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Design Thinking e Inovação dos Modelos de Negócios Aula 1 DEFININDO E TANGIBILIZANDO A IDEIA DE PENSAMENTO CRIATIVO Nesta aula, você vai aprender a diferença destes conceitos e como eles podem ser organizados de forma a transformar criatividade em inovação: o Design Thinking. INTRODUÇÃO Com o avanço das tecnologias e mudança nos modelos de sociedade, as instituições também precisaram se adaptar, estruturando suas arquiteturas de governança e iniciando um processo de transformação digital das empresas e serviços. Com essa transição, se tornou cada vez mais comum confundirmos os termos inovação e criatividade. Apesar de conceitos diferentes, inovação e criatividade estão intimamente ligadas, na verdade, uma pode ser o ponto de partida para a outra. Nesta aula, você vai aprender a diferença destes conceitos e como eles podem ser organizados de forma a transformar criatividade em inovação: o Design Thinking. O modelo mental do Design Thinking pode ser usado para solucionar diferentes tipos de problema do cotidiano, dos mais simples aos mais complexos e aqui você vai conhecer alguns casos práticos e reais de aplicação. Durante a aula, também vai se aprofundar nos pilares do design thinking bem como em algumas ferramentas para colocar a mão na massa e adaptar às suas necessidades do dia a dia. Vamos juntos! DEFININDO E TANGIBILIZANDO A IDEIA DE PENSAMENTO CRIATIVO Uma frase do famoso publicitário americano David Ogilvy traz que “pessoas que pensam bem, escrevem bem”. Na verdade, a frase poderia ser substituída por “falam”, “pintam”, “fazem filmes” e até “criam empresas” bem. Em resumo, tarefas ligadas à criatividade têm mais a ver com nossa lógica, pensamento e interpretação por trás do entendimento das coisas do que exatamente com inspiração. A ideia de “criatividade” deriva do latim “creare”, que indica a capacidade de produzir, criar e inventar coisas, é a habilidade natural do ser humano de conceber diferentes formas e significados a partir da observação do mundo à sua volta. De acordo com Alencar (1996), todo ser humano possui um certo grau de habilidades criativas, que podem ser aperfeiçoadas por meio da prática e do treino. Sim, o pensamento criativo pode ser estimulado e exercitado para ser ampliado. O psicólogo e psicometrista Sternberg (1988) formulou a teoria do investimento em criatividade, um modelo que investiga fatores que facilitam ou impedem o funcionamento criativo do indivíduo a manifestação da criatividade. A criatividade surge da forma em que a pessoa relaciona suas influências internas (inteligência, valores, personalidade e motivações) com influências externas (família, escola, trabalho, contexto cultural e saúde). A teoria sistêmica da criatividade, do psicólogo Lubart (1999), olha justamente para a importância desses fatores externos para a formação do pensamento criativo, uma vez que durante a infância as experiências familiares direcionam a formação das pessoas, seus valores, sentido crítico e, inclusive, criatividade. A escola, onde se passa grande parte da vida, é onde desenvolvemos o nosso potencial criatividade, guiados por professores em suas aulas. Já as empresas contratam, estimulam e precisam de profissionais criativos para continuarem progredindo no mercado. A criatividade também é influenciada pela cultura, pois é ela que fornece o conjunto de elementos e símbolos que permeiam o imaginário do indivíduo. Por último, saúde é vista como um processo de funcionamento integral de todo o ser, que aumenta e otimiza seus recursos, entre eles, a criatividade. Para Runco (2007), toda pessoa nasce com potencial para ser criativa, mas conforme vivemos, vamos nos moldando às necessidades do nosso sistema e nem todas realizam esse potencial, por não terem oportunidades de desenvolvê-lo. Por isso, depois de adultos, precisamos de ainda mais persistência e estratégia para desconstruir crenças e valores antigos e dar lugar ao novo. É uma conquista estimularmos as novas ideias, despertar o espírito da colaboração e da diversidade, fazer novas combinações e, assim, expandir a capacidade criativa do homem que expressará o desenvolvimento do mundo em que vivemos. No próximo bloco, vamos entender os fundamentos do Design Thinking, como surgiu e como pode ajudar a transformar a criatividade em inovação. CONHECENDO O CONCEITO DE DESIGN THINKING E POSSÍVEIS APLICAÇÕES Enquanto a criatividade está relacionada à habilidade individual de cada um em criar novos significados no ambiente que o cerca, a inovação está relacionada à transformação dessas ideias em resultados, ou seja, à aplicação da criatividade de maneira assertiva para resolver problemas da sociedade. Para chegar à inovação existem diferentes métodos como, por exemplo, o Design Thinking. Design Thinking é uma abordagem de resolução de problemas complexos, que começou a ficar mais conhecido no final dos anos 1990, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Organizado pelo Designer Tim Brown, o modelo mental consolida o processo criativo do Designer para aplicação em contextos diversos. Embora o nome “design” seja frequentemente associado à qualidade e/ou aparência estética de produtos, para Brown (2009), o design como disciplina tem como objetivo máximo facilitar a solução de problemas que afetam a vida das pessoas. O designer enxerga como um problema tudo aquilo que prejudica a experiência (emocional, cognitiva, estética) e o bem-estar de usuários (considerando todos os aspectos da vida, como trabalho, lazer, relacionamentos, cultura etc.). Isso faz com que sua principal tarefa seja identificar problemas e gerar soluções. O modelo mental do design é sobre entender problemas que afetam o bem-estar das pessoas como desafios de natureza diversa. É preciso mapear a cultura, os contextos, as experiências e os processos na vida dos indivíduos afetados para ganhar uma visão mais completa, que abra caminhos para identificar as reais barreiras e gerar alternativas para transpô-las. Ao investir esforços nesse mapeamento, é possível identificar as causas e as consequências das dificuldades e ser mais assertivo na busca por soluções. Ele sabe que para identificar os reais problemas e solucioná-los de maneira mais efetiva, é preciso abordá-los sob diversas perspectivas e ângulos. Assim, prioriza o trabalho colaborativo entre equipes multidisciplinares, que trazem olhares diversificados e oferecem interpretações variadas sobre a questão e, assim, soluções inovadoras. Também é considerada uma abordagem propícia para processos de inovação, pois é uma maneira de compilar o processo do pensamento criativo. Ele é baseado em 3 grandes pilares: empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro e entender os desafios e questões sob seu ponto de vista; cocriação, que é o ato de criar em conjunto, mesclando diferentes atores e pontos de vista, garantindo uma diversidade de ideias; experimentação, que é o teste rápido e barato das ideias geradas, garantindo que sejam viáveis. Assim, é uma abordagem que, se considerando estes princípios, pode ser aplicada em diferentes contextos, sem prejuízo algum. O processo do design thinking pode ajudar empresas a encontrar melhores modelos de mercado para manter funcionando, melhorar experiências de serviços públicos, reduzir custos de operação, entre outros inúmeros contextos que podem ser beneficiados. CASE DE SUCESSO E OUTRO DE FRACASSO COM APLICAÇÃO DO DT Se dedicar ao entendimento dos desejos do cliente pode, literalmente, salvar uma empresa. Segundo o artigo “What’s next in innovation”, publicado pela consultoria Nielsen em 2018, mais de 20 mil novos produtos lançados na América Latina fracassam por ano. O principal motivo apontado: “a solução não atende a reais necessidades do consumidor”. O Design Thinking propõe justamente isso, incluir o consumidor no processo, para coletarideias que realmente façam sentido para o usuário final. Um caso bem conhecido do uso do DT aconteceu na empresa americana GE Healthcare e é considerado um dos maiores exemplos do modelo mental. Um designer contratado pela empresa, devia resolver o seguinte problema: as crianças sentiam muito medo de fazer exames na máquina de ressonância magnética. Para eles, foi uma experiência horrível e muitas precisaram ser sedadas para conseguir fazer o exame. Pensando na experiência e nos sentimentos desses usuários, o designer realizou imersões para chegar em soluções que tornassem o exame mais agradável e percebeu que o tamanho da máquina e seu aspecto robotizado, assustava as crianças. Entendendo o universo infantil, ele desenvolveu uma versão mais alegre e lúdica da máquina, imitando um submarino. Isso tornou a experiência mais leve e confortável para o usuário. Exemplos não faltam de produtos e serviços que não deram certo e é justamente para aprender com estes casos que um grupo de empreendedores brasileiros fundou o “FuckUp Inc”, uma organização que promove encontros para troca de experiências com projetos que falharam e reforçam a pesquisa da Nielsen. “Em quase toda a América Latina, em média 75% dos negócios fecham nos dois primeiros anos. Isso significa que há mais histórias de fracasso do que de sucesso. Uma das melhores formas de aprender a se dar bem com um negócio é ouvir as pessoas que não atingiram esse objetivo”, afirma Leticia Gasca, uma das fundadoras do projeto. Um exemplo de empreendedorismo que não deu certo foi o “Floripa Xtreme Park”, um parque de pistas artificiais para ski e snowboard, fundado em Florianópolis. Para reportagem à Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios, o fundador Gabriel Longo contou que o parque era formado por 22 toneladas de aço, com 7 metros de altura, o que tornava difícil a readaptação e migração da solução para outros espaços e pouco combinava com as necessidades de entretenimento da região. Além disso, a solução tampouco era sustentável. Em menos de seis meses a estrutura foi vendida para um ferro velho por R$5 mil, um valor que representa 3% do investimento feito na empresa. Em resumo, um bom negócio não nasce apenas da ideia. É preciso validar se essa ideia realmente supre uma necessidade, se haverá uma aceitação dos clientes, se ela é viável e sustentável. No caso do “Floripa Xtreme Park”, a aplicação do design thinking poderia ter evitado o investimento em uma solução que não fazia sentido para o contexto. Por exemplo, com uma escuta das reais necessidades do público, a criação de ideias mais assertivas e a prototipagem da estrutura de forma mais barata para uma testagem rápida. Saiba mais ALENCAR, E. M. L. S.; FLEITH, D. S. Criatividade: múltiplas perspectivas. 3 ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003. JOHNSON, S. De onde vêm as boas ideias. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. GILBERT, E. Grande magia: vida criativa sem medo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. GILBERT, E. Sucesso, fracasso e a motivação para continuar criando. TED. Disponível em: https://www.ted.com/playlists/152/what_is_success. Acesso em: 17 dez. 2021. REFERÊNCIAS Alencar, E.M.L.S. Criatividade Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1995. Alencar, E.M.L.S. A gerência da criatividade. Săo Paulo: Makron, 1996. Brown, T. Design Thinking: Uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Campus, 2010. Lubart, T. Psicologia da Criatividade. Porto Alegre: Grupo A. 2007. Runco, A. M. Creativity, theories and themes: research, development, and practice. San Diego: Elsevier, 2007. Sternberg, R.J. A three-facet model of creativity. Em R. J. Sternberg (Org.), The nature of creativity. Contemporary psychological perspectives (pp. 125-147). Cambridge: Cambridge University Press, 1988. Sternberg, R.J. A theory of creativity. Trabalho apresentado no XIV School Psychology Association. Colloquium. Braga, Portugal, 1991. What’s next in innovation - Chaves para o sucesso de novos produtos América Latina. Nielsen. Disponível em: <https://www.nielsen.com/wp-content/uploads/sites/3/2019/05/O20que20est %C3%A120por20vir20em20Inova%C3%A7%C3%A3o.pdf> Acesso em: 17 dez. 2021. Histórias de insucesso: conheça o evento em que empreendedores falam sobre o fracasso. Pequenas Empresas Grandes Negócios. São Paulo, 04 de out. de 2018. Disponível em: <https://revistapegn.globo.com/Empreendedorismo/noticia/2018/10/historias-de- insucesso-conheca-o-evento-em-que-empreendedores-falam-sobre-o-fracasso.html> Acesso em: 17 dez. 2021