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30/07/2021 TROMBOEMBOLISMO PULMONAR - O Tromboembolismo Pulmonar (TEP) é uma doença com alta taxa de mortalidade quando não tratada (30%), com anticoagulação a mortalidade chega a 2%. Acredita-se que sua incidência vem aumentando devido a fatores como envelhecimento global da população e aumento de neoplasias, doenças respiratórias e acamados. ❖ ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO - A maioria dos eventos tromboembólicos é ocasionada por êmbolos provenientes das veias dos membros inferiores, principalmente do território ileofemoral; veias poplíteas ou mais periféricas. Assim, os fatores de risco são idênticos aos associados à Trombose Venosa Profunda (TVP): fatores que interfiram na Tríade de Virchow – lesão endotelial, estase venosa e estado de hipercoagulabilidade. - Fatores de risco para Tromboembolismo Pulmonar: história prévia de TEP/TVP, Acidente Vascular Cerebral (AVC) com membro plégico, neoplasia, cirurgia ortopédica e imobilização. Tabela – Fatores de Risco Secundários para TVP/TEP MAIOR RISCO (risco relativo = 5 a 20) MENOR RISCO (risco relativo = 2 a 4) - Cirurgia Abdominal de Grande Porte - Doença Cardíaca Congênita - Cirurgia de Quadril e Joelho - Insuficiência Cardíaca - Pós-operatório em UTI - Uso de anticoncepcional oral ou reposição hormonal - Gravidez Tardia e puerpério - Doença pulmonar obstrutiva crônica - Cesárea - Doença Neurológica com obesidade - Trauma e fraturas de MMII - Cateter Venoso Central - CA abdominal, pélvico e metastático - Doenças trombóticas e estado de hiperviscosidade - Internação com doente restrito ao leito (pouca movimentação) - Obesidade - TVP prévio - Outros: Síndrome Nefrótica; Doenças Mieloproliferativas; Doença Inflamatória Intestinal; Diálise Crônica. - Quando um evento embólico acontece, o indivíduo sofre imediatamente alteração de troca gasosa do tipo espaço-morto – área ventilada no pulmão que não recebe perfusão. É a liberação de citocinas inflamatórias que seguem esse evento inicial que desregula a relação ventilação-perfusão do parênquima pulmonar, promovendo o chamado efeito shunt. Quando os pacientes com tal condição apresentam hipoxemia, caracteristicamente são necessários altos fluxos de oxigênio para normalizar a saturação de hemoglobina. De fato, a magnitude das alterações é muito variável e depende de algumas particularidades: - Estado cardiovascular e pulmonar prévios; - Comorbidades; - Tamanho do êmbolo: quanto maior o trombo, maior a probabilidade de causar grave distúrbio ventilação-perfusão (V/Q), shunt arteriovenoso, hipoxemia e redução do débito cardíaco. - A mortalidade na embolia pulmonar não decorre da alteração de trocas gasosas, mas do impacto da obstrução vascular sobre a função ventricular direita. Por exemplo, um paciente com um trombo grande pode apresentar um aumento súbito e significativo da pressão na artéria pulmonar, gerando dificuldade ao trabalho do ventrículo direito – o VD não consegue manter o trabalho sistólico contra grandes pressões. Como 30/07/2021 resultado, o VD pode se dilatar e comprimir o ventrículo esquerdo, ocasionando a redução do débito cardíaco e, assim, hipotensão e choque, podendo culminar em óbito. As manifestações que denotam maior gravidade na embolia são aquelas que demonstrem disfunção do Ventrículo Direito (VD): clinicamente, hipotensão e choque; e, laboratorialmente, dilatação/sobrecarga do VD – pelo ecocardiograma, elevação das enzimas cardíacas (como troponina e BNP) Aumento da pressão na artéria pulmonar → Hipocinesia do VD → diminuição do débito cardíaco do VD → abertura de shunts arteriovenosos → desequilíbrio ventilação-perfusão → liberação de vários mediadores químicos → atelectasia → hipoxemia → taquicardia → enchimento do VE (restrição do pericárdio e dilatação do VD com desvio do septo interventricular) ❖ ACHADOS CLÍNICOS - A suspeita diagnóstica decorre da presença de quadro respiratório agudo, principalmente quando associado à presença de fatores de risco para trombose vascular. Os sintomas mais frequentes são: . Dispneia . Tosse . Dor torácica pleurítica . Hemoptise - Ao menos 1 desses sintomas estará presente na maioria dos casos. Ao exame físico, achados frequentes são: taquipneia e taquicardia e, com menos frequência, cianose, sinais de trombose profunda, crepitações e febre. - No entanto, a confirmação do diagnóstico de TEP exige metodologia complementar. ❖ EXAMES COMPLEMENTARES - Os exames complementares são fundamentais para a definição diagnóstica A. RADIOGRAFIA DE TÓRAX - Tem maior utilidade no diagnóstico diferencial - A radiografia de tórax é normal em 30% dos casos de TEP - Possíveis anormalidades do RX de Tórax: . Atelectasias laminares . Derrame Pleural . Elevação da cúpula diafragmática - Algumas anormalidades são consideradas clássicas de TEP, mas estão presentes em menos de 15% dos casos: Sinal de Hampton (imagem triangular periférica, sugestiva de infarto pulmonar), Sinal de Westermark (área do parênquima pulmonar com pobreza vascular focal) e Sinal de Fleischner (dilatação anormal dos ramos principais das artérias pulmonares). B. GASOMETRIA ARTERIAL - Pode ocorrer graus variáveis de hipoxemia e hipocapnia, mas são inespecíficos C. ELETROCARDIOGRAMA 30/07/2021 - Os achados mais comuns são alterações inespecíficas do segmento ST-T e taquicardia sinusal. Contudo, o exame pode ser absolutamente normal. Há um achado clássico que é a presença do padrão S1Q3T3 (onda S profunda em DI, onda Q e onda T invertida em DIII) D. ECOCARDIOGRAMA - O Ecocardiograma é útil na identificação de TEP que têm pior prognóstico; achados de hipocinesia do VD, hipertensão pulmonar persistente, forame oval patente e trombo livre e flutuante no AD identificam pacientes de alto risco de óbito ou de TEP recorrente. E. TROPONINAS E PEPTÍDEO NATRIURÉTICO CEREBRAL - Troponinas e BNP não tem validade para firmar nem excluir o diagnóstico. São úteis para determinar o prognóstico de pacientes com TEP, pois estão elevados nas situações de sobrecarga aguda de câmaras direitas. F. D-DÍMERO - Os D-dímeros são produtos da degradação de fibrina, detectados no sangue sempre que o processo de coagulação-fibrinólise endógena acontece em dinâmica maior. Habitualmente, estão elevados nos casos de TEP, mas outras inúmeras situações podem elevar seus níveis. - É um exame pouco específico, nunca útil para confirmar o diagnóstico de TEP (independente de seus títulos), mas pode auxiliar na exclusão diagnóstica pela sua sensibilidade alta. - Portanto, é um marcador muito sensível, porém, pouco específico, ou seja, se positivo não é possível afastar TEP, mas, se negativo, afasta-se TEP (exame diagnóstico de alto valor preditivo negativo). . D-dímero positivo → não é possível afastar TEP . D-dímero negativo → afasta-se TEP G. CINTILOGRAFIA DE VENTILAÇÃO PERFUSÃO - A Cintilografia usa como princípio a comparação da viabilidade das vias aéreas com a dos vasos pulmonares, pela administração de um marcador nuclear pelas vias inalatórias e venosas. - Espera-se que um paciente com embolia apresenta falha de perfusão localizada em segmento pulmonar com ventilação normal, praticamente documentando o diagnóstico; do contrário, um teste normal afasta a possibilidade de TEP. - A Cintilografia deve ser evitada entre pacientes que já tenham doença parenquimatosa pulmonar. Assim, uma pessoa com DPOC tem maior chance de um ventilação-perfusão não diagnóstico. ** A cintilografia perdeu espaço, hoje utiliza-se mais as tomografias H. ANGIOTOMOGRAFIA DE TÓRAX - O tamanho do êmbolo interfere na sensibilidade. A TC é um exame mais sensível para TEP’s em grandes artérias. Em artérias menores, a sensibilidade diminui, e é possível que pequenos coágulos não sejam identificados. - Recomenda-se o uso da TC Helicoidal como 1º exame de imagem, mas somente após uma avaliação de probabilidade pré-teste e uma dosagem deD-dímeros. 30/07/2021 - Além do diagnóstico, a Angiotomografia de Tórax é importante porque aponta diferentes diagnósticos, além da presença de sobrecarga ventricular direita. ❖ AVALIAÇÃO DA PROBABILIDADE PRÉ-TESTE E USO RACIONAL DOS EXAMES COMPLEMENTARES - Como são vários métodos disponíveis, com sensibilidade e especificidade diferentes, é importante determinar a probabilidade clínica pré-teste de que o paciente tenha TEP → ESCORE DE WELLS ESCORE DE WELLS CRITÉRIOS PONTOS - Sinais e Sintomas de TVP (edema, dor à palpação) 3 - Não há diagnóstico alternativo mais provável que TEP 3 - Antecedente de TVP ou TEP 1,5 - Taquicardia (FC > 100bpm) 1,5 - Imobilização ou cirurgia recente (últimas 4 semanas) 1,5 - Hemoptise 1 - Neoplasia diagnosticada ou em tratamento (últimos 6 meses) 1 PROBABILIDADE CLÍNICA - Baixa < 2 pontos - Intermediária 2 a 6 pontos - Alta > 6 pontos - Todos aqueles com suspeita de embolia pulmonar devem ser avaliados com escores de probabilidade antes que sejam solicitados exames complementares. Obs.: Independente de como se prosseguirá com a investigação diagnóstica, a probabilidade intermediária ou alta de tromboembolismo pulmonar (TEP) deve ter anticoagulação iniciada. ❖ ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO - A mortalidade na embolia pulmonar tem relação com a sobrecarga de câmaras direitas. - Classificação conforme o risco de evolução desfavorável: . ELEVADO: pacientes com pressão sistólica < 90mmHg ou queda sustentada da pressão sistólica em mais de 40 mmHg; . INTERMEDIÁRIO: sem hipotensão, mas com marcadores laboratoriais ou de imagem sugestivos de sobrecarga do VD; . BAIXO: sem hipotensão ou marcadores sugestivos de sobrecarga do ventrículo direito. ❖ DIAGNÓSTICO ** Segundo Dr. Renato . Gasometria → Hipoxemia (PaCO2 > 45 mmHg) . BNP (Peptídeo Natriurético Cerebral) → elevado (positivo) . Troponinas → elevadas (positivas) . Angiotomografia ou outro Exame de Imagem com evidências de TEP 30/07/2021 . Ecocardiograma evidenciando Hipertensão Pulmonar - Se o paciente apresentar 3 ou MAIS dos parâmetros acima descritos, é confirmado o diagnóstico de TEP. ❖ TRATAMENTO - As medidas farmacológicas na embolia pulmonar têm como objetivo impedir a progressão da lesão trombótica; a dissolução do coágulo/êmbolo é função do sistema fibrinolítico endógeno. O uso de trombolíticos é reservado a um grupo mais grave de pacientes com TEP, pelo elevado risco de complicações hemorrágicas. • TEP DE BAIXO RISCO - A anticoagulação plena deve ser iniciada com Heparina Não Fracionada (HNF), Heparina de Baixo Peso Molecular (HBPM) ou Fondaparinux, em associação a um cumarínico, que será o fármaco de manutenção. - A Heparina ou o Fondaparinux devem ser mantidos por período mínimo de 5 dias, ou mais, até que se atinja a anticoagulação efetiva com Varfarina (INR entre 2 e 3) Heparina Não Fracionada (HNF) - Endovenoso - 80U/kg IV em Bolus, seguido de 18U/kg/h - Coleta de coagulograma (TTPA) de 6/6h. Ajustar conforme o TTPA, mantendo de 1,5 a 2,5 vezes o controle. - Recomenda-se a utilização de HNF (preferencialmente): na presença de Insuficiência Renal grave, em pacientes instáveis, ou quando uma reversão rápida de efeitos anticoagulantes pode ser necessária. Heparina de Baixo Peso Molecular (HBPM) - Subcutâneo - ENOXAPARINA: 1mg/kg SC, 2 vezes ao dia ou 1,5mg SC 1 vez ao dia - DALTEPARINA: 200U/kg SC, uma vez ao dia - As HBPM não devem ser utilizadas em pacientes com Insuficiência Renal Crônica e clearance de creatinina < 30ml/min; naqueles com clearance entre 30 e 50ml/min, recomenda-se utilizar 50% da dose e monitorizar os níveis do antifator Xa; devem ser usadas com cautela em pacientes com mais de 150kg, pois a curva dose-resposta pode ser inadequada nesse grupo; recomenda-se monitorizar o efeito com dosagem do antifator Xa. Fondaparinux - Subcutâneo - Administrado 1 vez ao dia SC, em dose dependente do peso: . <50kg – 5mg . 50 a 100kg – 7,5mg . > 100kg – 10mg - Contraindicado a pacientes com Insuficiência Renal e clearance < 30ml/min; naqueles com clearance entre 30 a 50ml/min, recomenda-se utilizar 50% da dose. - A monitorização com dosagem do antifator Xa (TTPA) não é necessária SITUAÇÕES ESPECIAIS . INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA: As HBPM (Enoxaparina) têm eliminação renal e podem ter seus níveis séricos aumentados em caso de disfunção renal grave. Quando se decide por sua utilização, é obrigatório controlar seu efeito com a monitorização da inibição do antifator Xa (TTPA). 30/07/2021 . GESTAÇÃO: A anticoagulação deve ser feita com Heparina Não Fracionada (HNF) ou, preferencialmente, Heparina de Baixo Peso Molecular nas doses habituais. Mas o uso de Varfarina está proscrito, pois é uma droga com efeito teratogênico e provocará maiores riscos de complicações hemorrágicas na gestação. • PACIENTES DE RISCO INTERMEDIÁRIO OU ELEVADO - Esse grupo de pacientes, possui sobrecarga do VD pronunciada, portanto, deve-se aliviá-la o mais precocemente possível, a opção, portanto é o TROMBOLÍTICO – os trombolíticos proporcionam uma resolução mais rápida da obstrução embólica pulmonar. Pelos riscos de complicação, como sangramento (risco de sangramento intracraniano), os trombolíticos são reservados para casos graves: TEP de alto risco e casos selecionados de TEP de risco intermediário. - Os trombolíticos devem ser usados como medicação de primeira linha em pacientes com TEP e choque ou hipotensão arterial grave (TEP maciço – obstrução total), a menos que haja uma contraindicação absoluta (sangramento interno ativo ou sangramento intracraniano recente). Também devem ser usados em pacientes com risco intermediário (TEP sub-maciço), com PA normal, quando existe evidência clínica ou ecocardiográfica de disfunção ventricular direita (ecocardiografia mostrando disfunção do VD e hipertensão pulmonar aguda → Trombólise) ALTEPLASE (Ativador do Plasminogênio Tecidual) - Endovenoso - Dose: 100mg IV durante 2 horas; a dose total não deve exceder 1,5mg/kg ESTREPTOQUINASE - Endovenoso - Dose de ataque: 250000U IV em bolus durante 30 minutos; e após, manter 100000 UI/hora durante 24 horas ** Preferência pela ALTEPLASE devido ao seu efeito mais rápido e ao curto período de infusão em que é administrado. O uso concomitante de Heparina é opcional com a Alteplase e deve ser evitado com a Estreptoquinase. CONTRAINDICAÇÕES ABSOLUTAS PARA TROMBÓLISE • TRATAMENTO A LONGO PRAZO - O principal objetivo do tratamento a longo prazo é prevenir a recorrência do tromboembolismo pulmonar, que é usualmente feito por via oral com antagonistas da vitamina K → VARFARINA. 30/07/2021 - Recomenda-se iniciar a Varfarina no 1° dia após o episódio agudo e ajustar suas doses pelo Tempo de Protrombina (TPT) para manter um INR (relação normatizada internacional) entre 2 e 3. A Heparina deve ser mantida durante 5 a 7 dias, concomitantemente com a Varfarina, até que o alvo INR seja alcançado. - O período de anticoagulação é variável e dependerá do fator de risco identificado: . TEP COM CAUSA REVERSÍVEL CORRIGIDA → Anticoagular por 3 meses . TEP IDIOPÁTICO → Anticoagular por, no mínimo, 6 meses . TEP’s/TVP’s RECORRENTES → Anticoagular por, no mínimo, 1 ano e avaliar, individualmente, a manutenção por tempo indefinido. ** É consensual que o período mínimo de tratamento para prevenção de TEP deve ser de 3 meses. VARFARINA - Via Oral - Dose Inicial: 5mg VO uma vez ao dia. Ajustar a dose para manter INR entre 2 e 3. A dose diária final, após o ajuste varia de 2 a 10mg/dia. - É contraindicada na gravidez; uso liberado na lactação Obs.: A Trombólise Mecânica (EMBOLECTOMIA) é efetiva em pacientes com TEP MACIÇO (risco elevado) que não podem receber tratamento farmacológico com trombolíticos devido a contraindicações absolutas; a embolectomia também pode ser indicada em pacientes com insucesso da terapia de trombolíticos –A EMBOLECTOMIA pode ser feita através de cirurgia ou de cateter. Obs.: FILTRO DE VEIA CAVA INFERIOR – é recomendado quando os anticoagulantes são contraindicados pelo alto risco de sangramento, ou em casos de recorrência de TEP mesmo com a terapêutica anticoagulante intensiva e adequada (contraindicações em anticoagulação plena e TEPs de repetição em adequadamente anticoagulados)