsideração. 
2. Não configura ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015 o fato de o 
Tribunal de origem, embora sem examinar individualmente cada 
um dos argumentos suscitados pelo recorrente, adotar 
fundamentação contrária à pretensão da parte, suficiente para 
decidir integralmente a controvérsia. 
3. O pensionamento por morte de familiar deve limitar-se a 2/3 
(dois terços) dos rendimentos auferidos pela falecida vítima, 
presumindo-se que 1/3 (um terço) desses rendimentos eram 
destinados ao seu próprio sustento. Precedentes. 
4. Segundo o entendimento desta Corte, a obrigação de 
pagamento de pensão mensal por morte de cônjuge, resultante da 
prática de ato ilícito, tem como termo final a data em que a vítima 
do evento danoso atingiria idade correspondente à expectativa 
 
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média de vida do brasileiro prevista no momento de seu óbito, 
segundo a tabela do IBGE, ou até o falecimento do beneficiário, se 
tal fato vier a ocorrer primeiro. Precedentes. 
5. Agravo interno provido para conhecer do agravo e negar 
provimento ao recurso especial. 
Trechos do acórdão: 
A magistrada fixou a idade limite como sendo 75,8 anos de idade da 
vítima, com base em informações obtidas por ela quando da prolação 
da r. sentença (fls. 365), acolhendo em parte o pedido da autora. 
A ré juntou aos autos a Tábua completa de mortalidade para o Brasil 
elaborada pelo IBGE (fls. 376/400). Em seu recurso, de forma 
equivocada, faz menção a dado estatístico que diz respeito à 
expectativa de vida ao nascer, calculado nos anos 60, quando então 
esse valor chegava a 52,5 anos de idade. Porém, em 2016, essa 
expectativa já era bem superior, atingindo 75,8 anos, como 
demonstrado às fls. 383, exatamente o valor adotado pelo MM. Juízo. 
A seu turno, a autora busca em seu recurso a adoção de parâmetro 
superior ao da própria petição inicial, fazendo menção à idade de 80,3 
anos mencionada às fls. 384 do documento da ré. Entretanto, inviável 
a pretensão de se alterar o pedido em sede recursal, razão pela qual 
sua insurgência também não comporta acolhimento nesse ponto, pois 
descabida a pretendida alteração para além dos 77,4 anos pedidos. 
Entretanto, com base no pedido inicial e na própria Tabela na qual se 
baseou a magistrada, esclarecendo-se que expectativa de vida ao 
nascer não se confunde com expectativa de vida de quem já está vivo, 
de rigor o provimento parcial ao recurso da autora para, com base no 
limite por ela mesma imposto na petição inicial, aumentar o limite da 
incidência da pensão para os 77,4 anos de idade da vítima, inviável a 
adoção do índice de 80,3 demonstrado às fls. 384, sob pena de se 
caracterizar julgamento ultra petita. 
 
3. REsp 1230007 / MG 
 
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Relator(a): Ministro CASTRO MEIRA 
Órgão Julgador: T2 - SEGUNDA TURMA 
Data do Julgamento: 17/02/2011 
Ementa 
RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE EM SERVIÇO. 
FALECIMENTO. DANO MORAL. MAJORAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 
DANO MATERIAL. INDENIZAÇÃO. PAGAMENTO DE UMA SÓ VEZ. 
INVIABILIDADE. 
1. Trata-se de ação de indenização por danos morais e materiais 
em virtude de falecimento da filha dos autores em acidente em 
serviço (técnica de enfermagem que acompanhava, em 
ambulância do município, a transferência de pessoa para hospital 
em outra localidade, mas no trajeto sofreu acidente fatal). 
2. A instância de origem fixou o valor dos danos morais em R$ 
75.000,00, para ambos, em janeiro de 2009, o que correspondia à 
época a pouco mais de 180 salários mínimos, valor razoável, de 
acordo com a jurisprudência. Precedentes: REsp 963.353/PR, Rel. 
Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 27/08/2009 e REsp 
1109674/RN, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 
20/09/2010). 
3. O pagamento de uma só vez da pensão mensal prevista no 
artigo 950, parágrafo único, do Código Civil somente pode ocorrer 
nos casos de redução da capacidade laboral expressamente 
prevista no caput do dispositivo. Precedentes. 
4. Recurso especial não provido. 
Trechos do acórdão: 
Trata dos casos de responsabilidade civil em que os danos atingem a 
capacidade laboral do indivíduo e, somente nestes casos, o Código 
possibilita ao sujeito a faculdade de substituir a pensão mensal por 
indenização imediata. 
 
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Com o advento do Novo Código Civil, o legislador foi expresso em 
admitir a substituição do regime de pensão pelo da indenização 
imediata e única dos danos materiais, apenas nos casos de 
responsabilidade civil derivada da incapacitação da vítima para o 
trabalho. É o que deflui da leitura do art. 950, parágrafo único, do 
referido diploma. 
Observa-se que a permissão acerca da possibilidade de pagamento 
imediato e único da indenização por danos materiais foi colocado como 
parágrafo do art. 950 do CC/2002, o que, por imperativos de 
hermenêutica, impõe a conclusãode que a liberalidade se restringe aos 
casos de responsabilidade civil em decorrência de inabilitação da 
vítima para o trabalho. 
Com efeito, a responsabilidade civil derivada da morte da vítima foi 
tratada no art. 948 do CC/2002, desacompanhada da aludida 
autorização para a troca da pensão pelo recebimento imediato e único 
da reparação dos danos materiais. 
Cumpre, ainda, analisar se seria ou não cabível a extensão do preceito 
do parágrafo único do art. 950 às situações do art. 948 do CC/2002, à 
luz da consideração de que, havendo a mesma razão fundamental, 
prevalecerá a mesma regra de Direito (ubi eadem ratio, ibi eadem 
dispositio). 
Também sob essa perspectiva, afigura-se inviável o afastamento do 
regime da pensão em favor do adimplemento imediato e único da 
indenização por danos materiais, quando se cuidar de responsabilidade 
decorrente da morte da vítima. 
É que a situação abarcada pelo art. 950 do CC/2002 se distingüe, na 
essência, da contemplada pelo art. 948 do CC/2002. 
Naquela, a vítima - que é a própria beneficiária da indenização por 
danos materiais - sofreu uma inabilitação total ou parcial para o trabalho 
ou ofício que até então exercia. 
Cuida-se, aí, de um indivíduo que, até a data do sinistro, labutava pela 
própria subsistência e era dotado de experiências no mercado 
profissional. Com o infortúnio, a sua capacidade laboral foi reduzida ou 
 
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anulada para o trabalho que exercia, sem que, necessariamente, tenha 
ocorrido a sua inabilitação para o exercício de outra profissão ou 
atividade. 
Destarte, a faculdade deferida no parágrafo único do art. 950 do 
CC/2002, consistente na possibilidade de preferir-se o pagamento 
imediato e único da indenização à pensão mensal, revela-se como uma 
conveniente oportunidade de o indivíduo lesado prosseguir na sua 
independência financeiro-profissional, socorrendo-se do montante 
recebido como o capital necessário para o início de uma outra atividade 
compatível com a sua incapacidade física. 
A vítima, na moldura normativa do art. 950 do CC/2002, não é, 
necessariamente, um hipossuficiente ou um inexperiente para o 
mercado comercial e profissional. É, por isso, que a mens legis foi no 
sentido de outorgar-lhe o direito de renunciar a pensão mensal por uma 
indenização imediata e única, cujo valor será arbitrado pelo juiz. 
Diversa foi a vontade da lei para o caso de responsabilidade civil por 
morte (art. 948 do CC), porquanto, nessa hipótese, o beneficiário da 
pensão é, obrigatoriamente, um indivíduo que dependia 
financeiramente da vítima. Pressupõe-se que o pensionista é pessoa 
inapta ou inexperiente para o trabalho, de maneira que o falecimento 
da vítima ter-lhe-ia podado a garantia futura de subsistência. 
Aqui, impõe-se que, do ponto de vista material, o causador do dano 
restitua integralmente o status dos dependentes do de cujus, provendo-
lhes os valores mensais necessários à sua subsistência, com os 
reajustes imprescindíveis à conservação do que o Ministro Oscar 
Corrêa chamava de "realidade da prestação" (RE 105151/MA, 1ª 
Turma, Rel. Min. Oscar Corrêa, DJ 07.06.1985). 
Não há, portanto, identidade da razão fundamental dos arts. 948 e 950 
do CC/2002, pelo que se tem por justificada a distinção desejada pela 
mens legis. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
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reimpr. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método; 2019. 
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responsabilidade civil na área da saúde. São Paulo: Saraiva; 2007 
(Série GVlaw).

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