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Hanseníase e Erema Nodoso Hanseníase: Introdução: A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica, cujo agente etiológico, o Mycobacterium leprae, apresenta tropismo pela pele e nervos periféricos. Antigamente, era denominada “lepra”, mas o nome foi mudado pelo seu caráter estigmatizante. É uma das doenças ditas “negligenciadas” por ter pouco destaque, mas apresenta grande importância em saúde pública, sobretudo em nosso país. O Brasil é o 2º pais do mundo em prevalência e incidência de hanseníase. Principalmente no centro-oeste, norte e nordeste. Apresenta muitos casos em adolescentes e crianças e tem alto grau de incapacidades físicas por evolução da doença. É uma doença de notificação compulsória e investigação obrigatória (SINAN). A hanseníase é causada pelo Mycobacterium leprae, ou Bacilo de Hansen, que é um parasita intracelular obrigatório (afinidade por macrófagos e Células de Schwann), álcool-ácido resistente, agrupado em “globias” e com tropismo pela pele e nervos periféricos. Os bacilos permanecem viáveis fora do organismo humano por até 36 horas em temperatura ambiente e por até 7-9 dias em 36,7oC com 77,6% de umidade média. A hanseníase é transmitida pelas vias respiratórias (pelo ar) por meio de contato próximo e prolongado de uma pessoa susceptível (que possui maior probabilidade de adoecer) com um doente com hanseníase que não está sendo tratado. Normalmente, a fonte da doença é um parente próximo que não sabe que está doente, como avós, pais, irmãos, cônjuges etc. A pele íntegra, mesmo acometida por lesão de hanseníase, não transmite a doença. O período de incubação varia de 2 a 5 anos para os pacientes que desenvolverão formas classificadas como paucibacilares e 5 a 10 anos para os pacientes que desenvolverão formas classificadas como multibacilares. Fisiopatologia: A inoculação do bacilo ocorre pela mucosa nasal e por soluções de continuidade na pele. O M. leprae tem tropismo pelas células de Schwann que não tem capacidade fagocítica profissional, sendo incapaz de destruir patógenos. Assim, o bacilo de Hansen permanece protegido dos mecanismos de defesa do hospedeiro e ainda pode multiplicar-se continuadamente. A resposta imunológica à bactéria promove a paralisia periférica, apesar que, a permanência do bacilo nas células de Schwann pode comprometer a função neural antes mesmo da resposta imune celular ser estimulada. Classificação: De acordo com a OMS, para fins operacionais de tratamento, os doentes são classificados em (Flu- xograma 1): • Paucibacilares (“PB” – presença de até 5 lesões de pele com baciloscopia de raspado intradérmico negativo, quando disponível, e no máximo 1 nervo acometido). • Multibacilares (“MB” – presença de 6 ou mais lesões de pele OU baciloscopia de raspado intra- dérmico positiva e/ou mais de 1 nervo acometido). Entretanto, alguns pacientes não apresentam lesões facilmente visíveis na pele, e podem ter lesões apenas nos nervos (hanseníase primariamente neural), ou as lesões podem se tornar visíveis somente após iniciado o tratamento. Assim, para melhor compreensão e facilidade para o diagnóstico, aqui utilizaremos outra classificação, chamada de Classificação de Madri (1953): • Hanseníase indeterminada (PB) • Tuberculoide (PB) • Dimorfa (MB) • Virchowiana (MB) Há a classificação de Ridley e Jopling, estabelecida em 1962 a partir da anterior para fins de pesquisa, com maior detalhamento e diferenciação dentro do espectro de apresentação da hanseníase. Ela se baseia em critérios clínicos, baciloscopia, histopatológico e divide o grupo dimorfo/ borderline em três: borderline-tuberculoide, borderline-borderline e borderline-virchowiano. Clínica: Os principais sinais e sintomas da hanseníase são: o Manchas hipocrômicas, acastanhadas ou avermelhadas, com alterações de sensibilidade térmica, dolorosa e/ou ao tátil; o Formigamentos, choques e câimbras nos braços e pernas; o Pápulas, tubérculos e nódulos, sem sintomatologia associada; o Diminuição ou queda de pelos, localizada ou difusa, especialmente nas sobrancelhas (madarose); o Febre e artralgia, associados a linfadenopatia, de aparecimento súbito; o Pele infiltrada, com diminuição ou ausência de suor no local. Ao exame físico, pode-se observar: o Dor, choque e/ou espessamento de nervos periféricos à palpação; o Diminuição e/ou perda de sensibilidade nas áreas dos nervos afetados; o Diminuição e/ou perda de força nos músculos inervados por estes nervos; o Edema de extremidades com cianose e ressecamento da pele. HANSENÍASE INDETERMINADA (HI) Caracteriza-se pelo aparecimento de mancha(s) hipocrômica(s), anestésica e anidrótica, com bordas imprecisas. As lesões são únicas ou em pequeno número e podem se localizar em qualquer área da pele. Não há comprometimento de troncos nervosos nesta forma clínica, apenas r a m ú s c u l o s n e r v o s o s c u t â n e o s . A baciloscopia é negativa. A HI é considerada a primeira manifestação clínica da hanseníase; e, após período de tempo que varia de poucos meses até anos, dependendo da imunidade, ocorre evolução para cura ou para outra forma clínica, quer seja paucibacilar ou multibacilar. A sua histopatologia apresenta infiltrado perivascular e perineural. Apresenta como diagnóstico diferencial: pitiríase alba, pitiríase versicolor, vitiligo, pinta, leucodermia gutata, nevo acrômico, nevo anêmico, hipomelanose idiopática do tronco, entre outros. HANSENÍASE TUBERCULOIDE (HT) A HT surge a partir da HI não tratada, nos pacientes com boa resistência. No polo de resistência, a hanseníase tuberculoide caracteriza a forma clínica de contenção da multiplicação bacilar, dentro do espectro da doença. As lesões são bem delimitadas, em número reduzido, eritematosas, com perda total da sensibilidade e de distribuição a s s i m é t r i c a . D e s c r e v e m - s e inicialmente máculas, que evoluem para lesões em placas com bordas p a p u l o s a s , e á r e a s d e p e l e eritematosas ou hipocrômicas. Seu crescimento centrífugo lento leva à atrofia no interior da lesão, que pode, ainda, assumir aspecto tricofitoide, com descamação das bordas. Observam-se, ainda, a variedade infantil e a forma neural pura. A primeira manifesta-se em crianças conviventes com portadores de formas bacilíferas e localiza-se principalmente na face. Pode se manifestar como nódulos, placas, lesões tricofitoides ou sarcoídi cas. Portanto, é uma forma paucibacilar (a baciloscopia é tipicamente negativa), cujo foco foi um paciente multibacilar. A neurite normalmente se apresenta com um quadro agudo de dor intensa e edema, sem que haja, a princípio, comprometimento funcional do nervo. Contudo, a lesão se torna crônica e passa a evidenciar o dano, identificado por anidrose e ressecamento cutâneo; alopecia; alteração sensitiva (na ordem em que é perdida: térmica, dolorosa e tátil) e motora, cursando com dormência e perda da força muscular. Se não tratado, o acometimento neural pode provocar incapacidades e deformidades. Em alguns casos, as alterações de sensibilidade e motricidade podem aparecer sem os sintomas agudos de neurite (neurite silenciosa). Outra forma é a forma neural pura, quando não se encontram lesões cutâneas, mas encontramos espessamento do tronco nervoso e dano neural precoce e grave. Na hanseníase tuberculoide podemos ver emergindo da placa o espessamento neural, o qual denominamos de sinal da raquete. Os principais troncos nervosos periféricos acometidos na hanseníase são: 1. Face – trigêmio e facial: podem causar alterações na face, nos olhos e no nariz; 2. Braços – radial, ulnar e mediano: podem causar alterações nos braços e nas mãos; 3. Pernas – fibular e tibial: podem causar alterações nas pernas e nos pés. A forma tuberculoide (HT) e a forma indeterminada (HI) constituem as formas paucibacilares da hanseníase. Apesar da possibilidade de cura espontânea na HT, a orientação é de que os casos sejam tratados para reduziro tempo de evolução da doença e o risco de dano neural. HANSENÍASE VIRCHOWIANA (HV) Esta é a forma multibacilar da hanseníase (também chamada de lepra ou hanseníase lepromatosa), reconhecida por corresponder ao polo de baixa resistência imunológica ao bacilo. Pode evoluir a partir da forma indeterminada ou se apresentar como tal desde o início. Caracteriza-se pela infiltração progressiva e difusa da pele, mucosas das vias aéreas superiores, olhos, testículos, nervos, podendo afetar, ainda, os linfonodos, o fígado e o baço (hepatoesplenomegalia). Na pele, descrevem-se máculas, pápulas, nódulos e tubérculos. A infiltração é difusa e mais acentuada na face e nos membros. A pele torna-se luzidia, xerótica, com aspecto apergaminhado e tonalidade semelhante ao cobre. Há rarefação dos pelos nos membros, cílios e da cauda da sobrancelha (madarose). A infiltração da face e pavilhões auriculares, com madarose sem queda de cabelo, forma o quadro conhecido como fácies leonina. O comprometimento nervoso ocorre nos ramúsculos da pele, na inervação vascular e nos troncos nervosos. Estes últimos vão apresentar deficiências funcionais e sequelas tardias. São sinais precoces de HV: a obstrução nasal, rinorreia serossanguinolenta e edema de membros inferiores. Um subtipo de HV, com infiltração difusa da pele, mas sem nódulos ou placas, é denominado lepromatose difusa ou “lepra bonita”. Outra variedade é chamada de histoide, na qual encontramos lesões nodulares que se assemelham com dermatofibromas (caracterizado por histiócitos fusiformes). O acometimento dos testículos pode levar à diminuição da produção de testosterona, ocorrendo aumento do FSH e LH com queda da libido e eventualmente ginecomastia. Manifestações oftalmológicas diversas como prurido, sensação de queimação, alterações em campos visuais, xeroftalmia ou excesso de lacrimejamento (epífora), ausência de cílios (triquíase), eversão palpebral (ectrópio), ausência do fechamento completo palpebral (lagoftalmo), opacidade da córnea, catarata, glaucoma e até mesmo comprometimento do reflexo oculomotor. Na HV avançada, pode ocorrer perfuração do septo nasal e desabamento nasal. A HV apresenta baciloscopia fortemente positiva (multibacilar) e representa, nos casos virgens de tratamento, importante foco infeccioso ou reservatório da doença. A histopatologia demonstra aglomerado de bacilos nas camadas profundas da derme (globias). Na realidade, o micro-organismo pode ser isolado de qualquer tecido ou órgão (fígado, baço, medula óssea, etc.) com exceção do pulmão e sistema nervoso central. HANSENÍASE DIMORFA (HD) OU BORDERLINE (HB) Este grupo é marcado pela instabilidade imunológica, o que faz com que haja grande variação em suas manifestações clínicas, seja na pele, nos nervos ou no comprometimento sistêmico. As lesões da pele revelam-se numerosas e a sua morfologia mescla aspectos de HV e HT, podendo haver predominância ora de um, ora de outro tipo. A infiltração assimétrica da face e dos pavilhões auriculares, bem como a presença de lesões no pescoço e nuca, é elemento sugestivo dessa forma clínica. As lesões neurais são precoces, assimétricas e, com frequência, levam a incapacidades físicas. Dependendo da morfologia, número de lesões e simetria, a hanseníase dimorfa é subclassificada em: ● Borderline Tuberculoide (BT): placas ou manchas eritematosas, por vezes anulares, de maior extensão, distribuição assimétrica, pouco numerosas ou com lesões satélite. A baciloscopia é negativa ou discretamente positiva. ● Borderline Borderline (BB): lesões bizarras, semelhantes ao “queijo suíço” (“esburacadas”), também descritas como anulares ou foveolares, com limite interno nítido e limites externos imprecisos, com bordos de cor ferruginosa. As lesões são mais numerosas que a BT, mas de distribuição assimétrica. A baciloscopia geralmente é moderadamente positiva. ● Borderline Virchowiana (BV): múltiplas lesões elevadas eritematoinfiltradas, algumas de aspecto anular. A baciloscopia é francamente positiva (tal como na hanseníase virchowiana). Diagnóstico: Essencialmente clínico e epidemiológico, realizado por meio da anamnese, exame geral e dermato- neurólogico. Para definição de caso segundo o Ministério da Saúde, considera-se caso de hanseníase a pessoa que apresenta 1 ou mais dos seguintes sinais cardinais, a qual necessita de tratamento com poliquimioterapia (PQT): a) Lesão(ões) e/ou área(s) da pele com alteração da sensibilidade térmica e/ ou dolorosa e/ou tátil; b) Espessamento de nervo periférico, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; ou c) Presença de bacilos M. leprae, confirmada na baciloscopia de esfregaço intradérmico ou na biópsia de pele. Para o exame neurológico, é necessário realizar a palpação dos nervos: Após definido como caso, podem-se utilizar as características clínicas das lesões para categorizar a hanseníase: 1. Teste de sensibilidade (exame dermatoneurológico): A. Teste da sensibilidade térmica: prova com tubo de água quente e fria. Na prática, realiza-se muito o teste com algodão embebido em éter (frio) e algodão seco. B. Teste da sensibilidade dolorosa: prova com agulha. C. Teste da sensibilidade tátil: prova com chumaço de algodão ou Monofilamentos de Semmes-Weinstein. 2. Baciloscopia: Exame microscópico em que se observa o Mycobacterium leprae diretamente nos esfregaços de raspados intradérmicos das lesões hansênicas ou de outros locais de coleta selecionados: lóbulos auriculares e/ou cotovelos, e lesão, quando houver. Por nem sempre evidenciar o Mycobacterium leprae, nas lesões hansênicas ou em outros locais de coleta, a baciloscopia negativa não afasta o diagnóstico da hanseníase. 3. Biópsia com exame histopatológico: A. Indeterminada: infiltrado inespecífico de linfócitos e histiócitos ao redor dos vasos sanguíneos ou anexos, sem granuloma ou células de virchow, sem microrganismos. B. Tuberculoide: granulomas tuberculoides – podem ter padrão linear conforme segue curso de um nervo; ausência de microrganismos. C. Virchowiano: granuloma macrofágico e presença de Células de Virchow (macrófagos com numerosos bacilos e gotículas lipídicas no citoplasma). D. Dimorfo: ambos os tipos de infiltrado. 4. Teste da Histamina: Utilizado para pesquisar perda de sensibilidade quando os métodos tradicionais são inconclusivos, já que apresenta alteração antes mesmo da hipoestesia térmica. Na hanseníase há reação da histamina incompleta (não há eritema reflexo secundário por comprometimento das terminações nervosas − fibras simpáticas). 5. Teste da Pilocarpina: Pesquisa a integridade dos ramúsculos nervosos periféricos (testa fibras parassimpáticas). Prova incompleta quando não há sudorese após 5 min da injeção intradérmica de pilocarpina. 6. Teste de Mitsuda: Injeção intradérmica de uma suspensão de bacilos mortos. Reações positivas indicam algum grau de imunidade celular específica ao bacilo. Apresenta valor prognóstico (ex.: teste positivo realizado em comunicante significa que este não ficará doente ou, no máximo, desenvolverá a forma tuberculoide; teste negativo significa que, se adoecer, será dimorfo ou virchowiano). Diagnóstico Diferencial: A hanseníase faz diagnóstico diferencial com outras doenças de pele e com outras doenças neurológicas. A principal diferença entre a hanseníase e outras doenças dermatológicas é que as lesões de pele da hanseníase sempre apresentam alteração de sensibilidade. As demais doenças não apresentam essa alteração. As principais doenças de pele que fazem diagnóstico diferencial com hanseníase, são: Pitiríase versicolor; Eczemátide; Tinha de corpo; Vitiligo. As lesões neurológicas da hanseníase podem ser confundidas, entre outras, com as de: Síndrome do túnel do carpo; Neuralgia parestésica; Neuropatia alcoólica; Neuropatia diabética; Lesões por esforços repetitivos (LER). Tratamento: Contatos familiares recentes ou antigos de pacientecom MP e PB devem ser examinados (anamnese direcionada + exame dermatoneurológico + vacinação BCG), independente do tempo de convívio. Avaliar anualmente, durante 5 anos, todos os contatos não doentes, quer sema familiares ou sociais. Após esse período os contatos devem ser liberados da vigilância, devendo, entretanto, serem esclarecidos quanto à possibilidade de aparecimento, no futuro, de sinais e sintomas sugestivos da hanseníase. TODO paciente com hanseníase é tratado pelo SUS, esses medicamentos só tem no SUS. NÃO tem na farmácia para comprar. - Paucibacilar: dose mensal supervisionada de rifampicina (02 CP de 300mg cada) + dapsona (01 CP de 50mg); Dose diária (28 dias) auto administrada de dapsona; Tratamento por 06 meses terminar o tratamento em até 09 meses; caso não acabe em 09 meses, deve-se recomeçar o tratamento. - Multibacilar: dose mensal supervisionada de dapsona (01CP de 50mg) + rifampicina (02 CP de 300mg cada) + clofazimina (03 CP de 100mg cada); Medicação administrada auto administrada de dapsona (01 CP de 50mg) + clofazimina (01CP de 50mg) por 28 dias; Tratamento de 01 ano, podendo terminar o tratamento em até 18 meses. - Mutidrogaterapia uniforme (MDT-U): 06 meses para TODOS; dose mensal supervisionada de dapsona (01CP de 50mg) + rifampicina (02 CP de 300mg cada) + clofazimina (03 CP de 100mg cada); Medicação administrada auto administrada de dapsona (01 CP de 50mg) + clofazimina (01CP de 50mg) por 28 dias; Tratamento de 06 meses. - Tratamento reação tipo 1: prednisona; Manter a poliquimioterapia se o doente ainda estiver em tratamento específico; Imobilizar o membro afetado em caso de neurite associada; Avaliar a função neural sensitiva e motora antes do início da corticoterapia; Reduzir a dose do corticoide conforme resposta terapêutica; Programar e realizar ações de prevenção de incapacidades. - Tratamento da reação tipo 2 ou eritema nodoso hansênico (ENH): talidomida; Na impossibilidade do uso da talidomida pode prescrever prednisona ou dexametasona; Cuidado: talidomida é teratogênica; NÃO pode usar em mulheres em idade fértil; Pode causar neuropatia. Reações Hansênicas: Os surtos reacionais são definidos como episódios inflamatórios que se intercalam no curso crônico da hanseníase. Muitas vezes podem chamar mais atenção do que as próprias lesões primárias da hanseníase, pela riqueza de sinais e sintomas. Ao contrário da apresentação esperada para uma hanseníase, possuem evolução aguda. Os tipos de reação mais importantes são a reação reversa ou reação do tipo 1 e a reação do tipo 2 ou Eritema Nodoso da Hanseníase (ENH). As reações seguem-se de fatores desencadeantes, tais como: infecções intercorrentes, vacinação, gravidez e puerpério, medicamentos iodados, estresse físico e emocional. Os quadros reacionais, às vezes, antecedem o diagnóstico da hanseníase, surgem durante o tratamento ou após a alta. Reação tipo 1 (reversa): a reação do tipo 1 tende a surgir mais precocemente no tratamento, entre o segundo e o sexto mês, caracteristicamente na hanseníase dimorfa. É considerada reação mediada pela imunidade celular. Caracteriza-se pela exacerbação das lesões preexistentes, que se tornam edemaciadas, eritematosas, brilhantes, semelhante à erisipela; podem surgir novas lesões, embora pouco numerosas. Os sintomas sistêmicos variam (geralmente uma febre baixa). Surgem lesões novas à distância e as neurites mostram-se frequentes e graves, podendo ser a única manifestação clínica. Se não tratadas precocemente, deixam sequelas... As neurites podem ser silenciosas, ou seja, o dano funcional do nervo se instala sem quadro clínico de dor e espessamento do nervo. Os nervos mais comprometidos são os ulnares e medianos nos membros superiores, fibular comum e tibial posterior nos membros inferiores, e facial e grande auricular no segmento cefálico. Reação tipo 2 (eritema nodoso hansênico): observada nas formas multibacilares (virchowianas ou dimorfas), em geral, após seis meses de tratamento. O eritema nodoso hansênico é uma paniculite (inflamação da hipoderme) lobular (predomina nos lóbulos), acompanhado de vasculite. É uma síndrome desencadeada por depósito de imunocomplexos nos tecidos e vasos, mas a imunidade celular possui importância em etapas iniciais do processo. Há aumento de citocinas séricas, como o fator de necrose tumoral alfa e o interferon gama sem, contudo, haver mudança definitiva da condição imunológica do paciente. As manifestações clínicas incluem: ● Febre e linfadenopatia; ●Neurite – nervo ulnar é o mais comumente acometido; ●Uveíte; ● Orquite; ● Glomerulonefrite. Na pele, a lesão típica (eritema nodoso) se caracteriza por lesões eritematosas, dolorosas, de tamanhos variados, incluindo pápulas e nódulos localizados em qualquer região da pele. Os nódulos evoluem para ulceração e são chamados de eritema nodoso necrotizante. O eritema poliforme também pode acompanhar a reação tipo 2. Fenômeno de Lucio: ocorre antes do tratamento em poucos pacientes com hanseníase virchowiana, especialmente naqueles com a forma “lepra bonita” ou lepra de Lucio. Lesões maculares equimóticas (necróticas) que se ulceram podem ocorrer em pequeno número ou por uma área extensa da pele, sendo observada mais comumente em ex t r emidades inferiores. No caso de lesões generalizadas, o paciente pode comportar-se como um grande queimado, e a infecção secundária das l e sões por Pseudomonas aeruginosa é uma complicação temida. A histopatologia demonstra necrose isquêmica da epiderme e derme superficial, parasitismo intenso de células endoteliais, proliferação de células endoteliais e formação de trombos em grandes vasos das porções profundas da derme. O tratamento consiste na poliquimioterapia, medidas de suporte, antibioticoterapia e transfusões de troca. Os glicocorticoides e a talidomida não são úteis. Ainda se discute se pode ou não ser considerada uma reação. Erema Nodoso: Introdução: Eritema nodoso é uma forma específica de paniculite (inflamação da gordura do subcutâneo, que é uma reação de hipersensibilidade). caracterizada por nódulos subcutâneos sensíveis, de cor vermelha ou violácea, e palpáveis, na região anterior das pernas e, ocasionalmente, em outras localizações. Geralmente, ocorre com uma doença sistêmica de base, em particular infecção estreptocócica, sarcoidose, tuberculose e doença inflamatória intestinal. O diagnóstico baseia-se em avaliação clínica e, às vezes, biópsia. O tratamento depende da causa. Características: Eritema acompanhado de dor nos MMII, nódulo não ulcerado na palpação, lesões levemente elevadas múltiplas ou únicas. É mais comum em crianças, mede de 2 a 5 cm de diâmetro, coloração pode ser vermelha, castanha avermelhada ou roxas. Imóveis, não aderidos a planos profundos. Quando se tem um eritema nodoso disseminado deve-se pensar em hanseníase como primeira possibilidade. Já quando se tem outros sintomas associados - como febre, dores articulares e nas panturrilhas, manchas eritematosas - pensar em eritema nodoso/contusiforme (vai apresentar um curso de 3-6 semanas, nunca ulceram, ausência de atrofia local). Decorre de uma síndrome de hipersensibilidade a vários agentes, levando à sensibilidade tardia (IL-2, IF-y e Th1), imunocomplexo S nas vênulas dos septos do subcutâneo, isquemia por degeneração do endotélio. Causas: o Idiopática o Infecções bacterianas (Infecções respiratórias altas por estreptococo beta-hemolítico; tuberculose) o Infecções fúngicas o Infecção viral o Medicamentos o Doenças autoimunes (Febre Reumática, Sarcoidose, doenças inflamatórias intestinais) o Neoplasias o Gestação FEBRE REUMÁTICA A febre reumática é uma complicação inflamatória aguda, não supurativa da infecção faríngea por estreptococos do grupo A, causando combinações de artrites, cardites, nódulos subcutâneos, eritema marginado e coreia. O diagnóstico baseia-se na aplicação dos critérios modificados de Jones relacionadoscom dados de história, exame e testes laboratoriais. O tratamento inclui ácido acetilsalicílico ou outros anti- inflamatórios não esteroides (AINEs), corticoides durante cardites graves e antimicrobianos para erradicar infecção estreptocócica residual e prevenir a reinfecção. ERITEMA MARGINADO E NÓDULOS SUBCUTÂNEOS Aspectos cutâneos e subcutâneos são raros e quase nunca ocorrem sozinhos, aparecendo geralmente em pacientes que já apresentam cardite, artrite ou coreia. Eritema marginado é serpiginoso, plano e às vezes discretamente elevado, sem cicatrizes e exantema indolor. Um pouco mais de 6% das crianças apresentam esse exantema. O exantema geralmente aparece no tronco e extremidades proximais, mas não na face. Ela às vezes dura < 1 dia. Seu aparecimento é estimulado pela infecção estreptocócica e pode aparecer com as manifestações da inflamação reumática ou depois dela. Nódulos subcutâneos ocorrem com maior frequência nas superfícies de extensão das grandes articulações (p. ex., joelhos, cotovelos e punhos) e geralmente coexistem com artrite e cardite. Um pouco mais de 10% das crianças com febre reumática aguda apresentam nódulos. De modo geral, os nódulos são indolores, transitórios e respondem ao tratamento da inflamação articular ou cardíaca. TUBERCULOSE No decurso da primo-infecção tuberculosa: Tuberculose pode se manifestar inicialmente como eritema nodoso, normalmente no começo do quadro. Principalmente em crianças e adolescentes SARCOIDOSE Na escandinava, é a causa principal de eritema nodoso. FÁRMACOS o Anticoncepcionais orais o Antibióticos (Penicilina, Sulfamidas) o Brometos e iodetos o Clortiazídicos o Vacinas (hepatite B) o Talidomida o Isotretinoína o Azatioprina o Salicilatos Diagnóstico e Tratamento: O diagnóstico depende da etiologia: o Estreptococos: anti-estreptolisina O, cultura de bactérias, bacterioscopia o Doença inflamatória intestinal: endoscopia, colonoscopia, retossigmoidoscopia o Parasitas: coletar exames de fezes Já o tratamento consiste em repouso, elevação dos membros inferiores, meia elástica, tratar a causa. Pode fazer uso de corticosteroide tópico, oclusivo, infiltração; aspirina 2-3g ao dia ou outro AINE; corticosteroide oral (se exclusão de infecção); iodeto de potássio (diminuindo quimiotaxia de neutrófilos); MH (talidomina); Behçet: colchicina. Referências Bibliográficas: • Rivitti, Evandro. Dermatologia De Sampaio e Rivitti - 4ª Edição, Editora: Artes Médicas, 2018. • Apostila MedCurso 2022 - Dermatologia • Resumos da Med • SanarFlix - Apostila Dermatologia - Hanseníase
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