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1 CARDIOLOGIA / 8° PERÍODO/ 2023-3 ANA LUÍZA ALVES PAIVA INTRODUÇÃO Endocardite é uma infecção microbiana endotelial do coração, normalmente acometendo valvas cardíacas. Incidência de 3-10 casos em 100.000 habitantes por ano. Aumento das infecções relacionadas a próteses valvares, dispositivos intracardíacos, uso de drogas intravenosas, hemodiálise e acesso venoso central. Ascenção dos estafilococos como principal agente causador em substituição aos estreptococos. BRASIL: doença valvar reumática é o principal fator de risco → Streptococcus viridans (agente mais comum) ETIOLOGIA PRINCIPAIS AGENTES ETIOLÓGICOS 1 Grupo viridans (principal em EI de valva) 2 Estreptococos beta-hemolítico (relaciona-se à usuários de drogas IV e idosos) 3 Streptococcus gallolyticus (S. bovis) → associa-se à CA de colón 4 Streptococcus pneumoniae 5 S. aureus (EI de valva nativa e protética, aguda) 6 Estafilococus coagulase negativo: Staphylococcus epidermidis e Staphylococcus lugdunesis 7 Enterococos 8 Grupo HACEK 9 Bacilos Gram-negativos Aeróbicos 10 Fungos: gênero Cândida: Escherichia coli, espécies de Klebsiella, espécies de Enterobacter; espécies de Pseudomonas FISIOPATOLOGIA Condição predisponente → lesão endocárdica → exposição da matriz protéica tissular → inflamação: deposição de fibrinas e plaquetas → endocardite trombótica não bacteriana (ETNB) → colonização e bactérias → invasão tecidual e crescimento de vegetação. **É mais comum no lado ESQUERDO do coração (pressão das câmaras esquerdas > direitas) **Em usuário de drogas IV, o retorno venoso favorece a infecção do lado DIREITO. QUADRO CLÍNICO ▪ Variável (agente etiológico, cardiopatias prévias, próteses, dispositivos intracardíacos) ▪ Aguda rapidamente progressiva, subaguda e crônica SINAIS E SINTOMAS ▪ Febre ▪ Calafrios, anorexia e perda de peso ▪ Fenômenos embólicos ▪ Idosos e imunossuprimidos (apresentação atípica) **Paciente cardiopata com prótese e apresentando febre → pensar em endocardite!!! EXAME FISICO Sopro audível (mais de 80% EI lado esquerdo) Sopro novo Piora do sopro preexistente B3 nos casos de ICC Alterações neurológicas (aneurismas micóticos e embolia séptica) Desconforto abdominal Fenômenos vasculares (êmbolos arteriais, hemorragias intracranianas); lesões de Janeway. Fenômenos imunológicos (glomerulonefrite, nódulos de Osler, FR positivo, manchas de Roth) Endocardite Infecciosa ANA LUÍZA ALVES PAIVA / 8° PERÍODO / 2023-2 2 CARDIOLOGIA / 8° PERÍODO/ 2023-3 ANA LUÍZA ALVES PAIVA EXAMES COMPLEMENTARES LABORATORIAIS: anemia, leucitose, aumento de VHS e PCR, hipergamaglobulinemia, hipocomplementenemia, positividade do FR, hematúria microscópica, cilindros hemáticos, piúria, cilindros leucocitários HEMOCULTURAS: 2 amostras de agentes típicos e 3 de agentes raros (Deve ser coletada independente do tempo) DIAGNÓSTICO HISTOLÓGICO: exame patológico de tecido valvar ou fragmento embólico (PADRÃO OURO) ECOCARDIOGRAMA: avalia gravidade, risco de embolização, avalia complicações e indica procedimento cirúrgico ACHADOS (CRITÉRIOS MAIORES): Vegetações, abcessos ou pseudoaneurismas, deiscência da prótese valvar. (ETE + sensibilidade) PET/TC: bom p/ avaliar endocardite em pacientes com prótese valvar ou dispositivos intracardíacos (realizar após 3 meses da implantação da valva) TC CARDÍACA: lesão paravalvares (ex: abcessos) RX DE TÓRAX: ICT aumentado, congestão, condensação parenquimatosa, sinais de embolia séptica ECG: BAV, sinais de isquemia miocárdica → embolia coronariana CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS CRITÉRIOS DE DUKE MODIFICADOS 2023 DIAGNÓSTICO DEFINITIVO DE EI CRITÉRIOS PATOLÓGICOS Presença de microrganismos em culturas ou no exame histológico de uma vegetação, de uma vegetação que embolize ou em colheitas de um abcesso intracardíaco Lesões patológicas, vegetação ou abcesso intracardíaco confirmado através de exame histológico mostrando endocardite ativa CRITÉRIOS CLÍNICOS 2 critérios maiores OU 1 critério maior e 3 menores, OU 5 critérios menores DIAGNÓSTICO PROVÁVEL DE EI 1 critério maior e 1 critério menor OU 3 critérios menores EI DESCARTADA OU REJEITADA Diagnóstico diferencial alternativo consistente que explique os sinais/sintomas, OU Resolução das manifestações clínicas ocorridas apesar de terapia com antibiótico por ≤ 4 dias, OU Ausência de evidência patológica ou macroscópica de endocardite infecciosa em cirurgia, ou autópsia, com terapia antibiótica por menos de 4 dias. Não atende aos critérios para endocardite possível acima. CRITÉRIOS MAIORES 1 MICROBIOLÓGICOS ▪ 2 ou > hemoculturas + para microrganismos típicos de EI (estreptococos viridans, Staphylococcus aureus). ▪ 3 ou > hemoculturas + para germes atípicos, que raramente causam EI 2 TESTES LABORATORIAIS POSITIVOS PCR para Coxiella burnetii, Bartonella sp, ou Tropheryma whipplei; OU Ensaio de imunofluorescência indireta (IFA) para detecção de IgM e IgG de Bartonella. 3 CARDIOLOGIA / 8° PERÍODO/ 2023-3 ANA LUÍZA ALVES PAIVA 3 IMAGEM POSITIVA PARA EI ▪ ECO e/ou TC cardíaca mostrando vegetações, perfuração valvar, aneurisma valvar ou de folheto, abcesso, pseudoaneurisma ou fistula intracardíaca OU ▪ Nova regurgitação valvar significativa ao ecocardiograma comparada com exame prévio OU ▪ Nova deiscência parcial de valva protética (comparada com imagem anterior) OU ▪ 18 FDG PET/CT: atividade metabólica anormal envolvendo valva nativa ou protética, enxerto aórtico ascendente (com acometimento valvar associado), de cabos de devices intra-cardíacos ou outro material protético. 4 CRITÉRIO CIRÚRGICO Evidência de EI documentada à inspeção direta intraoperatória dispensam critérios de imagem ou microbiológicos Ex: vegetações, abcessos, destruição valvar, deiscência de valva protética. CRITÉRIOS MENORES 1 PREDISPOSIÇÃO História prévia de endocardite, intervenção valvar prévia, doença congênita, cardiopatia hipertrófica, TAVI, CDI. 2 FEBRE ≥38°C. 3 FENÔMENOS VASCULARES: Embolia arterial, aneurisma micótico, hemorragia conjuntival, lesões de Janeway, abcesso esplênico, abcesso cerebral 4 FENÔMENOS IMUNOLÓGICOS: glomerulonefrite, nódulos de Osler, FR positivo 5 FENÔMENOS MICROBIOLÓGICOS: Evidência microbiológica não satisfazendo critério maior 6 IMAGEM Alteração no [18F] FDG PET/CT com menos de 3 meses após o implante da prótese valvar, enxerto aórtico ascendente, eletrodos de dispositivo intracardíaco ou outro material protético. COMPLICAÇÕES CARDÍACAS IC: destruição valvar, congestão, EAP Extensão perivalvar: EI de prótese aórtica, abcessos, BAV, fistulas Fenômenos embólicos: vegetações > 10mm. SNC, baço, intestino, extremidades, artérias coronárias, pulmão Miocardite, arritmias ventriculares e falência miocárdica EXTRACARDÍACAS Sequela neurológica: 20-40%, alta mortalidade, AVC isquêmico e hemorrágico, aneurisma micótico, meningite, abcesso, encefalopatia, convulsões Insuficiência renal aguda Reumatológicas: artralgia, lombalgia, mialgia, artrite periférica, embolia esplênica, abcesso esplênico (raro) PARTICULARIDADES ENCOCARDITE DE CÂMARAS DIREITAS FATORES DE RISCO: uso de drogas IV, infecção pelo HIV e imunossupressão Pode ocorrer em paciente portadores de marcapasso ou CDI ou cateter venoso central, além de cardiopatias congênitas Tricúspide: sitio usual Staphylococcus aureus é o agente mais comum Comum ocorrer embolia séptica para pulmões ENDOCARDITE DE MARCA-PASSO OU CDI Aumento do número de casos Contaminação sistema pela flora local no implante Staphylococcus é o responsável na maioria dos casos Suspeitar se paciente portador de CDI ou MP e tiver febre Ecocardiograma transesofágico é mais sensível Tratamento: coleta de hemocultura,retirada do dispositivo intracardíaco TRATAMENTO Associação de ATBs é mais eficaz que monoterapia! Duração de tratamento: valva nativa = 2 a 6 semanas valva protética = mínimo de 6 semanas ESQUEMA EMPÍRICO DE ATBs EM CASO DE EI ANTIBIÓTICO Valva nativa ou ▪ Oxacilina 2g, IV de 4/4h E 4 CARDIOLOGIA / 8° PERÍODO/ 2023-3 ANA LUÍZA ALVES PAIVA prótese valvar implantada > 12 meses ▪ Ampicilina 2g, IV de 4/4h E ▪ Gentamicina 3mg/kg/dia IV 1x/dia Valva nativa ou prótese valvar implantada < 12 meses ▪ Vancomicina 30mg/kg/dia IV/dia 12/12h E ▪ Rifampicina 900-1200mg oral ou EV 8/8h E ▪ Gentamicina 3mg/kg/dia IV, 1x/dia EI VALVA NATIVA POR STREPTOCOCCUS VIRIDANS OU STREPTOCOCCUS BOVIS SUSCETÍVEIS À PENINCILINA ANTIBIÓTICO DOSE DURAÇÃO (SEMANAS) PENICILINA G 12-18 milhões U/24h (4-6 doses) 4 CEFTRIAXONA 2g/24h, IM ou IV (dose única) 4 PENINCILINA G OU CEFTRIAXONA + GENTAMICINA 12-18 milhões U/24h (4-6 doses) 2g/24h, IM ou IV + 3 mg/kg/24horas (1x/dia) 2 2 VANCOMICINA 30mg/kg/24h (2 doses) 4 EI POR ENTEROCOCCUS ANTIBIÓTICO DOSE DURAÇÃO (SEMANAS) AMPICILINA E GENTAMICINA 200 mg/kg/dia IV em 4-6 dose 3mg/kg/dia IV 1x/dia 4-6 4-6 AMPICILINA E CEFTRIAXONE 200mg/kg/dia IV em 4- 6 doses 2g EV IM de 12/12h 6 6 VANCOMICINA E GENTAMICINA 30mg/kg/dia (2 doses) 3mg/kg/dia IV 1x/dia 6 6 EI POR ESTAFILOCOCOS NA AUSÊNCIA DE MATERIAIS PROTÉTICOS ANTIBIÓTICO DOSE DURAÇÃO (SEMANAS) METICILINO-SENSÍVEL OXACILINA 12h/24h 4-6 doses 4-6 ALÉRGICOS À PENINCILINA OU METICILINO RESISTENTES VANCOMICINA 30mg/kg/dia IV em 02 doses 6 TERAPIA ALTERNATIVA DAPTOMICINA 10mg/kg/dia, 1x/dia 4-6 EI POR ESTAFILOCOCOS NA PRESENÇA DE MATERIAIS PROTÉTICOS ANTIBIÓTICO DOSE DURAÇÃO (SEMANAS) METICILINO-SENSÍVEL OXACILINA + RIFAMPICINA + GENTAMICINA 12g/24h, EV 900mg/24h/ (VO ou EV 3 doses) 3mg/kg/24h (0 a 2 doses) ≥6 ≥6 2 METICILINO RESISTENTE VANCOMICINA + RIFAMPICINA + GENTAMICINA 30mg/kg/24h, 2 doses 900mg/24h VO ou EV 3 doses 3mg/kg/24h 2-3 doses ≥6 ≥6 2 EI CAUSADA PELO GRUPO HACEK EM VÁLVULAS NATIVAS OU NÃO ANTIBIÓTICO DOSE DURAÇÃO (SEMANAS) CEFTRIAXONA 2g/24h (01 dose) 4 SE NÃO PRODUZ BETA-LACTAMASE AMPICILINA E GENTAMICINA 12g/24h, IV (4-6 doses) 3mg/kg/dia (2-3 doses) 4-6 CIPROFLOXACINA (alternativa menos válida) 1.000 mg/24h, VO (02 doses) ou 800 mg/24h, IV (2 doses) 4 EI EM MARCA PASSO E CDI ANTIBIÓTICO DURAÇÃO (SEMANAS) VANCOMICINA 4 DAPTOMICINA 4-6 TRATAMENTO CIRÚRGICO 40-50% dos casos INDICAÇÕES IC (disfunção grave de prótese ou valvar aórtica é mais comum) Infecção não controlada; extensão perivalvar (abcesso, fístula, grande vegetação, fungo, febre persistente, cultura persistente +) Prevenção de tromboembolismo (EI mitral, aórtica, valva ou prótese com vegetação >10mm após episódio embólico ou associada a grave estenose ou regurgitação) OBS: se febre persistente ▪ Antibioticoterapia inadequada ▪ Microrganismo resistente ▪ Infecção extracardíaca (abscesso esplênico ou intracardíaco) ✓ Repetir ecocardiograma ✓ Novas hemoculturas 5 CARDIOLOGIA / 8° PERÍODO/ 2023-3 ANA LUÍZA ALVES PAIVA ✓ Trocar acessos ✓ Exames de imagem em busca de outro sítio de infecção ABSCESSO PERIVALVAR (comum em valva aórtica e prótese aórtica) Local mais comum Junção mitro-aórtica → febre persistente ou novo BAV PROFILAXIA PROFILAXIA NÃO FARMACOLÓGICA DA EI RECOMENDAÇÃO GRAU DE RECOM. GRAU DE EVIDÊNCIA Reforço da necessidade de manter boa saúde bucal e hábitos de higiene durante consultas médicas I C Consultas odontológicas trimestrais I C Tatuagem II C Piercings em pele II C Piercings língua e mucosas II C INDICAÇÕES DE PROFILAXIAS PARA PROCEDIMENTOS COM ALTA PROBABLIDIDADE DE BACTEREMIA SIGNIFICATIVA Procedimentos que envolvem a manipulação do tecido gengival, região periodontal ou perfuração da mucosa oral PROFILAXIA ANTIBIÓTICA DE ENDOCARDITE EM VALVOPATIAS INDICAÇÃO RECOM. NÍVEL DE EVIDÊNCIA Pacientes com valvopatia moderada e importante, assim como portadores de prótese valvar e que serão submetidos a procedimentos odontológicos de alta probabilidade de bacteremia significativa I C Pacientes com risco elevado para endocardite infecciosa grave e que serão submetidos a procedimentos geniturinários ou gastrointestinais associados à lesão da mucosa IIa C Pacientes com risco elevado para endocardite infecciosa grave e que serão submetidos a procedimentos esofágicos ou do trato respiratório associado à lesão da mucosa IIa C Pacientes com PVM sem regurgitação, pacientes após cirurgia de revascularização miocárdica ou após colocação de stents, com sopros cardíacos inocentes, portadores de marcapasso ou desfibrilador, com doença de Kawasaki ou FR sem disfunção valvar, que serão submetidos a procedimentos odontológicos, do trato respiratório, III C geniturinário ou gastrointestinal Paciente submetido a procedimentos que não envolvam risco de bacteremia III C **RISCO ELEVADO PARA EI GRAVE: prótese valvar cardíaca, EI prévia, cardiopatia congênita não reparada ou corrigida parcialmente ou corrigida com material protético, transplantado cardíaco com valvopatia. ESQUEMA DE PROFILAXIA PARA EI ANTES DE PROCEDIMENTOS DENTÁRIOS VIA DE ADM. MEDICAÇÃO DOSE ÚNICA (1H ANTES DO PROCEDIMENTO) Oral Amoxicilina Criança: 50mg/kg Adulto: 2g Oral (alergia à penicilina) Clidamicina Criança: 20mg/kg Adulto: 600mg Azitromicina ou Daritromicina Criança: 15mg/kg Adulto: 500mg Parenteral (EV ou IM) Ampicilina Criança: 50mg/kg Adulto: 2g Cefazolina ou Ceftriaxone Criança: 50mg/kg Adulto: 1g Parenteral (EV ou IM) -alergia à penicilina Clidamicina Criança: 20mg/kg Adulto: 600mg
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