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_Coleção O que é e o que faz - Volume 3 - Pragmática

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Prévia do material em texto

O que é e o que faz
a Pragmática
Coleção O que é e o que se faz?
Volume 3
Reitor
José Daniel Diniz Melo
Vice-Reitor
Henio Ferreira de Miranda
Diretoria Administrativa da EDUFRN
Maria das Graças Soares Rodrigues (Diretora)
Helton Rubiano de Macedo (Diretor Adjunto)
Bruno Francisco Xavier (Secretário)
Conselho Editorial
Maria das Graças Soares Rodrigues (Presidente)
Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretária)
Adriana Rosa Carvalho
Alexandro Teixeira Gomes
Elaine Cristina Gavioli
Euzébia Maria de Pontes Targino Muniz
Everton Rodrigues Barbosa
Fabrício Germano Alves
Francisco Wildson Confessor
Gleydson Pinheiro Albano
Gustavo Zampier dos Santos Lima
John Fontenele Araújo
Josenildo Soares Bezerra
Ligia Rejane Siqueira Garcia
Lucélio Dantas de Aquino
Marcelo de Sousa da Silva
Márcia Maria de Cruz Castro
Márcio Dias Pereira
Martin Pablo Cammarota
Nereida Soares Martins
Roberval Edson Pinheiro de Lima
Samuel Anderson de Oliveira Lima
Tatyana Mabel Nobre Barbosa
Secretária de Educação a Distância
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo
Secretária Adjunta de Educação a Distância
Ione Rodrigues Diniz Morais
Coordenadora de Produção de Materiais Didáticos
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo
Coordenação Editorial
Mauricio Oliveira Jr.
Gestão do Fluxo de Revisão
Edineide Marques
Gestão do Fluxo de Editoração
Mauricio Oliveira Jr.
Conselho Técnico-Científico – SEDIS
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo – SEDIS (Presidente)
Aline de Pinho Dias – SEDIS
André Morais Gurgel – CCSA
Antônio de Pádua dos Santos – CS
Célia Maria de Araújo – SEDIS
Eugênia Maria Dantas – CCHLA
Ione Rodrigues Diniz Morais – SEDIS
Isabel Dillmann Nunes – IMD
Ivan Max Freire de Lacerda – EAJ
Jefferson Fernandes Alves – SEDIS
José Querginaldo Bezerra – CCET
Lilian Giotto Zaros – CB
Marcos Aurélio Felipe – SEDIS
Maria Cristina Leandro de Paiva – CE
Maria da Penha Casado Alves – SEDIS
Nedja Suely Fernandes – CCET
Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim – SEDIS
Sulemi Fabiano Campos – CCHLA
Wicliffe de Andrade Costa – CCHLA
Revisão Linguístico-textual
Fabíola Gonçalves
Revisão de ABNT
Edineide Marques
Revisão Tipográfica
Maria das Graças Soares Rodrigues
Diagramação
Marina Santos
Capa
Victor Hugo Rocha Silva
O que é e o que faz
a Pragmática
Coleção O que é e o que se faz?
Volume 3
Prefácio
Ana Lúcia Tinoco Cabral
Rivaldo Capistrano Júnior
Maria das Graças Soares Rodrigues
Rodrigo Albuquerque
Ana Lúcia Tinoco Cabral
Maria da Penha Pereira Lins
Organizadores
Natal, 2023
Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN
Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário
Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil
e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br
Telefone: 84 3342 2221
Albuquerque, Rodrigo.
 O que é e o que faz a Pragmática [recurso eletrônico] / organizado por Rodrigo 
Albuquerque, Ana Lúcia Tinoco Cabral e Maria da Penha Pereira Lins. – 1. ed. – 
Natal: EDUFRN, 2023. (O que é e o que faz..., v. 3).
 2100 KB; 1 PDF.
 ISBN 978-65-5569-375-1
 1. Pragmática Textual. 2. Linguagem. 3. Sujeito. 4. Cultura. 5. Interação. I. 
Cabral, Ana Lúcia Tinoco. II. Lins, Maria da Penha Pereira. III. Título.
CDU 81
C345q
Catalogação da publicação na fonte
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Secretaria de Educação a Distância
Elaborada por Edineide da Silva Marques CRB-15/488.
Fundada em 1962, a Editora da UFRN continua 
até hoje dedicada à sua principal missão: produzir 
impacto social, cultural e científico por meio de livros. 
Assim, busca contribuir, permanentemente, para uma 
sociedade mais digna, igualitária e inclusiva.
Publicação digital financiada com recursos do Fundo de Pós-graduação (PPg-UFRN). A 
seleção da obra foi realizada pela Comissão de Pós-graduação, com decisão homologada 
pelo Conselho Editorial da EDUFRN, conforme Edital nº 01/2023-PPG/EDUFRN/
SEDIS, para a linha editorial Técnico-científica.
Prefácio
O Grupo de Trabalho Linguística de Texto e Análise da 
Conversação (GT LTAC), da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (Anpoll), foi 
criado em 1985 e conta com um grande número de pesqui-
sadores, pertencente aos mais diversos Programas de Pós-
Graduação e atuantes em grupos de pesquisa consolidados, 
que, sob perspectivas teórico-metodológicas variadas, elege 
como objeto empírico o texto, em diferentes modalidades 
e em diferentes contextos de interação. O grupo, marcado 
pela pelo caráter interdisciplinar desde a sua criação, tem 
como grandes temas i) processos discursivo-interacionais de 
negociação de sentido(s) e ii) estratégias de textualização em 
contextos de interação diversos.
Em 2021, por iniciativa dos coordenadores Ana Lúcia 
Tinoco Cabral e Rivaldo Capistrano Júnior, procedeu-se 
ao mapeamento dos temas, das interfaces e das áreas de 
pesquisa de interesse dos membros do GT. O resultado, além 
de reiterar o interesse pelos grandes temas, apontou cinco 
áreas de atuação, a saber: Linguística Textual, Análise Textual 
dos Discursos, Análise da Conversação, Semiolinguística e 
Pragmática.
Com base nesse mapeamento e com o apoio dos mem-
bros do GT LTAC, da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPG/UFRN) 
e da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte (EDUFRN), deu-se o início do projeto de publicação 
eletrônica da coleção O que é e o que faz..., uma coletânea de 
entrevistas, coordenada pelos professores Ana Lúcia Tinoco 
Cabral, Rivaldo Capistrano Júnior e Maria das Graças Soares 
Rodrigues e organizada em cinco volumes, a saber: 
Volume 1: O que é e o que faz a Linguística Textual, 
organizado por Rivaldo Capistrano Júnior (Ufes) e Vanda 
Maria da Silva Elias (UNIFESP);
Volume 2: O que é e o que faz a Análise Textual dos 
Discursos, organizado por Maria das Graças Soares Rodrigues 
(UFRN) e Sueli Cristina Marquesi (PUC-SP);
Volume 3: O que é e o que faz a Pragmática, organizado 
por Rodrigo Albuquerque (UnB), Ana Lúcia Tinoco Cabral 
(PUC-SP) e Maria da Penha Pereira Lins (UFES);
Volume 4: O que é e o que faz a Análise da Conversação, 
organizado por Gil Roberto Costa Negreiros (UFSM) e Ana 
Rosa Ferreira Dias (PUC-SP; USP);
Volume 5: O que é e o que faz a Semiolinguística, orga-
nizado por Aparecida Lino Pauliukonis (UFRJ), Lúcia Helena 
Martins Gouvêa (UFRJ) e Rosane Santos Monnerat (UFF).
Os diferentes volumes têm, além de perguntas específicas, 
perguntas em comum, que objetivam manter o fio condutor da 
proposta da coleção. Em resposta às perguntas de entrevista, 
cada entrevistado tem a oportunidade de discorrer sobre o 
quadro e os avanços teórico-metodológicos de sua área, de 
apontar (novas) questões de investigação e de indicar apli-
cações de suas pesquisas para o ensino, em seus diferentes 
níveis e em diversas modalidades.
Desse modo, a coletânea tem como objetivos i) fomentar 
atividades vinculadas à implementação, à divulgação da 
produção científica e à formação e/ou consolidação de redes 
de pesquisa de membros do GT LTAC e de outros GTs da 
ANPOLL; ii) apresentar e promover temas fundamentais dos 
estudos sobre o texto; aumentar a visibilidade da produção do 
GT LTAC junto à comunidade científica nacional e interna-
cional; iii) fomentar a discussão sobre diferentes perspectivas 
de análise e de investigação do texto; iv) promover a interface 
entre essas diferentes perspectivas; v) contribuir para a for-
mação inicial e continuada de professores e de pesquisadores. 
 Desejamos aos leitores que a pluralidade de perspectivas 
teórico-metodológicas presentes nos cinco volumes da coleção 
promova o intercâmbio entre pesquisadores e fomente novas 
pesquisas em Linguística de Texto e Análise da Conversação.
Ana Lúcia Tinoco Cabral
Rivaldo Capistrano Júnior
Maria das Graças Soares Rodrigues
Coordenadores da coleção O que é e o que faz...
APRESENTAÇÃO
Este volume integra a coleção O que é e o que faz..., organizada 
pelo GT de Linguística de Texto e Análise da Conversação da 
Anpoll, e traz entrevistasde pesquisadores(as) renomados(as) 
no âmbito da Pragmática. Criado em 1985, o GT abriga pes-
quisadores(as) do Brasil cujos interesses estão voltados para 
duas macroáreas, a saber: a Linguística de Texto e a Análise 
da Conversação. Ambas as áreas implicam o diálogo com 
os estudos da Pragmática; afinal, a interação e as relações 
humanas se dão por meio de textos, pelo diálogo, pela inte-
ração dos sujeitos. Sob esse ponto de vista, podemos afirmar 
que pesquisar texto e conversa significa pensar em como os 
sujeitos utilizam a língua para cumprir com seus propósitos 
de interação e de atuação no mundo. Investigar o uso da 
língua pelos sujeitos é, de alguma forma, fazer pesquisa em 
Pragmática. O necessário diálogo entre os estudos do texto 
e da conversa com a Pragmática atrai pesquisadores(as) para 
participarem ativamente do nosso GT, visto que essa interface 
toca em conceitos e em métodos confluentes. 
Neste volume, foram entrevistados(as) nove pesquisa-
dores(as) que, de algum modo, dedicam-se aos estudos da 
Pragmática. Conforme será possível observar nas entrevistas 
que compõem este volume, os interesses de pesquisa dos(as) 
entrevistados(as) confirmam o diálogo entre a Pragmática 
Linguística e os Estudos do Texto. Nas entrevistas, conhe-
ceremos o percurso acadêmico dos(as) entrevistados(as), 
do primeiro contato com a Pragmática até as produções 
acadêmicas mais relevantes na área; os procedimentos meto-
dológicos e as categorias analíticas previstos; as interfaces e as 
particularidades da Pragmática; os desafios contemporâneos, 
decoloniais e pós-modernos; e as possíveis contribuições 
para o ensino.
Na entrevista “A Pragmática centra-se no uso da lín-
gua”, Ana Larissa Adorno Marciotto Oliveira destaca, em 
sua formação, as leituras de Goffman (1959), de Austin (1962) 
e de Searle (1968), as quais a motivaram a “abraçar também 
outros temas da Pragmática, particularmente a Teoria da 
Polidez”. No que tange à Pragmática, Oliveira evidencia que 
ela, ao se dedicar a estudar “os significados dos enunciados 
em relação a seus contextos específicos de uso”, “centra-
-se no uso da língua, ou seja, em questões de adequação às 
expectativas do interlocutor”. A respeito de incursões contem-
porâneas, críticas e pós-coloniais, a entrevistada menciona 
a Pragmática Integrada, a qual focaliza uma abordagem 
holística que integra “aspectos textuais, discursivos e con-
versacionais não associados às condições de verdade dos 
enunciados”; assim como a Teoria da Relevância, a Pragmática 
Sociocognitiva, a Neuropragmática, a Ciberpragmática, a 
Pragmática Crítica, a Pragmática Intercultural e a Pragmática 
Pós-colonial.
Cibele Brandão, na entrevista intitulada “A Pragmática 
investiga os sentidos invisíveis”, explicita ter recorrido à 
Pragmática por ser um dos pilares de sua área de atuação: a 
Sociolinguística Interacional. Segundo Brandão, os profes-
sores Jacob Mey e Kanavillil Rajagopalan foram os grandes 
responsáveis por sua formação na área, a partir dos quais teve 
acesso a estudos pioneiros (Austin, Searle, Grice, Levinson, 
Goffman etc.) e a outros autores (Kerbrat-Orecchioni, Thomas, 
Leech, Bravo, entre outros). Para a entrevistada, a Pragmática 
se volta para a interpretação de enunciados proferidos em 
dado contexto, e desvela “como a mente humana funciona, 
como as pessoas interagem e se comunicam, como os falantes 
sinalizam suas reais intenções, e, de modo mais genérico, como 
os seres humanos utilizam a linguagem”. Brandão concebe 
que “a Pragmática investiga os sentidos invisíveis, ou seja, 
estuda como a comunicação transcende o dito”, o que significa 
transcender os significados referenciais, sob o argumento de 
que os sentidos se constroem na interação. Tendo atuado, em 
especial, no campo da (im)polidez, a pesquisadora avalia que 
a Pragmática busca colaborar com esse tema, ao chamar a 
atenção para questões sociais conflitivas que podem emergir 
da esfera interpessoal.
Em “A Pragmática capta a progressão da coconstrução 
de sentidos na fala”, Dale A. Koike narra que, em sua tese 
de doutorado, começou “a questionar a variação dos signi-
ficados de acordo com as formas diferentes que a mesma 
pessoa usava”, instigando-a a explorar uma área até então 
por ela desconhecida: a Pragmática. Ao longo da entrevista, 
a pesquisadora destaca considerar central, para os estudos 
da Pragmática, o debate concernente ao contexto. Koike 
tem dedicado parte de seu trabalho à Pragmática no diá-
logo, adotando, recentemente, o modelo de Young (2019), 
o qual considera as dimensões identitárias, linguísticas e 
interacionais na análise de diálogos. Em vez de dicotomizar 
áreas, a entrevistada avalia ser mais produtivo pensar em 
contínuos, de modo a se perspectivarem, no âmbito da lin-
guagem, trabalhos mais/menos orientados para a Pragmática 
ou para o Discurso. Aliás, é esse caráter flexível que, segundo 
Koike, “faz parte da atração da Pragmática”, o que confere 
ao campo um cenário “muito mais [de] possibilidades 
do que limitações”. Todavia, a Pragmática não pode per-
der de vista, como destaca Koike, o interesse em estudar 
a compreensão do significado contextualmente situado, 
com vista a se captar “a progressão da coconstrução de 
sentidos na fala”.
Por sua vez, Elena Godoi revela, na entrevista “A 
Pragmática não é sobre o significado, mas é sobre como se faz 
o significado”, que seu caminho ao encontro da Pragmática 
teve início nos anos 1980, ao ser aluna de dois pioneiros na 
área: Kanavillil Rajagopalan e Marcelo Dascal. Na visão de 
Godoi, a Pragmática “estuda os princípios regulares que 
guiam e regem os processos de produção e de interpretação 
do significado em uso”, prevendo sujeitos – falante e ouvinte – 
ativos, donos de si e racionais. Sob essa ótica, o falante veicula 
o significado intencional; e o ouvinte, ao inferir e desvelar 
implicaturas, interpreta o enunciado. A entrevistada reitera 
que “a Pragmática não é ‘sobre o significado’, mas é ‘sobre 
como se faz o significado’, ‘sobre o significado potencial, 
negociado em interação’”. De natureza interdisciplinar, a 
Pragmática “não fica refém do loteamento em áreas especí-
ficas do conhecimento”, ampliando, segundo Godoi, áreas 
convergentes no âmbito da linguística, como a Semântica; 
e fora dela, como a Filosofia da Mente, a Antropologia, as 
Neurociências, entre outras. A pesquisadora ressalta que 
temáticas atuais mais difundidas, como “a Teoria da Polidez 
(de cunho social e cultural) e a Teoria da Relevância (com seu 
enfoque cognitivo)”, as quais se inscrevem em um paradigma 
positivista, podem sofrer revisões, reformulações e, assim, 
gerar novos conhecimentos.
Sob o título “A Pragmática coloca em primeiro plano a 
usuária e o usuário da linguagem”, Elisabetta Santoro men-
ciona que o primeiro contato com a Pragmática se deu por 
meio do projeto intitulado A Cross-Cultural Study of Speech 
Acts Realization Patterns, coordenado por Shoshana Blum-
Kulka, a partir do qual despertou seu interesse nas leituras de 
Austin (1962), de Goffman (2011), de Searle (1969), de Brown 
e Levinson (1987), de Grice (1991), e de Wierzbicka (2003). 
Ao considerar que “a Pragmática coloca em primeiro lugar 
a usuária e o usuário da linguagem”, Santoro situa que uma 
de suas características “é o lugar cada vez mais proeminente 
dado à/ao falante na sua relação com a linguagem e com 
outras/os falantes”. Além disso, a entrevistada frisa o caráter 
movediço que os sentidos assumem na Pragmática, cuja 
preocupação “não incide nas condições de verdade, mas no 
funcionamento do discurso, no uso que se faz da linguagem 
e nos efeitos de sentido que se produzem”. A pesquisadora 
avalia ser uma atitude decididamente pragmática a busca por 
“des-naturalizar” o que subjaz às interações, tornando possível 
enxergar “os conflitos, os preconceitos, a desigualdade social, 
o sentimento de classe”. 
Na sequência, Isabel Roboredo Seara, em “A Pragmática 
[faz] estremecer o quadro das escolas linguísticas tradicionais”,revela que os professores doutores Joaquim Fonseca e Fernanda 
Irene Fonseca, à época do mestrado, sensibilizaram-na para 
uma abordagem pragmática. Mais tarde, a entrevistada teve 
acesso à obra Pragmática Linguística (FONSECA, 1994), 
por meio da qual pôde conhecer autores clássicos da área, 
como Austin e Searle; bem como a obra A Comprehensive 
Bibliography of Pragmatics (NUYTS; VERSCHUEREN, 1987). 
Seara destaca que a Pragmática deixa transparecer “a dife-
rença entre os significados das palavras e o uso dos falantes 
quando querem dizer”, o que a situa como “uma perspectiva 
que visa à compreensão mais ampla, definida como o estudo 
cognitivo, social e cultural da linguagem e da comunicação”. 
Para a entrevistada, tal perspectiva assume-se, por excelên-
cia, como interdisciplinar, suscitando diálogos e “fazendo 
estremecer o quadro das escolas linguísticas tradicionais”. 
Em sua ótica, os problemas de comunicação, de interação 
e de compreensão interpessoal devem integrar a agenda de 
uma Pragmática contemporânea e crítica. Ao se dedicar à 
construção discursiva da cortesia e da agressividade verbal, 
a pesquisadora ratifica a importância de se ensinar uma 
“gramática da cortesia” nas escolas, em consonância com a 
agenda de uma abordagem pragmática sociocultural.
Em “A Pragmática quer entender como usamos a lin-
guagem”, Joana Plaza Pinto revela que Rajan (o professor 
Kanavillil Rajagopalan) foi, já no mestrado, sua maior ins-
piração para migrar da Semântica para a Pragmática. Nessa 
trajetória, o professor Rajagopalan instigava a constante cri-
ticidade às bases epistemológicas dos estudos da linguagem, 
recomendando, em especial, a leitura de Richard Rorty, que, 
na visão de Pinto, foi bastante libertadora para a sua formação 
acadêmica. Ao desconfiar de desenhos de pesquisa que visam 
a “provar” dado quadro teórico, a entrevistada busca, a partir 
de uma Pragmática Crítica, conduzir suas pesquisas com 
base nos problemas encontrados no campo de pesquisa. Em 
sua percepção, investigações em Pragmática, cujos objetos 
são os usos e as ações de linguagem, requerem postura ética 
e reflexiva, considerando-se que tais usos e tais ações não 
são detalhes descritivos, mas “constituintes que sustentam 
a estrutura linguística e que ancoram essa estrutura nas 
relações sociais, nas dinâmicas cotidianas, nas estruturas 
históricas e políticas que nos unem”. Em suma, a pesquisadora 
afirma que a Pragmática “quer entender como usamos a 
linguagem e como, ao usarmos a linguagem, agimos no mundo 
em que vivemos”.
Muito citado pelas entrevistadas neste livro, Kanavillil 
Rajagopalan nos conta, em “A Pragmática visa a esmiuçar a 
condição humana diante dos desafios”, que, em uma trajetória 
“ao sabor do vento”, já se incomodava com grandes teóricos 
da Linguística que “supervalorizavam o papel da função 
representacional da língua”. Incomodava-se, igualmente, 
com o terrível equívoco de se rotularem as sociedades como 
monolíngues e monoculturais. Ao cursar pós-gradução no 
início da década de 1970, teve contato com Austin (1955), 
em How to Do Things with Words, atiçando o imaginário e 
reacendendo a chama de que havia, na linguagem, “muito 
mais que mera representação, ou mero espelhamento de 
uma realidade externa, do que sonha a nossa vã filosofia”. 
Ratificando ser mais sensato falar em Pragmáticas no plural, 
e não em uma Pragmática, o entrevistado revela ser adepto 
de “uma vertente que prefere contemplar a língua(gem) como 
uma atividade fundamental e inextricavelmente social”, con-
cebendo a Pragmática, ao mesmo tempo, como “um campo 
de estudo e uma arena de intervenção social”. Ao longo da 
entrevista, Rajagopalan tanto critica a separação da figu-
ra-fundo (sentença-contexto) nos estudos da linguagem, 
evidenciando que a própria Linguística suprimiu o contexto 
de suas análises, quanto reconhece “a inevitabilidade da 
presença do pesquisador em sua pesquisa, ainda que ele 
jure de pés juntos que observa com total compromisso os 
princípios de objetividade e neutralidade científica”. Para 
o pesquisador, a Pragmática, em face da tarefa de “esmiu-
çar a condição humana diante dos desafios postos em seu 
caminho”, necessita “assumir uma atitude crítica que visa 
não só a compreender dado fenômeno na plenitude de suas 
implicações e consequências mas também a intervir nele com 
o intuito de corrigir os males”. Como desafio contemporâneo, 
Rajagopalan avalia que os estudos pragmáticos devem “se 
dignar a descer do pedestal de altas elucubrações filosóficas 
e entrar no meio da multidão, em que as pessoas de carne 
e osso se encontram, enfrentam seus desafios do dia a dia e 
anseiam por dias melhores”.
Silvia Beatriz Kaul de Marlangeon, em “A Pragmática 
[Sociocultural] examina como os seres humanos se comu-
nicam e se manipulam na encruzilhada entre língua e cul-
tura” – do original “La pragmática [sociocultural] examina 
cómo los seres humanos se comunican y manipulan en la 
encrucijada entre la lengua y la cultura”, comenta que teve 
contato com a Pragmática em sua primeira pós-graduação 
(ao final da década de 1980), a partir das aulas da profes-
sora Beatriz Lavandera. A docente apresentou a Kaul de 
Marlangeon a obra de Brown e Levinson (1987), a qual inspi-
rou a escritura da dissertação intitulada La Fuerza de Cortesía-
Descortesía y sus estrategias en el Discurso Tanguero de la 
Década del’20. Desde então, a entrevistada tem se dedicado 
à Pragmática Sociocultural da (des)cortesia verbal, por meio 
da qual é possível examinar as relações sociais; trabalhar com 
textos e contextos empíricos, evitando-se análises de enun-
ciados isolados e fictícios; examinar a variação contextual das 
escolhas linguísticas; analisar atividades de imagem (social), 
papéis, identidades e intenções comunicativas; e atender ao 
contexto situacional e social em que determinada comunidade 
de prática se inscreve. Ao compreender que a (des)cortesia está 
imersa em dada sociedade/cultura, a pesquisadora frisa que 
cabe ao/à investigador(a) descrever e interpretar as condutas 
adotadas pelos(as) interagentes, com base nas pistas linguís-
ticas presentes nos textos, as quais “remetem aos contextos 
situacional e cultural”.
Retomando a metáfora de Rajagopalan, esperamos que 
você, leitor(a), navegue por estes mares – seja iniciando, 
seja ampliando suas leituras – e aprecie sem moderação. 
Acreditamos, sim, que as pesquisas em Pragmática, ou 
melhor, em Pragmáticas, possam se beneficiar das dis-
cussões aventadas nesta obra, reconhecendo na dialética 
“usuário-linguagem” um terreno para intervir e, em alguma 
medida, transformar. Desejamos a você uma leitura pro-
dutiva, capaz de instigar a sempre conhecer mais sobre 
o que [são] e o que faz[em] as Pragmáticas...
Rodrigo Albuquerque
Ana Lúcia Tinoco Cabral 
Maria da Penha Pereira Lins
SUMÁRIO
Ana Larissa Adorno Marciotto Oliveira ...................................... 22
Cibele Brandão ................................................................................ 35
Dale A. Koike .................................................................................. 46
Elena Godoy ..................................................................................... 72
Elisabetta Santoro ........................................................................ 100
Isabel Roboredo Seara ................................................................. 132
Joana Plaza Pinto .......................................................................... 153
Kanavillil Rajagopalan ..................................................................174
Silvia Beatriz Kaul de Marlangeon 
(entrevista em português) .............................................................214
Silvia Beatriz Kaul de Marlangeon 
(entrevista em espanhol) .............................................................. 234
Referências ..................................................................................... 254
22
ANA LARISSA ADORNO 
MARCIOTTO OLIVEIRAUniversidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
“A Pragmática centra-se 
no uso da língua”
Com a palavra, a entrevistada...
1) Como você chegou à Pragmática? Quais autores lhe 
serviram de inspiração?
Iniciei esses estudos pela via da Sociolinguística, ainda 
no mestrado, principalmente por meio da leitura Erving 
Goffman e, em especial, da obra The Presentation of Self in 
Everyday Life (GOFFMAN, 1959 [1956]). Nesse, e em outros 
ANA LARISSA ADORNO MARCIOTTO OLIVEIRA
23
trabalhos de Goffman, a questão da face (imagem pública 
de si) é entendida como um fenômeno instável e imanente 
da interação. Além disso, ao conceito de face subjaz a noção 
de que as relações sociais são heterogêneas e não uniformes, 
suscitando, portanto, comportamentos verbais distintos dos 
falantes, a depender do tipo de situação comunicativa em que 
eles estejam engajados. 
Esses temas chamaram muito a minha atenção na época. 
Em seguida, estudando a Teoria dos Atos de Fala (AUSTIN, 
1962; SEARLE, 1968), a centralidade da fala cotidiana e a 
ideia de que “falar é agir” me motivaram a abraçar também 
outros temas da Pragmática, particularmente a Teoria da 
Polidez (BROWN; LEVINSON, 1987; LEECH, 2014, entre 
outros autores). Na teoria da Polidez, as práticas de linguagem, 
adotadas para proteger (ou atacar) a face de si (e dos outros), 
são analisadas de maneira sistemática, o que me interessou 
(e ainda me interessa) bastante. Anos depois, comecei a me 
dedicar aos estudos da (im)polidez linguística e, mais recen-
temente, tenho procurado me dedicar a pesquisas associa-
das às contribuições teóricas de Jonathan Culpeper, Marina 
Terkurafi, Michael Haugh e Derek Bousefield, entre outros 
autores, para os estudos da impolidez linguística.
ANA LARISSA ADORNO MARCIOTTO OLIVEIRA
24
2) Quais são suas produções em revistas e/ou em livros 
impressos ou eletrônicos mais relevantes na Pragmática?
Com respeito aos trabalhos mais recentes, creio que 
eu poderia mencionar o livro que organizei com Gustavo 
Ximenes Cunha, intitulado Múltiplas Perspectivas do Trabalho 
de Face nos Estudos da Linguagem (CUNHA; OLIVEIRA, 
2018). A obra divulga os resultados de estudos realizados 
pelos membros do Grupo de Estudos em Pragmática, Texto 
e Discurso (Gepted – FALE/UFMG/CNPq), bem como por 
seus colaboradores externos. O livro é também interessante 
porque explora as várias possibilidades de intercâmbio teó-
rico entre a Pragmática, a Análise do Discurso, as teorias da 
argumentação, os estudos de base interacionista, entre outros.
Ao lado de Gustavo Ximenes Cunha, escrevi também um 
texto sobre o papel das nominalizações no gerenciamento de 
faces e na organização tópica de artigos acadêmicos, intitulado 
As nominalizações como recursos complexos de organização 
tópica (CUNHA; OLIVEIRA, 2020). Acredito que esse texto 
possa ser relevante para os interessados na área de Pragmática 
(polidez) em interface com os estudos da Gramática Funcional 
e da Linguística Funcional Centrada no Uso, por exemplo. 
Já no campo da análise da pragmática digital, ao lado de 
Gustavo Ximenes Cunha e de Fernanda Teixeira Avelar, estu-
dei o uso de emojis em pedidos de desculpas, o que resultou 
ANA LARISSA ADORNO MARCIOTTO OLIVEIRA
25
no artigo Emojis como Estratégias de Reparo em Pedidos de 
Desculpas: um estudo sobre conversas em ambiente digital 
(OLIVEIRA et al., 2018). Nessa mesma área, escrevi ainda, 
com Marisa Mendonça Carneiro, o texto: #elesim, #elenão, 
#elasim, #elanão: o Twitter e as hashtags de amor e de ódio 
na campanha presidencial brasileira de 2018 (OLIVEIRA; 
CARNEIRO, 2020a), que trata do uso de hashtags no âmbito 
do discurso político agressivo no Brasil. 
Ainda associado ao tema da impolidez, ao lado de Ana 
Lúcia Tinoco Cabral, escrevi um artigo sobre impolidez em 
batalhas de MC, intitulado Batalhas de MC: um estudo sobre 
(im)polidez e categorização axiológica à luz da pragmática 
(OLIVEIRA; CABRAL, 2020). Nesse trabalho, a impolidez 
linguística e as questões axiológicas são analisadas do ponto 
de vista dos rituais de insulto.
Tenho também escrito sobre facticidade em fóruns e em 
vídeos do YouTube, o que pode ser observado, por exemplo, 
no texto Polidez, expressão de postura e a comunicação fática: 
uma análise de interações em um fórum virtual (OLIVEIRA; 
MARQUES, 2021), produzido ao lado de João Pedro Marques. 
Ainda na linha da interação digital, com Lucas Marciano, 
venho analisando as hashtags na formação de comunidades 
temporárias de prática, no artigo denominado #edaí: um 
ANA LARISSA ADORNO MARCIOTTO OLIVEIRA
26
estudo sobre impolidez e tomada de postura no Twitter bra-
sileiro (OLIVEIRA; MARCIANO, no prelo). 
3) Considerando que a Pragmática é uma Ciência, quais 
são seus procedimentos metodológicos e suas principais 
categorias analíticas?
Na visão de Huang (2017), os tópicos considerados atuais 
de investigação em Pragmática podem ser divididos em três 
grupos centrais: (a) trabalhos orientados cognitivamente; (b) 
estudos orientados social e/ou culturalmente; e (c) pesquisas 
que, ao se diferirem desses dois grupos ditos principais, traba-
lham com temas ligados à Pragmática Histórica, por exemplo. 
De forma geral, todavia, pode-se afirmar que a Pragmática 
estuda os significados dos enunciados em relação a seus 
contextos específicos de uso, por essa razão, os fenômenos 
estudados podem ser observados de diferentes formas. Por 
exemplo, na Análise da Conversa (AC), cujas análises são 
geralmente concebidas como um processo empírico e de 
natureza indutiva, usam-se gravações de áudio e/ou vídeo 
advindas de conversas espontâneas ou de “conversas em 
interação” (face a face), que podem ser mais ou menos monito-
radas. Naturalmente, cada corrente pragmática desenvolve seu 
ANA LARISSA ADORNO MARCIOTTO OLIVEIRA
27
aparato teórico-metodológico e analítico próprio, e, portanto, 
há muitas variações nesse campo.
4) Quais são as preocupações específicas da Pragmática 
que a diferenciam de outras teorias do texto?
Historicamente, a Pragmática centra-se no uso da língua, 
ou seja, em questões de adequação às expectativas do interlo-
cutor, em elementos ligados à dêixis, à referenciação, além do 
estudo das pressuposições e das implicaturas (convencionais e 
conversacionais). Nessa perspectiva, de acordo com Anscombre 
e Ducrot (1983), pode-se usar o termo Pragmatique Intégrée 
(Pragmática Integrada) a fim de indicar a centralidade de 
uma abordagem holística, direcionada à análise dos aspectos 
textuais, discursivos e conversacionais não associados às 
condições de verdade dos enunciados.
Dito isso, os temas que interessam à Pragmática podem 
estar (mas não necessariamente estão) ligados a uma “teoria 
do texto” em específico. O elemento catalizador, nesse caso, 
seria a noção de que os textos são um produto do discurso 
(da língua em uso), que oferece dados para um tipo de análise 
de interesse da Pragmática em interface com outras correntes 
teóricas dentro e fora da Linguística Textual. 
ANA LARISSA ADORNO MARCIOTTO OLIVEIRA
28
5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-
ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber 
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia 
ressaltar delimitações bem como interfaces de sua abor-
dagem teórico-analítica?
Especificamente no campo das imagens identitárias, do 
trabalho de face (facework) e da (im)polidez linguística, há 
grande interface com a Sociologia, a Filosofia, a Retórica 
e o Direito, entre outras áreas de conhecimento humano. 
Além disso, na Linguística atual, de forma ampla, uma visão 
holística da linguagem necessariamente implica que o conhe-
cimento pragmático seja interfacial ao estudo da Sintaxe, da 
Semântica, da Prosódia, da Linguística Histórica, no que for 
cabível, naturalmente. Outro exemplo das várias interfaces 
da (im)polidez linguística seriam as aproximações feitas com 
as abordagens discursivas e culturais, por exemplo, em Mills 
(2003), Locher (2004, 2006), Locher e Watts (2005), entre 
outrosautores, que representam um campo de estudo fasci-
nante e em diálogo permanente com as pesquisas sociológicas 
e com a noção de norma, ou conduta verbal.
Quanto às delimitações, essas decorrem da necessidade 
de conhecer a teoria em foco de forma suficiente e crescente, 
o que não exclui, de modo algum, o diálogo com diferen-
tes referenciais teóricos, desde que correspondentes e bem 
ANA LARISSA ADORNO MARCIOTTO OLIVEIRA
29
sedimentados. Sobre esse aspecto, creio que a leitura do 
Handbook of Pragmatics (HUANG, 2017) seja de especial 
interesse do leitor, por demonstrar a complexidade produtiva 
da área.
6) Até que ponto os temas clássicos da Pragmática se redi-
mensionam contemporaneamente? Se possível, ilustre sua 
resposta fazendo menção a algum(ns) tema(s).
A questão das implicaturas conversacionais, por exemplo, é 
muito citada e revisitada, bem como influenciou na formação 
de alguns dos modelos considerados “neogriceanos”, por 
exemplo, ligados à Teoria da Relevância. Ao mesmo tempo, 
a Teoria da Relevância também vem sendo revisitada por 
Francisco Yus e seus associados, que analisam o texto digital, 
cujo contexto imediato (textual e cognitivo) é essencialmente 
entendido por eles como híbrido e multidimensional. Além 
disso, outro exemplo desse redimensionamento, partindo 
de um ângulo discursivo-interacionista e também calcado 
em teorias da argumentação, são os prolíferos trabalhos de 
Gustavo Ximenes Cunha, Paulo Roberto Gonçalves-Segundo, 
Ana Lúcia Tinoco Cabral (no Brasil) e Isabel Seara (em 
Portugal), entre outros autores de relevo. 
ANA LARISSA ADORNO MARCIOTTO OLIVEIRA
30
7) A quais avanços da Pragmática na contemporaneidade 
daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Particularmente no campo da (im)polidez, há atualmente 
uma gama variada de abordagens, por exemplo, os mode-
los ligados à norma social, às máximas conversacionais, ao 
trabalho de face, às práticas sociais e políticas, além das 
abordagens discursivas e crítico-discursivas. Nesses estudos, 
o trabalho de Brown e Levinson (1987), considerado um 
modelo clássico para a polidez, continua sendo bastante 
influente. Uma das principais críticas a esse modelo clássico 
é o fato de ser conceitualmente enviesado para a polidez, 
concebendo a polidez e a impolidez como opostos, além de 
basear-se prioritariamente na produção do “falante ideal”, 
como ressalta Eelen (2001). Consequentemente, nos últimos 
anos, houve uma emergência de estudos sobre (im)polidez 
que procuram reteorizar esse fenômeno de forma específica. 
Nesses estudos, a obra de Jonathan Culpeper sobre impolidez 
linguística (CULPEPER, 2011a) é uma referência fundamental. 
Além disso, a pungência da área, com evidentes implica-
ções para trabalhos futuros, também pode ser observada nos 
estudos da Pragmática Sociocognitiva e na Neuropragmática, 
um ramo da Pragmática recentemente explorado que investiga 
as bases neuroanatômicas da linguagem em uso, como afirma 
Huang (2017). Nesse âmbito, não se pode deixar também de 
ANA LARISSA ADORNO MARCIOTTO OLIVEIRA
31
mencionar a Ciberpragmática, como referida anteriormente, 
que analisa as interações mediadas pela Internet, principal-
mente por meio de um ângulo cognitivo (YUS, 2011, 2019; 
entre outras obras).
8) De que maneira a Pragmática pode trazer contribuições 
decoloniais, pós-modernas e críticas para os estudos da 
linguagem?
Entendo que a chamada “Pragmática Social”, que trata de 
temas associados à educação e à luta social possa ser conce-
bida como uma “Pragmática Crítica”. Esses estudos tendem 
a utilizar o aparato teórico da Análise Crítica do Discurso 
para investigar a relação entre linguagem e poder, bem como 
entre linguagem e ideologia, entre outros temas (KORTA; 
PERRY, 2011). Além disso, eu destacaria ainda os estudos 
da Pragmática Intercultural e da Pragmática Pós-colonial, 
muitas vezes associados às implicações e às consequências 
da imposição da língua dos colonizadores a sociedades pós-
-coloniais diversas (ANCHIMBE, 2018, entre outros autores).
Outro desafio, pelo que entendo, seria considerar a aná-
lise do texto digital como um avanço necessário, princi-
palmente no que se refere ao papel da linguagem agressiva, 
tendo em vista, principalmente, os impactos sociopolíticos 
ANA LARISSA ADORNO MARCIOTTO OLIVEIRA
32
e civilizatórios que estudos nesse campo podem alcançar. 
Há, ainda, outros avanços importantes e necessários, a fim 
de melhor associar, por exemplo, as pressões cognitivas e 
sociais com a materialidade linguística, o que inclui a pesquisa 
em vários âmbitos, como a educação linguística. Em outras 
palavras, trata-se de campo científico variado e frutífero 
que, suponho, venha a atrair o leitor disposto a nele navegar.
9) Como a Pragmática se distingue e ao mesmo tempo se 
beneficia/aproxima dos estudos da interação?
Os estudos mais tradicionais da pragmática baseavam-se 
na interação face a face de forma, muitas vezes, pressuposta ou 
ensaiada, ou seja, praticamente não eram utilizados corpora 
de língua em uso nessas análises. Mais recentemente, as 
teorias discursivas, incluindo os modelos de base intera-
cionista, têm produzido grandes impactos nos referenciais 
teórico-analíticos utilizados no âmbito da Pragmática, o que 
pode ser observado, no Brasil, no estudo Gustavo Ximenes 
Cunha, por exemplo, que combina modelos funcionalistas 
e interacionistas com estudos da polidez (CUNHA, 2017), e 
nos trabalhos de Isabel Roboredo Seara e Ana Lúcia Tinoco 
Cabral Tinoco, que apresentam interface com as teorias da 
argumentação, vinculando-as aos conceitos de cortesia e de 
descortesia linguística (SEARA; CABRAL, 2020).
ANA LARISSA ADORNO MARCIOTTO OLIVEIRA
33
Além disso, o próprio conceito de contexto, tão caro à 
Pragmática e aos estudos interacionistas, é também um cons-
truto fundamental para a Etnometodologia e para Linguística 
Interacional como um todo, conforme discutem Heritage 
(1984), Goodwin e Duranti (1992), Schegloff (1992), entre 
outros autores. Nesses trabalhos, a perspectiva de realização 
interacional in situ abarca uma série de possíveis interpretações 
da noção de contexto, que estão ancoradas nos participantes 
e nos papéis interacionais desempenhados por eles em inte-
rações de variados tipos.
10) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar 
contribuições para o ensino?
Entendo que a análise do texto digital, do ponto de vista 
das imagens sociais e da (im)polidez linguística, tenha rele-
vância para o ensino, principalmente porque nosso aluno vive 
e vai continuar a viver em um mundo mediado por objetos 
digitais. Escrevi, com Marisa Carneiro, um texto sobre a 
oralidade em livros didáticos de língua estrangeira, visando 
a uma perspectiva da Pragmática, denominado Produção oral 
nos livros de língua inglesa do PNLD: uma visão da pragmática 
linguística oral (OLIVEIRA; CARNEIRO, 2020b). 
ANA LARISSA ADORNO MARCIOTTO OLIVEIRA
34
De forma semelhante, com Gustavo Ximenes Cunha e 
Bruna Siqueira, escrevi um texto intitulado An analysis of news 
headlines under the light of Relevance Theory, newsworthiness 
and sensationalism, que analisa manchetes de jornal à luz da 
Teoria da Relevância (OLIVEIRA et al., 2021). Esse estudo me 
parece importante do ponto de vista de uma educação para as 
mídias, bastante urgente na contemporaneidade, eu suponho. 
11) Que leituras você indicaria para quem está iniciando 
seus estudos na Pragmática?
Para uma visão geral da área, eu sugeriria obras intro-
dutórias como Birner (2021) e as que constam do Handbook 
of Pragmatics (HUANG, 2017). Especificamente para traba-
lho de face, indicaria a leitura de The Presentation of Self in 
Everyday Life (GOFFMAN, 1959 [1956]), e os trabalhos de 
Brown e Levinson (1987) e de Leech (1983), que inauguram 
a Teoria da Polidez. Especificamente na área de impolidez, 
referências importantes são Culpeper (1996, 2011a, 2011b, 
2016), Culpeper et al. (2003), Bousfield (2008) e Terkourafi 
(2005). Do ponto de vista do ensinode línguas estrangeiras, 
a leitura de The Routledge Handbook of Second Language 
Acquisition and Pragmatics (TAGUCHI, 2019), entre outras, 
é bastante interessante para uma visão panorâmica do tema.
35
CIBELE BRANDÃO
Universidade de Brasília (UnB)
“A Pragmática investiga 
os sentidos invisíveis”
Com a palavra, a entrevistada...
1) Como você chegou à Pragmática? Quais autores lhe 
serviram de inspiração?
Como pesquisadora em estudos interacionais, minha 
principal área de atuação, tive de recorrer à Pragmática, um 
dos pilares da Sociolinguística Interacional, para entender os 
processos interacionais em seus respectivos contextos de uso. 
Tive a sorte de ser aluna na pós-graduação dos professores 
Jacob Mey e Kanavillil Rajagopalan, grandes referências 
CIBELE BRANDÃO
36
na área e principais responsáveis pela minha formação em 
Pragmática. Da formação livresca, destaco Catherine Kerbrat-
Orecchioni, Jenny Thomas, Geoffrey Leech, Diana Bravo e os 
pioneiros oriundos da Filosofia da Linguagem e da Sociologia: 
Austin, Searle, Grice, Levinson, Goffman, entre outros que, 
por economia textual, não é possível listar. No Brasil, além do 
professor Rajagopalan, há muitos pesquisadores trabalhando 
com Pragmática, embora não se identifiquem como prag-
maticistas, tais como sociolinguistas, analistas de discurso, 
estudiosos de línguas indígenas, linguistas de texto. Enfim, 
todos que têm interesse em investigar a linguagem em uso 
com dados reais e, portanto, não imaginários ou idealizados. 
Com pesquisadores de áreas afins, também tenho aprendido 
muito. 
2) Quais são suas produções em revistas e/ou em livros 
impressos ou eletrônicos mais relevantes na Pragmática?
Tenho certa dificuldade em responder a essa pergunta. 
Como sociolinguista, minhas publicações se enquadram, 
em geral, nessa área, mas com fortes incursões pragmáticas 
de grande valia para meus estudos. Tenho alguns artigos 
publicados em revistas e livros, especialmente sobre polidez, 
tema a que me dediquei nos últimos anos de trabalho na 
Universidade de Brasília. Registro aqui algumas publicações 
CIBELE BRANDÃO
37
sobre polidez com análises de ordem pragmática que considero 
representativas sobre o tema de pesquisa a que eu vinha me 
dedicando até então, assim como publicações correlatas: 
Brandão (2005), Brandão e Brandão (2013), Brandão e Sathler 
(2014), Brandão (2016) e Albuquerque e Brandão (2017). 
3) Considerando que a Pragmática é uma Ciência, quais 
são seus procedimentos metodológicos e suas principais 
categorias analíticas?
A tradição da metodologia etnográfica, com adaptações, 
serve de norte para a realização de microanálises interacionais 
em interações face a face, combinadas com abordagens meto-
dológicas adicionais, como a da Análise da Conversação e a 
da Análise de Discurso. O tratamento da Análise de Discurso 
como metodologia segue a orientação de Schiffrin (1996) e 
de Johnstone (2000). Em se tratando de dados preexistentes à 
pesquisa, como o registro de gravações de filmagens e textos 
impressos, utilizamos a análise documental. Relativamente a 
critérios de análise, adotamos tanto os de ordem linguística 
(lexical, fonético-fonológico, sintático) quanto os de ordem 
não linguística, como a cinésica (movimentos corporais) e a 
proxêmica (utilização e percepção do espaço social e pessoal). 
São considerados ainda critérios de análise em interações 
CIBELE BRANDÃO
38
face a face o controle nas tomadas de turno, a velocidade da 
fala e a entonação.
4) Quais são as preocupações específicas da Pragmática 
que a diferenciam de outras teorias do texto?
O que a Pragmática pode então nos oferecer que não é 
contemplado pela Linguística tradicional? A Pragmática nos 
possibilita meios de compreender, em sentido mais amplo, 
como a mente humana funciona, como as pessoas intera-
gem e se comunicam, como os falantes sinalizam suas reais 
intenções, e, de modo mais genérico, como os seres humanos 
utilizam a linguagem. 
O tipo de estudo realizado pela Pragmática envolve a 
interpretação do que significam os enunciados produzidos 
pelas pessoas em um contexto particular e de como o contexto 
influencia o que é dito. Isso requer a consideração de como os 
falantes organizam o que eles querem dizer de acordo com o 
assunto, o local, o tempo e as circunstâncias em que ocorre 
a interação. Assim, podemos entender a Pragmática como o 
estudo do significado contextual. 
Essa abordagem também explora como os interlocutores 
podem fazer inferências sobre o que é dito, a fim de alcança-
rem uma interpretação adequada do sentido pretendido pelo 
CIBELE BRANDÃO
39
locutor. Explora como uma grande quantidade de informação 
ausente da estrutura linguística é reconhecida como parte do 
que é comunicado, embora não seja dita efetivamente por 
meio de palavras. Poderíamos assim dizer que a Pragmática 
investiga os sentidos invisíveis, ou seja, estuda como a comu-
nicação transcende o dito. A vantagem de estudar a linguagem 
pela Pragmática é que, por meio dela, podemos investigar 
os sentidos pretendidos pelos falantes, as pressuposições, os 
propósitos comunicativos e os tipos de ações que são desem-
penhados enquanto falamos (por exemplo, em pedidos, em 
desculpas, em agradecimentos etc.). Nessa perspectiva, o uso 
da linguagem é visto como uma forma de ação, pois quando 
usamos a língua para interagir com os outros, estamos sempre 
fazendo coisas, de acordo com a visão austiniana. Desse 
modo, a Pragmática contribui para as pesquisas na área de 
texto ao propiciar uma base analítica e interpretativa para a 
construção de sentidos nos textos. 
CIBELE BRANDÃO
40
5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-
ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber 
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia 
ressaltar delimitações bem como interfaces de sua abor-
dagem teórico-analítica?
A Pragmática é, pela sua própria natureza, área interdis-
ciplinar, relacionando-se com a Filosofia e com a Linguística, 
mas com incursões nas Ciências Cognitivas, na Psicologia, 
na Sociologia, na Antropologia, nos Estudos Culturais e até 
no estudo de outras semioses que não as linguísticas, como 
aquelas que envolvem a comunicação não verbal, tais como 
expressão facial, prosódia, códigos gestuais, entre outros. A 
importância da Pragmática para os estudos interacionais 
reside no fato de possibilitar a compreensão da significân-
cia social dos padrões de uso linguístico, que transcendem 
os significados referenciais, possibilitando-se explicação 
plausível sobre os sentidos que se constituem nos processos 
interacionais. 
CIBELE BRANDÃO
41
6) Até que ponto os temas clássicos da Pragmática se redi-
mensionam contemporaneamente? Se possível, ilustre sua 
resposta fazendo menção a algum(ns) tema(s).
O estudo de inferências, de pressupostos, de dêixis, de 
implicaturas etc. se atualiza conforme as necessidades de uso e 
os contextos em que se realizam. Assim, a Pragmática é sempre 
um campo aberto a novas investigações, com perspectivas de 
análises em que os contextos se renovam. A nova realidade 
de interações em diferentes redes sociais – home office nas 
interações de trabalho, lives, aulas virtuais que se impuseram 
durante a pandemia da covid-19, por exemplo – são contextos 
que podem dar margem à descoberta de diferentes estratégias 
de uso da linguagem. Para ilustrar a aplicação dos temas 
clássicos da Pragmática, como inferências e atos indiretos de 
fala, há alguns anos, orientei tese de doutorado no Programa 
de Pós-graduação em Linguística da Universidade de Brasília 
que investigou estratégias de (im)polidez no Supremo Tribunal 
Federal, algo improvável de uma análise pragmática antes das 
transmissões ao vivo pela TV Justiça pelo acesso anteriormente 
limitado às sessões desse Tribunal.
CIBELE BRANDÃO
42
7) A quais avanços da Pragmática na contemporaneidade 
daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Os estudos sobre polidez têm sido um campo fértil para 
a aplicaçãoda Pragmática. Vivemos um período de muita 
intolerância com a diversidade, com o contraditório, época 
de exacerbadas polarizações. Cada vez mais as pessoas pro-
curam se fechar em redes e em grupos que defendem posições 
semelhantes, tornando-se agressivas com os que pensam de 
modo diferente do seu. Penso que a Pragmática pode lançar 
luzes nas pesquisas sobre polidez, chamando a atenção para 
questões sociais que se constituem nos relacionamentos entre 
as pessoas. Como diz o professor Rajagopalan, a Pragmática 
é considerada um “saco de gatos”, pelo ecletismo de sua abor-
dagem teórico-analítica. Seu grande desafio ainda será a sua 
consolidação como área de pesquisa reconhecida e presente 
nos cursos de Linguística e de Letras. 
8) De que maneira a Pragmática pode trazer contribuições 
decoloniais, pós-modernas e críticas para os estudos da 
linguagem?
A Pragmática pode revelar em suas análises o que se passa 
verdadeiramente nas trocas interacionais, os sentidos que vão 
se constituindo no discurso. Embora não seja comprometida 
CIBELE BRANDÃO
43
com denúncias sociais, como a Análise de Discurso Crítica, as 
análises pragmáticas podem indiretamente desvelar relações 
de poder que se constituem nas interações interpessoais, na 
medida em que analisa e interpreta pressupostos, implícitos, 
ações não verbais, atos indiretos, inferências, que podem 
veicular ações opressivas, discriminatórias, hierárquicas de 
controle e de autoridade sobre o outro. 
9) Como a Pragmática se distingue e, ao mesmo tempo, se 
beneficia/aproxima dos estudos da interação?
A Pragmática contribui para ampliar nossa compreensão 
do funcionamento da linguagem nos processos interacionais. 
Com suas lentes, ampliamos o raio de visão sobre o que se 
passa em diferentes contextos de uso linguístico, pois suas 
análises permitem ir além dos limites linguísticos, do que 
é efetivamente dito na interação com os outros. Os estudos 
interacionais buscam mostrar como as pessoas agem em dife-
rentes contextos, e a Pragmática auxilia essa análise revelando 
os sentidos veiculados nas interações.
10) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar 
contribuições para o ensino?
A sala de aula sempre foi um contexto de interesse em 
minhas pesquisas, talvez por ter dedicado toda a minha 
CIBELE BRANDÃO
44
vida profissional ao magistério. A investigação de estratégias 
interacionais do professor relativamente à variação estilística 
foi objeto de estudo da minha tese de doutorado. Desde então, 
orientei várias pesquisas contextualizadas em sala de aula, 
muitas voltadas para o ensino de português para estrangeiros. 
Publiquei também artigos sobre estudos interacionais em 
contexto educacional. As pesquisas aplicadas ao ensino serão 
sempre bem-vindas se contribuírem para a sua melhoria. 
Acredito que essas pesquisas possam contribuir para a reflexão 
e o aprimoramento da práxis pedagógica do professor, tendo 
em vista a maneira como interage com seus alunos. 
11) Que leituras você indicaria para quem está iniciando 
seus estudos na Pragmática?
Quando ministrava o curso de Pragmática na graduação, 
especialmente na Educação a distância, costumava produzir 
textos didáticos bem objetivos e introdutórios para situar 
os alunos na área. Infelizmente, nunca reuni esses textos 
para publicá-los. Sugiro começar pelos títulos tipo “o que é 
Pragmática”. Depois, ir direto à fonte dos pioneiros, em que 
é possível encontrar os conceitos e os princípios-chave da 
Pragmática, como Leech (1983), Thomas (1995), Mey (2001), 
Bravo e Briz (2004), Levinson (2007); assim como autores que 
CIBELE BRANDÃO
45
dão base à área, como Austin (1955), Searle (1969), Grice (1975) 
e Goffman (1967). Grande parte da literatura encontra-se já 
traduzida. 
46
DALE A. KOIKE1
University of Texas at Austin (UT Austin)
“A Pragmática capta a pro-
gressão da coconstrução 
de sentidos na fala” 
Com a palavra, a entrevistada...
Em primeiro lugar, agradeço muito aos editores deste 
volume pelo convite a me incorporar nesta discussão sobre 
a Pragmática, assunto que tem sido a paixão da minha vida. 
Devo dizer que todos os meus comentários representam, na 
maior parte, o ponto de vista de alguém dos Estados Unidos 
1 Agradeço muito aos colegas Beth Jackson e Ricardo Gualda, pela 
ajuda com a linguagem.
DALE A. KOIKE
47
que tem lido e trabalhado, em geral, com a bibliografia sobre 
Pragmática com orientação nos mundos anglo-americano e 
hispano (em conexão com o meu trabalho, como professora 
de linguística hispana), o que cria imediatamente certo pre-
conceito. Claro que tenho feito um esforço grande para me 
informar sobre estudos de Pragmática em português e em 
francês, mas o meu conhecimento, com certeza, falta nesses 
domínios. 
Huang (2006, p. 4) comentou a divisão no campo a 
partir de duas perspectivas: a “Continental”, que vem da 
Europa, e a “Anglo-Americana”. Na primeira, considera-se 
que a Pragmática deveria apresentar uma perspectiva fun-
cional em cada aspecto do comportamento linguístico, bem 
como considerar o trabalho de outros campos, tais como a 
Sociolinguística, a Psicolinguística e a Análise do Discurso. Na 
segunda, a perspectiva da escola anglo-americana vê o lugar 
da Pragmática como parte do campo da linguística, igual à 
fonologia, à sintaxe etc. Desde que Huang (2006) escreveu isso, 
a divisão entre as duas perspectivas diminuiu bastante, com 
interfaces nos dois lados. Mesmo assim, a divisão continua 
até certo ponto, criando-se diferenças de perspectivas. Essa 
divisão não é necessariamente um aspecto negativo, se os 
dois lados ganharem algo de positivo um do outro.
DALE A. KOIKE
48
1) Como você chegou à Pragmática? Quais autores lhe 
serviram de inspiração?
Para a minha tese de doutorado, estudei a variação no 
uso do infinitivo flexionado no português do Rio de Janeiro, 
no Brasil (para a minha grande sorte, tive a oportunidade de 
trabalhar com o Dr. Anthony Naro, da UFRJ, e a turma dele, 
quando estive lá). Esse estudo me levou a questionar a variação 
dos significados de acordo com as formas diferentes que a 
mesma pessoa usava. Dessa maneira, descobri que havia um 
campo inteiro da linguística que, até então, desconhecia: a 
Pragmática. Esse campo, nos anos 1970, estava se expandindo 
rapidamente na Europa, com base, por exemplo, em Ludvig 
Wittgenstein (1958), mas relativamente menos investigadores 
norte-americanos dedicavam muita atenção a ele – exceções 
incluíam, por exemplo, John Searle (1969)2, que se aproximava 
muito do filósofo inglês John Austin (1955), e do americano 
Erving Goffman (1967). Depois, mais linguistas nos Estados 
Unidos expandiram o alcance da pesquisa fora do marco 
dominante de Noam Chomsky, a fim de olhar, além da estru-
tura sintática, para um domínio mais amplo de estrutura e 
de léxico em contexto. Quanto mais estudasse essa área, mais 
me fascinavam o objeto de estudo e as maneiras de estudá-lo. 
2 Por falta de espaço, trago apenas um exemplo das publicações dos 
autores.
DALE A. KOIKE
49
Inspiravam-me (e aqui não menciono só americanos): H. 
Paul Grice (1975), Erving Goffman (1974), Elizabeth Bates 
(1976), Deborah Tannen (1989), Jacob Mey (1985), Henk 
Haverkate (1984), Shoshana Blum-Kulka, Juliane House e 
Gabriele Kasper (1989), Stephen Levinson (1983). Há tantos! 
2) Quais são suas produções em revistas e/ou em livros 
impressos ou eletrônicos mais relevantes na Pragmática?
Quase todo o meu trabalho até hoje é relacionado à 
Pragmática, seja em espanhol, seja em português, língua 
nativa ou segunda (ou terceira; L1, L2), do falante nativo 
ou do aprendiz. Contudo, os trabalhos que considero mais 
importantes para a Pragmática de L1 e L2 são os que menciono 
a seguir, listados do mais recente ao menos recente, em que 
assinalo com asterisco aqueles mais relacionados/úteis ao 
estudo da aquisição ou do ensino: 
• Livros-texto e coleções: Koike e Félix-Brasdefer (2020); 
e Koike e Blyth (2015). 
• Artigos em revistas e capítulos de livros:Koike (2021)*; 
Koike, León e Pérez-Cejudo (2021, aop); Koike (2017); 
Koike e Witte (2017); Gironzetti e Koike (2016)*; Koike 
e Blyth (2016)*; Koike e Lacorte (2014)*; Blyth e Koike 
(2014); Koike (2008)*; Koike e Pearson (2005)*; Koike, 
DALE A. KOIKE
50
Vann e Busquets (2001); Koike (1998)*; Koike (1995)*; 
Koike (1989a)*; e Koike (1989b)*.
• Livros-texto: Koike e Klee 2013*.
3) Considerando que a Pragmática é uma Ciência, quais 
são seus procedimentos metodológicos e suas principais 
categorias analíticas?
Recentemente, escrevi um capítulo que traça os métodos 
que considero mais frequentes e, ao mesmo tempo, mais úteis 
para se estudar Pragmática (KOIKE, 2021). Os métodos e as 
categorias, com certeza, têm de corresponder aos objetivos 
do estudo, e esperemos que o campo continue a se desen-
volver, com novas questões, com novos temas e com novos 
contextos. Por muitos anos, os pesquisadores ficaram com 
temas “seguros” e mais estruturalistas, como atos da fala, 
porque são fáceis de identificar e de categorizar. Contudo, 
percebendo que se devia estudar como os dois interlocutores 
criam em conjunto cada ato de fala, e que o ouvinte tem de 
entender e ratificar a intenção do ato de fala para que o ato 
seja realizado com sucesso, reconheceu-se a necessidade de 
se estudar a Pragmática no contexto do diálogo e de se adotar 
uma perspectiva dinâmica para a análise. Dessa forma, o 
DALE A. KOIKE
51
contexto do diálogo se tornou o foco de estudo para muitos, 
e para mim também. 
Esse tipo de contexto para o estudo da Pragmática, por-
tanto, criou demanda para novos métodos, novas categorias 
e novos procedimentos para a coleta de dados. Também se 
criaram novas questões, por exemplo, qual seria a melhor 
maneira de estudar intercâmbios na interação?; de que modo 
o pesquisador deveria estruturar o diálogo para que se gerem 
dados confiáveis e válidos?; quais deveriam ser as categorias 
de análise para a Pragmática no diálogo? etc. Embora se criem 
mais problemas, vejo esse desafio como um aspecto positivo, 
ampliando o nosso conhecimento da Pragmática. 
Grande parte do meu trabalho é relacionado à Pragmática 
no diálogo, e confesso que é um contexto difícil de se estudar. 
Muitos dos modelos anteriores do diálogo – por exemplo, em 
Jean-Claude Anscombre e Oswald Ducrot (1983) – estavam 
mais interessados na estrutura e no significado, com pouca 
atenção prestada aos participantes como atores, simplesmente 
porque não era o foco do trabalho deles. Entretanto, é difícil 
identificar as categorias de análise para o diálogo em uma 
perspectiva sociolinguística e sociocultural. Quais seriam 
as categorias para a questão de como os participantes na 
conversa criam o significado? Mesmo considerando o marco 
da Análise de Conversação (SACKS et al., 1974), em que as 
DALE A. KOIKE
52
categorias incluem a alternância de turnos, os pares adja-
centes, as sequências e a organização de preferência com o 
objetivo de descrever a interação, deveria ser perguntado onde 
a Pragmática se encaixa e por que a Pragmática está relacio-
nada ao significado no contexto. Então, torna-se importante 
olhar como a estrutura reflete o significado pragmático que 
os falantes estão tentando transmitir, o que quer dizer que é 
importante pensar nas opções e nas estratégias de comunica-
ção que os participantes na fala escolhem para comunicar a 
mensagem, bem como nas maneiras pelas quais os ouvintes 
escolhem entendê-la. 
Recentemente, Cecilia Tocaimaza e eu, em estudo a ser 
publicado, usamos as categorias de recursos interacionais do 
modelo de Young (2019) para examinar o diálogo, especial-
mente no contexto de aprendizes de espanhol como L2 em 
interação com falantes nativos. O que eu gosto desse modelo 
é que ele guia o pesquisador em três dimensões diferentes 
– mas entrelaçadas – da interação, no que diz respeito aos 
recursos que os participantes usam: identitários, linguísticos 
e interacionais. Os três recursos podem ser descritos como 
tal: “identitários” (como as identidades são coconstruídas 
– dinâmica e socialmente – pelos dois participantes); “lin-
guísticos” (como os participantes coconstroem significados 
experienciais, interpessoais e textuais, incluindo-se pronúncia, 
DALE A. KOIKE
53
vocabulário e gramática) e “interacionais” (como as estratégias 
são usadas na interação, por exemplo, atos da fala, alternância 
de turnos). Esses recursos, portanto, permitem a exploração 
de como o significado é criado por meio das identidades dos 
participantes enquanto falam, como se constroem significados 
linguisticamente e como a fala se coconstrói enquanto pro-
gride através do tempo. Esse tipo de estudo também implica 
que o foco esteja no significado pragmático coconstruído 
no diálogo, com todas essas categorias de recursos em jogo. 
O nosso estudo examina as interações de uma aprendiz de 
herança hispana em espanhol nos diálogos com vários falantes 
nativos na Espanha durante uma experiência de serviço em 
um programa de estudos no exterior. Revela-se um perfil dessa 
participante e aspectos de sua personalidade enquanto ela fala 
com essas pessoas em particular; e as palavras que utiliza, 
conscientemente ou não, indicam suas origens como falante 
de herança hispana e sinalizam as estratégias empregadas 
para construir as mensagens com os outros. 
 
4) Quais são as preocupações específicas da Pragmática 
que a diferenciam de outras teorias do texto?
Eu não sei muito bem o que quer dizer “outras teorias 
do texto”, porque não acredito que a maior parte dos estu-
dos sobre Pragmática aborde o texto em si. Quero dizer, há 
DALE A. KOIKE
54
estudos sobre Pragmática no texto (por exemplo, Teun van 
Dijk (1976), para a Pragmática na linguagem e na literatura), 
e outros que examinam a Pragmática, por exemplo, em tex-
tos de e-mail, como Félix-Brasdefer (2012), mas acho que a 
maior parte do trabalho sobre Pragmática estuda a interação 
oral, simplesmente: (1) por causa das dificuldades que se 
encontram devido à natureza mais estática do texto escrito; 
e (2) por ser impossível ver as reações do leitor, a não ser que 
haja algum tipo de diálogo gravado com o escritor, como 
em uma janela de conversa ou em diálogos escritos. Mesmo 
assim, o texto original normalmente fica sem modificação. 
Sem saber a reação do leitor ou do ouvinte, não é possível ver 
como se entendeu a mensagem, e o autor do texto não pode 
responder em tempo real ao leitor/ouvinte; então não há uma 
coconstrução de significado para se observar. 
Ao mesmo tempo que digo isso, a linha entre a Pragmática 
e a Análise do Discurso não está bem definida, sendo mais 
produtivo se referir a uma interface entre os dois campos. 
Em vez de dizer “Este trabalho não tem nada a ver com 
Pragmática”, ou “este trabalho não se encaixa em uma coleção 
sobre Discurso”, seria melhor falar sobre um contínuo de 
trabalho em que se podem agrupar certos trabalhos sobre 
Pragmática, que se orientam a um aspecto da Pragmática em 
particular, ou outros que são mais orientados ao Discurso, 
DALE A. KOIKE
55
mas também estão relacionados a categorias do discurso 
ou outros agrupamentos. A maior parte dos volumes que 
incluem trabalhos sobre várias modalidades (oral, escrita etc.) 
concentra-se mais em uma divisão temática do que em uma 
divisão de modalidade. Por exemplo, a coleção editada por 
Lori Czerwionka, Rachel Showstack e Judith Liskin-Gasparro 
(2022) ilustra o tema do discurso coconstruído em vários 
contextos, concentrando-se na Pragmática e se refletindo, 
sobretudo, sobre o discurso oral. 
5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-
ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber 
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia 
ressaltar delimitações bem como interfaces de sua abor-
dagem teórico-analítica?
Adoro falar sobre as interfaces no campo da Pragmática, 
porque esse campo abre muitas possibilidades. Já falei sobre 
como o campo é amplo e flexível, com muitas possibilidades 
para se trocareminformação e perspectivas com outros cam-
pos, como a Sociolinguística, a Comunicação, a Sociologia, a 
Filosofia, a Psicologia, os Estudos do Diálogo, a Linguística 
Aplicada, o Direito etc. Além desses, têm surgido muitos 
estudos que exploram a Pragmática em uma variedade de 
contextos, de modo que posso citar, em espanhol, estudos 
DALE A. KOIKE
56
da Pragmática no exterior (PÉREZ-VIDAL; SHIVELY, 
2019; LLANES, 2020); sobre o discurso médico (HARDIN, 
2020), aquisição de L2 (PEARSON; HASLER-BARKER, 
2020), rastreamento ocular (GIRONZETTI, 2020), fonética 
(ESCANDELL-VIDAL; PRIETO, 2020) e sobre discurso 
digital (BOU-FRANCH, 2020), para citar só alguns. Todos 
eles, e outros, proporcionam um contexto rico para a expressão 
pragmática.
No entanto, às vezes, é difícil estabelecer o limite entre 
o que é a Pragmática e o que não é. Por exemplo, se alguém 
estudar a estrutura de um conjunto de diálogos e encontrar 
evidência de poder e dominância na conversa por uma única 
pessoa, teríamos um estudo da Pragmática, da Comunicação, 
da Sociolinguística, do Discurso, ou o quê? A resposta mais 
fácil é que pode ser tudo o que precede, mas a direção em 
que o pesquisador levar o estudo vai determinar que área(s) 
vai(ão) abordar de forma mais completa. Essa flexibilidade, 
eu acho, faz parte da atração da Pragmática. Então, acredito 
que o campo tem muito mais possibilidades do que limitações 
(isso dito do ponto de vista de uma pragmaticista). 
Uma crítica apontada à Pragmática é que o campo está 
baseado demais na conjectura. Como o pesquisador pode 
saber como um enunciado pretendia ser entendido pelo 
falante? Como podemos saber como foi, de fato, entendido 
DALE A. KOIKE
57
pelo ouvinte? Claro, as respostas do ouvinte podem confirmar 
o que o pesquisador teria hipotetizado a respeito de como 
um enunciado foi entendido (a não ser que a resposta fosse 
feita sem a intenção de revelar como o enunciado foi, de 
fato, entendido). Um desafio para o futuro será encontrar 
maneiras de obter mais evidência sobre como o enunciado 
foi realmente compreendido pelo ouvinte.
6) Até que ponto os temas clássicos da Pragmática se redi-
mensionam contemporaneamente? Se possível, ilustre sua 
resposta fazendo menção a algum(ns) tema(s).
Os temas clássicos da Pragmática (por exemplo, os atos da 
fala, as implicaturas, a dêixis) estão reaparecendo em estudos 
mais recentes, gerando novas perspectivas e aplicações em con-
textos novos, ou às vezes expandindo o tema em particular, ao 
mesmo tempo que os pesquisadores veem novos aspectos nos 
dados, o que é fantástico para o campo. Já mencionei alguns 
desses contextos na pergunta 5. Para dar outros exemplos, 
considerando-se a Pragmática no discurso médico, Hardin 
(2013) examina a comunicação implícita em reclamações e a 
sabedoria popular de pacientes no Equador durante consultas 
médicas, baseando a análise na compreensão por meio das 
Máximas de Grice. A autora (2013) mostra as variáveis contex-
tuais que, às vezes, se sobrepõem e complicam as inferências 
DALE A. KOIKE
58
(por exemplo, os pacientes falando espanhol nativo versus 
não nativo), suposições culturais feitas tanto pelo paciente 
quanto pelo médico, e o modo como os médicos podem 
utilizar processos inferenciais para entender a comunicação 
dos pacientes. Portanto, esse trabalho é baseado nas Máximas 
de Grice, mas transcende essa perspectiva, ao mostrar uma 
aplicação aos problemas de hoje, assim como ao adicionar 
considerações específicas à cultura e às sociolinguísticas. 
Outro exemplo da maneira que a categoria pragmática 
básica dos atos da fala pode ser examinada sob nova luz é o de 
Félix-Brasdefer e Yates (2019), em que analisam as formas de 
pedidos em encontros de serviço em pequenas lojas, onde o 
cliente solicita algum produto ao fornecedor. O objetivo deles 
era descobrir as estratégias para fazer pedidos por clientes 
em três lugares (Cidade do México, Buenos Aires e Sevilha) 
e as formas pronominais (tú, usted, formas de tratamento, 
como sobrenomes) usadas pelos clientes e pelos fornecedores, 
considerando-se a variação pragmática regional. Formas 
preferidas de pedidos variavam segundo a região, tal como 
outras características de pedidos usados pelos participantes. 
O estudo é baseado em categorias tradicionais de atos de fala, 
mas os autores conseguiram dados mais complexos, a partir 
da criação de outras categorias de análise, como as variáveis 
de estratégias diretas e indiretas, a modificação interna (por 
DALE A. KOIKE
59
exemplo, uso de “por favor”), localizando-se, na interação, as 
variações pragmáticas que ocorreram, adicionando-se mais 
dimensões. 
Por meio desses estudos mais recentes, o nosso conheci-
mento de categorias pragmáticas tradicionais fica enriquecido 
com informação nova, o que ilumina a complexidade das 
categorias na medida em que ocorrem no contexto das inte-
rações. Além dos estudos novos nos contextos mencionados 
anteriormente, vemos uma miríade de variações pragmáticas 
usadas nas interações, dependendo de fatores, tais como: a 
relação entre os participantes da conversa, o contexto, o tipo 
de mensagem, e os elementos da fala, como tom, postura; e 
“movidas” discursivas, com o intuito de gerar alinhamento 
entre os interlocutores. 
7) A quais avanços da Pragmática na contemporaneidade 
daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
O estudo da pragmática tem de mudar com o tempo e 
com as novas maneiras para as pessoas se comunicarem umas 
com as outras, seja face a face, seja virtualmente, seja por 
modalidade escrita, seja por comunicação não verbal etc. No 
entanto, com as novas modalidades, aparecem outros desafios 
para o pesquisador. Por exemplo, a maior parte das pessoas 
DALE A. KOIKE
60
passa muito tempo em comunicação on-line, por e-mail, 
por mídias sociais, por conversa em janelas ou mensagem 
de texto. Embora haja muitos dados pragmáticos disponí-
veis para se estudar esses contextos, um desafio é fazer uma 
análise de dados anônima, na qual talvez se veja um apelido 
ou algum tipo de nome falso, mas que não tenha qualquer 
outra informação sobre a pessoa fora do que ela escreva. Essa 
falta de informação torna muito difícil a possibilidade de o 
pesquisador interpretar qualquer tipo de mensagem implícita. 
Outra área de estudos que está crescendo muito rapida-
mente é a de estudos de percepção, em que os participantes, 
por exemplo, deveriam escutar ou olhar alguma coisa (como 
uma série de tweets no Twitter, conforme pesquisaram Koike, 
Vann e Busquets, 2021) e os avaliar em níveis de (des)cortesia, 
podendo comentar sobre eles. Esse tipo de estudo tem se 
tornado popular, considerando-se que a covid-19 criou muitas 
dificuldades para recolher dados ao vivo de qualquer tipo. 
Contudo, o desafio agora, pelo menos nos Estados Unidos, 
é o recrutamento de participantes, especialmente devido ao 
fato de que mais revistas de pesquisa e outras casas editoras 
(e os próprios editores) demandam números maiores de par-
ticipantes nesses estudos para permitir qualquer afirmação 
e conclusão. Se o recrutamento também precisar ser feito 
on-line, é muito mais fácil para os candidatos prospectivos 
DALE A. KOIKE
61
negarem a participação, considerando-se que nunca terão 
conhecido ou até visto o recrutador, mas simplesmente rece-
beram um e-mail de convite. 
O mesmo problema de recrutamento de participantes 
existe para estudos do diálogo, o que destaquei antes em 
termos de um contexto ideal e mais natural para o estudo da 
Pragmática. Conforme as regras para pesquisas sob condições 
da pandemia, a maior parte da filmagem parou, mesmo com 
participantes dispostos. De todo modo, como seria possível 
captar aspectos pragmáticos, a partir, por exemplo, de sorrisos 
e de movimentos faciais, quando se exige usar máscara ou até 
quando esse uso for pedido por um ou mais participantes? 
Uma área nova da Pragmática é a do rastreamento de olhos 
(GIRONZETTI, 2020), na qual os movimentos dos olhos são 
rastreadospor instrumentos sensíveis para ganhar acesso 
ao processamento de ordem superior do cérebro, como no 
processamento do discurso e na resolução da ambiguidade. 
Gironzetti (2020) examina a aplicação do rastreamento de 
olhos para explorar aspectos de processamento enquanto 
apresenta aos participantes informação relacionada à prag-
mática, como expressões idiomáticas, ironia, prosódia, cog-
nição e comportamento social, alternância de turnos, dicas 
faciais, olhar fixo etc. Embora esse definitivamente seja um 
novo campo promissor de pesquisa, um problema tem sido 
DALE A. KOIKE
62
o alto custo do equipamento (custos, contudo, que parecem 
diminuir com o tempo). Sendo campo novo, ainda está na fase 
experimental de encontrar os melhores métodos de pesquisa 
para se usar em vários estudos. Porém, as possibilidades 
que esse campo oferece para ganhar percepções novas da 
pragmática valem a pena.
Já mencionei várias vezes que precisamos olhar o diálogo 
natural para explorar a pragmática usada sob condições natu-
rais (não de laboratório). Claro que, desse contexto, brotam 
outros desafios, como o de encontrar a fala “natural” com 
o mínimo de intervenção possível, mas, ao mesmo tempo, 
assegurar algum tipo de comparabilidade em todos os gru-
pos de dados. É muito útil ver como as pessoas processam 
a informação pragmática ao mesmo tempo que falam, ao 
pedirmos que elas comentem retrospectivamente sobre o 
que estavam pensando e como se sentiam em momentos 
dados durante as interações videogravadas delas (recomendo 
a leitura de Koike, Vann e Busquets, 2021). Logo, a questão 
do papel do pesquisador também deveria ser considerada na 
discussão, desvelando-se, por exemplo, até que medida isso 
afeta os resultados, e ainda como o próprio conhecimento e a 
experiência do pesquisador podem influenciar nos resultados. 
DALE A. KOIKE
63
8) De que maneira a Pragmática pode trazer contribuições 
decoloniais, pós-modernas e críticas para os estudos da 
linguagem?
Esses são temas importantes, bastante recentes ou temas 
velhos com uma nova “torção”, que são interessantes, mas até 
agora não tenho escrito nada sobre eles. Todavia, acho que 
qualquer perspectiva crítica tem a possibilidade de levantar 
novas questões que os linguistas precisam encarar. 
9) Como a Pragmática se distingue e ao mesmo tempo se 
beneficia/aproxima dos estudos da interação?
Se voltarmos ao objetivo geral da Pragmática, de estudar 
a comunicação e a compreensão do significado em contexto, 
temos de pensar sobre o que quer dizer “contexto”. Acho que, 
em todas as minhas respostas anteriores, eu me aproximo da 
Pragmática ao considerar a aplicação no contexto de uso da 
linguagem, o que significa comunicar-se com outras pessoas. 
Essa comunicação acontece no contexto de algum tipo de 
interação, seja face a face, seja na escrita. Para resumir o que 
disse anteriormente, ao invés de olhar a linguagem em frag-
mentos pequenos e isolados (atos de fala), especialmente só a 
linguagem comunicada de um falante, sem olhar as respostas 
DALE A. KOIKE
64
de outros a esse fragmento de linguagem, deveríamos nos 
voltar ao diálogo para ver a coconstrução de sentidos. 
Devemos considerar também o uso dos termos “discurso”, 
“diálogo” e “interação” para questionar se eles se referem à 
mesma coisa. “Discurso” é um termo muito amplo e, segundo 
eu entendo, significa qualquer tipo de comunicação humana, 
em qualquer modalidade (oral, escrita, virtual etc.). “Diálogo” é 
um tipo mais específico de discurso, normalmente denotando 
a comunicação face a face entre duas pessoas ou mais em dado 
momento, mas que pode ocorrer por meio de modalidades 
escritas, como na janela de bate-papo. A “interação”, do meu 
ponto de vista, é quase sinônima ao diálogo, mas que só ocorre 
na comunicação face a face. Contudo, tem de se ter em mente 
que esses são apenas os meus entendimentos dos termos. 
As categorias amplas de análise podem incluir vocabulário, 
tempos verbais, orações, proposições, gêneros, estruturas de 
texto etc., para ver como (tais categorias) contribuem para 
criar dado sentido. Ao mesmo tempo, há temas de discurso e 
categorias que atravessam a pragmática, como a comunicação 
não verbal, o uso de marcadores, os sinais de contextualização 
etc. Também há teorias usadas em todos os três campos, 
como a Teoria da Relevância, a Etnometodologia e a Análise 
da Conversação. Há sociolinguistas e analistas do discurso 
que trabalham com a Pragmática e vice-versa. Em minha 
DALE A. KOIKE
65
opinião, realmente não importa que haja muito cruzamento 
entre todas essas áreas, e esperemos que possam enriquecer 
o trabalho com ideias, perspectivas e teorias em comum. 
Para responder mais diretamente à sua pergunta, a 
Pragmática antes era distinguida mais facilmente por “estu-
dos de interação” em um sentido sociolinguístico, porque 
muitos estudos de interação frequentemente examinavam, 
normalmente por meio de uma microanálise de turnos, o 
que estava ocorrendo turno por turno (por exemplo, MORI; 
YANAGIMACHI, 2015). A Pragmática estudava mais tipi-
camente atos de fala, mostrando um turno e possivelmente 
uma resposta a ele, mas um número crescente de pesquisas 
pragmáticas depois começou a estudar os turnos de uma 
maneira microanalítica: a Pragmática capta a progressão da 
coconstrução de sentidos na fala. 
Mais recentemente, os linguistas que trabalham com a 
Pragmática estão adicionando informações sobre os parti-
cipantes nas análises da conversa, enriquecendo-se, assim, a 
análise e as conclusões, ao se adicionarem identidades e infor-
mação sobre seus antecedentes e, como disse anteriormente, 
incluindo o que eram as memórias dos processamentos de 
pensamentos em certos momentos de fala. 
DALE A. KOIKE
66
10) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar 
contribuições para o ensino?
Já que mais da metade do meu trabalho é sobre a Pragmática 
em contextos de aquisição de L2 (alguns dos meus trabalhos 
mais importantes nesse campo estão marcados com asterisco 
na questão 2), espero que eu tenha contribuído para aquisição 
e para o ensino de L2, especificamente no ensino de espanhol 
como L2. Focalizando os estudantes, estou muito interessada 
em como os aprendizes de L2 adquirem a pragmática da L2, 
um aspecto que não é fácil, já que precisam saber não só as 
palavras, a sintaxe, a gramática etc. mas também precisam 
entender a cultura, as implicaturas, as maneiras de falar em 
dados contextos e de lidar com um conjunto de expectativas 
sobre os diferentes marcos que ocorre em dados contextos com 
pessoas diferentes. Além disso, precisam saber interagir de 
forma adequada, reconhecendo uma série de expectativas de 
pessoas da cultura da L2 (isto é, a gama de respostas aceitáveis 
para dada situação). Por isso, está claro que envolve não só um 
conhecimento da língua até certo grau, mas também um nível 
de experiência que forma parte de um fundo de expectativas. 
Se isso é difícil de aprender em L1, em L2, exige-se muito mais 
do que só a linguagem para aprender a pragmática. Eu tenho 
tentado lidar com esses aspectos no meu trabalho, examinando 
as expectativas, os marcos, a cortesia, a transferência de atos 
DALE A. KOIKE
67
de fala e as implicaturas, o ensino e a aprendizagem da prag-
mática, e a pragmática de L3. Precisamos saber mais sobre 
como as pessoas comunicam, coconstroem e interpretam a 
pragmática, e depois tentar ensinar algo desse conhecimento 
a aprendizes da L2 de maneira significativa. Também preci-
samos encontrar mais maneiras de colocar os alunos de L2 
em situações naturalísticas para aprender a pragmática em 
comunicação com falantes nativos, por exemplo, a aprendi-
zagem baseada em projetos (Project-based learning) ou em 
tarefas (Task-based learning), a aprendizagem por serviço, e 
outras formas de motivá-los a trabalhar dentro de/em conjunto 
com comunidades de falantes nativos. 
A respeito de aplicações da Pragmática ao ensino, vejo uma 
grande utilidade no aprendizado de línguas,

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