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HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO III O BARROCO E O ROCOCÓ NA ARQUITETURA, NO URBANISMO E NO PAISAGISMO Unidade 3 1. BARROCO: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS O estilo arquitetônico denominado barroco surgiu no século XVII, com um espírito de exuberância na arte e na arquitetura. A palavra “barroco”, grosso modo, significa deformado e esse nome só foi atrelado às obras posteriormente, durante o século XIX. Veremos aqui os principais arquitetos do período e suas imponentes criações, que são admiradas até os tempos atuais. 1.1 O barroco italiano A primeira obra considerada como participe do estilo barroco é a igreja San Carlo Alle Quattro Fontane, em Roma. Foi projetada por Francesco Borromini (1599-1667), um pedreiro independente que ganhou fama e acabou por cometer suicídio mais tarde. Ela foi construída entre 1634 e 1682. Seu exterior parece dessincronizado, com muitas curvas. A fachada principal em forma côncavo-convexa se ondula de maneira não clássica. Colunas altas de ordem coríntias estão apoiadas em plintos e sustentam os entablamentos principais. Estes elementos definem a estrutura básica da fachada, com dois andares divididos verticalmente em três seções. Entre as colunas principais, outras menores surgem com seus próprios entablamentos e emolduram nichos, janelas, uma variedade de esculturas, a porta principal, a edícula central ovalada do andar superior e o medalhão em moldura oval sustentado por anjos. O local onde fica a igreja era estreito e difícil de trabalhar. O interior da igreja e igualmente curvo, com muitos detalhes. A nave principal possui 16 colunas, organizadas em grupo de 4, que sustentam um largo e contínuo entablamento (conjunto de arquitrave, friso e cornija). O altar principal está alinhado a entrada e há mais dois altares nas laterais. Acima do entablamento, uma zona de transição com pendículos (elemento estrutural que dá suporte à base circular de uma cúpula sobre um espaço quadrangular ou poligonal, são segmentos triangulares curvilíneos formados dos intervalos entre os arcos) leva à cúpula em formato oval e com lanterna oval. O estilo teatral de Borromini se juntou ao do seu rival da época, Gian Lorenzo Bernini (1598- 1680), e implantaram o estilo barroco na igreja católica. Era a época da contrarreforma, onde a igreja católica tentava restaurar o domínio do catolicismo e freiar o avanço do protestantismo. Agora, as novas ideias eram difundidas com rapidez e não demorou a este estilo conquistar toda a Europa católica, e chegou até mesmo a Inglaterra protestante, onde desenvolveu um estilo muito próprio (GLANCEY, 2001). Bernini era escultor, escrevia óperas e peças e projetava cenários. Foi uma figura dominante na arte barroca romana. Produziu toda sua obra em Roma e em 1623 se tornou o protegido do papa Urbano VIII. Construiu o baldaquino (dossel) de bronze na Basílica de São Pedro em 1624. São suas também as obras arquitetônicas do Palazzo Montecitorio e o Palazzo Barberini. Sua obra prima mais conhecida é a estátua de Santa Tereza em êxtase (1645-1652) - esculpida no altar da Capella Cornaro, na igreja de Santa Maria dela Vittoria, em Roma. Outro espaço muito famoso e bastante teatral é de sua autoria, a praça de São Pedro, no Vaticano - onde colunatas dispostas em curva delineiam uma enorme praça que conduz à basílica. Petrossillo (2008, p. 210 apud RODRIGUES, 2012, p. 19) comenta sobre a grandiosidade da praça de São Pedro e descreve sua arquitetura: A imensa praça pode ser dividida em duas partes. A primeira é uma vasta elipse com 196 mestras de largura e 148 metros de comprimento realizada por Gian Lorenzo Bernini de 1656 a 1667 sob o pontificado de Alexandre VII Chigi. É formada por dois hemiciclos ligados por uma área central rectangular. Aquele grande génio do barroco encerrou a parte curvilínea da praça com uma imponente colunata da ordem dórica que confere à gigantesca arquitectura uma solene grandiosidade que predomina e comove. Sobre as intenções do projeto, uma delas seria formar uma espécie de abraço universal, acolhedor, enfatizando o valor e a grandiosidade da igreja de Roma: Este memorável espaço religioso é desde há mais de três séculos o prólogo da basílica e em várias ocasiões torna-se uma enorme igreja ao ar livre ou uma imensa sala de encontro entre novos romeiros e o sucessor de Pedro. A sensação de acolhimento numa casa comum é dada pelos dois grandes braços abertos que delimitam a imensa elipse. Com a sua colunata em semicírculo, Bernini conseguiu reproduzir o acolhedor gesto “braços maternos”, que lhe tinha sido encomendado. O códice Chigi, de 1600, trazia esta frase: “Sendo a Igreja de São Pedro, de certo modo, a matriz de todas as outras igrejas, tinha de dispor de um pórtico que lhe permitisse mostrar-se pronta a receber nos seus braços, maternalmente abertos, os católicos para os confirmar na fé, os hereges para reunir na Igreja e os infiéis para os iluminar na verdade fé”. (PETROSILLO, 2008, p. 210, apud RODRIGUES, 2012, p. 19-20) Projetou também a Scala Regia (1663-1666), no Vaticano, escadaria cerimonial entre a basílica de São Pedro e os aposentos papais. Foi projetada para o papa Alexandre VII e um exemplo das habilidades de criar cenários de Bernini: [...] as escadas parecem se estender quase ao infinito, mas isso porque o vão das paredes e os degraus estreitam-se à medida que ascendem; entretanto, por uma abertura a meio caminho raios solares incidem sore a escada em ângulos sempre mutáveis ao longo do dia. Bernini foi um mestre do barroco, mas nunca tão voluntarioso ou extraordinário quanto Borromini. (GLANCEY, 2001, p. 79-80) Em Veneza, sobre o grande canal, o barroco atingiu mais um pico de ambição e fantasia, com o arquiteto Baldassare Longhena (1598-1682), que projetou a igreja de abóbodas gêmeas Santa Maria della Salute, construída entre 1631 e 1681. A obra celebra o fim de uma epidemia que dizimou a população de Veneza em 1630 e trata-se de uma criação exuberante. A fachada principal possui uma grandiosa entrada com quatro grandes e altíssimas colunas coríntias. O acesso principal culmina em um saguão octogonal, com uma cúpula grandiosa e hemisférica, rodeada por seis capelas menores. Outro ator de experimentos barrocos engenhosos e extravagantes é o sacerdote teatino Guarino Guarini (1624-1683), que projetou a Capela do Santo Sudário, que fica dentro da Catedral de Turim (construída entre 1491 e 1498), entre 1667 e 1690, a qual pode ser descrita como: Dois longos lances de escada dão acesso à capela, um círculo encerrado em um quadrado. Ela contém o Santo Sudário, a imagem do corpo de um homem que se julga ser o de Cristo quando estava no sepulcro. Acima dela, ergue-se uma espécie de abóbada em degraus que é quase impossível recriar mentalmente peça por peça. Guarani foi um renomado matemático, além de filósofo e padre. (GLANCEY, 2001, p. 81) 1.2 O barroco fora da Itália: Alemanha, Áustria e Inglaterra As formas curvilíneas e ousadas do barroco conquistaram a Europa católica principalmente no sul da Alemanha e na Áustria. Na região da Bavária, estúdios de arquitetura se aliaram a artesões especializados. Foi o caso dos irmãos Asam, Cosmas Damian (1686-1739) e Egid Quirin (1692-1750), cuja a obra prima é a igreja de São João Nepomuceno, construída entre 1733 e 1746, no centro de Munique. O interior da igreja, conhecida como Asamkirche, é ricamente recoberto por ouro e prata. A fachada também é nobre e ousada. A obra é considerada uma união perfeita das artes, onde arquitetura, pintura e escultura trabalham juntas para criar um todo harmonioso. Ela foi construída para ser um templo privado dos irmãos (GLANCEY, 2001). Outros exemplares bávaros são a Igreja de peregrinação dos Vierzehnheiligen, do arquiteto Balthasar Neumann (1687-1753), construída entre 1743 e 1772, e o palácio de Zwinger em Desden, construídoa partir de 1709, que possui vários pavilhões fantasmagóricos projetados por Mathaes Daniel Pöppelmann (1662-1736) (GLANCEY, 2001). Na Áustria, os imponentes Mosteiro Beneditino em Melk, obra prima de Jakob Prandtauer (1660-1726), construído entre 1702 e 1714, e a igreja Karlskirche, em Viena, construída a partir de 1716, do arquiteto Johan Bernhard Fischer von Erlach (1656-1723), são exemplares magníficos de arquitetura barroca. O barroco inglês tornou-se bem diferente do que se praticava na Itália, Alemanha e Áustria. A diferença se dá essencialmente por ser um país protestante o barroco ser uma “arma papal”. Com o arquiteto Christopher Wren (1632-1723), desenvolveu-se, após a restauração da monarquia, em 1660, um barroco inglês discreto. Wren era matemático e astrônomo e projetou a Catedral de São Paulo, entre 1675 e 1710, em Londres. A sua cúpula é uma das mais elegantes existentes. Construída majoritariamente em pedra Portland branca. A planta inicial de Wren para a nova catedral era uma cruz grega coroada por uma cúpula octogonal. Contudo, o decano queria uma cruz latina, mais tradicional. Então, em 1673 foi produzida a nova planta com uma nave longa. A cúpula executada foi diferente da planta original. O peso da cúpula é sustentado por uma associação de arcos escorados em prateleiras e pelos cantos do cruzeiro central. Diferentemente dos outros países, na Inglaterra o barroco assumiu certa domesticidade, se estendendo para as habitações dos mais abastados, em palácios e casas de campo. Além de Wren, destacaram-se os arquitetos Nicholas Hawksmoor (1661-1736) e John Vanbrugh (1664- 1726). Wren soube traduzir bem o barroco tardio inglês em escala menor. Após o Grande Incêndio de 1666, numerosas igrejas foram reconstruídas em Londres, como St. Stephan Walbrook (1672- 87) e St. Mary Abchurch (1681-86). Outros exemplos da utilização deste estilo sem serem obras gigantescas, pode ser observado na casa Chettle, em Dorset, de Thomas Archer (1688-1743), construída entre 1710 e 1720. Ou na beleza do Hospital Real, de Wren, em Chelsea, construída entre 1682 e 1689. Ou ainda, na Igreja de St. Martin in the Fields, construída entre 1721 e 1726, do arquiteto escocês James Gibbs (1682-1754), a qual foi adotada e copiada nas colônias americanas, onde se podem encontrar várias réplicas suas. 2. ROCOCÓ A arquitetura renascentista começou como uma solução elegante, com Brunelleschi cobrindo a catedral de Florença com uma cúpula, um feito de engenharia mesclado com obra de arte. Passou pela perfeição matemática de Pallladio para a arquitetura decorativa e dramática do barroco. Já no século XVIII, se tornou um tanto desajeitada, com um floreio de decoração exuberante, de muito luxo e, por fim, entra em decadência com o neoclassicismo – estilo academicamente correto, um purismo que reinstaura as ordens clássicas romanas e gregas. O Rococó é visto como um florescimento do barroco tardio. O termo deriva de rocaille, a tendência francesa decorativa para mexilhões e conchas de gesso invertidas. O rococó foi o floreio final, uma arquitetura amplamente ornamentada com adornos em gesso e espelhos. O primeiro exemplo reconhecido deste estilo foi um quarto na corte de Luís XIV, na França, decorado com pássaros, macacos, fitas etc., do pintor Claude Andran no Château de La Menagerie, em 1690. Porém, o estilo só se firmou mesmo no século XVIII, nos salões, principalmente da realeza parisiense, com muitos espelhos e artes decorativa em gesso dourado em salas relativamente simples, já que a decoração fazia toda a diferença (GLANCEY, 2001). No entanto, não foi na França que esse estilo chegou ao seu auge, foi na região da Bavária na Alemanha. Espanha e Portugal também foram expoentes neste estilo exuberante. 2.1 O rococó na Alemanha François Cuvilliés (1695-1768) foi enviado pela corte à Paris para estudar arquitetura em 1720, e projetou um dos interiores mais leves e alegres de todos, o pavilhão Amalienburg, construído entre 1734 e 1739, no Schloss Nymphenburg, perto de Munique. Nele, janelas decoradas com conchas alteram-se com espelhos dourados. Acima, plantas douradas crescem através da linha da cornija, enquanto pássaros dourados se lançam delas para o céu arredondado nos tetos do pavilhão. Na França, o rococó foi considerado exagerado para decorar igrejas, porém os bávaros não tinham a mesma opinião, como podemos ver no interior da Igreja Abacial beneditina de Ottobeuren, com construção iniciada em 1737, projetada por Johan Fischer. O interior é ricamente ornamentado por afrescos ilusionistas nas abóbadas e contrasta com a simplicidade estrutural da construção. Outra obra se destacou no período, projeto de Dominikus Zimmermann (1685 e 1766), a Igreja de Wies ou de Wieskirche. Localizada no meio da floresta, a 5 quilômetros de Steingaden, foi construída entre 1745 e 1754 e é uma obra-prima do rococó bávaro. Seu interior também amplamente ornamentado lembra a de Fischer, com estuque dourado, esculturas em madeira e afrescos vivamente coloridos que se destacam nas paredes caiadas de branco. O espaço é abundante em luz, característica dos projetos deste arquiteto, que acaba por realçar os detalhes brilhantes. 2.2 O rococó na península Ibérica O Rococó encontrou um estilo próprio na Espanha e Portugal e se espalhou por suas colônias especialmente nas Américas. Na Espanha, ficou conhecido pelo nome de churrigueresco, por causa de uma família de arquitetos. Esta designação tem origem na família Churriguera, escultores de Salamanca, a quem se devem as principais contribuições para este estilo, notavelmente José Benito Churriguera, Manuel de Lara Churriguera e Nicolás Churriguera. Foi uma reação contra os rigores do reinado de Filipe II e atravessou três fases distintas entre 1680 e 1780. Um exemplo é o altar da Igreja de Santo Estêvão em Salamanca, de autoria dos irmãos Churriguera. Em Portugal, edifícios simples, igrejas e palácios já existentes, foram cobertos com decoração em estilo rococó após a chegada de navios cheio de ouro e diamantes da colônia brasileira. Um exemplo é o interior da igreja de São Francisco, na cidade do Porto, que possui mais de 200 quilogramas de ouro em seu interior ricamente esculpido no século XVIII. 3. A CRÍTICA AO BARROCO E ROCOCÓ A passagem da arquitetura renascentista para a barroca e, posteriormente, para o estilo rococó pode ser entendida como uma evolução, como um manifesto, ou ainda, como um simples experimento de mentes inquietas. Pode, também, ser fruto de financiamento por quem detém o dinheiro e vislumbra a necessidade de grandiosidade ou instiga em ser pioneiro de algo inovador. Vamos analisar as influências que permearam o pensamento desta época, que culminaram por marcar a arquitetura e o urbanismo. 3.1 Barroco e rococó na Igreja No século XVI, um movimento religioso chamado Reforma Protestante aconteceu na Europa, fomentado por motivos religiosos e políticos. O principal líder do movimento foi Martinho Lutero, um monge alemão, que fez várias críticas a igreja católica e ao Papa. Contudo, observamos que a muitas das grandes obras que analisamos do período são ligadas a Igreja Católica, que foi a grande financiadora do período na Europa, devido a um movimento chamado Contrarreforma, que surgiu do medo do avanço das ideias protestantes em seu território. Então, o Barroco foi a resposta artística da igreja, na chamada Contrarreforma. O Barroco passou a valorizar, através de suas plantas-arquitetônicas complexas e irregulares, e com nítido gosto pelas figuras ovais, muitos dos valores do Catolicismo romano que estavam sendo revistos pelos protestantes. No campo artístico, reiteraram a relevância e a sacralidade das imagens e dos santos, tomadas como meio de devoção nas pinturas e esculturas do barroco. Um elemento comum entre a arte e a arquitetura Barroca, foi o domínio da luz que erausado para efetuar fortes contrastes de luz e sombra, efeitos dramáticos, impactos emocionais e sensibilidade. O ponto de maior destaque do Barroco, ou da chamada “arquitetura da Contrarreforma”, culminou com a construção da Praça de São Pedro, no Vaticano, por Bernini: O ponto mais alto da arquitetura simbólica é a Igreja de São Pedro, em Roma: a dupla colunata da praça situada em frente representa os dois braços de Cristo, que dá as boas-vindas aos fiéis. A igreja em si é a cabeça de Cristo. A estrutura da igreja, vista da basílica, assemelha-se a uma chave gigantesca de S. Pedro. A praça oval foi projetada cerca de dez anos após Kepler ter descoberto a órbita elíptica dos planetas e possui um significado cósmico, acentuado pelos poços que ocupam os focos da elipse. O projeto todo é simbólico da validade do dogma. A Igreja de São Pedro, em Roma, como também a de Santa Maria della Salute, em Veneza, exibem um desdobramento teatral do poder e são símbolos do poder e do triunfo do papado. (LURKER, 2003, p. 74 apud RODRIGUES, 2012, p. 18) As ponderações da citação acima são sobre a simbologia contida na praça de São Pedro e como as transformações científicas da época influenciaram no projeto, aliados aos conceitos tradicionais católicos, como “cabeça de Cristo” e “chaves de São Pedro”. 3.2 Os excessos do rococó aristocrático Se o Barroco se esforçou em retratar o poder da Igreja Católica, o Rococó, além de destinar-se a este fim, passou também a ornar o interior de palácios. O estilo Rococó foi essencialmente um estilo de arte decorativa com ornamentos em curva, com desenhos de flores e conchas que nasceu em Paris, como uma reação da aristocracia francesa ao Barroco suntuoso, palaciano e solene, praticado no período de Luís XIV. • O Rococó logo se difundiu pela Europa, mas alterando significativamente seus propósitos e mantendo do modelo francês apenas a forma externa, com importantes centros de cultivo na Alemanha, Inglaterra, Áustria e Itália, com alguma representação, também, em outros locais, como a Península Ibérica, os países eslavos e nórdicos, chegando até mesmo às Américas. • Ele retratava principalmente a realeza, se destinava a aristocracia da época e esbanjava luxo com revestimentos em ouro e prata. • Visto por muitos como a variação “profana” do barroco, surge a partir do momento em que o Barroco se liberta da temática religiosa e começa a incidir-se na arquitetura de palácios civis. • Podemos também afirmar que o Rococó foi o Barroco levado ao exagero de decoração. A expressão “época das Luzes” é, talvez, a que mais frequentemente se associa ao século XVIII. • Século de paz relativa na Europa, marcado pela Revolução Americana em 1776 e pela Revolução Francesa somente em 1789. • Na ourivesaria, no mobiliário, na pintura ou na decoração dos interiores dos hotéis parisienses da aristocracia, encontram-se os elementos que caracterizam o Rococó: as linhas curvas, delicadas e fluídas, as cores suaves, o caráter lúdico e mundano dos retratos e das festas galantes, em que os pintores representaram os costumes e as atitudes de uma sociedade em busca da felicidade, da alegria de viver, dos prazeres sensuais. Observamos que Barroco e Rococó se destinavam a retratar o que “tinha de melhor”, como luxo e poder, seja de homem ou de Deus. Não eram estilos artísticos e arquitetônicos com crítica social, que retratavam as mazelas da sociedade e tampouco clamavam por justiça. A utilização da arte para este fim e de uma maneira mais racional, só será visto mais adiante, com a revolução industrial e a luta de classes. Ainda assim, não podemos deixar de admirar os grandes feitos da época, a evolução construtiva, científica, e as ideias que permeavam o imaginário de arquitetos e artistas do período e que geraram verdadeiras obras-primas admiradas até hoje pela sua solidez, engenhosidade, audácia e criatividade. 4. O URBANISMO E O PAISAGISMO BARROCOS Grandes obras refletem em uma cidade inteira, e, ainda assim, neste período houve uma notada preocupação com espaços públicos, principalmente as praças em frente as grandes catedrais e igrejas, como vimos na Praça de São Pedro no Vaticano, junto com as principais ruas. As principais cidades passam a ganhar notória importância econômica e política, consolidando-se como polos. Os jardins da aristocracia também passaram a ser objeto de grande e requintado planejamento. 4.1 O surgimento da capital moderna: praticidade e dramaticidade no urbanismo barroco O planejamento urbano desenvolvido no Barroco alia um equilíbrio entre solução prática e gesto dramático, como visto na Piazza del Popolo, em Roma, construída entre 1662 e 1679, projetada por Carlo Rainaldi (1611-1691) para Alexandre VII, como uma nova entrada setentrional da “cidade eterna”, localizada bem no meio da entrada norte de Roma: “Rainaldi dispôs obliquamente três ruas que passam por duas novas igrejas barrocas com cúpulas projetadas por ele próprio – Santa Maria di Monte Santo e Santa Maria dei Miracoli – e que se encontram em um ponto marcado por um antigo obelisco egípcio” (GLANCEY, 2001, p. 80). Todas essas obras concentradas em único local, como catedrais, praças, ruas, acabam por consolidar importantes polos econômicos e políticos. Desta maneira, podemos dizer que a capital moderna é uma criação barroca. O espaço de um núcleo urbano, como uma cidade capital, só ganhou força no século XVII, quando os Estados nacionais tomaram forma definitiva, com força política e concentração econômica. O barroco é essencialmente urbano, são nas cidades onde estão as classes dominantes e onde são erguidos os principais monumentos históricos. O historiador e crítico de arte italiano, Giulio Carlo Argan afirmaria, em seu conhecido estudo de 1964, L’Europa delle Capitali: A grande criação política do Seicento é o Estado nacional, e a sua forma típica é a monarquia absoluta. A Europa moderna é um sistema de Estados à procura de um equilíbrio de forças políticas e econômicas. O Renascimento tinha dado vida a uma civilização urbana em que cada cidade se apresentava, não mais como um município livre, mas como um pequeno Estado soberano: a cidade não era exclusivamente a sede do príncipe ou o instrumento de sua política pessoal, mas a herdeira de uma tradição histórica própria e o centro de uma cultura. No século XVII a centralização dos poderes determina a prevalência de uma cidade, que se torna a sede da autoridade do Estado, dos órgãos de governo e da administração pública, das representações diplomáticas que regulam as relações entre os Estados. A formação da Cidade-Capital determina, obviamente, a regressão das outras cidades do Estado à categoria subalterna de sedes de província: de agora em diante, teremos uma cultura e uma arte da capital, abertas a todas as trocas internacionais, e uma cultura e arte de província, às vezes de nível elevado, mas em posição periférica em relação às grandes correntes da metrópole. A Cidade-Capital possui também uma função representativa e tende, por isso mesmo, a perder o tradicional caráter municipal, seja na sua estrutura social, seja na configuração planimétrica e edilícia. [...] Além disso as transformações internas da cidade não ocorrem mais por iniciativa dos cidadãos ou da municipalidade, mas pela autoridade política; mais do que a pressão que vem de baixo, que fizera das cidades comunais a imagem da comunidade urbana, prevalece a vontade do soberano e do governo, que querem fazer da Cidade-Capital a imagem do Estado e do poder. (ARGAN, 2004, p. 59 apud BAETA, 2017, p. 46-47) Durante a Idade Média e parte do Renascimento, por mais importantes que os núcleos urbanos fossem, a corte inevitavelmente partiria, depois de alguns anos, para outro núcleo. Até mesmo Paris, que é considerada, junto com Roma, uma das mais antigas das capitais medievais, por diversas ocasiões perdeusua condição de sede do império francês. Conforme o historiador italiano Cesare de Sete, em seu escrito, de 1986, intitulado Città capitali e città dominanti, somente Roma seria a única exceção, que nunca teria deixado de ser capital dos Estados Pontifícios e de todo o mundo católico. Houve somente um lapso de tempo entre 1309 e 1377, durante o exílio dos papas em Avignon, na França (BAETA, 2017). 4.2 Paisagismo no barroco Com o fim do Renascimento, iniciou-se um período de suntuosidade no paisagismo. Os jardins do Barroco francês buscaram emoção e grandiosidade, porém mantiveram a lógica, a axialidade e o equilíbrio do período anterior. No Renascimento, havia uma convicção humanista de que a arte deveria transmitir algo sublime. Agora, com o materialismo centrado em torno do Rei Sol, Luis XIX, as artes servem apenas como um pano de fundo à ostentação da corte absolutista. O mais famoso jardinista do barroco francês foi André Le Nôtre, autor dos monumentais jardins Vaux-le-Viconte (1650) e Versailles (1688), projetados como um cenário apropriado à majestosa arquitetura dos palácios reais: Os jardins franceses tiveram como característica própria seu desnível pouco acentuado, ao contrário dos jardins italianos, favorecendo a adoção dos chamados parterres – tapetes florais de forte impacto visual – que, junto com os imensos espelhos d’água e fontes monumentais, formaram jardins com perspectivas de grande efeito cenográfico. Seus princípios de composição definem elementos próprios de desenho: a residência integrada à paisagem, a ordenação dos bosques laterais definidos por topiarias, os espelhos d'água (recurso barroco que refletia o céu, incorporando-o à composição), os canais com bordas regulares, poucas cascatas e muitos repuxos, escala monumental, introdução ritmada de elementos decorativos para enfatizar o espaço, perspectiva unidirecional levada ao infinito e uma composição mais equilibrada e serena [...]. (NIEMEYER, 2018, p. 21-22) O ideal estético paisagista francês se manteve enquanto durou a hegemonia política e militar francesa, até início de 1700, quando surgiu, na Inglaterra, um movimento estético e político contrário a cultura francesa. O espírito democrático inglês do século XVIII rejeitou o estilo unidirecional do barroco francês, associado a um governo despótico. Tem início então, o estilo orgânico inglês, associado ao movimento romântico, ressaltando a imprevisibilidade da paisagem.
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