Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Prof. Gustavo Gramática Página 1 de 4 Lista de Exercícios – Termos Associados ao Verbo 1. (EEAR/BR - 2019) Marque a alternativa correta quanto à classificação sintática dos pronomes destacados. a) Preciso de ti na execução do projeto. (objeto indireto) b) O mau exemplo incomoda a mim. (objeto indireto) c) Encontrei-o em decúbito, ao chão. (sujeito) d) Contei-lhes toda a verdade. (objeto direto) (CEFET/ MG - 2019) Leia o texto e responda à questão. Uma noite real no Museu Nacional Gira coroa da majestade samba de verdade, identidade cultural Imperatriz é o relicário no bicentenário do Museu Nacional Onde a musa inspira a poesia a cultura irradia o cantar da Imperatriz é um palácio, emoldura a beleza abrigou a realeza, patrimônio é raiz que germinou e floresceu lá na colina a obra-prima viu o meu Brasil nascer no anoitecer dizem que tudo ganha vida paisagem colorida deslumbrante de viver bailam meteoros e planetas dinossauros, borboletas brilham os cristais o canto da cigarra em sinfonia relembrou aqueles dias que não voltarão jamais À luz dourada do amanhecer as princesas deixam o jardim os portões se abrem pro lazer pipas ganham ares encontros populares decretam que a Quinta é pra você Samba de enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense em 2018 Compositores: Jorge Arthur, Maninho do Ponto, Julinho Maestro, Marcio Pessi, Piu das Casinhas 2. (CEFET/ MG - 2019) Nos sambas de enredo, é comum que termos e frases coloquiais estejam combinados com termos e frases em linguagem formal. Sobre os versos “bailam meteoros e planetas / dinossauros, borboletas” é correto afirmar que apresentam linguagem a) formal, pois o sujeito da oração é indeterminado. b) coloquial, pois a oração não é formada com sujeito. c) coloquial, pois a oração é formada por sujeito simples. d) formal, pois o sujeito foi colocado após o verbo da oração. (UNIFESP/SP - 2019) Leia o trecho inicial do conto “A doida”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão a seguir. A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado. E a rua descia para o córrego, onde os meninos costumavam banhar-se. Era só aquele chalezinho, à esquerda, entre o barranco e um chão abandonado; à direita, o muro de um grande quintal. E na rua, tornada maior pelo silêncio, o burro que pastava. Rua cheia de capim, pedras soltas, num declive áspero. Onde estava o fiscal, que não mandava capiná-la? Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho. Só com essa intenção. Mas era bom passar pela casa da doida e provocá-la. As mães diziam o contrário: que era horroroso, poucos pecados seriam maiores. Dos doidos devemos ter piedade, porque eles não gozam dos benefícios com que nós, os sãos, fomos aquinhoados. Não explicavam bem quais fossem esses benefícios, ou explicavam demais, e restava a impressão de que eram todos privilégios de gente adulta, como fazer visitas, receber cartas, entrar para irmandades. E isso não comovia ninguém. A loucura parecia antes erro do que miséria. E os três sentiam-se inclinados a 1lapidar a doida, isolada e agreste no seu jardim. Como era mesmo a cara da doida, poucos poderiam dizê-lo. Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma. Só o busto, recortado numa das janelas da frente, as mãos magras, ameaçando. Os cabelos, brancos e desgrenhados. E a boca inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa voz rouca. Eram palavras da Bíblia misturadas a termos populares, dos quais alguns pareciam escabrosos, e todos fortíssimos na sua cólera. (...) (Contos de aprendiz, 2012.) ____________________ 1 lapidar: apedrejar. 3. (UNIFESP/SP - 2019) Em “Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma” (3º parágrafo), o termo sublinhado é um verbo a) de ligação. b) transitivo direto e indireto. c) transitivo direto. d) intransitivo. e) transitivo indireto. (UFU/MG - 2018) Leia o quadrinho abaixo e responda à questão. O último quadro da tirinha apresenta um uso pronominal bastante comum na modalidade oral do português brasileiro, independentemente do grau de escolaridade, da região ou da classe social do falante. 4. (UFU/MG - 2018) Assinale a alternativa que apresenta o uso pronominal equivalente à modalidade escrita e cujo registro seja formal. a) Quais as chances de a senhora avaliar a ele com carinho e compreensão? b) Quais as chances de a senhora avaliar-lhe com carinho e compreensão? c) Quais as chances de a senhora lhe avaliar com carinho e compreensão? d) Quais as chances de a senhora avaliá-lo com carinho e compreensão? (EPCAR (AFA) 2018) Leia o texto e responda à questão. Redes sociais e colaboração extrema: o fim do senso crítico? Eugênio mira Conectados. Essa palavra nunca fez tanto sentido quanto agora. 1Quando se discutia no passado sobre como os homens agiriam com o advento da aldeia global (...) não se imaginava o quanto esse processo seria rápido e devastador. Prof. Gustavo Gramática Página 2 de 4 (...) quando McLuhan apresentou o termo, em 1968, 2ele sequer imaginaria que não seria a televisão a grande responsável pela interligação mundial absoluta, e sim a internet, que na época não passava de um projeto militar do governo dos Estados Unidos. 3A internet mudou definitivamente a maneira como nos comunicamos e percebemos o mundo. Graças a ela temos acesso a toda informação do mundo à distância de apenas um toque de botão. 4E quando começaram a se popularizar as redes sociais, 5um admirável mundo novo abriu-se ante nossos olhos. Uma ferramenta colaborativa extrema, que possibilitaria o contato imediato com outras pessoas através de suas afinidades, fossem elas políticas, religiosas ou mesmo geográficas. Projetos colaborativos, revoluções instantâneas... 6Tudo seria maior e melhor quando as pessoas se alinhassem na órbita de seus ideais. 7O tempo passou, e essa revolução não se instaurou. Basta observar as figuras que surgem nos sites de humor e outros assemelhados. Conhecidos como memes (termo cunhado pelo pesquisador Richard Dawkins, que representaria para nossa memória o mesmo que os genes representam para o corpo, ou seja, uma parcela mínima de informação), 8essas figuras surgiram com a intenção de demonstrar, de maneira icônica, algum sentimento ou sensação. 9Ao fazer isso, a tendência de ter uma reação diversa daquelas expressas pelas tirinhas é cada vez menor. Tudo fica branco e preto. 10Ou se aceita a situação, ou revolta-se. Sem chance para o debate ou questionamento. (...) A situação é ainda mais grave quando um dos poucos entes criativos restantes na internet produz algum comentário curto, espirituoso ou reflexivo, a respeito de alguma situação atual ou recente... Em minutos pipocam cópias da frase por todo lugar. 11Copia-se sem o menor bom senso, sem créditos. Pensar e refletir, e depois falar, são coisas do passado. O importante agora é 12copiar e colar, e depois partilhar. 13As redes sociais desfraldaram um mundo completamente novo, e o uso que o homem fará dessas ferramentas é o que dirá o nosso futuro cultural. 14Se enveredarmos pela partilha de ideias, gestando-as em nossas mentes e depois as passando a outros, será uma estufa mundial a produzir avanços incríveis em todos os campos de conhecimento. Se, no entanto, as redes sociais se transformarem em uma rede neural de apoio à preguiça de pensar, a humanidade estará fadada ao processo antinatural de regressão. O advento das redes sociais trouxe para perto das pessoas comuns os amigos distantes, os ídolos e as ideias consumistas mais arraigados, mas aparentemente está levando para longe algo muito mais humano e essencial na vida em sociedade: o senso crítico. Será uma troca justa? http://obviousmag.org/archives/2011/09/redes_sociais_e_colaboracao_extrema_O_fim_do_senso_critico-.htm. Adaptado. Acesso em: 21 fev 2017. 5. (EPCAR (AFA) 2018) O vocábulo se exerce, na língua portuguesa, várias funções. Observe seu uso nos excertos a seguir. I. “Copia-se sem o menor bom senso...” (ref. 11) II. “...um admirável mundo novo abriu-se ante nossos olhos.” (ref. 5) III. “Ou se aceita a situação ou revolta-se.” (ref. 10) IV. “O tempo passou, e essa revolução não se instaurou”.(ref. 7) Assinale a análise correta. a) Em I, o “se” é uma partícula expletiva ou de realce. b) Em II, o “se” é uma partícula integrante do verbo. c) Em III, o “se” foi utilizado para flexionar o verbo na voz passiva sintética em ambas as ocorrências. d) Em IV, o “se” classifica-se como pronome apassivador. (ESPCEX (AMAN) 2018) Leia o texto e responda à questão. Noruega como Modelo de Reabilitação de Criminosos O Brasil é responsável por uma das mais altas taxas de reincidência criminal em todo o mundo. No país, a taxa média de reincidência (amplamente admitida, mas nunca comprovada empiricamente) é de mais ou menos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos voltam a cometer algum tipo de crime após saírem da cadeia. Alguns perguntariam "Por quê?". E eu pergunto: "Por que não?" O que esperar de um sistema que propõe reabilitar e reinserir aqueles que cometerem algum tipo de crime, mas nada oferece, para que essa situação realmente aconteça? Presídios em estado de depredação total, pouquíssimos programas educacionais e laborais para os detentos, praticamente nenhum incentivo cultural, e, ainda, uma sinistra cultura (mas que diverte muitas pessoas) de que bandido bom é bandido morto (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche). Situação contrária é encontrada na Noruega. Considerada pela ONU, em 2012, o melhor país para se viver (1º no ranking do IDH) e, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Avante Brasil, o 8º país com a menor taxa de homicídios no mundo, lá o sistema carcerário chega a reabilitar 80% dos criminosos, ou seja, apenas 2 em cada 10 presos voltam a cometer crimes; é uma das menores taxas de reincidência do mundo. Em uma prisão em Bastoy, chamada de ilha paradisíaca, essa reincidência é de cerca de 16% entre os homicidas, estupradores e traficantes que por ali passaram. Os EUA chegam a registrar 60% de reincidência e o Reino Unido, 50%. A média europeia é 50%. A Noruega associa as baixas taxas de reincidência ao fato de ter seu sistema penal pautado na reabilitação e não na punição por vingança ou retaliação do criminoso. A reabilitação, nesse caso, não é uma opção, ela é obrigatória. Dessa forma, qualquer criminoso poderá ser condenado à pena máxima prevista pela legislação do país (21 anos), e, se o indivíduo não comprovar estar totalmente reabilitado para o convívio social, a pena será prorrogada, em mais 5 anos, até que sua reintegração seja comprovada. O presídio é um prédio, em meio a uma floresta, decorado com grafites e quadros nos corredores, e no qual as celas não possuem grades, mas sim uma boa cama, banheiro com vaso sanitário, chuveiro, toalhas brancas e porta, televisão de tela plana, mesa, cadeira e armário, quadro para afixar papéis e fotos, além de geladeiras. Encontra-se lá uma ampla biblioteca, ginásio de esportes, campo de futebol, chalés para os presos receberem os familiares, estúdio de gravação de música e oficinas de trabalho. Nessas oficinas são oferecidos cursos de formação profissional, cursos educacionais, e o trabalhador recebe uma pequena remuneração. Para controlar o ócio, oferecer muitas atividades, de educação, de trabalho e de lazer, é a estratégia. A prisão é construída em blocos de oito celas cada (alguns dos presos, como estupradores e pedófilos, ficam em blocos separados). Cada bloco tem sua cozinha. A comida é fornecida pela prisão, mas é preparada pelos próprios detentos, que podem comprar alimentos no mercado interno para abastecer seus refrigeradores. Todos os responsáveis pelo cuidado dos detentos devem passar por no mínimo dois anos de preparação para o cargo, em um curso superior, tendo como obrigação fundamental mostrar respeito a todos que ali estão. Partem do pressuposto que, ao mostrarem respeito, os outros também aprenderão a respeitar. A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação ao sistema da maioria dos países, como o brasileiro, americano, inglês, é que ele é fundamentado na ideia de que a Prof. Gustavo Gramática Página 3 de 4 prisão é a privação da liberdade, e pautado na reabilitação e não no tratamento cruel e na vingança. O detento, nesse modelo, é obrigado a mostrar progressos educacionais, laborais e comportamentais, e, dessa forma, provar que pode ter o direito de exercer sua liberdade novamente junto à sociedade. A diferença entre os dois países (Noruega e Brasil) é a seguinte: enquanto lá os presos saem e praticamente não cometem crimes, respeitando a população, aqui os presos saem roubando e matando pessoas. Mas essas são consequências aparentemente colaterais, porque a população manifesta muito mais prazer no massacre contra o preso produzido dentro dos presídios (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche). LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do Portal atualidadesdodireito.com.br. Estou no blogdolfg.com.br. ** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga e pesquisadora do Instituto Avante Brasil. FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil.com.br/noruega-como-modelo- de-reabilitacao-de-criminosos/. Acessado em 17 de março de 2017. 6. (ESPCEX (AMAN) 2018) Assinale o período que contém agente da passiva: a) O Brasil é responsável por uma das mais altas taxas de reincidência criminal em todo o mundo. b) Há pouquíssimos programas educacionais e laborais para os detentos. c) A comida é oferecida pela prisão, mas é preparada pelos próprios detentos. d) Situação contrária é encontrada na Noruega. e) A reincidência é de cerca de 16% entre os homicidas, estupradores e traficantes que por ali passaram. 7. (UNESP/SP- 2018) Para responder à(s) questão(ões), leia o soneto de Raimundo Correia (1859-1911). Esbraseia o Ocidente na agonia O sol... Aves em bandos destacados, Por céus de ouro e de púrpura raiados, Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se, além, da serrania Os vértices de chama aureolados, E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia... Um mundo de vapores no ar flutua... Como uma informe nódoa, avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua... A natureza apática esmaece... Pouco a pouco, entre as árvores, a lua Surge trêmula, trêmula... Anoitece. (Poesia completa e prosa, 1961.) a) Que processo o soneto de Raimundo Correia retrata? b) A primeira estrofe do soneto é composta por três períodos simples em ordem indireta (“Esbraseia o Ocidente na agonia / O sol”; “Aves em bandos destacados, / Por céus de ouro e de púrpura raiados, / Fogem”; e “Fecha-se a pálpebra do dia”). Reescreva esses três períodos em ordem direta. (UERJ/RJ - 2018) Leia o texto e responda à questão. Ao oferecer-se para ajudar o cego, o homem que depois roubou o carro não tinha em mira, nesse momento preciso, qualquer intenção malévola, muito pelo contrário, o que ele fez não foi mais que obedecer àqueles sentimentos de generosidade e altruísmo que são, como toda a gente sabe, duas das melhores características do género humano, podendo ser encontradas até em criminosos bem mais empedernidos do que este, simples 1ladrãozeco de automóveis sem esperança de avanço na carreira, explorado pelos verdadeiros donos do negócio, que esses é que se vão aproveitando das necessidades de quem é pobre. (...) Foi só quando já estava perto da casa do cego que a ideia se lhe apresentou com toda a naturalidade (...). Os cépticos acerca da natureza humana, que são muitos e teimosos, vêm sustentando quese é certo que a ocasião nem sempre faz o ladrão, também é certo que o ajuda muito. 2Quanto a nós, permitir-nos-emos pensar que se o cego tivesse aceitado o segundo oferecimento do afinal falso samaritano, naquele derradeiro instante em que a bondade ainda poderia ter prevalecido, referimo-nos o oferecimento de lhe ficar a fazer companhia enquanto a mulher não chegasse, quem sabe se o efeito da responsabilidade moral resultante da confiança assim outorgada não teria inibido a tentação criminosa e feito vir ao de cima o que de luminoso e nobre sempre será possível encontrar mesmo nas almas mais perdidas. JOSÉ SARAMAGO Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 8. (UERJ/RJ - 2018) Observe a mudança de posição do advérbio afinal nos enunciados a seguir: 1) Quanto a nós, permitir-nos-emos pensar que se o cego tivesse aceitado o segundo oferecimento do afinal falso samaritano, (ref. 2) 2) Quanto a nós, permitir-nos-emos pensar que se o cego tivesse aceitado afinal o segundo oferecimento do falso samaritano. Explique a diferença de sentido entre os enunciados, a partir da posição do advérbio. Justifique, ainda, a opção pela primeira construção, tendo em vista a sequência dos acontecimentos. (FAMERP/SP - 2018) Leia um trecho do ensaio de Antonio Candido para responder à(s) questão(ões). Na extraordinária obra-prima Grande sertão: veredas há de tudo para quem souber ler, e nela tudo é forte, belo, impecavelmente realizado. Cada um poderá abordá-la a seu gosto, conforme o seu ofício; mas em cada aspecto aparecerá o traço fundamental do autor: a absoluta confiança na liberdade de inventar. Numa literatura de imaginação vasqueira, onde a maioria costeia o documento bruto, é deslumbrante essa navegação no mar alto, esse jorro de imaginação criadora na linguagem, na composição, no enredo, na psicologia. (Antonio Candido. Tese e antítese, 1971.) 9. (FAMERP/SP - 2018) Em “mas em cada aspecto aparecerá o traço fundamental do autor” (1º parágrafo), a expressão em destaque exerce a mesma função sintática da expressão destacada em: a) “nela tudo é forte, belo, impecavelmente realizado” (1º parágrafo). b) “Cada um poderá abordá-la a seu gosto, conforme o seu ofício” (1º parágrafo). c) “Na extraordinária obra-prima Grande Sertão: Veredas há de tudo para quem souber ler” (1º parágrafo). d) “Na extraordinária obra-prima Grande Sertão: Veredas há de tudo para quem souber ler” (1º parágrafo). e) “onde a maioria costeia o documento bruto” (2º parágrafo). Prof. Gustavo Gramática Página 4 de 4 (UEM/PR - 2018) Leia o texto e responda à questão. Ser como todo mundo? (Roberto DaMatta*) Uma palavra resume a crise brasileira: a igualdade. 1Conforme 2tenho salientado no meu trabalho e nesta coluna, o Brasil não tem problemas com a desigualdade. Ele 3ama de paixão as hierarquias e as gradações 4que 5estão em toda parte. Em nossas leis 6sobram privilégios, penachos, recursos, isenções7... Nossa formação nacional teve no escravismo, no patrimonialismo aristocrático e no compadrio das casas-grandes e nos grandes apartamentos dos “bairros nobres” de nossas cidades o seu centro e razão. Não é fácil ser igualitário com essa folha corrida. Sempre 8fomos dinamizados 9por elos pessoais oficializados e legais. Nosso projeto de vida funda-se no arrumar-se e no “10subir na vida”. Alcançar o baronato — ser alguém —, “11virar famoso” e, do alto da sua celebrização, ter direito a fazer tudo sem ser molestado pelo bando de caretas que, infelizmente, não são como nós. Saber com certeza quem é quem, 12mapear 13com precisão genealogias familísticas, poder dizer com um riso superior — “14conheci Frank Sinatra 15quando ele morava em Hoboken e era um merdinha”16; 17ou, “esse eu conheço!” — confirma a nossa ontologia segundo 18a qual “conhecer” ou relacionar-se pessoalmente é um modo de estar num mundo ordenado por ricos e pobres, superiores e inferiores, homens e mulheres, brancos e negros, limpos e sujos. O modo de navegação social confirma um universo ordenado em camadas e é melhor você estar “por cima”. Nossa questão mais angustiante, o que eventualmente nos tira do sério, não é 19saber 20que tudo tem um dono, e dele receber ordens. Não21! 22É entrar numa sala 23onde outras pessoas também aguardam na fila, e todos se olham com uma ofensiva indiferença porque ninguém sabe quem é quem. 24No Brasil, a igualdade é vivida como uma ofensa ou um castigo. 25O anonimato associado à cidadania nos perturba. Para nós, o maior castigo não é a prisão, é saber que somos iguais a todo mundo porque burlamos a lei que foi feita para todos, menos para nós. 26Quando indiciados, viramos vítimas de uma maldosa igualdade republicana! No Brasil lido como Estado nacional, somos todos “cidadãos”. Mas no Brasil relacional da casa e das 27amizades que nos impedem de dizer não, somos todos parentes e amigos. Não somos como todo mundo. 28Saiu ao pai ou ao avô... Merece a nomeação. Ademais, é afilhado do presidente e tem “pinta” e “jeito” de alto funcionário: não vai fazer feio. A “29aparência”30. 31Eis um traço merecedor de um tratado de sociologia. Meu mentor harvardiano, Richard Moneygrand, dizia que a “32luta das aparências” (e das recomendações e empenhos) é tão ou 33mais importante do que a 34luta de classes no Brasil... 35— Logo vi que era “36gentinha”... — Você viu o “jeito” dele (ou dela)? Descobri imediatamente quem era pelo modo como ele (ou ela) se sentou, comeu e falou. 37— Você viu a roupa? Notou o sapato? Atinou para a sujeira das unhas? 38— Eu até que tolero a pobreza, mas não me conformo com falta de limpeza. Um pobre precisa ser limpo. 39Sobretudo se for preto... Nosso inferno não são os “40palácios” onde poucos entram, todos se conhecem e sabem dos seus lugares, 41mas os espaços abertos. 42Sobretudo quando temos que esperar o sinal para caminhar e sentir como todo mundo! 43— Eu sei que não sou e jamais vou ser todo mundo! — diz o magistrado do Tribunal Supremo. É justo nesse “todo mundo” que jaz, 44como um 45cadáver oculto, o 46nosso problema. 47Pois como ser como todo mundo se mamãe nos criou para ser ministro? 48Como ser como todo mundo se a nossa família tem origem nobre? 49Empobrecemos50, mas “temos berço”. Como, então, seguir as normas de urbanidade deste nosso mundo urbano? 51— Não entro em fila! Não tenho paciência para esperas imbecis. Pago a um criado para tanto. Tenho que cuidar do meu projeto político socialista, que é urgente e está atrasado. Como é que eu vou ter tempo para ser como os outros? A República proclamada sem um viés igualitário 52só tem a perna da liberdade. 53A da 54igualdade que, ao lado da fraternidade, 55regularia o seu caminho, nasceu 56atrofiada e até hoje permanece torta. A liberdade de gritar, de confrontar, é reveladora. 57Só grita quem pode, e calar é sinal de juízo e respeito. 58Hoje assistimos às tramas para impedir a realização da igualdade que, para muitos poderosos, foi longe demais igualando quem deveria estar acima da lei. 59— Como ser como todo mundo numa sociedade marcada por privilégios? Qual a fórmula do viver democrático e igualitário? 60Aprenda a dizer não a si mesmo. É nesse abrir-se para ser como todo mundo que está o espírito igualitário. A alma da democracia. *Roberto DaMatta é antropólogo e colunista dos jornais O Estado de São Paulo e O Globo. (Texto adaptado do original e disponível em <https://oglobo.globo.com/opiniao/ser-como-todo-mundo-21656782>. Acesso em 30 ago. 2017) _________________________ Ontologia: Parte da filosofia que trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres (Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Curitiba: Positivo, 2010) 10. (UEM/PR - 2018) Assinale o que for correto quanto ao emprego de elementos linguísticosno texto. 01) Na referência 3, o verbo “ama” é transitivo indireto, por isso a necessidade da preposição “de”, que liga o complemento “paixão” ao vocábulo “ama”. 02) Na referência 6, a forma verbal “sobram” encontra-se no plural para manter a concordância com o sujeito da sentença “Em nossas leis”. 04) A locução verbal “tenho salientado” (referência 2) remete a um evento iniciado no passado, mas com alcance até o presente. 08) A expressão “com precisão” (referência 13) é equivalente semanticamente a um advérbio de modo, caracterizando o processo verbal indicado por “mapear” (referência 12). 16) A expressão “por elos pessoais oficializados e legais.” (referência 9) exerce função sintática de agente da passiva em relação ao processo verbal “fomos dinamizados” (referência 8). GABARITO: 1.A 2.D 3.D 4.D 5.D 6.C 7. 8. 9.B 10. 28
Compartilhar