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1 MADEIRA – PROPRIEDADES. 1.1 – Madeiras para construção. A madeira é um material orgânico, vegetal, abundante e renovável na natureza. Pela facilidade de ser trabalhada, e grande quantidade disponível, sempre foi muito utilizada na construção civil. De acordo com a “NBR 7190 – Projeto de estruturas de madeira”, são dois os tipos de madeira adequados à construção: Coníferas e Dicotiledôneas. No Brasil, a mais conhecida das coníferas é o Pinho do Paraná; já entre as dicotiledôneas estão o Ipê, o Jatobá, a Maçaranduba ou Paraju, Sucupira, alguns tipos de cedro e vários tipos de Eucalipto. Em que pese o fato de que as chamadas aqui no Brasil “Madeiras de Lei”, denominação das espécies correspondentes às Dicotiledôneas, terem sido muito exploradas nas décadas passadas e hoje existirem apenas em regiões longínquas aos grandes centros consumidores, existe uma enorme quantidade de espécies reflorestadas, e que podem continuar a servir à construção civil. Podemos avaliar o seu vasto emprego, pelas respectivas aplicações: a) Em obras definitivas: a.1) pontes a.2) estruturas de cobertura a.3) casas e edifícios em geral b) Em obras provisórias: b.1) escoramentos b.2) andaimes c) Como material auxiliar de construção: c.1) formas para estruturas de concreto. d) Como material de acabamento: d.1) forros d.2) vistas e rodapés Para uma aplicação racional da madeira, devemos compor um painel comparativo das suas vantagens e desvantagens, e assim estabelecer um critério adequado da escolha do material a ser utilizado na solução da estrutura de uma certa obra. Vantagens : a) Elevada resistência mecânica b) Facilidade de ser trabalhada Qualquer carpinteiro pode, com ferramentas simples, construir os detalhes necessários à execução da grande maioria das estruturas usuais de madeira. c) Ótimo isolamento térmico A madeira cumpre muito bem a função térmica que as construções de modo geral requerem. Uma ilustração disto é a apresentação dos valores do coeficiente de condutibilidade térmica de alguns materiais conhecidos : d) Obtenção do material em local próximo à obra : Este é um fator comprovado mesmo em regiões consideradas remotas. Desvantagens : a) Falta de Homogeneidade: a.1) Anisotropia : É a variação das propriedades físicas e mecânicas, conforme a direção considerada da peça. São elas: L = direção Longitudinal R = direção Radial T = direção Tangencial Figura 1 – Direções características das fibras de uma peça de madeira Na prática, agrupam-se as direções Radial e Tangencial em uma única direção, dada a pequena variação das propriedades nestas duas direções. Esta direção única costuma receber a denominação de “direção normal às fibras”. A outra direção (Longitudinal) também tem uma denominação comum que é “direção paralela às fibras”. a.2) Variação das propriedades físicas e mecânicas dentro da própria espécie. a.3) Apresentação de defeitos. b) Higroscopia : É a variação dos volumes e das resistências mecânicas, conforme varia o teor de umidade da madeira. c) Durabilidade limitada quando desprotegida : Isto acontece por conta dos ataques de fungos e/ou insetos. No entanto, processos de secagem e tratamentos preservativos adequados, podem garantir durabilidade de até 50 anos, ou mais. d) Defeitos : A maior ou menor quantidade de ocorrências determina a qualidade das amostras (dos lotes que as amostras representam). 1.2 – Propriedades Físicas das Madeiras. - Umidade : Para fins de aplicação estrutural da madeira, a NBR-7190 especifica a umidade de 12% como Teor de Referência para Ensaios e Cálculos. Toda madeira ao ser extraída apresenta um teor elevado de umidade devido á presença da seiva. Ao secar naturalmente, esta umidade diminui, tendendo para um valor de equilíbrio que depende da umidade relativa do meio ambiente; estes valores são fornecidos pela Tabela 1.1, retirada da NBR 7190. Tabela 1.1 - Classes de umidade Classe de umidade Umidade relativa do ambiente ambU Umidade de equilíbrio da madeira eqU 1 ≤ 65% 12% 2 65% < ambU ≤ 75% 15% 3 75% < ambU ≤ 85% 18% 4 ambU > 85% durante longos períodos 25% Os valores de ensaios, em uma umidade %U , são transformados para valores correspondentes à umidade de referência através da expressão: 100 123 112 U ff U (1.2.a) e os valores de rigidez por 100 122 112 U EE U (1.2.b) - Retratibilidade : É a redução das dimensões das peças de madeira, ocasionada pela saída da água de impregnação. Esta propriedade apresenta-se com valores diferentes de acordo com a direção considerada das fibras da madeira. - Resistência da madeira ao fogo : Ao contrário do que se pensa a madeira não tem baixa resistência ao fogo. A peça exposta ao fogo torna-se combustível para a propagação das chamas, porém, após alguns minutos de queima, a camada externa carbonizada torna-se um isolante térmico, retardando o efeito do incêndio. 1.3 – Resistência e rigidez. 1.3.1 – Classes de resistência. Para as duas espécies de madeira estrutural, a NBR 7190 relaciona as classes de resistência indicadas na Tabela 1.2, para as coníferas, e na Tabela 1.3, para as dicotiledôneas. Para classificar as madeiras segundo estas tabelas, os valores característicos são determinados conforme o anexo B da NBR 7190. Tabela 1.2 – Classes de resistência das coníferas Coníferas (Valores na condição padrão de referência %12U ) Classe kcf 0 (MPa) vkf (MPa) mcE 0 (MPa) mbas, (kg/m 3) aparente (kg/m 3) C20 20 4 3500 400 500 C25 25 5 8500 450 550 C30 30 6 14500 500 600 Tabela 1.3 – Classes de resistência das dicotiledôneas Dicotiledôneas (Valores na condição padrão de referência %12U ) Classe kcf 0 (MPa) vkf (MPa) mcE 0 (MPa) mbas, (kg/m 3) aparente (kg/m 3) C20 20 4 9500 500 650 C30 30 5 14500 650 800 C40 40 6 19500 750 950 C60 60 8 24500 800 1000 Nas duas tabelas anteriores, a densidade básica média mbas, é obtida pelo quociente da massa seca pelo volume saturado. A massa seca é determinada mantendo-se o corpo-de-prova em estufa a 103ºC até que sua massa permaneça constante; o volume saturado é determinado mantendo-se o corpo-de-prova submerso em água até que atingir peso constante. 1.3.2 – Madeira serrada. A NBR 7190 analisa peças de madeira quanto à tração paralela às fibras, à tração normal às fibras, à compressão paralela às fibras, à compressão normal às fibras, à compressão inclinada às fibras, ao cisalhamento, ao embutimento e à flexão. A resistência à compressão paralela às fibras é a mais simples de se obter por métodos experimentais. Assim, a NBR 7190 apresenta relações entre algumas destas resistências e a resistência à compressão paralela às fibras, e que estão relacionadas na Tabela 1.4. Tabela 1.4 – Relações entre as resistências características da madeira kt kc f f ,0 ,0 kt ktM f f ,0 , kc kc f f ,0 ,90 kc ke f f ,0 ,0 kc ke f f ,0 ,90 kc kv f f ,0 ,0 coníferas kc kv f f ,0 ,0 dicotiledôneas 0,77 1,00 0,25 1,00 0,25 0,15 0,12 Onde: ktf ,0 : resistência característica à tração paralela às fibras; ktMf , : resistência característica à tração na flexão; kcf ,0 : resistência característica à compressão paralela às fibras; kcf ,90 : resistência característica à compressão normal às fibras; kef ,0 : resistência característica ao embutimento paralelo às fibras; kef ,90 : resistência característica ao embutimento normal às fibras; kvf ,0 : resistência característica ao cisalhamento paralelo às fibras. Na falta de ensaios para determinar as resistências médias e as resistênciascaracterísticas, a NBR 7190 ( anexo E ) permite usar os valores tabelados abaixo para madeiras do tipo Dicotiledônias: Onde: Para madeiras do tipo Coníferas: Onde: A relação entre os valores característicos e médios são mostrados abaixo (tab. 12 da NBR 7190): 1.3.3 – Rigidez – Valores médios. A rigidez da madeira é definida por seu módulo de elasticidade paralelamente às fibras cujo valor médio, determinado experimentalmente, é representado por mcE ,0 . A partir deste valor são definidos mcmt EE ,0,0 mcM EE ,085,0 para coníferas mcM EE ,090,0 para dicotiledóneas 20 ,0 ,90 mc mc E E onde mtE ,0 : valor médio do módulo de elasticidade na tração paralela às fibras ME : valor médio do módulo de elasticidade na flexão; mcE ,90 : valor médio do módulo de elasticidade na compressão normal às fibras. 1.3.4 – Resistências de cálculo. As resistências de cálculo da madeira são definidas pela expressão w k d X KX mod Onde: dX : resistência de cálculo; kX : resistência característica; modK : coeficiente de modificação; w : coeficiente de ponderação. 1.3.5 – Coeficiente de modificação Os coeficientes de modificação refletem as alterações das resistências da madeira em função da classe de carregamento, da umidade e categoria da madeira e tem a forma: 3mod,2mod,1mod,mod KKKK A classe de carregamento e o tipo da madeira são levados em conta pelo coeficiente de modificação 1mod,K conforme a Tabela 1.5. Tabela 1.5 – Coeficiente 1mod,K Classe de carregamento Tipo de madeira Madeira serrada Madeira laminada colada Madeira compensada Madeira recomposta Permanente 0,60 0,30 Longa duração 0,70 0,45 Média duração 0,80 0,65 Curta duração 0,90 0,90 Instantânea 1,00 1,10 A classe de carregamento de qualquer combinação de cargas é definida pela duração acumulada prevista da carga variável considerada como principal, na combinação em estudo. As classes de carregamento são definidas pela Tabela 1.6. Tabela 1.6 – Classes de carregamento Classe de carregamento Ação variável principal Duração acumulada Ordem de grandeza da duração acumulada Permanente Permanente Vida útil da construção Longa duração Longa duração Mais de seis meses Média duração Média duração Uma semana a seis meses Curta duração Curta duração Menos de uma semana Instantânea Instantânea Muito curta A umidade e o tipo da madeira definem o coeficiente de modificação 2mod,K conforme se mostra na Tabela 1.7. A classe de umidade é definido na tabela 1.1. Tabela 1.7 – Coeficiente 2mod,K Classe de umidade Tipo de madeira Madeira serrada Madeira laminada colada Madeira compensada Madeira recomposta 1 e 2 1,0 1,0 3 e 4 0,8 0,9 O coeficiente de modificação 3mod,K considera a categoria da madeira. Para madeira laminada e colada considera também a sua forma, isto é, se a madeira é reta ou curva. A madeira se diz de primeira categoria se todas as peças estruturais são submetidas simultaneamente a: classificação por método visual normalizado, para garantir a isenção de defeitos; classificação mecânica para garantir a homogeneidade da rigidez. Em caso contrário, a madeira se diz de segunda categoria. As peças de madeira serrada de coníferas também são classificadas como de segunda categoria, para levar em conta a presença de eventuais nós de madeira não sejam detectados por inspeção visual. Estas condições estão resumidas na Tabela 1.8. Tabela 1.8 – Coeficiente 3mod,K Condição 3mod,K Madeira de primeira categoria 1,0 Madeira de segunda categoria 0,8 Peças serradas de coníferas 0,8 Madeira laminada colada reta 1,0 Madeira laminada colada curva 1 – 2000 (t / r)2 Na expressão para madeira laminada colada curva, t é a espessura das lâminas e r o raio de curvatura da barra. 1.3.6 – Coeficiente de ponderação. Os valores dos coeficientes de ponderação para estados limites últimos são: Para tensões de compressão paralela às fibras 4,1wc Para tensões de tração paralela às fibras 8,1wt Para tensões de cisalhamento paralelo às fibras 8,1wv 1.3.7 – Rigidez de cálculo. Nas verificações de segurança que dependem da rigidez (por exemplo, deformações), o valor efetivo do módulo de elasticidade paralelamente às fibras deve ser calculado pela expressão: mcefc EKE ,0mod,0 e o módulo de elasticidade transversal pela expressão 20 ,0 efc ef E G PRODUTOS COMERCIAIS Madeira serrada. O momento ideal para o corte de uma árvore ocorre quando atinge a maturidade. Nesta ocasião, seu tronco está quase todo preenchido pelo cerne obtendo-se então a madeira de melhor qualidade. O corte deve ser feito na estação seca, quando a árvore apresenta menor teor de umidade. O processamento da madeira deve ser executado logo em seguida ao corte do tronco, evitando assim defeitos causados pela secagem. Para ser usada em estruturas, a madeira deve passar por processo de secagem, o que é obtido por processo controlado através de autoclaves, ou por processo natural, colocando-se a madeira em local arejado e protegido da chuva, até que se atinja o ponto de equilíbrio de umidade. As dimensões comerciais da madeira serrada variam ligeiramente conforme o local. Na região de Belo Horizonte as bitolas mais comuns são as indicadas na Tabela 1.9. Tabela 1.9 – Bitolas comerciais para madeira serrada – Belo Horizonte Denominação Ripa Caibro Tábua Viga Pilar Dimensões (cm) 1,5 x 4 4 x 7,5 4 x 30 5 x 30 7,5 x 30 7,5 x 12 7,5 x 15 7,5 x 18 7,5 x 20 7,5 x 23 7,5 x 30 15 x 15 20 x 20 Madeira laminada colada. Atualmente, as leis ambientais no Brasil proíbem o corte de espécies nativas. Assim, a tendência da construção em madeira é a utilização de materiais obtidos em projetos de reflorestamento. Nestes casos, a árvore é cortada ainda relativamente jovem, apresentando troncos de dimensões modestas. Seu uso é otimizado através da madeira laminada colada que é um produto industrializado, onde lâminas de madeiras selecionadas são ligadas umas às outras através de adesivos. – Madeira laminada colada. – Madeira laminada colada. Dimensões. Emendas coladas. Para peças retas, a espessura usual das lâminas é de 27mm. A largura das peças pode variar (45, 70, 90 e 115 mm), bem como a altura (de 135mm a 297mm, em acréscimos de 27mm) dependendo das necessidades do projeto a executar. As peças podem ser fabricadas em diversos comprimentos, uma vez que as lâminas podem ser emendadas tanto na espessura quanto na largura. Contraplacado. O contraplacado, usualmente conhecido como compensado, é também um produto industrializado, formado pela colagem de lâminas finas (de 1 a 5mm) de madeira sempre em número ímpar (no mínimo três). A colagem das lâminas é sempre executada, montando-se uma lâmina com as fibras perpendiculares às das lâminas adjacentes. Desta forma obtem-se um material com propriedades quase isotrópicas. - Contraplacado Madeira desbastada. A madeira desbastada, também chamada falquejada, é a madeira cortada por meio de machado ao invés de serra. As peças obtidas desta forma têm um acabamento rústico, tornando-se arquiteturalmente atraente para alguns tipos de casas. Madeira em toras. A madeira em toras era tradicionalmente utilizada em construções provisórias, como escoramentos de formas de concreto. Posteriormente foram empregadas em obras rurais como cercas, currais, etc. Mais recentemente,algumas empresas brasileiras têm comercializado casas construídas com toras de madeira de reflorestamento. Estas casas, geralmente de campo ou de praia, têm uma arquitetura rústica muito agradável.
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