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Direito Empresarial II – Títulos de Crédito Bruno Costa bfabricio_costa@yahoo.com.br Letra de Câmbio Legislação aplicável - Decreto n. 57.663/66 – Lei Uniforme de Genebra A letra de câmbio trata-se de uma ordem de pagamento. Ao ser emitida ocorrem três situações: Sacador emite a ordem Sacado a quem a ordem é destinada Tomador beneficiário da ordem A lei autoriza que a letra possa ser sacada à ordem do próprio sacador. *Sacador e tomador como a mesma pessoa. A letra é emitida por alguém em seu próprio benefício. A Letra de Câmbio também pode ser sacada sobre o próprio sacador: Sacador e sacado a mesma pessoa. A letra é emitida pelo sacado contra ele mesmo. Por ordem e conta de terceiro: Forma mais usual. Uma pessoa (sacador) ordena que alguém (sacado) pague a outrem (tomador). Requisitos essenciais da letra de câmbio: I) a palavra “letra de câmbio” inserta no próprio texto do título. II) ordem pura e simples de pagar uma quantia determinada. Essa ordem não poderá ser condicionada. III) nome daquele que deve pagar (SACADO). IV) o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem a letra deve ser paga (TOMADOR). V) Época do pagamento > (ausência de vencimento – presume-se à vista) VI) indicação do lugar onde se deve efetuar o pagamento. VII) Indicação da data e do lugar onde a letra é passada. VIII) assinatura de quem passa a letra (sacador). O decreto 2.044/1908 estabelece que do título deve constar a assinatura de próprio punho do emitente. (Lembrem-se do analfabeto!). RIGOR CAMBIÁRIO Exceções relativas a época do pagamento, praça de pagamento e lugar da emissão. Art. 2º. O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não produzirá efeito como letra, salvo nos casos determinados nas alíneas seguintes: A letra em que se não indique a época do pagamento entende-se pagável à vista. Na falta de indicação especial, o lugar designado ao lado do nome do sacado considera-se como sendo o lugar do pagamento, e, ao mesmo tempo, o lugar do domicilio do sacado. A letra sem indicação do lugar onde foi passada considera-se como tendo-o sido no lugar designado, ao lado do nome do sacador. Não havendo qualquer definição de local ao lado, abaixo do nome do sacado ou sacador, o título deixará de ser Letra de Câmbio. Somente a época do pagamento poderá ser considerada um requisito não essencial. * Aceite * Ato pelo qual o sacado acolhe a ordem e se integra na relação cambial como o principal devedor. A princípio o sacado não tem obrigação cambial alguma, uma vez que ele não é obrigado a cumprir a ordem de pagamento emitida pelo sacador contra a sua vontade. A ausência do aceite não desnatura a função econômica do título de crédito. A figura do aceite existe na letra de câmbio e na duplicata, embora na duplicata a obrigação creditícia já exista com ou sem o aceite. O aceite se dá pela assinatura do sacado no anverso, ou no verso com identificação de que se trata de aceite, com as expressões “aceito”; “aceitamos” ou “prometo pagar”. Nesses termos o art. 25 da LUG dispõe: Art. 25. O aceite é escrito na própria letra. Exprime-se pela palavra "aceite" ou qualquer outra palavra equivalente; o aceite é assinado pelo sacado. Vale como aceite a simples assinatura do sacado aposta na parte anterior da letra. Quando se trate de uma letra pagável a certo termo de vista, ou que deva ser apresentada ao aceite dentro de um prazo determinado por estipulação especial, o aceite deve ser datado do dia em que foi dado, salvo se o portador exigir que a data seja a da apresentação. À falta de data, o portador, para conservar os seus direitos de recurso contra os endossantes e contra o sacador, deve fazer constar essa omissão por um protesto, feito em tempo útil. O aceite, na letra de câmbio é facultativo, porém irretratável. Como é facultativo, não precisa justificar a recusa do aceite. A recusa do aceite produzirá efeitos relevantes para o sacador e para o tomador, uma vez que ocorrerá o vencimento antecipado do título, podendo o tomador exigir do sacador – co-devedor do título – o seu pronto pagamento. Art. 43. O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes, sacador e outros coobrigados: - no vencimento; - se o pagamento não foi efetuado; - mesmo antes do vencimento: 1 - se houve recusa total ou parcial de aceite; 2 - nos casos de falência do sacado, quer ele tenha aceite, quer não, de suspensão de pagamentos do mesmo, ainda que não constatada por sentença, ou de ter sido promovida, sem resultado, execução dos seus bens; 3 - nos casos de falência do sacador de uma letra não aceitável. O sacado poderá aceitar o título parcialmente, através de duas formas: *Aceite-limitativo: através do qual o sacado aceita apenas parte do valor do título; *Aceite-modificativo: através do qual o sacado altera alguma condição de pagamento do título, como, por exemplo, o seu vencimento. Nesse caso também ocorrerá o vencimento antecipado do título, podendo o tomador cobrar a totalidade do crédito contra o sacador. A única diferença entre a recusa total e a recusa parcial relaciona-se com a posição assumida pelo sacado. No primeiro caso, ele não assume qualquer obrigação cambial. No segundo caso, ele se vincula ao pagamento do título nos termos do aceite: Art. 26. O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma parte da importância sacada. Qualquer outra modificação introduzida pelo aceite no enunciado da letra equivale a uma recusa de aceite. O aceitante fica, todavia, obrigado nos termos do seu aceite. Portanto, ao emitir uma letra de câmbio, por exemplo, o sacador corre o risco de ter que honrá-la antes do seu vencimento, o que ocorre quando o sacado não aceita a letra, total ou parcialmente. Letra de câmbio não aceitável - impõe ao tomador a obrigação de só procurar o sacado para o aceite na data do vencimento. Assim não será possível ao sacado recusar o aceite e, portanto, não haverá o vencimento antecipado do título. Essa proibição do aceite deverá ser dada no próprio título. Nesse caso se o sacado se recusar a pagar, não ocorrerá vencimento antecipado da letra, uma vez que aquele dia já é a data do vencimento do título. Estabelecendo isso, o sacador não será surpreendido com o vencimento antecipado do título. *Essa modalidade não é válida para letra de câmbio com vencimento a certo termo de vista. Fixação de prazo para aceite: O sacador estipula uma data certa a partir da qual o título poderá ser levado a aceite. Antes da data é vedada a apresentação do título para aceite do sacado. Aceite por intervenção – Uma pessoa, indicada ou não para aceitar o título, aceita a letra de câmbio para evitar o seu protesto e honrar o nome de alguém já obrigado no título. Intervenção indicada: uma pessoa é indicada para, em caso de necessidade, aceitar o título, o que deve constar na própria letra. O indicado pode aceitar ou não! Se aceitar, o tomador somente poderá cobrar o título no vencimento. Intervenção voluntária: O interveniente pode ser um terceiro ou pessoa já obrigada no título. O portador pode recusar o aceite por intervenção voluntária. Se, porém, o admitir, perde o direito de ação antes do vencimento contra aquele por quem a aceitação foi dada e contra os signatários subsequentes. Essa modalidade é realizada para honrar o nome de alguém já obrigado no título. Cancelamento do Aceite: Se o sacado antes da restituição da letra, riscar o aceite que tiver dado, tal aceite é considerado como recusado. Salvo prova em contrário, a anulação do aceite considera- se feita antes da restituição da letra. As letras a certo termo de vista deverão ser apresentadas para aceite em até um ano de sua emissão (admite disposição em contrário pelo sacador). Nota Promissória Requisitos Essenciais: a palavra “nota promissória” inserta no próprio texto do título. promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada. Época do pagamento indicação do lugar onde se deve efetuar o pagamento. Nome dobeneficiário Indicação da data e do lugar onde a nota é passada. assinatura do emitente. Na NP serão aplicados os mesmos institutos da letra de câmbio, exceto aceite. Art. 77 da LUG – (endosso, aval, vencimento, pagamento, juros etc...) O subscritor da nota promissória é responsável da mesma forma que o aceitante de uma letra (devedor principal). O aval em branco, na nota promissória, considera-se dado ao subscritor (art. 77 da LUG) Art. 78 da LUG – Existência de NP com vencimento a certo termo de vista Art. 78 - O subscritor de uma nota promissória é responsável da mesma forma que o aceitante de uma letra. As notas promissórias pagáveis a certo termo de vista devem ser presentes ao visto dos subscritores nos prazos fixados no artigo 23. O termo de vista conta-se da data do visto dado pelo subscritor. A recusa do subscritor a dar o seu visto é comprovada por um protesto (artigo 25), cuja data serve de início ao termo de vista. O termo de vista conta-se da data do visto dado pelo subscritor. O portador da cambial tem o prazo de um ano (art.23 LUG) a contar da data da emissão da NP para apresentá-la ao visto do emitente. Dado o visto, começa a fluir o prazo mencionado no título para vencimento. Se o visto for negado pelo emitente, caberá protesto para fixação da data de vencimento. Não haverá vencimento antecipado pela recusa do visto. VINCULAÇÃO DA NOTA PROMISSÓRIA A CONTRATO A vinculação da nota promissória a um determinado contrato deve constar do próprio título. O título poderá circular, mas o terceiro ao recebê-lo por endosso terá conhecimento da relação contratual a qual o título está atrelado. Poderá, portanto, haver oposição de exceções ao beneficiário em razão da relação que deu origem à nota. A nota, em princípio, não perde a sua executividade. (Resp nº 259.819 – STJ) Nesse caso, os princípios da autonomia e abstração são relativizados. Se o contrato firmado retirar a liquidez da NP, ela perderá sua executividade. Nota promissória vinculada a contrato de mutuo não perde a sua executividade. NP vinculada a contrato de abertura de crédito perde sua liquidez e não pode ser executada. Ocorre a desnaturação da natureza cambial da nota, já que a nota é emitida como garantia de contrato e não como promessa de pagamento. Súmula nº 258 STJ: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou. Súmula nº 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-corrente, não é título executivo. Súmula nº 247 do STJ: O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória. Solução para os Bancos: Lei nº 10.931/2004 – Criação da Cédula de Crédito Bancário. Proibição da cláusula mandato: Súmula nº 60 do STJ: É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste. No caso de inadimplemento do contrato, o Banco ou empresa coligada emitia um título (NP) em seu próprio favor. DIREITO BANCÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO VINCULADA A CONTRATO DE CRÉDITO ROTATIVO. EXEQUIBILIDADE. LEI N. 10.931/2004. POSSIBILIDADE DE QUESTIONAMENTO ACERCA DO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS RELATIVOS AOS DEMONSTRATIVOS DA DÍVIDA. INCISOS I E II DO § 2º DO ART. 28 DA LEI REGENTE. 1. Para fins do art. 543-C do CPC: A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial, representativo de operações de crédito de qualquer natureza, circunstância que autoriza sua emissão para documentar a abertura de crédito em conta-corrente, nas modalidades de crédito rotativo ou cheque especial. O título de crédito deve vir acompanhado de claro demonstrativo acerca dos valores utilizados pelo cliente, trazendo o diploma legal, de maneira taxativa, a relação de exigências que o credor deverá cumprir, de modo a conferir liquidez e exequibilidade à Cédula (art. 28, § 2º, incisos I e II, da Lei n. 10.931/2004). 3. No caso concreto, recurso especial não provido. (REsp 1291575/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/08/2013, DJe 02/09/2013) AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.LEGITIMIDADE PASSIVA. REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULAS 5 E 7/STJ. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. CERTEZA, LIQUIDEZ E EXIGIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO DESPROVIDO. 1. A alteração do entendimento sedimentado na instância ordinária acerca da legitimidade ad causam só é possível, no caso dos autos, mediante o revolvimento dos elementos de fatos e provas e da interpretação de cláusulas contratuais, o que esbarra nos óbices das Súmulas 5 e 7 do STJ. 2. A jurisprudência deste Tribunal Superior, sedimentada no julgamento do Recurso Especial n. 1.291.575/PR, submetido ao rito do art. 543-C do CPC/73 (recurso repetitivo), dispõe no sentido de que a cédula de crédito bancário é título executivo extrajudicial, representativo de operações de crédito de qualquer natureza, circunstância que autoriza sua emissão para documentar a abertura de crédito em conta-corrente, nas modalidades de crédito rotativo ou cheque especial. Súmula 83/STJ. 3. Agravo interno desprovido. (AgInt no AREsp 882.537/SC, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/08/2016, DJe 29/08/2016) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. EMBARGOS DO DEVEDOR. EXIGIBILIDADE, CERTEZA E LIQUIDEZ DO DO TÍTULO COMPROVADAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7 DO STJ. DECISÃO MANTIDA. 1. A Lei n. 10.931/2004 não permite a utilização da Cédula de Crédito Bancário como mera roupagem do antigo contrato de abertura de crédito, como se a simples nomenclatura diversa lhe conferisse força executiva. Ao reverso, o novo título de crédito, para ostentar exequibilidade, deve vir acompanhado de claro demonstrativo acerca dos valores utilizados pelo cliente, trazendo o novo diploma legal uma série de exigências para conferir liquidez e exequibilidade à Cédula 2. No caso ora exame, o Tribunal de origem decidiu de acordo com o entendimento jurisprudencial desta Corte, firmado pela SEGUNDA SEÇÃO no julgamento do REsp 1291575/PR, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC. 3. O acolhimento da pretensão recursal demandaria a alteração das premissas fático-probatórias estabelecidas pelo acórdão recorrido, com o revolvimento das provas carreadas aos autos, o que é vedado em sede de recurso especial, nos termos do enunciado da Súmula 7 do STJ. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 362.754/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 06/05/2014, DJe 12/05/2014)
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