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Profª. Natália Interpretação de Texto Página 1 de 4 Interpretação de texto: Recursos expressivos TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: “É Brasileiro, já passou de Português...” A ideia de uma língua única, que não se altera, é um mito, pois a heterogeneidade social e cultural implica a heterogeneidade linguística. (...) Embora Brasil e Portugal tenham uma língua comum, é nítido a qualquer falante do português que existem diferenças entre o português falado nos dois países – claro que elas também existem com relação aos demais países de língua portuguesa. (...) Essas diferenças são tão grandes que podemos afirmar que no Brasil se fala uma língua diferente da de Portugal, que os linguistas denominaram de português brasileiro. Isso é tão evidente que, se você observar um processador de textos, o Word, por exemplo, na ferramenta idiomas há as opções português e português brasileiro ou português (Brasil). Por quê? Como são línguas diferentes, o corretor automático do processador precisa saber em que “língua” está sendo escrito o documento, pois o português europeu e o brasileiro seguem regras diferentes. Quando ouvimos um habitante de Portugal falando, percebemos imediatamente um uso diverso da língua. A diferença mais perceptível é de ordem fonológica, ou seja, na maneira de produzir os sons da língua. Identificamos rapidamente que ele fala português, porém com “sotaque ou acento lusitano”. Se atentarmos com mais cuidado, perceberemos, entretanto, que as diferenças não são apenas de ordem fonológica. Há também diferenças sintáticas (poucas) e lexicais. Um mesmo conceito é designado por significantes diferentes, o que prova o caráter imotivado do signo linguístico. (...) (Ernani Terra, Revista Língua Portuguesa, adaptado, julho/2018) 1. (ESPM) O autor defende que: a) Há diferenças linguísticas tão grandes, com regras também tão diferentes, que se constatam duas línguas diversas: o português de Portugal e o português europeu. b) Diferenças de ordem fonológica ocorrem quando um mesmo significado é designado por significantes diferentes. c) Diferenças linguísticas em outros países, como Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor Leste e São Tomé e Príncipe, são tão pequenas que não chegam a caracterizar línguas diferentes. d) As alterações linguísticas entre Portugal e Brasil ocorrem principalmente, por serem mais verificáveis, no campo da escrita. e) O signo linguístico não necessita, para sua existência, de um caráter motivado. 2. (ESPM) O texto alude ao fato de haver diferenças fonéticas, sintáticas e lexicais entre o português de Portugal e o do Brasil. Na listagem abaixo, há exemplos dos três casos de diferenças. Assinale o item que exemplifica apenas diferenças lexicais: Portugal Brasil a) económico omnipotente econômico onipotente b) estou a trabalhar interesso-me por si estou trabalhando me interesso por você c) bica hospedeira de bordo café aeromoça d) gostaria de falar consigo gostaria de falar com você e) fenómeno dezasseis fenômeno dezesseis 3. (G1 - CPS) Leia a letra da música “Segue o seco” de Carlinhos Brown. A boiada seca Na enxurrada seca A trovoada seca Na enxada seca Segue o seco sem sacar que o caminho é seco sem sacar que o espinho é seco sem sacar que o seco é o Ser Sol Sem sacar que algum espinho seco secará E a água que sacar será um tiro seco E secará o seu destino seca Ô chuva vem me dizer Se posso ir lá em cima prá derramar você Ó chuva preste atenção Se o povo lá de cima vive na solidão Se acabar não acostumando Se acabar parado calado Se acabar baixinho chorando Se acabar meio abandonado Pode ser lágrimas de São Pedro Ou talvez um grande amor chorando Pode ser o desabotoado céu Pode ser coco derramado <https://tinyurl.com/yanhydsb> Acesso em: 02.12.2017. Um dos importantes aspectos para a interpretação dessa música é a sonoridade de seus versos. A repetição do fonema consonantal /s/ – como em “sacar” e “ser” – colabora para a construção e representação do cenário construído pela canção: a seca. Profª. Natália Interpretação de Texto Página 2 de 4 Selecione a alternativa em que a repetição intencional de fonema consonantal também acontece. a) [...] sou um mulato nato no sentido lato Mulato democrático do litoral [...] Veloso, Caetano. b) Eu vi quando você me viu Seus olhos pousaram nos meus Num arrepio sutil [...] Lins, Claudio c) [...] Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas [...] Cruz e Sousa d) [...] O meu pai era paulista/Meu avô, pernambucano O meu bisavô, mineiro/Meu tataravô, baiano. Buarque, Chico e) Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua! Bilac, Olavo TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: AS COUSAS DO MUNDO Neste mundo é mais rico o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais carepa; Com sua língua, ao nobre o vil decepa: O velhaco maior sempre tem capa. Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos falar pode, mais increpa; Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. A flor baixa se inculca por tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa. Mais isento se mostra o que mais chupa. Para a tropa do trapo vazo a tripa E mais não digo, porque a Musa topa Em apa, epa, ipa, opa, upa. (Gregório de Matos Guerra, Seleção de Obras Poéticas) 4. (FATEC) Em "Para a tropa do trapo vazo a tripa", pode-se constatar que o poeta teve grande cuidado com a seleção e disposição das palavras que compõem a sonoridade do verso, para salientar certos fonemas que se repetem (principalmente os "pês" e os "tês"), utilizando, ao mesmo tempo, palavras que se diferenciam por mudanças fonéticas mínimas (tropa/trapo/tripa). Os recursos estilísticos empregados aí foram a) personificação e alusão. b) paralelismo e comparação. c) aliteração e paronomásia. d) assonância e preterição. e) metáfora e metonímia. 5. (G1 - IFAL) «Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras coisas, mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: “Vem, já, já…”. E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar. Camilo achou-se diante de um longo véu opaco… pensou rapidamente no inexplicável de tantas coisas. A voz da mãe repetia- lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: “Há mais coisas no céu e na terra do que sonha a filosofia…”. (MACHADO DE ASSIS. Obras completas em quatro volumes, volume 2. São Paulo: Editora Nova Aguilar, 2015, p. 438) Considerando a sentença do texto: A casa olhava para ele, assinale a opção em que há perfeita correspondência de figura de linguagem. a) Aliteração: repetição ordenada do mesmo som consonantal. b) Assonância: repetição ordenada do mesmo som vocálico. c) Personificação: atribuir características humanas a não humanos. d) Catacrese: nomear algo com um termo tomado de outra coisa. e) Antítese: aproximação de termos contrários. 6. (EBMSP) A onda a onda anda aonde anda a onda? a onda ainda ainda onda ainda anda aonde? aonde? a onda a onda BANDEIRA, Manoel. A onda. A Estrela da Tarde, 1960. Disponível em: <https://pensador.uol.com.br>. Acesso em: 16 ago. 2016. Objetivando imitar o movimento da onda, por meio de uma fluidez sonora, Manoel Bandeira utiliza-se de um recurso estilístico denominado a) pleonasmo poético, enfatizando, a partir da redundância, a potência do fluxo fluvial ou marinho que se move no ambiente aquático. b) assonância, valendo-se da repetição da mesma vogal tônica com a intenção de provocar um efeito de estilo associado à força das ondas. c) eco,por meio da seleção de termos com terminação idêntica, para sugerir um percurso impreciso do volume de água que segue seu destino. d) onomatopeia, mediante o uso de vocábulos, procurando imitar o rumor produzido pelo deslocamento da massa líquida de inestimável valor para a continuidade da vida na Terra. e) paronomásia, na medida em que, buscando sugerir o movimento recorrente da vaga, traz um jogo de palavras que se assemelham na pronúncia, mas são diferentes do ponto de vista semântico, em função de um efeito poético. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Em 1934, um redator de Nova York chamado Robert Pirosh largou o emprego bem remunerado numa agência de publicidade e rumou para Hollywood, Profª. Natália Interpretação de Texto Página 3 de 4 decidido a trabalhar como roteirista. Lá chegando, anotou o nome e o endereço de todos os diretores, produtores e executivos que conseguiu encontrar e enviou-lhes o que certamente é o pedido de emprego mais eficaz que alguém já escreveu, pois resultou em três entrevistas, uma das quais lhe rendeu o cargo de roteirista assistente na MGM. Prezado senhor: Gosto de palavras. 1Gosto de palavras gordas, untuosas, como lodo, torpitude, glutinoso, bajulador. Gosto de palavras solenes, como pudico, ranzinza, pecunioso, valetudinário. 2Gosto de palavras espúrias, enganosas, como mortiço, liquidar, tonsura, mundana. Gosto de suaves palavras com “V”, como Svengali, avesso, bravura, verve. Gosto de palavras crocantes, quebradiças, crepitantes, como estilha, croque, esbarrão, crosta. 3Gosto de palavras emburradas, carrancudas, amuadas, como furtivo, macambúzio, escabioso, sovina. 4Gosto de palavras chocantes, exclamativas, enfáticas, como astuto, estafante, requintado, horrendo. Gosto de palavras elegantes, rebuscadas, como estival, peregrinação, Elísio, Alcíone. Gosto de palavras vermiformes, contorcidas, farinhentas, como rastejar, choramingar, guinchar, gotejar. Gosto de palavras escorregadias, risonhas, como topete, borbulhão, arroto. Gosto mais da palavra roteirista que da palavra redator, e por isso resolvi largar meu emprego numa agência de publicidade de Nova York e tentar a sorte em Hollywood, mas, antes de dar o grande salto, fui para a Europa, onde passei um ano estudando, contemplando e perambulando. Acabei de voltar e ainda gosto de palavras. Posso trocar algumas com o senhor? Robert Pirosh - Madison Avenue, 385 Quarto 610 - Nova York - Eldorado 5-6024. (USHER, Shaun .(Org) Cartas extraordinárias: a correspondência inesquecível de pessoas notáveis. Trad. de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.p. 48.) 7. (EPCAR (AFA)) Considerando o texto, em que o autor agrupa as palavras para poder classificá-las, assinale a alternativa verdadeira: a) “choramingar” significa chorar aos berros, para chamar a atenção dos outros. Equivale à expressão “Quem não chora não mama”. b) Em “Gosto de palavras com “V”, como Svengali, avesso, bravura, nota-se a presença do efeito da aliteração, também usado em poesia. c) Em “Palavras escorregadias”, está presente a linguagem denotativa, que equivale, por exemplo, a “Os ombros suportam o mundo”. d) Em “onde passei um ano estudando”, o termo “onde” indica a posse de um lugar imaginário, a que o autor nunca foi. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O HOMEM VELHO O homem velho deixa a vida e morte para trás Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais O homem velho é o rei dos animais A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol As linhas do destino nas mãos a mão apagou Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock’n’roll As coisas migram e ele serve de farol A carne, a arte arde, a tarde cai No abismo das esquinas A brisa leve traz o olor fugaz Do sexo das meninas Luz fria, seus cabelos têm tristeza de néon Belezas, dores e alegrias passam sem um som Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom Os filhos, filmes, ditos, livros como um vendaval Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual Já tem coragem de saber que é imortal CAETANO VELOSO (caetanoveloso.com.br) 8. (UERJ SIMULADO) A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol (v. 5) Os filhos, filmes, ditos, livros como um vendaval (v. 17) Os recursos expressivos presentes em cada um dos versos acima são, respectivamente: a) aliteração − assíndeto b) polissíndeto − antítese c) hipérbole − eufemismo d) personificação − metonímia TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o poema de Camilo Pessanha para responder à(s) questão(ões) a seguir. INTERROGAÇÃO Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar, Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo; E apesar disso, crês? nunca pensei num lar Onde fosses feliz, e eu feliz contigo. Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito. E nunca te escrevi nenhuns versos românticos. Nem depois de acordar te procurei no leito, Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos. Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo A tua cor sadia, o teu sorriso terno... Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso Que me penetra bem, como este sol de Inverno. Passo contigo a tarde e sempre sem receio Da luz crepuscular, que enerva, que provoca. Eu não demoro o olhar na curva do teu seio Nem me lembrei jamais de te beijar na boca. Eu não sei se é amor. Será talvez começo. Eu não sei que mudança a minha alma pressente... Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço, Que adoecia talvez de te saber doente. (PESSANHA, Camilo. Clepsidra. São Paulo: Núcleo, 1989.) Profª. Natália Interpretação de Texto Página 4 de 4 9. (FATEC) O escritor português Camilo Pessanha faz parte da escola literária denominada Simbolismo. Assinale a alternativa que possui uma característica desse movimento artístico presente no poema. a) Elipse, pois o autor omite todos os pronomes pessoais a fim de criar musicalidade. b) Bucolismo, pois o amor faz grande reverência à natureza ao evocar a sua sonoridade. c) Aliteração, pois o autor explora a repetição harmônica e ritmada de sons consonantais. d) Determinismo, pois o meio em que vive a pessoa amada determina o ritmo de sua vida. e) Ornamentação exagerada, pois há vocabulário ritmado com exclusividade de rimas ricas. 10. (G1 - IFCE) Analise os trechos de músicas a seguir levando em consideração as figuras de linguagem. I. “Não existiria som se não houvesse o silêncio / Não haveria luz se não fosse a escuridão / A vida é mesmo assim / Dia e noite, não e sim.” (Lulu Santos/Nelson Mota) II. “Chove chuva, chove sem parar” (Jorge Ben Jor) III. “Mentes tão bem que parece verdade, o que você me fala / Vou acreditando” (Zezé Di Camargo e Luciano) IV. “Te trago mil rosas roubadas / Pra desculpar minhas mentiras / Minhas mancadas” (Cazuza) Indica a correspondência correta a alternativa a) I. Paradoxo, II. Aliteração, III. Ironia, IV. Sinestesia. b) I. Pleonasmo, II. Anacoluto, III. Metáfora, IV. Hipérbole. c) I. Antítese, II. Comparação, III. Ironia, IV. Hipérbole. d) I. Antítese, II. Pleonasmo, III. Ironia, IV. Hipérbole. e) I. Metáfora, II. Polissíndeto, III. Zeugma, IV. Hipérbole. Gabarito: 1 [E] 2 [C] 3 [C] 4 [C] 5 [C] 6 [E] 7 [B] 8 [A] 9 [C] 10 [D]