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INSTALAÇÕES ELÉTRICAS INDUSTRIAIS AULA 2 Prof. Juliano de Mello Pedroso 2 CONVERSA INICIAL Entender o comportamento dos indutores e capacitores como elementos essenciais da grande maioria dos circuitos elétricos e eletrônicos já nos possibilita uma grande base técnica para começarmos a calcular circuitos com esses elementos. Há vários exemplos práticos do uso de capacitores e indutores na vida prática de um engenheiro, mas antes é necessário saber a base teórica desses circuitos tão importantes na eletrônica analógica. Nesta aula abordaremos os seguintes temas: 1. Circuitos RL série e paralelo; 2. Fator de potência; 3. Capacitor e Capacitância; 4. Circuitos em C.A. com capacitância Pura 5. Circuitos RC Série e Paralelo. Bom estudo! TEMA 1 – CIRCUITOS RL SÉRIE E PARALELO Circuitos na prática possuem tanto resistência como indutância, o que significa que a corrente, ao percorrer um circuito encontrará dois tipos de oposição: a oferecida pela resistência, e a oposição da força eletromotriz de autoindução (reatância indutiva). Além do mais, em um circuito contendo resistência e indutância, a corrente continuará atrasada em relação à tensão, só que em um ângulo menor que 90° (não esqueça que a resistência tende a colocar VG em I em fase, enquanto a indutância tende a defasá-las de 90°). No circuito da Figura 1, a resistência R representa todas as resistências ao longo do caminho da corrente (inclusive a resistência ôhmica do fio da bobina). 3 Figuras 1a e 1b – circuito com indutor Na Figura 1b, diagrama fasorial, observe o atraso de 90° da corrente no indutor (que é a mesma na resistência) em relação à tensão (VL). Como a corrente na resistência está em fase com a tensão VR, as duas são representadas no mesmo eixo. Observe ainda na Figura 1b, que a obtenção da tensão do gerador é por soma vetorial. Do triângulo retângulo descrito na Figura 2, pode-se tirar: Figura 2 – triângulo retângulo de fasores VG2 = VR2 + VL2 OU 𝑉𝐺 = √𝑉𝑅2 + 𝑉𝐿2 Nessa relação que obtivemos, se dividirmos ambos os membros por I2 𝑉𝐺2 𝐼2 = 𝑉𝑅2 𝐼2 + 𝑉𝐿2 𝐼2 𝑜𝑢 ( 𝑉𝐺 𝐼 ) 2 = ( 𝑉𝑅 𝐼 ) 2 + ( 𝑉𝐿 𝐼 ) 2 Em que: 𝑉𝑅 𝐼 = 𝑅 = Resistência ôhmica do circuito 𝑉𝐿 𝐼 = 𝑋𝐿 = Reatância indutiva da bobina 𝑉𝐺 𝐼 = 𝑍 = Impedância do circuito 4 A impedância é o efeito combinado de uma resistência com uma indutância. Desta forma, pode-se escrever: 𝑍2 = 𝑅2 + 𝑋𝐿2 ou 𝑍 = √𝑅2 + 𝑋𝐿2 O mesmo resultado seria obtido se tivéssemos dividido cada lado do triângulo por I. Figura 3 – Triângulos dos fasores: (a) tensões; (b) divisão pela corrente (c) impedâncias O ângulo de defasagem entre VG e I, ϕ, pode ser calculado por: 𝑡𝑔 𝜙 = 𝑉𝐿 𝑉𝑅 = 𝑋𝐿 𝑅 ou cos 𝜙 = 𝑅 𝑍 Quando temos um circuito em paralelo por definição temos a mesma tensão em todos os componentes do circuito. Na Figura 4, temos: VR = VL = VG. Figura 4 – Circuito RL Paralelo 5 A partir desse circuito temos o diagrama fasorial correspondente a seguir, descrito na Figura 5: Figura 5 – Diagrama fasorial de um circuito em paralelo No diagrama da Figura 5 pode-se ver que a corrente no indutor IL, está atrasada 90° em relação à tensão, VL. Ao contrário do circuito RL série, neste caso desenhamos o diagrama de corrente que pode ser visto na Figura 6 (obs.: a fase de VG é escolhida arbitrariamente). Figura 6 – Triângulo das correntes Do triângulo de correntes tiramos: 𝐼2 = 𝐼𝑅2 + 𝐼𝐿2 ou 𝐼 = √𝐼𝑅2 + 𝐼𝐿2 Se dividirmos, a Figura 3, os lados do triângulo por VG, obteremos o triângulo das admitâncias descrito na Figura 6. Figuras 7a, 7b e 7c – Admitâncias Da Figura 7c tiramos: 6 1 𝑍2 = 1 𝑅2 + 1 𝑋𝐿2 De onde tiramos: 𝑍 = 𝑅 . 𝑋𝐿 √𝑅2 + 𝑋𝐿2 O ângulo de defasagem entre VG e I pode ser calculado por: cos 𝜙 = 1 𝑅 1 𝑍 = 𝑍 𝑅 ou tan 𝜙 = 1 𝑋𝐿 1 𝑅 = 𝑅 𝑋𝐿 TEMA 2 – FATOR DE POTÊNCIA Se usarmos a corrente alternada devemos considerar dois tipos de potência: a Potência Ativa (P) ou Real e a Potência Reativa (Q). Potência Ativa: é a potência que tem a finalidade principal do equipamento. Por exemplo: uma lâmpada tem a finalidade de iluminar, ou seja, a potência que realmente gera luz, nesse caso. Potência Reativa: É a potência que gera e mantém os campos magnéticos quando se fala em carga indutiva. Essa potência não é contabilizada de forma direta. A somatória dessas duas formas de potência nos dá uma terceira chamada de potência aparente. Essa potência, por ser um valor maior, é usada nos anúncios de determinados equipamentos, mascarando a potência que deveria ser usada como produto final. A relação entre essas potências tem como resultado o triângulo das potências descrito na Figura 8. Nesse triângulo existe a relação entre três potências usuais e devemos salientar as unidades que são usadas. Potência ativa (P) – a Unidade é Watt (W); Potência reativa (Q) – a Unidade é o Volt-Ampere reativo (VAr); 7 Potência Aparente – a Unidade é o Volt-Ampere (VA). Figura 8 – Triângulo das potências O exemplo didático mais usado para entendermos o triângulo das potências é o copo de chopp, que veremos a seguir na Figura 9. Primeiramente tomamos como a extensão total do copo como sendo a potência aparente, ou seja, o máximo de chopp que o copo pode conter. A seguir se define a parte que é formada por espuma como sendo a potência reativa, ou seja que não é aproveitada. Por último, temos o líquido propriamente dito – o chopp, esse totalmente aproveitado no exemplo. Figura 9 – Relação das potências com o exemplo do copo de chopp Fonte: <http://www.hardmob.com.br/promocoes/572490-extra-lampada-ultra-led-a60-golden- luz-branca-6500k-e27-10w-r-16-92-frete-gratis-4.html>. 8 A potência reativa não deve passar de 8% da carga total, ou seja, a potência real deve ser 92% da potência aparente. Essa porcentagem de tensão elétrica medida é chamada, na indústria, de fator de potência. Se essa regra não for obedecida o usuário paga um adicional de fator de potência. Para corrigir esse fator de potência devemos tomar algumas medidas que serão tratadas em aulas posteriores. TEMA 3 – CAPACITOR E CAPACITÂNCIA Um condensador ou simplesmente um capacitor é um componente eletrônico constituído por duas armaduras ou placas condutoras, separadas por um material chamado dielétrico com propriedades isolantes. A capacidade de um capacitor para armazenar cargas depende de sua capacitância (C). Esta, por sua vez, depende da área das placas, da espessura do dielétrico e do material do qual este é feito. Figura 10 – Esquema de um capacitor e seu símbolo No caso de um capacitor de placas planas e paralelas, a sua capacitância será dada por: 𝐶 = 𝜀 . 𝑆 𝑑 ԑ = constante dielétrica S = Área de uma das placas (são iguais) em m2 d = espessura do dielétrico em m A capacitância C será dada em Farads (F). Um Farad é um Coulomb/Volt. 9 Quando ligamos um capacitor a um gerador, o capacitor adquire uma carga Q, como descrito na Figura 11. Figura 11 – Carga do capacitor A placa superior fica com uma carga Q (faltade elétrons), enquanto a placa inferior ficará com uma carga –Q (excesso de elétrons). O número de elétrons, em excesso em uma placa, é igual ao número de elétrons faltantes na outra placa. Na relação entre a capacitância e a carga adquirida é a tensão aplicada, que é dada pela fórmula: 𝑄 = 𝐶. 𝑉 Quando ligamos um capacitor a uma fonte de tensão por meio de uma resistência R, a tensão no capacitor levará um certo tempo até atingir o valor da tensão da fonte. Considerando um capacitor inicialmente descarregado, no instante em que a chave é fechada (t=0), toda a tensão da fonte será aplicada à resistência. Não há uma corrente passando através do capacitor, mas sim uma movimentação de cargas de uma placa para a outra pelo circuito. Neste caso, vamos ter um deslocamento de cargas positivas, indo da placa inferior para a placa superior – na realidade, elétrons se deslocando. Com a chegada de cargas no capacitor, aumenta a sua tensão e consequentemente diminui a tensão na resistência. Depois de algum tempo, a tensão no capacitor será igual à tensão da fonte. O comportamento dinâmico das tensões no circuito e da corrente, pode ser melhor entendido quando representado graficamente. 10 Figura 12 – Carga do capacitor Observe na Figura 12b, a soma VC+VR=E, isto é, à medida que VR diminui, VC cresce na mesma proporção. Uma medida de velocidade de crescimento da tensão no capacitor nos é dada pela constante de tempo do circuito (definido como sendo: R .C Fisicamente, a constante de tempo significa que, passando um tempo igual a uma constante de tempo, a tensão no capacitor atingiu 63% da tensão da fonte. Na Figura 12 podemos verificar que existe uma defasagem entre a tensão no capacitor e a corrente (quando uma é máxima a outra é mínima e vice-versa). A expressão que relaciona a tensão no capacitor com o tempo é dada por: 𝑉𝐶(𝑡) = 𝐸 − 𝐸. 𝑒− 𝑡 𝑅𝐶 = 𝐸 (1 − 𝑒− 𝑡 𝑅𝐶) A expressão da tensão no resistor é dada por: 𝑉𝐶(𝑡) = 𝐸 . 𝑒− 𝑡 𝑅𝐶 3.1 Associação de capacitores Para capacitores em paralelo temos a seguinte fórmula: 𝐶𝑒𝑞 = 𝐶1 + 𝐶2 + 𝐶3 + ⋯ + 𝐶𝑛 11 Figura 13 – Capacitores em paralelo Onde Ceq é o capacitor equivalente. Para capacitores em série temos a seguinte fórmula: 1 𝐶𝑒𝑞 = 1 𝐶1 + 1 𝐶2 + 1 𝐶3 + ⋯ + 1 𝐶𝑛 Figura 14 – Capacitores em série TEMA 4 – CIRCUITO EM CA COM CAPACITÂNCIA PURA Esse componente eletrônico chamado capacitor é usado com a função de acumular cargas elétricas, ou seja, energia elétrica. Em ambientes industriais esse componente é muito útil. Construído em escalas maiores, os capacitores industriais são usados para corrigir fator de potência gerado pelos indutores que estão presentes no processo produtivo. Caso a tensão aplicada ao capacitor seja senoidal, a corrente no circuito também será senoidal e defasada 90° em relação à tensão. Em tal situação, a tensão estará 90° atrasada em relação à corrente. Um capacitor em um circuito C.A. oferece uma oposição à passagem da corrente, sendo esta oposição medida pela reatância do capacitor (XC). Esta depende da capacitância (C) e da frequência do gerador dada por: 𝑋𝐶 = 1 2𝜋 . 𝑓 . 𝐶 Em que: C em farads (F) F em Hertz (Hz) XC em Ohms (Ω) 12 Figuras 15a, 15b e 15c – Análise do capacitor: (a) circuito com capacitor (b) gráfico demonstrando a defasagem (c) diagrama fasorial A 1ª Lei de Ohm para este caso é: 𝐼 = 𝑉 𝑋𝐶 V e I (tensão e corrente eficazes). Em um circuito puramente capacitivo, não há consumo de potência. A potência real é dada pela fórmula: P = V . I . cos φ Como o ângulo φ formado entre a tensão e a corrente é 90° e cos90° = 0, a potência será igual a 0. Este mesmo resultado pode ser mostrado graficamente na Figura 16: Figura 16 – Gráfico representativo de tensão, corrente e potência 13 Primeiramente, o capacitor acumula tensão elétrica em suas placas condutoras. A seguir, o condensador devolve energia ao circuito. TEMA 5 – CIRCUITOS RC SÉRIE E PARALELO O capacitor é uma solução de armazenamento de cargas, a qual nos remete à pergunta feita a partir da descoberta da energia elétrica. Na Figura 17 há uma série de capacitores que são diferenciados pelo modelo, aplicação e quantidade de capacitância. Figura 17 – Capacitores diversos Fonte: <http://www.py2bbs.qsl.br/capacitores.php>. A seguir é necessário que se desenvolva uma série de relações matemáticas triviais que são a fundamentação teórica da inserção de capacitores em circuitos de corrente alternada. No circuito da Figura 18a, a tensão aplicada VG é a soma vetorial da tensão no resistor VR, a qual está em fase com a corrente, com a tensão no capacitor VC. 14 Figuras 18a, 18 b e 18 c – Circuitos RC em série O diagrama fasorial correspondente é: Figura 19 – Diagrama fasorial Figura 20 – Diagrama fasorial As expressões matemáticas são: 𝑉𝐶 = 𝑉𝑚𝐶 . 𝑠𝑒𝑛 𝜔𝑡 𝐼 = 𝐼𝑚 . 𝑠𝑒𝑛 (𝜔𝑡 + 90) 𝑉𝑅 = 𝑉𝑚𝑅 . 𝑠𝑒𝑛 (𝜔𝑡 + 90) 𝑉𝐺 = 𝑉𝑚 . 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 + 90 − 𝜙) 15 Os triângulos de tensão impedância e potência descritos na Figura 21, são: Figuras 21a, 21b e 21c – Triângulos do circuito RC Da Figura 21a tiramos: 𝑉𝐺2 = 𝑉𝑅2 + 𝑉𝐶2 Ou 𝑉𝐺 = √𝑉𝑅2 + 𝑉𝐶2 cos ϕ = 𝑉𝑅 𝑉𝐺 tan 𝜙 = 𝑉𝐶 𝑉𝑅 Da Figura 21b tiramos: 𝑉𝐺 𝐼 = 𝑍 = Impedância do circuito 𝑉𝑅 𝐼 = 𝑅 = Resistência 𝑉𝐶 𝐼 = 𝑋𝐶 = Reatância capacitiva 𝑍2 = 𝑅2 + 𝑋𝐶2 Ou 𝑍 = √𝑅2 + 𝑋𝐶2 Do triângulo de potência obtemos: 𝑃𝑎𝑝 = 𝑉𝐺 . 𝐼 = Potência aparente (VA) 𝑃 = 𝑉𝑅 . 𝐼 = Potência real (Watts) 𝑃 = 𝑉𝐺 . 𝐼 . cos 𝜙 Pr = 𝑉𝐶 . 𝐼 = Potência reativa (VAR) Em um circuito RC paralelo, a tensão é a mesma nos dois componentes, conforme a Figura 22. 16 Figura 22 – Capacitor em paralelo com resistor E o diagrama fasorial correspondente será o da Figura 23. Figura 23 – Diagrama fasorial As expressões matemáticas das correntes e da tensão são: 𝑉𝐺 = 𝑉𝑚 . 𝑠𝑒𝑛 𝜔𝑡 𝐼 = 𝐼𝑚 . 𝑠𝑒𝑛 (𝜔𝑡 + 𝜙) 𝐼𝑅 = 𝐼𝑅𝑚 . 𝑠𝑒𝑛 𝜔𝑡 𝐼𝐶 = 𝐼𝐶𝑚 . 𝑠𝑒𝑛 (𝜔𝑡 + 90) Os triângulos de corrente, impedância e potência são respectivamente: Figura 24a, 24b e 24c – Triângulos de corrente, impedância e potência 17 Da Figura 24a, tiramos: 𝐼2 = 𝐼𝑅2 + 𝐼𝐶2 ou 𝐼 = √𝐼𝑅2 + 𝐼𝐶2 Da Figura 24b, tiramos: 1 𝑉𝐺 = 1 𝑍 , 𝐼𝐶 𝑉 = 1 𝑋𝐶 , 𝐼𝑅 𝑉𝐺 = 1 𝑅 1 𝑍2 = 1 𝑋𝐶2 + 1 𝑅2 e resolvendo obtemos 𝑍 = 𝑋𝐶 . 𝑅 √𝑋𝐶2 + 𝑅2 Da Figura 24c tiramos: 𝑃𝑎𝑝 = 𝑉𝐺 . 𝐼 = Potência aparente (em VA) 𝑃 = 𝑉𝐺 . 𝐼𝑅 = 𝑉𝐺 . 𝐼 cos 𝜙 = Potência real (W) Pr = 𝑉𝐺 . 𝐼𝐶 = 𝑉𝐺 . 𝐼 . 𝑠𝑒𝑛 𝜙 = Potência reativa (VAR) O ângulo de defasagem (ϕ) pode ser calculado em qualquer caso por: cos 𝜙 = 𝐼𝑅 𝐼 ou cos 𝜙 = 𝑍 𝑅 ou cos 𝜙 = 𝑃 𝑃𝑎𝑝 FINALIZANDO Vimos nessa aula que os indutores e os capacitores têm papel fundamental no processo produtivo. Por essa razão, o engenheiro deve conhecer esses componentes assim como suas funções exercidas na prática, lembrando ainda que tais componentes são passivos, ou seja, seu uso no circuito elétrico não aumenta a intensidadede corrente ou tensão, e de tais componentes têm função primordial na linha de produção. Bom estudo! 18 REFERÊNCIAS BOYLESTAD, R. Introdução à análise de circuitos. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. BOYLESTAD, R.; NASHELSKY, L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 11. ed. São Paulo: Pearson, 2013. MARIOTTO, P. Análise de circuitos elétricos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2003. NILSSON, J; RIEDEL, S. Circuitos elétricos. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.
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