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RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA SP 3.3 – QUANTO TEMPO? – (CAQUEXIA ASSOCIADA A DOENÇAS NEOPLÁSICAS MALIGNAS) FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA DEFINIÇÃO CAQUEXIA A denominação “caquexia” deriva do grego, “kakos”, má e “hexis”, condição. Embora a síndrome venha sendo mais estudada no câncer, não está a esse restrito, atingindo também pacientes com falência cardíaca congestiva, com moléstias digestivas, defeitos tubulares renais, queimaduras, sepses e AIDS. O caráter multifatorial e sistêmico da caquexia dificulta sobremaneira a elaboração de critérios que a definam de forma indiscutível. Na realidade, apesar da caquexia associada ao câncer constituir causa direta da mortalidade em até 40% dos pacientes, a síndrome é raramente identificada ou diagnosticada, e ainda com menor frequência, tratada. Em estudo comparativo que analisou a adoção de diferentes definições da síndrome, verificou-se que apenas 2,4% dos pacientes com câncer recebiam o diagnóstico de caquexia. A caquexia associada ao câncer pode ser definida como “síndrome multifatorial, na qual há perda contínua de massa muscular (com perda ou ausência de perda de massa gorda), que não pode ser totalmente revertida pela terapia nutricional convencional, conduzindo ao comprometimento funcional progressivo do organismo”. Os critérios diagnósticos estabelecidos incluem perda involuntária de peso superior a 5%, ou 2% (em indivíduos já abaixo dos valores esperados de peso, segundo o índice de massa corporal - IMC < 20kg/m2) ou presença de sarcopenia. A CLASSIFICAÇÃO da síndrome, segundo a gravidade, é feita em pré caquexia, caquexia e caquexia refratária. → O primeiro estágio é definido como aquele no qual, o paciente apresenta perda de peso igual ou superior a 5%, anorexia e alterações metabólicas; → Para inclusão do paciente no segundo estágio, considera-se perda de peso igual ou superior a 5%, ou de 2%, com IMC < 20kg/m2, ou sarcopenia acompanhada de perda de peso corporal equivalente ou superior a 2%. Referem ainda presença frequente de redução da ingestão e de inflamação sistêmica. → O terceiro estágio (caquexia refratária) inclui os pacientes com diferentes graus de caquexia, mas nos quais há intenso catabolismo e que não respondem ao tratamento anti-câncer. Ainda nesse estágio, pacientes com baixo escore de desempenho e sobrevida esperada inferior a três meses devem ser incluídos. Os parâmetros para determinar a inclusão do paciente em cada um dos estágios abrangem a determinação da concentração de proteína C-reativa no soro, avaliação da anorexia e fatores correlatos (redução do apetite, alterações na percepção gustativa e olfativa, motilidade gastrointestinal reduzida, constipação, dor, entre outros), metabólitos indicadores de catabolismo, massa e força muscular (dinamometria dos membros superiores), bem como manifestações psicossociais. 1. ESTUDAR A FISIOPATOLOGIA DA PERDA PONDERAL EM PACIENTES NEOPLÁSICOS As manifestações clínicas da síndrome incluem anorexia, alterações no paladar, astenia, fadiga, exacerbada perda de peso involuntária (massa gorda e magra), perda da imuno competência, perda de habilidades motoras e físicas, apatia, desequilíbrio iônico, anemia, náuseas, e grandes alterações no metabolismo de proteínas, carboidratos e lipídios. A fadiga é o sintoma de maior prevalência, atingindo 74% dos pacientes, seguida por perda de apetite (53%), perda de peso (46%), modificações na percepção de sabor, vômito e saciedade precoce (entre 20% e 23%). RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA Concomitantemente, há alteração no perfil hormonal plasmático e reduzida atividade de hormônios anabólicos, bem como disfunção hipotalâmica. A perda de peso e de apetite são normalmente os primeiros sintomas percebidos pelo paciente. No momento do diagnóstico, entre 54% e 70% dos pacientes relatam redução involuntária do peso. ____________________________________________ Até à década de 80 do século passado, era comum atribuir a perda de peso às necessidades energéticas do tumor em crescimento, e a anorexia, a fatores por esse secretados. Contudo, o grau de caquexia não está associado, de maneira alguma, ao tamanho da massa tumoral. A inadequação dessa hipótese fica ainda mais clara quando se comparam as necessidades energéticas de um tumor àqueles de um feto em desenvolvimento, que, embora francamente superiores, não induzem no organismo materno qualquer resposta semelhante à caquexia. Ainda, a administração de suplementação nutricional de forma enteral ou parenteral falha totalmente na reversão desses sintomas. A síndrome aparece, portanto, em detrimento de ingestão adequada de energia e proteína. O papel da anorexia no processo fisiopatológico da caquexia neoplásica é controverso. No entanto, há uma tendência a considerar que, embora a anorexia seja um componente importante do processo, não deve ser interpretada como única responsável pela perda de massa corporal, especialmente de tecidos musculares. Estudos mostram, que não há diferenças significantes na ingestão energética quando se avaliam pacientes caquéticos e se comparam estes com pacientes de peso estável. Na verdade, os primeiros tendem inclusive a ingerir maiores quantidades de energia alimentar, a qual não seria suficiente para compensar o hiper metabolismo a que são submetidos. Além disso, pacientes com distúrbios do apetite, como anorexia nervosa, não apresentam depleção proeminente da massa muscular. Fatores secretados pelo tumor em crescimento estão aparentemente implicados na mobilização de ácidos graxos e proteínas. Contudo, a concepção da síndrome como estado inflamatório crônico, no qual a reação do hospedeiro à presença do tumor aparece como o principal agente causal, tem, desde o início da década, tomado impulso. Atualmente, a própria definição da síndrome enfatiza o papel da inflamação crônica, em paralelo à resposta de estresse neuro-endócrino. As citocinas têm papel de grande importância na patogênese da caquexia. O fator de necrose tumoral α (TNFα), as interleucinas (IL-1. IL-6), o interferon γ (IFN γ) e as prostaglandinas, cuja concentração está alterada na caquexia, induzem diversos dos sintomas relacionados à síndrome. Há evidências de que a concentração dessas citocinas está associada com a progressão tumoral. Contudo, até o presente momento, nenhum desses possíveis mediadores foi capaz de induzir a complexidade de alterações característica do quadro, quer em estudos in vitro, quer em modelos animais. Recentemente, detectou-se que alguns polimorfismos de genes para citocinas estão associados a risco aumentado do paciente em apresentar caquexia, sendo aquele referente ao alelo IL10-1082G o único de consenso entre os vários estudos. ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA DA CAQUEXIA NO CÂNCER A origem da SAC é multifatorial. O aumento do consumo energético pelo tumor, a liberação de fatores que agem no centro da saciedade diminuindo o consumo alimentar e as citocinas produzidas pelo hospedeiro e pelo tumor levam às anormalidades metabólicas características da síndrome • ALTERAÇÕES METABÓLICA • ALTERAÇÕES HORMONAIS • CITOCINAS • ALTERAÇÕES SENSORIAIS RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA (1) ALTERAÇÕES METABÓLICAS NOS PACIENTES ONCOLÓGICOS ➔ Metabolismo Energético: O aumento do gasto energético é um dos determinantes da perda de peso da caquexia do câncer. No indivíduo normal, mesmo que a ingestão calórica esteja diminuída, observa-se uma redução na produção de energia ou na taxa metabólica. Já no paciente oncológico não ocorre esta adaptação fisiológica, pois mesmo com a redução na ingestão calórica, mantém ou aumenta o gasto energético,contribuindo para diminuição da reserva energética, em função do metabolismo das células tumorais. O estado de hipermetabolismo ou catabolismo persistente é comum em estados avançados da doença, isto explica a rapidez das células neoplásicas malignas em captar glicose como fonte de energia. O aumento desta captação está relacionado com o grau de malignidade e poder de invasão celular. As células malignas têm como fonte preferencial a glicose, e por isso alterações secundárias no metabolismo deste carboidrato são observadas em pacientes oncológicos em função da intensa proliferação celular que causa uma maior demanda. As alterações metabólicas descritas em pacientes com caquexia por câncer comprometem tanto o metabolismo de carboidratos, de lipídeos e das proteínas. Estas alterações são importantes para entender o mecanismo da perda de peso e orientar a oferta dietética mais adequada de acordo com as necessidades nutricionais do paciente. ____________________________________________ ➔ Metabolismo dos Carboidratos: A célula cancerosa utiliza preferencialmente a glicose como substrato energético, 10 a 50 vezes mais em relação às células normais, o que indica que a presença do tumor aumenta o consumo de glicose. Seria esperado, então, que os níveis plasmáticos de glicose diminuíssem, mas isso não ocorre, pois, há um aumento na gliconeogênese hepática, a partir de substratos, como os aminoácidos musculares e o lactato. O consumo excessivo de glicose pelo tumor aumenta a produção de glicose hepática a partir do lactato (Ciclo de Cori), e de aminoácidos musculares do hospedeiro (gliconeogênese). A conversão de lactato para a glicose envolve consumo de ATP e aparenta ser um processo bioquímico de gasto energético contribuindo para a perda de peso e massa corpórea. Segundo estimativas, o gasto energético no Ciclo de Cori é de aproximadamente 300 calorias por dia. Além disso, é comum observar resistência periférica à insulina em pacientes com caquexia, isto determina um estado metabólico semelhante ao diabetes, resultando em uma acentuada gliconeogênese no fígado. A intolerância à glicose e a resistência à ação da insulina são ocasionadas tanto pela diminuição da sensibilidade dos receptores das células beta pancreáticas como pela redução da sensibilidade dos tecidos periféricos. Desse modo, todos esses efeitos contribuem de modo significativo tanto para depleção das fontes de energia como também para destruição de tecidos. ____________________________________________ ➔ Metabolismo das Proteínas: O paciente caquético não apresenta capacidade para manter ou reduzir o catabolismo dos músculos em resposta à reduzida ingesta de nitrogênio, levando a depleção de proteína e consequentemente atrofia e miopatia muscular, atrofia visceral e hipoalbuminemia. A hipoalbuminemia ocorre devido à diminuição da síntese proteica no fígado e ao aumento da proliferação celular do tumor. Conforme Murad, no jejum agudo ocorre degradação do músculo esquelético para fornecer ao organismo aminoácidos para a gliconeogênese. No jejum prolongado sem câncer, a degradação muscular diminui e conserva nitrogênio, mantendo-se a massa muscular funcional. Este é um mecanismo de adaptação “poupador de proteínas”. Porém, a capacidade de poupar proteína em resposta ao jejum está ausente no câncer, havendo persistência da proteólise. ____________________________________________ RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA ➔ Metabolismo dos Lipídios: O metabolismo lipídico encontra-se alterado, resultando na depleção da reserva de gordura e níveis elevados de lipídios circulantes. A perda de gordura é responsável pela maior parte da perda de peso. Além disso, essa perda está relacionada ao aumento da lipólise associada à diminuição da lipogênese, em consequência à queda da lípase lipoprotéica levando a hiperlipidemia. O tumor produz moléculas lipolíticas capazes de induzir lipólise e aumentar a oxidação de ácidos graxos. Há uma maior liberação de ácidos graxos e formação de corpos cetônicos, com isso há mobilização e também maior utilização dos ácidos graxos como fonte preferencial de energia, provavelmente secundárias a exacerbação da gliconeogênese e maior resistência à insulina. Em condições normais os teores de glucagon, corticosteroides ou adrenalina são pouco variáveis, já na caquexia do câncer estes hormônios estão todos alterados pela maior degradação lipídica, havendo falha da lipogênese. É interessante observar que a administração de glicose é incapaz de inibir a mobilização e a oxidação das gorduras, como ocorre habitualmente em indivíduos normais. ____________________________________________ (2) ALTERAÇÕES HORMONAIS O hipotálamo, eixo hipotálamo-hipofisário e o sistema autonômico (simpático e parassimpático) são responsáveis pelo controle da ingestão de alimentos. Este controle depende de diversos tipos de neuro- hormônios centrais e gastrintestinais: leptina, neuropeptídeo y, grelina, insulina e melanocortina. ➔ Leptina: É um hormônio produzido e secretado pelo tecido adiposo, sendo importante na regulação do peso corpóreo. A leptina regula as taxas de gordura corpórea. A perda de peso leva a diminuição de níveis de leptina e consequentemente à diminuição da gordura corporal. Conforme Waitzberg, a leptina inibe a ingestão e aumento do gasto energético, por meio de uma alça de atuação (feedback), envolvendo o hipotálamo, ativando circuitos catabólicos e reprimindo circuitos anabólicos. Por essa razão, baixos níveis de leptina cerebral estimulam o apetite e diminuem o gasto energético, enquanto níveis elevados de leptina diminuem o apetite e elevam o gasto energético. Mas o que acontece na anorexia do câncer, é que o organismo em resposta ao tumor, passa a produzir citocinas que estimulam a liberação de leptina ou mimetizam um feedback excessivo. Por esta razão, a perda de peso observada em um paciente com câncer, difere muito daquela observada em uma desnutrição simples com ausência de tumores. ____________________________________________ ➔ Neuropeptídeo y (NPY): É um peptídeo orexígeno (estimulante do apetite), envolvido no regulamento de funcionamento sexual, ansiedade, resistência vascular e periférico. Está abundantemente distribuído no cérebro e secretado no hipotálamo. Os neuropeptídeos parecem promover atividade lipogênica enzimática no tecido adiposo, reduzindo atividade do sistema nervoso simpático e inibindo a lipólise. O NPY age aumentando a ingestão de RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA alimentos, diminuindo o gasto energético e aumentando a lipogênese, originando o balanço energético positivo e aumento de reserva de gordura. Quando ocorrem situações de estresse, como no câncer, citocinas envolvidas na regulação do apetite podem influenciar negativamente na regulação do apetite da ação orexígena do NPY, ou seja, em estado de jejum normal o nível ou a liberação de NPY no hipotálamo está aumentado e nos casos de câncer o NPY mantém-se reduzidos. Ou seja, no câncer, ocorre uma redução da liberação desse neuropeptídio e consequentemente, reduz a ingesta de alimentos, aumentando o gasto energético e reduzindo a lipogênese. ____________________________________________ ➔ Grelina: A grelina é um neuropeptídeo secretado em diversas células endócrinas, principalmente no estômago. É um importante regulador do apetite e do peso corporal. Durante o período de jejum os níveis de grelina aumentam na circulação sanguínea e diminui logo após a ingestão alimentar, ao contrário da leptina e insulina, outros importantes reguladores da massa corporal gordurosa. No entanto, em pacientes caquéticos a grelina podeestar diminuída devido a um bloqueio na resposta adaptada ao jejum, por diminuição da expressão do RNAm da grelina no estômago, diminuindo assim o apetite. ____________________________________________ ➔ Melanocortina (MC): Constituem uma família de peptídios regulatórios, que incluem a adrenocorticotrofina (ACTH) e o hormônio melanócito estimulante (MSH), também associados à SAC. Esse grupo de peptídios e seus receptores ajudam a regular o apetite e a temperatura corporal, como também são importantes para memória, bem-estar e imunidade. Apesar da acentuada perda de peso, em que normalmente se esperaria uma regulação negativa dos sistemas anorexígenos relacionados à melanocortina, o sistema permanece ativo, durante a caquexia neoplásica, aumentando ainda mais a taxa metabólica, a anorexia e a perda de peso. Mas, se o receptor central de melanocortina for bloqueado, os processos de anorexia e caquexia são revertidos. ____________________________________________ (3) MEDIADORES – CITOCINAS As citocinas são glicoproteínas solúveis que produzem uma grande variedade de reações fisiológicas. Já foram implicadas por vários estudos recentes como mediadoras da resposta do hospedeiro ao câncer. As citocinas regulam tanto a absorção de energia (isto é, apetite) quanto ao gasto de energia (taxa metabólica) e por isso têm um papel essencial na determinação do estado nutricional do portador de tumor. As citocinas que são tidas como mediadores da caquexia são: TNF-alfa, IL-1B e IL-6. ➔ Fator de Necrose Tumoral (TNF-α): Também conhecido por caquexina, é uma das citocinas secretadas pelos macrófagos em resposta ao crescimento celular tumoral ou infecções por bactérias gram negativa. O TNF-α causa anorexia, suprimindo centros de saciedade e a síntese de lipoproteína lípase, uma enzima que facilita a liberação de ácidos graxos pelas lipoproteínas, de modo a poderem ser utilizadas pelos tecidos. O TNF-α induz várias respostas inflamatórias, ativando o sistema de coagulação, atuando nos hepatócitos para aumentar a síntese de proteínassérica em resposta aos estímulos inflamatórios, e promove o choque endotóxico secundário a trauma, queimaduras e sepse. ____________________________________________ ➔ Interleucina 1 (IL-1): A interleucina 1 (IL-1) é outra citocina inflamatória secretada pelos macrófagos, e juntamente com o TNF-α tem a capacidade de iniciar a caquexia. Vale ressaltar que a IL-1 produz os mesmos efeitos do TNF-α, mas não age sobre os músculos, e os efeitos produzidos na caquexia são menos potentes que os induzidos pelo TNF-α. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA Essa citocina age diretamente sobre centro de regulação do apetite do sistema nervoso central, induzindo saciedade, o que provoca uma menor ingestão de alimentos e de água. ____________________________________________ ➔ Interleucina 6 (IL-6): Uma citocina com várias atividades biológicas, algumas semelhantes ao TNF-α e IL-1. Produzida por macrófagos, monócitos e pelos fibroblastos. É a principal citocina envolvida na indução das proteínas de fase aguda e síntese de fibrinogênio. Alguns estudos têm mostrado que a IL-6 tem pequeno efeito sobre a proteólise muscular, embora seja capaz de estimular a gliconeogênese no fígado. Juntamente com outras citocinas, sozinhas ou combinadas é capaz de reduzir a ingestão alimentar e também interferir no balanço de energia. Todos estes mecanismos vão desencadear a síndrome de anorexia e caquexia. ____________________________________________ (4) ALTERAÇÕES SENSORIAIS A diminuição no consumo alimentar e o aumento da perda de peso que ocorrem na SAC são atribuídos a inúmeros fatores, sejam eles efeitos locais do tumor, como obstruções e sintomas GI, ou anorexia decorrente de causas não mecânicas, como desequilíbrios de neuropeptídios e citocinas. A baixa ingestão pode ocorrer, ainda, por reações adversas do tratamento radical do câncer, como náuseas e vômitos decorrentes da quimioterapia, que diminuem o apetite, as mucosites e enterites em função da radioterapia e as mutilações das cirurgias. Muitos pacientes atribuem a diminuição do apetite e da ingestão alimentar a alterações desagradáveis e inaceitáveis do paladar e do olfato. Os fatores que afetam o paladar e o olfato são complexos, sejam eles anatômicos, fisiológicos ou de outra natureza. Os estudos iniciais sobre o paladar alterado de pacientes com câncer utilizaram o método que detecta a menor concentração percebida de soluções de cloreto de sódio (salgado), ácidos hidroclórico e cítrico (azedo), uréia (amargo) e sacarose (doce). Mas, esses estudos de sensibilidade de paladar, em doença maligna, têm mostrado resultados variáveis. Os relatos incluem um limiar de reconhecimento elevado para o doce, limiar diminuído para o amargo e algum aumento em limiares para o azedo e o salgado. O limiar de paladar diminuído para o amargo foi associado à aversão à carne vermelha. É importante salientar que a supressão do paladar é mais severa após tratamento radioterápico na região de orofaringe e pacientes em QT referem a sensação de gosto metálico na boca. Embora estes achados sobre o sabor sejam inconsistentes em relação a um padrão, respostas alteradas ao sabor dos alimentos causam rejeição de alimentos nutritivos, contribuindo para a anorexia e diminuição da ingestão. Em relação às alterações gerais do paladar, é frequente o desenvolvimento de aversões alimentares específicas, ou seja, o consumo de um alimento particular é associado a uma reação desagradável durante ou após sua ingestão. O resultado é a abstenção daquele alimento. Portanto, recomenda-se que os pacientes evitem seus alimentos preferidos durante o período da QT, caso contrário poderá ocorrer uma associação de desprazer entre os efeitos da QT e os alimentos oferecidos durante o tratamento do câncer, criando-se uma situação de aversão alimentar. Saciedade precoce também é comum no paciente oncológico, presente em aproximadamente 50% dos pacientes, por alterações na motilidade GI e redução da capacidade gástrica. O declínio da capacidade gástrica pode ser causado por uma neuropatia autonômica para neoplásica, em virtude do tratamento quimioterápico que altera o feedback autonômico do sistema nervoso central. Neoplasias malignas no TGI também podem produzir saciedade precoce. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA 2. ABORDAR A ASSOCIAÇÃO DA PERDA DE PESO E PERDA DE APETITE COM O TRATAMENTO ONCOLÓGICO (QUIMIOTERAPIA) Os principais efeitos colaterais relacionados ao tratamento quimioterápico são náuseas, vômitos, toxicidade hematológica, diarreia, mucosite e distúrbios hidroeletrolíticos. Pacientes em radioterapia para câncer de cabeça e pescoço geralmente apresentam disgeusia (disfunção no sentido do paladar), xerostomia (boca seca) e/ou mucosite oral (inflamação e ulceração na cavidade oral), que podem ser resultado da própria doença ou de seu tratamento. Náuseas e vômitos são efeitos colaterais comuns a vários agentes quimioterápicos. Náuseas e vômitos mal controlados podem levar a desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos e perda de peso. As náuseas induzidas pela quimioterapia são classificadas em: • Aguda: quando ocorre nas primeiras 24h de administração da quimio. • Tardia: ocorre após 24h de administração da quimio. • Antecipatória: quando o paciente já tem um ciclo prévio de tratamento, o início das náuseas pode ocorrer antes de iniciar o tratamento. Mucosite é um termo geral para eritema, edema, descamação e ulceração da mucosa oral e orofaringe secundaria a quimio ou radio. Esta condição causa dor severa, disfagia, desnutrição e infecções secundarias. Destaca-se ainda entre os efeitos colaterais a toxicidadehematológica. Pode-se manifestar por anemia, plaquetopenia e neutropenia. Dentre as complicações infecciosas relacionadas a quimioterapia, destaca-se a neutropenia febril, caracterizada por contagem absoluta de neutrófilos <500, aumentando o risco de desenvolver infecções bacterianas. Os agentes quimioterápicos podem induzir também toxicidade cutânea local ou sistema. Isso porque, a pele, mucosas, anexos como glândulas sebáceas e sudoríparas e os pelos e unhas são tecidos de alta proliferação celular, portanto mais susceptíveis a desenvolverem reações adversas, como alopecias, hiperpigmentação, alterações ungueais. 3. CORRELACIONAR OS SINAIS E SINTOMAS SISTÊMICOS A FRENTE DE UM QUADRO NEOPLÁSICO As manifestações clínicas do câncer são extremamente heterogêneas. No estágio inicial da doença, o paciente encontra-se geralmente assintomático, e com a progressão da doença, sintomas como perda de peso, tosse, dispneia e rouquidão podem se tornar aparentes. Os sinais e sintomas do câncer podem ser divididos em locais, regionais e sistêmicos. → Dentre os sintomas locais, estão dor, tumorações e ulcerações persistente; → Os efeitos regionais podem decorrer da obstrução de vias aéreas, drenagem linfática, trato gastrointestinal e vias biliares ou trato geniturinários; → As manifestações sistêmicas do câncer podem ser secundárias à presença de grandes massas tumorais com repercussões sistêmicas, de metástases disseminadas ou de síndromes paraneoplasicas. SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS As síndromes paraneoplásicas são caracterizadas por sinais e sintomas causados pelos tumores que não estão relacionados ao sítio primário da doença ou a localização de suas metástases. Essas síndromes são decorrentes da produção, pelo tumor, de substâncias que direta ou indiretamente causam sintomas à distância. A apresentação clínica é variável, podendo ocorrer manifestações endócrinas, neurológicas, RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA hematológicas, dermatológicas, renais, gastrointestinais, reumatológicas e eletrolíticas. O seu reconhecimento pelo médico é de grande importância, pois pode ser a primeira manifestação do câncer. A síndrome é caracterizada pelo seu curso clinico em paralelo ao do câncer subjacente, e desse modo, com o decorrer do tratamento efetivo do câncer, espera-se que as manifestações paraneoplásicas também regridam. Os principais tipos de câncer associados ao aparecimento de síndromes paraneoplásicas são de pulmão, principalmente carcinoma de pequenas células, carcinoma de mama, de ovário, linfoma de Hodgkin e carcinoma tímico. ____________________________________________ ➔ Síndromes paraneoplásicas endocrinológicas As síndromes paraneoplásicas endocrinológicas são decorrentes da síntese e da secreção de substâncias com características hormonais pelas células neoplásicas. Isso pode ocorrer em células que fisiologicamente as sintetizam e passam a faze-los de forma independente ou de células que ao longo do processo de carcinogênese, tornam-se capazes de sintetizar tais substancias de forma clinicamente relevantes. 1. Secreção ectópica de ACTH: A síndrome de Cushing (hipercortisolismo) é resultante da produção e da secreção autônoma e/ou excessiva de cortisol, que pode ser dependente ou não do hormônio corticotrófico (ACTH) e a secreção ectópica de ACTH associada a neoplasias corresponde a 12% dos casos de síndrome de Cushing. O câncer mais frequente que causa essa síndrome é o carcinoma de pequenas células. As manifestações clinicas desse quadro de hipercorticolismo são obesidade centrípeta, estrias violáceas, hipertensão secundaria, fraqueza, fácies cushicnoide. 2. Hipercalcemia: Os principais tumores relacionados com esta manifestação são pulmão, mama e mieloma múltiplo. A hipercalcemia deve ser lembrada como possível causa de sintomas comuns aos pacientes com câncer, como constipação intestinal, náuseas, vômitos, dor abdominal, convulsões, confusão mental e rebaixamento do nível de consciência. Insuficiência renal aguda é uma das complicações graves que podem ocorrer, sendo causada pela diminuição da capacidade de concentração urinária, ocasionando perda excessiva de água livre, diminuição da taxa de filtração glomerular e, por fim, lesão tubular. 3. Hipoglicemia A hipoglicemia pode ser uma manifestação paraneoplásica resultante do excesso de insulina sintetizada pelo próprio tumor, como no caso dos insulinomas. ____________________________________________ ➔ Síndromes paraneoplásicas neurológicas Em pacientes com câncer e síndrome neurológica paraneoplásica, qualquer porção do sistema nervoso pode ser afetada, desde o córtex cerebral até a junção neuromuscular. A síndrome neurológica paraneoplásica é pouco frequente, entretanto a miastenia de Eanton-Lambert pode ser detectada em 3% dos pacientes com carcinoma de pulmão de pequenas células. ____________________________________________ ➔ Síndromes paraneoplásicas hematológicas As síndromes paraneoplasicas hematológicas são extremamente comuns e compreendem a elevação ou a redução de eritrócitos, granulócitos, plaquetas, os quais são mediados por fatores de crescimento ou interleucinas. A anemia de doença crônica, normocitica e normocromica é a forma mais comum de anemia em pacientes com câncer, seguida de anemia secundaria à infiltração medular e ao tratamento (quimioterapia e radioterapia). A anemia de doença crônica é caracterizada pelo baixo nível de ferro sérico, ferritina normal ou elevada e capacidade total de ligação do ferro baixa. Anemia hemolítica ocorre principalmente em pacientes com linfoma de células B. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA Trombocitopenia e leucopenia são raramente causadas por síndrome paraneoplásica, mas secundárias a quimioterapia/radioterapia e/ou infiltração da medula óssea. ____________________________________________ ➔ Síndrome paraneoplásica dermatológica As síndromes paraneoplásicas dermatológicas mais frequentes são acantose nigricans, penfigóide, acroceratose paraneoplásica e dermatose neutrofílica. ____________________________________________ ➔ Síndromes paraneoplásicas renais Glomerulopatias podem ser a primeira manifestação de doença neoplásica. As síndromes nefrítica e/ou nefrótica, decorrentes da deposição de antígenos tumorais, anticorpos e consequente ativação do complemento, podem estar associadas a câncer de pulmão e cólon. ____________________________________________ ANOREXIA E CAQUEXIA A anorexia e a caquexia caracterizam a síndrome paraneoplásica mais comum, afetando 50% dos pacientes com câncer, dos quais 15% experimentam perda ponderal maior que 10%. O quadro clínico inclui anorexia, perda de peso, atrofia muscular, anemia, astenia e alterações do metabolismo dos substratos, e sua presença indica prognóstico sombrio. O objetivo primário é adequar a ingestão de calorias, diminuindo ao máximo as calorias de fontes proteicas. Sempre que possível, o trato gastrintestinal deve ser utilizado como via para suporte nutricional. 4. CARACTERIZAR OS EXAMES COMPLEMENTARES QUE SÃO SOLICITADOS EM CAQUEXIA POR NEOPLASIA A abordagem do paciente com suspeita de câncer baseia-se na história e exame físico completos com o objetivo de identificar o sítio primário da doença. O diagnóstico do câncer baseia-se na confirmação histológica realizada pela biopsia da lesão. Exames complementares, como endoscopia, tomografia, ressonância magnética, cintilografia óssea e tomografia por emissão de pósitrons, podem ser usadas para localizar o sítio primário da doença e definir sua extensão. Deve-se solicitar ainda, na investigação inicial, hemograma completo, função renal e hepática e eletrólitos que são analisadosno momento da decisão terapêutica. Algumas neoplasias podem estar associadas à elevação de marcadores tumorais, que são substancias produzidas pelo tumor ou pelo hospedeiro em resposta ao tumor. Porém, em geral estes marcadores não são específicos de um tumor e podem estar elevados em outras situações não neoplásicas. Dessa forma, é importante destacar que os marcadores tumorais não devem ser utilizados para diagnóstico de câncer. Alguns marcadores podem ser usados para monitorar o tratamento e a progressão da doença, dentre eles, destacam-se o CEA, CA125, PSA sérico. ____________________________________________ EXAMES DE IMAGEM Exames de imagem com frequência incluem radiografia simples, ultrassonografia, TC, PET e RM. Esses exames ajudam a identificar alterações, determinar a qualidade da massa (sólida ou cística), mensurar as dimensões e determinar relação com as estruturas adjacentes, o que pode ser importantes se houver indicação de cirurgia ou biópsia. Na maioria dos casos, a confirmação do diagnóstico é feita através da combinação de vários exames, como observação do paciente, exame de sangue, ressonância magnética e biopsia, por exemplo. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA • Ecografia: Também conhecida por ultrassonografia, que é um exame que permite detectar lesões em órgãos como fígado, pâncreas, baço, rins, próstata, mama, tireoide, útero e ovários. • Radiografia: É um exame realizado através de Raio X, que ajuda a identificar alterações no pulmão, na coluna e osso. • Ressonância magnética: É um exame de imagem que detecta alterações em órgãos como mama, vasos sanguíneos, fígado, pâncreas, baço, rins e suprarrenais. • Tomografia Computadorizada: É realizada quando se verificam alterações no Raio X e normalmente é solicitada para avaliar os pulmões, fígado, baço, pâncreas, articulações e faringe, por exemplo. ____________________________________________ MARCADORES TUMORAIS Marcadores tumorais séricos podem oferecer evidências confirmando a neoplasia específica em pacientes com achados sugestivos. A maioria não é utilizada como testes de triagem de rotina, exceto em pacientes de alto risco. Alguns desses marcadores tumorais séricos podem ser mais úteis para monitorar a resposta ao tratamento, em vez de detectar os tumores. Exemplos úteis incluem: • Alfa-fetoproteína (carcinoma hepatocelular, carcinoma testicular) • Antígeno carcinoembriônico (câncer de cólon) • Gonadotropina coriônica beta-humana (coriocarcinoma, carcinoma testicular) • Imunoglobulinas séricas (mieloma múltiplo) • Testes moleculares como BCR-ABL1 (leucemia mielóide crônica) • CA 125 (câncer de ovário) • CA 27-29 (câncer de mama) • PSA (câncer de próstata) • Antígeno carcinogênico (CEA) é um complexo proteína-polissacarídio presente em carcinomas de cólon e em intestinos, pâncreas e fígados fetais. Os níveis do sangue estão elevados em pacientes com carcinoma de colón, mas a especificidade é relativamente baixa, pois os resultados positivos também ocorrem em pessoas que fumam muito e em pacientes com cirrose, colite ulcerativa e outros cânceres (p. ex., mama, pâncreas, bexiga, ovário, colo do útero). • CA 19-9: foi originalmente desenvolvido para detectar câncer colorretal, mas provou ser mais sensível para o câncer pancreático. É primariamente usado para julgar a resposta ao tratamento em pacientes com cânceres pancreáticos avançados. O CA 19-9 pode também estar elevado em outros tipos de câncer gastrintestinal, em particular no câncer dos ductos biliares e alguns distúrbios benignos dos ductos biliares e colestáticos. • CA 15-3 e CA 27-29: estão elevados em muitos pacientes com câncer metastático de mama. Também podem estar elevados em outras condições. Esses marcadores são primariamente usados para monitorar a resposta à terapia. • TA-90: é uma subunidade altamente imunogênica de um antígeno associado a tumor urinário presente em 70% dos melanomas, nos sarcomas de tecidos moles e nos carcinomas de mama, cólon e pulmões. ____________________________________________ BIÓPSIA Biópsia para confirmar o diagnóstico e o tecido primário é quase sempre necessária quando há suspeita de câncer. A escolha do local da biópsia é normalmente determinada pela facilidade de acesso e grau de invasividade. Se houver linfadenopatia, biópsia com agulha fina ou de núcleo pode revelar o tipo de tumor. Recomendam- se biópsias de núcleo ou excisão de linfonodos para o diagnóstico de linfomas, porque a preservação da arquitetura linfonodal é importante para o diagnóstico preciso. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA Algumas vezes, é necessária biópsia a céu aberto. Outro tipo de biópsia inclui a broncoscopia para fácil acesso a tumores pulmonares centrais ou mediastinais, biópsia percutânea do fígado, se houver lesões no fígado e TC ou biópsia guiada por ultrassonografia do pulmão ou massas teciduais moles. ____________________________________________ Graduação é uma medida histológica da agressividade do tumor e fornece informação prognóstica importante. Ela é determinada pela amostragem de tecido. O grau baseia-se na aparência morfológica das células tumorais, incluindo a aparência do núcleo, citoplasma e nucléolos; frequência de mitoses; e quantidade de necrose. Escalas de graduação foram desenvolvidas para muitos tipos de câncer. Exames moleculares como análogos cromossômicos, hibridização fluorescente in situ (FISH), PCR e antígenos de superfície celular (p. ex., em linfomas, leucemias, cânceres de pulmão e gastrintestinal) ajudam a delinear a origem dos cânceres metastáticos, especialmente cânceres de origem primária desconhecida, e podem ser úteis ao selecionar a terapia. 5. COMPREENDER O QUE SÃO CUIDADOS PALIATIVOS (COMPONENTES E INDICAÇÕES) Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em conceito definido em 1990 e atualizado em 2002, “Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais”. Princípios gerais dos Cuidados Paliativos: I. Fornecer alívio para dor e outros sintomas estressantes como astenia, anorexia, dispneia e outras emergências oncológicas. II. Reafirmar vida e a morte como processos naturais. III. Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente. IV. Não apressar ou adiar a morte. V. Oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente, em seu próprio ambiente. VI. Oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte. VII. Usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto. A OMS pontua ainda que se deve iniciar o tratamento paliativo o mais precocemente possível, concomitantemente ao tratamento curativo, utilizando-se todos os esforços necessários para melhor compreensão e controle dos sintomas. E que ao buscar o conforto e a qualidade de vida por meio do controle de sintomas, pode-se também possibilitar mais dias de vida. A OMS classifica os países em quatro grupos, de acordo com seu nível de desenvolvimento em Cuidados Paliativos. Segundo os dados de 2014, o Brasil está incluído no nível 3a – provisão isolada, juntamente com Rússia, México, países do Sudeste Asiático, entre outros. Os cuidados paliativos podem ser realizados na casado paciente, em um hospital ou unidade de saúde, ou em um hospice. Seu principal objetivo é melhorar a qualidade de vida do paciente no final da vida. A decisão para o início dos cuidados paliativos é uma decisão conjunta de paciente, familiares e médico. Um dos problemas com os cuidados paliativos é que, muitas vezes, ele é iniciado de forma tardia. Às vezes, o médico, o paciente ou a família rejeitam essa alternativa porque acreditam que dessa forma o paciente está desistindo ou que não existe mais RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA esperança. Isso não é verdade. Se o paciente melhorar ou se a doença entrar em remissão, ele terá alta e continuará a realizar o tratamento contra o câncer. Mas o que os cuidados paliativos oferecem é uma vida de qualidade, possibilitando que o paciente viva melhor a cada dia durante os últimos estágios da uma doença avançada. Existem dois termos frequentemente usados na literatura para definir condições de pacientes que devem receber Cuidados Paliativos: – Doenças que ameaçam a vida (life-threatening conditions): enfermidades que representam uma grave ameaça de morte, para as quais a terapêutica pode resultar em cura, mas pode falhar. – Doenças que limitam a vida (life-shortening conditions): enfermidades sem possibilidade curativa e que a probabilidade de morte durante a infância ou adolescência é elevada. Destaca-se que os Cuidados Paliativos resgatam a possibilidade da morte como um evento natural e esperado na presença de doença ameaçadora da vida, focando o cuidado na pessoa e não na doença, centrado na biografia e no respeito à autonomia, com ênfase na vida que ainda pode ser vivida. Além disso, considera-se mais adequado falar em doença que ameaça a vida, em vez de doença terminal. Também é mais adequado dizer possibilidade ou não de tratamento modificador da doença e não impossibilidade de cura, afastando a ideia de “não ter mais nada a fazer”, uma vez que sempre há um tratamento a ser oferecido para controlar os sintomas e o sofrimento do paciente e de seus familiares. Cuidados Paliativos estão indicados para todos os pacientes (e familiares) com doença ameaçadora da continuidade da vida, em concomitância com os cuidados curativos, por qualquer diagnóstico, com qualquer prognóstico, seja qual for a idade, e a qualquer momento da doença em que eles tenham expectativas ou necessidades não atendidas. Sendo assim, Cuidados Paliativos podem complementar e ampliar os tratamentos modificadores da doença ou podem tornar-se o foco do cuidado, de acordo com os desejos e as necessidades individuais de cada paciente. Nesse contexto, indicam-se Cuidados Paliativos em ambientes intensivos a todos os pacientes com risco de morte e com sintomas que comprometam a qualidade de vida. CUIDADOS PALIATIVOS ONCOLÓGICOS Além da dor (um dos sintomas mais frequentes), outros sintomas acometem os indivíduos com câncer, como: anorexia, depressão, ansiedade, constipação, disfagia, dispneia, fraqueza, entre outros. Todos diminuem de algum modo sua qualidade de vida, merecendo, portanto, a atenção dos profissionais de saúde. À medida que a doença progride, maior é a necessidade de cuidados paliativos, o que os torna quase que exclusivos ao final da vida, porém, não terminando com a morte do indivíduo com câncer.
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