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Historia em movimento Vol 1-32

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216 Unidade 5 Soberania e Estado nacional
Eis um grande afresco, pintado pelo renascentista Benozzo Gozzoli (1420-1497). Chama-se O cortejo 
dos reis magos. Foi executado em 1459 em uma das paredes da capela que o banqueiro Cosimo de Medici 
mandou construir em seu palácio, em Florença [afresco é um tipo de pintura aplicada sobre a argamassa 
ainda fresca de uma parede].
O florentino Cosimo de Medici era figura extremamente influente: emprestava dinheiro a reis e ao 
papa. Embora não ocupasse cargo público, certas decisões políticas só eram tomadas com seu aval. Além 
Olho vivo Os Medici e sua representação
Cosimo de Medici traja roupa 
de cores discretas, sinalizando 
sua discrição na vida pessoal.
Filho de Cosimo. Alguns 
especialistas afirmam ser o caçula 
Giovanni (1421-1463); para outros, 
trata-se de Carlo (c. 1428-1492), 
filho de Cosimo com uma escrava.
 Sigismondo Malatesta, lorde de Rimini.
Piero de Medici (1416-1469), 
filho mais velho de Cosimo, 
herdeiro político do pai.
Gorro típico dos comerciantes florentinos.
Autorretrato de Benozzo Gozzoli. 
O nome do pintor está escrito no gorro.
Segundo certos especialistas, os dois rapazes 
seriam Lorenzo di Medici e seu irmão 
Giuliano (1453-1478). Outros estudiosos 
indicam Lorenzo retratado como o rei Gaspar.
Representantes do Império Bizantino. Sua 
inclusão remete a fato ocorrido em 1439, 
quando Cosimo realizou um concílio em 
Florença entre membros das Igrejas católica e 
ortodoxa visando uni-los contra os turcos.
Servo de Cosimo. Usa roupas nas cores 
do brasão da família Medici. O uso do 
arco sugere que ele seria responsável pela 
proteção dos Medici.
Por estar a pé, trajar roupas com poucos 
ornamentos e ter na camisa divisas dos 
Medici acredita-se que este homem seria um 
servo da família.
Galeazzo Maria Sforza (1444-1476), 
filho do duque de Milão, famoso 
como patrono da música.
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217A revolução cultural do Renascimento Capítulo 26
Arreios ostentam os brasões da 
família Medici. 
Construção parecida com um dos palácios 
dos Medici. A imagem faria também 
alusão a Jerusalém, por onde os reis Magos 
teriam passado antes de chegar a Belém.
As caçadas eram uma típica 
diversão da elite da época.
A coroa do rei Gaspar, representado com 
o rosto do neto de Cosimo, sugere que os 
Medici teriam uma posição semelhante a 
uma dinastia real em Florença.
Gaspar, um dos reis Magos. Segundo a 
tradição, a representação de Gaspar foi 
inspirada no filho de Piero, Lorenzo di 
Medici (1449-1492). Alguns estudiosos 
contestam, alegando que na época 
Lorenzo tinha apenas 10 anos.
A roupa clara é uma 
alusão à virtude da fé.
O tamanho dos animais não aparece na 
proporção adequada, o que demonstra 
uma certa imperfeição no domínio da 
técnica da perspectiva.
Fontes: <www.uwo.ca/sogs/WJGR/2005/WJGR2005_
v12_p63_Morhart.pdf>; Web Gallery of Art, disponível em: 
<www.wga.hu/tours/gozzoli/index.html>. 
Acesso em: 25 out. 2012.
Benozzo Gozzoli/Album/Latinstock
de patrocinar as artes, Cosimo organizava desfiles festivos pelas ruas de Florença. Um desses desfiles, 
representado no afresco, ocorria em 6 de janeiro, dia no qual os cristãos homenageiam os reis Magos. 
A imagem deve ser entendida como uma alegoria de caráter religioso e político e não como uma re-
presentação exata da realidade. Do ponto de vista religioso, procura mostrar os Medici como servos fiéis 
de Deus. Politicamente, busca realçar a grandeza dos Medici, comparando-os à realeza. Como veremos, a 
pintura faz também referências a certas passagens da vida do banqueiro, e muitas das pessoas do cortejo 
eram personalidades que tinham alguma relação com os Medici.
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218 Unidade 5 Soberania e Estado nacional
Já na Inglaterra, o momento de maior 
esplendor das letras coincidiu com o reina-
do de Elizabeth I (1558-1603), quando o Es-
tado passou por forte centralização política e 
a economia experimentou importante desen-
volvimento (ver capítulo 30). Esse perío do foi 
também o de William Shakespeare * (1564- 
-1618), considerado 
por muitos o maior 
dramaturgo de to-
dos os tempos e au-
tor de peças co mo 
Hamlet, Romeu e 
Julieta*, A megera 
domada*, Macbeth 
e Rei Lear*.
* Veja os filmes 
Shakespeare 
apaixonado, de John 
Madden, 1998, Romeu 
e Julieta, de Franco 
Zeffirelli, 1968, A 
megera domada, de 
Franco Zeffirelli, 1967, 
e Rei Lear, de Laurence 
Olivier, 1984.
Os tipos móveis de impressão
Até meados do século XV, a reprodução de 
um livro dependia de pessoas que copiavam à 
mão o original. Além de lento, esse trabalho po-
dia incorrer em imprecisões, fazendo com que 
o mesmo texto variasse de um manuscrito para 
outro. Nessas circunstâncias, os tipos móveis de 
impressão de Johannes Gutenberg (c. 1397-1468) 
causaram na vida cultural europeia o impacto de 
uma revolução.
Vale lembrar que tipos móveis de impressão 
(feitos de argila cozida e depois de outros mate-
riais) já haviam sido inventados pelo artesão chi-
nês Bi Sheng entre 1041 e 1048 (reveja o capítulo 
17). No invento de Gutenberg, as letras do alfa-
beto eram feitas em pequenos blocos de chumbo 
– os tipos –, colocados um ao lado do outro para 
compor palavras e frases. Gutenberg imprimiu 
seu primeiro livro, uma edição da Bíblia em latim, 
por volta de 1450. As 180 cópias da primeira edi-
ção, impressas em três prensas, somavam 230 mil 
páginas ao todo e ficaram prontas em dois anos.
A nova invenção tornou possível a rápida difu-
são de livros e, consequentemente, dos ideais do 
Humanismo e do Renascimento.
Outro resultado do invento de Gutenberg fo-
ram as mudanças ocasionadas na técnica de pro-
dução de imagens. Com as novas formas de im-
pressão, as iluminuras desapareceram para dar 
lugar a uma nova manifestação de arte gráfica: a 
gravura.
Sua opinião
A invenção de Gutenberg permitiu a publicação 
de um grande volume de livros, ampliando a difu-
são do conhecimento. Entretanto, apenas um gru-
po reduzido de pessoas teve acesso efetivo a esse 
conhecimento, porque a maior parte da população 
da Europa era analfabeta.
Atualmente, a internet nos oferece informações 
e imagens do mundo inteiro em instantes. Mas nem 
toda a população mundial tem condições de aces-
sar a rede mundial de computadores. Em 2011, os 
que usavam efetivamente a internet chegavam a 
2,4 bilhões de pessoas, enquanto 4,7 bilhões não ti-
nham acesso a ela.
Em grupos, debatam as seguintes questões: A in-
ternet contribui efetivamente para democratizar as 
informações e o conhecimento? Qual é o impacto 
da exclusão digital na vida das pessoas? Escrevam 
um texto, na forma de carta dirigida ao governo 
brasileiro, procurando sensibilizá-lo para o proble-
ma, uma vez que no Brasil apenas um terço da po-
pulação tinha acesso à internet em 2011.
Azulejos na Praça da Espanha, em Sevilha, 
retratando Dom Quixote de La Mancha, de Miguel 
de Cervantes. Foto de maio de 2010. 
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219A revolução cultural do Renascimento Capítulo 26
As constelações indígenas
Na mesma época que Galileu Galilei observa-
va as estrelas com seu telescópio e a Igreja cató-
lica combatia a teoria heliocêntrica, do outro lado 
do Atlântico os Tupinambá também estavam de 
olho no céu, observando os astros e suas nebulo-
sas. Os Tupinambá eram um povo indígena, hoje 
extinto, que vivia no território que hoje faz parte 
do Brasil. Eles eram capazes de reconhecer mais 
de cem constelações diferentes (atualmente, a 
União Astronômica Internacional tem 88 conste-
lações catalogadas). 
Conheciam, por exemplo, a Via Láctea, que 
chamavam de Caminho da Anta, e tinham suas 
constelações próprias. A da Ema, por exemplo, 
era formada, entre outras, por estrelas das cons-
telações que conhecemos como Cruzeiro do Sul 
e Escorpião.
Eles usavam as constelações para se orientar 
sobre a mudança das estações.Quando a cons-
telação da Ema se tornava visível no céu, era 
sinal de que estava chegando o inverno. A do 
Homem Velho anunciava o início do verão; a do 
Veado, o princípio do outono; e a da Anta, o co-
meço da primavera. 
O sistema astronômico dos Tupinambá é se-
melhante aos utilizados atualmente pelos índios 
Guarani no sul do Brasil, e algumas dessas cons-
telações são as mesmas identificadas por outros 
povos indígenas da América do Sul e pelos abo-
rígines australianos.
Fonte: AFONSO, Germano Bruno. 
As constelações indígenas brasileiras. Disponível em: 
<www.telescopiosnaescola.pro.br/indigenas.pdf>. 
Acesso em: 25 out. 2012.
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Representação da constelação do veado, ilustrativa da 
visão indígena do Universo.
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1. O Humanismo foi um movimento de ideias nas-
cido das universidades laicas que se estabele-
ceram em diversas cidades da Europa. Quais 
eram seus fundamentos filosóficos e seus inte-
resses culturais?
2. Qual era a relação entre o Renascimento e o de-
senvolvimento econômico das cidades italianas?
3. O racionalismo negava que os livros sagrados 
fossem suficientes para responder a todas as dú-
vidas humanas. De que modo essa concepção 
contribuiu para o avanço do conhecimento nas 
diversas áreas do saber?
4. As transformações culturais e filosóficas pro-
vocaram mudanças no pensamento político. 
O florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) 
escreveu O príncipe, em 1513, sob influência 
dessa renovação cultural. Que ideias originais 
são apresentadas nesse livro a respeito do po-
der real?
5. A doutrina da Igreja católica afirmava que a Terra 
era o centro do Universo e o Sol e a Lua gravita-
vam em seu redor. Em oposição a essa doutrina, 
conhecida como geocentrismo, alguns pensado-
res europeus formularam o heliocentrismo, teo-
ria segundo a qual a Terra gira em torno do Sol. 
Descreva cronologicamente como se formou e 
se consolidou o heliocentrismo.
6. Defina em linhas gerais quais foram as bases da 
noção de “perspectiva” desenvolvida pelos artis-
tas do Renascimento.
7. Que interesse tinham os mecenas em patrocinar 
as artes durante o Renascimento?
Organizando as ideias
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220 Unidade 5 Soberania e Estado nacional
O texto a seguir faz parte da peça Auto da bar-
ca do inferno, publicada em 1517, em forma de cor-
del, pelo dramaturgo português Gil Vicente (1465?-
1537?). Na obra, um Anjo e o Diabo decidem qual 
será o futuro das almas que chegam até eles. O des-
tino delas – a vida eterna no paraíso ou no inferno 
– será avaliado pelos dois de acordo com as ações 
dessas pessoas em vida.
Ao mostrar o futuro das almas de juízes, clérigos, 
nobres, comerciantes, agiotas e outras personalida-
des, Gil Vicente compõe, de forma irônica, um pai-
nel da sociedade portuguesa do século XVI. A pas-
sagem a seguir mostra o diálogo entre o Diabo e 
um frade que morreu juntamente com sua amante. 
Leia e responda às perguntas.
Diabo: Que é isso, padre? Que vai lá?
Frade: Deo gratias!1 sou cortesão.
Diabo: Sabeis também o tordião2?
Frade: Por que não? Como ora sei!
 Diabo: Pois entrai! Eu tangerei3/e faremos um se-
rão4./Essa dama, é vossa?
 Frade: Por minha a tenho eu,/e sempre a tive de meu.
 Diabo: Fizestes bem, que é formosa!/e não vos 
punham lá grosa5/no vosso convento santo?
Frade: E eles fazem outro tanto!
 Diabo: Que coisa tão preciosa.../entrai, padre re-
verendo!
Frade: Para onde levais a gente?
 Diabo: Para aquele fogo ardente/que não temes-
tes vivendo.
VICENTE, Gil. Auto da barca do inferno. 
São Paulo: Klick Editora, [s.d.]. p. 25-27.
1. Aponte no texto aspectos que mostrem como os 
artistas daquele período utilizavam a literatura 
para fazer críticas à época em que viviam.
2. Um importante recurso utilizado por Gil Vicente 
no Auto da barca do inferno para criticar a socie-
dade de seu tempo foi a sátira e o humor. Reú-
na-se com seu grupo e, juntos, selecionem uma 
crônica ou uma charge publicada em revistas, jor-
nais, livros ou sites e façam uma análise do mate-
rial escolhido. Procurem observar de que manei-
ra as diferentes formas de humor são utilizadas 
pelos artistas como instrumento de crítica e de 
mudança social. Depois, apresentem o resultado 
dessa análise à classe.
No mundo das letras
Entre o céu e o inferno
Escultura que representa o dramaturgo português Gil 
Vicente, autor da peça Auto da barca do inferno. Essa 
escultura encontra-se na Biblioteca Nacional de Portugal, 
em Lisboa. A foto é de dezembro de 2006.
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Mundo virtual
 n Venice connected – Passeio virtual pela cidade de Veneza (site em italiano). 
Disponível em: <http://maps.veniceconnected.it/en>. Acesso em: 31 out. 2012.
Hora de reFletir
Cosimo de Medici financiou a criação do afresco 
que aparece na seção Olho vivo (p. 216-217) com a 
intenção de ligar seu nome a uma importante ativida-
de religiosa de Florença. Essa ligação valorizaria sua 
imagem pública, induzindo as pessoas a vê-lo como 
homem religioso. Dessa forma, ele reforçava e am-
pliava seu poder político e econômico. Em sua opi-
nião, atualmente os políticos e as pes soas públicas 
também se preocupam com sua própria imagem? 
Em caso positivo, como eles atuam para construir 
uma imagem junto à mídia e à sociedade? Escolha 
um exemplo para citar na sala de aula.
O que significa? 
1 Deo gratias: graças a Deus.
2 Tordião: dança popular.
3 Tangerei: tocarei.
4 Serão: festa.
5 Grosa: reprovação.
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221
Ano após ano, o número de seguidores do 
protestantismo vem aumentando no Brasil. Em 
1996, eles representavam 15% da população 
brasileira. Em 2010, já totalizavam 22%, ou seja, 
aproximadamente 42 milhões de fi éis.
Chamados genericamente de “crentes” ou 
“evangélicos”, os seguidores do protestantismo 
no Brasil dividem-se em três grandes correntes: 
protestantes históricos – formados de igrejas 
tradicionais, como a presbiteriana e a luterana; 
pentecostais – distribuídos por diversas igrejas, 
entre as quais a Assembleia de Deus e Deus é 
Amor; e neopentecostais – vertente surgida na 
década de 1970 e composta de igrejas como a 
Universal do Reino de Deus e a Sara Nossa Terra. 
Nas ruas do centro 
do Rio de Janeiro, 
fiéis participam 
da Marcha para 
Jesus, um dos 
maiores eventos 
evangélicos do 
Brasil. Foto de 
maio de 2012.
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A Reforma protestante
Capítulo 27
Objetivos do capítulo
 n Entender os processos e os acontecimentos 
relacionados à Reforma protestante.
 n Conhecer a reação da Igreja católica em relação 
à Reforma protestante.
 n Reconhecer, valorizar e respeitar a diversidade 
religiosa.
 n Compreender os interesses políticos e 
econômicos das religiões no período. 
O aumento do protestantismo no Brasil 
deve-se, principalmente, ao crescimento das 
igrejas pentecostais e neopentecostais observado 
nas últimas décadas.
Como veremos neste capítulo, o 
protestantismo surgiu na Europa no século XVI 
como resultado de uma grande ruptura no 
interior da Igreja católica denominada Reforma 
protestante.
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222 Unidade 5 Soberania e Estado nacional
nista, passaram a responsabilizar a Igreja e seus dog-
mas pela perpetuação da miséria e da ignorância na 
sociedade europeia.
Um desses pensadores foi o inglês John Wyclif 
(1324-1384). Sacerdote e professor da Universida-
de de Oxford, ele dedicou boa parte da vida à críti-
ca indignada da corrupção e da arrogância vigentes 
na hierarquia eclesiástica. A mesma atitude adotou 
John Huss (1371-1415), sacerdote e reitor da Uni-
versidade de Praga (hoje capital da República Tche-
ca). Além de pregar contra a corrupção do clero, 
Huss denunciava a venda de indulgências (veja o 
boxe A venda de indulgências, a seguir).Tanto ele 
quanto Wyclif foram acusados de heresia pela Igreja 
e condenados a morrer na fogueira.
Apesar da repressão da Igreja, o movimento con-
trário às práticas consideradas imorais cresceu de forma 
contínua. Assim, quando em 1517 no Sacro Império 
Romano-Germânico o monge Martinho Lutero (1483-
-1546) protestou contra o comportamento do alto 
clero e do papado, outras pessoas sentiram-se mo-
tivadas a fazer o mesmo. Esse movimento, que ficou 
conhecido como Reforma, tornou-se tão grande que 
provocou uma cisão na Igreja, como veremos a seguir.
As 95 teses de Lutero
Martinho Lutero* era um mon-
ge agostiniano que lecionava Teolo-
gia na Universidade de Wittenberg, 
na atual Alemanha. Em abril de 
1517, ele ouviu do frade Johann Tetzel, representante 
do papa Leão X na região, um discurso defendendo a 
venda de indulgências. Seria de Tetzel a frase: “Assim 
que a moeda no cofre cai, a alma do purgatório sai”.
Convencido de que tal prática não encontrava 
respaldo na Bíblia e que era apenas mais uma forma 
de a Igreja tirar proveito da credulidade das pessoas, 
Lutero protestou. Em uma carta dirigida a seu arce-
bispo, formulou 95 teses nas quais tecia profundas 
críticas à venda de indulgências e a outras práticas 
da Igreja.
Dadas a conhecer, as teses de Lutero logo ob-
tiveram o apoio de amplos setores da população do 
Sacro Império Romano-Germânico, entre os quais di-
versos príncipes e outros integrantes da nobreza, in-
teressados no enfraquecimento da Igreja – dona da 
maior parte das terras da região.
2
Críticas à Igreja
Como vimos no capítulo 23, durante a Idade 
Média a Igreja católica constituiu o principal centro 
de poder na Europa. Sua influência era tamanha 
que reis e senhores feudais recorriam a seu apoio 
para governar.
Tanto poder terreno distanciou a Igreja dos as-
suntos espirituais. Para muitos de seus integrantes, 
riqueza e prazeres físicos tornaram-se mais importan-
tes do que a fé. Essa inversão de valores pôs em xe-
que a credibilidade da instituição (veja crítica a essa 
situação na imagem abaixo).
Assim, por volta do século XIV, a Igreja católi-
ca viveu nova crise. Além das disputas políticas en-
volvendo o alto clero, voltaram a pesar sobre a ins-
tituição denúncias de corrupção e outras acusações 
de ordem moral. Nessas circunstâncias, alguns filó-
sofos cristãos, influenciados pelo pensamento huma-
1
Pintura a óleo sobre madeira de Hieronymus Bosch, intitulada 
A nave dos insensatos (1490-1500). A obra contém uma clara 
crítica à Igreja católica: na cena representada, enquanto uma 
freira e um frade cantam, outra religiosa (à esquerda) oferece 
bebida a um homem deitado. À direita, uma pessoa vomita.
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* Veja o filme 
Lutero, de Eric 
Till, 2003.
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