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2015 Dermatologia Prof.ª Dayane Cristine Vieira Prof.ª Deise Beppler Bento Copyright © UNIASSELVI 2015 Elaboração: Prof.ª Dayane Cristine Vieira Prof.ª Deise Beppler Bento Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 610 V657d Vieira, Dayane Cristine Dermatologia/ Dayane Cristine Vieira, Deise Beppler Bento Indaial : Uniasselvi, 2015. 185 p. : il ISBN 978-85-7830-873-5 1. Medicina e saúde I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. III apresentação Prezado(a) Acadêmico(a)! Seja Bem-Vindo(a) à disciplina de Dermatologia! A Dermatologia está intimamente ligada à estética e imagem corporal. Saber identificar e tratar as disfunções estéticas existentes é de grande importância, pois atualmente este ramo ganhou sentido de “qualidade de vida” onde é utilizado não somente como uma opção, mas como essencial ao cotidiano de muitas pessoas, pelos seus diversos benefícios proporcionados. Com o grande crescimento do ramo atual de estética há a necessidade também da formação de mão de obra qualificada, ou seja, hoje em dia muitos profissionais que atuam na área não possuem conhecimento profundo acerca dos tratamentos disponibilizados pelos próprios, o que é um grande risco para o cliente, pois além de ter que se submeter a um tratamento contínuo, muitas vezes estes tratamentos não são corretamente efetuados e podem gerar risco de morte. A disciplina de Dermatologia tem função de embasar teoricamente todos os processos anatomofisiológicos que ocorrem em nosso organismo, e consequentemente auxiliar o estudante na construção do seu conhecimento, para que aplique de forma ética e coerente os seus tratamentos. Na primeira unidade deste caderno você, acadêmico, terá uma breve introdução ao estudo da dermatologia onde, aprenderá sobre as principais estruturas, funções e composição do tecido epitelial, além do seu funcionamento fisiológico como também de todas as partes envolvidas no processo de metabolismo. Já na segunda unidade deste caderno de estudos você aprenderá a identificar, reconhecer e classificar as mais variadas alterações anatomofisiológicos da pele através dos processos de avaliação e anamnese, que são essenciais para indicação de um tratamento correto para o biotipo e objetivo do cliente. Na última e terceira unidade serão apresentadas algumas patologias e disfunções estéticas que são maior alvo de procura de tratamento nos dias atuais, serão apresentadas, inclusive, suas origens como também suas manifestações no tecido que atingem. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! É importante que você, acadêmico, esteja atento a todas as informações contidas neste caderno de estudo, que são de fundamental importância para seu crescimento e aprimoramento profissional, mas que somente isso não lhe valha de informação, portanto busque conhecimento de todas as formas sempre que puder, este diferencial é o que o tornará um profissional de sucesso! Bons estudos! Prof.ª Deise Beppler Bento NOTA V VI VII UNIDADE 1 – DERMATOLOGIA ....................................................................................................... 1 TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À DERMATOLOGIA......................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 O CONCEITO DE DERMATOLOGIA ............................................................................................. 3 3 ESTRUTURA GERAL DA PELE ........................................................................................................ 5 3.1 EPIDERME ........................................................................................................................................ 6 3.2 DERME .............................................................................................................................................. 8 3.3 HIPODERME .................................................................................................................................... 9 4 FUNÇÕES DO TECIDO EPITELIAL ................................................................................................ 9 4.1 FUNÇÃO DE PROTEÇÃO ............................................................................................................. 10 4.2 FUNÇÃO DE REGULAÇÃO TÉRMICA ...................................................................................... 10 4.3 FUNÇÃO IMUNITÁRIA ................................................................................................................ 10 4.4 FUNÇÃO METABÓLICA ............................................................................................................... 11 4.5 FUNÇÃO SENSORIAL ................................................................................................................... 11 5 COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA PELE............................................................................................... 12 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 13 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 14 TÓPICO 2 –ANEXOS CUTÂNEOS ...................................................................................................... 15 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15 2 GLÂNDULAS SUDORÍPARAS ......................................................................................................... 15 3 ESTRUTURA E FUNÇÃO: NERVOS, VASOS SANGUÍNEOS E LINFÁTICOS .................... 17 3.1 NERVOS ............................................................................................................................................ 17 3.2 VASOS SANGUÍNEOS ................................................................................................................... 20 3.3 VASOS LINFÁTICOS ...................................................................................................................... 20 4 FOLÍCULO PILOSO .............................................................................................................................21 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 25 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 34 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 36 TÓPICO 3 – FISIOLOGIA DO TECIDO EPITELIAL ....................................................................... 37 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 37 2 FISIOLOGIA DA DERME .................................................................................................................. 37 2.1 RENOVAÇÃO DA PELE ............................................................................................................... 37 2.2 MANTO HIDROLIPÍDICO ............................................................................................................ 38 2.3 PERMEAÇÃO CUTÂNEA ............................................................................................................. 38 2.4 A MATRIZ EXTRACELULAR ....................................................................................................... 39 3 FUNÇÕES FUNDAMENTAIS DO TECIDO EPITELIAL............................................................. 41 4 FLORA BACTERIANA ........................................................................................................................ 42 4.1 FLORA FÚNGICA ........................................................................................................................... 43 4.2 VARIAÇÕES DA FLORA CUTÂNEA .......................................................................................... 43 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 45 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 53 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 55 sumário VIII UNIDADE 2 – DERMATOLOGIA ....................................................................................................... 57 TÓPICO 1 –TIPOS DE PELE: AVALIAÇÃO E ANAMNESE .......................................................... 59 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 59 2 TEORIA DA AVALIAÇÃO ................................................................................................................. 59 3 ANAMNESE........................................................................................................................................... 60 3.1 A ORGANIZAÇÃO DAS AÇÕES EM ESTÉTICA ...................................................................... 62 4 CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE PELE ........................................................................................ 66 4.1 CARACTERÍSTICAS DOS TIPOS DE PELE ................................................................................ 68 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 70 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 82 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 83 TÓPICO 2 – CLASSIFICAÇÃO DA MELANINA E FOTOTIPOS ................................................ 85 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 85 2 SÍNTESE DA MELANINA.................................................................................................................. 85 3 CLASSIFICAÇÕES DA MELANINA ............................................................................................... 86 4 RAIOS ULTRAVIOLETA .................................................................................................................... 87 5 FOTOTIPOS........................................................................................................................................... 88 5.1 CONCEITO DE FOTOTIPOS ......................................................................................................... 88 5.2 CLASSIFICAÇÃO DE FOTOTIPO ................................................................................................ 89 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 91 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 93 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 94 TÓPICO 3 – ENVELHECIMENTO CUTÂNEO ................................................................................. 95 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 95 2 TEORIA DO ENVELHECIMENTO .................................................................................................. 95 2.1 ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS E FUNCIONAIS DO ENVELHECIMENTO ................... 97 2.2 CRONOBIOATIVIDADE ................................................................................................................ 97 2.3 O RELÓGIO DA BELEZA .............................................................................................................. 97 2.4 CAUSAS DO ENVELHECIMENTO CUTÂNEO ........................................................................ 99 2.5 ALTERAÇÕES CUTÂNEAS E DE SEUS ANEXOS .................................................................... 101 3 TIPOS DE ENVELHECIMENTO ....................................................................................................... 105 4 GRAUS DE ENVELHECIMENTO .................................................................................................... 106 5 CLASSIFICAÇÃO DE RUGAS E LINHAS DE EXPRESSÃO ..................................................... 107 5.1 RUGAS .............................................................................................................................................. 108 5.2 SULCOS FACIAIS ............................................................................................................................ 112 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 114 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 116 UNIDADE 3 – DERMATOLOGIA ....................................................................................................... 117 TÓPICO 1 – PATOLOGIAS E ALTERAÇÕES CUTÂNEAS ........................................................... 119 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 119 2 DERMATITE .......................................................................................................................................... 119 2.1 SINAIS ............................................................................................................................................... 120 2.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ...............................................................................................120 3 PSORÍASE .............................................................................................................................................. 120 3.1 SINAIS ............................................................................................................................................... 120 3.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ............................................................................................... 121 4 ACNE ....................................................................................................................................................... 121 IX 4.1 GRAUS .............................................................................................................................................. 121 4.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ............................................................................................... 123 5 ROSÁCEA ............................................................................................................................................. 123 5.1 CARACTERÍSTICAS ...................................................................................................................... 123 5.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO .............................................................................................. 123 6 RUGAS ................................................................................................................................................... 124 6.1 CARACTERÍSTICAS ...................................................................................................................... 124 6.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ............................................................................................... 126 7 OLHEIRAS ............................................................................................................................................. 126 7.1 CLASSIFICAÇÃO ............................................................................................................................ 126 7.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ............................................................................................... 126 8 LESÕES CUTÂNEAS ........................................................................................................................... 127 8.1 MÁCULA OU MANCHA .............................................................................................................. 127 8.2 ERITEMA .......................................................................................................................................... 127 8.3 CIANOSE .......................................................................................................................................... 127 8.4 TELEANGIECTASIA ....................................................................................................................... 128 8.5 EQUIMOSE ....................................................................................................................................... 128 8.6 HEMATOMA .................................................................................................................................... 129 8.7 EFÉLIDE ............................................................................................................................................ 129 8.8 FITOFOTOMELANOSE.................................................................................................................. 129 8.9 NEVO VASCULAR .......................................................................................................................... 129 8.10 CLOASMA ...................................................................................................................................... 129 8.11 MANCHA SENIL .......................................................................................................................... 130 8.12 VITILIGO ........................................................................................................................................ 130 8.13 MICOSE ........................................................................................................................................... 131 8.14 CÂNCER DE PELE ........................................................................................................................ 131 8.15 LEUCODERMIA ............................................................................................................................ 133 8.16 NEVO MELANOCÍTICO ............................................................................................................. 133 8.17 PINTA .............................................................................................................................................. 134 8.18 COMEDÃO ..................................................................................................................................... 134 8.19 PÁPULA .......................................................................................................................................... 134 8.20 NÓDULO ........................................................................................................................................ 134 8.21 CISTO ............................................................................................................................................... 134 8.22 MÍLIO .............................................................................................................................................. 135 8.23 PÚSTULA ........................................................................................................................................ 135 8.24 VESÍCULA ...................................................................................................................................... 135 8.25 BOLHA ............................................................................................................................................ 135 8.26 FOLICULITE ................................................................................................................................... 135 8.27 ABCESSO ........................................................................................................................................ 135 8.28 ICTIOSE ........................................................................................................................................... 136 8.29 XANTELASMA .............................................................................................................................. 136 8.30 XERODERMIA ............................................................................................................................... 136 8.31 ELASTOSE SOLAR ........................................................................................................................ 136 8.32 DERMATOSE PAPULOSA NIGRA ............................................................................................ 137 8.33 SERINGOMA ................................................................................................................................. 137 8.34 VERRUGA ...................................................................................................................................... 137 8.35 FIBROSE .......................................................................................................................................... 137 8.36 QUERATOSE PILAR ..................................................................................................................... 138 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 139 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 142 TÓPICO2 – DISFUNÇÕES ESTÉTICAS CORPORAIS .................................................................. 143 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 143 X 2 OBESIDADE E ADIPOSIDADE ........................................................................................................ 143 3 GORDURA LOCALIZADA ................................................................................................................ 152 4 FLACIDEZ .............................................................................................................................................. 154 4.1 FLACIDEZ MUSCULAR ................................................................................................................ 155 4.2 FLACIDEZ CUTÂNEA ................................................................................................................... 156 4.3 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO ................................................................................................... 156 5 LIPODISTROFIA GINOIDE .............................................................................................................. 157 5.1 DEFINIÇÃO E FISIOPATOLOGIA ............................................................................................... 158 5.1.1 Teste da preensão .................................................................................................................... 158 5.1.2 Teste da casca de laranja ........................................................................................................ 158 5.2 GRAUS .............................................................................................................................................. 158 6 CICATRIZES .......................................................................................................................................... 160 6.1 ORIGENS E TIPOS .......................................................................................................................... 160 6.1.1 Cicatriz Normal ....................................................................................................................... 160 6.1.2 Cicatrizes Patológicas e Inestéticas ...................................................................................... 161 6.2 FATORES QUE INFLUENCIAM NA CICATRIZ ....................................................................... 165 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 167 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 176 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 177 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 179 1 UNIDADE 1 DERMATOLOGIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • definir o conceito de Dermatologia, verificando sua importância para o estudo em estética; • conhecer a anatomia, histologia e fisiologia da pele; • identificar quais são os tipos anexos cutâneos presentes na pele e suas fun- ções; • reconhecer algumas patologias relacionadas à pele, como também o diag- nóstico e tratamento delas. Esta unidade está dividida em três tópicos, sendo que, no final de cada um deles, você encontrará atividades que o (a) ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À DERMATOLOGIA TÓPICO 2 – ANEXOS CUTÂNEOS TÓPICO 3 – FISIOLOGIA DO TECIDO EPITELIAL 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À DERMATOLOGIA 1 INTRODUÇÃO Neste primeiro tópico, você verá assuntos relacionados à base da dermatologia estética, desde a sua origem até os processos que envolvem o estudo e a aplicação da dermatologia em nosso meio. Em seguida, verá quais são as estruturas principais que compõem a pele, suas funções, como também seu papel anatômico e fisiológico perante o estudo da dermatologia estética. Serão descritas as principais funções do tecido cutâneo, como também destacados os tipos celulares que contribuem para o funcionamento fragmentado e dinâmico do tecido epitelial. Por fim, verificaremos qual a composição química da pele, nomeando e descrevendo diversas substâncias fundamentais para o crescimento, diferenciação e manutenção do tecido cutâneo. 2 O CONCEITO DE DERMATOLOGIA Originalmente, a tradução para a palavra dermatologia significa “o estudo da pele”. Este conceito básico deriva do grego. De acordo com o Dicionário Aurélio (2014), trata-se de um ramo da ciência médica que discursa acerca do diagnóstico e tratamento das doenças que afetam a pele. Podemos entender também que a dermatologia envolve o estudo anatomofisiológico de todos os processos que acontecem nos tecidos cutâneos, sejam estes tanto superficiais como intermediários e profundos. É de grande importância, inclusive, que se realize uma revisão histórica sobre os acontecimentos e estudos que levaram à construção da dermatologia atual. Investigar os processos históricos de formação desta área de conhecimento é de suma necessidade para agregar valor ao processo de atuação profissional. Sabe-se que, desde Hipócrates (430-37 a. C.), já se fazia referência às doenças da pele. Entretanto, a criação da verdadeira dermatologia iniciou-se no final do século XVIII e, finalmente, chegou a estádio superior no século XX. Três países - França, Inglaterra e Áustria - foram o berço da Dermatologia. UNIDADE 1 | DERMATOLOGIA 4 O primeiro livro sobre Dermatologia, Doctrina de Morbis cutaneis, deve-se a Plenck, publicado em 1776 na Áustria. Os franceses desconheciam essa obra e julgaram, durante muito tempo, que o primeiro livro seria o Tractatus de Morbis Cutaneis, 1777, de Anne-Charles Lorry. Trata-se de um verdadeiro tratado, com 640 páginas, que visava simplificar o problema de modo a permitir que jovens médicos conhecessem, de maneira mais exata, as doenças dermatológicas. Lorry dividiu seu livro em duas partes: na primeira, estudou anatomia, fisiologia e patologia da pele, e, além disso, procurou investigar a etiologia das doenças cutâneas, negando a etiologia humoral e chamando atenção para as causas externas, cáusticas e parasitárias; é ainda nesse capítulo que ressalta seis tipos de manifestações cutâneas: pústulas simples, pústulas contendo um humor estranho, úlceras, tumores, manchas e escamas. No segundo capítulo do livro, distingue dois tipos de dermatoses: as que são internas e vêm, posteriormente, localizar-se na pele, e as que nascem na própria pele; estuda ainda os efeitos tóxicos, os tumores e doenças do couro cabeludo, ou seja, as alopecias, as doenças próprias da face e as das extremidades. Vinte e um anos após a obra de Lorry surge a Dermatologia em Londres, com Robert Willan, que desenvolve um importante trabalho sobre as doenças da pele e as classifica segundo as "lesões elementares", termo esse criado por seu discípulo Thomas Bateman. Outro inglês, Daniel Turner (1667-1741), também foi um dos pioneiros em Dermatologia e, além disso, introduziu a nomenclatura greco-latina para designar as dermatoses. Merece ser citado o francês Jean-Louis Alibert, que trabalhou no Hospital Saint-Louis. Alibert, que era barão, expõe sua classificação baseada em raízes gregas, conforme o modelo botânico de Bernard de Junieu, que levou à instituição da "Árvore das Dermatoses". Em Londres, surge ainda o dermatologista Erasmus Wilson, que realiza uma nova classificação baseada em aspectos morfológicos, anatomopatológicos e etiológicos. Na metade do século XIX, surge, em Viena, o extraordinário Ferdinando Hebra, que fundou a melhor escola de Dermatologia do mundo daquela época,mantendo-se por 50 anos, durante os quais despertou a atenção de colegas de várias partes do mundo que lá estagiaram. FONTE: Adaptado de: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0365- 05962003000500012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 29 out. 2014. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À DERMATOLOGIA 5 A partir desde momento na história, a dermatologia tomou grande espaço em várias partes do mundo. Até hoje é uma das especialidades mais estudadas e procuradas por diversos estudiosos e profissionais que buscam aperfeiçoamento pessoal e conhecimento acerca dos processos patológicos que afetam a pele como um todo. DICAS Para complementar este estudo inicial, você pode conferir o livro “Dermatologia”, da Editora Gen, escrito por Rubem David Azulay. 3 ESTRUTURA GERAL DA PELE De acordo com Silva (2013), a pele é o manto de revestimento do organismo, indispensável à vida e que isola os componentes orgânicos do meio exterior. A pele é o maior órgão de todo nosso corpo, e também o que está mais exposto ao ambiente sob todas as formas. Este órgão sofre todos os dias com fatores químicos, físicos e biológicos, que agem sob toda sua superfície. O tecido epitelial constitui-se em uma complexa estrutura de várias naturezas relacionadas e dispostas de modo a se adaptar às alterações exteriores, como também a desempenhar suas funções orgânicas básicas. A pele compõe-se, essencialmente, de três camadas grandes de tecidos: uma camada superficial, a epiderme; uma camada intermediária, a derme; e uma camada profunda, a hipoderme ou tecido celular subcutâneo (SILVA, 2013). Geralmente, em média, a pele representa de 10% a 15% do peso corporal. Sob toda a sua extensão, ela possui uma variedade de alterações anatômicas. Em determinadas regiões, se apresenta extremamente fina e sensível, como na face e no colo, e em outras regiões apresenta-se de forma mais rígida e “grossa”, no caso de extremidades, como cotovelos e joelhos. A partir de agora veremos quais são as diferenças estruturais e as características que diferenciam as três divisões do tecido epitelial. UNIDADE 1 | DERMATOLOGIA 6 3.1 EPIDERME Na figura abaixo (FIGURA 1), poderemos distinguir quais são as principais partes da epiderme. FIGURA 1 – COMPOSIÇÃO ESTRUTURAL DA EPIDERME FONTE: Silva (2013, p. 3) O stratum corneum (camada córnea) é a mais superficial, sendo composta de cerca de 25 a 30 camadas de queratinócitos achatados e mortos, que descamam continuamente, sendo substituídas por células dos extratos mais profundos. O alto conteúdo lipídico forma uma barreira para retenção de água e resistência. Esta camada fornece 98% de habilidade de retenção de água da epiderme. A membrana plasmática se torna grossa devido à deposição e ligação cruzada de proteínas, como a involucrina, ao longo da superfície interna para formar o envelope córneo. Estas células não possuem núcleo e outras organelas, mas possuem inúmeros filamentos de queratina. O stratum lucidum (camada lúcida) é de 3 a 5 camadas de queratinócitos mortos, translúcidos e achatados, contendo grande quantidade de queratina; está presente apenas em áreas de maior fricção, como palmas das mãos e planta dos pés. Faz parte da camada córnea espessa (pele grossa). O stratum granulosum (camada granular) é caracterizada pela presença de grânulos de queratohialina entre os filamentos de queratina; consiste em 3 a 5 camadas de queratinócitos achatados. Esta é a camada mais superficial em que as células ainda possuem núcleo. No entanto, é nesta camada que é dado início a apoptose (morte geneticamente programada), onde os núcleos se fragmentam e começam a degenerar junto a outras organelas desta célula. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À DERMATOLOGIA 7 O stratum spinosum (camada espinhosa) é a camada mais grossa da epiderme, composta de oito a dez camadas de queratinócitos poliédricos, tornando-se levemente achatadas. As células nesta camada chegam por migração da camada basal, perdendo sua adesão à lâmina basal e se aderindo a outros queranócitos. O stratum basale (camada basal) é a camada mais profunda e fica logo acima da derme, sendo composta de uma única camada de células cubóides. É a camada com a maior atividade mitótica, contendo nela algumas células-tronco que sofrem mitose para produzir novos queratinócitos. As camadas de células basais se ligam à basement membrane (lâmina basal). FONTE: Silva (2013, p. 4) Os queratinócitos são células que possuem alta concentração de queratina, que é uma proteína que tem função de proteção química, física e biológica. À medida que as células da epiderme aumentam de camada, tornam-se cada vez mais queratinizadas, uma vez que são mais expostas; ao chegar à última camada, geralmente se desprendem do tecido, dando continuidade à renovação celular no local. As células de Langerhans são grandes unidades celulares dendríticas, com capacidade de proteção imunológica do tecido. São responsáveis pela apresentação de antígenos (agentes infecciosos) para o sistema imunitário. As células de Merkel são receptores neurais, sensíveis a estímulos. Estas células são mais encontradas na pele da mão e dos dedos, como também nos lábios. A estrutura que detecta a sensação do tato é chamada de disco tátil de Merkel. Os melanócitos são células que produzem a melanina, que é uma substância responsável, principalmente, pela coloração da pele e pela fotoproteção. A melanina é produzida pelos melanossomos e passa para os queratinócitos por um sistema ainda não muito bem esclarecido. ESTUDOS FU TUROS Veremos, nas próximas unidades, um pouco mais sobre o processo de melanogênese e função da melanina, buscando identificar as características dos fototipos presentes em nossa população. UNIDADE 1 | DERMATOLOGIA 8 3.2 DERME Agora podemos ver também na figura logo abaixo (FIGURA 02) a estruturação da derme. FIGURA 2 – COMPOSIÇÃO ESTRUTURAL DA DERME FONTE: Disponível em: <http://www.dermatofuncional.pt/derme>. Acesso em: 28 out. 2014 A derme é uma camada mais complexa do que a epiderme, pois é um tecido de conecção, que é composto de fibras do tecido conjuntivo; sua superfície é densa e em sua maioria possui irregularidades. Na derme se encontram fibras de grande importância estrutural, como o colágeno e a elastina, além dos glicosaminoglicanos, que têm como função principal a manutenção da hidratação cutânea. Contém também em sua composição estruturas musculares, alguns neurônios, fibroblastos, que são responsáveis pela produção das fibras antes citadas e possuem tecido vascular bem desenvolvido. As células numerosas da derme são os fibrócitos, que sob a ação de um estímulo se diferenciam e sintetizam fibras colágenas (conferem resistência), elásticas (conferem elasticidade) e reticulares (dão suporte às glândulas) (DERMATO FUNCIONAL, 2014). De acordo com Silva (2013, p. 7), a derme contém duas camadas: a camada papilar e a camada reticular. A camada papilar é mais delgada, constituída por tecido conjuntivo frouxo. A camada reticular é mais espessa, constituída por tecido conjuntivo denso. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À DERMATOLOGIA 9 Derme Superficial ou Papilar: Forma cerca de 1/5 da espessura total da camada. Constituído por tecido conjuntivo areolar (tipo de tecido conjuntivo frouxo que ocupa os interespaços do organismo) com fibras elásticas. A área de contato com a epiderme é aumentada por pequenas projeções digitiformes chamadas de Papilas Dérmicas: (do latim, papilla = mamilo) que penetram na epiderme. Algumas delas contem vasos capilares. Outras contem receptores táteis chamados corpúsculos do tato ou Corpúsculos de Meissner (terminações nervosas sensíveis ao tato). As terminações nervosas livres (associadas com sensações de calor, frio, dor, sentir cócegas e coceira) também estão presentes nas papilas dérmicas. Derme Profunda ou Reticular: Conectada à tela subcutânea. Compõe- se de tecido conjuntivo denso “não-modelado”, contendo feixes de fibras colágenas e algumas fibraselásticas irregulares. Em meio às fibras encontram-se folículos pilosos, nervos, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas. 3.3 HIPODERME Hipoderme é uma camada que possui um número aumentado de células adiposas e é composta por um tipo de tecido conectivo frouxo. Esta camada confere vários benefícios, como flexibilidade, estoque de energia para as células locais, absorção de impactos físicos e isolamento. A maioria dos anexos cutâneos também se localiza ainda na hipoderme. Esta camada também é uma fonte de queratinócitos, principalmente quando a pele sofre alguma alteração brusca e perde a epiderme e a derme por algum fator externo. DICAS Tratando da pele, esse tecido possui diversas classificações anatômicas, em que você pode aprofundar seu entendimento neste seguinte link: Só Biologia – Tecido Epitelial. Disponível em: <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Histologia/epitelio3.php>. 4 FUNÇÕES DO TECIDO EPITELIAL A pele como um todo é um dos órgãos mais complexos de nosso corpo, visto que possui, além de suas características celulares, algumas estruturas fundamentais para a interação com o meio ambiente. Basicamente, a função a priori da pele é a proteção contra ameaças externas. Porém além desta função, em decorrência da especialização de algumas células, este órgão possui funções adicionais, como proteção imunitária, atividade sensorial primária e também é através do tecido cutâneo que é regulado o equilíbrio hídrico. UNIDADE 1 | DERMATOLOGIA 10 4.1 FUNÇÃO DE PROTEÇÃO Sobre a função de proteção da pele, Silva (2013) comenta que a pele atua como uma barreira que nos separa do ambiente, impedindo a invasão e a ação prejudicial de poluentes, radiação solar, substâncias tóxicas, bactérias e vírus, entre outros agentes. O tecido epitelial é rico em queratina, proteína que impermeabiliza a pele, regulando assim a perda de água do organismo para que ele não desidrate, além disso protege os tecidos subjacentes contra micróbios, abrasão, calor e substâncias químicas, e os queratinócitos estreitamente entrosados resistem à invasão de micróbios (SILVA, 2013, p. 18). 4.2 FUNÇÃO DE REGULAÇÃO TÉRMICA A pele serve como reguladora de temperatura por diversos processos. Primeiramente, um dos processos utilizados é a contração e a dilatação dos vasos sanguíneos que, através da regulagem da interação molecular com as células próximas, participa da variabilidade da absorção ou perda de calor interno. O folículo piloso tem grande importância também, pois atrasa, de certa forma, a troca de calor, ficando ereto ele enrije suas estruturas, não permitindo a saída de calor do organismo. Quando a temperatura corporal aumenta por algum fator, as glândulas sudoríparas excretam líquidos. Esta saída de líquidos diminui a pressão interna do organismo, facilitando assim a diminuição do calor interno e regulação do metabolismo celular. Um fator muito importante, porém bastante variável, é quanto à presença de células adiposas. O tecido adiposo serve como isolante térmico natural, tanto para altas temperaturas como também para as baixas. 4.3 FUNÇÃO IMUNITÁRIA De acordo com Silva (2013, p. 19): A pele é um órgão importante do sistema imunitário. Ela alberga diversos tipos de leucócitos. Há linfócitos que regulam a resposta imunitária e desenvolvem respostas específicas; células apresentadoras de antígeno (histócitos ou células de Langerhans) que recolhem moléculas estranhas (possíveis invasores) que levam para os gânglios linfáticos onde apresentam aos linfócitos CD4+; mastócitos envolvidos em reações alérgicas e contra parasitas. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À DERMATOLOGIA 11 4.4 FUNÇÃO METABÓLICA Existe uma grande variabilidade de funções metabólicas presentes em nossa pele. Uma das funções que se acredita ser a mais importante é a produção de vitamina D através dos raios solares. A vitamina D é fundamental no metabolismo do cálcio, que é agente formador do nosso tecido ósseo. Sem a vitamina D como substrato para a formação óssea, este tecido cresce com deficiência, impedindo assim seu funcionamento adequado e podendo levar a problemas de enfraquecimento, até mesmo à osteoporose. 4.5 FUNÇÃO SENSORIAL A pele também é tida como um órgão sensorial, no caso da sensibilidade ao tato. Possui várias estruturas com função e características distintas, que participam do processo de gerenciamento dos estímulos sensoriais que são enviados ao cérebro. A figura abaixo (FIGURA 3) representa as estruturas antes citadas. FIGURA 3 – ESTRUTURAS SENSORIAIS DA PELE FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/anatomia-humana/tato/>. Acesso em: 28 out. 2014. Sobre os Discos de Merkel já falamos anteriormente, porém ainda vale ressaltar que estes são responsáveis pela detecção de pressões leves e pequenos movimentos. UNIDADE 1 | DERMATOLOGIA 12 Quanto aos corpúsculos de Meissner, estes são designados a realizar a percepção de pressões efetuadas com frequências diferenciadas. Os corpúsculos de Pacini percebem também pressões, estes estão localizados com frequência nas extremidades dos dedos das mãos. Já os corpúsculos de Ruffini são classificados como termorreceptores, pois em seu nível percebem a variação de estímulos na pele relacionada ao calor e ao equilíbrio interno de temperatura corporal. Temos também as terminações nervosas livres, que são estruturas que reagem a vários estímulos, tanto químicos quanto mecânicos, térmicos e, inclusive, àqueles estímulos dolorosos gerados por algum fator externo. ESTUDOS FU TUROS No terceiro tópico desta unidade, você verá mais assuntos relacionados à estrutura da pele, tanto na função circulatória e linfática como também na sensorial. 5 COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA PELE O quadro abaixo (Quadro 1) representa a composição da pele. QUADRO 1 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA PELE Componente Descrição Água Representa, em média, 70% da composição química da pele, variando conforme a região corporal. Protídios Representam 27,5% da composição química da pele e são aminoácidos, colágeno, elastina, ceratina, melanina, glicoproteínas, enzimas etc. Lipídios Ácidos graxos, colesterol, fosfolipídios e triglicerídeos. Glicídios Ácido hialurônico, glicose e glicogênio. Sais Minerais Cálcio (Ca), cobre (Cu), enxofre (S), ferro (Fe), fósforo (P), iodo (I), magnésio (Mg), manganês (Mn), potássio (K), sódio (Na), zinco (Z) etc. Hormônios e Ureia Hormônios que gerenciam as funções metabólicas e ureia que participa do processo de hidratação da pele. FONTE: Gomes e Damazio (2013, p. 11) 13 Neste tópico, você estudou que: • Dermatologia significa “o estudo da pele”. A dermatologia estuda os processos que envolvem o diagnóstico e o tratamento das mais diversas disfunções epiteliais. • Os três países que foram o berço da dermatologia antiga eram França, Áustria e Inglaterra. • A primeira escola de dermatologia foi fundada em Viena no século XIX. • A pele é o maior órgão de todo nosso corpo, e também o que está mais exposto ao ambiente sob todas as formas. Este órgão sofre todos os dias com fatores químicos, físicos e biológicos, que agem sob toda sua superfície. • A pele compõe-se essencialmente de três camadas grandes de tecidos: uma camada superficial, a epiderme; uma camada intermediária, a derme; e uma camada profunda, a hipoderme ou tecido celular subcutâneo. • A epiderme é a camada mais externa formada por diversas diferenciações celulares com funções específicas. Possui uma grande quantidade de queratinócitos, que são essenciais para a proteção cutânea. • A derme é a camada intermediária da pele. É dividida em superficial e profunda. A camada superficial é mais delgada, constituída por tecido conjuntivo frouxo. A camada profunda é mais espessa, constituída por tecido conjuntivo denso. • A hipoderme é a camada mais profunda da pele, composta principalmente de adipócitos. • Basicamente, a função a priori da pele é a proteção contra ameaças externas. Porém, além desta função, em decorrência da especializaçãode algumas células, este órgão possui funções adicionais, como proteção imunitária, atividade sensorial primária e também é através do tecido cutâneo que é regulado o equilíbrio hídrico. • Verificamos que os Discos de Merkel, corpúsculos de Meissner, Pacini e Ruffini, além das terminações nervosas livres, são fundamentais para a função sensorial da pele. • A composição química básica da pele inclui água, protídios, lipídios, glicídios, sais minerais, hormônios e ureia, atuando como principais componentes de sua estrutura geral. RESUMO DO TÓPICO 1 14 1 O que é Dermatologia? 2 Quais são as cinco camadas presentes na epiderme? Diferencie cada uma delas. 3 Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) para as afirmativas abaixo: a) ( ) A derme é uma camada mais simples do que a epiderme, pois é um tecido de conecção. b) ( ) Na derme, os fibrócitos crescem, diferenciam e sintetizam fibras colágenas, elásticas e reticulares. c) ( ) A hipoderme é uma camada que possui um número aumentado de células adiposas e é composta por um tipo de tecido conectivo denso. d) ( ) O tecido epitelial é rico em melanina, proteína que impermeabiliza a pele, regulando assim a perda de água do organismo para que ele não desidrate. e) ( ) O tecido adiposo serve como isolante térmico natural, permitindo pouca entrada e saída de calor. f) ( ) No caso da função metabólica, as células de Langerhans são responsáveis pela apresentação dos antígenos ao sistema imunitário. g) ( ) Os discos de Merkel são responsáveis pela detecção de pressões leves e pequenos movimentos. h) ( ) Os corpúsculos de Pacini percebem pressões; eles estão localizados com frequência nas extremidades dos dedos das mãos. i) ( ) A água representa, em média, 50% da composição química da pele, variando conforme a região corporal. j) ( ) Dentre os sais minerais presentes na pele, os principais são: Cálcio (Ca), cobre (Cu), enxofre (S), ferro (Fe), fósforo (P), iodo (I), magnésio (Mg), manganês (Mn), potássio (K), sódio (Na), zinco (Z) etc. AUTOATIVIDADE 15 TÓPICO 2 ANEXOS CUTÂNEOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Para iniciarmos este tópico, veremos acerca dos tipos de glândulas sudoríparas, que podem ser écrinas ou apócrinas, como também sobre a estrutura e funcionamento geral das glândulas sebáceas. Em seguida, descreveremos sobre a estrutura e função dos nervos e sensores epiteliais, vasos sanguíneos e linfáticos (capilares) que auxiliam na formação e nas funções da pele. Para finalizar o estudo deste tópico, abordaremos o estudo de um assunto polêmico relacionado à alopécia (queda de cabelo), realizando profunda análise e caracterização deste distúrbio comum nos dias de hoje. 2 GLÂNDULAS SUDORÍPARAS Para iniciarmos o estudo destas glândulas, segue a figura ilustrativa abaixo (FIGURA 4): FIGURA 4 – DEMONSTRATIVO DOS TIPOS DE GLÂNDULAS SUDORÍPARAS FONTE: Disponível em: <http://www.tratamentocalvicie.com.br/artigo_08.php>. Acesso em: 1º nov. 2014 UNIDADE 1 | DERMATOLOGIA 16 As glândulas sudoríparas têm como principal função a produção de suor. Em nosso corpo, em toda a superfície cutânea, se encontram milhões destes anexos. As glândulas sudoríparas são divididas em écrinas e apócrinas, como mostrou a figura anterior. Glândulas sudoríparas écrinas, que são distribuídas por toda a superfície do corpo. Elas produzem suor que é composto em sua maior parte de água com vários sais. Essas glândulas são usadas para a regulação da temperatura do corpo. Glândulas sudoríparas apócrinas, que produzem o suor que contém materiais gordurosos. Essas glândulas estão principalmente presentes nas axilas e em volta da área genital e sua atividade é a principal causa do odor do suor, devido às bactérias que quebram os compostos orgânicos no suor dessas glândulas. O estresse emocional aumenta a produção de suor das glândulas apócrinas, ou mais precisamente: o suor já presente no túbulo é empurrado para fora. As glândulas sudoríparas apócrinas servem basicamente como glândulas de cheiro. Entram em atividade durante a puberdade (TRATAMENTO CALVÍCIE, 2014a). Temos também as glândulas sebáceas, que são muito importantes para a produção do sebo na pele. De acordo com Silva (2013), as glândulas sebáceas são anexos dos folículos capilares e estão inseridas na derme e hipoderme. São predominantes no rosto, pescoço e parte superior do corpo. Elas fazem secreção holócrina, onde a célula morre e torna-se o próprio produto de secreção. As células mortas são repostas por mitose na periferia da glândula. A secreção é o sebo, uma mistura de triglicérides e colesterol tipo cera (SILVA, 2013). Cada folículo piloso tem pelo menos uma ou mais destas glândulas. O sebo produzido e excretado tem função de hidratação e lubrificação de pele e pelos. Tem também pequena ação antifúngica e bactericida, além de proteger a cútis do excesso de água na periferia da pele. O sebo produzido nada mais é do que um concentrado de lipídios. A produção e excreção do sebo é regulada pelo metabolismo hormonal. Alterações neste metabolismo podem gerar modificações na quantidade de produção e liberação de sebo, podendo deixar a pele extremamente oleosa, ou até mesmo ressecá-la vigorosamente. TÓPICO 2 | ANEXOS CUTÂNEOS 17 NOTA Existe uma alteração metabólica que se chama Hiperidrose, que é caracterizada por uma sudorese excessiva (alta produção de suor pelas glândulas) em várias partes do corpo, por causas não comuns, como doenças ou fatores emocionais. 3 ESTRUTURA E FUNÇÃO: NERVOS, VASOS SANGUÍNEOS E LINFÁTICOS 3.1 NERVOS A pele é um órgão que possui ampla inervação, e esta capacidade permite com que ela capte grande quantidade de estímulos internos e externos, dimensionando assim dados significantes acerca do meio em que vivemos. A este órgão devemos a habilidade de receptar pressões e atritos, dos mais fortes aos mais delicados, permitindo analisar de certo modo, através do tato, as qualidades palpáveis dos mais variados objetos cotidianos. Além de tudo isso, a pele, através desta propriedade, também recebe estímulos térmicos, de calor ou frio. Os sensores responsáveis por este reconhecimento estão em todas as partes do corpo. Muitas vezes são também responsáveis por gerarem estímulos dolorosos. Existem algumas sensações diferenciadas que, na verdade, correspondem à junção de vários estímulos sensoriais da pele, como a sensação de ardor e também a sensação de prurido. A pele desempenha esta função sensorial graças a uma série de formações nervosas específicas que atua como receptores e registram os vários estímulos, enviando esta informação sob a forma de impulsos elétricos através de complexas vias nervosas para o cérebro, onde são interpretados. Ao longo da superfície da pele, é possível encontrar uma série de elementos receptores distribuídos, que respondem a determinados estímulos ao enviarem informações para o sistema nervoso central, de modo que possam ser devidamente interpretados. Embora esta função seja, essencialmente, desempenhada pelas ramificações finais dos nervos sensitivos que se encontram em contato com a pele, existe igualmente determinados receptores intimamente ligados a estes nervos, cuja específica constituição lhes permite captar com maior precisão estímulos (MEDIPEDIA, 2014a). UNIDADE 1 | DERMATOLOGIA 18 A imagem abaixo (FIGURA 5) representa os receptores sensoriais encontrados na pele. FIGURA 5 – RECEPTORES DO TATO FONTE: Disponível em: <http://dc251.4shared.com/doc/-QU9kzqF/preview. html>. Acesso em: 2 nov. 2014. De acordo com Medipedia (2014), as terminações nervosas livres são as ramificações finais das fibras nervosas sensitivas que chegam à derme, formando uma rede à volta dos folículos pilosos e tendo a tendência para penetrarem na epiderme. Estão distribuídas ao longo de toda a superfície do corpo e, embora respondam aos estímulos tácteis, são mais sensíveis aos estímulos dolorosos. Neste sentido, Medipedia (2014) complementadizendo que os corpúsculos de Pacini são receptores de forma ovoide, constituídos por uma camada de células concêntricas que envolve uma terminação nervosa sensitiva. Dado que se situam nas zonas profundas da derme, costumam detectar, sobretudo, as alterações de pressão, as vibrações produzidas sobre a pele e os seus estiramentos. A sua presença é mais abundante nas zonas do corpo sem pelos, como as palmas das mãos. TÓPICO 2 | ANEXOS CUTÂNEOS 19 Medipedia (2014) comenta que os corpúsculos de Meissner são receptores formados por uma fina cápsula de tecido conjuntivo, composta por uma série de células sobrepostas, de modo a constituírem uma pilha por onde circulam as terminações nervosas sensitivas, encontrando-se localizados nas papilas dérmicas e respondem essencialmente aos estímulos táteis. São particularmente abundantes nas polpas dos dedos, nos lábios e na região genital. Já sobre os corpúsculos de Krause, Medipedia afirma que estes são receptores em forma de bulbo com uma rede de terminações nervosas sensitivas no seu interior, estando situados na derme, próximos da epiderme e respondem aos estímulos térmicos, já que são sensíveis ao frio. Os corpúsculos de Ruffini, de acordo com Medipedia (2014), são receptores de forma plana com terminações nervosas sensitivas ramificadas como se fosse uma árvore, estando situados na zona profunda da derme, na hipoderme e registram estímulos térmicos, pois são sensíveis ao calor. Os estímulos mecânicos, térmicos e dolorosos registrados na pele são conduzidos pelos nervos sensitivos que deságuam na medula espinal e circulam ao longo de um percurso ascendente através de fibras nervosas que constituem cordões específicos de acordo com o tipo de sensibilidade que transmitem. As informações alcançam o encéfalo e após várias paragens, sobretudo no tálamo, chegam ao cérebro, nomeadamente à circunvolução parietal ascendente do córtex cerebral, onde os estímulos são interpretados e as sensações são consciencializadas. Nesta área, existe uma representação das várias zonas do corpo, semelhante a um "mapa" da sensibilidade corporal, que permite identificar com precisão a proveniência dos vários estímulos. FONTE: Disponível em: <http://www.medipedia.pt/home/home.php?module=artigoEnc&id=456> Acesso em: 2 dez. 2014. NOTA A Hanseníase, antigamente chamada vulgarmente de lepra, é uma doença caracterizada pela perca da sensibilidade. Nesta doença, uma bactéria infecta a bainha de mielina, que é responsável pelo isolamento dos estímulos nervosos advindos do tato, provocando assim um bloqueio na recepção de sensações pelo Sistema Nervoso Central. Esta doença pode gerar graves problemas para seu portador, visto que este não sente estímulos, dor ou calor, que são fundamentais para a proteção do epitélio. UNIDADE 1 | DERMATOLOGIA 20 3.2 VASOS SANGUÍNEOS A vasta rede de vasos sanguíneos, que proporcionam a pele os elementos nutritivos, recolhem as substâncias residuais e contribuem, igualmente, para o controle da temperatura do corpo, e por inúmeras artérias, que lhe transportam o sangue rico em oxigênio e nutrientes, que penetram pela hipoderme e permanecem adjacentes à superfície cutânea no limite com a derme. A partir daí surgem, verticalmente, pequenas arteríolas que, ao unir-se às papilas dérmicas, se transformam em finos capilares, que se encarregam das trocas entre o sangue e a pele. Estes capilares vão posteriormente unir-se e transformar-se em vênulas que se alastram a um plexo de veias dispostas em paralelo com a rede arterial. É importante referir que como os vasos sanguíneos apenas chegam até a derme, às células da epiderme apenas podem manter as suas trocas com o sangue através da membrana basal que a separa da camada subjacente (MEDIPEDIA, 2014b). 3.3 VASOS LINFÁTICOS Toda a rede linfática corporal se origina nos capilares linfáticos presentes na pele. Os capilares são caracterizados como pequenos vasos condutores de linfa. Eles possuem uma sobreposição de células que formam uma válvula, e esta estrutura permite o fechamento ou a sua abertura, que é dependente da pressão que é exercida sobre eles. Quando ocorre a tração, os filamentos permitem que a água, partículas, pequenas células e moléculas de proteínas penetrem, formando a linfa. No interior dos capilares, esse líquido não pode voltar aos espaços intercelulares por causa da pressão, que força as bordas das células endoteliais a se juntarem, fechando a válvula, impedindo o refluxo da linfa. Existem alguns capilares linfáticos nas vilosidades intestinais, chamados de vasos “lácteos”, auxiliando na absorção de gordura no trato digestivo. A rede capilar linfática é rica em anastomoses, principalmente na pele, onde eles são dispostos de forma superficial e profunda em relação à rede capilar sanguínea. Nos vasos linfáticos e ductos, ocorre de forma diferente. Nos capilares linfáticos, os espaços intercelulares são bem mais amplos, possuindo "fendas" entre as células parietais, permitindo que as trocas líquidas entre o interstício e o capilar linfático se façam com extrema facilidade não só de dentro para fora, como de fora para dentro do vaso. FONTE: Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/fisioterapia/artigos/21088/ fisiologia-do-sistema-linfatico-capilares-linfaticos>. Acesso em: 5 nov. 2014. TÓPICO 2 | ANEXOS CUTÂNEOS 21 ESTUDOS FU TUROS Adiante no seu curso, você estudará e entenderá um pouco mais sobre o Sistema Linfático como um todo. Saberá distinguir as principais disfunções que o acometem, dentre elas temos a principal, que é alvo da maioria dos tratamentos em estética corporal: a retenção de líquidos. Você já deve ter ouvido que a retenção de líquidos corporais é tratada com a Drenagem Linfática, uma técnica de estímulo simples dos capilares linfáticos que ajuda basicamente a eliminar líquidos e toxinas armazenadas em nosso organismo. 4 FOLÍCULO PILOSO Na figura a seguir (FIGURA 6), podemos ver melhor a composição estrutural do folículo piloso. FIGURA 6 – ESTRUTURA DO FOLÍCULO PILOSO FONTE: Disponível em: <http://www.auladeanatomia.com/tegumentar/ tegumentar.htm>. Acesso em: 2 nov. 2014. UNIDADE 1 | DERMATOLOGIA 22 Compreende o folículo piloso, o pelo, suas bainhas e os anexos: o músculo eretor e as glândulas sebáceas. As células do corpo piloso de Malpigui se invaginam profundamente na derme, até a hipoderme, formando uma cavidade onde será alojado o pelo: é o folículo piloso. Compreende uma parte superficial, onde o pelo não é aderente e uma parte profunda é ligada ao pelo. Parte superficial - distinguem-se aí: o orifício externo ou ostium folicular; a parte superior do canal pilar, ou infundíbilo, situada acima do encontro com a glândula sebácea, que é composta por uma parte intraepidérmica, o acroinfundíbilo, e por uma parte intradérmica, o infrainfundíbilo. Parte profunda - distingue-se, de fora para dentro: a bainha conjuntiva, que envolve dois terços do folículo piloso. A bainha epitelial dupla, que compreende a bainha epitelial externa, que é o prolongamento da epiderme. Afina-se progressivamente e se interrompe no nível do bulbo; suas células não se queratinizam. Entra em contato com a derme, através de uma membrana basal espessa que persiste no nível do bulbo; a bainha epitelial interna, que está situada entre o pelo e a bainha epitelial externa, começa a nascer a partir das células matrizes do bulbo e termina no encontro com a glândula sebácea. É constituída por três camadas, que vão do exterior até o interior: a bainha de Henlé; a bainha de Huxley; e a cutícula, cujas células estão amarradas às cutículas da base do pelo. A bainha epitelial interna descama no nível do canal sebáceo, suas células se queratinizam e se misturam, então, com o sebo. O bulbo piloso, que é a dilatação terminal do folículo piloso, na forma de pera. Contém: a matriz do pelo, formada por células matrizes epidérmicas jovens; é uma zona de divisão celular intensa. A parte externa damatriz produz a bainha epitelial interna. No meio das células matrizes se encontram os melanócitos, que lhes transferem melanina. A papila pilar, de forma ovoide, é constituída por tecido conjuntivo, alojada na cavidade do bulbo com os capilares arteriais, venosos e as terminações nervosas. Ela nutre o pelo. O músculo horripilante ou eretor do pelo é um feixe de fibras musculares lisas se inserindo sobre o folículo piloso, sobre a glândula sebácea e alongada obliquamente até a derme papilar. A vascularização é assegurada pelos vasos da papila dérmica. A inervação se faz pelas terminações nervosas livres misturadas aos vasos da papila dérmica e por terminações nervosas táteis. TÓPICO 2 | ANEXOS CUTÂNEOS 23 O pelo é um filamento de queratina flexível. Faz parte dos fâneros e estão distribuídos sobre toda a superfície do corpo, com exceção de certas regiões, como: palma das mãos, planta dos pés, face lateral dos dedos, pênis e clitóris. Compreende duas partes principais, a haste e a raiz. Haste ou parte livre do pelo: é constituída por células mortas queratinizadas, que estão dispostas em três camadas: a epidermícula ou cutícula; camada mais externa, ou escamosa; o ecorce ou córtex, sólido, resistente e dá ao pelo a sua cor; a medula. Raiz: é a parte inferior do pelo. Ela se dilata na base, para formar o bulbo, que é dividido pela "linha de Auber", delimitando a zona de melanogênese; a raiz é constituída por células vivas que se queratinizam e perdem seu núcleo à medida que eles sobem. No desenvolvimento do pelo, distinguem-se três fases sucessivas: fase de crescimento ou anagênea; fase de regressão ou catagênea; fase de repouso ou telogênea. Fase de anagênea ou fase de crescimento: a atividade mitótica no nível da matriz é intensa; o folículo desce para a derme; a papila fica em contato com o bulbo. Sua penetração no bulbo origina a multiplicação das células-matrizes; um pelo jovem adquire raiz; nota-se a presença momentânea do pelo antigo que se desprende da matriz e vai ser eliminado. Esta fase pode durar de três a quatro anos. Fase catagênea ou fase de regressão: a atividade das células matrizes cessa, assim como a melanogênese; o bulbo se afina, a parte baixa se destrói progressivamente, a bainha epitelial externa desaparece; a base do pelo toma forma de bastão, o pelo se separa da matriz e sobe para o folículo piloso; a papila só é unida ao folículo piloso por um fino cordão de células epiteliais. Esta fase dura de duas a três semanas. Fase telogênea ou fase de repouso: o pelo, completamente queratinizado, progride para a superfície; o bulbo é atrofiado; a papila é isolada do folículo piloso. Esta fase pode durar três meses. FONTE: Disponível em: <http://www.tratamentocalvicie.com.br/artigo_13.php>. Acesso em: 2 nov. 2014 Na figura a seguir (FIGURA 7), podemos ver exatamente ilustradas as fases de crescimento e desenvolvimento do pelo. UNIDADE 1 | DERMATOLOGIA 24 FIGURA 7 – FASES DE CRESCIMENTO DO PELO FONTE: Disponível em: <http://www.cosmedical.com.br/newsitecosmedical/?p=5>. Acesso em 2 nov. 2014. DICAS A foliculite é uma doença inflamatória relacionada ao folículo piloso. Você pode saber mais sobre ela no seguinte link: Sociedade Brasileira de Dermatologia – Foliculite. Disponível em: <http://www.sbd.org.br/doencas/foliculite/>. TÓPICO 2 | ANEXOS CUTÂNEOS 25 LEITURA COMPLEMENTAR ENTENDENDO A ALOPÉCIA ANDROGENÉTICA Fabiane Mulinari Brenner Gabriela Sei Del Time SP INTRODUÇÃO De acordo com o último censo da Sociedade Brasileira de Dermatologia, a queixa de alopecia está entre as dez mais frequentes nos consultórios dermatológicos em pacientes de 15 a 39 anos. A alopecia androgenética (AAG) é a causa mais comum de alopecia em ambos os sexos. É caracterizada por alteração no ciclo do cabelo, levando à miniaturização folicular progressiva com conversão de fios terminais em velo, mais finos, curtos e menos pigmentados. A AAG afeta ambos os sexos, com mais de 50% dos homens apresentando algum grau de calvície acima dos 50 anos. As estimativas em relação às mulheres são variadas, e o pico de incidência ocorre após os 50 anos, com cerca de 30% de acometimento por volta dos 70 anos. Dados epidemiológicos variam em diferentes etnias, com relatos de prevalência menor em asiáticos e afrodescendentes em relação aos caucasianos. No sexo masculino, o processo é andrógeno dependente; nas mulheres, entretanto, a interferência hormonal é incerta e o termo alopecia de padrão feminino (APF) parece definir melhor a entidade. Apesar da elevada frequência dessa apresentação nos consultórios médicos, a APF ainda é um desafio diagnóstico e terapêutico ao dermatologista. Este artigo revisa aspectos fundamentais para compreensão da AAG, considerando informações compiladas de artigos indexados na base de dados do Pubmed. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS A AAG masculina inicia-se frequentemente após a puberdade com recessão bitemporal simétrica, evoluindo com acometimento do vértex. A progressão é variável, sendo, geralmente, mais exuberante quanto mais cedo for o início. Sinais precoces de calvície podem ser vistos em até 14% de meninos entre 15 e 17 anos. Em até 5% dos homens, a calvície assume distribuição difusa, lembrando o padrão feminino. Essa apresentação é mais comum em indivíduos asiáticos. UNIDADE 1 | DERMATOLOGIA 26 O padrão feminino costuma apresentar-se entre a terceira e a quarta décadas de vida, com progressiva piora após a menopausa e é caracterizado por afinamento difuso dos cabelos, poupando a linha de implantação frontal. Na fase inicial, pode haver queda de cabelos seguida de redução da densidade capilar central do couro cabeludo. Oitenta e oito por cento das mulheres com APF referem efeitos negativos em sua vida decorrentes da queda de cabelos, 75% apresentam baixa autoestima e 50%, problemas sociais. As alterações clínicas que ocorrem durante a progressão da calvície masculina foram classificadas em 1951 por Hamilton e modificadas por Norwood em 1975. Em 1977, Ludwig propôs uma classificação diferenciada para o padrão de acometimento feminino e, em 1996, foi criada a classificação de Savin, também com o intuito de reconhecer e classificar os vários graus de alopecia feminina. Recentemente, foi desenvolvida uma classificação universal, aplicável a ambos os sexos, a Basic and specific classification - Basp. As diversas escalas de classificação disponíveis são úteis para a documentação padronizada de seguimento desses pacientes. Nas mulheres, além da avaliação da alopecia propriamente dita, é importante observar sinais de hiperandrogenismo, como acne, irregularidade menstrual, infertilidade, hirsutismo, seborreia e acantose nigricante. Associação entre AAG, síndrome metabólica e fatores de risco cardiovascular foi encontrada em alguns grupos avaliados. Hipertensão arterial foi observada com maior frequência em homens com AAG e aumento na concentração de aldosterona, chamando atenção para a possível relação entre essas entidades. Estudos adicionais serão necessários para confirmar esses achados. FISIOPATOGENIA O ciclo dos pelos O folículo piloso passa por três estágios principais ao longo do seu desenvolvimento: proliferação (fase anágena), involução (fase catágena) e repouso (fase telógena), com regeneração em sucessivos ciclos. No couro cabeludo normal, a fase anágena dura de dois a sete anos; a catágena, cerca de duas semanas; e a telógena, aproximadamente três meses. Avaliações seriadas por fototricograma demonstraram uma fase de atraso entre a queda e a reposição de uma nova haste. Essa fase de descanso real, quando o folículo se encontra vazio, denomina-se quenógena, e seu reconhecimento foi fundamental para a compreensão da dinâmica folicular na AAG. A atividade de crescimento dos folículos ocorre em padrão de mosaico no couro cabeludo. Cada folículo possui um mecanismo de controle individual, ditado por diversas substâncias, como hormônios e citocinas, fatoresde crescimento e influências do meio ambiente, como deficiências nutricionais e radiação ultravioleta. Os TÓPICO 2 | ANEXOS CUTÂNEOS 27 mecanismos que controlam o ciclo do pelo estão localizados no próprio folículo e são resultado da interação de moléculas reguladoras e seus receptores. Evidências sugerem que a papila dérmica e seus fibroblastos influenciam no crescimento folicular, especialmente na proliferação e diferenciação celular da matriz do folículo piloso. A perda de cabelo representa uma desordem do ciclo do folículo piloso com etiologia variada. Na AAG, ocorre término prematuro da fase anágena pela redução da expressão de fatores estimulantes e aumento de citocinas que promovem apoptose. Além disso, há aumento do número de folículos em repouso na fase quenógena. Na AAG, além da alteração do ciclo folicular, ocorre miniaturização dos fios terminais para fios velo. Essas modificações ocorrem tanto em homens quanto em mulheres. O PAPEL DOS ANDRÓGENOS Nos homens A AAG masculina foi reconhecida como uma desordem andrógena dependente desde 1940, quando se percebeu que eunucos não a desenvolviam, apesar da diminuição de seus pelos corporais. Isso evidenciou a influência dos andrógenos no crescimento dos pelos corporais, inversa a que ocorre no couro cabeludo. O alvo primário da ação dos andrógenos no folículo piloso é provavelmente a papila dérmica, e sua ligação se dá através de receptores específicos. Os andrógenos apresentam afinidade variada a esses receptores. A di-hidroepiandrosterona (DHEA), apesar da baixa afinidade, pode ser transformada em andrógenos fortes como testosterona e di-hidrotestosterona (DHT). A testosterona é o andrógeno circulante mais potente, com concentrações superiores em homens. Somente uma pequena fração da testosterona circula livremente, 70% é ligada à globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG), cujos níveis se correlacionam inversamente com a severidade da alopecia. Entretanto é da DHT, um metabólito da testosterona, a responsabilidade pela miniaturização dos folículos e desenvolvimento da AAG. A DHT também é implicada na patogênese de hiperplasia prostática benigna (HPB), neoplasia de próstata, hirsutismo e acne vulgar. Sua afinidade por receptores androgênicos é cinco vezes maior que a da testosterona. A 5a-redutase é a enzima responsável pela conversão da testosterona em DHT. Pacientes homozigotos para a mutação do gene da 5a-redutase, com enzima inativa, apresentam pseudo-hermafroditismo masculino incompleto com genitália ambígua e virilização somente após a puberdade. Esses indivíduos não apresentam AAG, evidenciando a DHT como o hormônio principal na patogênese da AAG masculina. UNIDADE 1 | DERMATOLOGIA 28 A pele e a unidade pilossebácea são enzimaticamente equipadas para o metabolismo e conversão de esteroides sexuais, convertendo andrógenos fracos em formas mais potentes através da ação de enzimas como a 5a- redutase (tipos 1 e 2), 3ß- hidroxiesteroide desidrogenase (3ß-HSD), entre outras. Andrógenos fortes, como a testosterona e a DHT, podem ser convertidos em andrógenos fracos ou estrógenos por outras vias enzimáticas, incluindo a aromatase. A glândula sebácea da pele calva tem mostrado expressão de 3ß- HSD em maior atividade quando comparada a áreas não calvas, contribuindo para maior formação de andrógenos potentes nessa região. A enzima 5a- redutase, essencial ao desenvolvimento de AAG masculina, está presente em maiores níveis e com atividade aumentada nos folículos do couro cabeludo de indivíduos acometidos. Além disso, seus níveis são mais elevados nos folículos frontais em comparação aos folículos occipitais de mulheres e homens com AAG. Níveis maiores da enzima aromatase na região occipital, menos acometida nesse tipo de alopecia, são associados à persistência dos fios. A deficiência de aromatase herdada ou adquirida (mulheres em uso de inibidores de aromatase para tratamento de câncer de mama) também acarreta aumento de andrógenos circulantes e perda de cabelos semelhante à AAG. Embora a AAG masculina seja um processo DHT dependente, com contínua miniaturização dos folículos andrógenos sensíveis, a maioria dos homens com essa alteração apresenta níveis normais de andrógenos circulantes. Superprodução de andrógenos na unidade pilossebácea, superexpressão ou hiperresponsividade dos receptores de andrógenos podem ser responsáveis por esse processo. Hamilton demonstrou a castração antes da puberdade como proteção contra AAG, ao contrário da castração após a puberdade. Por outro lado, a administração de testosterona exógena àqueles castrados antes da puberdade produziu queda de cabelo. Os que não desenvolveram calvície com esta intervenção eram de famílias sem história de calvície, sugerindo influências genéticas. A ausência de calvície em indivíduos com síndrome de insensibilidade andrógena apoia o papel da ligação andrógeno/receptor na AAG. Entretanto, a APF pode ocorrer em pacientes com essa síndrome, sugerindo que outros mecanismos, além da ação hormonal, contribuam para essa desordem. Nas mulheres O papel dos andrógenos na AAG feminina é pouco claro, e alguns autores recomendam evitar o termo androgenética para esse tipo de alopecia. A APF está associada à hiperandrogenemia em menos de 40% dos casos sem correlação com o padrão de distribuição (central ou bitemporal). Atualmente, existem argumentos suficientes para considerar a AAG masculina e feminina entidades clínicas distintas. A finasterida, um inibidor seletivo da 5a-redutase, é efetiva em homens, mas falhou em prevenir a progressão de queda de cabelos em mulheres pós-menopausa normoandrogênicas com APF. Da mesma forma, o bloqueio dos receptores de andrógenos através do acetato de ciproterona é pouco efetivo em prevenir a progressão da queda capilar em mulheres menopausadas normoandrogênicas. TÓPICO 2 | ANEXOS CUTÂNEOS 29 Na maioria das mulheres com APF, não há aumento nos níveis circulantes de andrógenos. Entretanto, seus receptores e os níveis de 5a-redutase estão aumentados na região frontal (menos que na AAG masculina), e os níveis de enzimas do citocromo P450, como a aromatase (responsável pela conversão de testosterona em estrógenos) estão mais elevados na área occipital e linha frontal feminina (mais do que na AAG masculina). Independente da etiologia, a alteração folicular em homens e mulheres parece ser a mesma, havendo via comum na miniaturização folicular. Embora a alteração histopatológica seja indistinguível entre os sexos, além da área de maior acometi- mento ser diferente há indícios de que mais cabelos sejam miniaturizados em homens do que em mulheres. CONSIDERAÇÕES DA GENÉTICA Os fatores hereditários que contribuem para a suscetibilidade individual da AAG ainda são pouco conhecidos, porém há evidências suficientes que confirmam um envolvimento genético. A história familiar é geralmente positiva nos quadros de AAG masculina e menos frequente nas mulheres. O padrão de herança sugerido atualmente é poligênico. Genes como o EDA2R, ERb e o da síndrome dos ovários policísticos têm sido associados à AAG precoce em homens. As maiores evidências da participação genética foram decorrentes do sequenciamento do gene do receptor de androgênio, mais conhecido como gene AR (androgen receptor), em homens calvos e não calvos. Localizado no cromossomo X e pertencente à família dos fatores de transcrição nuclear, o domínio amino-terminal do gene AR contém a região codificada pela repetição CAG, implicada na ativação da transcrição genética. Uma relação inversa entre a extensão das repetições CAG e a atividade do AR foi percebida nos grupos avaliados, ou seja, um pequeno número de repetições está relacionado com maior atividade do AR e maior probabilidade de calvície. Dois outros polimorfismos nesse gene estão relacionados com a predisposição para alopecia: a extensão da sequência GCC e a presença do fragmento de restrição STUL. Os achados do gene AR não explicam
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