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CIRURGIA GUSTAVO URZÊDA V I TÓR IA CIRURGIA GUSTAVO URZÊDA V I TÓR IA 1 Gustavo Urzêda Vitória CIRURGIA ASSUNTOS EM CIRURGIA - Resposta metabólica ao trauma: Contexto: Qualquer agressão acidental ou cirúrgica → resposta metabólica e inflamatória → manter homeostase e cicatrização. • Catabolismo aumentado: fornecer substratos energéticos → vem da quebra de glicogênio, lipídios e proteínas. • Muitas vezes pode ser uma resposta exacerbada. • Até 4% dos pacientes operados morrem e até 15% tem morbidades no pós-operatório. • 5-15% de readmissão no pós-operatório. Fatores: • Trauma, estresse, hemorragias, endotoxinas, respiração mecânica, acidentes. • Resposta é proporcional ao trauma que a gerou. • Resposta é individual. • Infecção e jejum são importantes fatores. • Na cirurgia eletiva a resposta é controlada → cuidados pré e pós- operatório. • Trauma é inesperado e tem grandes consequências teciduais. Definições: Catabolismo: • Destruição corporal, principalmente degradação proteica. • Pode determinar uma série de lesões. o Diminuição de 10% → diminui imunidade. o Diminuição de 20% → diminui cicatrização. o Diminuição de 30% → predispõe a escara, PNM e tem 50% de morte. o Diminuição de 40% → morte. Anabolismo: 2 Gustavo Urzêda Vitória Síntese proteica e tecidual → cicatrização e sistema imune. Hipermetabolismo: Aumento da atividade metabólica → aumento do consumo de energia. Perda de peso corporal não intencional: • Mensurar a perda proteica. • Marcador de desnutrição proteica. • Maior ou igual a 10% em 6 meses ou maior ou igual a 5% em um mês → alerta. • Grandes traumas e queimados → aproximadamente 80%tem perda maior que 10%. Jejum: • Prolongado resulta em diferentes graus de desnutrição. • No traumatizado, os efeitos deletérios no organismo. • Na pessoa normal, queima lipídios e conserva proteínas. Composição corporal: • Tipos de massas: o Magra: metabólica → 10% de minerais, 20% de proteínas (responsáveis por manter a homeostase corporal) e 70% de água. o Gorda: só energia, não tem metabolismo → acompanha o aporte, se um aumentar o outro aumenta. • 25% de gorda e 75% de magra. • Proteínas: músculos, vísceras, tecidos conjuntivos etc. • No trauma → resposta ao estresse → perda proteica. Resposta catabólica: • 30% das calorias vêm de proteínas e 50% de gorduras (normal é 95% de gordura). • Extensão da resposta varia com a gravidade. • É iniciada por elementos da lesão. • Aumenta metabolismo para promover defesa e cicatrização. Resposta neuroendócrina: • Componentes: o Neuro-humoral: catecolaminas, cortisol e glucagon. o Inflamatório: citocinas, complemento, eicosanoides, plaquetas. • Na cirurgia eletiva, geralmente, a resposta é mais localizada. Nos traumas acidentais, geralmente, são mais difusas. Ação hormonal: 3 Gustavo Urzêda Vitória • SNS ajuda a manter a PA e o tônus vascular. • Cortisol: o Aumenta paralelamente ao ACTH → aumento logo após a incisão com pico de 4-12h. o Cirurgias pequenas: pode voltar ao normal rapidamente. o Traumas: pode levar meses para diminuir. o Uso crônico de corticoide → diminui a resposta do organismo. o Estimula proteólise, gliconeogênese e impede a síntese proteica. • Catecolaminas: o Aumento acentuado e permanente por 12-24h. o Estimula glicogenólise (glicogênio dura 12-24h apenas), gliconeogênese, aumento da produção tecidual de lactato, lipólise, proteólise, inibe insulina, estimula ACTH, estimula sistema cardiovascular, faz vasoconstrição. • Glucagon: o Liberação pelas células alfa do pâncreas por estimulo simpático e hipoglicemia. o Aumento persistente até recuperação. o Estimula glicogenólise, gliconeogênese e lipólise. • Insulina: o Anabólico. o Liberado pelas células beta do pâncreas. o Inibida na fase aguda → mobiliza glicose, aminoácidos e proteínas → pode fazer hipoglicemia (observar diabéticos). • Aldosterona: o Liberada pelo córtex suprarrenal, contribui para diminuir os níveis de K+ → troca K+ e H+ por Na+ (retém esse elemento), retém água e reabsorve bicarbonato → aumenta volemia. • ADH: o Aumenta até 50 vezes e normaliza em 4 dias. o Reabsorção de água livre dos túbulos renais e vasoconstrição esplâncnica e gliconeogênese. • GH: o Aumento da glicemia, ácidos graxos, estimula lipólise, potencializa catecolaminas. o Anabólico para proteínas e catabólico para carboidratos e lipídios. • T3 e T4: o Aumento de T3 nítido no trauma. o Diminuição do T4 livre é um mau prognóstico. o Aumento do consumo de O2 e produção de calor. o Gliconeogênese, glicogenólise, proteólise e lipólise. Ação das citocinas: • Produzidas por células endoteliais no local da lesão e pelas células de defesa. 4 Gustavo Urzêda Vitória • TNF-alfa, IL-1, IL-2, IL-6, INF-gama. • Resposta inflamatória a endotoxinas e agentes microrganismos. • Sua ativação está relacionada com a gravidade da lesão. Fases da resposta: Primeiro catabólicas agudas → depois um período mais prolongado de volta ao normal → anabolismo predomina. 1. Catabólica: a. Começa no intraoperatório, com aumento de catecolaminas, vasoconstrição, diminuição da temperatura corporal → até 2-4 dias depois. b. Aumento do cortisol, glucagon e glicemia. c. Diminuição da insulina e consumo de O2. d. Pós-operatório: diminuição do lactato e piruvato, aumento do consumo de O2. e. Diminuição de eosinófilos → inibidos pelo cortisol. f. Pálido, taquipneico, sudoreico, ansioso, diminuição do peristaltismo, oligúria, anorexia, densidade urinaria aumentada. g. Reposição hidroeletrolítica abundante no pós-operatório. h. Analgesia, uso de ansiolítico, reposição de hemácias e proteínas, dieta hipercalórica, ATB e glicose. 2. Anabólica: a. Recuperação e retorno dos hormônios. b. Balanço K+, Na+ e N. c. Formação de deposito proteico. d. 2-5 semanas → período inicial proteico. e. Tardio: lipídico → reposição da gordura → até 6 meses. i. Volta do apetite intenso → orientações dietéticas. ii. Coincide com a cicatrização. iii. Diurese profusa. iv. Diminuição da tendencia a hiperglicemia. f. Refaz estoque de glicogênio. g. Recupera peso. h. Exercícios moderados → prevenção de TVP, melhora capacidade respiratória, combate dislipidemia e obesidade. Alterações imunológicas pós-trauma: • Complicações infecciosa ou inflamatória → pode evoluir para sepse, choque ou SIRS. • Ativação imediata de monócitos → mediadores pró-inflamatórios superam os anti-inflamatórios. • Possuir risco de morte. • Risco aumentado de infecção, principalmente nos grandes traumas. • Serotonina, melatonina e prolactina estimulam imunidade. • Esteroides sexuais masculinas inibem a imunidade. 5 Gustavo Urzêda Vitória - SBV: SBV: • Introdução: o A cada 5 anos as diretrizes são atualizadas → Brasil segue as recomendações americanas da American Heart Association (AHA). o Diretriz de 2010: ▪ Elos da sobrevivência: • Reconhecimento e acionamento da emergência. • Compressões torácicas. • Desfibrilação. • Chegada do suporte avançado. • Cuidados pós-parada. ▪ ABCDE: • A: Vias aéreas com controle cervical. • B: Ventilação e oxigenação adequadas. • C: Circulação com controle de hemorragia. • D: Estado neurológico. • E: Exposição com controle de temperatura. o Diretriz de 2015: ▪ CAB: • C: Compressões. • A: Vias aéreas. • B: Respiração. • Sem circulação não há necessidade de ventilar, por isso as compressões torácicas vêm primeiro. o Diretriz de 2020: 6 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Elos: o Maioria das paradas ocorre em ambiente extra-hospitalar → importância de treinar a população em geral. o Maioria das paradas ocorre por doença coronariana → fibrilação ventricular. o Relação entre tempo e as consequências geradas: ▪ 10 segundos sem batimentos: perda daconsciência. ▪ 4 minutos sem intervenção: morte neuronal. ▪ 10 minutos sem intervenção: óbito. o Desfibrilação precoce tem mais benefícios. ▪ Fases da Parada Cardíaca: • Elétrica: 0 – 5 minutos, melhor hora para chocar o paciente. • Circulatória: 5 – 10 minutos, recomenda-se no mínimo 2 minutos de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) antes de desfibrilar. • Metabólica: > 10 minutos, suporte avançado, como a técnica de indução de hipotermia, caso a RCP não tenha tido sucesso. o Morte súbita: síncope + parada cardiorrespiratória (PCR; sem pulsos, FC e movimentos respiratórios). ▪ Causas: traumas, afogamentos, engasgamentos, eletrocussão, etc. o Ritmos chocáveis: fibrilação ventricular e taquicardia ventricular sem pulso. o Ritmos não chocáveis: assistolia e atividade elétrica sem pulso (AESP). • Passos: o 1º: Garantir a segurança (sua, da equipe e do paciente). o 2º: Checar responsividade do paciente (chacoalhar e chamar). o 3º: Checar movimentos respiratórios. o 4º: Chamar ajuda/atendimento de urgência e emergência. 7 Gustavo Urzêda Vitória o 5º: Posicionar o paciente preferencialmente em uma superfície rígida. o 6º: Checar o pulso central (carotídeo ou femoral) por 5-10 segundos. o 7º: Começar as compressões torácicas. ▪ Posicionar-se lateralmente ao paciente. ▪ Pressionar a eminência hipotenar no terço inferior do esterno com a linha mamilar. ▪ Cotovelos eretos sempre → não podem ser dobrados durante a manobra. ▪ Mínimo de 100 compressões/minuto. ▪ Comprimir cerca de 5 cm de profundidade. ▪ Permita o retorno total do tórax. ▪ 30 compressões para 2 ventilações. ▪ Minimize as interrupções (máximo 10 segundos). ▪ Trocar de massageador de 2 em 2 minutos, se possível. o 8º: Ventilação: ▪ Sem dispositivos disponíveis: só compressões até chegar ajuda ou pode fazer boca-a-boca, caso se sinta suficientemente seguro para isso. ▪ Bolsa – Válvula – Máscara (AMBU): forma um anel com os dedos indicador e polegar para firmar a AMBU, com os demais faz a manobra de elevação do mento, enquanto a outra mão “bombeia” o ar ambiente. • Pode ser usado a cânula de intubação para abrir a via aérea → o tamanho da cânula ideal é correspondente a distância entre o lóbulo da orelha e a rima labial. o Insere no palato duro e gira 180° OU o Insere na mucosa jugal e gira 90°. ▪ Queda da língua é uma das principais causas de obstrução no paciente inconsciente. ▪ Expansão torácica é o parâmetro para ventilação correta e bem sucedida. o 9º: Desfibrilador: ▪ Pode ser o DEA (automático). 8 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Liga, cola as pás e conecta o cabo. ▪ Ele vai analisar o ritmo (nesse momento não se deve tocar no paciente). ▪ Caso o choque seja recomendado, todos se afastam do paciente e ele é administrado. ▪ Após o choque ou caso ele não seja recomendado, reinicia a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) imediatamente por mais 2 minutos → depois checa o pulso. ▪ Pás: paraesternal infraclavicular direita e infraxilar inframamária esquerda → se tiver marca-passo, deve-se colar a pá 8 cm do dispositivo. ▪ Bebês (> 1 ano): desfibrilador manual, se não estiver disponível, pode usar o pediátrico. ▪ Crianças (1-8 anos): desfibrilador de carga pediátrica, se não estiver disponível, pode usar o DEA. o Para cada 2 minutos pausa para o DEA analisar → continua os ciclos até o paciente retornar ou até o serviço de emergência assumir. o Assim que o paciente retornar (pulso e respiração voltam), pode posicioná-lo em decúbito lateral para evitar brocoaspiração, caso ele vomite. o OBS: Eliminação do ver, ouvir e sentir → segue o CAB. ▪ Se tem pulso é uma parada respiratória apenas → suporte ventilatório (1 ventilação a cada 5 ou 6 segundos). - Cicatrização e hemostasia: Conceitos: • Objetivos: limitar o dano tecidual e retornar a função. • Aguda: processo ordenado e em tempo hábil → resultado anatômico e estético satisfatório → 3 semanas. • Crônica: desordenada, estaciona na fase inflamatória. • Primeira intenção: mais simples → síntese da incisão → rápida epitelização e diminuição da granulação. • Segunda intenção: feridas infectadas → depende da granulação e contração → deixar cicatrizar sozinha. • Terceira intenção: infecção grosseira → debridamento → depois fecha por primeira intenção (enxerto etc.). Fases: Inflamatória: 9 Gustavo Urzêda Vitória • 1-4 dias. • Inflamatória aguda → quimiotaxia de TNF-alfa, IL-1, leucotrienos e complemento. o Primeiro: neutrófilos (PMN) → limpeza e debris celulares e fagocitose. o Segundo: monócitos → diferenciação em macrófagos → fagocitose e liberação de citocinas. o Linfócitos: contaminação importante, corpos estranhos → libera citocinas. • Hemostasia → colágeno IV e V → agregação e ativação plaquetária → libera fatores de crescimento (TGF-beta, IGF etc.). Proliferativa: • 12-14 dias. • Síntese de colágeno → TGF-beta. o Fibroplastia. • Angiogênese, tecido de granulação (deposição intensa de macrófagos → epitelização da ferida). Maturação: • Equilíbrio entre a síntese e degradação do colágeno → contração da ferida por miofibroblastos. 10 Gustavo Urzêda Vitória Fatores que interferem: Infecção: • Prolonga a fase inflamatória. Desnutrição: • Fatore deletérios: o Perda de 15-25% de peso. o Albumina < 2,0g/dL. o Diminuição da vitamina C → cofator na hidroxilação de aminoácidos da cadeia do colágeno. o Diminuição da vitamina A → diminui a ativação de monócitos. o Diminuição do zinco → diminui a epitelização. Perfusão tecidual: • Volemia adequada, hemoglobina, aporte de O2, desidratação e isquemia da sutura (pontos muito apertados) interferem. DM: • Diminuição da microcirculação → diminui a perfusão e a migração de células de defesa. Obesidade: • Necrose do tecido adiposo e diminui a perfusão. Corticoides e quimioterapia: • Interferem na fase inflamatória, síntese do colágeno e divisão celular. • Quimioterapia liberada apenas 5-7 dias de pós-operatório. Radioterapia: • Endarterite → obliteração de pequenos vasos → isquemia e trombose. Complicações: Infecção: • 1% dos pacientes. • Fatores de risco: > 50 anos, DM, obesidade, desnutrição, cirurgia de urgência. • 5º - 6º dia de pós-operatório. • Rubor, calor, drenagem de secreção purulenta. • Conduta: abrir os pontos e fazer curativos frequentes. 11 Gustavo Urzêda Vitória Hematoma: • Causas: hemostasia inadequada, comorbidades (DRC etc.), uso de drogas (AAS etc.), distúrbios da coagulação. Seroma: • Coleção de fluidos linfáticos. • Aumenta o risco de infecção. • Fatores de risco: mais descolamento de tecidos ou regiões ricas em linfáticos. • Conduta: drenagem, antibioticoterapia e curativos compressivos (evitar recidiva). Deiscência: 12 Gustavo Urzêda Vitória • Parcial ou total. • 1-3% dos procedimentos abdominais. • Fatores de risco: aumento da pressão (não cumpriu repouso corretamente). Queloide e cicatriz hipertrófica: • Síntese excessiva de colágeno → alfa-2-macroglobulina. • Asiáticos e negros. • Mais em face e MMSS. • Hipertrófica regride com o tempo e pode ocorrer em qualquer parte do corpo. • Queloide mais em excisão cirúrgica, injeção intralesional de triancinolona, betaterapia (no pré-operatório). - Pré-operatório: Reponsabilidades do cirurgião: • Estabelecer diagnóstico. • Avaliar clinicamente. • Indicar tratamento. • Explicar o procedimento cirúrgico. • Realizar o procedimento. • Cuidados até reestabelecimento da saúde. 13 Gustavo Urzêda Vitória Fases: • Pré-operatório. • Perioperatório → intraoperatório até 48h após. • Pós-operatório → 30 dias. Riscos: • Cirúrgico. • Anestésico. Preditores de morbi-mortalidade: • Idade. • Porte cirúrgico. • Condições clínicas.• Natureza da cirurgia. • Recursos disponíveis. Classificação cirúrgica: • Baixo risco. • Médio risco. • Alto risco. Avaliação de risco pré-operatório: • ASA: o 1: paciente saudável. o 2: paciente com doença sistêmica leve. o 3: paciente com doença sistêmica severa. o 4: paciente com doença sistêmica severa + risco de vida. o 5: paciente moribundo. o 6: paciente em morte cerebral → opera apenas na emergência. Etapas: Anamnese: • Doença cirúrgica atual e clínica. • Comorbidades. • Hábitos de vida. • Uso de medicamentos. • História pregressa e atual. • Alergias. • História pessoal e familiar de sangramentos anormais. • Deficiências e dependências clínicas. Exame físico: • Palidez. 14 Gustavo Urzêda Vitória • Estado nutricional. • Cicatrizes cirúrgicas. • Icterícia. • Abdome: massa, visceromegalias. • Ausculta cardíaca. • Varizes. Exames complementares: • Homens < 40 anos e mulheres < 45 anos sem alterações no pré- operatório não precisam de exames complementares. • Homens de 40-49 anos e mulheres de 45-49 anos: creatinina, glicemia de jejum e ECG. • 50-59 anos: creatinina, glicemia de jejum e ECG. • > 60 anos: creatinina, glicemia de jejum, ECG e RX de tórax. • Principais: hemograma, coagulograma, glicemia de jejum, creatinina, ECG e RX de tórax. - Pós-operatório: Conceitos: • Acréscimo do trauma cirúrgico ao pré-operatório. • Vigilância e monitorização (respiratório, hemodinâmico, diurese, balanço hídrico, temperatura, intubação nasogástrica, exame clínico e complementar). • Diagnóstico e tratamento das complicações. • Cuidados até o reestabelecimento. Fases: • Imediata: pós-anestésica até acordar. • Intermediária: até a alta. • Convalescência: da alta até o reestabelecimento. o Imediato: 24-48h. o Precoce: 3-5 dias. o Tardio: > 6 dias. Imediata: • Monitorizar, posição no leito, aquecer, prevenir e tratar vômitos e dor, observar diurese e drenos. Necessidades: • Água: 30-55 ml/kg/dia. • Glicose: o 1º dia: 100g. 15 Gustavo Urzêda Vitória o 2º dia: 150g. o 3º dia: 200g. Resposta metabólica: • Resposta simpática e neuroendócrina. • Alterações corporais. • Proteínas de fase aguda. Objetivos: • Normalizar o quadro. • Medicações básicas. • Necessidade nutricional. • Intercorrências clínicas → profilaxia (respiratória, tromboembólica, íleo, retenção urinária) ou tratamento. Balanço hídrico: • Líquidos parenterais e soluções VO. • Verificar diurese, aspiração gastrointestinal pleural, perdas insensíveis. Parâmetros: • DM: glicosúria e cetonúria. • IR: densidade urinária. • Heparinizados: tempo de coagulação. • Perda e reposição sanguínea: hematócrito. • Cardíaca: pulsos e ausculta. • Torácica: ausculta pulmonar. • Cateteres, sondas e tubos → menos tempo possível. • Medicações: equilíbrio hidroeletrolítico, equilíbrio calórico e proteico, vitaminas, antibioterapia, tratamento da dor. o Na+: 1,0-1,5 mEq/Kg/dia. o K+: 1,0 mEq/Kg/dia a partir do 2º dia, se diurese > 600ml. • Dieta o rápido possível. o Sem queixas abdominais. o Eliminando flatos. o Varia com a cirurgia e a anestesia. o 2º-5º dia geralmente surge íleo → manipulação excessiva, infecções, bridas etc. o 30-35 kcal/kg. o Enteral: 30ml/h. o Cuidado com o desnutrido grave na alimentação agressiva. o Parenteral: sem VO ou enteral por 7 dias → complicações, desnutrição grave. Complicações: 16 Gustavo Urzêda Vitória Febre: • 6h após → pelo ato operatório. • 24-48h após → atelectasia. • 3º dia → tromboflebite e ITU. • 5º-8º dia → infecção. • Mais diarreia e antibióticos → colite pseudomembranosa. Pulmonares: • 1º lugar em mortalidades. • 2º lugar em mortalidade em >60 anos. • Mais frequente em fumantes, DPOC, cirurgia de abdome superior, >60 anos, acamados. • Atelectasia, pneumonia, embolias, SARA, pneumotórax, derrame pleural. Ferida operatória: • Hematoma, seroma, infecções, deiscência/evisceração (5º-8º dia). Urinárias: • Retenção urinária, ITU, IRA. Digestivas: • Íleo, obstrução, pancreatite, fístula. • Fecaloma, colecistite, úlcera de estresse (Cushing e Curling). Cardíacas: • Arritmias e IAM. Cerebrais: • Psicose, AVE. Cuidados gerais: • Manejo das sondas, drenos e débitos. • Cuidados com feridas. • Retirar pontos no tempo correto. • Analgesia. - Infecção em cirurgia: Conceitos: 17 Gustavo Urzêda Vitória • Infecção cirúrgica é qualquer infecção que acometa pacientes cirúrgicos, que são especialmente vulneráveis. • Cirurgia cria portas de entrada para os patógenos. • Alguns pacientes cirúrgicos são naturalmente imunossuprimidos, como nos casos de trauma, queimaduras e tumores malignos. • Anestesia geral e IOT aumentam o risco de broncoaspiração e pneumonia (PNM). Fatores de risco: Hospedeiro: • Imunidade inata exerce vigilância constante dos tecidos e barreiras epiteliais, evitando que agentes agressores alcancem os tecidos abaixo das barreiras. • A invasão precisa de uma porta de entrada, que pode ser a incisão cirúrgica ou uma punção. • Estimula a ativação de uma resposta inflamatória que pode causar um aumento destrutivo e amplo dessa resposta. • Imunidades inata e adquirida são inibidas pelo cortisol. • > 65 anos é um fator de risco para desfechos desfavoráveis provenientes de infecções → senescência imune aumenta as chances de infecção nosocomial. Genética e genômica do trauma e sepse: • É controverso o papel do gênero nos quadros de infecção e sepse, mas os andrógenos são imunossupressores → homens são mais suscetíveis a PNM. • Nas infecções, a variabilidade genética pode estar relacionada com a suscetibilidade às doenças. Interações entre o hospedeiro e a terapia: • Risco de infecção pode existir como resultado da própria lesão, deficiência das defesas do hospedeiro, reanimação ou cuidado específico. • Hipotermia → vasoconstrição periférica → hipovolemia → diminui o transporte e a migração de células de defesa (imunossupressora). • Hipoxia tecidual após o trauma → predispõe a infecção da ferida operatória (oxigênio suplementar pode reduzir o risco). • Cristaloides são preferíveis para aumentar volemia por serem menos dispendiosos que os coloides. • Transfusão sanguínea: o Risco aumentado para infecções → imunossupressão por apresentação de antígenos leucocitários alterados. 18 Gustavo Urzêda Vitória o Praticamente inevitável após transfusão de 15 unidades de sangue. o Deve ser criterioso na sepse: pois a transfusão sanguínea não aumenta o elevado consumo de oxigênio na sepse grave e pode estar associado a um aumento no desenvolvimento de disfunções orgânicas. • Controle da concentração de glicose sanguínea: o Hiperglicemia diminui a função imunológica, o catabolismo e a resistência insulínica associados ao estresse cirúrgico. o Hiper moderada (>200) aumenta o risco de infecção da ferida operatória. o Infusão de insulina para manter glicemia > 110 diminui mortalidade. o Alimentação enteral precoce, dentre de 48h, talvez imediatamente se o intestino estiver funcionante, é claramente benéfica. Controle da infecção: Flora endógena é a fonte da maioria dos patógenos bacterianos → superfície da pele, vias aéreas, lúmen intestinal, cateteres e superfícies inanimadas. Precaução de contato é uma medida importante para o controle de infecção. Cuidado com cateteres: • Evitar o uso desnecessário. • Preparação adequada da pele. • Proteção com barreiras durante a inserção. • Seleção do cateter apropriado. • Curativo apropriado. • Remoção em tempo ábio. • Sempre analisar os riscos e benefícios. Infecções específicas: Sítio cirúrgico (ISC): • Tipos: o Limpo: apenas estruturas da pele e outros tecidos de partes moles. o Potencialmente contaminado: manipulação/abertura de vísceras ocas, sob circunstânciascontroladas. o Contaminado: introduz um grande inócuo de bactérias em uma cavidade corporal normalmente estéril, em uma velocidade rápida, podendo estabelecer um quadro infeccioso durante o procedimento cirúrgico. o Infectado: realizados para controlar uma infecção estabelecida. • Microbiologia da ISC depende da natureza do procedimento e local da incisão. • Patógenos mais frequentes: S. epidermidis, S. aureus, Enterococcus spp., E. coli, Klebsiella spp. 19 Gustavo Urzêda Vitória • Fatores de risco: • Drenos colocados em incisões provavelmente provocam mais infecção do que previnem. • Irrigação de alta pressão da ferida parece ser benéfica. • ATB tópicos podem minimizar a ocorrência. • Cultura não é obrigatória e o diagnóstico é clínico. • Casos mais graves podem precisar de debridamento. • Profilaxia: 20 Gustavo Urzêda Vitória Pneumonia pós-operatória: • Pacientes cirúrgicos são especialmente suscetíveis a pneumonia, principalmente se estiverem submetidos a ventilação mecânica. • PAVM: 48-72h após IOT → infecção mais comum em UTI de pacientes cirúrgicos. o Precoce: <5 dias após IOT → S. aureus, S. pneumoniae, H. influenzae. o Tardia: 5 ou mais dias após a IOT → Pseudomonas aeroginosa, Acinetobacter app. • Fatores de risco: • Prevenção: minimizar IOT e a duração da ventilação mecânica, profilaxia para úlcera de estresse e descontaminação seletivo do TGI com ATB ou antissépticos. • Alimentações enterais precoces podem aumentar o risco de PAVM. • Diagnóstico: febre, leucocitose ou leucopenia, secreção purulenta, hipoxemia, surgimento de infiltrado no RX de tórax. • Score CPIS → > 6 indica alta probabilidade de PAVM. 21 Gustavo Urzêda Vitória Bacteremia associada à cateter venoso central (IPCS-CVC): • Cateteres são propensos a infeções → cumprimento rigorosos de normas de controle e técnicas corretas de inserção e cuidado. • Avaliação diária de cateteres e locais de inserção. • Cateteres retirados devem ser enviados para cultura apenas se houver suspeita clínica de IPCS-CVC. ITU: • Bacteriúria ou candidúria associada ao cateterismo vesical geralmente representam colonização, raramente são sintomáticas e são pouco prováveis de causar febre ou infecção secundária da corrente sanguínea, a menos que exista obstrução do trato urinário ou história de manipulação urológica recente. • Amostra de urina deve ser avaliada por meio de microscopia direta, coloração de Gram e cultura quantitativa. • Piúria pode estar ausente. Intra-abdominal: • Grupo diversificado de doenças divididas em complicadas e não complicadas. • Podem ser classificadas em comunitárias e nosocomiais também. • Complicadas se estendem além do órgão de origem. • Maioria pode ser controlada de maneira eficaz, com baixa morbidade. - Antibioticoterapia em cirurgia: Princípios farmacocinéticos: • Farmacocinética envolve os princípios de absorção, distribuição, metabolismo e excreção de drogas. o Conceitos de biodisponibilidade, meia-vida e volume de distribuição dependem diretamente da farmacocinética. Profilaxia: • Prevenir infecção de sítio cirúrgico. • Se não for administrada de forma correta, pode ser ineficaz e até prejudicial. • Não previne infecções nosocomiais pós-operatórias. • Indicada para a maioria das cirurgias limpas e contaminadas, como cirurgia de via biliar de alto risco e de cólon. • Princípios: o Segurança. o Um espectro de ação adequado para a cobertura dos microrganismos envolvidos. 22 Gustavo Urzêda Vitória o Pouca ou nenhuma utilização do ATB para tratamento de infecção. o Administração dentro de 1h antes da cirurgia e por um período curto após a cirurgia (não excedente a 14h, 48h nas cirurgias cardíacas), idealmente dose única. • Parenteral: 1h antes da incisão. • ATB com meia-vida curtas (<2h) podem ser readministrados a cada 3 ou 4h. Princípios da terapia: Uso excessivo e a utilização inadequada de ATB levam a um aumento alarmante de patógenos resistentes. Avaliação de uma possível infecção: • Ausência de febre, hipotensão, taquicardia, taquipneia, confusão, rigidez, lesões cutâneas, manifestações respiratórias, oliguria, acidose lática, leucocitose, leucopenia, presença de neutrófilos imaturos circulantes (>10% de bastões) ou trombocitopenia → investigar quadro infeccioso. • Nem todos os pacientes terão febre. Hemoculturas: • Local da venopunção deve ser limpo com antisséptico → amostras de 20 a 30ml, retiradas de uma única vez em um único local. • 3 amostras são suficientes. Antibioticoterapia empírica: • Administrada criteriosamente. • Inicial com ATB direcionado de forma adequada, administrados em uma dose suficiente para assegurar a morte das bactérias, diminuindo o espectro de cobertura o mais rápido possível. Escolha do ATB: 23 Gustavo Urzêda Vitória Duração da terapia: • Indefinido. • Culturas negativas → interromper 48-72h após. • Infecção for evidente → continuar o tratamento conforme indicação clínica. 24 Gustavo Urzêda Vitória CIRURGIA PATOLOGIAS - Hérnias da parede abdominal: Embriologia e parede abdominal: • Embriologia: o Organogênese → 3º a 4º semanas. o Dobramento do embrião → tubo dentro de outro tubo. ▪ Endoderme → intestino primitivo. • Parede abdominal: o Camadas: pele → fáscia superior → músculos → fáscia transversal → gordura extraperitoneal (fáscia extraperitoneal) → peritônio. o Função: proteção dos órgãos, estabilização e rotação do tronco, alteração de pressão intra-abdominal. o Músculos da parede anterolateral: oblíquo externo, oblíquo interno, transverso, reto e piramidal. o Músculos da parede posterior: psoas maior, ilíaco, quadrado lombar e psoas menor. o Aponeurose: porção tendinosa → conjuntivo denso, responsável pela fixação dos músculos em suas inserções ósseas → sustentação e resistência. o Fáscia: conjuntivo frouxo que envolve os músculos → muitas vezes determinando compartimentos musculares. 25 Gustavo Urzêda Vitória Hérnia da parede abdominal: Saída de uma estrutura da sua localização habitual. Pode ser congênito, traumática ou adquirida. • Obrigatório que seja considerada a integridade do peritônio e da pele → sem isso é evisceração. • Peritônio se invagina → origina o saco herniário → ponto fraco ou orifício → rompe as aponeuroses dos músculos → abaulamento da pele local → saco herniário fica contido. • Acomete 5% da população mundial. • Inguinal é a mais comum. • Classificação: o Comportamento: ▪ Redutível. ▪ Irredutível. ▪ Complicada. o Etiologia: ▪ Congênita. ▪ Adquirida. ▪ Traumática. ▪ Mista. o Localização: ▪ Epigástrica. ▪ Hipogástrica. ▪ Spiegel. ▪ Umbilical. ▪ Inguinal. ▪ Diafragmática. ▪ Crural. ▪ Obturadora. ▪ Perineal. ▪ Incisional. ▪ Lombar. o Conteúdo: ▪ Alças intestinais. ▪ Divertículo de Meckel. ▪ Borda anti-mesentérica. ▪ Ovários. ▪ Epíplons. ▪ Apêndice. • Quadro clínico: o Dor mal definida, ardência, abaulamento e piora com esforço físico. o 1º episódio pode ser referido como: “rasgou algo por dentro”. • Fatores predisponentes: 26 Gustavo Urzêda Vitória o Aumento da pressão intra-abdominal. o Pontos fracos na parede. o Orifícios existentes. o Fatores intrínsecos relacionados a constituição da parede. • Complicações: o Encarceramento → se torna irredutível (aumento de volume) e sem aderências. o Estrangulamento → encarcerada com alterações vasculares. • Diagnóstico: o Exame clínico. o Exames de imagem ajudam no tratamento, mas não no diagnóstico. • Tratamento: o Sempre cirúrgico. o Pequenas e assintomáticas podem ser apenas observadas. o Identificar o saco herniário e isolar → devolver estruturas → identificar e tratar orifícios e pontos fracos. • Complicações pós operatórias: o Infecção,seroma, hematoma, deiscência, cicatriz hipertrófica, dor crônica, lesão de órgãos, recidiva (avaliar o tecido, depende de fatores pré, intra e pós-operatórios). Hérnia inguinal: • Conceito: o Protusão anormal de um órgão ou tecido através do defeito da parede circundante. o 75% de todas as hérnias abdominais. ▪ 50% indiretas. ▪ 25% diretas. o Incidência em homens é 25 vezes maior que em mulheres. o 60% a direita, 30% a esquerda e 10% bilateral. • Estruturas anatômicas: o Estruturas importantes: ligamento inguinal, anel inguinal, triângulo de Hasselback (ligamento inguinal, músculo reto abdominal e vasos epigástricos superficiais), fáscia transversalis. o Canal inguinal: ▪ Espaço virtual de mais ou menos 4 cm, entre os músculos e a aponeurose da região inguinal. ▪ Conteúdo: • Homem: funículo espermático. • Mulher: ligamento redondo do útero. ▪ Limites: 27 Gustavo Urzêda Vitória • Anterior (teto): aponeurose do músculo oblíquo interno e do transverso. • Posterior (assoalho): fáscia tranversalis e aponeurose do músculo transverso. • Inferior: ligamentos inguinal e lacunar. • Superior: aponeurose do oblíquo externo. o Funículo espermático: ▪ Conteúdo: • Ducto deferente, artéria e veia deferentes, conduto peritônio vaginal, artéria espermática externa, vasos linfáticos, ramo genital do nervo genitofemoral e músculo cremaster. • Tipos: o Indireta: ▪ Introduz o dedo indicador no anel inguinal externo → faz Valsalva → hérnia bate na ponta do dedo. o Direta: ▪ Bate na polpa (parte de baixo do dedo). ▪ Medialmente aos vasos epigástricos inferiores → abaulamento e até ruptura da fáscia transversalis. • Parede posterior do canal inguinal. ▪ Fatores predisponentes: • Triângulo de Hasselback maior e menos resistente. • Área de Hessert aumentada. 28 Gustavo Urzêda Vitória • Fisiopatologia: o Indireta: ▪ Mais comum, mais em homens, crianças e adultos jovens, ▪ Mais sintomática e associada a complicações. ▪ Lateral aos vasos epigástricos → penetra no orifício inguinal interno intrafunicular. ▪ Fator predisponente mais importante: persistência do conduto peritônio vaginal. • Persistência não significa hérnia → 90% por fator congênito e 10% por outros fatores. • Além da persistência, precisa de preenchimento e exteriorização. ▪ Fatores protetores: • Obliquidade do canal inguinal e não coincidência de seus dois anéis. • Músculos oblíquo interno e transverso em um mecanismo de pinça sobre o anel interno. o Direta: ▪ Mais em mulheres e em idades mais avançadas. ▪ Aumento da pressão intra-abdominal por: obesidade, tosse ou espirro crônicos, constipação intestinal, ascite, esforço ou exercício físico, tumores abdominais de grande volume, prostatismo (esforço miccional), gravidez e traumas. ▪ Fatores intrínsecos relacionados a constituição da parede abdominal. • Classificação: o Tipo: direta, indireta ou mista. o Redução: redutível ou irredutível (estrangulada ou encarcerada). o Conteúdo: ▪ Richter: borda anti-mesentérica. ▪ Littré: divertículo de Meckel. 29 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Amyand: apêndice. o Etiologia: congênita, adquirida, traumática, mista. • Quadro clínico: o Dor mal definida em região inguinal, em queimação ou ardência, esforço físico piora, abulamento. • Diagnóstico: o Diagnóstico é clínico: ▪ Exame físico: • Despir o paciente. • Inspeção ortostática. • Observar a região inguinal procurando abaulamentos. • Examinar o escroto, principalmente em crianças. • Palpação da região inguinal. • Manobras digitais. • Valsalva. o Diagnóstico complementar: ▪ Raro, exceções. ▪ Imagem tem baixa acurácia → USG de região inguinal com paciente em ortostase e fazendo Valsalva. TC e RM também podem. o Diagnósticos diferenciais: ▪ Abscessos, cisto do cordão espermático, criptorquidia, hematomas pós-traumáticos, hidrocele, adenomegalia inguinal, lipoma, fibroma, neurinoma, orquiepididimite, tumores locais, varicocele, tumores testiculares e paratesticulares, linfedema escrotal, flegmão. • NYHUS: Tipo I Hérnia indireta com anel inguinal profundo normal (até 2 cm). Tipo II Hérnia indireta com anel inguinal interno alargado, porém com parede posterior preservada. Tipo III Defeito na parede posterior: 30 Gustavo Urzêda Vitória - A: Direta. - B: Indireta com alargamento importante do anel interno ou destruição da parede posterior. - C: Femoral. Tipo IV Recidivada: - A: Direta. - B: Indireta. - C: Femoral. - D: Mista. • Tratamento: o Cirúrgico → mas nem sempre está indicado, sempre avaliar riscos e benefícios. o Técnica aberta ou laparoscópica ou robótica. o Herniorrafia X hernioplastia X herniotomia X inguinotomia. o Incisão cirúrgica na região inguinal: ▪ Felizet: transversa, 5-6 cm a partir do tubérculo púbico. ▪ Oblíqua: paralela ao ligamento inguinal, 8-10 cm. • A partir do tubérculo púbico em direção a crista ilíaca. o Laparoscópica: ▪ TAPP: uma incisão na cicatriz umbilical e mais duas paralelas. ▪ TEP: três incisões na mesma linha mediana. ▪ Robótica. • Complicação pós-operatória: o Infecções, seroma, hematoma, deiscência, cicatriz hipertrófica, dor crônica, lesão inadvertida a determinado órgão ou estrutura, recidiva. Hérnias ventrais: • Incisional: o Conceito e epidemiologia: ▪ Protrusão de conteúdo abdominal em um ponto fraco da parede, constituído pela cicatriz de intervenção cirúrgica anterior. ▪ Incidência maior em mulheres, 2:1. ▪ Qualquer lugar da parede abdominal. • Mais frequente na linha média infra-umbilical. • FID: apendicites complicadas. • FIE: colostomia. • HCD: intervenção nas vias biliares. ▪ 10-15% de incidência geral → diminuiu com a laparoscopia. • Infecção e inflamação aumentam a chance. ▪ Manifesta alguns meses após a cirurgia e aumenta com o tempo. 31 Gustavo Urzêda Vitória o Fatores predisponentes: ▪ Obesidade, anemia, idade avançada, infecção na ferida, hematomas e espaços mortos, distensão abdominal no pós- operatório, tosse, tipo e local da incisão. o Fatores de risco: ▪ Deiscências, estomias, drenos de longo calibre ou por tempo prolongado, fechamento imperfeito, secção de vários nervos, material inadequado, desnutrição. o Quadro clínico: ▪ Pode ser dolorosa ou não. ▪ Pode ser redutível ou não. o Diagnóstico: ▪ Clínico. ▪ TC e USG podem ser usadas para calcular o volume em alguns casos. o Tratamento: ▪ Cirúrgico, mas nem todos são elegíveis. ▪ Identificação do saco herniário → isola → trata (resseca ou reduz para a cavidade) → identifica o orifício herniário ou deficiência da parede → corrige o orifício → pode colocar prótese (tela). ▪ Técnica do professor Lázaro com ou sem tela. • Episgastricas: o Conceito e epidemiologia: ▪ Defeito da linha alba entre o apêndice xifoide e o umbigo. ▪ 3-5% da população. ▪ 3-6 vezes mais comum na população masculina. ▪ Múltiplas em 20% dos pacientes. ▪ Orifício geralmente < 0,5 cm. ▪ Encarceramento de gordura pré-peritoneal (dor desproporcional ao tamanho). ▪ Nunca fecha espontaneamente. o Etiopatogenia: ▪ Linha alba mais larga. ▪ Divergência dos músculos retos. 32 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Perfurações → nervos e vasos brotam. ▪ Orifícios maiores podem dar passagem a gordura extraperitoneal. ▪ Doenças consumptivas, gestações repetidas, avitaminoses, senilidade são fatores de risco por aumentarem a pressão intra-abdominal. o Quadro clínico: ▪ Tumoração que piora com esforço e desaparece em posição supina. o Diagnóstico: ▪ Imagem só em grandes → ajuda a definir o tratamento. ▪ Diagnóstico diferencial com lipomas. o Tratamento: ▪ Cirúrgico. • Técnica de Mayo. o Complicações pós-cirúrgicas: ▪ Infecção, seroma, hematoma, deiscência, cicatriz hipertrófica, dor crônica, lesão inadvertida de órgãosou tecidos, recidiva. Hérnia umbilical e femoral: • Umbilical: o Tipos: ▪ Congênita ou adquirida. • Adquirida na infância a maioria tem resolução espontânea até 4 anos → meninos e desnutridos. • Adultos → mulheres. ▪ Mais comum na raça negra. ▪ Estrangulamento e encarceramento são raros. o Etiopatogenia: ▪ Congênita → obliteração incompleta do anel umbilical durante o colapso dos vasos umbilicais após nascimento. ▪ Adquirida → tecido cicatricial que fecha o anel umbilical cede gradualmente. 33 Gustavo Urzêda Vitória o Fatores de risco: ▪ Múltiplas gestações, obesidade e ascite. o Quadro clínico: ▪ Tumoração e dor que pioram com esforço. ▪ Mais sintomático em crianças. o Diagnóstico: ▪ Clínico. ▪ Imagem para grandes hérnias. ▪ Diagnóstico diferencial com nódulo da Irmã Maria José. o Tratamento: ▪ Cirúrgico. ▪ Técnica de Mayo (sutura transversal) ou Blake (sutura longitudinal). o Complicações pós-cirúrgicas: ▪ Infecção, seroma, hematoma, deiscência, cicatriz hipertrófica, dor crônica, lesão inadvertida de órgãos ou tecidos, recidiva. • Femoral: o Epidemiologia: ▪ Mais em mulheres, 4:1 → anel crural mais largo. ▪ 10-60 anos. ▪ Mais do lado direito. ▪ Recidiva maior que das inguinais. ▪ Sempre adquiridas. ▪ Limites anatômicos do anel crural: • Superior: ligamento inguinal. • Medial: ligamento lacunar (de Gilbernat). • Inferior: ligamento pectíneo. • Lateral: vasos femorais. ▪ Maior tendência a estrangular. o Quadro clínico: 34 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Abaulamento abaixo do ligamento inguinal associado a dor. o Diagnóstico: ▪ Clínico. ▪ USG, TC e RM ajudam a definir o diagnóstico. ▪ Diferenciar de linfonodomegalia, aneurismas de vasos femorais. o Tratamento: ▪ Cirúrgico → técnicas de McVay, TAPP, TEP ou robótica. o Complicações pós-cirúrgicas: ▪ Infecção, seroma, hematoma, deiscência, cicatriz hipertrófica, dor crônica, lesão inadvertida de órgãos ou tecidos, recidiva. Hérnias raras: • Spiegel: o Mais na 5º década de vida e em mulheres. o Dor intermitente acima dos níveis dos vasos epigástricos inferiores na linha semilunar. o Massa palpável é rara → abaixo do oblíquo externo. o Hérnia da parede abdominal incomum que se insinua através de um defeito na linha semilunar acima dos vasos epigástricos inferiores. o Exames de imagem ajudam no diagnóstico. 35 Gustavo Urzêda Vitória • Lombares: o Trígono lombar superior (Grynfelt-Lessharft): ▪ Superior: 12º costela e borda inferior do músculo serrátil póstero-inferior. ▪ Anterior: borda posterior do oblíquo interno. ▪ Posterior: borda anterior do quadrado lombar. ▪ Assoalho: aponeurose do transverso coberto pela grande dorsal (bastante adelgaçado). o Trígono lombar inferior (Petit): ▪ Anterior: borda posterior do oblíquo externo. ▪ Posterior: borda anterior da grande dorsal. ▪ Inferior: crista ilíaca. ▪ Assoalho: oblíquo interno. o Protrusões da gordura peritoncal, retroperitoneal ou víscera. o Congênitas: bilaterais. o Adquiridas: espontâneas ou traumáticas. o Surgem mais frequentemente em: ▪ Politraumatismo (Petit). ▪ Cirurgias lombares. o Massa lombar com sintomas discretos → maioria é redutível e as complicações são raras. • Obturada: o Fraqueza da membrana obturadora → pode comprimir o nervo obturador → dor no seu trajeto (face interna da coxa). o Sinal de Howship-Romberg → extensão ou rotação externa de MMII causa dor. • Diagnóstico: o Clínico, mas exames de imagem ajudam. o Diferenciar de linfonodomegalias e aneurisma de femoral. • Tratamento: 36 Gustavo Urzêda Vitória o Cirúrgico. • Diátese do músculo reto abdominal: o Fraqueza da parede→ músculos se afastam. o Linha média: região elíptica que abaúla aos esforços. o Mais frequente em mulheres, especialmente após várias gestações. o Tratamento: abertura das bainhas e sutura longitudinal ou suplicação sem abertura das bainhas → delaminação superficial e imbricamento das lâminas. - Apendicite aguda: Epidemiologia: • Incidência de 5 a 10%, com média de 7% → 1 em cada 15 pessoas nos EUA. • Pico de incidência: 10-19 anos. • Maior incidência na população masculina, 2:1. • Possui fatores hereditários e está mais associado a raça branca. • Custo aproximado de 1,5 milhão de dólares por ano nos EUA. Anatomia e histologia: • Anatomia: o O apêndice é uma continuidade do ceco que fica na confluência das tênias. o Ligado ao ceco pela válvula de Guerlach. o Mucosa cecal secreta líquidos que entram e saem do apêndice. o Em média 9 cm de diâmetro. o Artéria que nutre o apêndice, a apendicular, se localiza na membrana do mesoapêndice e é ramo da ileocólica, ramo da mesentérica superior. o Localização: ▪ Retrocecal (mas intraperitoneal) em 60%. • Pode causar lombalgia tardiamente. • Pode ser subepática → diferenciar de colecistite. ▪ Pélvica em 30%. ▪ Retroperitoneal em 7-10%. • Histologia: o O apêndice possui abundancia de folículos linfoides na sua camada submucosa. 37 Gustavo Urzêda Vitória Etiologia e patogenia: • Etiologia: o 65% → hiperplasia folicular linfoide. o 35% → fecalitos. o 4% → corpo estranho → parasitas, sementes, bário. o 1% → tumores do ceco ou apêndice, doença de Crohn, TB. • Patogenia: o Obstrução luminal → hipertensão luminal → obstrução linfática e venosa → inflamação → edema → isquemia → gangrena → perfuração. o Uso de antibiótico: ▪ Ausência de obstrução mecânica. ▪ Regressão da hiperplasia linfoide. ▪ Ainda é pouco feito em nosso meio, apendicectomia é mais comum. Fases evolutivas: Apendicite aguda 38 Gustavo Urzêda Vitória 1. Edematosa ou catarral (2h): diminuição do retorno venoso e linfático → proliferação bacteriana → inflamação. 2. Flegmonosa ou supurativa (24h): exsudato mucopurulento e microinfiltrados purulentos na cavidade abdominal. 3. Gangrenosa (48h): comprometimento arterial → isquemia, microproliferação, lesões ulceradas e prolifereação de anaeróbios → aumento da fibrina → plastão. 4. Perfurativa (gangrenosa sem tratamento ou sem resposta ao tratamento): líquido purulento → peritonite e formação de abscessos. Classificação laparoscópica: • Grau 0: normal. • Grau I: hiperemia e edema. • Grua II: exsudato fibrinoso. • Grau III: necrose segmentar. • Grau IVa: abscesso. • Grau IVb: peritonite regional. • Grau IVc: necrose da base do apêndice. • Grau V: peritonite generalizada. Diagnóstico: Desafio clínico, pois a apresentação clássica aparece em 50-60% dos casos. Exame clínico é essencial. • História clínica: o Dor abdominal aguda. ▪ Epigástrio ou periumbilical no início, depois se localiza na fossa ilíaca direita (FID), 6-12h depois, após irritar o peritônio parietal. o Anorexia ou hiporexia. o Náuseas e vômitos. o Febre alta é um sinal de complicação. • Exame clínico: o Dor em FID. o Blumberg pode estar positivo, especialmente no ponto de McBurney. o Sinais de peristaltismo. o Massa palpável → plastão, abscesso encapsulado. o Sinais: Rovsing, obturador, psoas, Dunphy. • Score de Alvarado: Dor que migra para FID 1 Anorexia 1 Náuseas e vômitos 1 Dor a palpação em FID 1 39 Gustavo Urzêda Vitória Descompressão brusca dolorosa em FID 2 Febre 1 Leucocitose 2 o > 4: não corroboram com o diagnóstico de apendicite aguda. o 4-7: se beneficiam de investigação complementar. o > 7: indicação de tratamento cirúrgico. • Exames laboratoriais: o Leucocitose (> 12.000). o História de dor migratória para FID associado com leucocitose mostra valor preditivo positivo acima de 90%. o Sucessivas coletas de leucograma não aumenta a possibilidade de diagnóstico de apendicite e podem confundir o raciocínio clínico. • Rotina radiológica: o Sinais de apendicite na RX de abdome (em decúbito e em ortostase):▪ Fecalito em FID. ▪ Escoliose antálgica. ▪ Apagamento da sombra do psoas. ▪ Nível líquido em FID. o USG: ▪ Achados: • Apêndice com diâmetro > 6 mm. • Apêndice não compressível. • Presença de apendicolito. • Ausência de peristaltismo. • Ausência de gás no seu interior. • Alteração da gordura periapendicular. • Alteração do fluxo vascular do apêndice inflamado. ▪ IMC > 25% dificulta. ▪ Pode ser normal em quase 50% dos pacientes. ▪ Baixa acurácia. o TC (padrão ouro): ▪ Apêndice com diâmetro > 6 mm. ▪ Densificação dos planos gordurosos cecoapendiculares. ▪ Presença de apendicolito. ▪ Líquido periapendicular. ▪ Presença de ar extraluminal. ▪ Abscesso ou flegmão local. ▪ Não contrastação do apêndice no uso de contraste VO. 40 Gustavo Urzêda Vitória Diagnóstico diferencial: • Apêndice cecal: tumor carcionoide. • Ceco e cólon: CA e doença diverticular. • Hepatobiliar: colecistite aguda. • Intestino delgado: divertículo de Meckel, doença de Crohn. • Trato urinário: litíase e pielonefrite. • Útero e ovário: torção de ovário, DIP. • Outros: adenite mesentérica, peritonite primária. Tratamento: • Não perfurada: ATB profilática → cefalosporinas de 2ª geração. • Complicada: ATB conforme cobertura da flora local e cirurgia. • Antibioticoprofilaxia: o Cefalosporina de 2ª ou 3ª geração → 1g, EV de 6/6h por 2-4 doses. o Administrar primeira dose após indicação cirúrgica, ainda no pronto atendimento e completar de 2-4 doses. o Suspender após esse período em não complicadas. o 24h no máximo. 41 Gustavo Urzêda Vitória • Antibioticoterapia: o Centro cirúrgico se constata apendicite aguda complicada (perfurada / gangrenada / abscesso periapendicular / peritonite). o Colher duas amostras da secreção purulenta → uma para Gram e outra para cultura. o Esquemas: ▪ Ceftriaxona, 1g, EV, 12/12h + Metronidazol 0,5g, EV, 8/8h. ▪ Ciprofloxacino 400mg, EV, 12/12h (somente > 18 anos) + Metronidazol. ▪ Gentamicina 3-5mg/kg/dia, EV, em dose única diária em 100 ml de SF, correr em 30 minutos + Metronidazol → evitar em risco de nefropatia, idosos, desidratados, diabéticos, nefropatas. • Laparoscopia X Laparotomia: o Laparoscopia tem quase 50% menos infecções da ferida operatória, mas tem três vezes mais abscessos intra-abdominais. o Laparoscopia garante menos tempo operatório, menos dor, menor estadia hospitalar, retorno as atividades mais rápido, porém é mais onerosa. • Apendicectomia aberta: o Incisão de 4 cm no ponto de McBurney → ligadura da artéria apendicular → sutura em bolsa → sepultamento do coto apendicular. • Apendicectomia videolaparoscópica: o Anestesia geral. o 3 portais. o Ligaduras: artéria apendicular com clips e coto apendicular com grampeador linear cortante ou clips ou fio de sutura. • Considerações: o Apendicectomia incidental. o Mucocele → investigar CA. Complicações e casos especiais: • Complicações: o Fistula digestiva. o Infecção do sítio cirúrgico. o Abscesso cavitário. o Deiscência de sutura. o SIRS e sepse. • Casos especiais: o Apendicite com peritonite difusa. o Apendicite com massa. 42 Gustavo Urzêda Vitória o Apendicite na gravidez. o Apendicite crônica ou recorrente.
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