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F R E N T E 2 175 E enquanto homens suspiram, combatem ou [simplesmente ganham dinheiro, ninguém percebe que o poeta faz cinquenta anos, que o poeta permaneceu o mesmo, embora alguma [coisa de extraordinário se houvesse passado, alguma coisa encoberta de nós, que nem os olhos [traíram nem as mãos apalparam, susto, emoção, enternecimento, desejo de dizer: Emanuel, disfarçado na meiguice [elástica dos abraços, e uma confiança maior no poeta e um pedido [lancinante para que não nos deixe sozinhos nesta [cidade em que nos [sentimos pequenos à espera dos maiores acontecimentos. [...] ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012 p. 49 a) O que, no poema, leva o eu lírico a perguntar: “mas haverá lugar para a poesia”? b) É possível afirmar que a figura de Manuel Bandeira, evocada pelo poeta, contrapõe-se ao sentimento de pessimismo expresso no poema e no livro Sentimento do mundo. Explique por quê. 4 Fuvest 2015 Leia o poema de Drummond para responder às questões relativas a dois versos de sua última estrofe Elegia 1938 Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações não encerram nenhum [exemplo Praticas laboriosamente os gestos universais, sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas, e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a [concepção. À noite, se neblina, abrem guarda chuvas de bronze ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas. Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer. Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras Caminhas entre mortos e com eles conversas sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito. A literatura estragou tuas melhores horas de amor Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear. Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade coletiva Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan Andrade, Carlos Drummond de Sentimento do mundo Considerando-se a “Elegia 1938” no contexto de Sentimento do mundo, explique sucintamente a) a que se refere o eu lírico com a expressão “feli- cidade coletiva”? b) o que simboliza, para o eu lírico, a “ilha de Manhattan”? 5 Fuvest 2013 Leia o seguinte poema. Tristeza do império Os conselheiros angustiados ante o colo ebúrneo das donzelas opulentas que ao piano abemolavam “bus-co a cam-pi-na se-re-na pa ra li-vre sus pi-rar”, esqueciam a guerra do Paraguai, o enfado bolorento de São Cristóvão, a dor cada vez mais forte dos negros e sorvendo mecânicos uma pitada de rapé, sonhavam a futura libertação dos instintos e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de [Copacabana, com rádio e telefone automático. ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. a) Compare sucintamente “os conselheiros” do Império, tal como os caracteriza o poema de Drummond, ao protagonista de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. b) Ao conjugar de maneira intempestiva o passado imperial ao presente de seu próprio tempo, qual é a percepção da história do Brasil que o poeta revela ser a sua? Explique resumidamente 6 Unicamp 2015 Os ombros suportam o mundo Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco. Em vão as mulheres batem à porta, não abrirás Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos respladecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer E nada esperas de teus amigos. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012 p 51 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 O Modernismo no Brasil: segunda geração176 a) Na primeira estrofe, o eu lírico afirma categorica mente que “o coração está seco”. Que imagem, nessa primeira estrofe, explica o fato de o cora- ção estar seco? Justifique sua resposta. b) O último verso (“A vida apenas, sem mistificação”) fornece para o leitor o sentido fundamental do poe- ma. Levando-se em conta o conjunto do poema, que sentido é sugerido pela palavra “mistificação”? 7 Fuvest 2014 No poema “Sentimento do mundo”, que abre o livro homônimo de Carlos Drummond de An- drade, dizem os versos iniciais: Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, Considerando esses versos no contexto da obra a que pertencem, responda ao que se pede. a) Que desejo do poeta fica pressuposto no verso “Tenho duas mãos”? b) No poema de abertura do primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade – Alguma poesia (1930) –, apareciam os conhecidos versos: Mundo mundo vasto mundo mais vasto é meu coração. Quando, anos depois, o poeta aram ter “o sentimen to do mundo”, ele ratica ou altera o ponto de vista que expressara nos citados versos de seu livro de es- treia? Explique sucintamente. Texto para as questões 8 e 9. Ata Acredito que o mau tempo haja concorrido para que os sabadoyleanos hoje não estivessem na casa de José Mindlin, em São Paulo, gozando das delícias do cuscuz paulista aqui amavelmente prometido. Depois do almoço, visita aos livros dialogantes, na expressão de Drum mond, não sabemos se no rigoroso sistema de vigilância de Plínio Doyle, mas de qualquer forma com as genti- lezas das reuniões cariocas. Para o amigo de São Paulo as saudações afetuosas dos ausentes-presentes, que neste instante todos nos voltamos para o seu palácio, aquele que se iria desvestir dos ares aristocráticos para receber cama- radescamente os descamisados da Rua Barão de Jaguaribe. Guarde, amigo Mindlin, para breve o cuscuz da tra- dição bandeirante, que hoje nos conformamos com os biscoitos à la Plínio Doyle. Rio, 20 11 1976. Signatários: Carlos Drummond de Andrade, Gilberto de Mendonça Teles, Plínio Doyle e outros. Cartas da biblioteca Guita e José Mindlin. (Adapt.). sabadoyleanos: frequentadores do sabadoyle, nome dado ao encontro de intelectuais, especialmente escritores, rea lizado habitualmente aos sábados, na casa do bibliófilo Plínio Doyle, situada no Rio de Janeiro. 8 Fuvest 2014 Da leitura do texto, depreende se que A o anfitrião carioca, embora gentil, é cioso de sua biblioteca. o anfitrião paulista recebeu com honrarias os ami- gos cariocas, que visitaram a sua biblioteca os cariocas não se sentiram à vontade na casa do paulista, a qual, na verdade, era uma mansão. d os cariocas preferiram ficar no Rio de Janeiro, em- bora a recepção em São Paulo fosse convidativa E o fracasso da visita dos cariocas a São Paulo aba- lou a amizade dos bibliófilos. 9 Fuvest 2014 As expressões “ares aristocráticos” e “descamisados” relacionam-se, respectivamente, A aos “sabadoyleanos” e a Plínio Doyle. a José Mindlin e a seus amigos cariocas. a “gentilezas” e a “camaradescamente”. d aos signatários do documento e aos amigos de São Paulo. E a “reuniões cariocas” e a “tradição bandeirante”. 10 Fuvest 2017 Examine a seguinte citação: É menor pecado elogiar um mau livro, sem lê-lo, do que depois de o haver lido. Por isso, agradeço imediata- mente depois de receber o volume. ANDRADE, Carlos Drummond de. Passeios na ilha. a) Explique por que o autor agradece “imediatamen- te depois de receber o volume” b) Levando em conta o contexto, reescreva duas vezes o trecho “sem lê-lo”, substituindo “sem” por “sem que”,na primeira vez, e por “mesmo não”, na segunda. Leia o poema “O constante diálogo”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder às questões de 11 a 14. Há tantos diálogos Diálogo com o ser amado o semelhante o diferente o indiferente o oposto o adversário o surdo-mudo o possesso o irracional o vegetal o mineral o inominado Diálogo consigo mesmo com a noite os astros os mortos as ideias o sonho o passado o mais que futuro Escolhe teu diálogo e tua melhor palavra ou teu melhor silêncio F R E N T E 2 177 Mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos. ANDRADE, Carlos Drummond de. Discurso de primavera e algumas sombras. 1977. 11 Unifesp 2013 O eu lírico, ao mostrar as variedades do diálogo, revela que este A é uma forma que, na verdade, dissimula um monólogo. é uma realidade inerente à condição humana. implica necessariamente outro, distinto do eu. d constrói a ideia de que comunicar exige afinidade. E concebe o presente desprovido das marcas do passado. 12 Unifesp 2013 Na abordagem temática do poema, des- taca-se a inserção do discurso A da metafísica, marcando-se com imagens que sus- citam ideias relacionadas à morte e à fugacidade do tempo. da ausência, marcando-se pela tensão existencial conflituosa e pela falta de sentimento entre as pessoas. do desalento, expressando-se uma visão pessi- mista do mundo e das pessoas, decorrente da frustração com a vida d da comunicação, estabelecendo-se por meio dela uma reflexão filosófica sobre o fazer poético. E da autobiografia, evidenciando-se com sutileza as- pectos relacionados à vida do poeta em Minas Gerais. 13 Unifesp 2013 Escolhe teu diálogo e tua melhor palavra ou teu melhor silêncio Mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos. Nesses versos da última estrofe do poema, o sentido com que se emprega o imperativo armativo e a cir cunstância expressa pelas expressões “no silêncio” e “com o silêncio” são, respectivamente: A sugestão e modo. sarcasmo e consequência. advertência e lugar d orientação e causa E ordem e movimento. Leia o texto para responder à questão 14. O silêncio é a matéria significante por excelência, um continuum significante O real da comunicação é o silêncio. E como o nosso objeto de reflexão é o discurso, chegamos a uma outra afirmação que sucede a essa: o silêncio é o real do discurso O homem está “condenado” a significar. Com ou sem palavras, diante do mundo, há uma injunção à “interpre- tação”: tudo tem de fazer sentido (qualquer que ele seja) O homem está irremediavelmente constituído pela sua relação com o simbólico. Numa certa perspectiva, a dominante nos estudos dos signos, se produz uma sobreposição entre linguagem (verbal e não verbal) e significação Disso decorreu um recobrimento dessas duas noções, resultando em uma re- dução pela qual qualquer matéria significante fala, isto é, é remetida à linguagem (sobretudo verbal) para que lhe seja atribuído sentido. Nessa mesma direção, coloca-se o “império do ver- bal” em nossas formas sociais: traduz-se o silêncio em palavras. Vê-se assim o silêncio como linguagem e per- de-se sua especificidade, enquanto matéria significante distinta da linguagem. ORLANDI, Eni As formas do silêncio 1997 14 Unifesp 2013 A ideia comum entre o poema de Drummond e o texto de Eni Orlandi diz respeito ao fato de que o silêncio A consiste em repressão ao diálogo. é sinônimo de ausência de sentido. é também uma forma de comunicação. d permite a interpretação mais objetiva E reconstrói a comunicação verbal. Texto para a questão 15. Os bens e o sangue VIII [ ] Ó filho pobre, e descorçoado, e finito ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais com a faca, o formão, o couro... Ó tal como quiséramos para tristeza nossa e consumação das eras, para o fim de tudo que foi grande! Ó desejado, ó poeta de uma poesia que se furta e se expande à maneira de um lago de pez e resíduos letais És nosso fim natural e somos teu adubo, tua explicação e tua mais singela virtude... Pois carecia que um de nós nos recusasse para melhor servir-nos. Face a face te contemplamos, e é teu esse primeiro e úmido beijo em nossa boca de barro e de sarro. ANDRADE, Carlos Drummond de Claro enigma. descorçoado: assim como “desacorçoado”, é uma variante de uso popular da palavra “desacoroçoado”, que significa “desanimado”; pez: piche. 15 Fuvest 2018 Considere as seguintes afirmações: I. Os familiares, que falam no poema, ironizam a condição frágil do poeta. II. O passado é uma maldição da qual o poeta, como revela o título do poema, não consegue se des- vencilhar. III. O trecho “o fim de tudo que foi grande” remete à ruína das oligarquias, das quais Drummond é tributário.
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