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RENATA LIMA – MEDICINA – 5º PERÍODO – TUTORIA SP 2.3 – COMPLICOU. – MENINGITES INFECÇÃO E FEBRE 1. RELACIONAR IVAS E MENINGITE 2. ESTUDAR A HISTÓRIA NATURAL DAS MENINGITES Meningite: processo inflamatório das membranas leptomeníngeas (a pia-mater, mais interna, e a aracnoide, mais externa, que envolvem o espaço subaracnoide) que, com a meníngea dura-máter, envolvem o encéfalo e a medula espinal. A infecção pode atingir, por contiguidade, estruturas do sistema nervoso central (SNC), constituindo: meningomielite, meningoencefalite ou meningomieloencefalite. Na terminologia médica corrente, essas situações são referidas somente pelo termo “meningite”. O líquido cefalorraquidiano (LCR), que circula no espaço subaracnoide, é o melhor elemento para a pesquisa diagnóstica de meningite. Ele participa ativamente na resolução do processo infeccioso, seja ao facilitar o transporte de elementos imunitários sanguíneos às meninges e ao SNC, ou ao veicular antimicrobianos administrados no tratamento. O comprometimento infeccioso do SNC e de suas membranas envoltórias pode ser agudo, particularmente por bactérias e vírus, ou crônico, quando causado por protozoários, espiroquetas, helmintos, fungos ou micobactérias. A meningite bacteriana aguda permanece como uma doença com altos índices de morbidade e mortalidade. Contudo, com a moderna antibioticoterapia e os suportes terapêuticos, as chances de sobrevida têm melhorado muito, sobretudo em recém-nascidos e crianças maiores. A) Etiologia As infecções do SNC e de suas membranas meníngeas envoltórias podem ser causadas por inúmeros agentes infecciosos (bactérias, vírus, protozoários, helmintos, espiroquetas e fungos) ou não infecciosos. As bactérias e os vírus são os microrganismos implicados com mais frequência, e, em geral, a ocorrência é endêmica. Entretanto, eles podem produzir grandes epidemias abertas, atingindo toda a população, ou microepidemias explosivas, limitadas geralmente a comunidades institucionalizadas (creches, escolas, quartéis, presídios, enfermarias etc.). Um grande número de bactérias, de alta virulência ou não, pode causar meningite. As três mais frequentes (entre 50 e 90% dos casos) são: • Streptococcus pneumoniae; • Neisseria meningitidis; • Haemophilus influenzae. Entretanto, com a introdução da vacina contra o Haemophilus influenzae, tem ocorrido uma significativa redução de casos nos países desenvolvidos, porém, no Brasil, o número de casos e o coeficiente de morbidade e mortalidade ainda mantiveram-se até 2013 e o início de 2014. A prevalência de cada bactéria está correlacionada com um ou mais entre os seguintes fatores: • idade do paciente; • porta de entrada ou foco séptico inicial; • tipo e localização da infecção no SNC; • estado imunitário prévio específico e geral; • situação epidemiológica local. Com o advento da antibioticoterapia, a letalidade decresceu: de cerca de 90%, foi reduzida para um nível global em torno de 15 a 30%. A prevalência de meningite bacteriana tem permanecido relativamente constante nos últimos 40 anos, exceção feita a períodos epidêmicos. Ela incide nos dois sexos em proporção semelhante e não há diferenças de suscetibilidade RENATA LIMA – MEDICINA – 5º PERÍODO – TUTORIA entre as várias raças ou grupos étnicos. Em períodos não epidêmicos, cerca da metade dos casos ocorre em pessoas com menos de 15 anos de idade. De modo semelhante, a mortalidade varia com a idade, sendo mais alta nas faixas extremas da vida. A infecção pode atingir o SNC por meio de três mecanismos básicos: propagação sanguínea (bacteremia ou septicemia); infecção adjacente às meningites (faringite, sinusite, mastoidite, otite média etc.); solução de continuidade. As infecções crônicas otorrinolaringológicas podem se comportar como foco inicial silencioso, sobretudo a otite média crônica, que se propaga por contiguidade através do mastoide ou do osso temporal. As meningites se desenvolvem, em geral, secundariamente a focos infecciosos distantes. De um ponto de vista didático pode-se apresentar as principais vias de infecção: Por via hematogênica: a maioria das bactérias que causam meningite se coloniza na orofaringe e, através do sangue, atinge o SNC, como é o caso de meningococo, pneumococo e hemófilo; outras provém dos intestinos (enterobactérias), dos pulmões (pneumococo) e do aparelho geniturinário (gram- negativos), sempre por disseminação hematogênica. Por contiguidade: a partir de focos próximos às estruturas anatômicas do SNC, como otites médias crônicas, mastoidites ou sinusites. Por continuidade ou acesso direto: como nos traumatismos cranianos e por manipulação propedêutica ou terapêutica do SNC e de estruturas próximas (punção liquórica e uso de cateter ou implantes sem a devida assepsia). As meningites bacterianas têm uma porta de entrada geralmente inaparente; em apenas 10% dos casos há um foco primário detectável: Na ausência de um foco primário detectável, para se estabelecer o início da terapêutica empírica é importante saber quais as bactérias mais prevalentes por faixa etária: • Streptococcus pneumoniae; • Neisseria meningitidis; • Haemophilus influenzae. Recém-nascidos de até três meses de vida: até esse período, o recém-nascido está geralmente protegido por anticorpos maternos, transferidos por via transplacentária, contra pneumococo, meningococo e hemófilos. As etiologias mais frequentes no período neonatal são: Streptococcus sp e outras espécies de estreptococos do grupo B; E.coli; outros gram- RENATA LIMA – MEDICINA – 5º PERÍODO – TUTORIA negativos enterobacteriáceos; e, em algumas situações clínicas e em berçários “patolólogicos”, o S. aureus resistente à meticilina (a (MRSA). Crianças de baixo peso, cujo sistema imunológico é ainda imaturo, podem colonizar o Streptococcus agalactiae ou Listeria monocytogenes, uma bactéria saprófita dos genitais femininos que está presente no canal do parto. Entre 3 meses e 10 anos de idade: passam a prevalecer com mais frequência Neisseria meningitidis (meningococo) e Streptococcus pneumoniae (pneumococo). É o período etário em que o Haemophilus influenzae tipo b, transmitido por secreções nasofaríngeas, é mais frequente. A partir dos 5 anos, sua ocorrência vai decrescendo, até os 10 anos de idade, sendo rara a ocorrência depois disso. Acima dos 10 anos de idade: prevalecem Neisseria meningitidis e Streptococcus pneumoniae, que respondem por 80 a 90% dos casos na ausência de períodos epidêmicos de outras bactérias. Recentemente, com a introdução de vacina específica e altamente eficaz contra o Haemophilus influenzae, tem-se a expectativa da modificação do panorama epidemiológico, com redução significativa do número de casos. Nos países mais desenvolvidos, onde a vacina já está sendo administrada há anos dentro do esquema básico de vacinação, é possível que haja a extinção dos casos. Na senilitude: o indivíduo idoso, debilitado orgânica e imunologicamente, é suscetível também a infecções por agentes “oportunistas”. Além do meningococo e do pneumococo, prevalecem bactérias oportunistas, como Listeria monocytogenes, Streptococcus agalactiae e enterobactérias. B) Fisiopatologia O mecanismo e a via de invasão pela qual a bactéria produz meningite ainda não estão totalmente esclarecidos. O SNC (particularmente o cérebro) possui um bom sistema protetor contra agentes patogênicos invasivos, composto por caixa craniana, meningites e um complexo mecanismo que se interpõe entre o sangue e o liquor (barreira hematoliquórica). A infecção pode atingir o SNC por meio de três mecanismos básicos: propagação sanguínea (bacteremiaou septicemia); infecção adjacente às meningites (faringite, sinusite, mastoidite, otite média etc.); solução de continuidade. As infecções crônicas otorrinolaringológicas podem se comportar como foco inicial silencioso, sobretudo a otite média crônica, que se propaga por contiguidade através do mastoide ou do osso temporal. A bacteremia costuma se desenvolver, tanto no recém- -nascido como nos demais segmentos etários, a partir de infecções de pele, pulmão, coração, trato intestinal e geniturinário. A orofaringe é uma fonte de infecção por bactérias que podem se colonizar assintomaticamente nessa região. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º PERÍODO – TUTORIA Algumas experiências mostram que as bactérias se distribuem no SNC ao longo das paredes dos seios venosos encefálicos, onde a pressão do sistema venoso é baixa. Deste ponto, elas penetram pela dura-máter, conseguindo alcançar o espaço subaracnóideo. Este é o momento crítico que irá definir o destino dessas bactérias; se os mecanismos locais de defesa (ainda não bem conhecidos) não conseguirem promover rapidamente a depuração bacteriana, os microrganismos se colonizam e disseminam a infecção. A habilidade dessas bactérias em atingir o espaço subaracnóideo e as meníngeas decorre de fatores de virulência que as permitem burlar o sistema imunológico de defesa. Assim, os meningococos, por exemplo, possuem estruturas fenotípicas, as pili (adesinas), na sua superfície, que os permitem aderir à mucosa e se colonizar. De outro modo, pneumococos, hemófilos e meningococos secretam proteases que fazem a clivagem das IgAs secretórias na superfície da mucosa oral. Já na corrente sanguínea, os polissacarídeos capsulares podem se livrar do sistema complementar sérico atividade-específico, que é ativado pela via alternativa. Se a bacteremia é mantida, as bactérias invadem o espaço subaracnóideo e o SNC por vias e mecanismos ainda não bem esclarecidos. Após ultrapassar a barreira hematoliquórica, as bactérias podem se colonizar com mais facilidade porque, no SNC, o sistema humoral de defesa é precário. Componentes da estrutura bacteriana (parede celular do pneumococo, lipopolissacarídeos do H. influenzae, N. meningitidis e E. coli) induzem a produção e a secreção local de citocinas (interleucina 1 [IL-1], IL-6 e fator de necrose tumoral), que medeiam o processo inflamatório. As citocinas ativam o endotélio cerebral, induzindo a adesão de leucócitos e glicoproteínas e a diapedese dos leucócitos para o liquor. A lesão da microvasculatura cerebral e o processo inflamatório das meníngeas facilitam a produção de edema cerebral, tanto por mecanismos vasogênicos (exsudação de albumina através da barreira hematoliquórica alterada), como por mecanismos intersticiais (redução na reabsorção de liquor pelas vilosidades aracnóideas). Ambos os processos aumentam a pressão intracraniana. A produção de mediadores vasoativos (oxigênio e nitrogênio) reduz a autorregulação do fluxo sanguíneo cerebral, prejudicando o metabolismo celular (déficit de oxigênio e glicose em nível tecidual), produzindo, em consequência, dano cerebral (isquemia, convulsões, herniações, lesão nos nervos cranianos etc.). Os seguintes fenômenos podem ocorrer, conferindo maior ou menor gravidade à meningite, e, como consequência, podem dar origem a sequelas neurológicas: • Tromboflebite de vasos corticais, consequente a focos de necrose no endotélio dos vasos. • Edema inflamatório endocraniano, geralmente simétrico, responsável pela síndrome de hipertensão endocraniana (quando muito intenso, pode chegar a causar herniações encefálicas). • Exsudato fibrinopurulento no espaço subaracnóideo, bloqueando, parcial ou totalmente, a drenagem liquórica (hidrocefalia). Algumas bactérias ocasionam, predominantemente, processos exsudativos localizados (p. ex., pneumococo, hemófilo etc.), ao passo que outras causam, caracteristicamente, exsudatos difusos (p. ex., meningococo); aumento da produção liquórica e/ou redução da capacidade de reabilitação de liquor; encefalopatia pela ação de toxinas bacterianas (principal mecanismo responsável pelas alterações sensoriais e eletroencefalográficas); • Alterações eletrolíticas; RENATA LIMA – MEDICINA – 5º PERÍODO – TUTORIA • Hipoglicorraquia (na meningite, o processamento glicolítico está aumentado, pois o próprio cérebro realiza oxidação do glicogênio, mas a necessidade de utilização de glicose excede a capacidade de fluxo); • Iatrogenia (neurotoxicidade dos antibióticos etc.); • Oclusão séptica (êmbolos infectados) ou asséptica (fibrina) dos grandes seios durais. C) Quadro clínico Os sinais e sintomas principais no diagnóstico da meningite incluem febre, cefaleia, rigidez da nuca e alterações sensoriais do SNC. Isso pode variar, com ausência de alguns sinais e sintomas ou com o acréscimo de outras manifestações clínicas neurológicas. VIRAL: A meningite aguda viral causa menor repercussão sistêmica (p. ex., alguns vírus do grupo Echovirus e Coxsackie A causam exantemas e enantema oral acinzentado (herpangina); alguns vírus do grupo Coxsackie B causam pleurodinia, pericardite, orquite e neurite braquial). MENINGOCÓCICA: Deve-se suspeitar de meningite meningocócica se a evolução for muito rápida, se ocorrerem lesões petequiais, purpúricas, ou se ocorrer choque circulatório. PNEUMOCÓCICA: A meningite pneumocócica é geralmente precedida por infecção nos pulmões, ouvidos, seios da face ou válvulas cardíacas, sendo suspeitada nos alcoólatras, nos esplenectomizados e nos idosos. HEMÓFILO: A meningite por Haemophilus influenzae (hemófilo) é comumente precedida por infecção respiratória alta e otites, em pacientes não vacinados. Os sintomas produzidos pela meningite diferem em relação a dois fatores: agente etiológico e idade do paciente. Assim, ao contrário de certos germes que costumam se colonizar primeiro em focos infecciosos distantes (com sintomas prodrômicos referentes a esses focos), algumas bactérias (como o meningococo) apresentam quadros clínicos instalados abruptamente e acompanhados de graves manifestações sistêmicas. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º PERÍODO – TUTORIA Quanto à idade do paciente, os sinais e sintomas diferem entre os seguintes grupos etários: • Em recém-nascidos e crianças com até 18 meses, os sinais clássicos da meningite podem estar ausentes porque a caixa craniana pode se distender devido à presença de suturas cranianas abertas, as quais permitem a expansão do conteúdo endocraniano sem causar aumento da sua pressão. Nessas circunstâncias, a criança apresenta poucos sinais, como hipotermia, choro ou gemidos agudos e persistentes, irritabilidade, recusa alimentar, fontanelas abauladas; ocasionalmente, vômitos e/ou diarreia; com menos frequência, rigidez de nuca, estado comatoso, convulsões e cianose de extremidades. A criança pode apresentar sinais neurológicos (dependente da gravidade do processo infeccioso), como certo grau de letargia, sinal de Moro anormal, tremores, olhar fixo, alterações na tonicidade muscular e, mais raramente, sinais de comprometimento dos nervos cranianos • Em crianças maiores e adultos sadios, a meningite se exterioriza por meio de três síndromes, descritas a seguir: 1. SÍNDROME INFECCIOSA: Essa síndrome tem sinais e sintomas inespecíficos, comuns às doenças infecciosas agudas e graves, e que incluem febre (hipertermias superiores a 39°C), anorexia, mal-estar geral, prostração, mialgias e estado toxêmico. 2. SÍNDROME DE HIPERTENSÃO ENDOCRANIANA: O aumento do conteúdo intracraniano, sem a correspondente distensão de estrutura óssea, provoca compressões neurológicasque se exteriorizam clinicamente por meio de um conjunto sintomatológico, no qual a cefaleia holocraniana e os vômitos não alimentares (geralmente incoercíveis) estão sempre presentes. Dependendo da intensidade, a hipertensão endocraniana pode se manifestar por: ■ Cefaleia, que se estende por toda a cabeça, é constante e, frequentemente, dilacerante. ■ Vômitos, que geralmente ocorrem em episódios repetidos e coincidem com vertigens e acentuação da cefaleia; não têm relação com a irritação gástrica e, por vezes, apresentam-se “em jato”. ■ Alterações de consciência, habitualmente presentes, variando desde discreto torpor mental até coma profundo; com mais frequência, situam-se entre obnubilaçao e coma superficial. ■ Edema de papila, papiledema, constatado pelo exame do fundo de olho, ocorre em cerca de 80% dos casos. Os pacientes podem relatar escotomas cintilantes, fotofobia e/ou diminuição da acuidade visual. ■ Convulsões, generalizadas ou localizadas: dependendo da predisposição do paciente e da intensidade da hipertensão endocraniana; quando os acessos convulsivos surgem tardiamente no curso da meningite, podem estar denunciando uma complicação supurativa ou neurológica; em crianças, as convulsões podem resultar de causas reversíveis (hipertermia súbita, hipoglicemia, alterações hidroeletrolíticas etc.). ■ Sinais neurológicos focais: compreendem inúmeros sinais, ocasionalmente encontrados, e que resultam da compressão de áreas específicas do encéfalo (anisocoria, paralisia espástica com hiper-reflexia osteotendinosa assimétrica, paresia etc). O tipo de sinal encontrado é imprevisível, mas sempre indicativo de mau prognóstico ■ Paroxismos desencadeados por flexão da cabeça ou aumento da pressão intratorácica e/ou abdominal (tosse, esforços à defecação, espirro etc.); eles não cedem aos analgésicos comuns e podem persistir por alguns dias nos pacientes em tratamento. ■ Sinais de estimulação simpática por pressão compressiva de centros adrenérgicos; pode causar taquicardia, palidez, hipertensão arterial, pulso fino e rápido, além de sudorese; alguns pacientes, ao contrário, podem apresentar bradicardia sinusal decorrente da excitação do núcleo vago na porção bulbar. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º PERÍODO – TUTORIA 3. SÍNDROME DE COMPROMETIMENTO MENÍNGEO: Os chamados “sinais meníngeos” decorrem da compressão do exsudato purulento sobre a emergência dos nervos raquidianos, resultando em sinais clássicos que incluem: ■ Rigidez da nuca, em que o flexionamento da cabeça é dificultado ou mesmo impossível. O meningismo (dor à flexão do pescoço, sem comprometimento supurativo das meningites) pode se confundir com a rigidez de nuca e está presente em várias clínicas, como septicemias, processos inflamatórios localizados no segmento cervical, mastoidite, desidratação hipertânica, convulsões febris da infância, contraturas voluntárias de origem psicossomática. ■ Sinal de Brudzinski positivo, que consiste na limitação, pela dor, da flexão do pescoço, acompanhada, secundariamente, de flexão dos joelhos. ■ Sinal de Kernig, que é uma limitação dolorosa da extensão da perna, quando se traciona positivamente a coxa sobre a bacia (mantendo o joelho articulado). A perna oposta, mantida estendida, tende a se flexionar, simultaneamente. ■ Sinal do “tripé”, observado quando, ao se flexionar passivamente o tronco, no sentido de manter sentado o paciente, este adota uma posição característica, com a cabeça rígida, joelhos articulados e braços para trás, obrigando-se a se sustentar em três pontos de apoio: as mãos, a bacia e os pés. ■ Sinal de Lasègue, no qual o paciente reage com manifestação de dor à movimentação passiva da coxa sobre a bacia (mantendo a perna estendida). RENATA LIMA – MEDICINA – 5º PERÍODO – TUTORIA Secundariamente, há flexão ativa, concomitante, da outra coxa sobre a bacia. Os sinais meníngeos não são patognomônicos de meningite. Frequentemente, alguns desses sinais estão ausentes ou apenas esboçados. A meningite em pacientes idosos ou debilitados é, em geral, mais grave e, em consequência, se exterioriza com quadro clínico atípico. D) Diagnóstico O diagnóstico de meningite aguda deve ser clínico, sendo confirmado por meio de exames complementares com base na análise do LCR obtido por punção lombar. A Sociedade Americana de Doenças Infecciosas (Infectious Diseases Society of America – IDSA) sugere que a análise mínima inicial do LCR inclua: • a realização da citologia, com contagem leucocitária global e diferencial • glicorraquia • coloração pelo método de Gram • cultura para bactérias. A análise concomitante do hemograma e da glicemia é imprescindível para uma correta interpretação. Se o Gram for negativo, a IDSA recomenda a realização de testes de aglutinação no látex para os patógenos mais frequentes, além da reação em cadeia da polimerase (PCR) para bactérias e vírus, dependendo da disponibilidade. A dosagem sérica normal da proteína C reativa é forte preditor negativo de meningite bacteriana aguda e ajuda o médico na decisão de suspender o tratamento com antibioticoterapia, em caso de testes bacteriológicos constantemente negativos. Independentemente dos exames prévios, se o paciente foi submetido recentemente a neurocirurgia, a dosagem de lactato no LCR superior ou igual a 4 mmol/ℓ (36 mg/dℓ) fortalece a decisão de iniciar antibioticoterapia empírica por 3 dias, enquanto se aguarda a cultura do LCR. Nesses casos, a suspensão da antibioticoterapia após cultura negativa é procedimento seguro, porém demanda vigilância constante e nova análise do LCR, se ocorrer deterioração clínica. EXAME TOMOGRÁFICO ANTES DA PUNÇÃO LIQUÓRICA QUAIS CRITÉRIOS PARA PEDIR TOMOGRAFIA ANTES DA PUNÇÃO¿ A indicação de TC antes da realização da punção liquórica tem sido recomendada nas seguintes situações: ■ imunossuprimidos: pacientes com aids, imunossupressores, pós-transplantados, pacientes com diabetes tipo I, alcoolistas, usuários de drogas; ■ doença do SNC: aqueles com lesão expansiva, AVC, infecção focal; ■ convulsão recente; ■ papiledema; ■ nível de consciência anormal (escala de coma de Glasgow < 10); ■ lesões neurológicas focais: pupilas não reativas, anisocoria, visão anormal, paralisias localizadas etc. (exceto paralisias de nervos cranianos). RENATA LIMA – MEDICINA – 5º PERÍODO – TUTORIA LACTATO: MELHOR PARA DIFERENCIAT VIRUS E BACTERIA GLICOSE E PCR (VIRUS]) TAMBÉM Independentemente da realização da punção lombar, se existir suspeita clínica de meningite bacteriana aguda, deve-se coletar duas hemoculturas urgentemente. Após a coleta das hemoculturas e da eventual punção lombar, deve-se iniciar dexametasona 0,15 mg/kg/dose, de preferência 15 a 20 min antes da administração da primeira dose da antibioticoterapia empírica, ou no máximo concomitantemente. A dose usual de dexametasona ■ para adultos é de 8 a 10 mg por via intravenosa (IV), de 8/8 h, e deve ser mantida por 4 dias. ➢ Se a análise do LCR for compatível com meningite bacteriana aguda e a coloração pelo Gram sugerir uma bactéria, a antibioticoterapia deverá ser direcionada para o patógeno compatível com o Gram. • O pneumococo é diplococo Gram-positivo • O meningococo é diplococo Gram-negativo QUIMIOPROFILAXIA • A listéria é bacilo Gram-positivo • O hemófilo é bacilo Gram-negativo. QUIMIOPROFILAXIA GRUPO ESPECÍFICO ➢ Se a análise do LCR for compatível com meningite viral aguda, o tratamento geralmente se restringe ao suporte clínico. O diagnóstico diferencial da meningite bacteriana inclui: meningite purulenta não bacteriana (viral, tuberculosa, entre outras); meningite não purulenta;hemorragia subaracnóidea; hematoma subdural (pós- traumático); encefalopatias; esclerose múltipla; lúpus eritematoso disseminado; arterite temporal; hipertensão arterial maligna; púrpura trombocitopênica embólica; tumores cerebrais; contraturas musculares cervicais (antálgicas ou de origem psicossomática); comas metabólicos; coma pós-convulsivo; síndrome da fossa craniana posterior; psicoses funcionais agudas. E) Tratamento É importante considerar a presença de barreiras anatômicas e fisiológicas, sangue/liquor e sangue/cérebro. Muitos antibióticos lipossolúveis ultrapassam rapidamente esses obstáculos (cloranfenicol, cotrimexazol, rifampicina), ao passo que outros são ionizados em pH plasmático, adquirindo baixa solubilidade lipídica e, por via de consequência, penetram lentamente e em quantidades muito pequenas. Alguns princípios básicos da antibioticoterapia na meningite bacteriana devem ser respeitados, como os apresentados a seguir: ■ Administração precoce de antibióticos, quando a meningite for diagnosticada ou suspeitada clinicamente, sem que o agente etiológico tenha sido ainda identificado; ■ Necessidade de altos níveis de concentração plasmática para alcançar as concentrações adequadas no tecido cerebral; ■ Amplo espectro de ação do esquema antibiótico até que se identifique o agente etiológico. ■ Utilização preferencial de antibióticos bactericidas ou que se tornem bactericidas em altas concentrações, porque a fagocitose, no espaço subaracnóideo, não é suficientemente adequada, pela precariedade do afluxo de imunócitos e complemento ao liquor infectado. ■ Manutenção de altas dosagens, até a cura da meningite, porque a redução da população bacteriana se faz acompanhar de menos inflamação e regeneração meníngea, restaurando-se a barreira sangue/liquor e, RENATA LIMA – MEDICINA – 5º PERÍODO – TUTORIA em consequência, dificultando novamente a penetração das drogas. ■ Especial atenção aos padrões de resistência bacteriana nos centros de atendimento, os quais podem ajudar na utilização de esquemas empíricos iniciais. Ao se decidir pelo esquema antibiótico inicial empírico (não se deve esperar a bacterioscopia e cultura para iniciar o tratamento), devem ser considerados os seguintes fatores que podem sugerir o agente etiológico: faixa etária, focos sépticos primários, estado imunológico do paciente, história de traumatismo cranioencefálico, antecedentes de neurocirurgia, meningites de repetição. A via de administração deve ser, sempre que possível, intravenosa. A dosagem não deve ultrapassar 1/10 da usualmente utilizada por outras vias; a posologia é aleatória (em geral uma dose/dia, até o início da regressão do quadro). ESQUEMAS USUAIS ■ RN até um mês de vida: Ampicilina (150 mg/kg/dia EV divididos de 8/8 horas se < 7 dias de vida, e 300 mg/kg/dia EV divididos de 6/6 horas se > 7 dias de vida) + Cefotaxima (150 mg/kg/dia EV divididos de 12/12 h se < 7 dias de vida e 200 mg/kg/dia EV divididos de 6/6 h se > 7 dias de vida) Gentamicina (5 mg/kg/dia EV divididos de 12/12 h se < 7 dias de vida); e 7,5 mg/kg/dia EV divididos de 8/8 h se > 7 dias de vida); Amicacina (15 mg/kg/dia EV divididos de 12/12 h e 30 mg/kg/ dia EV divididos de 8/8 h se > 7 dias de vida); Não utilizar corticosteroides em RN. ■ Crianças de 1-3 meses a 7 anos: Cefotaxima (2 g, EV divididos de 6/6 horas); Ceftriaxona (2 g EV divididos de 12/12 horas) + ampicilina (2 g EV divididos de 4/4 horas). Considerar corticosteroides em crianças não vacinadas contra hemófilos e se pneumococo na cultura ou forte suspeita (pneumonia comunitária de base, esplenectomizados, TCE fechado) (0,15 mg/kg EV de 6/6 horas antes da antibioticoterapia, 4 dias). ■ Crianças > 7 anos e adultos: Ceftriaxona (2 g, EV, a cada 12 horas – 7 dias) Em situações clínicas/epidemiológicas suspeitas de pseudomonas (trauma de crânio aberto, infecção por punção liquórica ou antibiograma indicar resistência, acrescentar cefotaxidima [2 g, EV, a cada 4 horas]). ■ Idosos, imunossuprimidos, diabéticos, alcoolistas, pacientes com infecção hospitalar: Ceftriaxona (2 g, EV, 12/12 horas) + ampicilina (3 g, EV, 6/6 horas) + vancomicina (50 mg/kg/dia, EV, divididos de 6/6 horas). Considerar metronidazol (anaeróbios) e anfotericina B lipossomial (fungos). MENINGOCOCO RETIRA CORTICOIDE F) Principais diferenças entre as bacterianas, virais e fúngicas A forma de transmissão depende do tipo. A meningite viral e a bacteriana são transmitidas de pessoa a pessoa através das vias respiratórias, por gotículas e por secreções do nariz e da garganta. Já a meningite fúngica é mais comum em pessoas com algum comprometimento da imunidade. Pessoas com diabetes e portadoras do vírus HIV têm mais risco de desenvolver a doença. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º PERÍODO – TUTORIA A meningite eosinofílica é transmitida por moluscos (caramujos, lesmas) e crustáceos (caranguejos, camarões). 3. COMPREENDER OS COMPONENTES E FUNÇÕES DA COMISSÃO DE INFECÇÕES HOSPITALARES As Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) foram instituídas por lei a partir de 1998 com a Portaria nº 2.616 do Ministério da Saúde, juntamente com a criação do Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH) que consiste em um conjunto de ações desenvolvidas com vistas a reduzir ao máximo possível a incidência e a gravidade das infecções hospitalares. Cabe à CCIH a execução das ações do PCIH, sendo esta comissão um órgão de assessoria à autoridade máxima da instituição, e a ela diretamente subordinada. A CCIH é composta por profissionais da área de saúde, de nível superior, formalmente designados e nomeados pela Direção do hospital. Os componentes da CCIH agrupam-se em dois tipos: membros consultores e membros executores. O presidente da CCIH poderá ser qualquer um de seus membros, indicado pela Direção. ➢ Os membros consultores deverão incluir representantes dos seguintes serviços: médico, enfermagem, farmácia, laboratório de microbiologia e administração. Em instituições com número igual ou menor que 70 leitos, a CCIH pode ser composta apenas por 01 (um) médico e 01 (um) enfermeiro. ➢ Os membros executores representam o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) e são eles os responsáveis diretos pela execução das ações do PCIH. É recomendável que pelo menos 01 (um) membro executor seja um profissional de enfermagem. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º PERÍODO – TUTORIA COMPETÊNCIAS DA CCIH: À CCIH compete: 1. Elaborar, implementar e monitorar o Programa de Controle de Infecção Hospitalar; 2. Implantar um Sistema de Vigilância Epidemiológica para monitoramento das infecções relacionadas à assistência à saúde; 3. Implementar e supervisionar normas e rotinas, visando a prevenção e o controle das infecções relacionadas à assistência à saúde; 4. Promover treinamentos e capacitações do quadro de profissionais da instituição, no que diz respeito à prevenção e controle das infecções relacionadas à assistência à saúde, através de Educação Continuada; 5. Participar, em cooperação com a Comissão de Farmácia e Terapêutica, da elaboração de políticas de utilização de antimicrobianos, saneantes e materiais médico-hospitalares, contribuindo para o uso reacional destes insumos; 6. Realizar investigação epidemiológica de surtos e implantar medidas imediatas de controle e contenção; • Elaborar, implementar e supervisionar normas e rotinas objetivando evitar a disseminação de germes hospitalares, por meio de medidas de isolamento e contenção; • Elaborar, implementar, divulgar e monitorar normas e rotinas visando a prevenção e o tratamentoadequado das infecções hospitalares; • 9. Elaborar e divulgar, periodicamente, relatórios dirigidos à autoridade máxima da instituição e às chefias dos serviços, contendo informações sobre a situação das infecções relacionadas à assistência à saúde na instituição.
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