Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
F R E N T E 3 277 Note que, quanto menor o ângulo formado entre a reta e o eixo da temperatura, ou seja, quanto mais “deitada” esti- ver a reta em um diagrama V versus T para transformações isobáricas, maior será o valor de pressão. Isocórica, isométrica ou isovolumétrica É o tipo de transformação que um gás sofre quando o volume é mantido constante. Seu comportamento pode ser facilmente deduzido a partir da transformação isobárica. Se um gás é aquecido à pressão constante, seu volume aumenta. Entretanto, se o recipiente for indeformável, o volume não pode aumentar, mas a pressão aumentará. Esse raciocínio foi desenvolvido na época da publicação da transformação isobárica, em 1787. Assim, não houve um estudo específico para transformações isocóricas, e, apesar de não se recomendar que essa lei seja atribuída a alguém, é comum que seja chamada de lei de Gay-Lussac. Deve- -se deixar claro que Louis Joseph Gay-Lussac estudou os gases, mas não publicou nada especificamente sobre as transformações a volume constante. Portanto, atribuir o seu nome a essa lei é apenas uma homenagem. As transformações isocóricas ocorrem, em geral, em recipientes indeformáveis. Nessas transformações, os expe- rimentos com gases muito próximos da idealidade mostram que, a volume constante, quando se dobra a temperatura absoluta, também se dobra a pressão exercida pelo gás. Quando a temperatura absoluta triplica, a pressão exer- cida pelo gás também triplica. Dessa forma, a partir dos resultados experimentais, pode-se concluir que pressão e temperatura são grandezas diretamente proporcionais, ou seja, a razão entre a pressão e a temperatura absoluta é constante para transformações isocóricas. Assim, de um estado inicial para um estado final, pode ter seu comporta- mento visualizado através do seguinte gráfico: y x 2y 2x 3x P T P 1 V=cte 3y T 1 T 2 P 2 = Fig. 23 Curva da transformação isocórica em um gráfico P versus T para um gás ideal. O gráfico mostra a transformação sofrida por um gás ao passar de um estado inicial (1) para um estado final (2). Se ela ocorre sobre a reta que parte da origem no diagrama P versus T é porque o volume foi mantido constante. Nesse caso, a razão entre a pressão e a temperatura absoluta é sempre constante e tem-se: P T P T 1 1 2 2 = O gráfico mostra a transformação sofrida por um gás ao passar de um estado inicial (1) para um estado final (2). Se ela ocorre sobre a reta que parte da origem no diagrama V versus T é porque a pressão permaneceu constante. Nesse caso, a razão entre o volume e a temperatura absoluta é sempre constante e tem-se: V T V T 1 1 2 2 = A escala de temperatura a ser utilizada não pode admi- tir valores negativos, já que isso resultaria na possibilidade de o volume também ser negativo. Portanto, a escala a ser utilizada deve ser absoluta (utiliza-se como escala absoluta preferencial o Kelvin). Outra observação importante é a de que a reta no grá- fico V versus T parte da origem. Isso ocorre porque, quando o gás está teoricamente a zero Kelvin, a energia cinética das partículas seria igual a zero, ou seja, as moléculas estariam paradas. Nesse caso, não haveria espaço vazio entre as moléculas. Assim, o volume ocupado pelo gás seria apenas o volume de suas moléculas. No caso do gás ideal, esse valor é igual a zero. Observe o gráfico a seguir: P b P a V T Fig. 21 Curvas da transformação isobárica em um gráfico V versus T para um mesmo gás ideal, em duas pressões distintas. A pressão permanece constante em todos os pontos da reta Pa e também em todos os pontos da reta Pb. Mas como são retas distintas, as pressões também são distintas. Qual é a maior pressão: Pa ou Pb? Imagine duas bexigas na mesma temperatura e com a mesma quantidade de gás em seus interiores. A bexiga com maior volume é, certamente, aquela que está submetida a menor pressão. Observe no gráfico: Bexiga B Bexiga A P a P b V B V A V T P A pressão exercida sobre a bexiga B é menor do que a pressão exercida sobre a bexiga A, porque a bexiga submetida à maior pressão tem o menor volume quando a temperatura for a mesma nos dois casos. ↑ Fig. 22 Comparação entre duas pressões distintas em um gráfico V versus T para transformações isobáricas. QUÍMICA Capítulo 2 Gases278 Para essa lei, a escala de temperatura também deve ser absoluta. O contrário resultaria no fato de a pressão po- der ser negativa. Portanto, o uso de escalas relativas como Celsius e Fahrenheit não são permitidos. Usa-se preferen- cialmente a escala absoluta Kelvin. Outra observação importante é a de que a reta no gráfico P versus T parte da origem. Isso ocorre porque, quando o gás está teoricamente a zero Kelvin, a energia cinética das partículas seria igual a zero, ou seja, as moléculas estariam paradas. Nesse caso, as moléculas gasosas não se cho- cariam contra as paredes do recipiente. Assim, no zero absoluto, a pressão exercida pelo gás seria nula. Observe o gráfico a seguir. P V b V a T Fig. 24 Curvas da transformação isocórica em um gráfico P versus T para um mesmo gás ideal, em dois volumes distintos. O volume permanece constante em todos os pontos da reta Va e em todos os pontos da reta Vb. Mas, como são retas distintas, os volumes ocupados pelos gases também são distintos. Qual é o maior volume: Va ou Vb? Suponha duas bexigas submetidas à mesma pressão atmosférica, com a mesma quantidade de gás em seus interiores. A bexiga mais quente é, certamente, aquela cujo gás ocupará mais volume. Observe no gráfico: T B T A T P V b Bexiga B Bexiga A Va V Como a bexiga A está mais quente do que a bexiga B, então o gás em A ocupa mais volume do que o gás em B, para uma mesma pressão. ↑ Fig. 25 Comparação entre dois volumes distintos em um gráfico P versus T para trans- formações isocóricas. Note que, quanto menor o ângulo formado entre a reta e o eixo da temperatura, ou seja, quanto mais “deitada” es- tiver a reta em um diagrama P versus T para transformações isocóricas, maior será o valor do volume. Geral Uma transformação gasosa é chamada de geral quando nenhuma das variáveis de estado permanece constante. A melhor maneira de se deduzir uma equação para a transformação geral é levar em conta um estado intermediário entre os estados inicial e final. Com isso, passam a ser duas transformações gasosas. Pode-se su- por que a primeira transformação (do estado inicial até o estado intermediário) é isotérmica, e a segunda é isobárica (do estado intermediário até o estado final). Esquematizando, tem-se: Estado inicial (P ; V ; T ) Estado intermediário (P ; V ; T ) Estado final (P ; V ; T ) 1 1 1 T = cte 1 P = cte 2 2 2 2 → ′ ′ ′ → Para a transformação designada por 1, tem-se: y T1 = T′ (i) y P1 ⋅ V1 = P′ ⋅ V′ (ii) Para a transformação designada por 2, tem-se: y P′ = P2 (iii) y ′ ′ = V T V T 2 2 (iv) Substituindo (i) em (iv), tem-se: ′ = ∴ ′ = ⋅ V T V T V V T T 1 2 2 2 2 1 (v) Substituindo (iii) em (ii), tem-se: P1 ⋅ V1 = P2 ⋅ V′ (vi) Substituindo (v) em (vi), tem-se: P V P V T T P V T P V T 1 1 2 2 2 1 1 1 1 2 2 2 ⋅ = ⋅ ⋅ ∴ ⋅ = ⋅ Essa importante relação que acabamos de deduzir e que revela o comportamento de um gás ideal em uma trans- formação geral é chamada de equação geral dos gases. Exercícios resolvidos 3 Suponha que um recipiente tem uma resistência mecânica que impede a sua deformação até que o gás que ele contém atinja uma determinada pressão. Uma vez atingida, o recipiente se deforma quase que instantaneamente até que o seu volume seja tal que a pressão interna do gás seja de 1 atm, que é a pressão atmosférica local. Sabe-se que esse reci- piente, de volume 6 L, contém um gás a uma pressão inicial de 1 atm e temperatura de 27 ºC. Ao aquecer, quando a temperatura atinge o valor de 327 ºC, o recipiente deforma-se. a) Qual a pressão na qual o recipiente se deforma? b) Depois da deformação, qual o volume do reci- piente? F R EN T E 3 279 Resolução: a) A transformação gasosa até o momento imediata- mente anterior à deformação é isocórica, ou seja, o volume é mantido constante. Nesse caso: = P T P T 1 1 2 2 A temperatura deve sempre ser em escala abso- luta. Assim: T(K) = t (ºC) + 273∴ T(K) = 27 + 273∴ T(K) = 300 K T(K) = t (ºC) + 273∴ T(K) = 327 + 273∴ T(K) = 600 K Logo: = ∴ = 1 300 P 600 P 2 atm 2 2 b) A segunda transformação, que ocorre durante a deformação do recipiente, é isotérmica. Assim: � ⋅ = ⋅ ∴ ⋅ = ⋅ ∴P V P V 2 6 1 V V = 12L 1 1 antes da explosão 2 2 depois da explosão 2 2 4 Um cilindro com êmbolo móvel contém um gás ideal a uma pressão de 3 atm, temperatura de 127 ºC e que ocu- pa, nessas condições, um volume de 3 L. Faz-se uma transformação de tal forma que a temperatura atinge o valor de 227 ºC e o volume ocupado pelo gás passa a ser de 7,5 L. Qual é a pressão exercida pelo gás? Resolução: A transformação gasosa é geral, pois há mudança nas três variáveis de estado. Nesse caso, deve-se usar a equação geral dos gases: ⋅ = ⋅ ∴ ⋅ = ⋅ ∴ = P V T P V T 3 3 400 P 7,5 500 P 1,5 atm1 1 1 2 2 2 2 2 5 Um recipiente indeformável contém um gás ideal. Du- rante um aquecimento, a pressão aumentou em 10%, e a temperatura aumentou de 25 ºC. Qual o valor da temperatura inicial? Resolução: A transformação gasosa, nesse caso, é isocórica. Portanto: = ∴ = ⋅ + ∴ ⋅ = + ∴ ⋅ = ∴ = = − P T P T P T 1,1 P T 25 1,1 T T 25 0,1 T 25 T 250 K 23 ºC 1 1 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 Há uma dúvida muito comum nesse caso: não se de- veria passar a variação de 25 ºC para K? A resposta é não. Isso porque a temperatura em Celsius não é a mesma temperatura em Kelvin, mas a variação de temperatura em Celsius e em Kelvin é a mesma. Equação de estado Essa equação relaciona as três variáveis de estado de um gás e o número de moléculas gasosas. Foi desenvol- vida e demonstrada por Benoit Paul Émile Clapeyron, um cientista francês nascido no ano de 1799 e que se destacou como professor e pesquisador nas áreas de termodinâmica e construção de estradas de ferro. A equação de estado de um gás é chamada também de equação de Clapeyron. O modelamento para a dedução dessa equação parte do princípio de que um gás pode ter infinitos estados. En- tre esses estados, basta memorizar um deles para que se conheça todos os outros. Isso é possível devido à equação geral dos gases, estudada no item anterior deste capítulo. Para memorizar um estado de um gás, deve-se optar por números fáceis e que sejam viáveis do ponto de vista experimental. Assim, escolheu-se inicialmente a pressão de 1 atm, de fácil memorização e cujo valor corresponde à pressão atmosférica no nível do mar. Optou-se também pela temperatura de 0 ºC, que é a temperatura na qual água e gelo coexistem em equilíbrio. Esse par de condições (P = 1 atm; T = 0 ºC = 273 K) passou a ser chamado de condições normais de temperatura e pressão (CNTP). Sabe-se que, quando 1 mol de um gás ideal qualquer é submetido às CNTP e mede-se experimentalmente o volu- me que esse gás ocupa, o valor desse volume é de 22,4 L. Tomando-se 2 mols de um gás ideal nas CNTP, o volume será de 2 ⋅ 22,4 L. Para 6 mols de um gás ideal nas CNTP, o volume será de 6 ⋅ 22,4 L. Assim, para n mols de gás ideal nas CNTP, o volume será de n ⋅ 22,4 L. Substituindo esses valores na equação geral dos ga- ses, tem-se: P V T P V T P V T 1 atm n 22,4 L/mol 273 K P V T n 1 22,4 273 atm L mol K P V T n 0,082 atm L mol K 1 1 1 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ⋅ = ⋅ ∴ ⋅ = ⋅ ⋅ ∴ ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ∴ ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ O valor encontrado de 0,082 atm L mol K ⋅ ⋅ ⋅ vale para qual- quer gás ideal, será representado pela letra R e chamado de constante universal dos gases. Logo: R = 0,082 atm L mol K ⋅ ⋅ ⋅ Em outras unidades, R pode ter os seguintes valores: R 62,3 mmHg L mol K 8,314 J mol K 2 cal mol K = ⋅ ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ Assim: P V T n R PV nRT ⋅ = ⋅ ∴ = (equação de estado ou equação de Clapeyron) Uma observação importante é a de que as novas CNTP são ligei- ramente diferentes das que eram adotadas antigamente. Em vez de a pressão ser de 1 atm, ela deve ser de 1 bar. A temperatura se manteve a mesma. Lembre-se de que 1 atm = 1,013 ⋅ 105 Pa e que 1 bar = 1 ⋅ 105 Pa. Assim, nas novas CNTP, o volume molar pode ser calculado da seguinte forma: P V P V 1,013 10 Pa 22,4 L mol 1 10 Pa V V L/m 1 1 2 2 5 5 2 2 ⋅ = ⋅ ∴ ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ ∴ = 22 71, ool Atenção
Compartilhar