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F R E N T E 1 151 Objeto direto cognato (ou interno) Ocorre quando o objeto traz o mesmo radical (ou mesmo sentido: Dormiu um sono) do verbo. É frequente na literatura como recurso expressivo. Objeto direto (ou indireto) pleonástico Trata-se da repetição do objeto como instrumento de ênfase: Os sonhos, eu os perdi. Topicalização do objeto Colocar o objeto no início da oração (no topo) é uma forma de chamar a atenção (instrumento de ênfase). É preciso não confundir a topicalização do objeto com determinadas estruturas chamadas de anacoluto. Alteração semântica do verbo na mudança de objeto Em literatura, é comum o uso de recursos expressivos envolvendo o objeto. Um desses recursos consiste em empregar o mesmo verbo em sentidos diferentes para cada objeto. Ampliação de sentido na mudança de regência Verbos transitivos, quando se tornam intransitivos, passam a ter sentido mais abrangente. Adjunto adverbial Do ponto de vista sintático, relacional, o adjunto adverbial se anexa ao verbo, ao adjetivo e ao advérbio. Do ponto de vista semântico, o adjunto dá ao verbo uma circunstância de lugar, tempo, modo etc. (os valores semânticos do advérbio). Quando ligado ao adjetivo e ao advérbio, expressa intensidade. Em certas construções, o adjunto adverbial pode ligar-se à frase toda (para muitos linguistas, seria um adjunto adverbial de enunciação). Com o seu emprego, o enunciador manifesta sua opinião em relação a um fato, expresso por toda uma frase. Ao contrário do objeto, dado como termo integrante, necessário à estrutura da frase, o adjunto adverbial é classificado pelas gramáticas normativas como termo acessório, desnecessário à frase. Em algumas situações, a omissão do adjunto adverbial pode não prejudicar a sintaxe, mas pode prejudicar a mensagem, se o adjunto contiver uma informação importante para o emissor ou para o contexto. Tipos de adjunto adverbial: 1. causa 2. companhia 3. concessão 4. condição 5. conformidade 6. dúvida 7. finalidade 8. instrumento 9. intensidade 10. lugar 11. matéria 12. meio 13. modo 14. negação 15. oposição 16. tempo Em relação à classificação, é importante levar em consideração a frase, pois um mesmo adjunto pode assumir um significado diferente em outro contexto. Agente da passiva Termo que, na oração em voz passiva analítica, designa o agente da ação verbal. Introduzido pela preposição “por” ou “de”, o agente da passiva está sempre ligado ao verbo. Quando uma oração apresenta um verbo construído com o objeto direto (voz ativa, sujeito agente), ela pode assumir a forma passiva; havendo a passiva analítica, pode-se ter o agente da passiva. As transformações podem ser descritas da seguinte forma. Voz ativa Voz passiva analítica OD vira sujeito verbo vira locução verbal (verbo “ser” no mesmo tempo e modo + particípio do verbo) sujeito vira agente da passiva, introduzido pela preposição “por” Observações: 1. Se o sujeito da ativa estiver acompanhado de artigo, haverá a contração antecedendo o núcleo (substantivo ou pronome) do agente da passiva: Por + a = pela por + as = pelas Por + o = pelo por + os = pelos 2. Pode haver na ativa uma locução verbal (verbo auxiliar + verbo principal em uma das formas nominais). A transformação para a passiva obedece aos seguintes critérios. a) O auxiliar concorda com o sujeito na passiva, mas permanece no mesmo tempo e modo. b) O verbo principal, na passiva, vai para o particípio. c) Coloca-se o verbo ser na passiva após o auxiliar da ativa e antes do particípio. d) O verbo ser assume o tempo e o modo do verbo principal da ativa. Omissão do agente da passiva: a) Se, em uma oração de voz ativa, o verbo estiver na terceira do plural, não haverá agente explícito para indicar sujeito indeterminado na transfor- mação para a voz passiva. b) Na imprensa, às vezes o agente não aparece por desconhecimento ou por não haver interesse em revelá-lo. LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 4 Termos da oração ligados ao verbo152 Quer saber mais? Música y GISMONTI, Egberto. “A dança das cabeças”. Artes plásticas y Francisco de Goya Livro y MÁRQUEZ, Gabriel García. Cem anos de solidão. Trad. de Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Record, 2009. Site y Ziraldo (cartunista) <www.ziraldo.com.br>. Filme y O último imperador. Direção: Bernardo Bertolucci, 1987. Classifi- cação indicativa: livre. 1 UFRGS 2018 – Temos sorte de viver no Brasil – dizia meu pai, depois da guerra. – Na Europa mataram milhões de judeus. Contava as experiências que os médicos nazistas fa- ziam com os prisioneiros. Decepavam-lhes as cabeças, faziam-nas encolher – à maneira, li depois, dos índios Ji- varos. Amputavam pernas e braços. Realizavam estranhos transplantes: uniam a metade superior de um homem ........ metade inferior de uma mulher, ou aos quartos traseiros de um bode. Felizmente morriam essas atrozes quimeras; expiravam como seres humanos, não eram obrigadas a viver como aberrações. (........ essa altura eu tinha os olhos cheios de lágrimas. Meu pai pensava que a descrição das maldades nazistas me deixava comovido.) Em 1948 foi proclamado o Estado de Israel. Meu pai abriu uma garrafa de vinho – o melhor vinho do armazém –, brindamos ao acontecimento. E não saíamos de perto do rádio, acompanhando ........ notícias da guerra no Oriente Médio. Meu pai estava entusiasmado com o novo Estado: em Israel, explicava, vivem judeus de todo o mundo, ju- deus brancos da Europa, judeus pretos da África, judeus da Índia, isto sem falar nos beduínos com seus camelos: tipos muito esquisitos, Guedali. Tipos esquisitos – aquilo me dava ideias. Por que não ir para Israel? Num país de gente tão estranha – e, ainda por cima, em guerra – eu certamente não chamaria a atenção. Ainda menos como combatente, entre a poeira e a fumaça dos incêndios. Eu me via corren- do pelas ruelas de uma aldeia, empunhando um revólver trinta e oito, atirando sem cessar; eu me via caindo, varado de balas. Aquela, sim, era a morte que eu almejava, morte heroica, esplêndida justificativa para uma vida miserável, de monstro encurralado. E, caso não morresse, poderia viver depois num kibutz. Eu, que conhecia tão bem a vida numa fazenda, teria muito a fazer ali. Trabalhador dedi- cado, os membros do kibutz terminariam por me aceitar; numa nova sociedade há lugar para todos, mesmo os de patas de cavalo. Adaptado de: SCLIAR, M. O centauro no jardim. 9. ed. Porto Alegre: L&PM, 2001. Se a forma verbal almejava fosse substituída por aspira- va em Aquela, sim, era a morte que eu almejava, qual das alternativas abaixo estaria gramaticalmente correta? A Aquela, sim, era a morte a que eu aspirava. Aquela, sim, era a morte para a qual eu aspirava. Aquela, sim, era a morte que eu aspirava. d Aquela, sim, era a morte de que eu aspirava. E Aquela, sim, era a morte com a qual eu aspirava. 2 Unicamp “A ONU solicitou o envio de tropas ao Brasil.” a) Quais as duas interpretações possíveis da frase acima? b) Tire a ambiguidade de modo que o Brasil seja o destinatário. c) Classifique o verbo da oração e diga o que a tor- nou ambígua. 3 Unesp 2018 Leia o trecho do livro Em casa, de Bill Bryson, para responder à questão. Quase nada, no século XVII, escapava à astúcia dos que adulteravam alimentos. O açúcar e outros ingredientes caros muitas vezes eram aumentados com gesso, areia e poeira. A manteiga tinha o volume aumentado com sebo e banha. Quem tomasse chá, segundo autoridades da época, poderia ingerir, sem querer, uma série de coisas, desde serragem até esterco de carneiro pulverizado. Um carre- gamento inspecionado, relata Judith Flanders, demonstrou conter apenas a metade de chá; o resto era composto de areia e sujeira. Acrescentava-se ácido sulfúrico ao vinagre para dar mais acidez; giz ao leite; terebintina1 ao gim. O arsenito de cobre era usado para tornar os vegetais mais verdes, ou para fazer a geleia brilhar. O cromato de chum- bo dava um brilho dourado aos pães e também à mostarda. O acetato de chumbo era adicionado às bebidas como adoçante, e o chumboavermelhado deixava o queijo Glou- cester, se não mais seguro para comer, mais belo para olhar. Não havia praticamente nenhum gênero que não pudesse ser melhorado ou tornado mais econômico para o varejista por meio de um pouquinho de manipulação e engodo. Até as Exercícios complementares F R E N T E 1 153 cerejas, como relata Tobias Smollett, ganhavam novo brilho depois de roladas, delicadamente, na boca do vendedor antes de serem colocadas em exposição. Quantas damas inocentes, perguntava ele, tinham saboreado um prato de deliciosas cere- jas que haviam sido “umedecidas e roladas entre os maxilares imundos e, talvez, ulcerados de um mascate de Saint Giles”? O pão era particularmente atingido. Em seu romance de 1771, The expedition of Humphry Clinker, Smollett definiu o pão de Londres como um composto tóxico de “giz, alume2 e cinzas de ossos, insípido ao paladar e destrutivo para a cons- tituição”; mas acusações assim já eram comuns na época. A primeira acusação formal já encontrada sobre a adulteração generalizada do pão está em um livro chamado Poison de- tected: or frightful truths, escrito anonimamente em 1757, que revelou segundo “uma autoridade altamente confiável” que “sacos de ossos velhos são usados por alguns padeiros, não infrequentemente”, e que “os ossuários dos mortos são revolvidos para adicionar imundícies ao alimento dos vivos”. (Em casa, 2011. Adaptado.) 1terebintina: resina extraída de uma planta e usada na fabricação de vernizes, diluição de tintas etc. 2alume: designação dos sulfatos duplos de alumínio e me- tais alcalinos, com propriedades adstringentes, usado na fabricação de corantes, papel, porcelana, na purificação de água, na clarificação de açúcar etc. Em “Quase nada, no século XVII, escapava à astúcia dos que adulteravam alimentos” (1o parágrafo), o ter- mo sublinhado é um verbo A transitivo direto. intransitivo. de ligação. d transitivo indireto. E transitivo direto e indireto. 4 Unesp 2018 Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis (1839-1908), para responder à questão. A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da proprieda- de moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que se- guiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando. Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gra- tificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa: “gratificar-se-á generosamente” – ou “receberá uma boa gratificação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse. Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se metia em tal ofício por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessida- de de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pôr ordem à desordem. (Contos: uma antologia, 1998.) “Quem perdia um escravo por fuga dava algum di- nheiro a quem lho levasse.” (4o parágrafo). Na oração em que está inserido, o termo destacado é um verbo que pede A apenas objeto direto, representado pelo vocábulo “lho”. objeto direto e objeto indireto, ambos representa- dos pelo vocábulo “lho”. objeto direto, representado pelo vocábulo “dinheiro”, e objeto indireto, representado pelo vocábulo “lho”. d apenas objeto indireto, representado pelo vocábu- lo “quem”. E objeto direto, representado pelo vocábulo “dinheiro”, e objeto indireto, representado pelo vocábulo “quem”. 5 Leia o texto a seguir. ...QUEBROU TAMBÉM OS CARROS E A FAMÍLIA. O MENOR QUEBROU O PROTOCOLO E DIRIGIU BÊBADO Explique como a mudança de objeto direto alterou o sentido do texto.
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