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Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 1 TVP e TEP- Pneumologia Trombose Venosa Profunda Trombo profundo X Trombo superficial Constituição do trombo: EPIDEMIOLOGIA A trombose venosa profunda (TVP) caracteriza-se pela formação de trombos dentro de veias profundas, com obstrução parcial ou oclusão, sendo mais comum nos membros inferiores - em 80 a 95% dos casos. A Trombose Venosa Profunda (TVP) pode ocorrer em qualquer segmento do sistema venoso profundo, sendo a TVP de membros inferiores a mais frequente. 1-2 casos para 1000 indivíduos Mais raramente, a TVP pode acometer outros locais, como veias de membros superiores, veias esplâncnicas e seios venosos cerebrais. Em membro inferior, a TVP pode ser distal ou proximal, acometendo nesse último caso as veias poplítea, femoral ou ilíaca. A TEP é uma complicação da TVP e ocorre quando o trombo ou um fragmento deste desprende-se e migra até ramos da artéria pulmonar. • As principais complicações decorrentes dessa doença são: insuficiência venosacrônica/síndrome pós-trombótica (edema e/ou dor em membros inferiores, mudançana pigmentação, ulcerações na pele) e embolia pulmonar (EP). Esta última tem alta importância clínica, por apresentar alto índice de mortalidade. Aproximadamente 5 a 15% de indivíduos não tratados da TVP podem morrer de EP. TVP ou EP podem ocorrer em 2/1.000 indivíduos a cada ano, com uma taxa de recorrência de 25%. FATORES DE RISCO Pode-se perceber que qualquer fator de desequilíbrio na fisiologia da hemostasia que influencie um estado de pró-coagulabilidade pode ser considerado como um possível componente que aumenta a chance de eventos trombóticos2. Os fatores que promovem a trombose pertencem a 3 pilares: Lesão endotelial, hipercoagulabilidade, e anormalidades do fluxo sanguíneo. -> pode-se inferir que a estase sanguínea, fluxo turbulento, hipercoagulabilidade hereditária ou adquirida Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 2 TVP e TEP- Pneumologia Os principais fatores diretamente ligados à gênese dos trombos são: • Estase sanguínea, lesão endotelial e estados de hipercoagulabilidade. • Portanto, idade avançada, câncer (principalmente pela estase sanguínea e os fatores de coagulação que este paciente faz), procedimentos cirúrgicos (estase bastante presente), imobilização, uso de estrogênio, gravidez, distúrbios de hipercoagulabilidade hereditários ou adquiridos, constituem- se como fatores de risco para TVP. • Flebite -> acesso venoso periférico; varizes calibrosas = favorece a formação de trombos A sua incidência aumenta proporcionalmente com a idade, sugerindo que esta seja o fator de risco mais determinante para um primeiro evento de trombose. Para efeitos didáticos, os fatores de risco podem ser classificados como: • Hereditários/Idiopáticos: resistência à proteína C ativada (principalmente fator V de Leiden); mutação do gene da protrombina G20210A; deficiência de antitrombina; deficiência de proteína C; deficiência de proteína S; hiperhomocisteinemia; aumento do fator VIII; aumento do fibrinogênio; trombofilias hereditárias • Adquiridos/Provocados: síndrome do anticorpo antifosfolipídio; câncer; hemoglobinúria paroxística noturna; idade > 65 anos; obesidade; gravidez e puerpério; doenças mieloproliferativas (policitemia vera; trombocitemia essencial etc.); síndrome nefrótica; hiperviscosidade (macroglobulinemia de Waldenström; mieloma múltiplo); doença de Behçet; trauma; cirurgias; imobilização; terapia estrogênica. A causa genética mais comum para o aumento de risco de trombose venosa é a mutação do fator V de Leiden (incidência de 20-40%). Ocorre em 3-7% dos alelos do fator V. FISIOPATOLOGIA A tríade de Virchow sugere que há três componentes importantes na formação do trombo: • Lentidão do fluxo sanguíneo (estase); • Hipercoagulabilidade sanguínea;-> fatores que fazem a coagulação estão alterados • Lesão da parede vascular. Fluxo lento e baixa tensão de cisalhamento (força exercida paralela a parede) Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 3 TVP e TEP- Pneumologia Na trombose venosa, o aumento de coagulabilidade do sangue e a estase são mais importantes, pois a estase permite que a coagulação do sangue seja completada no local de início do trombo. O trombo inicial aumenta e progride em direção distal e proximal, atingindo veias cada vez maiores e alcançando finalmente os troncos coletores principais da região. Esse trombo, geralmente misto, é constituído por camadas de elementos figurados do sangue misturados em uma rede de fibrina. O trombo inicialmente está livre na corrente sanguínea, preso apenas por uma porção. Com isso, a parte livre do trombo, isto é, a que flutua na corrente sanguínea, pode desprender-se parcial ou totalmente, ocasionando a embolia pulmonar. Podemos, para fins didáticos, separar as alterações da fisiopatologia da TVP em alterações regionais e sistêmicas: Alterações regionais: • Efeito mecânico: Obstrução de uma ou mais veias por trombo ocasiona bloqueio do retorno venoso, cuja gravidade depende do calibre e extensão das veias trombosadas. O bloqueio do retorno venoso provoca uma série de alterações nas veias e tecidos distais à trombose, tais como: hipertensão venosa, dilatação e insuficiência valvular das veias profundas, comunicantes e ramos superficiais. • Reação inflamatória: Desenvolve-se um processo inflamatório nas veias afetadas, que se estende nos tecidos vizinhos, inclusive artérias e nervos. • Efeito reflexo: A irritação da parede da veia pelo trombo e a reação inflamatória atingem os filetes nervosos e desencadeiam um reflexo vasoespástico que compromete artérias e veias. Alterações sistêmicas: Podemos dividi-las em três fases: • Fase aguda - Marcada por dores, edema, reações inflamatórias nos capilares linfáticos, febre, leucocitose, aumento do tempo de hemossedimentação, diminuição do tempo de coagulação. • Fase de defesa - Caracteriza-se por diminuição súbita do edema, diurese abundante, retorno da temperatura ao normal, aumento do número de eosinófilos e maior sensibilidade à heparina. • Fase de esgotamento - Nesta fase o organismo se mostra incapaz de se defender contra as substâncias trombogênicas. As embolias ou novas localizações do processo podem aparecer. CLASSIFICAÇÃO Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 4 TVP e TEP- Pneumologia A TVP nos membros inferiores é dividida, de acordo com a localização: • Proximal: Quando acomete veia ilíaca/ femoral/ poplitea. Está mais comumente associada ao desenvolvimento de TEP. • Distal: Quando acomete veias localizadas abaixo da poplítea. Quando os trombos estão restritos às veias profundas da panturrilha, raramente causando sintomas ou embolia pulmonar. A probabilidade do trombo se estender para as veias proximais e subsequentemente causar TEP aumenta com a gravidade do estímulo protrombótico inicial. QUADRO CLÍNICO DOR E EDEMA • Geralmente dor leve e progressiva no local afetado • Edema- unilateral ou assimétrico; depressível (faz sinal de cacifo); diferença >3cm entre as panturrilhas • Aumenta consistência muscular • Aumenta temperatura da pele do local afetado A sintomatologia da trombose venosa aguda é variável, podendo-se distinguir 2 tipos clínicos, conforme a localização da trombose: No tipo indeterminado, o paciente não apresenta qualquer sintoma característico. Geralmente o paciente é acamado, podendo apresentar taquicardia, taquipneia e mal-estar geral. No tipo localizado, além dos sintomas gerais, iguais aos do tipo indeterminado, surgem, no local da trombose ou no território drenado pela veia comprometida • dor, edema, alteração da temperatura e da cor da pele e ingurgitamento das veias superficiais. A dor é de intensidade variável e súbita, que piora com a movimentação e melhora com repouso e elevação do membro comprometido. O edema é o sinal maiscaracterístico da trombose venosa aguda, aparecendo na maioria dos casos. Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 5 TVP e TEP- Pneumologia Localiza-se na região imediatamente abaixo da trombose, e, quando esta acomete ambas as veias ilíacas ou a veia cava inferior, o edema chega ao períneo, à região glútea e aos membros inferiores. Nas primeiras horas após a instalação da trombose, ocorre diminuição da temperatura da pele em virtude de vasoespasmo reflexo; no entanto, com o desaparecimento deste e o desenvolvimento de processo inflamatório no local do trombo há aumento da temperatura no membro ou no local comprometido. A alteração de cor mais frequente é a cianose, em razão da estase venosa. Quando ocorre trombose em veias profundas, a retorno venoso passa a ser feito pelas veias superficiais, as quais ficam muito ingurgitadas. DIAGNÓSTICO O diagnóstico deve se basear na anamnese, exame físico, combinados com a realização de testes laboratoriais e exames de imagem. O sistema de predição clínica mais utilizado é o ESCORE DE WELLS. Nenhuma avaliação clínica isoladamente é suficiente para diagnosticar ou descartar a TVP, pois os achados clínicos se relacionam com a doença em apenas 50% dos casos. • Exame físico: Análise do quadro clínico, podendo consistir de dor, edema, eritema, cianose, dilatação do sistema venoso superficial, aumento de temperatura, empastamento muscular e dor à palpação. Durante o exame físico alguns testes clínicos podem auxiliar no diagnóstico, entre eles: o Sinal de Homans - caracterizado por dor ou desconforto na panturrilha após dorsoflexão passiva do pé. o Sinal da Bandeira - menor mobilidade da panturrilha quando comparada com o outro membro. O membro afetado tem menor mobilidade o Sinal de Bancroft- dor à palpação da panturrilha contra estrutura óssea. Escore de Wells: É baseado em sinais e sintomas, fatores de risco e diagnósticos alternativos, estimando a probabilidade pré-teste para TVP. Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 6 TVP e TEP- Pneumologia O escore de Wells apresenta melhor resultado para avaliação de pacientes jovens sem comorbidades ou história prévia de tromboembolismo venoso, que em outros pacientes. • Exame laboratorial: Teste D-dimero: Apresenta alta sensibilidade, mas pouca especificidade para o diagnóstico da TVP. O D-dimero é um dos produtos da degradação da fibrina. -> aumenta em quadros inflamatórios, trauma, CA o Marcador sensível e não específico o Valor potencial para exclusão do fenômeno trombótico o NÃO É FEITO DIAGNÓSTICO POR UM ÚNICO D-DÍMERO Está presente em qualquer situação na qual haja formação e degradação de um trombo, não sendo, portanto, um marcador específico de TVP, podendo estar elevado em situações fisiológicas ou patológicas diversas, como: idade avançada, puerpério, gestação, cirurgia, trauma, neoplasia e processos inflamatórios e/ou infecciosos. Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 7 TVP e TEP- Pneumologia A dosagem do D-dímero deve ser utilizada em pacientes de baixa probabilidade clínica para TVP, já que não apresenta 100% de sensibilidade. Em pacientes com alta probabilidade pré-teste para TVP ou EP a utilidade é questionável. • Eco Doppler colorido (EDC): O EDC venoso é o método diagnóstico mais frequentemente utilizado para o diagnóstico de TVP em pacientes sintomáticos. Apresenta menor acurácia em veias distais, em veias de membros superiores, e em pacientes assintomáticos. É o exame de escolha para o diagnóstico de TVP. • Venografia / Flebografia: Venbgrafia com contraste é o exame considerado padrão-ouro para o diagnóstico de TVP, reservado, atualmente, apenas quando os outros testes são incapazes de definir o diagnóstico. Porém, devido a várias limitações (custo, reações adversas ao contraste, ser desconfortável para o paciente, contraindicado a pacientes com insuficiência renal), não é o exame de rotina utilizado na suspeita de TVP. Tem acurácia limitada nos quadros de TVP recorrente. • RM: pode ser utilizada para o diagnóstico de TVP em casos onde o ECD oferece resultados inconclusivos. • US Venoso com doppler: maior facilidade; Sensibilidade de 97% e especificidade 98% Escore de Wells com baixa probabilidade -> DD negativo = afasta TVP / DD positivo= US Escore de Wells com alta probabilidade -> US positivo= TTO / US negativo= DD -> DD negativo = afasta TVP / DD positivo= repetir US em 3-5 dias ou exames invasivos DIAGNOSTICO DIFERENCIAL Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 8 TVP e TEP- Pneumologia Considerar a embolia pulmonar em dispneia inexplicável, taquipnéia, dor no tórax que se acentua ao respirar, tosse sem causa clara, hemoptise. Diagnóstico diferencial de problemas nos membros inferiores: artrite, ruptura/hematoma muscular, linfangite, problema traumático, tromboflebite, celulite/erisipela, linfedema, cisto de Baker (rompido), sindrome pós-trombótica. COMPLICAÇÕES As principais complicações são: insuficiência venosa crônica/ síndrome pós trombótica e embolia pulmonar (EP). A síndrome pós-trombótica é caracterizada por trombos que persistem e destroem as valvas venosas, prejudicando o retorno venoso. Há hipertensão venosa, responsável pelo acúmulo de líquido no espaço extravascular, com edema e, a longo prazo, atrofia da pele e pigmentação melânica. Em casos mais graves, há ulceração cutânea. O TEP define-se como a obstrução de uma ou mais artérias pulmonares. Na maioria dos casos, é causado por coágulos sanguíneos que chegam às artérias pulmonares vindo, mais comumente, de TVP das extremidades inferiores. Os sinais clínicos de TEP são inespecíficos, como dispneia, dor torácica, hemoptise, sincope ou pré- sincope. Em alguns casos, pode ser assintomática e descoberta incidentalmente. TRATAMENTO O tratamento de escolha é a anticoagulação. Para os pacientes com alta suspeita clínica, ele pode começar antes mesmo da investigação diagnóstica - bem como na profilaxia pós-cirúrgica. Nos casos de estabilidade hemodinâmica, baixo risco de sangramento e ausência de doença renal crônica, não há necessidade de internação, podendo o paciente realizar a terapia de forma ambulatorial. O tratamento clássico consiste em uma heparina de baixo peso molecular (HBPM) ou fondaparinux associada a warfarina oral. Se HBPM, preferencialmente usar enoxaparina 1,5mg/kg até 150mg, SC, 1x/dia. Se fondaparinux, 7,5mg, SC, 1x/dia (para pacientes de 50 a 100 kg). Utilizar por 5 dias em conjunto com a warfarina. Atentar para clearence de Cr (usar apenas se maior que 30ml/min) e suspender se RNI entre 2 e 3 durante dois dias seguidos. • Alternativa à essa terapia está a anticoagulação totalmente oral, realizada com rivaroxabana 15mg, VO, de 12 em 12h durante 21 dias - depois disso, 20mg, 1x/dia - ou apixabana 10mg, VO, de 12 em 12h durante Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 9 TVP e TEP- Pneumologia 7 dias - depois disso, 5mg de 12 em 12h. Outros esquemas, envolvendo HBPM e fondaparinux estão disponíveis, contudo, todos levam em consideração um clearence de creatinina maior que 30ml/min. O tempo de tratamento deve ser mantido de 3 a 6 meses, demorando o tempo mínimo no paciente com TVP associada a neoplasia. Trombolíticos estão reservados para TEP ou situações de alto risco. Os benefícios do filtro de veia cava inferior não estão totalmente elucidados. Para pacientes em diálise ou com clearence de Cr menor que 15ml/min, optar pela heparina não fracionada 80UI/kg IV de ataque e 18UI/kg/h de infusão contínua na manutenção. Manter TTPA entre 1,5 a 2,5. Tromboembolismo Pulmonar EPIDEMIOLOGIA O tromboembolismo pulmonar (TEP) ou embolia pulmonar é uma das emergências mais subdiagnosticadas e é a terceira causa de morte por evento cardiovascular. Fica atrás apenas do AVC e da Síndrome Coronariana Aguda. Obstrução da artéria pulmonar ou um dos seusramos por algum material originado em outra parte do corpo (trompo, gordura, ar, tumor,ect.) -> qualquer fragmento que se desloque e forme um êmbolo. • É a TVP que se desloca; • Ventilação mantida • Ausência de fluxo sanguíneo • Hipoxemia/ alcalose respiratória Nos últimos anos, houve crescente preocupação com criação de protocolos de profilaxia e de um grande número de estudos sobre o tema. O aumento do interesse pelo TEP ocorre em virtude da alta prevalência desse evento no ambiente hospitalar, tornando a prevenção do TEP uma das grandes preocupações nos pacientes internados. A incidência de TEP aumenta com a idade, principalmente nas mulheres, alcançando uma taxa de > 500 casos por 100.000 mulheres acima dos 75 anos. Não há consenso referente a prevalência do tromboembolismo pulmonar quanto a etnia e ao sexo, no entanto, alguns estudos sugerem que a incidência do Tromboembolismo Pulmonar é maior em homens do que em mulheres (respectivamente, 56 contra 48 casos por 100.000 habitantes). Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 10 TVP e TEP- Pneumologia Estima-se que a embolia pulmonar cause cerca de 100.000 mortes por ano nos Estados Unidos e 300.000 mortes por ano na Europa, no entanto, a mortalidade do Tromboembolismo Pulmonar é subestimada, uma vez que há evidências de que parte dos casos de morte súbita de origem cardiovascular sejam causados por TEP. Nos casos diagnosticados de TEP, a mortalidade é de cerca de 4% em 1 mês e chega a 13% em 1 ano. No Brasil, os estudos sugerem que a maioria das mortes por TEP ocorrem sem diagnóstico, com o Tromboembolismo Pulmonar (TEP) só sendo descoberto em estudos post mortem. Dessa forma, as mortes por TEP no país são subestimadas. Estudos acreditam que o TEP cause cerca de 100.000 mortes por ano no Brasil. FATORES DE RISCO Os fatores de risco estão intimamente ligados com a fisiopatologia da doença: formação de trombos. As situações que propiciam a formação desses trombos já foram descritas há anos e compõem a Tríade de Virchow: Estase, Hipercoagulabilidade e Lesão Endotelial. Ou seja, para pensar nos fatores de risco é só pensar em doenças, acometimentos e condições que gerem algum de um dos três pontos da Tríade de Virchow Fatores de risco hereditários: • Mutação do fator V • Mutação de gene de protrombina • Deficiência de vitamina C ou S • Deficiência de antitrombina • Desfibrinogemia • Deficiência de plasminogênio Fatores de risco adquiridos: • Uso de Cateter venoso central • Tabagismo • Idade ocasionando uma INSUFICIÊNCIA CARDÍADA DIREITA. O ventrículo direito tenta manter o equilíbrio, ou seja, mantém o débito cardíaco à custa do aumento da pressão pulmonar. Como consequência desta instalação súbita, as fibras cardíacas podem se esgarçar levando a dilatação da câmara direita, que pode deslocar o septo interventricular (situação visualizada no ecocardiograma). A hipertensão pulmonar pode permanecer mesmo após o tratamento do episódio agudo, sendo, portanto, uma complicação. Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 13 TVP e TEP- Pneumologia 1. Fragmento de trombo 2. Embolizar (obstruir): vasos das artérias pulmonares. Segue pela circulação venosa-AD/VD- Tronco pulmonar- As Pulmonares 3. Obstrução parcial ou total do fluxo sanguíneo para as áreas pulmonares = hipoxia (queda da oxigenação do 4. Alterações hemodinâmicas = sobrecarga de VD- ICD- Choque cardiogênico 5. Alteração ventilatória= desequilíbrio VA/Q o VA/Q -> VA= ventilação alveolar e Q= perfusão (fluxo)= 1 o VA/Q = o Q deve estar maior que o VA = se tem mais perfusão do que ventilação -> muito fluxo, mas pouco ar = formação de um sangue derivado, quando uma parte do sangue não se oxigenoupois havia mais fluxo do que ar. o VA/Q = >1 -> o VA é maior que o Q = Obstrui o capilar devido a alta quantidade de ar e pouco fluxo sanguíneo -> Gerando a formação de um espaço morto, devido ao desequilíbrio da relação ventilação- perfusão 6. Resposta inflamatória: Agrava a lesão endotelial, vasoconstrição e agrava a hipertensão pulmonar Episódios de TEP com obstrução de ramos mais distais dos vasos pulmonares apresentam maior risco de desenvolvimento de infarto pulmonar, com resposta inflamatória intensa na região em decorrência da morte celular. Isso se correlaciona com manifestações clínicas como hemoptise e dor pleurítica. Com a obstrução de um ramo da artéria pulmonar, surge uma área de espaço morto patológico no pulmão, definida como uma área em que há ventilação, no entanto, não há perfusão para que ocorra a troca gasosa. Dessa maneira, há uma alteração na relação ventilação/perfusão (V/Q), o que contribui para o desenvolvimento de sintomas respiratórios como dispneia e alterações como hipóxia. Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 14 TVP e TEP- Pneumologia Além disso, a dinâmica respiratória também é alterada na TEP em decorrência da resposta inflamatória, que contribui para a ocorrência de atelectasia, taquipneia e, consequentemente, hipoxemia e alcalose respiratória, nos casos mais graves. CLASSIFICAÇÃO O TEP é classificado em três categorias com base na gravidade: TEP maciço, TEP submaciço e TEP de menor gravidade • TEP maciço: pressão arterial sistólica 40% na pressão arterial sistólica basal. o Trombose extensa afetando, pelo menos, metade da vasculatura pulmonar. o QUADRO CLÍNICO: predomina a dispneia, associada a sinais de baixo débito, como síncope, hipotensão e cianose. o Em casos mais graves, os pacientes podem cursar com choque cardiogênico, podendo vir a óbito. • TEP submaciço: pressão arterial normal, mas com outras evidências de estresse cardiopulmonar. o Associada à disfunção de VD, embora a pressão arterial sistêmica permaneça normal. o Há uma hipocinesia ventricular (quando ocorre uma diminuição da contratilidade do músculo cardíaco) direita moderada a grave, bem como elevações da troponina, pró-BNP, ou BNP. o Esses pacientes correm risco de embolia recorrente, mesmo com a terapia anticoagulante adequada. Sob esse viés, esses pacientes podem se apresentar clinicamente estáveis, porém, a presença de sinais de insuficiência cardíaca, associada à liberação de biomarcadores cardíacos, sugere piora clínica. • TEP de menor gravidade: Todos os outros casos. Em pacientes com TEP confirmado é importante classificar e estratificar o paciente de acordo com a gravidade do quadro (risco de mortalidade) calculando o escore PESI Os pacientes PESI classe I e II são considerados de baixo risco e podem ser elegíveis para tratamento domiciliar ou alta precoce, que é definida por alta antes de 5 dias de internação hospitalar, tempo usualmente recomendado de internação para TEP. Uma análise mostrou que em pacientes com escore PESI não chega sangue para fazer a troca = hiperventilação • Taquicardia • Cianose • B4/P2 aumentada • Febre • Sibilos • Crepitação Pulmonar • Atrito Pleural • TVP clínica A tríade clássica do TEP (dispneia, dor torácica pleurítica e hemoptise) ocorre na minoria dos casos. A dispneia é o sintoma mais frequentemente descrito, relatado em 80% dos casos, mas com dispneia em repouso ocorrendo em apenas 50% dos pacientes. O segundo sintoma mais comum é a dor torácica, embora até metade dos pacientes diagnosticados com TEP não apresentem essa queixa, que usualmente tem caráter pleurítico (quando o trombo é periférico, próximo a pleura, por inflamação dessa região) ou subesternal, simulando uma síndrome coronariana aguda (por sobrecarga aguda e/ou isquemia do ventrículo direito). No exame físico, achados de trombose venosa profunda como edema assimétrico de membros inferiores devem ser pesquisados. Achados sugestivos de hipertensão pulmonar como B2 hiperfonética e sopro em foco tricúspide também podem estar presentes. Infelizmente o TEP não altera os sinais vitais de forma previsível e cerca da metade dos pacientes com TEP comprovado têm frequência cardíacafacilitar sua utilização na prática clínica. O escore de Geneva possui a forma original que é pontuado de 1-5 e a versão simplificada em que todos os critérios são avaliados com 1 ponto, com exceção da frequência respiratória que vale 2 pontos, caso esteja > 94 bpm; ORIGINAL: • Baixa probabilidade: 0-3 pontos • Probabilidade intermediária: 4-10 pontos • Alta probabilidade: ≥ 11 pontos SIMPLIFICADO: • TEP improvável NEGATIVO = Descarto TEP | POSITIVO= Angio-TC de Tórax Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 20 TVP e TEP- Pneumologia Escore médio ou alto: realizo Angio-TC de tórax: se vier positivo eu confirmo TEP, se vier negativo eu descarto TEP. Ou seja: d-dímero positivo não confirma TEP mas devido ao seu valor preditivo negativo, quando o d-dímero estiver negativo as chances de ser tromboembolismo pulmonar são MUITO baixas DIAGNOSTICO - EXAMES COMPLEMENTARES D-DÍMERO: O D-dímero é um produto da degradação da fibrina, portanto, está aumentado nos insultos em que o sistema de coagulação está trabalhando a todo vapor. Então, ele não é um exame específico de TEP e é insuficiente para fechar o diagnóstico. A principal função do D-dímero é excluir TEP em casos em que os escores pré-teste resultaram em baixa probabilidade. Isso se dá por causa do seu alto valor preditivo negativo (99,5%). Porém, temos que ter em mente: • Não exclui TEP quando a probabilidade é alta; • Está aumentado em outras patologias (ex.: infarto agudo do miocárdio). ANGIO-TC DE TÓRAX: não é o padrão ouro, porém é o exame mais acurado para ser utilizado na prática. Apesar de não está disponível em todos os serviços, Angio-TC de Tórax é exame de escolha em pacientes estáveis com intermediária ou alta probabilidade de TEP pelos escores prognósticos Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 21 TVP e TEP- Pneumologia BNP, NT-PROBNP E TROPONINA: Utilizados como avaliação prognóstica e estratificação de risco. Alguns autores sustentam que níveis elevados em pacientes estáveis, porém com disfunção de ventrículo direito, indicam pior prognóstico. Portanto, esses pacientes podem se beneficiar de trombólise. Gasometria Arterial: demonstrando hipoxemia no contexto de um Raio-X de Tórax limpo aumentam a suspeita de TEP. No entanto, esse exame pode vir normal em até 18% dos casos. Dentre as alterações: • Hipoxemia (74%); • Hipocapnia e alcalose respiratória (41%); • Gradiente A-a aumentado (62%). ELETROCARDIOGRAMA: O ECG tem pouca contribuição no TEP, mas ele deve ser usado como diagnóstico diferencial de SCA. Geralmente, demonstram alterações inespecíficas como: taquicardia sinusal (principal), desvio do eixo elétrico, BRD, inversão da onda T em V1 a V4, DIll e aVF. O único sinal específico de TEP é bastante incomum (menos de 10% dos casos): a presença do "S1Q3T3": onda S em D1, onda Q em D3 e inversão de onda T em D3. RADIOGRAFIA DE TÓRAX: No tromboembolismo pulmonar, o Raio-X de Tórax está sem alterações na maioria dos casos. Mas isso não quer dizer que esse exame não deve ser feito. Ele é muito útil para avaliar os possíveis diagnósticos diferenciais de TEP, como pneumonias, derrames pleurais e congestão pulmonar. Existem achados mais específicos, porém raros, que sugerem TEP, são eles: • Corcova de Hampton: imagens hipotransparentes em formato de cunha em bases pulmonares referentes à área de infarto pulmonar (figura 2); Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 22 TVP e TEP- Pneumologia • Sinal de Westermark: áreas de hipoperfusão pulmonar com diminuição da trama vascular; • Sinal de Palla: dilatação da artéria pulmonar. ULTRASSONAGRAFIA À BEIRA DO LEITO: é um exame muito útil e prático para diagnóstico presuntivo de TEP, principalmente em pacientes instáveis em que o diagnóstico permanece obscuro. A visualização de TVP no Doppler Venoso de Membros Inferiores em pacientes com clínica sugestiva de TEP nos permitem iniciar a terapêutica adequada. ECOCARDIOGRAMA TRANSTORÁCICO (ECO-TT): nos permite um diagnóstico presuntivo e iniciar terapia. Os achados principais são: dilatação de ventrículo direito, hipertensão pulmonar, insuficiência tricúspide e visualização de trombo em VD ou AD. Um sinal bem sugestivo é o Sinal de McConnel: hipocinesia segmentar da base livre de VD. No entanto, o ideal seria a visualização de trombo no trombo pulmonar ou na parte proximal das artérias pulmonares, porém esse achado é difícil de ser visto em ECO-TT, sendo mais fácil de ser observado no Ecocardiograma Transesofágico. Angiotomografia ou angioressonância venosa também são capazes de identificar os trombos e sua localização, embora não sejam recomendados por não apresentarem eficácia superior à USG. O exame padrão-ouro é a venografia. Outros exames de imagem • Cintilografia com relação V/Q: muito pouco utilizado na prática atualmente • Arteriografia pulmonar: padrão-ouro no diagnóstico de TEP, porém pouco utilizado por ser invasivo DIAGNOSTICO DIFERENCIAL Os principais diagnósticos diferenciais do TEP são: infarto agudo do miocárdio (IAM), pneumonia, insuficiência cardíaca, asma brônquica, doença pulmonar obstrutiva crônica, neoplasia torácica, fratura de costela, pneumotorax, dor de origem músculo- esquelética e bacteremia (liberação de mediadores causando hipoxemia e hipotensão) Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 23 TVP e TEP- Pneumologia COMPLICAÇÕES Consequências respiratórias: • Imediatas: aumento do espaço morto do compartimento alveolar, efeito shunt, broncoconstrição e pneumoconstrição associadas, respectivamente, ao aumento da resistência de vias aéreas e redução da complacência pulmonar, distúrbio difusional, hipoxemia, hipo ou hipercapnia, taquipnéia • Tardias (após 18 h): redução da produção do surfactante, com tendência ao colapso alveolar e edema pulmonar, aumento da resistência de vias aéreas e diminuição da complacência pulmonar, distúrbio difusional, distúrbios VA/Q, hipoxemia, taquipnéia Consequências hemodinâmicas: Redução do leito arterial pulmonar, aumento da resistência vascular, aumento na pressão da artéria pulmonar, aumento da pós-carga e do trabalho do ventrículo direito (ocasionando até sua falência e Cor pulmonale), queda do volume/minuto circulatório, taquicardia, diminuição da perfusão coronariana, isque mia miocárdica, prejuízo de enchimento do ventrículo esquerdo com sua posterior disfunção e até choque circulatório RESUMO: → Embolia pulmonar (EP) é um diagnóstico diferencial possível em pacientes com dispneia, taquipneia, dor torácica ou hipotensão/choque. Todos os pacientes com suspeita de EP confirmada devem ser submetidos a avaliação da probabilidade pré-teste a partir dos escores de Wells ou Genebra modificado. → Gasometria arterial, radiografia de tórax e eletrocardiograma, mesmo quando normais, não excluem embolia pulmonar; muitas vezes sãoT uteis paradescartar outras doenças. - Paciente com idade > 50 anos: deve-se corrigir o D-dímero pela idade (10 x idade em anos). → TC de tórax é o exame de escolha na maioria dos pacientes. Em pacientes com instabilidade hemodinâmica, o exame de primeira escolha é o Ecocardiograma. → Todos os pacientes devem ser estratificados quanto ao risco de morte precoce. → Anticoagulação parenteral deve ser prescrita para todos os pacientes, exceto se houver contraindicação. Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 24 TVP e TEP- Pneumologia - Novos anticoagulantes orais podem ser usados no lugar da warfarina (dabigatran ou edoxaban) ou mesmo ser usados em monoterapia (apixaban e rivaroxaban). → Pacientes com EP e alto risco de morte (hipotensão ou choque) devem ser anticoagulados com heparina não fracionada associada a trombólise sistêmica. Não usar nenhuma medicação subcutânea nessa situação. → Pacientes de baixo risco, desde que tenham condições clinicas e sociais, devem ser tratados ambulatorialmente. TRATAMENTO A partir da suspeita clínica criteriosa de TEP, o tratamento deve ser iniciado de imediato, após a definição de suspeita clínica intermediária ou alta, com objetivos de interromper o processo tromboembólico e diminuir a mortalidade associada, que é máxima nas primeiras horas do desenvolvimento de sintomas. A ANTICOAGULAÇÃO é uma terapia secundária, à medida que não atua diretamente na dissolução do trombo estabelecido. Entretanto, a suspensão do processo trombótico permite a ação trombolítica endógena sem oposição. Então, conjuga-se anticoagulação exógena com a trombólise endógena, que é máxima em nível da circulação pulmonar. • Alternativamente, pode ser necessária a administração de terapia primária, constituída pelo emprego de fármacos trombolíticos, que atuam de forma direta na dissolução do trombo. Associa-se, então, trombólise exógena à trombólise endógena, complementada a seguir pela anticoagulação, que exerce função de prevenção secundária de recorrência. O TEP é uma das causas de CHOQUE OBSTRUTIVO, ou seja, se o paciente estiver sinais de instabilidade hemodinâmica e choque devemos ESTABILIZAR O PACIENTE E REALIZAR UMA TERAPIA DE IMEDIATO. Deve-se pedir interconsulta com a cirurgia vascular para avaliar possibilidade de uso filtros de veia cava inferior. Eles são alternativas para prevenir novos trombos em duas situações: • Contraindicação à anticoagulação • Falha da anticoagulação O FILTRO DE VEIA CAVA é um dispositivo metálico que os médicos colocam em uma veia que fica dentro do abdome (a veia cava) para impedir que os coágulos (trombos) que provocam a Trombose Venosa Profunda (TVP) causem embolia pulmonar, ou seja, o entupimento das artérias do pulmão. Lara Cascaes da Rosa | 6º semestre Medicina (UNISUL) 25 TVP e TEP- Pneumologia Filtros removíveis devem ser empregados para pacientes com contraindicação temporária ao uso de anticoagulantes, devendo permanecer por aproximadamente 2 semanas • O uso de filtros de veia cava deve ser considerado no pré-operatório de pacientes candidatos à cirurgia e acometidos por evento trombótico nos últimos 30 dias, para os quais a anticoagulação precisa ser interrompida. Filtros removíveis devem ser considerados na presença de uma contraindicação temporária à anticoagulação Atualmente existe o Pulmonary Embolism Severity Index (PESI) que nos permite tratar ambulatorialmente os pacientes estáveis com bom prognóstico, o que seria um somatório do PESI