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pela rua povoada, mas não o querem ver nem mesmo para rir da cauda que ameaça deixá-lo ir sozinho. É todo graça, embora as pernas não ajudem e seu ventre balofo se arrisque a desabar ao mais leve empurrão. Mostra com elegância sua mínima vida, e não há cidade alma que se disponha a recolher em si desse corpo sensível a fugitiva imagem, o passo desastrado mas faminto e tocante. Mas faminto de seres e situações patéticas, de encontros ao luar no mais profundo oceano, sob a raiz das árvores ou no seio das conchas, de luzes que não cegam e brilham através dos troncos mais espessos. Esse passo que vai sem esmagar as plantas no campo de batalha, à procura de sítios, segredos, episódios não contados em livro, de que apenas o vento, as folhas, a formiga reconhecem o talhe, mas que os homens ignoram, pois só ousam mostrar-se sob a paz das cortinas à pálpebra cerrada. E já tarde da noite volta meu elefante, mas volta fatigado, as patas vacilantes se desmancham no pó. Ele não encontrou o de que carecia, o de que carecemos, eu e meu elefante, em que amo disfarçar-me. Exausto de pesquisa, caiu-lhe o vasto engenho como simples papel. A cola se dissolve e todo o seu conteúdo de perdão, de carícia, de pluma, de algodão, jorra sobre o tapete, qual mito desmontado. Amanhã recomeço. ANDRADE, Carlos Drummond de. O Elefante. 9a ed. São Paulo: Editora Record, 1983. Observe os vocábulos destacados em negrito nos versos 39 a 44 do texto, transcritos abaixo: “Vai o meu elefante pela rua povoada, mas não o querem ver nem mesmo para rir da cauda que ameaça deixá-lo ir sozinho.” Sobre esses vocábulos, de acordo com a gramática normativa, considere as seguintes armações: I. o primeiro “o” é um artigo definido e o segundo é uma forma pronominal oblíqua, assim como a forma “lo” em “deixá-lo”. II. a colocação do segundo “o” junto ao advérbio de negação aproxima-se do registro mais utiliza- do no português falado no Brasil. III. “o” e “lo” nos versos “mas não o querem ver” e “deixá-lo ir sozinho” são formas pronominais que garantem a coesão referencial anafórica. Está(ão) correta(s) a(s) armação(ões) a I apenas. b III apenas. c I e II apenas. d I e III apenas. e II e III apenas. 53 Vunesp Considere os enunciados a seguir. I. O senhor não pode deixar de comparecer. Preci- samos do seu apoio. II. Você quer que te digamos toda a verdade? III. Vossa Excelência conseguiu realizar todos os vossos intentos? IV. Vossa Majestade não deve preocupar-se uni- camente com os problemas dos seus auxiliares diretos. Verica-se que há falta de uniformidade no emprego das pessoas gramaticais nos enunciados: a II e IV. b III e IV. c I e IV. d I e III. e II e III. 54 Fuvest Leia o texto a seguir. É mudo aquele a quem irmão chamamos, E a mão que tantas vezes apertamos Agora é fria já! Não mais nos bancos esse rosto amigo Hoje escondido no fatal jazigo Conosco sorrirá! Nesses versos de Casimiro de Abreu, o pronome des- tacado revela um emprego denotativo de: a tempo presente e proximidade física. b tempo passado e proximidade física. c tempo futuro e proximidade física. d tempo futuro e afastamento físico. e tempo passado e afastamento físico. 64 LÍNGUa PORTUGUeSa Capítulo 1 Morfologia – Classes gramaticais 55 AFA 2020 Trecho da peça teatral A raposa e as uvas, escrita por Guilherme de Figueiredo. A cena ocorre na cidade de Samos (Grécia antiga), na casa de Xantós, um filósofo grego, que recebe o convidado Agnostos, um ca- pitão ateniense. O jantar é servido por Esopo e Melita, escravos de Xantós. (Entra Esopo, com um prato que coloca sobre a mesa. Está coberto com um pano. Xantós e Agnostos se dirigem para a mesa, o primeiro faz ao segundo um sinal para sentarem-se.) XANTÓS (Descobrindo o prato) – Ah, língua! (Começa a comer com as mãos, e faz um sinal para que Melita sirva Agnostos. Este também começa a comer vorazmente, dan- do grunhidos de satisfação.) Fizeste bem em trazer língua, Esopo. É realmente uma das melhores coisas do mundo. (Sinal para que sirvam o vinho. Esopo serve, Xantós bebe.) Vês, estrangeiro, de qualquer modo é bom possuir rique- zas. Não gostas de saborear esta língua e este vinho? AGNOSTOS (A boca entupida, comendo) – Hum. XANTÓS – Outro prato, Esopo. (Esopo sai à esquerda e volta imediatamente com outro prato coberto. Serve, Xantós de boca cheia.) Que é isto? Ah, língua de fumeiro! É bom língua de fumeiro, hein, amigo? AGNOSTOS – Hum. (Xantós serve-se de vinho) /.../ XANTÓS (A Esopo) Serve outro prato. (Serve) Que trazes aí? ESOPO – Língua. XANTÓS – Mais língua? Não te disse que trouxesse o que há de melhor para meu hóspede? Por que só trazes língua? Queres expor-me ao ridículo? ESOPO – Que há de melhor do que a língua? A língua é o que nos une todos, quando falamos. Sem a língua nada poderíamos dizer. A língua é a chave das ciências, o órgão da verdade e da razão. Graças à língua dizemos o nosso amor. Com a língua se ensina, se persuade, se instrui, se reza, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se mostra, se afirma. É com a língua que dizemos sim. É a língua que ordena os exércitos à vitória, é a língua que desdobra os versos de Homero. A língua cria o mundo de Ésquilo, a palavra de Demóstenes. Toda a Grécia, Xantós, das colunas do Partenon às estátuas de Pidias, dos deuses do Olimpo à glória sobre Troia, da ode do poeta ao ensinamento do filósofo, toda a Grécia foi feita com a língua, a língua de belos gregos claros falando para a eternidade. XANTÓS (Levantando-se, entusiasmado, já meio ébrio) – Bravo, Esopo. Realmente, tu nos trouxeste o que há de melhor. (Toma outro saco da cintura e atira-o ao escravo) Vai agora ao mercado, e traze-nos o que houver de pior, pois quero ver a sua sabedoria! (Esopo retira-se à frente com o saco, Xantós fala a Agnostos.) Então, não é útil e bom possuir um escravo assim? AGNOSTOS (A boca cheia) – Hum. /.../ (Entra Esopo com prato coberto) XANTÓS – Agora que já sabemos o que há de melhor na terra, vejamos o que há de pior na opinião deste horren- do escravo! Língua, ainda? Mais língua? Não disseste que língua era o que havia de melhor? Queres ser espancado? ESOPO – A língua, senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que usam os maus poetas que nos fatigam na praça, é a língua que usam os filósofos que não sabem pensar. É a língua que mente, que esconde, que tergiversa, que blasfema, que insulta, que se acovarda, que se mendiga, que impreca, que bajula, que destrói, que calunia, que vende, que seduz, é com a língua que dizemos morre e canalha e corja. É com a língua que dizemos não. Com a língua Aquiles mostrou sua cólera, com a língua a Grécia vai tumultuar os pobres cérebros humanos para toda a eternidade! Aí está, Xantós, porque a língua é a pior de todas as coisas! (FIGUEIREDO, Guilherme. A raposa e as uvas – peça em 3 atos. Cópia digitalizada pelo GETEB – Grupo de Estudos e Pesquisa em Teatro Brasileiro/ UFSJ. Disponível para fins didáticos em www.teatroparatodosufsj.com.br/ download/guilherme-figueiredo-araposa e-as-uvas 2/ Acesso em 13/03/2019.) Ao longo do texto, a palavra “QUE” é empregada di- versas vezes. Assinale a alternativa que apresenta classicaçãocorretadotermodestacado. A “(...) Esopo, com um prato que coloca sobre a mesa” > pronome demonstrativo. “(...) faz um sinal para que Melita sirva Agnostos” > preposição. C “É a língua que ordena os exércitos à vitória (...)” > pronome relativo. D “Que há de melhor do que a língua?” > partícula de realce. 56 A polissemia é um fenômeno que ocorre com quase todas as palavras, inclusive com pronomes, prepo- sições e conjunções. Identifique a classe gramatical dos termos em itálico e dê o seu valor semântico. a) No mesmo dia, eu o encontrei vinte anos depois. b) Ela é a mesma pessoa, em todas as situações. c) Eu mesmo farei o serviço! d) Ela veio mesmo! 57 ESPM Assinale o item em que o pronome destacado tenha valor semântico de possessivo: A “Aborboleta, depois de esvoaçar muito em torno de mim, pousou-ME na testa.” (Machado de Assis) “Começo a arrepender-ME deste livro. Não que ele ME canse; eu não tenho que fazer.” (Machado de Assis) C “Perdi-ME dentro de mim / Porque eu era labirinto.” (Mário de Sá-Carneiro) D “Vou-ME embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei!” (Manuel Bandeira) E “Perdi alguma coisa que ME era essencial, e que já não ME é mais.” (Clarice Lispector) 58 Leia o provérbio abaixo. Ninguém se levanta sem primeiro cair. a) A quem se refere o pronome indefinido “ninguém”? b) Explique o provérbio. c) A frase possui conteúdo negativo; transforme-a de modo que tenha conteúdo positivo, para isso altere o pronome indefinido e faça as adaptações necessárias (não altere semanticamente a relação de subordinação). F R E N T E 1 65 O excerto a seguir, que pertence à peça Gota-D’Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes, servirá para as ques- tões 59 e 60. [...] Joana tentou reconquistar Jasão, porém não obteve sucesso e com isso decidiu largar tudo e ir embora para recomeçar sua vida junto com seus dois filhos. Para poder se organizar, Joana pede ao pai das crianças que fique com elas por umas duas ou três semanas, ele por sua vez pede ajuda ao seu futuro sogro, Creonte, por estar sem dinheiro. Joana então manda os filhos irem até a festa de ca- samento de Jasão e Alma levando um presente para esta última em sinal de que não havia mais ressentimento, porém ao entregarem o embrulho para Alma, Creonte, seu pai, não permitiu que abrisse julgando ser feitiço pelo fato de Joana ser macumbeira. […] 59 Assinale a alternativa em que a relação causa e efeito não está em jogo. a pelo fato de Joana ser macumbeira. b por estar sem dinheiro. c em sinal de que não havia mais ressentimento. d julgando ser feitiço. e ao entregarem o embrulho para Alma. 60 Sabe-se que pronomes e elipses (sujeito elíptico, por exemplo) exercem função coesiva no texto, isto é, retomam, introduzem palavras, frases, parágrafos; por essa razão são importantes para a interpre- tação. Leia as partes citadas a seguir e veja se há correspondência com aquilo que se coloca entre parênteses. I. […] com isso decidiu largar tudo (Joana tentou re- conquistar Jasão) II. […] porém ao ntrgrm o embrulho para Alma […] (Joana e os filhos) III. […] pede ajuda ao su futuro sogro, […] (Creonte) IV. […] o embrulho para Alma, Creonte, su pai, […] (Creonte) V. […] um presente para st última em […] (Joana) Estão corretas: a apenas 1 e 3 b apenas 2 e 4 c apenas 3 d apenas 5 e nenhuma 61 Cefet-MG 2019 Os pedaços de papel presos perpendicu- larmente, que vinham caídos sobre os outros, finalmente se apartaram, balançando soltos e revelando o que ver- dadeiramente eram: orelhas e tromba. As extremidades mostraram-se como pernas e o imenso miolo, antes informe, o corpo de um elefante que, agora, pairava desengonçado sobre o convés do navio. E as crianças corriam e riam muito porque o elefante estava finalmente de pé, imponente e frágil. STIGGER, Veronica. Opisanie Świata. São Paulo: SESI-SP, 2018. p. 95-96. Considere as seguintes afirmações sobre as formas linguísticas do excerto: I. O advérbio “verdadeiramente” exprime a inten- ção do narrador de ironizar o objeto construído pelas crianças. II. O verbo expressa a ideia de “aparência” na frase “As extremidades mostraram-se como pernas”. III. O adjetivo “informe” altera o sentido do substan- tivo “miolo”. IV. A expressão “imponente e frágil” é contraditória, porque relaciona duas características mutuamen- te excludentes. Estão corretas apenas as armativas: a I, II e III. b I e IV. c II e IV. d II e III. 62 FGV Considere o trecho: ... os sonhos haviam de ser assim tão tênues que se esgarçavam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo... Machado de Assis. Dom Casmurro. (Adapt.). ) Identifique o tipo de relação existente entre as duas orações. ) Explique a diferença que há, quanto à morfologia, com a palavra “abrir” em: I. “... ao menor abrir de olhos...” II. Ao abrir os olhos, viu um mundo que não conhecia. 63 UEA 2019 (www.folha.uol.com.br) A palavra “só”, no primeiro quadrinho, foi utilizada no mesmo sentido da palavra sublinhada em 66 LÍNGUa PORTUGUeSa Capítulo 1 Morfologia – Classes gramaticais