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Interpretação de Texto - Livro Único-226-228

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226 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 9 Variantes linguísticas 
1 UFSC 2018
O Brasil entre a norma culta e a norma curta 
Boa parte de nossa elite letrada do século XIX desejava 
ardentemente viver numa sociedade branca e europeia. 
Tinha, portanto, de virar as costas para o país real, figurá-lo 
diferente do que era. Não à toa essa elite defendeu o que 
se costumava chamar “higienização da raça”, ou seja, a 
implementação de políticas que resultassem no “embran-
quecimento” do país. Em matéria de língua, essa elite vivia 
complexas contradições. Duas realidades eram evidentes 
para todos: o português de cá tinha diferenças em relação 
ao português europeu; e aqui dentro o “nosso” português 
diferia do português do “vulgo”. Na construção do novo 
país, como resolver esse duplo eixo de diferenças? 
Quando se acirrou, no século XIX, a questão da norma 
culta, nossas diferenças foram logo interpretadas como 
deturpações da língua. Não adiantou José de Alencar, no 
seu esforço para abrasileirar a norma escrita, apelar para 
os clássicos, a fim de mostrar a antiguidade de fatos da 
língua do Brasil. O que prevaleceu foi a imagem de que 
somos uma sociedade que fala e escreve mal a língua por-
tuguesa. E tudo o que – no português culto brasileiro – não 
coincidia com certa norma lusitana passou a ser listado 
por gramatiqueiros pseudopuristas como erro. 
Nessa guerra, venceram os conservadores, definindo 
certa norma lusitana do romantismo como modelo para 
nossa escrita. Como eram claras, inevitáveis e persistentes 
as diferenças da norma culta brasileira em relação a esse 
padrão artificialmente fixado, foi preciso construir uma 
norma “curta”, um discurso categórico, uma contínua 
desqualificação do falante brasileiro. 
Nem o desenvolvimento dos estudos filológicos e lin-
guísticos, nem a rebelião literária de 1922, nem a crítica 
da norma curta por nossos melhores filólogos, nada disso 
conseguiu romper a força do imaginário construído no 
século XIX. Ainda se diz que os brasileiros falam errado, 
não sabem falar português, tratam mal sua língua e assim 
por diante. Não é difícil mostrar com fatos e argumentos 
lógico-racionais que essas certezas não existem. Mas o 
imaginário resiste aos fatos, aos argumentos lógico-racio-
nais. Fica, então, a pergunta que não quer calar: como 
enfrentar poderosos imaginários? 
FARACO, C. A. O Brasil entre a norma culta e a norma curta. 
In: LAGARES, X. C.; BAGNO, M. (Org.). Políticas da norma e conflitos 
linguísticos. São Paulo: Parábola, 2011, p. 259-275. [Adaptado]. 
Obs.: A noção de “norma culta” equivale à noção de 
“variedade padrão”, termo utilizado no Edital 06/Co-
perve/2017 e no Programa das Disciplinas.
Com base no texto, é correto afirmar que: 
01. o título do texto remete ao contraste que existe, 
desde o século XIX até os dias atuais, entre o por-
tuguês europeu e o português brasileiro: àquele 
corresponde a norma culta, efetivamente usada 
em Portugal; a este, a norma curta, efetivamente 
usada no Brasil. 
02 José de Alencar é representante de um ideário 
romântico de abrasileiramento que defendia uma 
literatura que expressasse a língua do “vulgo”, con-
trapondo esta língua ao padrão europeu. 
04 os termos “norma culta” e “norma curta” remetem 
a realidades distintas no Brasil, respectivamente: 
à norma praticada de fato, que corresponde ao 
português culto brasileiro, e à norma artificial, um 
padrão categoricamente fixado, que desqualifica 
o falante brasileiro. 
08 infere-se que o Brasil ainda vive duas realidades 
normativas conflitantes no que se refere à língua: 
o português brasileiro versus o português europeu 
e o português brasileiro culto versus o português 
brasileiro popular. 
16 infere-se que a noção de norma linguística é com-
plexa, pois envolve um entrelaçamento de fatores 
diversos, além de poderosos elementos do imagi-
nário social. 
32 os termos “gramatiqueiros” e “pseudopuristas” 
designam os estudiosos que descrevem a norma 
culta efetivamente usada pelos brasileiros. 
64 a escrita brasileira, no século XIX, apresentava fa-
tos da língua diferentes daqueles encontrados em 
autores clássicos antigos, por isso José de Alencar 
a considerava uma deturpação da norma europeia.
Soma: 
De 2 a 4, diga se a linguagem é coloquial ou culta. 
 Justifique.
2 Boa forma. A melhor forma de viver numa boa.
Propaganda da revista Boa Forma. Superinteressante, ago. 1989.
3 Com Darling Uva você logo arruma um cacho. (marca 
de sutiã)
Propaganda da lingerie Darling. Cláudia, maio 1990.
4 A Rossi Residencial orgulhosamente apresenta o grande 
lançamento do ano.
Folha de S.Paulo, 29 out. 1989.
5 Explique o objetivo do autor ao utilizar o empréstimo 
linguístico no texto a seguir.
Este é um Chateaubriand com um toque de gourmet.
Propaganda da maionese Gourmet. Nova, jun. 1990. 
6 ITA Leia:
O Programa Mulheres está mudando. Novo cenário, 
novos apresentadores, muito charme, mais informação, 
moda, comportamento e prestação de serviços. Assista 
amanhã, a revista eletrônica feminina que é a referência 
do gênero na TV.
Exercícios propostos
PV_2021_LU_ITX_FU_CAP9_LA.INDD / 15-09-2020 (15:03) / VIVIAN.SANTOS / PROVA FINAL PV_2021_LU_ITX_FU_CAP9_LA.INDD / 15-09-2020 (15:03) / VIVIAN.SANTOS / PROVA FINAL
FR
EN
TE
 Ú
N
IC
A
227
O verbo “assistir”, empregado em linguagem colo-
quial, está em desacordo com a norma gramatical.
a) Reescreva o último período de acordo com a 
norma.
b) Justifique a correção.
7 Enem 2018
Ó Pátria amada, 
Idolatrada, 
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga ao verde-louro dessa flâmula
— “Paz no futuro e glória no passado.”
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!
Hino Nacional do Brasil. Letra: Joaquim Osório Duque Estrada. Música: 
Francisco Manuel da Silva (fragmento).
O uso da norma-padrão na letra do Hino Nacional do 
Brasil é justificado por tratar-se de um(a):
A reverência de um povo a seu país. 
B gênero solene de característica protocolar. 
c canção concebida sem interferência da oralidade. 
D escrita de uma fase mais antiga da língua portu-
guesa. 
E artefato cultural respeitado por todo o povo brasi-
leiro.
Texto para as questões 8 e 9.
Norma e padrão 
Uma das comparações que os estudiosos de variação 
linguística mais gostam de utilizar é a da língua com a 
vestimenta. Esta, como sabemos, é bastante variada, indo 
da mais formal (longo e smoking) à mais informal (biquíni 
e sunga, ou camisola e pijama). A ideia dos que fazem 
essa comparação é a seguinte: não existem, a rigor, formas 
linguísticas erradas, existem formas linguísticas inadequa-
das. Como as roupas: assim como ninguém vai à praia de 
smoking ou de longo, também ninguém casa de biquíni 
e de sunga, ou de camisola e de pijama (sem negar que 
estas sejam vestimentas, e adequadas!), assim ninguém diz 
“me dá esse troço aí” num banquete público e formal nem 
“faça-me o obséquio de passar-me o sal” numa situação de 
intimidade familiar. 
Os gramáticos e os sociolinguistas, cada um com seu 
viés, costumam dizer que o padrão linguístico é usado pelas 
pessoas representativas de uma sociedade. Os gramáticos 
dizem isso, mas acabam não analisando o padrão, nem 
recomendando-o de fato. Recomendam uma norma, uma 
norma ideal. Vou dar uns exemplos: se o padrão é o usado 
pelos figurões, então deveriam ser considerados padrões o 
verbo “ter” no lugar de “haver”; a regência de “preferir x do 
que y”, em vez de “preferir x a y”; o uso do anacoluto (A 
inflação, ela estará dominada quando...); a posição enclítica 
dos pronomes átonos. O que não significa proibir as mais 
conservadoras. Algumas dessas formas “novas” aparecem 
em muitíssimo boa literatura, em autores absolutamente 
consagrados, que poderiam servir de base para que os gra-
máticos liberassem seu uso– para os que necessitam da 
licença dos outros. 
Vejam-se esses versos de Murilo Mendes: “Desse lado 
tem meu corpo / tem o sonho / tem a minha namorada na ja-
nela / tem as ruas gritando de luzes e movimentos / tem meu 
amor tão lento / tem o mundo batendo na minha memória 
/ tem o caminho pro trabalho. Do outro lado tem outras 
vidas vivendo da minha vida / tem pensamentos sérios me 
esperando na sala de visitas / tem minha noiva definitiva 
me esperando com flores na mão / tem a morte, as colunas 
da ordem e da desordem.” 
Faltou ao poeta acrescentar: tem uns gramáticos do 
tempo da onça / de antes do tempo em que se começou a 
andar pra frente. 
Não vou citar Drummond de Andrade, com seu por de-
mais conhecido “Tinha uma pedra no meio do caminho...”, 
nem o Chico Buarque de “Tem dias que a gente se sente / 
como quem partiu ou morreu...” 
Mas acho que vou citar “Pronominais”, do glorioso 
Oswald de Andrade: Dê-me um cigarro / Diz a gramática / 
Do professor e do aluno / E do mulato sabido / Mas o bom 
negro e o bom branco / Da nação brasileira / Dizem todos 
os dias / Deixa disso camarada / Me dá um cigarro. 
Quero insistir: ao contrário do que se poderia pensar 
(e vários disseram), não sou anarquista, defensor do tudo 
pode, ou do vale tudo. Nem estou dizendo que “Nós vai” é 
igual a “Tem muito filho que obedece os pais”. O que estou 
fazendo é cobrar coerência, um pouquinho só: se o padrão 
vem da fala dos bacanas, se os mais bacanas são os poetas 
consagrados, por que, antes das dez, numa aula de litera-
tura, podemos curtir seu estilo e em outra aula, depois das 
onze, dizemos aos alunos e aos demais interessados: viram 
o Drummond, o Murilo, o Machado, o Guimarães Rosa? 
Que criatividade!!! Mas vocês não podem fazer como eles. 
POSSENTI, Sírio. A cor da língua e outras croniquinhas de linguística. 
Campinas: Mercado de Letras, 2001. p. 111-112. (Adaptado). 
Considere o seguinte trecho: 
“Os gramáticos e os sociolinguistas, cada um com seu 
viés, costumam dizer que o padrão linguístico é usado 
pelas pessoas representativas de uma sociedade. Os 
gramáticos dizem isso, mas acabam não analisando o 
padrão, nem recomendando-o de fato. Recomendam 
uma norma, uma norma ideal”. 
8 UEG 2017 Sírio Possenti apresenta nesse trecho uma 
caracterização da atividade dos gramáticos. Para isso, 
o autor 
A define a sociolinguística como uma área da linguís-
tica que visa estudar as formas linguísticas ideais e 
as formas linguísticas que de fato os falantes usam. 
B faz uma comparação entre a atividade proposta e 
a atividade efetivamente realizada, que consiste na 
recomendação de uma norma idealizada. 
PV_2021_LU_ITX_FU_CAP9_LA.INDD / 15-09-2020 (15:03) / VIVIAN.SANTOS / PROVA FINAL PV_2021_LU_ITX_FU_CAP9_LA.INDD / 15-09-2020 (15:03) / VIVIAN.SANTOS / PROVA FINAL
228 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 9 Variantes linguísticas 
c apresenta diversos exemplos de usos cotidianos 
da língua que demostram, de forma evidente, o fato 
de que as línguas são inerentemente variáveis. 
D cita uma autoridade acadêmica da área dos es-
tudos da linguagem a fim de validar as propostas 
teóricas e analíticas relativas à variação linguística. 
E insere um quadro de definição dos vocábulos 
técnicos relacionados à área de estudos sociolin-
guísticos a fim de facilitar a compreensão do leitor. 
9 UEG 2017 O autor defende no texto a seguinte tese: 
A a norma gramatical, para ser coerente, deve ser ba-
seada no padrão de uso de uma língua. 
B a língua é variável e multiforme, razão pela qual as 
pessoas podem usá-la como quiserem. 
c as normas de bom uso da língua garantem a quem 
fala e/ou escreve sucesso comunicativo. 
D as formas linguísticas consideradas corretas são 
aquelas usadas na língua escrita formal. 
E o padrão de uso de uma língua deve ser cuidado-
samente preservado pelos gramáticos.
Passe para a norma culta os textos das questões 10 e 11:
10 A polícia interviu com violência na briga, pois os torce-
dores estavam munidos de faca. O delegado reteu o 
chefe da torcida, já que este foi o responsável pelos 
distúrbios. Após a confusão, um dos pagantes reaveu 
a carteira que tinha sido roubada por um dos agitado-
res. Este foi encaminhado imediatamente para o Deic.
11 Haviam cerca de vinte alunos; a maioria, crianças. Fa-
zem dez anos que esse tipo de desastre não ocorria 
na marginal Pinheiros. Uma moradora, aliás, ficou meia 
tonta com o que viu. Houve uma reunião após o aci-
dente onde se decidiu pelo fechamento da avenida.
Na questão 12, identifique o tipo de leitor e dê as marcas 
linguísticas características desse público-alvo (fonético e 
lexical).
12 Identifique no nível lexical.
Arrase os monstros com nosso roteiro detalhado, mapas 
e quebra-cabeças.
13 Você pode dar um rolê de bike, lapidar o estilo a bor-
do de um skate, curtir o sol tropical, levar sua gata 
para surfar.
Considerando-se a variedade linguística que se pre-
tendeu reproduzir nessa frase, é correto afirmar que a 
expressão proveniente de variedade diversa é:
A “dar um rolê de bike”.
B “lapidar o estilo”.
c “a bordo de um skate”.
D “curtir o sol tropical”.
E “levar sua gata para surfar”.
14 Leia o texto a seguir, extraído do filme Cidade de Deus:
Cabeleira: Alô Berenice. É o seguinte, vou te mandar uma 
letra invocada agora. Pô mina... já viu falar em amor à 
primeira vista?
Berenice: Malandro não ama, malandro só sente desejo.
Cabeleira: Assim não dá prá conversar...
Berenice: Malandro não conversa, malandro desenrola 
uma ideia.
Cabeleira: Pô! Tudo que eu falo, tu mete a foice!
Berenice: Malandro não fala, malandro manda uma letra!
Roteiro de Bráulio Mantovani. Dirigido por Fernando Meirelles. Cidade de 
Deus. Rio de Janeiro: O2 filmes, 2002. 
a) Qual o significado de “tu mete a foice”?
b) Que variante está em jogo no excerto inteiro?
15 Fuvest  Uma flor, o Quincas Borba. Nunca em minha infân-
cia, nunca em toda a minha vida, achei um menino mais 
gracioso, inventivo e travesso. Era a flor, e não já da escola, 
senão de toda a cidade. A mãe, viúva, com alguma cousa 
de seu, adorava o filho e trazia-o amimado, asseado, en-
feitado, com um vistoso pajem atrás, um pajem que nos 
deixava gazear a escola, ir caçar ninhos de pássaros, ou 
perseguir lagartixas nos morros do Livramento e da Con-
ceição, ou simplesmente arruar, à toa, como dous peraltas 
sem emprego. E de imperador! Era um gosto ver o Quin-
cas Borba fazer de imperador nas festas do Espírito Santo. 
De resto, nos nossos jogos pueris, ele escolhia sempre um 
papel de rei, ministro, general, uma supremacia, qualquer 
que fosse. Tinha garbo o traquinas, e gravidade, certa mag-
nificência nas atitudes, nos meneios. Quem diria que... 
Suspendamos a pena; não adiantemos os sucessos. Vamos 
de um salto a 1822, data da nossa independência política, 
e do meu primeiro cativeiro pessoal.
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. 
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Embora pertença à modalidade escrita da língua, este 
texto apresenta marcas de oralidade, que têm finali-
dades estilísticas. Dos procedimentos verificados no 
texto e indicados a seguir, o único que constitui marca 
típica da modalidade escrita é:
A uso de frase elíptica em “Uma flor, o Quincas Borba”.
B repetição de palavras como “nunca” e “pajem”.
c interrupção da frase em “Quem diria que...”.
D emprego de frase nominal, como em “E de impe-
rador!”
E uso das formas imperativas “suspendamos” e “não 
adiantemos”.
PV_2021_LU_ITX_FU_CAP9_LA.INDD / 15-09-2020 (15:03) / VIVIAN.SANTOS / PROVA FINAL PV_2021_LU_ITX_FU_CAP9_LA.INDD / 15-09-2020 (15:03) / VIVIAN.SANTOS / PROVA FINAL

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