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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 1 UNICAMP Exasiu Prof. Fernando Andrade Aula 01 – Gêneros modelares Gêneros modelares: resumo, carta argumentativa e artigo de opinião; Outros gêneros: Editorial, Carta Aberta, Carta de Solicitação, Manifesto etc . . estretegiavestibulares.com.br vestibulares.estrategia.com EXTENSIVO 2024 Exasi u t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 3 1. GÊNEROS RELACIONADOS À PRÁTICA ACADÊMICA 3 1.1 Resumo 3 1.2 Resenha crítica 14 1.3 Texto de divulgação científica 17 2. TEXTOS ASSOCIADOS À OPINIÃO 21 2.1 Comentário crítico interpretativo 21 2.2 O artigo contra-argumentativo 26 2.3 O artigo de opinião 33 2.4 Editorial 38 3. O GÊNERO HÍBRIDO: CARTA 40 3.1 Carta Pessoal 41 3.2 Carta do leitor ou Carta argumentativa 44 3.3 Carta Aberta 48 3.4 Carta de reclamação 54 3.5 Carta de Solicitação 55 4. GÊNEROS ASSOCIADOS À NARRAÇÃO 57 4.1 Notícia de Jornal 57 5. OUTROS GÊNEROS 61 5.1 Manifesto 61 5.2 Abaixo-assinado 65 5.3 Palestra 67 6.PROPOSTAS DE REDAÇÃO 70 6.1Propostas comentadas 72 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 77 t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 3 Introdução Salve aluno, Seja bem-vindo! Esse é segundo pdf do curso de redação por gêneros para a UNICAMP/. Como provavelmente, você está ansioso por começar a escrever de acordo com os gêneros, resolvi propor esse pdf para dar instruções gerais de gêneros que considero modelares. Assim, você já pode ir treinando. Nos próximos pdfs, vou considerar questões mais básicas, mas essenciais: a estrutura de tipos textuais que devem servir de base para a escrita. Em todo caso, em cada pdf eu discuto gêneros diferentes. Além disso, no caderno de propostas, você encontra outro tanto de gêneros possíveis. A minha sugestão é que você treine sua habilidade de escrita em cada um dos gêneros principais e naqueles que você considera mais difíceis. Bom estudo, boas redações! 1. Gêneros relacionados à prática acadêmica Alguns gêneros estão associados à prática de pesquisa. Entre eles destacam-se, o resumo, a resenha crítica e o artigo de divulgação científica. 1.1 Resumo O domínio de técnicas de resumo é base para de qualquer produção escrita. Na verdade, esse gênero pode estar associado à narração ou a textos expositivos ou opinativos. Na prática acadêmica, porém, raramente há necessidade de resumos de texto narrativos, daí porque as bancas não exigem essa modalidade, e também por esse motivo, esse gênero será estudado associado à dissertação. Vamos começar de forma prática. A UFPR costuma solicitar aos alunos que façam resumos. Em 2018, a proposta era a que segue. Leia o texto abaixo. Em final de 2014, uma aluna de pós-doutorado da Universidade de Yale-EUA, a astrônoma americana Tabetha Boyajian, identificou flutuações inexplicáveis no brilho de uma estrela monitorada pelo telescópio espacial caça-planetas Kepler, da Nasa. As flutuações em nada lembravam o que se vê quando um planeta passa entre a estrela e o telescópio. Das mais de 150 mil estrelas observadas pelo Kepler, apenas uma – a estrela de Boyajian (EdB) – exibia uma curva de luz que desafia a lógica. O gráfico do brilho da estrela ao longo do tempo é chamado de curva de luz. O que acontece é que a curva da EdB mostrava depressões t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 4 similares a trânsitos aparentemente aleatórios, sendo que algumas duravam horas e outras persistiam por dias ou semanas. A EdB ainda guardaria mais surpresas. Outro astrônomo americano, Bradley Schaefer, afirmou que o brilho do astro tinha diminuído em mais de 15% no último século. A afirmação gerou polêmica, porque uma queda no brilho durante várias décadas parece quase impossível. O brilho das estrelas segue quase constante por bilhões de anos depois de seu nascimento e só sofre mudanças rápidas pouco antes de a estrela morrer. E as mudanças “rápidas” ocorrem numa escala temporal de milhões (ou bilhões) de anos, sendo acompanhadas de marcadores claros que não se veem na EdB. Segundo várias outras medidas, a estrela está na meia-idade. Não há evidências de que seja uma estrela variável, que pulsa num ritmo regular. Precisamos explicar então dois fenômenos incompreensíveis relacionados à EdB: depressões profundas e irregulares com duração de dias ou semanas e um escurecimento ao longo de pelo menos quatro anos (e possivelmente por todo o século passado). Embora os astrônomos prefiram uma única explicação para os dois fenômenos, se cada um é difícil de explicar, imagine como é difícil explicar os dois juntos. Alguns cenários propostos. Disco de gás e poeira As depressões irregulares e a redução de brilho da EdB por longos períodos são observadas em outras situações – em estrelas muito jovens, com planetas ainda em formação. Elas são rodeadas por discos de ar e poeira aquecidos pela luz da estrela que, no processo de formarem planetas, geram caroços, anéis e arcos. Nos discos observados de lado, esses aspectos podem reduzir a luz da estrela por curtos períodos, e discos ondulantes podem bloquear quantidades crescentes do brilho da estrela por décadas e séculos. Mas a estrela é de meia-idade, não jovem, e não parece conter nenhum disco. Buracos negros Alguns membros do projeto em Yale sugerem que um buraco negro poderia estar envolvido. Ou seja, um buraco negro de uma massa estelar numa órbita próxima em torno da EdB poderia bloquear a luz da estrela. Mas essa hipótese é falha, porque o buraco negro arrastaria a estrela para um lado e para o outro, criando um movimento oscilante detectável, algo que a equipe buscou e não achou. Megaestruturas alienígenas Uma sociedade alienígena teria construído uma quantidade absurda de painéis coletores de energia solar com uma grande variedade de tamanhos e órbitas em torno da estrela. O efeito combinado dos painéis menores do enxame seria bloquear parte da luz da estrela como uma tela translúcida. [...] Até que se obtenham mais medidas com outros equipamentos e mais análises de outras equipes, nossas especulações sobre a EdB serão limitadas apenas por nossa imaginação e uma saudável dose de física. Como acontece com os melhores quebra- cabeças da natureza, a jornada até chegarmos à verdade que está por trás dessa estrela enigmática está longe de acabar. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 5 (Kimberly Cartier e Jason Wright, Scientific American – Brasil, no. 174, junho 2017, p. 46 a 49. Adaptado) Elabore um resumo do texto acima que contemple as peculiaridades da estrela EdB, as explicações científicas para esse comportamento e o posicionamento da revista. Seu texto deve: - ter de 12 a 15 linhas; - respeitar as características de um resumo; - ser elaborado com suas próprias palavras. O que se espera que o candidato faça? Ficha técnica: Resumo Finalidade: Colocar os leitores em contato com as ideias importantes de um texto longo; divulgação de ideias; anotações próprias para estudo. Sequências discursivas: Depende do texto-fonte. Se for resumo de narrativa, ele mesclará sequências narrativas e analíticas. Se for resumo de texto expositivo ou opinativo, o resumo terá os mesmos traços. Estrutura: Nas primeiras linhas, faz-se a referenciação, ou seja, deve-se mencionar qual é o texto, quem o escreveu e onde foi publicado. A partir daí, devem-se atribuir sempre que possível as ideias ao autor. Para não se perder, é possível apresentar a tese do autor, sobretudo quando o texto-fonte for opinativo. Essa é a primeiraparte do resumo: referenciação e apresentação da tese ou do assunto. No desenvolvimento, passa-se a considerar os argumentos ou ideias defendidas pelo autor do texto original. Não é preciso conclusão, ou a conclusão do resumo pode ser simplesmente o resumo da conclusão do texto-fonte. Linguagem: A linguagem tende ao formal. Marcas de Gênero: Referenciação e muitas vezes um título que é simplesmente uma inscrição anunciando o gênero e seu tema. Alguma técnica especial? Compreender as partes do texto e deixá-las clara para o leitor. Uso de conectivos precisos para restabelecer as relações lógicas do texto original. Bom domínio da paráfrase. Nesse caso, a grade de correção da banca deixava claro o que seriam informações importantes no caso da proposta da UFPR. Vamos à grade, que, obviamente, só foi revelada aos alunos depois do vestibular e para quem teve acesso a correção do seu texto. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 6 O resumo é um tipo de texto com a estrutura fundada em três pilares. O texto-fonte, o leitor e o escritor. O que o leitor deseja é saber o que diz o texto-fonte. Nesse caso, quem produz um resumo deve ter todo o cuidado de destacar que se trata de uma ideia do autor do texto-fonte. Como fazer isso? Referenciando o autor logo no início e valendo-se de expressões como, “segundo o texto”, “o texto faz alusão”, “a matéria traz”, etc. Como exemplo, observe como seria isso no caso do parágrafo inicial da proposta UFPR. Em artigo de 2017, publicado na Scientific American, os autores Kimberly Cortier e Jason Whrighte, expõem suas observações sobre o misterioso comportamento da estrela de Boyaijan (EdB). Segundo os autores, a estrela apresenta variações de luz aleatórias, bem como mais de 15% do brilho no último século – comportamento que difere das outras 150 mil estrelas observadas pelo telescópio caça-planetas Kepler. Referenciação Referenciação Expressões que retomam a referenciação Máscara: Não se fala em máscara, pois o resumo não deixa marcas de quem está escrevendo e porque está escrevendo. Mas há algo que identifica o resumo, a referenciação. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 7 Normalmente, elas aparecem no final do texto como uma espécie de nota de rodapé. Nesse caso, a referência é completa. Nesse caso, é bem fácil. Vamos supor que o texto tenha sido extraído da internet e a indicação seja essa https://istoe.com.br/uma-nova-e-preocupante-evasao- escolar/, como referenciar? Em alguma parte da proposta deve haver a indicação do autor, ou do título do texto ou mesmo do lugar onde foi publicado. Supondo que não haja muita informação, pode-se começar o resumo da seguinte maneira: “Recentemente, foi publicado na internet um post/artigo cujo título era “x” e considerava questões relacionadas a...” O próximo item avaliado pela banca tinha a ver com a capacidade de o candidato reconhecer as informações essenciais. Faça a referenciação e use expressões de retomada da referenciação Informações principais t.me/CursosDesignTelegramhub https://istoe.com.br/uma-nova-e-preocupante-evasao-escolar/ https://istoe.com.br/uma-nova-e-preocupante-evasao-escolar/ ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 8 Onde estariam essas informações no texto? Em artigo de 2017, publicado na Scientific American, os autores Kimberly Cortier e Jason Whrighte expõem suas observações sobre o misterioso comportamento da estrela de Boyaijan (EdB) descrito por Tabatha Boyajian. Segundo os autores, a estrela apresenta variações de luz aleatórias, bem como mais de 15% do brilho no último século – comportamento que difere das outras 150 mil estrelas observadas pelo telescópio caça-planetas Kepler. Basicamente, o texto gira em torno exatamente das oscilações dessa estrela. Trata-se de um texto expositivo. Apresenta o tema, a estrela EdB , e o que se deseja discutir sobre ela, a observação de traços atípicos. Isso é o que deve se seguir após a referenciação. O autor dessa introdução apresenta a ideia geral e inclusive os dois problemas observados, mas de forma bastante sumária, o que levou a banca a atribuir a nota “bom” e não “muito bom”. Depois da exposição da tese, o autor deve perceber qual é o desenvolvimento textual. O texto se desenvolve por causa, consequência? Comparação? Expande as ideias iniciais? Qual a finalidade? Sensibilizar o leitor ou convencer o leitor de uma determinada tese? No caso do texto-fonte da UFPR, seguiam-se 3 hipóteses para o fenômeno, por isso critério de correção era exatamente esse. Ainda no primeiro parágrafo, apresente a tese principal O autor do resumo apresenta os dois comportamentos atípicos das estrelas. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 9 Esse fenômeno é extremamente difícil de ser explicado, e os articulistas apontam algumas hipóteses aventadas pelos astrônomos. Dentre eles, pode-se destacar: a possibilidade de ser uma estrela jovem rodeada por um disco de poeira de gás, ideia descartada, pois a EdB está na meia-idade; a presença de um buraco negro que bloquearia a luz da estrela, o que também é refutado pelo fato de ela não apresentar variações de movimento; e até a hipótese de haver megaestruturas alienígenas coletando a luz da estrela. A capacidade do candidato de sintetizar informações é realmente admirável. Contudo, ele não tirou a nota máxima nesse quesito, ficou com 8,33. Por quê? Note que ele afirmou em relação à terceira hipótese que poderia haver megaestruturas alienígenas coletando a luz da estrela. Mas não é bem isso que está no texto-fonte. Não se trata de coletores de luz, mas coletores de energia. O escritor, nesse caso, fez uma dedução indevida. Pois é, corujinha certeira, no resumo, não pode haver qualquer tipo de interferência do escritor. O erro se dá quando o candidato não percebe os argumentos principais e não consegue manter a isenção em relação a eles. Resumo das ideias do desenvolvimento t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 10 Mas ainda faltava uma informação importante que constava no texto original. O posicionamento da revista. Vamos ao último parágrafo do nosso candidato que conseguiu a nota máxima com louvor nesse quesito. Os autores concluem que, como em todo grande mistério da natureza, as teorias a respeito do caso dependem da obtenção de equipamentos e novas medidas, bem como análises, para deixarem de ser especulações. O caminho até a verdadeira história da EdB ainda é longo. Por último, mas não menos importante, a banca avaliava a linguagem e o estilo do texto. Nos parágrafos subsequentes, considere os argumentos apresentados e as informações relevantes. Linguagem t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 11 Os primeiros itens dizem respeito à paráfrase, matéria-prima para o resumo. Você deve se valer das ideias do texto-fonte, mas expressá-las nas suas próprias palavras. Na aula 00, há um tópico sobre paráfrase, na dúvida, vale a pena revisá-lo. Em artigo de 2017, publicado na Scientific American, os autores Kimberly Cortier e Jason Whrighte expõem suas observações sobre o misterioso comportamento da estrela de Boyaijan (EdB) descrito por Tabatha Boyajian. Segundo os autores, a estrela apresenta variações de luz aleatórias, bem como mais de 15% do brilho no último século – comportamento que difere das outras 150 mil estrelas observadas pelo telescópio caça-planetas Kepler. Esse fenômeno é extremamentedifícil de ser explicado, e os articulistas apontam algumas hipóteses aventadas pelos astrônomos. Dentre elas, pode-se destacar: a possibilidade de ser uma estrela jovem rodeada por um disco de poeira de gás, ideia descarta pois A EdB está na meia-idade; a presença de um buraco negro que bloquearia a luz da estrela, o que também é refutado pelo fato de ela não apresentar variações de movimento; e até a hipótese de haver megaestruturas alienígenas coletando a luz da estrela. Os autores concluem que, como em todo grande mistério da natureza, as teorias a respeito do caso dependem da obtenção de equipamentos e novas medidas, bem como analises, para deixarem de ser especulações. O caminho até a verdadeira história da EdB ainda é longo. Resumo: como fazer ? Palavras do texto- fonte t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 12 Primeiramente, vale lembrar de alguns traços do resumo que você deverá ter em mente: Como vimos no estudo do texto acima da UFPR, o resumo também apresenta 3 partes: introdução, na qual você apresenta a referenciação e a tese principal do artigo lido; o desenvolvimento com os argumentos principais e, por fim, a conclusão da linha de raciocínio do autor. Breve e conciso: deixe de lado informações secundárias, como exemplos. Pessoal: não use expressões do texto de origem; as palavras mais importantes aparecerão no texto, mas associadas a sinônimos ou outras expressões e em outras estruturas sintáticas Estrutura lógica: ao resumir você deve recompor as relações que existiam no texto original. Use conectivos. O resumo não pode ser um amontoado de ideias. Faça uma leitura rápida para captar o tema e se possível a tese Faça uma leitura atenta mapeando as partes do texto: onde está a tese? para que serve um exemplo? qual foi a estratégia adotada para o desenvolvimetno? Quais são as ideias mais importantes. Sublinhe as ideias fundamentais e palavras-chave (isso pode ser feito com o passo anterior) Escreva as ideias principais em suas próprias palavras (esse deve ser o esboço). Começe a escrever o texto de fato, considerando a estrutura do resumo. Comece pela referenciação, passe para a tese e em seguida apresente os argumentos e a lógica do texto. Releia o que você escreveu: observe se há informações desnecessárias; se com alguma palavra ou expressão, você se desviou da ideia do autor; se a conexão entre as ideias ficou clara. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 13 Bora considerar uma redação abaixo da média? Em 2013, a UNICAMP solicitou que o candidato fizesse um resumo sobre um artigo da revista Superinteressante sobre o Otimismo. A banca, como é costume, publicou redações acima e abaixo da média. Segue-se aqui uma redação que não atingiu o que era necessário segundo os corretores. Pessimismo Segundo o texto o pessimismo é de extrema importância para toda a sociedade, até mesmo para empresas, que precisam dos pessimistas para inserir a difícil realidade nos otimistas. Existem vários casos que pessoas muito otimistas, muitas vezes sofrem justamente por não serem, ao menos um pouco, pessimistas. Não devemos desistir de sonhos, carreiras e objetivos devido ao pessimismo, e sim lutar até o fim para conseguirmos o que desejamos. Muitas vezes o pessimismo leva as pessoas a não quererem produzir mais nada, desejar mais nada, e isso pode prejudicar aquele indivíduo. Por isso é importante também um pouco de otimismo. O excesso de otimismo, muitas vezes é projetado em livros de autoajuda. A anciedade está ligada diretamente ao otimismo. Muitas vezes devemos entender a razão do nosso pessimismo para podermos tentar resolvê-lo. Portanto, devemos nos preparar para o pior, diz o filósofo Arthur Schopenhauer. Não fez referenciação Não retomou o autor referenciado Não deixou a tese clara Não estabeleceu conexões. Qual texto? O uso do nós faz com que o texto deixe de ser do referenciado e passe a ser ideia encampada pelo autor. O que conecta esses dois parágrafos? t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 14 Vale a pena considerar qual foi o comentário da banca. “Estamos diante de uma redação que, apesar de iniciar o “resumo” com a marca “segundo o texto”, não consegue manter, nos parágrafos seguintes, uma relação de síntese com o texto resumido, desviando-se, por isso, do tipo de texto solicitado, da situação enunciativa solicitada e do propósito dessa enunciação: faz-se uma dissertação sobre o pessimismo pautada pelo argumento de que ele é importante, e sustentada na interpretação do candidato do texto lido – seria uma dissertação com base em um texto, se assim pudéssemos definir. Se fôssemos mais precisos ainda, diríamos que se trata de uma dissertação, com base na interpretação do texto lido, que se pauta por comentários e exemplos daquilo que se interpretou do texto lido. O que faz com que esta redação não seja anulada é justamente o fato de que não se perde de vista o texto lido, ele pauta a dissertação.” 1.2 Resenha crítica Agora que você já se exercitou com o resumo que tal dar um passo além. No caso do resumo, o texto produzido deve ter as mesmas informações que o texto-fonte. Na resenha crítica, você pode e deve manifestar sua opinião. Mas não se restringe a um texto sobre um texto. Trata-se de um gênero informativo, descritivo e opinativo sobre obras tais como: livro, série, documentário, artes, shows, músicas etc. Observe como é a estrutura de uma resenha, lendo o texto de Jorge Coli. O rinoceronte dos outros JORGE COLI COLUNISTA DA FOLHA E, “300”, os espartanos do filme não são nada simpáticos. Dizem que lutam pela liberdade, mas, na batata, defendem uma sociedade de brutamontes. Todos "body-builders" bonitões, porque, quando os bebês nasciam feiosos, raquíticos, disformes, eram espatifados num buraco. Só sobravam os que virariam bons e fortões. Fora um, horroroso e nojento, que escapou. Ele vira justamente o traidor da pátria e vai lamber os pés do rei dos outros. Prova dos nove: se tivessem arrebentado com ele quando era bebê, Leônidas teria ganhado a guerra. Os outros ameaçam esses espartanos brancos e poderosos de todos os lados. São negros, orientais, esquisitos, gente estranha. O Rodrigo Santoro é o rei dos outros, cheio de piercings, de maquiagem e de langores. Na sua corte, todo mundo transa com todo mundo, de qualquer jeito. Os espartanos são maridos machões, cumpridores e não dão bobeira. (...) Tom Introdução: Apresenta-se a obra, e algo da sua tese ou da ideia principal e um pouco do enredo. Desenvolvimento 1: Conta-se um pouco da obra, escolhendo os elementos que depois será elogiados ou criticados. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 15 A ironia é fácil, e o filme não tem jeito, é fascista mesmo. Mas é um esplendor. Suas cores são reduzidas a um azul noturno, fora o vermelho das capas. Tons de emblema. Os cenários, trazidos dos quadrinhos de Frank Miller, fazem pensar na pintura romântica mais alucinada: abismos, montes escarpados, gargantas estreitas. Os bichos, sobretudo o rinoceronte, são magníficos. Ritmo O andamento do filme é vagaroso, reforçado pela câmera lenta. Exige do público uma entrega hipnótica, como as que ocorriam nas paradas de Hitler ou nos discursos dos grandes líderes, os de Fidel, por exemplo, que duram cinco horas ou mais. Apesar disso, "300", dirigido por Zack Snyder, tornou-se um sucesso surpreendente. Num tempo em que a precipitação, a velocidade da montagem e da ação parecem ser os únicos meios de prender a atenção de espectadores cada vez mais distraídos, "300" é extático como uma ópera deWagner, como o "Crepúsculo dos Deuses". Ele se termina, por sinal, da mesma maneira suicida. (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1504200702.htm, adaptado) Os passos para se fazer uma resenha crítica são os seguintes: Desenvolvimento 2 : Faz-se a crítica apontando os prós e contras para quem está pensando em assistir ao filme, ao show, à dança; ou ler o livro. t.me/CursosDesignTelegramhub https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1504200702.htm ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 16 Não é muito fácil fazer uma proposta envolvendo a resenha crítica, porque exige-se que o escritor conheça o texto que será resenhado. A banca teria que exigir a leitura antecipada de uma obra, ou dar uma crônica ou uma foto de uma peça artística. Por esses motivo, raramente, a resenha foi pedida. Em todo caso, há um exemplo da UFSC. Lembrando que, no ano em que foi dada essa proposta, o candidato poderia escolher entre 3 gêneros diferentes. UFSC/ 2013 CONCURSO VESTIBULAR – UFSC/2013 PROVA 3 2 PROPOSTA 2 Quando estamos em dúvida sobre assistir a um filme ou espetáculo, ler um livro ou comprar um CD, a leitura de uma resenha pode nos ajudar na decisão. Se o resenhista apresentar informações e opiniões que nos convençam de que é uma boa opção, teremos elementos favoráveis para fazer a escolha. Caso contrário, poderemos desistir de assistir ao filme/espetáculo, de ler o livro ou de comprar o CD. Atualmente, vários sites/blogs voltados para a divulgação de obras literárias abrem espaço para que leitores enviem resenhas de livros. Escreva uma resenha sobre um dos livros indicados abaixo como se fosse publicá-la em um site/blog voltado para a divulgação de obras literárias. Assine obrigatoriamente como “Candidato Vestibular/UFSC/2013”. a) AMADO, Jorge. Capitães da areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 283 p. (1ª edição, 1937) Esboço. Faça um levantamento do que você conhece da obra; anote enredo (no caso de narrativas) ou de elementos estéticos (no caso de arte, música ou dança) Esboço. Tente anotar: Nome da obra; Autor; Temática; Opiniaõ defendida; Qual a estrutura; Aquilo que mais chamou a atenção, positiva ou negativamente Esboço. Expresse sua opinião: Gostou da obra? Que parte você poderia elogiar? Pode-se estabelecer relação com outras obras? O que você sentiu? Que parte poderia ser criticada? Escrita. O texto segue mais ou menos a estrutura do texto dissertativo. Titulo e Introdução. Na introdução, você menciona a obra, autor, temática e apresenta de forma geral sua tese: seu balanço sobre a obra analisada. Desenvolvimento. Escolha e descreva cenas ou aspectos relevantes da obra que poderão ser criticados ou elogiados. A seguir passe a julgar os aspectos levantados. Conclusão. Síntese. Reafirme sua opinião sobre a obra, faça um balanço reusmido. Vale a pena ler, ver, assistir ou ouvir o que foi resenhado? t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 17 b) ANDRADE, Mário de. Amar, verbo intransitivo: idílio. Rio de Janeiro: Agir, 2008. 181 p. (1ª edição, 1927) 1.3 Texto de divulgação científica O texto de divulgação científica se parece com o resumo, a diferença, na verdade é sutil. Tal texto tem a finalidade de informar descobertas para um público leigo. Devem-se evitar termos especializados ou explicações teóricas muito abstratas. Digamos que você deve fazer por escrito o que seu professor tenta fazer em sala de aula. Traduzir de forma didática um texto mais complexo. Você não será o produtor do conhecimento, apenas um mediador. Sendo assim, não cabe a você julgar as informações que está repassando. Sua finalidade é expor o que já foi descoberto e, se possível, apresentar a situação atual do uso dessa descoberta. O texto apresenta uma estrutura muito semelhante à de um texto dissertativo com alguns traços de diferenciação. Introdução: quem produziu o texto original (referenciação), qual a finalidade do texto-fonte, qual a novidade que ele apresenta. Desenvolvimento: apresentação em detalhes da "descoberta", destacando as consequências da invoção . Conclusão: resumo do que foi visto destaque aos ganhos da "descoberta" Máscara: Na resenha, não há marcas de máscara, a não ser que haja um comando que peça para identificar para que se escreve o texto. O autor de uma resenha não descreve suas motivações e anseios ao escrever e nem sua finalidade. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 18 Na verdade, esse gênero não deveria ser produzido a partir de um texto-fonte. Um jornalista que dissemina ciência pesquisa sobre o assunto e apresenta as novidades sobre o tema discutido, como você já deve ter lido em revistas do gênero. No vestibular, é provável que a banca escolha um texto longo sobre um assunto complexo e no meio dele aparece aquilo que pode ser encarado como uma novidade. Nesse caso, você não deverá resumir o texto que pode, inclusive ter outro propósito e outro tema, mas saber selecionar as ideias que poderiam de fato configurar uma descoberta científica. Os traços mais importantes estão associados à linguagem: ➢ Linguagem clara e objetiva. ➢ Verbos predominantemente no presente do indicativo. ➢ O autor se coloca de forma impessoal. ➢ Emprega o padrão culto da língua. ➢ Faz referenciações. Vamos para o exemplo, e, nesse caso, somente o comando da proposta não é suficiente. Abaixo você encontrará a proposta inteira da UNICAMP/2016, depois, um texto acima da média e comentário da banca. Haja fôlego. Proposta de redação Unicamp redação 2016 Você está participando de um curso sobre o livro O sentimento de si: corpo, emoção e consciência, de autoria do neurocientista António Damásio. Uma das avaliações do curso consiste na produção de um texto de divulgação científica a ser publicado em um blog do curso. O objetivo do seu texto será o de divulgar as ideias do autor para um público mais amplo, especialmente para alunos do ensino médio. Você deverá escrever o seu texto sobre o tema da indução das emoções, baseado no excerto abaixo, incluindo: a) uma explicação sobre indutores de emoção com exemplos do próprio texto; b) uma breve narrativa que exemplifique processos de indução de emoções; c) uma finalização baseada no fechamento do texto original. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 19 Lembre-se de que o texto de divulgação científica deverá ter um título adequado aos conteúdos tratados. O induzir das emoções As emoções acontecem em dois tipos de circunstâncias. O primeiro tipo de circunstâncias tem lugar quando o organismo processa determinados objetos ou situações através de um dos seus dispositivos sensoriais, por exemplo, quando o organismo avista um rosto ou um local familiar. O segundo tipo de circunstâncias tem lugar quando a mente de um organismo recorda certos objetos e situações e os representa, como imagens, no processo do pensamento, por exemplo, a recordação do rosto de uma amiga ou o fato de esta ter acabado de falecer. Um fato que se torna óbvio ao considerarmos as emoções é que certas espécies de objetos ou acontecimentos tendem a estar mais sistematicamente ligadas a determinado tipo de emoção que a outros. As classes de estímulos que provocam alegria, medo ou tristeza tendem a fazêlo de forma consistente no mesmo indivíduo e em indivíduos que compartilham os mesmos antecedentes culturais. Apesar de todas as possíveis variações na expressão de uma emoção, e apesar do fato de podermos ter emoções mistas, existe uma correspondência aproximada entre classes de indutores de emoção e o resultante estado emocional. Ao longo da evolução, os organismos adquiriram os meios para responder adeterminados estímulos – sobretudo aos que são potencialmente úteis ou perigosos sob o ponto de vista da sobrevivência – através de um conjunto de respostas a que chamamos emoção. O induzir das emoções Também é importante notar que enquanto o mecanismo biológico das emoções é largamente predeterminado, os indutores de emoção são externos e não fazem parte desse mecanismo. Os estímulos que causam a emoção não se encontram, de modo algum, confinados aos que ajudaram a formar nosso cérebro emocional ao longo da evolução e que podem induzir emoção desde os primeiros dias de vida. À medida que se desenvolvem e interagem, os organismos ganham experiência factual e emocional com diversos objetos e situações do ambiente, tendo assim uma oportunidade de associar muitos objetos e situações que poderiam ter permanecido emocionalmente neutros, com os objetos e as situações que causam emoções naturalmente. A forma de aprendizagem conhecida por condicionamento é uma das maneiras de obter esta associação. Uma casa parecida com a que o leitor viveu uma infância feliz pode fazê-lo sentir-se feliz, embora nada de especialmente bom ainda se tenha passado na casa. Do mesmo modo, o rosto de uma belíssima desconhecida, que se assemelha ao de uma pessoa ligada a um acontecimento terrível, pode causar-lhe desconforto ou irritação. Pode até nunca chegar a perceber por quê. A consequência de concedermos um valor emocional aos objetos que não estavam biologicamente destinados a receber essa carga emocional é tornar infinita a lista de estímulos que, potencialmente, podem induzir emoções. De uma forma ou de outra, a maior parte dos objetos e das situações conduzem a alguma reação emocional, embora uns em maior escala que outros. A reação emocional pode ser fraca ou forte – e, felizmente para nós, é fraca na maior parte das vezes – mas mesmo assim está sempre presente. A emoção e o mecanismo biológico que lhe é subjacente são os companheiros obrigatórios do comportamento, consciente ou não. Um certo grau de emoção acompanha, forçosamente, o pensamento sobre nós mesmos ou sobre o que nos rodeia. (Adaptado de António Damásio, O sentimento de si: corpo, emoção e consciência. Lisboa: Círculo de Leitores, 2013, p.79-81.) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 20 “Indutores de emoção”: os gatilhos das sensações Constantemente em nossas vidas, lugares, pessoas, objetos ou situações são responsáveis por nos causar emoções diversas, às vezes positivas, às vezes não. Segundo António Damásio, as emoções são meios de responder a determinados estímulos, tais estímulos são tratados em seu livro “O sentimento de si: corpo, emoção e consciência” como “indutores de emoção”. Imaginamos a seguinte situação: ao longo de sua infância você viveu em uma casa onde foi muito feliz. Anos mais tarde, você se depara com uma casa extremamente parecida com aquela em que passou a infância. Nesse instante, seu cérebro passa a associar a casa nova com a ideia da felicidade que você presenciou ao longo da infância, mesmo que nada de bom já tenha acontecido na nova residência. No nosso exemplo, a casa seria o indutor de emoção, pois sua lembrança gera em você sensações de felicidade. Suponhamos agora que você foi atropelado por uma moça ruiva ao sair da escola. Tempos depois, em uma festa com os amigos, você vê uma jovem muito parecida com a motorista que o atropelou. Assim, mesmo sem conhecer a jovem da festa, você começa a se sentir desconfortável ou irritado só de vê-la. Nesse caso, o indutor de emoção é a aparência da mulher ruiva, que lhe remete a uma situação terrível, causando-lhe irritação. Naturalmente, existe uma gama de indutores, mas o hábito de conceder um valor afetivo a seres inanimados, como objetos, aumenta infinitamente o número de estimulantes. Felizmente, a resposta a tais estímulos é, quase sempre, fraca, embora as emoções estejam sempre presentes. Portanto, como há, toda vez, uma ligação entre o indutor e a emoção subsequente, um certo grau de sensação está intimamente associado ao que pensamos sobre nós ou sobre o mundo ao nosso redor. Ficha técnica: Texrto de divulgação científica Finalidade: Colocar os leitores em contato com as ideias importantes de um texto longo, que trata de invações na ciência. Sequências discursivas: texto expostivo. Estrutura: Nas primeiras linhas, deve-se destacar a descoberta científica, sua importância e quem fez a descoberta ou escreveu sobre ela. Se possível deve haver referenciação. Nos parágrafos de desenvolviemtno, deve-se explicar a descoberta, dar exemplos, mostrar as consequências. Na conclusão, pode-ser fazer o fechamento por síntese ou destacando as consequêncais e a importância do que foi descoberto (de acordo com o texto fonte) Linguagem: clara e objetiva, com verbos no presente e predomínio da impessoalide. Marcas de Gênero: O título, a apresentação e a referenciação deixam claro que se trata de um artigo de divulgação científica. De forma objetiva e concisa, o candidato explica o que entende por indutores de emoções e também por emoções. Para tanto, não deixa de citar a fonte de tais explicações, o livro de António Damásio Título adequado, além de possuir um caráter explicativo, já que propõe uma espécie de “tradução” do conceito central do texto Selecionou do texto-fonte, exemplos mais palatáveis para o leitor: a casa da infância, a moça ruiva. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 21 Alguma técnica especial? Compreender as partes do texto e deixá-las claras para o leitor. Uso de conectivos precisos para restabelecer as relações lógicas do texto original. Bom domínio da paráfrase. 2. Textos associados à opinião O tipo textual opinativo (dissertação) gerou uma série de gêneros diferentes que têm como função apresentar uma opinião bem estruturada nas mais variadas situações de interlocução. Os três gêneros presentes nesse estudo são importantes no sentido de exercitar a capacidade de argumentar. 2.1 Comentário crítico interpretativo O comentário crítico interpretativo tem em si o núcleo mais simples do que significa defender uma ideia. Você lê um texto qualquer, pensa sobre o que ele defende, discorda dele ou concorda com ele e resolve escrever para estabelecer um diálogo como ele. Esse gênero manifesta todo esse movimento. Comentário crítico interpretativo é um gênero que mostra a capacidade do articulista de relacionar sequências expositivas com sequências argumentativas como se fosse uma pequena dissertação. Você vai perceber que, em alguns casos, ao fazer o comentário do fragmento, você obtém um projeto de texto completo. A diferença entre esse gênero e outros tem a ver com o ponto de partida. A banca escolhe um texto que deve ser usado para se fazer o comentário. Esse ponto de partida determina a introdução. Vamos ver como se faz isso na prática. Considere a proposta abaixo da banca UNIOESTE. Escreva um COMENTÁRIO INTERPRETATIVO CRÍTICO, para ser publicado na REVISTA GALILEU, sobre a temática a seguir. Lembre-se de que você deverá apresentá-la e interpretá-la criticamente. NÓS NOS PREOCUPAMOS MAIS COM NOSSOS SEMELHANTES OU COM OS ANIMAIS? No fim de 2013, uma pesquisa feita pelo Ibope com mais de 10 mil pessoas revelou que 80% dos internautas brasileiros têm um animal de estimação em casa. O que mais chama atenção na pesquisa é o valor gasto por mês com os animais: em média, R$ 100 por mês. Esses números provam o óbvio, isto é, os animais de estimação fazem parte da nossa vida [...]. Máscara: No texto de divulgação científica, não há marcas de máscara t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 22 Psicólogos da Universidade Georgia perguntaram para 573 pessoasquem elas salvariam em um cenário hipotético que dava chance de apenas um dos dois sobreviver: cão ou humano. Segundo os pesquisadores, dois fatores são levados em conta nesse momento de decisão. Primeiro: quem é a pessoa em perigo? O resultado mostrou que, se a pessoa em perigo fosse um desconhecido, ela perderia a vida para um cachorro. Segundo: quem é o cão em perigo? 40% dos entrevistados responderam que salvariam seu animal de estimação em vez de um turista estrangeiro. (Adaptado de Fernando Bumbeers. Revista Galileu. Disponível em https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2015/04/por-que-gostamos-mais-de-pets-do-que- de-outras-pessoas.html, acesso em 26/09/2018). Diante desse desafio, que tal seguir os passos abaixo? No caso do texto referência, a UNIOESTE escolheu um texto expositivo, o que dificulta um pouco a vida do candidato. É mais fácil fazer um comentário crítico quando o texto manifesta uma opinião forte. Então vamos aos passos iniciais. t.me/CursosDesignTelegramhub https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2015/04/por-que-gostamos-mais-de-pets-do-que-de-outras- https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2015/04/por-que-gostamos-mais-de-pets-do-que-de-outras- ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 23 Como ficaria o texto? Melhor do que dizer como ficaria, é ter em mãos um texto de um vestibulando com a nota respectiva. Tema do texto: nós nos preocupamos mais com nossos animais do que com os semelhantes. Os dados são bastante contundentes. Mais fácil reafirmar as ideias expressando-as numa tese que condenar esse tipo de comportamento. O texto não manifesta a tese claramente, mas a escolha dos dados faz o leitor chegar à conclusão de que nossos valores estão distorcidos. Ideias para expansão: aumento de número de pet shops, os animais de estimação fazem companhia e não nos expõem a relações conflituosas, algo que se evita na sociedade narcisista. O texto poderia deixar a tese mais explícita. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 24 O candidato tirou 46 de 60. Ele optou por descrever e interpretar o texto-fonte, como solicitado pela banca e como é típico desse gênero, contudo faz isso de forma sumária e apresenta a tese sem dar destaque ao fato de que ela é fruto da interpretação que ele fez do texto-fonte. A forma como ele desenvolve o texto também não é muito adequada ao gênero. Ele estrutura a redação no formato Enem, dividindo o argumento em duas partes: na primeira, ele começa com a expressão conectiva “em primeira análise”; e, na segunda, “diante disso”. Em cada parte, é elencado um argumento pautado muito mais pela exposição erudita de um repertório do que pela necessidade de provar o que se deseja. Apesar desses problemas, o texto está dentro do gênero e, por comentar a fonte no primeiro parágrafo, ele se constitui como um comentário crítico. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 25 O texto visual é um pouco mais difícil de ser comentado, mas segue os mesmo passos. Talvez a parte mais complicada seja a descrição da imagem, já que é preciso apresentá-la para o leitor supondo que ele não a viu. Depois da interpretação, o roteiro segue o mesmo. Você deve pensar se concorda com a ideia expressada pelo autor da obra ou discorda dela e apresentar seus argumentos. Considere a proposta a seguir da UNIOESTE/2019 . Como seria o comentário crítico interpretativo desse texto? Observe uma possível introdução para essa proposta. Numa tirinha recentemente publicada, um garoto se dirige ao “Armandinho” ironizando-o por estar brincando de boneca. A resposta, inesperada, inverte o possível significado da brincadeira. Diz o garoto, alvo da chacota: “estou brincando de pai”. O chargista critica nossa cultura, que atribui às brincadeiras infantis determinados valores preconceituosos próprios do mundo adulto. Mas ela faz mais do que isso. Nos faz investigar a forma como decodificamos as ações sociais a partir de papeis e valores que poderiam ser interpretados de outra forma. Convida-nos ao espanto com o cotidiano tão próprio da filosofia... Comentário de texto visual Referenciação Descrição do quadrinho, resumo da narrativa Interpretação Tese Menção à filosofia, pois o texto será publicado numa Revista de Filosofia. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 26 Tome nota. Referenciação A referenciação é parte importante do seu texto, manifesta respeito pelo autor do outro texto. Quando for possível, faça a atribuição mais detalhada. Por exemplo, no primeiro texto, o autor poderia ter sido mais detalhista: “O jornalista Fernando Bumbers escreveu um artigo na revista Galileu, cujo título era “Nós nos preocupamos mais como nossos semelhantes ou com os animais?” Observe as referências bibliográficas. No caso da tirinha, não havia muita coisa para fazer a atribuição do texto. Interlocução ou situação social Quando a banca sugere uma circunstância, a referência de onde o texto será publicado, por exemplo, inclua isso na sua publicação. Observe que fiz isso nos parágrafos iniciais da proposta da tirinha. 2.2 O artigo contra-argumentativo O gênero contra-argumentativo é muito utilizado quando algum articulista de jornal não concorda com alguma opinião e resolve escrever tomando como base o texto do colega, essa mesma estrutura pode ser utilizada numa carta contra-argumentativa. Esse é um gênero complexo que exige reconhecimento dos argumentos utilizados pelo oponente e capacidade de derrubar as ideias contra as quais se deseja insurgir. Ele não tem sido cobrado nos vestibulares. Mas, sem dúvida, permite desenvolver habilidades ímpares na escrita de textos que têm a finalidade de se valer da argumentação. Nesse caso, você deve refutar os argumentos usados pelo seu oponente. O sinônimo de “refutar” é rejeitar. No caso de um texto ou um discurso argumentativo, a palavra significa não somente não aceitar a argumentação oposta como também mostrar as suas falhas. Geralmente, faz-se uso dessa técnica argumentativa em cartas argumentativas comuns em vestibulares. Ao candidato é solicitado que ele escreva para alguém ou para alguma autoridade refutando alguma medida ou ideia expressa pela pessoa. Vale a pena, portanto, considerar alguns passos para refutar um argumento. Nesse caso, vou transcrever as sugestões do professor J.R. Whitaker Penteado: Máscara: Trata-se de um texto analítico e bastante técnico, sem marcas de máscara. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 27 “ 1º - Procure refutar o argumento que lhe parece mais forte. Comece por ele. 2º - Procure atacar os pontos fracos da argumentação contrária. 3º - Utilize a técnica da “redução às últimas consequências”, levando os argumentos contrários às últimas consequências. 4º - Veja se o seu opositor apresentou uma evidência adequada ao seu argumento empregado. 5º - Escolha uma autoridade que tenha dito exatamente o contrário do que afirma seu opositor. 6º - Aceite os fatos, mas demonstre que foram mal interpretados. (...) 10º - Analise cuidadosamente os argumentos contrários, dissecando-os para revelar as falsidades que contêm. “1 Para esquentar os motores, veja esse artigo contra-argumentativo escrito por Maria Adelina Braglia, colunista do site Afropress. Incomodada como um artigo de Demétrio Magnoli, sociólogo e articulista de vários jornais que questionava o racismo contra negros no Brasil, pelo fato de a raça ser um fator difuso no Brasil, ela escreveu o texto abaixo. RESPOSTA A DEMÉTRIO MAGNOLI O Professor criticaa unificação das auto-definição das categorias censitárias de cor – pretos e pardos – que, agregadas, são indicativos de raça – negra – e apontam claramente o racismo brasileiro como fundamento da pobreza de expressiva parcela de afrodescendentes. Para ele, como delicadamente chama, isso é manipulação ideológica. Para exemplificar, cita até um exemplo correto, ao referir-se à Amazônia, onde há realmente a probabilidade de que na categoria pardo estejam incluídos também os descendentes de povos indígenas. Convenientemente, esqueceu-se o Professor de nos informar, na sua longa diatribe, que no Censo 2000, os brasileiros que se auto-identificam como indígenas não ultrapassam a proporção de 0,43%, percentual infame, evidentemente, e resultante do genocídio e da discriminação racial, a mesma que o Professor veementemente nega (auto-identificaram-se como indígenas 734.127 pessoas no universo de 169.872.856 recenseados). Assim, ainda que a categoria “parda” ocultasse todos os que se declararam indígenas, a proporção total não seria comprometida. Salvo para o uso manipulador, como bem o fez o Professor. As informações da pesquisa Retratos da desigualdade são mesmo difíceis de serem digeridas. Elas batem no nosso rosto eurocêntrico, elas agridem nossa 1 Penteado, J.R. Whitaker. A Técnica da Comunicação Humana. São Paulo; Livraria Pioneira Editora, 8ª edição, 1982. Contextualização da fala do oponente, inclusive com os argumentos que deverão ser derrubados Argumento de Magnoli: os índios também são pardos. Resposta: eles são muito poucos. Argumento a mais que ataca a tese de Magnoli de que não existe racismo. A pesquisa Retratos da desigualdade mostra a face do racismo. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 28 ilusória mentira histórica de democracia racial. É a prova inconteste de que a pobreza tem raça e cor no Brasil. (...) (https://www.afropress.com/resposta-a-demetrio-magnoli/) A técnica de produção desse tipo de artigo é bem parecida com a anterior, o comentário crítico interpretativo. Muda-se, na verdade, o que se deve procurar no argumento do oponente. Há, nesse caso, uma evidente tomada de posição e uma necessidade de desqualificação das provas do adversário. Em lógica, existe um treino preciso para se reconhecer argumentos que apresentam algum tipo de fraqueza : o estudo das falácias. São muitos os tipos de expressões, mas vamos considerar 7. Generalização indevida Observe que o autor de tal frase se vale do exagero e do sujeito no plural. Se fossemos contra- argumentar, qual seria a resposta? O senhor Pondé, no artigo publicado na Folha de São Paulo, sugere que os jovens não manipulados por professores. Ora, em primeiro lugar, trata-se de uma generalização que supõe, inclusive, a incapacidade dos jovens de avaliarem os seus professores e serem dóceis a tudo o que eles dizem, o que não condiz com a realidade. Falso dilema Como fazer? Falácias Os jovens estão reduzidos a um manual produzido por professores pregadores e mídias sociais furiosas. (Pondé, articulista da Folha) Só há dois caminhos para o Brasil: ou acabamos com a corrupção ou a corrupção acaba com o país. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 29 Esse é uma das frases que mais são usadas em época de polarização. Qual a resposta? O Senhor “x”, ao considerar possibilidades para o Brasil, afirma haver somente dois caminhos. Ora, as questões humanas estão nos detalhes e não nos opostos, até porque não há só dois caminhos para o país, principalmente se considerarmos a corrupção, que é algo inerente ao sistema capitalista. Tanto isso é verdade, que não há país sem corrupção. O que existe são países com níveis baixos desse tipo de infração da coisa pública. Argumento que leva em consideração a vida particular do indivíduo e não a ideia que está sendo discutida. É comum as pessoas desacreditarem os Direitos Humanos apelando para o fato de que seus defensores talvez não tenham sido vítimas da violência urbana. Ora, isso significa desviar o foco do que significam as garantias constitucionais e por que devemos defendê-las. Eles representam a garantia de que todos terão um tratamento digno se forem suspeitos de crime. Os defensores entendem que violar o direito de um, mesmo que seja criminoso, é um precedente para todos na sociedade, pois nada garante que o direito daqueles que se consideram “gente do bem” também não seja violado. Ad absurdum O senhor Demétrio Magnoli se coloca contra a exigência de se autodeclarar a que raça pertence, dizendo que deixaremos de ser uma nação para se tornar uma confederação de raças. Ora, isso é um exagero. A autodeclaração não alterará substancialmente a realidade que já existe e na qual o negro sofre preconceito. Ambiguidade (uso de um termo que é indeterminado como liberdade) Frequentemente, as pessoas que defendem os direitos humanos, fazem isso porque nunca tiveram um parente vítima de bandidos O novo estatuto exige que os brasileiros se autodeclarem brancos, negros ou pardos. A nação deixará de ser um contrato entre indivíduos para se tornar uma confederação de "raças". (Demétrio Magnoli) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 30 Muitas pessoas que se recusavam a usar máscara diziam que isso seria um atentado à liberdade. Ora, observa-se, nesse caso, um uso distorcido da palavra. Todas as pessoas sabem que a liberdade não é absoluta, e um tipo de exigência como essa supõe a preservação da vida para poder usufruir uma liberdade que todos sabem ser relativa e, muitas vezes, limitada por deveres sem os quais não há sociedade. Non sequitor (a causa não leva à consequência) É verdade que as mulheres precisam de maior representação no Congresso Nacional, porque elas poderiam levar pautas que têm a ver com os problemas que elas enfrentem. Contudo, não podemos esperar que a consequência indubitável de haver mais mulheres na política seja uma guinada feminista radical. Não decorre de pertencer simplesmente ao gênero feminino a defesa inconteste de pautas feministas. Espantalho (distorcer a afirmação para poder provar o que se deseja) É verdade que Foucault elaborou o conceito de micropoder, mas tratava-se simplesmente de um conceito para analisar como, em uma sociedade, os poderes vão se constituindo a partir dos grupos de interesses. O Senhor “x” distorce as ideias do filósofo, o que o leva a chegar à absurda conclusão de que o autor defendia o terrorismo. Na pandemia, a liberdade de não usar máscara é um sequestro de nosso direito. Uma mulher como deputada jamais trairia os interesses das mulheres, ou seja,votaria em pautas feministas. Foucault defendia o micropoder, ou seja, ele apoiava o terrorismo como forma política de agir. Exemplo t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 31 Para entender melhor esse tipo de gênero, segue-se abaixo uma proposta a UNICANP, antiga que solicitava ao candidato que escrevesse uma carta contra-argumentativa. Observe o texto-fonte e uma redação acima da média. Proposta O empresário Antonio Ermírio de Moraes escreveu o artigo abaixo (Folha de São Paulo, 3/8/97) em que se manifesta sobre a sujeira na cidade de São Paulo. Leia o artigo com atenção e reflita também sobre o que está sugerido nas entrelinhas a propósito de pobreza, cidadania, limpeza, ação governamental, etc. Até quando, São Paulo? Os leitores têm todo o direito de se queixar quando volto a um mesmo assunto. Acontece que o retorno ao tema decorre da persistência do problema. Refiro-me à imundície que campeia na cidade de São Paulo. Muita gente confunde pobrezacom sujeira. Nada mais errado. As pessoas humildes são exatamente as que mais valorizam o asseio, a higiene e a limpeza. Você já notou como é generalizado o banho dos trabalhadores da construção civil depois de uma jornada de trabalho? Você já reparou como são bem areadas as panelas das donas-de-casas dos domicílios das periferias? Você já observou a brancura das camisas e blusas dos uniformes dos seus filhos? O que se vê na capital de São Paulo é fruto de puro abandono e total falta de autoridade. São pessoas imundas que emporcalham a cidade como prova da sua selvageria e reflexo da insensibilidade dos governantes. Uns defecam nos jardins. Outros cozinham debaixo dos viadutos. Há ainda os que penduram a roupa encardida nos galhos das árvores. Tudo a céu aberto e no maior acinte aos cidadãos que aqui vivem. Na ausência de um plano diretor para cuidar da habitação, avoluma-se o número de pessoas que, usando tábuas, papelão e até embalagens de geladeiras, vão se mudando definitivamente para debaixo das pontes, onde passam a residir “tranquilamente” no meio de escandalosa sujeira. O mais espantoso é ver as autoridades municipais e estaduais consentirem com a multiplicação desses chiqueiros que, na verdade, são uma verdadeira provocação aos que pagam altos impostos e que têm o direito de exigir um mínimo de higiene na cidade em que habitam e trabalham. Já passou bastante da hora de as autoridades agirem. Elas estão atrasadas há vários anos - mas têm de agir. Não é justo que a população como um todo seja submetida a um ambiente tão vergonhoso e deprimente como é o de São Paulo. Não sou saudosista a ponto de querer voltar ao tempo do prefeito Faria Lima, quando o símbolo da capital era uma bela rosa. Mas também não acho correto submeter um povo trabalhador a uma cidade imunda e abandonada. Afinal, esse povo está seguindo as regras democráticas, comparece às eleições e escolhe ordeiramente os seus vereadores, prefeitos e governadores. É hora de eles realizarem mais trabalho e menos política, limpando esta cidade que já foi orgulho do nosso país. Mãos à obra! A partir da leitura e da sua reflexão sobre os implícitos, e imaginando que você discorda do articulista, escreva-lhe uma carta, na forma de um texto argumentativo, na qual você exponha as razões de sua discordância. ATENÇÃO: AO ASSINAR A CARTA, USE INICIAIS APENAS, DE FORMA A NÃO SE IDENTIFICAR. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 32 Redação acima da média. Campinas, 30 de novembro de 1997. Ilmo. Sr. Antonio Ermírio de Moraes Como estudante e cidadão desse país, não pude deixar de lhe escrever ao ler seu artigo de 03 de agosto de 1997 que trata da imundície da cidade de São Paulo. Em primeiro lugar, digo-lhe que o senhor entrou em contradição. Disse que os menos abastados são os que mais valorizam a limpeza, mas, apesar da afirmação anterior, todos os exemplos de sujeira de seu texto são causados pela miséria, como cozinhar debaixo dos viadutos ou pendurar roupa encardida nos galhos de árvores. Essas pessoas que não têm moradia, não têm emprego, que nunca frequentaram escolas são muito mais miseráveis do que os ''pseudo-pobres "que o senhor chamou de limpos. Em segundo lugar, essas pessoas imundas, como o senhor mesmo disse com um certo tom de preconceito, agem dessa forma por falta de opção. Elas vivem totalmente à margem da sociedade, em condições sub-humanas, pois a estes que também deveriam ser considerados cidadãos não foi dada nenhuma chance. Digo-lhe também que, excetuando-se os sonegadores, são os ricos que pagam impostos, e ao fazê-lo, canalizam parte do dinheiro para a limpeza de sua cidade. Mas antes de os contribuintes se sentirem provocados pela imundície da cidade, deveriam refletir e pensar mais em quem eleger nas próximas eleições. Ao invés de votar nos candidatos favoráveis aos seus interesses pessoais, deveriam votar naquele que realizará algo no setor social, pois se a qualidade de vida da população pobre melhorasse, existiria menos miséria, violência e também menos sujeira. Por falar de eleições, senhor Antonio Ermírio de Moraes, ocorreu-me que em seu artigo o senhor fez várias críticas ás autoridades, responsabilizando-as pela imundície da cidade. Será que talvez o senhor não esteja querendo atingir o atual governo, visando sua posição nas próximas eleições? A sujeira da cidade de São Paulo só vai ter fim quando for dada à população miserável condições de vida dignas de todo ser humano e todo cidadão. Isto é democracia, senhor Antonio Ermírio. Isto é o que queremos. Atenciosamente, ID.I Aponta a contradição. Cita rapidamente a argumentação do Sr. Ermírio e a derruba. Derruba o argumento que se baseia na ambiguidade, as pessoas não tem falta de vontade, mas falta de oportunidade. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 33 2.3 O artigo de opinião O artigo de opinião é o gênero mais próximo do tipo dissertativo ou da dissertação escolar que conhecemos. Trata-se de um texto de defesa de uma...opinião. Ou seja, você deve apresentar uma tese e defendê-la. De longe, esse gênero é o que mais frequenta os vestibulares que cobram gênero, embora, na UNICAMP, ele só tenha sido requisitado uma vez. Não há nenhum segredo para a escrita desse campeão de audiência. Trata-se de uma dissertação com traços mais subjetivos, seja porque o assunto depende da observação de um fato particular (a leitura de um artigo de jornal) ou porque você pode começar o texto com o uso do “eu”. De resto, o artigo de opinião deve ter introdução, desenvolvimento e conclusão e manifestar a defesa de uma tese. Perceba que, de alguma forma, o texto dissertativo já foi considerado em seus aspectos mais importantes. Nos pdsf 04 e 05, consideramos a estrutura dissertativa (introdução, desenvolvimento e conclusão), vale a pena, portanto, rever esses conteúdos. Eis algumas diferenças: Artigo de opinião Dissertação - O uso da primeira pessoa é desejável e possível - O uso da primeira pessoa do singular deve ser evitado - Certa medida de pessoalidade - objetividade - Uso de recursos retóricos - Uso de recursos argumentativos objetivos - Interlocutor específico - Interlocutor universal -Estrutura: introdução, desenvolvimento conclusão -Estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão -Há três formas de introdução: lançando uma tese, ambientando os fatos e dando uma definição do assunto. - Introdução generalizante expondo o problema que será discutido. Qual a diferença entre artigo de opinião e editorial? Basicamente, não existe nenhuma diferença entre esses dois gêneros a não ser a de produção. Quem escreve um editorial é, geralmente, o editor ou um jornalista alinhado com o pensamento e a crítica dos dirigentes do jornal. O editorial expressa, portanto, a opinião do "dono do jornal". No caso do artigo de opinião, o autor é alguém conhecido socialmente por alguma especialidade e, quando manifesta uma opinião, não está se alinhando a ninguém, expressa seu livre pensar. O que dá peso ao artigo de opinião é o nome do escritor que aparece em letras garrafais, pois trata-se de uma pessoa com autoridade social. Máscara: O texto contra-argumentativo geralmente é básico para construção do artigo de opinião e da carta contra-argumentativa. Quando assumo a forma de cada um desses gêneros, ele obedece à construção da máscara de acordo com o que será visto a seguir. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 34 O Editorial não é assinado, pois não se trata de uma opinião livre; o artigo de opinião é assinado. Dificilmente um vestibular vai pedir para que você escreva um Editorial, a não ser que proponha uma situaçãoparecida com a abaixo descrita. Suponha que você e seus colegas são responsáveis por um jornal na escola em que vocês estudam. Vocês têm uma determinada visão sobre as atividades extracurriculares que destoa da perspectiva da direção. Um dos integrantes do conselho editorial pede que você escreva um texto que reflita o pensamento do grupo. Esse texto será um editorial, pois será crítico e será expressão dos editores do jornal. Ficha técnica: Artigo de opinião Finalidade: Apresentar alguma uma opinião que será publicada em algum tipo de veículo de informação: jornal, blog, revista eletrôncia etc. Sequências discursivas: Trata-se de um gênero no qual predomina o texto opinativo. Estrutura: Há uma estrutura formal consagrada: Introdução: o autor apresenta o tema e tese. Desenvolvimento: apresenta os argumentos que o levaram a concordar ou discordar da ação ou do texto. Conclusão: parágrafo curto em que reitera sua forma de pensar. Linguagem: Linguagem formal e respeitosa; uso do “eu”. Marcas de Gênero: O artigo de opinião tem título e o primeiro parágrafo, com o uso do eu e a configuração de uma ideia a ser defendida deixa claro de que gênero se trata. Alguma técnica especial? Capacidade de relacionar argumentos de forma coerente. Como todo gênero que se preze, ele tem que se mostrar logo na introdução, que é o cartão de visitas de qualquer texto. O que identifica esse gênero? Um combo de caraterísticas: o título, o uso do eu (não obrigatório), a forma polêmica de expor a questão diante da qual tomara posição. Bora considera algumas falhas na produção do texto que podem ser percebidas logo no primeiro parágrafo. O caso da proposta sobre Cyberbulling A UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná), em 2017, solicitou que o aluno produzisse um texto a partir das seguintes instruções: Produza um artigo de opinião, assumindo o papel social de um leitor de jornal que intenciona publicar seu ponto de vista em relação à questão polêmica: De modo geral, o ativismo nas redes sociais, ou cyberativismo, tem repercussões significativas na sociedade ou fica restrito ao mundo virtual? Não se esqueça de que o artigo de opinião é um texto argumentativo, por isso, além de se posicionar frente à questão exposta, é preciso selecionar bons argumentos para a defesa da sua tese. A banca lembrava claramente que seria importante que o articulista se posicionasse como seria próprio desse gênero. A partir desses pressupostos e do conhecimento do tema, vamos fazer o jogo dos erros. Falhas comuns t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 35 Com certeza o uso das redes sociais influenciou, amplamente, a participação dos indivíduos e a exposição de suas opiniões e posicionamentos políticos sociais, porém, mesmo garantindo tal liberdade de expressão esse cyberativismo não foi capaz de gerar repercussões significativas na sociedade. Hannah Arendt, filósofa alemã, caracteriza a Ação como a partícula que singulariza o homem enquanto animal político. Para a filósofa a ação humana racionalizada e voltada aos interesses da comunidade singulariza o valor político do indivíduo. Na atualidade, o uso das redes sociais como meio de ativismo político constitui-se como uma importante ferramenta para a firmação individual política e social. O cyberativismo parece ter definitivamente ganhado espaço na sociedade. Se antigamente a revolta política só poderia se exercer indo para a rua, hoje ela ganha outros espaços. “A rua é do povo” já dizia o poeta que expressava sua esperança de que a política tivesse sua vez no coração da cidade e das pessoas. Talvez agora possamos dizer que a internet é do povo. Essa mudança foi causada por vários fatores Tome nota Qual é a falha? Qual é a falha? Qual é a falha? O autor começa como se estivesse respondendo à pergunta. A introdução deve contextualizar a polêmica. Estrutura de modelo Enem. A citação da filósofa não contextualiza e não colabora para o “clima” de artigo de opinião. Onde está a tese? t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 36 Fo n te : P ix ab ay Não fique em cima do muro. Afirmar que uma questão tem dois lados, sem dar ênfase a qualquer dos aspectos ou fazer simplesmente uma enumeração de argumentos favoráveis e contrários é um “tiro no pé”. Então, eu NUNCA posso falar dos dois lados ? Corujinha, em Redação, a palavra nunca raramente é empregada. Uma das redações publicadas partia da tese que, nesse caso, o melhor era o caminho do meio. Ou seja, o autor defendia a ideia de que “navegar era preciso”, mas com os cuidados epistêmicos necessários. Ele argumentou a favor e contra, mas veja que o acento enfático recaía sobre os cuidados. Isso não é ficar em cima do muro. Lembre-se de que o corretor quer avaliar sua capacidade argumentativa, não quer avaliar sua competência de contabilizador de argumentos, aquele cara que começa a redação dizendo “por um lado a informação na internet pode levar ao engano....” e, depois de despejar os argumentos sobre isso, começa outro parágrafo com “ por outro lado também pode nos informar...”e faz a mesma coisa. Mas e se eu não tiver uma opinião sobre o assunto? Pense em uma opinião que pode ser defendida e mãos à obra. Você, corujinha esforçada, ao final do curso, terá feito uma grande quantidade de redações. Terá desenvolvido jogo de cintura para jogar seja qual for a configuração, porque se exercitou na dura tarefa de argumentar bem. Então confie nas suas asas. Alguém que aprendeu a lógica matemática é capaz de fazer um exercício se os números forem outros e se a circunstância se alterar um pouco. Alguém que aprendeu a argumentar e defender um ponto de vista, saberá se posicionar a partir dos dados em mãos, mesmo que não tenha enfrentado o tema ainda. Nesse momento, e com razão, você deve estar se perguntando: o que seria uma artigo de opinião “supimpa”? Então vamos lá, fazer a análise de um artigo de opinião publicado como acima da média, da UNICAMP. A proposta era a seguinte: Considere a seguinte situação: uma postagem recente em uma rede social de uma mensagem de ódio contra os nordestinos foi foco de intensa discussão. Dada a repercussão do caso, o jornal de maior Redação nota 10 t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 37 circulação de sua cidade resolveu fazer um caderno especial sobre o tema “Liberdade de Expressão”. Leitores de diferentes perfis foram convidados a se manifestar e você foi o estudante escolhido. Para atender a esse convite, você deverá escrever um artigo de opinião em que discutirá a seguinte questão: “Há limite para a liberdade de expressão?” A redação que foi publicada pela banca é esta... Os limites da nossa liberdade Recentemente, uma mensagem de ódio contra nordestinos publicada nas redes sociais foi alvo de intenso debate e fomentou a discussão quanto aos limites da liberdade de expressão. Com as principais opiniões defendendo a existência ou a inexistência desses limites, acabei por concluir que eles devem, sim, estar presentes em nossa sociedade, para impedir que a liberdade de alguns restrinja a de outros. Muitos afirmam que a mensagem de ódio aos nordestinos é apenas a expressão de uma opinião e, por isso, deve ser respeitada sem quaisquer restrições. A incoerência desse argumento pode ser observada ao analisarmos as ideias do ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso: segundo ele, o discurso de ódio, que está presente na mensagem em questão, exclui do debate grupos historicamente vulneráveis, como os nordestinos. Logo, esse tipo de fala fere a liberdade de expressão de outrem, exigindo restrições.E mais: a ausência de quaisquer barreiras ao discurso pode resultar em graves impactos na sociedade. Tomemos como base a comparação feita pelo cientista Fernando Schüler entre Brasil e Estados Unidos: este defende a liberdade de expressão irrestrita, enquanto aquele opta por uma legislação protetiva, que, segundo Schüler, guarda respeito. Qual dos dois países foi palco de violentas passeatas neonazistas em 2017? O que não limita a liberdade de expressão e, por consequência, abre margem para a radicalização dos discursos de ódio. As restrições à liberdade de expressão devem existir para prevenir os ataques à liberdade de outrem, representados pelos discursos de ódio, como a mensagem contra nordestinos. Elas são importantes, também, para prevenir a radicalização desses discursos, que podem ocorrer na forma de violência, como nas passeatas nos EUA, ou de exclusão social. Devemos, portanto, limitar minimamente a liberdade de expressão, garantindo, assim, o bem-estar de todos os brasileiros A avaliação da banca Ao contextualizar o seu texto, seja pelo tema, seja pela situação de produção, o candidato contemplou em sua produção o que foi considerado marca essencial do gênero artigo de opinião nesta proposta. Tal como pedido, ele desenvolveu um texto argumentativo, expôs dois posicionamentos possíveis sobre o tema e assumiu um deles, sustentando seu posicionamento com exemplos. Contextualização Uso da primeira pessoa Tese/opinião Menção ao argumento oposto e contra-argumentação Argumento por consequência Conclusão por reafirmação da tese Título t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 38 2.4 Editorial Um editorial é um artigo de opinião, com uma diferença sutil. Quem escreve um editorial é, geralmente, o editor ou um jornalista alinhado com o pensamento e a crítica dos dirigentes do jornal. O editorial expressa, portanto, a opinião do "dono do jornal". O que isso significa? O dono de um jornal contra o editor, um jornalista responsável que deverá montar a pauta de cada edição de jornal. Ele é que recolhe todos os artigos, reportagens e notícias que seus colegas recolheram durante o dia. O editor pensa na relevância dos temas, organiza, seleciona quais artigos vão ser publicados e em que ordem. Cada notícia deve se pautar pela ética jornalística, ou seja, o texto deve ser isento, tanto quanto possível, da ideia de quem o produz. Apesar disso, o dono do jornal e o editor, que está alinhado com a opinião do proprietário, têm uma opinião sobre os fatos, que pode ser à esquerda, á direita, moralista, liberal etc. Logo na primeira página do jornal, o editor comenta um fato que ele achou importante e dá a opinião que deve expressar a opinião do jornal. Como você deve ter observado, a única diferença diz respeito à origem da opinião. No artigo, a opinião é dada por personalidades relevantes na sociedade brasileira; no editorial, ela é dada pelo editor. Veja o exemplo de um Editorial publicado pela Folha por ocasião da tramitação de uma minirreforma trabalhista. Avanço trabalhista Editada em abril, a medida provisória 1.045 tratava somente da extensão de programas de proteção ao emprego, mas teve seu escopo em muito ampliado na Câmara dos Deputados para incluir modificações na legislação trabalhista. A prorrogação por 120 dias dos mecanismos adotados durante a pandemia para preservar vagas, como redução parcial da jornada e suspensão temporária de contratos de trabalho, é correta. (...)Os deputados incorporaram ao texto novas modalidades de contratação, além de mudanças de diversos dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). (...) Introdução longa que contextualiza o tema que será alvo da opinião. O escritor supõe que o leitor não precisa saber sobre a minirreforma e a explica. Opinião sem rodeios Máscara: O artigo de opinião permite o uso do eu. Contudo, essa marca é muito sutil. Ela apenas dá mais ênfase de que a opinião é particular. Não ficamos sabendo nada desse eu, por que ele está escrevendo? O que ele sente sobre o assunto? E, além disso, como foi dito, o artigo de opinião pode também ser escrito como se fosse uma dissertação e, nesse caso, não há qualquer traço de máscara. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 39 Os objetivos são meritórios, embora as evidências internacionais apontem que, no caso de jovens, o principal obstáculo para a contratação em países em desenvolvimento é a deficiência de qualificação, não os encargos. Em outro programa, que visa a requalificação profissional, são previstos carga de trabalho limitada a 22 horas semanais e pagamento de um bônus de até R$ 550 mensais. O contrato é vinculado a treinamento, que pode ser oferecido pelo sistema S, pela própria empresa ou por meio de vouchers. Esta Folha tem defendido modificações na legislação trabalhista que favoreçam a geração de empregos formais. Está fartamente demonstrado que a CLT, no afã de regular em detalhe excessivo as relações entre empregadores e funcionários, acaba por dificultar os contratos com carteira assinada. Veja, nesse artigo, a Folha se coloca a favor da reforma trabalhista. Só para se ter uma ideia da diferença entre opinião do editor e dos jornalistas, dois dias depois, um articulista, Vinicius Torres Freire, escreveu o seguinte, aludindo a tal reforma: Isto é, desde que os negócios não sejam muito prejudicados no curto prazo e que se passem “reformas”, em particular as que esfolam mais o povaréu e não mexam muito na falta de concorrência e em favores estatais. (Folha de São Paulo, 28.08.2021) Pois é, corujinha atenta. Não precisa ficar preocupada com isso, porque essa sutileza de tendência ideológica não pode ser cobrada pela banca. Faça um texto de opinião, com uma tese clara e forte e argumente a favor. Uma possibilidade viável é fazer uso da menção “este jornal”, o que deixaria a máscara bem configurada. Só para esse ter uma ideia de como isso é dispensável, eu avaliei 5 artigos de opinião da Folha em 5 edições diferentes e somente nesse artigo sobre reforma trabalhista é que encontrei a referência a “esta folha”. A título de exemplo, considere a proposta da UFU de 2021. UFU 2021 Identificação da opinião do editor Máscara: Não é necessária. Tal qual no artigo de opinião, o que interessa nesse texto é a ideia defendida. Apesar disso, a máscara pode ser configurada ao mencionar o próprio jornal. Isso não prejudica o texto, antes deixa claro para o corretor que você atendeu o comando. Portanto, vale a pena deixar isso indicado, caso, você ache que é possível dentro da lógica do seu texto. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 40 Supondo-se que você integre o grupo de editorialistas de um jornal de circulação nacional e considerando-se os textos apresentados, redija um editorial, defendendo a implantação de cidades inteligentes como opção viável para a solução de problemas sociais. Como se poderia deixar a marca da máscara logo no começo do texto? Inteligência urbana necessária Futuro inteligente Reportagens especiais publicadas neste jornal mostraram como algumas cidades se preparam o futuro no mundo, são chamadas “cidades inteligentes. Copenhagen, por exemplo, consegue fornecer informações importantes para os cidadãos de tal forma que metade da população usa bicicleta para ir ao trabalho. Em um metrópole desse tipo é possível interligar sensores de tráfego como semáforos, acompanhar a coleta de resíduos, interconectar serviços públicos etc. Esse futuro parece distante para o Brasil. Esse tipo de revolução exige não só tecnologia mas também planejamento a longo prazo. A implantação de uma “cidade inteligente requer visão do todo eobras de infra-estrutura. (Neste ponto, pode-se escolher informações do texto de apio) (...) Nesse último aspecto, a opinião desse jornal é de que as cidades brasileiras deixam a desejar. Inúmeras reportagens já publicadas , mostram como as gestões municipais reagem diante dos problemas e qual a marca do planejamento tupiniquim... 3. O gênero híbrido: carta O mais flexível dos gêneros de escrita, utilizada para uma gama variada de situações, desde contatos informais com amigos e parentes até para atender a demandas profissionais. Serve também como base para a produção de textos relacionados a demandas coletivas, como carta aberta de manifesto. Minha sugestão é quando possível, você treine essas variações de carta. Primeira passo é conhecer a estrutura desse gênero, o que gera muita ansiedade, mas não deveria. Basta lembrar que se trata de um texto que pode ser considerado documento, daí a necessidade de se colocar tempo e espaço logo no começo da carta. Como trata-se de um gênero dialógico (que supõe um diálogo), você deve nomear o seu interlocutor, por isso se faz uso do vocativo. Estrutura da carta Título Introdução longa que contextualiza o tema. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 41 Essa é a estrutura do visual do texto. Não observar um ou outro detalhe não significa grande coisa, pois é a forma como você se posiciona no texto que realmente vai configurar o gênero. Trata-se de um texto de interlocução, no qual você se dirige ao destinatário. Isso, por si só, já tem grandes consequências. Você deve saber quem é o seu destinatário, o que ele pensa e o que ele quer para convencer essa outra pessoa. Normalmente, a banca deixa claro quem é o receptor da mensagem e quem você deve ser. 3.1 Carta Pessoal Para estudar melhor esse gênero, vamos começar pelo mais famoso e também o mais revelador dos meandros desse tipo textual: a carta pessoal. De certa forma, a tecnologia alterou de vez a forma como as pessoas se comunicam e isso tem afetado o tipo de comunicação por missivas, palavra arcaica como o próprio hábito relacionado a essa escrita. Hoje, as pessoas se comunicam por e-mail ou Whats app. Esses novos meios criaram algo novo que guarda traços do gênero-avô. De qualquer forma, entender algumas características do modelo de escrita nos ajuda a perceber os recursos que são próprios não só da carta pessoal, mas também de outros subgêneros. Vamos partir de um exemplo concreto. Local e data, por exemplo: Campinas, 20 de março de 2020 Vocativo: geralmente um “Prezado(a) Senhor(a)” seguido do nome do(a) destinatário(a) é suficiente; no caso de uma carta informal, basta “Olá”. Despeça-se com respeito: Atenciosamente, Por se tratar de um Vestibular, você deve apenas colocar as iniciais, ou adotar o nome dado pela Banca. Não se identifique. Figura : Pixabay t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 42 2Marilia, 05 de agosto –1997 Roberto, (posso chamar de Beto?) Lembra de mim? Eu sou a Ítala da internet! Espero que você se lembre. Já estou em Marília, como você deve ter percebido pelo cabeçalho, e vou ficar esperando uma carta sua como o prometido .É muito legal fazer amizades e espero que você curta mais essa tanto quanto eu. (...) Ai, tô meio sem graça, sem saber o que escrever, afinal não sei se você lembra de mim, ou como você vai receber esta carta .Bem, vamos começar refrescando a sua memória, afinal já faz algum tempo que a gente se clicou, né? Eu tenho 21 anos (faço 22 em outubro) e estudo Biomedicina na Universidade de Marília. Meus pais moram em Santos e foi de lá que eu cliquei com você. Aqui em Marília, infelizmente, eu não possuo computador, mas dá pra arranjar um tempinho e escrever para os amigos, né? Espero que você tbém tenha um tempinho pra mim. Um beijão Samantha E estrutura, segundo Jane Quintiliano Guimarães Silva, é a seguinte. Mas o que sobressai nessa carta? A interação com o leitor. O remetente se refere ao destinatário, inclusive forçando uma certa intimidade que, à primeira vista, não existia, “posso chamar de Beto”? A linguagem é descontraída, justamente, como forma de expressar sinceridade. A interatividade aparece de outros modos, através de perguntas estratégicas com a finalidade de provocar o diálogo que deve continuar nas outras cartas. Além disso, a interlocutora assume uma máscara, ou seja assume uma identidade pela qual deseja que o outro (no caso, o Beto) a reconheça e, ao mesmo tempo, imagina quem ele deve ser e adapta sua linguagem a essa idealização. No caso da carta acima, a Samantha faz com que imaginemos uma universitária, descontraída, bem-humorada e sociável. Pelo que ela escreve, supõe um possível “crush”, que manifestou algum tipo de interesse. Ela imagina alguém que pode ser conquistado se for provocado. 2 Silva , J.Q.G. “Um estudo sobre o gênero carta pessoal: das práticas comunicativas aos indícios de interatividade na escrita dos textos (Tese de Doutorado). Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG 2002. Cabeçalho e saudação Solicitude Pré-encerramento t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 43 Máscara: Em cartas, a subjetividade de quem escreve define muitos elementos da escrita: uma criança escreve de um jeito, um adulto de outro; uma mãe escrevendo para o filho vale-se de um tipo de vocabulário, já escrevendo para a professora da escola vale-se de outra organização linguística; etc. Mas a questão da máscara não se limita somente a esses efeitos. Em cartas argumentativas, a máscara, que às vezes, pode ser escolhida, servem como recurso argumentativo. Suponha que você seja convidado a escrever uma carta para o Ministro dos Transportes para reclamar da condição das estradas, se você se identificar como um caminhoneiro, aquilo que você disser sobre o que observa todos os dias terá mais peso do que se a carta for assinada por um estudante. Na carta pessoal, há nitidamente a consciência de que se escreve para o outro, segundo determinadas intencionalidades que supõem uma resposta continuada por trocas epistolares. Nesse processo, é comum que o autor se valha da polidez. Esse jogo de imagens é importante no gênero carta. Considere a observação feita por segundo Jane Quintiliano Guimarães Silva sobre a construção da auto- imagem. Distinguem-se “dois aspectos complementares da autoimagem construída socialmente: a face negativa (FTAs) e a face positiva (FTA). Esta reporta ao desejo, da parte dos participantes, de aprovação social e reconhecimento da face (auto-imagem); aquela reporta ao desejo da não imposição do outro e às reservas do território pessoal (privado). Para os autores, há um conjunto de estratégias das quais os interlocutores (os participantes) lançam mão para resguardar a sua face e não arranhar a face do outro”. 3 Impressionante como a carta pessoal tem todas os traços que os vestibulares que adotam o redação por gênero gostam de destacar quanto a habilidade exigida dos candidatos. Esse gênero exige que o escritor trabalhe muito bem a máscara, a autoimagem e a compreensão do contexto situacional. Além disso, a carta pessoal permite sequências discursivas bastante variadas, narrativa, injuntiva, expositiva e opinativa, dependendo da finalidade. Surpreende também que nenhum vestibular ainda tenha explorado esse gênero tão rico. Em todo caso, esse ponto de partida permite entender o que se altera em relação aos outros tipos de carta. De forma esquemática, teríamos as seguintes possibilidades. 3 Ibidem Preocupação em como o outro vai interpretar o texto. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA01 – Gêneros Modelares 44 Talvez a diferença mais gritante seja referente à assimetria. Na carta pessoal, as pessoas se colocam no mesmo nível social de interlocução. No caso das carta públicas, reconhece-se uma diferença social que tem reflexo na própria linguagem. Por outro lado, mantém-se a exigência de polidez e do jogo entre máscara e imagem do outro. 3.2 Carta do leitor ou Carta argumentativa Para definir esse gênero, vou recortar e colar a definição dada pela banca da UEG, “A carta de leitor é um gênero textual, comumente argumentativo, que circula em jornais e revistas. Seu objetivo é emitir um parecer de leitor sobre matérias e opiniões diversas publicadas nesses meios de comunicação.” O nome desse gênero já demonstra no geral qual é a situação. Você leu um artigo de jornal, que provocou a necessidade de escrita. Podemos imaginar duas situações. Você leu um artigo de opinião Você concorda com o articulista Você achou a exposição brilhante. Portanto, você gostaria de parabenizar o autor do texto, apontando suas grandes qualidades. O texto expôs bem uma ideia com qual você compartilha, mas há ainda alguns outros argumentos que não foram considerados Você discorda do articulista Você expõe sua ideia contrária e parte para a contra-argumentação. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 45 A título de exemplo, vamos considerar um artigo de opinião feito por um candidato da UNICAMP/2013 que teve usa redação publicada como “acima da média”. A instrução da banca era a seguinte: Imagine que, ao ler a matéria "Cães vão tomar uma 'gelada' com cerveja pet", você se sente incomodado por não haver nela nenhuma alusão aos passiveis efeitos que esse tipo de produto pode ter sobre o consumo de álcool, especialmente por adolescentes . Como leitor assíduo, você vem acompanhando o debate sobre o álcool na adolescência e decide escrever uma carta para a seção Leitor do jornal, criticando a matéria por não mencionar o problema do aumento do consumo de álcool. Nessa carta, dirigida aos redatores do jornal, você deverá: • fazer menção ã matéria publicada, de modo que mesmo quem não a tenha lido entenda a importância da crítica que você faz; • fundamentar a sua crítica com dados apresentados na matéria "Vergonha Nacional", reproduzidos adiante. Atenção: ao assinar a carta, use apenas as iniciais do remetente. Prezados redatores, Acompanho diariamente este jornal – e não o leio, apenas; mas também me questiono sobre o conteúdo que é nele reproduzido. Dessa forma, ao renegar a posição de leitor passivo, me vejo na função de expressar meu descontentamento perante a matéria veiculada no caderno cotidiano do último dia 22 de julho, que tinha por objetivo informar sobre uma nova linha de cerveja para cães. Abarcada pela explosão de produtos de consumo humano que ganharam versões para animais domésticos, a reportagem exalta a bebida para os cães, como se ela levasse a outro nível o companheirismo do animal, que agora acompanha o dono até na "cervejinha " de cada dia. Inclusive, o texto ilustra esta ideia por meio do caso de um cachorro que foi inserido pelos donos, com sua cerveja especial, na festa de comemoração por um time de futebol. Você leu uma reportagem Você ficou indignado, apresenta uma tese crítica (opinião) e passa a defendê-la tendo como referência a reportagem. Você gostaria de apresentar sua reflexão, num tipo de texto mais expositivo de causas explicativas sobre o ocorrido. Vocativo, saudação Identificação de quem escreve e circunstância que levou a escrita da carta. Boa paráfrase do artigo-fonte t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 46 Me incomoda, assim, que não surja na matéria nenhum questionamento sobre consequências mais sérias desta banalização do consumo de álcool em nossa sociedade (mesmo que a bebida dos cães não possua teor etílico, a referência é clara), principalmente entre aqueles que possuem menos maturidade para avaliar suas atitudes: os adolescentes. Dados de um estudo publicado no periódico "Drugs and Alcohol Dependence" mostram que 88% dos jovens brasileiros de 14 a 17 anos entrevistados na pesquisa já se embebedaram ao menos uma vez na vida, sendo um terço deles num período recente de um ano. A pesquisa também revela que, muitas vezes, o contato com a bebida se associa ao ambiente familiar, já que quase 25% daqueles que afirmaram ter se embebedado estavam em casa própria ou de parentes quando o fizeram pela última vez. Além disso, 17% foram acompanhados por pais ou tios, o que denuncia a naturalidade com que tal atitude é encarada por seus responsáveis. Então, se agora até o cão está apto a compartilhar da bebida, como fazer com que os jovens não se sintam ainda mais estimulados a abusar do consumo de álcool? Não pretendo me colocar por meio desta como um moralista ou defensor do que alguns chamariam de "bons costumes , mas me indigna o fato de que este jornal não tenha proposto um debate relevante sobre o assunto, e simplesmente transcreva um fato que contribui na institucionalização velada do abuso de álcool por parte dos jovens. O.D.M Percebeu a diferença em relação à carta pessoal? Carta Pessoal Carta do Leitor Simetria Assimetria Linguagem mais descontraída Linguagem próxima da formal Recurso baseado na interlocução Recurso baseado na argumentação Imagem do outro baseada na intimidade Imagem do leitor de jornal; interlocução com o artigo lido. Uso de recursos interativos como perguntas Uso de recursos enfáticos de marcação de opinião. • Nesse exemplo publicado, o escritor não colocou local e data. Posso fazer isso? Dúvidas?! Fi gu ra : P ix ab ay Primeira pessoa, marca de linguagem coloquial “me incomoda” Contra- argumentação Pré- encerramento, despedida e assinatura. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 47 Não é muito prudente. Nos jornais, por questão de espaço, quando se publica uma carta do leitor, são escolhidos os melhores trechos. Mas aquilo que vemos no jornal não reproduz a carta inteira. A carta deve conter todos os elementos. No caso da UNICAMP, a banca não fazia questão de todas as características formais da carta. • Eu coloco o local e a data no canto direito ou esquerdo? Tanto faz, são estilos de carta que não alteram o gênero. • Devo pular quantas linhas? Você não tem muitas linhas na prova, pule uma só do local e data para o vocativo, depois não precisa pular mais nada, pois você precisará de cada parte da folha para fazer um bom texto. • Como deve ser a introdução? Você se identifica, apresenta o motivo da escrita do texto que tem como referência um outro texto (artigo de opinião ou reportagem). Faz um resumo do texto com o qual você manterá a interlocução. • Dê um exemplo de como começo... Eu, F.S.A, estudante, li o seu artigo que saiu no jornal X, no qual o senhor emitia sua opinião... • Posso fingir que tenho outra profissão, sexo etc (máscara) ? Pode. Aliás, essa escolha pode configurar um argumento. Por exemplo, em uma das provas da UNICAMP, foi solicitado que o candidato escrevesse para o Ministro dos Transportes para fazer reivindicações em relação às estradas. Imagine que você fosse um caminhoneiro, sua experiência prática serviria como argumento. • Como deve ser a conclusão? Uma reafirmação da sua crítica ou elogio. Pode-se sugerir uma reavaliação da opinião (no caso de discordância) ou dar os parabéns pelo artigo, no caso de uma interlocução com o artigo de opinião. Se você estiver comentando um fato ocorrido, deve-se reafirmar a tese. • A despedida (“Atenciosamente”) semprefica à esquerda? Novamente isso é irrelevante. A tipo dissertativo é a base de sustentação do desenvolvimento da carta. Matéria que estudamos extensivamente nos outros pdfs. Você deve partir de uma tese e apresentar argumentos em defesa da sua ideia. Há uma outra variação. Fazer um texto contra-argumentativo. Nesse caso, vale a pena rever o tópico “artigo contra- argumentativo”. Máscara: Você é um leitor assíduo que não gostou de algo que foi escrito, ou gostaria de comentar algum fato publicado pelo jornal. Além disso, você deve fazer o que se pede. Se no comando está escrito que você deve criticar, é esse verbo que você de usar ao se identificar logo no começo da carta, não use sinônimos. Por exemplo: “Meu nome é F.A, professor e assíduo leitor desse jornal. Na terça-feira foi publicada uma matéria com a qual não concordei. Gostaria através dessa carta criticar o artigo que segundo meu ponto de vista... t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 48 3.3 Carta Aberta Para começa a exposição da carta aberta, que tal começar por um exemplo? Em 2014, a UNICAMP trouxe a seguinte proposta. Em virtude dos problemas de trânsito, uma associação de moradores de uma grande cidade se mobilizou, buscou informações em textos e documentos variados e optou por elaborar uma carta aberta. Você, como membro da associação, ficou responsável por redigir a carta a ser divulgada nas redes sociais. Essa carta tem o objetivo de reivindicar, junto às autoridades municipais, ações consistentes para a melhoria da mobilidade urbana na sua cidade. Para estruturar a sua argumentação, utilize também informações apresentadas nos trechos abaixo, que foram lidos pelos membros da associação. Atenção: assine a carta usando apenas as iniciais do remetente. Logo de cara, já é possível perceber um dos traços mais importantes do gênero. Para quê ele serve? “Reivindicar, junto às autoridades públicas”, alguma ação. Ou seja, a carta tem como conteúdo questões de interesso público ou social. A função da Carta Aberta é: Destinada a Expressar indignação Alertar Exigir algo Autoridades Sociedade em geral Algum grupo específico t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 49 A finalidade desse tipo de carta condiciona tanto a estrutura quanto a linguagem. Como ficaria? Observe uma redação acima da média, publicada pela UNICAMP. Carta Aberta à Prefeitura Municipal Como representante da Associação de Moradores do Município, venho, mediante esta carta aberta dirigida à Prefeitura Municipal, reinvidicar a instauração imediata e em longo prazo de medidas com o propósito de melhorar o sistema viário da nossa cidade. Nos últimos anos, nossa comunidade vem enfrentando o aumento exponencial do número de horas perdidas no trânsito engarrafado, bem como as cada vez mais lotadas viagens de ônibus e trem. O aparente descaso das nossas autoridades públicas, no tocante a essa questão crucial, levou os associados a realizarem uma abrangente pesquisa sobre os métodos utilizados por diversas cidades do mundo, visando reverter quadros de estagnação da mobilidade urbana. A Associação pôde constatar, dessa forma, que uma possível solução imediata é o polêmico pedágio urbano. Apesar da repulsa à primeira vista que essa medida pressupõe, ela vem sendo aplicada com sucesso em Londres desde 2003, sendo a receita arrecadada nos pedágios revertida em investimentos no transporte público. É importante também lembrar outra medida europeia, que consiste em oferecer bicicletas públicas, de aluguel, para a população, bem como a construção de ciclovias – oferecendo um meio de transporte alternativo. Contudo, ressalto que a maior parte das melhorias apenas virá a partir de medidas que atinjam nossa sociedade no futuro. Dessa forma, faz-se necessária uma verdadeira revolução municipal, que consista na descentralização dos pólos empregatícios da cidade, bem como na informatização dos serviços públicos. É absolutamente inadmissível que o cidadão perca longas horas no trânsito por morar distante do seu trabalho, sendo muito mais lógico empregá-lo próximo à sua residência, mediante incentivos fiscais a empresas que se instalem nos subúrbios da nossa urbe. Eu e meus colegas associados, bem como a sociedade em geral, esperamos que nossas reivindicações sejam atendidas, a partir de um planejamento conciso que possa melhorar nossas condições de transporte. Sem mais, S.I.N. Título que identifica o gênero e o destinatário Quem você é, o que você deseja reivindicar ou mesmo do que gostaria de reclamar Motivo que gerou a reivindicação Soluções possíveis Expressões enfáticas Conclusão em que se reforça a esperança de que algo seja feito. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 50 A estrutura da Carta Aberta varia. Se ela for publicada em um jornal, dispensa-se o uso de local e data. Além disso, se no título houver menção à autoridade ou à coletividade, não é preciso o uso do vocativo. Na dúvida, corujinha certeira, faça o cabeçalho. Se você fizer algo a mais na estrutura, não perderá nota. Coloque local e data, depois apresente o título, que deve ser indicativo do gênero, indicando que se trata de uma carta aberta, acrescente o motivo e para quem. Na outra linha, coloque o vocativo, que deve ser respeitoso. Se você não souber qual é pronome de tratamento de autoridades, escreva simplesmente “Prezado Senhor “, e identifique a autoridade, por exemplo, “Prezador Prefeito da cidade de Campinas. No parágrafo seguinte, de forma objetiva, você se identifica e apresenta a questão que causa indignação. O desenvolvimento depende da intenção da carta aberta. Se a finalidade que predomina é a de expressar descontentamento, seguem-se as reclamações possíveis, os argumentos dos que defendem o oposto, a contra-argumentação e, finalmente, uma conclusão óbvia de que algo deve ser feito. Por outro lado, se a intenção principal é reivindicar, então, o desenvolvimento terá duas partes. Na primeira, você deve argumentar a favor do protesto, depois apresentar a medida que se espera que minimize o problema, e argumentar a favor da ação proposta. A conclusão reafirma a necessidade da tomada de atitude por parte das autoridades competentes. O exemplo de uma Carta Aberta acima da média ajuda bastante, mas vale a pena considerar também, os erros a serem evitados. A banca publicou um redação abaixo da média e uma anulada. Então vamos tentar captar como fazer pelo método reverso. A diferença principal é que a Carta Aberta tem caráter público e a Carta de Reclamação, Caros cidadãos Campineiros. Como membro da associação de moradores, venho por meio desta, trazer argumentos simples, mas eficazes nesta luta pela melhoria da Redação abaixo da média Interlocução parcial, não se percebe o apelo às autoridades públicas, como foi solicitado Não apresentou o problema para depois discutir a solução. Não há indignação. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 51 mobilidade urbana, sem trazer a tona as situações caóticas vivenciadas no decorrer deste ano de 2013. Segundo o planejador urbano Jeff Risom de um escritório dinamarquês, quando o assunto é mobilidade urbana, o melhor local é aquele que apresenta o maior número de opções. Londres é um exemplo prático do que precisamos; a capital inglesa adotou desde 2003 o pedágio urbano, que consequentemente acarretou na diminuição do fluxo de carros nas ruas e o dinheiro arrecadado foi convertido em melhorias no transporte público. Tomando essa ideia como ponto de partida, todo dinheiro arrecadado comessa medida na nossa cidade, poderá ser utilizada pela prefeitura para suprir uma possível diminuição de impostos às empresas encarregadas de realizar o serviço, melhorar as condições das vias em questão, aumentar a frota destes veículos e aumentar a disponibilidade dos horários para que qualquer cidadão possa usufruir do benefício. Portanto, devido a todos esses motivos, é que peço a todos os internautas que não saiam desta página sem ler esta carta, e que ao ler, divulguem aos seus conhecidos, a fim de que, junto as autoridades municipais, estes argumentos ganhem força e atuem em prol do bem comum. Campinas 10 de novembro de 2013. M.L.B.D. Colocar título para identificar o gênero "Carta aberta a..." Referir-se às autoridades públicas a quem a carta é direcionada Apresentar o problema de forma contundente Não fazer paráfrase simples dos argumentos. Redação anulada Paráfrase dos trechos da coletânea, sem contribuição pessoal. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 52 “A melhor cidade, do ponto de vista da mobilidade, é a que possui mais opções”, conta o planejador urbano Jeff Risom do Gehl Architects um escritorio dinamarquês. Segundo ele Londres está entre os melhores exemplos práticos dessa ideia aplicada às megas cidades. A capital inglesa adotou o pedagio urbano em 2003 (alguns estados brasileiros também adotaram), minimizando o número de automovel em circulação e gerando uma receita anual que passou a ser reaplicada em melhorias no seu já considerado sistema de transporte público. Afinal, o custo da morosidade dos deslocamentos urbanos em alguns estados é muito alto, mais tem suas vantagens é claro, em algumas estradas da cidade de Campinas-SP existe o pedagio, alguns acham caro, outros, acham bom pelo fato de manter as rodovias sempre boas. Evidentemente que não pode reconstruir as cidades, para melhorar, porém são possíveis e necessárias formação de centralidades urbanas, com a descentralização de equipamentos sociais, assim modificando-se, os fatores gerados de viagens e diminuindo-se as necessidades de deslocamento, principalmente motorizados. Estrutura de dissertação Não há interlocução Não há identificação de quem escreve Carta Aberta x Carta pessoal Máscara: Você faz parte de um grupo ou associação ou você é um cidadão consciente. Deve escrever sobre uma questão que interessa a uma comunidade. Está indignado com algo e toma a atitude de escrever para alertar, para conclamar, para exigir etc. Nesse caso é fundamental ler bem o comando e usar o verbo sugerido. Se a banca propõe que você escreva para conclamar, é esse verbo que você deve usar. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 53 Novamente, a diferença tem a ver com o cárter público de uma e privado da outra, lembrando que no caso da Carta Pessoal, o caráter privado ainda se associa à intimidade própria de pessoas que se conhecem. O que elas têm em comum de fato é a estrutura. A Carta Pessoal é informal, não necessariamente argumentativa, somente se a circunstância exigir, tem marcas de dialogia, e podem ser considerados temas variados. A Carta Aberta e a Argumentativa são muito semelhantes, já que ambas pressupõem o uso de recursos argumentativos no desenvolvimento, com exposição lógica de dados que embasem a opinião. Ou seja, se pautam pela persuasão, levando o leitor a aceitar a tese defendida. A diferença entre as duas se sobressai devido ao caráter público da Carta Aberta. Ela é direcionada para autoridades e aborda assuntos relevantes para a sociedade. Outro traço próprio da carta aberta é o uso de título identificador como vocativo, que não se observa na Carta Argumentativa. A Carta do Leitor tem dois traços importantes: marca de pessoalidade e referência a algo publicado no jornal. Há um diálogo interno em relação ao que os jornalistas disseram ou publicaram. A Carta Aberta é mais formal e trata de assuntos que têm relevância prática na vida de muitas pessoas, mas que não necessariamente tenham sido discutidas no veículo de imprensa. A diferença principal é que a Carta Aberta tem caráter público e a Carta de Reclamação, privado. Sendo assim, a Carta de Reclamação não tem título, e os assuntos dizem respeito descontentamento com algum produto ou serviço que causou algum tipo de descontentamento. Carta Aberta x Carta Argumentativa Carta Aberta x Carta do Leitor Carta Aberta x Carta de reclamação Ficha técnica: Carta aberta Finalidade: manifestar-se publicamente em relação a algo de interesse público e envolvendo autoridades (opinião, ação institucional, omissão etc), revelando opinião e reivindicação. Sequências discursivas: Trata-se de um gênero no qual predomina o texto opinativo. Estrutura: Há uma estrutura formal consagrada: Título identificador: Destaca-se o gênero e apresenta-se a intenção algo como “Carta aberta a...” Corpo do texto Introdução: O autor (normalmente coletivo) se identifica, aponta o motivo da escrita da carta aberta, enfatizando o problema. Desenvolvimento: exposição da questão em si, apresentação dos motivos que levaram à discordância. No caso de haver revindicação, indicar uma possível ação e defendê-la. Conclusão: encerra o discurso, reiterando o descontentamento e sugerindo ou exigindo soluções. Algumas linhas* abaixo do corpo do texto, o autor se despede com uma expressão curta, “respeitosamente” e assina (no caso do vestibular, isso é feito apondo-se as iniciais). Linguagem: Linguagem formal e respeitosa; uso de expressões que indicam coletivadade, “nós” (isso depende da proposta) Marcas de Gênero: A própria estrutura fixa da carta e o primeiro parágrafo configuram para o leitor o gênero carta aberta. O título indicativo é outra marca desse gênero. *Nos vestibulares, não é preciso pular linha. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 54 3.4 Carta de reclamação O nome já diz, você deve usar a estrutura da carta para reclamar de algo. Em certo sentido, ela tem pontos de contato com a Carta Aberta, pois você se vale desse instrumento para manifestar algum problema. A diferença principal é que a Carta Aberta tem caráter público e a Carta de Reclamação, privado. Sendo assim, a Carta de Reclamação não tem título, e os assuntos dizem respeito ao descontentamento com algum produto ou serviço e os argumentos devem girar também em torno das necessidades pessoais. Uma coisa é reclamar da rua esburacada tendo em vista as necessidades da comunidade, outra, é reclamar do buraco, pois danificou o seu carro. A título de exemplo, resolvi fazer uma Carta de Reclamação a partir do exemplo de Carta Aberta dado acima. Como ficaria? Uberlândia, 10 de agosto de 2021 Prezado Prefeito, Como munícipe desta cidade, venho, mediante esta carta, mostrar o meu descontentamento com o sistema viário da nossa cidade e os consequentes problemas de mobilidade urbana. Nos últimos anos, nossa cidade vem enfrentando o aumento exponencial da frota de veículos, o que se nota pelos frequentes engarrafamentos... No meu caso, particular, o tempo que gasto para ir ao trabalho... Carta Aberta à Prefeitura Municipal Como representante da Associação de Moradores do Município, venho, mediante esta carta aberta dirigida à Prefeitura Municipal, reivindicar a instauração imediata e em longo prazo de medidas com o propósito de melhorar o sistema viário da nossa cidade. Nos últimos anos, nossa comunidade vem enfrentando o aumento exponencial do número de horas perdidas no trânsito engarrafado, bem como as cada vez mais lotadas viagens de ônibus e trem. O aparentedescaso das nossas autoridades públicas, no tocante a essa questão crucial, levou os associados a realizarem uma abrangente pesquisa sobre os métodos utilizados por diversas cidades do mundo, visando reverter quadros de estagnação da mobilidade urbana Esse argumento de cunho pessoal, configura a diferença entre a carta aberta e a carta de reclamação. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 55 3.5 Carta de Solicitação Agora acho que você já entendeu a lógica. Estamos diante de um gênero que se define pela estrutura carta e pelo conteúdo: você deve pedir algo. A partir daí, quem manda é o comando que caracteriza a circunstância que deve ser mencionada. Máscara: Você está descontente. Esse estado de espírito deve aparecer de algum modo no estilo de texto, sem que você deixe de ser respeitoso. Ficha técnica: Carta de reclamação Finalidade: demonstrar sua insatisfação em relação a algo de interesse particular, algum serviço que deixou a desejar, algum produto defeituoso etc. Sequências discursivas: Trata-se de um gênero no qual predomina o texto opinativo. Estrutura: Estrutura de carta Corpo do texto Introdução: O autor se identifica, aponta o motivo da escrita da carta, enfatizando o descontentamento. Desenvolvimento: exposição da questão em si, argumentando com a finalidade de mostrar que a reclamação tem sentido. No caso de haver revindicação, indicar uma possível ação e defendê-la. Conclusão: encerra o discurso, reiterando o descontentamento e, se for o caso, sugerindo ou exigindo soluções. Algumas linhas* abaixo do corpo do texto, o autor se despede com uma expressão curta, “respeitosamente” e assina (no caso do vestibular, isso é feito apondo-se as iniciais). Linguagem: Linguagem formal e respeitosa; uso de expressões que indicam coletivadade, “nós” (isso depende da proposta) Marcas de Gênero: A própria estrutura fixa da carta e o primeiro parágrafo configuram para o leitor o gênero carta de reclamação. *Nos vestibulares, não é preciso pular linhas. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 56 Para exemplificar, considere o comando abaixo. UFU/ 2021 Com base nos textos, redija uma carta de solicitação ao representante do Ministério da Justiça, solicitando informações sobre a posição do Brasil em relação às tecnologias que aumentam o potencial humano e apresentando argumentos favoráveis ao uso dessas tecnologias. Observe como o parágrafo inicial da carta já define o gênero. Uberlândia, 10 de setembro de 2021 Prezado Representante do Ministério da Justiça Meu nome é José, um pacato mas consciente cidadão brasileiro. Recentemente, tomei contato com os avanços biotecnologia através de uma notícia de jornal que chamou minha atenção. Pesquisei sobre o assunto que, aliás, é bastante polêmico: as possibilidades de aumento de potencial humano são promissoras, mas ao mesmo tempo requerem cuidados. Diante disso, fiquei bastante preocupado com o que estamos fazendo a respeito e resolvi escrever para solicitar informações sobre a posição do Brasil em relação às polêmica envolvendo a biotecnologia. Introdução: você se identifica, diz o motivo da escrita: diante de um problema apontado, você solicita algo. Desenvolvimento: Argumenta em relação à necessidade de se resolver. Apresenta a solução e argumenta a favor da solução. Conclusão: Parágrafo curto, no qual você reafirma seu pedido e se despede respeitosamente. Ficha técnica: Carta de Solicitação Finalidade: apresentar um problema e solicitar algo que posso ou resolver o problema ou minimizar as consequências. Sequências discursivas: Trata-se de um gênero no qual predomina o texto opinativo, mas há sequências expositivas também. Estrutura: Estrutura de carta Corpo do texto Introdução: O autor se identifica, aponta o motivo da escrita da carta, enfatizando o problema e o que será solicitado. Desenvolvimento: exposição da questão em si, argumentando com a finalidade de mostrar que a solicitação tem sentido. Indicar uma possível ação e defendê-la. Conclusão: encerra o discurso, reiterando a solicitação. Algumas linhas* abaixo do corpo do texto, o autor se despede com uma expressão curta, “respeitosamente” e assina (no caso do vestibular, isso é feito apondo-se as iniciais). Linguagem: Linguagem formal e respeitosa; uso de expressões que indicam coletivadade, “nós” (isso depende da proposta) Marcas de Gênero: t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 57 4. Gêneros associados à narração No pdf 04, considerei de forma extensiva como fazer uma narrativa, a diferença entre narrativa e relato e os gêneros associados à narrativa: ✓ Relato pessoal ✓ Relatório ✓ Notícia ✓ Fábula ✓ Crônica ✓ Perfil público ✓ Obituário ✓ Carta de Apresentação Para não deixar passar em branco os gêneros associados à narrativa, resolvi desenvolver melhor o gênero notícia de jornal. 4.1 Notícia de Jornal Cuidado! Estamos simplesmente entrando em domínios do que é conhecido como o quarto poder: a imprensa. Nas sociedades democráticas, os cidadãos precisam ter acesso aos fatos, saber o que está acontecendo para exigir de seus representantes que eles tomem determinadas atitudes. Portanto, aqueles que têm contato direto com os fatos e os transmitem a nós são responsáveis pela formação daquilo que se chama opinião pública e isso não é pouca coisa. Os jornalistas e o texto jornalístico ganham, nas sociedades modernas, ares místicos e uma autoridade que antigamente era conferida somente aos sacerdotes e profetas. Dada a importância de tal gênero em nossa sociedade, seria interessante saber Máscara: Você está descontente devido a um problema e solicita a alguém competente a resolução do problema. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 58 como ele é construído, não só para ter domínio sobre esse tipo de linguagem como também para desmistificá-lo. Normalmente, considera-se que o relato transmite o que ocorreu de fato. Trata-se do primeiro mito do jornalismo. Os profissionais da imprensa passam, de forma implícita, suas opiniões ao escrever uma notícia. Por exemplo, quando o jornalista quer se referir às ações dos integrantes do MST (Movimento dos Sem-terra), ele tem à sua escolha duas palavras: “invasão” ou “ocupação”. “Invasão” traz embutida a ideia de que a ação é ilegal; “ocupação” ressalta o papel social da ação, eles estariam ocupando uma terra que, segundo a Constituição, deveria ter sido expropriada para a reforma agrária. Portanto, a escolha de uma ou outra palavra não é neutra. Por que, então, temos a impressão de que o jornalismo transmite o fato tal como ele ocorreu? Isso se dá pela estrutura desse tipo de relato, que tem a finalidade de criar a ilusão de transmitir o que “exatamente” aconteceu. Como podemos realizar essa “mágica”? O relato jornalístico tem as mesmas características dos relatos em geral, mas segue certas regras para estruturar a informação de forma a levar o leitor a acreditar na veracidade da matéria. Esse efeito linguístico é conhecido pelo conceito de “objetividade”, que significa tratar o assunto como se fosse um objeto, uma coisa, sem manifestar os próprios sentimentos. Quando um jornalista fala de um massacre, ele deve transmitir a mensagem com a mesma frieza com que falaria de uma cadeira. Há algum tempo, um jornalista que cobria o conflito na Iugoslávia deu uma entrevista dizendo ter se emocionado profundamente com a situação que testemunhara em alguns momentos, contudo, ao se apresentar para atelevisão, o seu semblante era sério e ele falava dando relevo à informação sem manifestar possíveis emoções. Tal frieza decorre do fato de que o relato imitou, linguisticamente, o procedimento do texto científico. As informações devem ser exatas e devem ser apresentadas metodicamente. Isso é evidente no relato jornalístico. Há um método para se construir o texto. Pretende-se dizer o que ocorreu, então, antes de começar a escrever, o jornalista deve ter em mente as seguintes perguntas: O que? Quando? Quem? Onde? Como? Por quê? As respostas devem ser claras, rápidas e precisas. Depois disso, ele começa a montar o texto, que também segue regras específicas. A notícia, normalmente, apresenta três partes: manchete, lide e corpo. A manchete anuncia a informação principal do texto , descrevendo-a com precisão. Deve ser uma frase curta, que tem como função despertar a atenção do leitor para o texto. O lide (lead) é a abertura da matéria. Deve reunir, no primeiro parágrafo, as informações essenciais, resumidas, do fato e responder rapidamente às perguntas essenciais do relato. O corpo desenvolve e dá detalhes do que foi apresentado no lide. Para mostrar como construir um relato jornalístico, vamos considerar um poema de Manuel Bandeira, “Poema tirado de uma notícia de jornal”, reconstituindo passo a passo a possível notícia. Essa brincadeira com textos nos permitirá perceber a diferença de efeito produzido por um ou outro gênero literário. João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia [num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 59 Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989, 16 ª ed., p. 107). O poema apresenta algumas respostas para as questões de um relato jornalístico, menciona “o quê”, “onde” e “como”. As outras questões ou não são respondidas ou o poeta as responde de forma vaga. Nesse caso, tentaremos preencher esses dados com nossa imaginação. Nossas anotações ficariam mais ou menos assim: -O quê? O suicídio de João. -Quando? O poema não menciona. Note que, para dar veracidade ao texto, seria importante mencionar precisamente quando ocorreu o fato. Para a nossa notícia, consideraremos a seguinte resposta: 20 de novembro de 2002, por volta das 23h30. -Quem? O poeta não responde satisfatoriamente essa questão. Deveria constar na sua identificação nome, sobrenome, idade, estado civil e profissão. Caso o jornalista não soubesse informar esses dados deveria escrever: um homem, apelidado de João Gostoso, aparentando 34 anos, sem identificação precisa, desempregado. Vamos considerar o seguinte: João da Silva, 34 anos, solteiro, desempregado. -Onde? Na Lagoa Rodrigo de Freitas. - Como? Atirou-se na Lagoa e morreu afogado. -Por quê? O texto não menciona. O autor deve apontar o desconhecimento do motivo, escrevendo algo como “motivo desconhecido”. Respondidas as seis perguntas essenciais, já seria possível fazer o lide. Recomenda-se que o autor elabore a manchete a partir desse texto resumido sobre o fato. Ao organizar a linguagem, o autor deve ser direto, claro e conciso. Para isso, utiliza-se a ordem direta e a voz ativa, ou seja, deve-se apresentar o sujeito, depois a ação e finalmente os advérbios (circunstâncias). É aconselhável o uso de um padrão culto mediano, ou seja, sem termos esdrúxulos ou pouco usados. Os fatos devem ser apresentados de forma impessoal , em terceira pessoa. Seguindo essas regras, a lide ficaria mais ou menos assim: João da Silva, 34 solteiro, desempregado, morreu afogado na Lagoa Rodrigo de Freitas, ontem, 20 de novembro de 2002, por volta das 23h30m. A polícia suspeita tratar-se de suicídio. Testemunhas afirmam ter visto quando ele se jogou na Lagoa. Não são conhecidos ainda os motivos que levaram o desempregado a se matar. Resumindo mais ainda o lide, poderíamos chegar ao seguinte: Desempregado se atira na Lagoa. Teríamos a manchete. Depois disso, o autor da notícia deveria retomar as informações e ampliá-las, dizendo onde morava João da Silva, o que fazia, como sobrevivia., quais foram suas últimas ações, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 60 apresentar depoimentos das pessoas que o viram pela última vez etc. Tendo formulado as três partes do relato jornalístico, bastaria montar o texto. Essa estrutura fixa do relato jornalístico é responsável pela ilusão de realidade que temos ao ler o texto. Observe como a lide que criamos a partir do poema de Manuel Bandeira parece-nos apresentar um fato ocorrido, embora se trate de uma cena imaginada. No poema de Bandeira, as indefinições relacionadas ao nome do indivíduo, às suas características, ao momento em que ocorreu o fato tornam as ações de “João Gostoso” enigmáticas. Já o texto jornalístico, ao registrar tecnicamente todos os detalhes e apresentar de forma fria a informação, não deixa espaço para a imaginação. Em 2104, a UEPG, propôs a seguinte redação. PROPOSTA Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas “Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.» Adaptado de: Rubem Alves. O texto de apoio destaca dois tipos de escola: Escolas que são gaiolas e Escolas que são asas Escolha apenas UM dos tipos de escola para desenvolver um texto no GÊNERO NOTÍCIA. A expressão escolhida pode ser utilizada como título/manchete do seu texto. Diante dessa proposta, esperava-se o relato de um acontecimento qualquer, desde que ocorrido sob uma das perspectivas previamente sinalizadas pelo texto de apoio: em uma escola-gaiola ou numa escola-asa. Uma das propostas bem-sucedidas começava contextualizando tempo, espaço e evento. Projetos que estimulem a criatividade dos alunos são premiados Ontem, 22 de novembro, no Centro de Cultura de Ponta Grossa, houve a premiação das Instituições que participaram do Projeto “Escolas que são asas”. Quando? Onde? O quê? Como? t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 61 O trabalho se constituía em elaborar um projeto que estimulasse a criatividade e a liberdade entre os alunos. Agora fica fácil entender por que a redação abaixo foi zerada. O candidato fez uma dissertação. Lembre-se de que a notícia de jornal deve ter um núcleo narrativo. Escolas no Brasil Atualmente, a maioria das escolas do Brasil são uma espécie de gaiolas, isto é, apenas prendem o aluno dentro da sala de aula e o fazem se comportar, pois para os professores é muito mais fácil, porque pra que ensinar se podemos controlar? Pois é, muitos professores e diretores pegam muito no pé de algumas pessoas, que muitas vezes se sentem presos naquela escola, sem poder fazer nada. Nunca poderiam despertar o senso crítico das pessoas, ao menor que seja. Por isso que o país não consegue se desenvolver, criando pessoas como se fossem pássaros amedrontados, que não conseguem voar. Porém, algumas poucas pessoas conseguem aprender a respeitar essas regras, assegurar o seu lugar no futuro e se tornar bem-sucedido,mesmo com todas as adversidades. 5. Outros gêneros Durante todo o curso, você entrou em contato com os mais variados gêneros. Segue considerações sobre alguns gêneros que ainda não foram considerados. 5.1 Manifesto O manifesto é um gênero textual muito próximo da Carta Aberta. Um grupo ou mesmo um indivíduo se vale desse tipo de texto para expressar um ponto de vista contundente diante de uma questão pública que deve atingir um grupo nomeado. Trata-se de uma exposição de um descontentamento ou de algo que o público deveria saber e não sabe. Para entender quais são suas características, vamos considerar um Manifesto publicado pela UNICAMP/ 2012 como acima da média. A proposta era a seguinte: Não reponde: Quando? Onde? O quê? Como? Característica de tese Máscara: Esse é um gênero textual que exige objetividade, ou seja, não se pode deixar marcas de quem produz. A própria estrutura de escrita bastante restrita no que diz a produção do lied garanti isso. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 62 Coloque-se no lugar dos estudantes de uma escola que passou a monitorar as páginas de seus alunos em redes sociais da internet (como o Orkut, o Facebook e o Twitter), após um evento similar aos relatados na matéria reproduzida abaixo. Em função da polêmica provocada pelo monitoramento, você resolve escrever um manifesto e recebe o apoio de vários colegas. Juntos, decidem lê-lo na próxima reunião de pais e professores com a direção da escola. Nesse manifesto, a ser redigido na modalidade oral formal, você deverá necessariamente: • explicitar o evento que motivou a direção da escola a fazer o monitoramento; • declarar e sustentar o que você e seus colegas defendem, convocando pais, professores e alunos a agir em conformidade com o proposto no documento. Segue o texto escolhido. Manifesto à favor da sociedade virtual Nós, estudantes da escola Hélio Cerqueira Leite, estamos aqui, perante pais, professores e também direção, para reivindicarmos nossos direitos em redes sociais! O monitoramento feito pela escola, desde que comentários feitos através do Facebook em relação à baixa produtividade das aulas de matemática foram publicados, não justifica esse controle sobre nossas postagens, que são reflexos de nossa opinião. Por isso, manifestamos para garantir a nossa liberdade virtual. Ou a escola tem poder sobre nós até mesmo quando estamos fora dela? Também temos nossa vida pessoal, e esta inclui nossas opiniões e pensamentos. Alunos, pais e até mesmo vocês, professores, juntem-se a nós por esta causa! Não podemos negar a sociedade virtual tão presente em nosso dia a dia. E quando eu digo “nosso”, é porque sei que não importa a qual grupo você faça parte, certamente está envolvido em redes sociais. Todos nós temos sim, o direito de publicar nossas opiniões virtualmente, sem que alguém nos controle! Os comentários sobre as aulas foram apenas uma maneira que utilizamos para expor algo que pensamos sem dirigir-se diretamente à direção, ou seja, não cometemos nenhum erro a ponto de sermos vigiados virtualmente. Pensem nisso, e logo juntem-se à nós estudantes! A partir desse exemplo, fica fácil entender a estrutura. Título indicativo do gênero Introdução: identificação do grupo e do que se deseja O que motivou a escrita do manifesto Argumento Conclamação ao público Conclusão com resumo do argumento e reafirmação da postura t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 63 O autor deve: ✓ Usar uma linguagem acessível e enfática. ✓ Escolher bons argumentos para sensibilizar o público. ✓ Expressar com firmeza as opiniões. ✓ Organizar muito bem conforme apresentado e exemplificado. É preciso destacar que há pelos menos 3 tipos de manifesto que têm marcas ligeiramente diferentes, embora todos pretendam tornar pública uma ideia. Eles se diferenciam de acordo com a finalidade e área da sociedade que produz ou para a qual é dirigido • Manifesto político: o autor manifesta seu repúdio ou descontentamento com alguma ação política; pode ser também um texto em que se exponha um novo programa de algum grupos social ou partido político. • Manifesto artístico: o autor esclarece os pressupostos estéticos de um grupo, defendendo os novos recursos artísticos utilizados e procurando minar as resistências ao novo tipo de gosto, ou mesmo condenando a estética passada. Trecho do “Manifesto antropofágico” de Oswald de Andrade “Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi or not tupi, that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. Titulo: Identificação do Gênero e menção ao que se deseja ou ao público a que se dirige Introdução: Apresentação de quem se manifesta, e um resumo do que se deseja expressar Desenvolvimento: Explicação do porquê da manifestação e aparesentação de argumentos que justifiquem a postura. Conclamação ao público Conclusão: apresentar o resumo das ideias, solicitando compreensão ou mesmo participação do público. Local, data e assinatura. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 64 Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa. • Manifesto social/cultural: o autor, nesse caso, apresenta temáticas de cunho cultural e/ou social . É comum que se apresente fatos desconhecidos pelo público, proponha reflexões , mudanças ou que se incentive à ação. Exemplo: Manifesto de apoio aos povos indígenas; ou Manifesto a favor da cultura e da educação. Normalmente, acabam tendo implicações políticas, mas não são dirigidas à classe política. Ficha técnica: Manifesto Finalidade: manifestar-se publicamente em relação a algo de interesse público e envolvendo autoridades (opinião, ação institucional, omissão etc), revelando opinião e reivindicação. Sequências discursivas: Trata-se de um gênero no qual predomina o texto opinativo, mas há também sequências discursivas em que se propõe fazer algo, sequências injuntivas. Estrutura: Há uma estrutura formal consagrada: Título identificador : Destaca-se o gênero e apresenta-se a intenção algo como “Manifesto a favor...” Corpo do texto Introdução: O autor (normalmente coletivo) se identifica, aponta o motivo da escrita do Manifesto, enfatizando o problema. Desenvolvimento: exposição da questão em si, apresentação dos motivos que levaram à problematização. No caso de haver revindicação, indicar uma possível ação e defendê-la. Conclusão: encerra o discurso, reiterando o descontentamento e sugerindo ou exigindo soluções. Algumas linhas* abaixo do corpo do texto, o autor se despede com uma expressão curta, “respeitosamente” e assina (no caso do vestibular, isso é feito apondo-se as iniciais). Linguagem: Linguagem formal e respeitosa; uso de expressões que indicam coletivadade, “nós” (isso depende da proposta), apesar de formal o estilo deve ser enfático para empolgar o leitor. Conclama-se a adesão de quem lê o texto. Marcas de Gênero: A própria estrutura fixa da carta e o primeiro parágrafo configuram para o leitor o gênero Manifesto. O título indicativo é outra marca desse gênero. *Nos vestibulares, não é preciso pular linha. Máscara: Nesse gênero a máscara é fundamental. Você é alguém que está indignado com alguma situação, ou, no caso de um Manifesto Artístico, precisa expor com empolgação suanova perspectiva artística. A identificação como pertencente a alguma instituição de luta, ou como alguém que se preocupa com a questão, torna- se essencial para que seu texto fique verossímil. Leia com atenção o comando e t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 65 5.2 Abaixo-assinado Estamos diante de mais um gêneros textual da família dos inconformados, dentre eles podemos relembrar: a carta aberta, o manifesto e, agora o abaixo-assinado. Nem vou gastar muita saliva, ou melhor tinta, para caracterizar esse texto dada a proximidade com o anterior. “Então, o que muda?” você deve estar se perguntando. O parágrafo inicial. Observe um abaixo-assinado publicado pela UNICAMP/2019. Você é um(a) estudante do Ensino Médio na rede pública estadual e soube de um acontecimento revoltante na sua escola: sua professora de Filosofia recebeu ofensas e ameaças anônimas por suposta tentativa de doutrinação política, ao ter iniciado o curso sobre as origens da Cidadania e dos Direitos Humanos modernos com o texto um texto de Teócrito. A direção da escola ainda não se manifestou publicamente sobre o episódio. Indignado(a) com a tentativa de censura que a professora sofreu por propor aos alunos reflexões fundamentais à formação cidadã, você decidiu escrever o texto de um abaixo-assinado encaminhado à direção da escola, em nome dos estudantes, no qual deve: a) reivindicar que a escola se posicione publicamente em defesa da professora; b) reivindicar a manutenção de aulas de Filosofia que tematizem os Direitos Humanos; e c) justificar suas reivindicações. Para tanto, você deve levar em conta tanto o texto acima quanto os excertos abaixo. (Adaptado) O Texto contemplado pela banca foi o seguinte: Abaixo-assinado à direção da Escola Estadual “Liberdade” Prezados Diretor, Venho, em nome de todos os estudantes da Escola Estadual “Liberdade” que assinaram o presente documento, reivindicar o posicionamento público das senhoras e senhores, diretores desta instituição, em defesa da professora de Filosofia do Ensino Médio, vítima de ameaças e ofensas anônimas após nos ministrar o texto “Teócrito e o pensamento”, durante o curso sobre as origens da Cidadania e dos Direitos Humanos modernos. O episódio de intolerância ocorreu sob o viés falacioso de que nossa docente havia nos doutrinado politicamente, ou tentado fazê-lo, após a leitura referida acima. O texto – do filósofo grego Teócrito de Corinto – expressa a importância Título indicativo do gênero Identificação do autor e menção ao abaixo-assinado. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 66 do direito ao pensamento, sendo sua supressão o maior dos crimes e o caminho para a instauração de governos tirânicos e opressores. Desse modo, sob nossa perspectiva, não há qualquer tentativa de “doutrinação”; pelo contrário, a docente ganhou ainda mais admiração por cumprir o papel principal de sua profissão e dos estudos: nos ensinar a pensar de forma autônoma. Além disso, essas aulas permitem o diálogo acerca dos Direitos Humanos, um tema que deve ser conhecido por todos – especialmente na diversa sociedade brasileira – afinal, ele aborda princípios fundamentais relacionados à liberdade, ao respeito e à tolerância, constituindo o pilar para a formação cidadã democrática. Portanto, por meio deste abaixo-assinado, também reivindicamos a manutenção das aulas de Filosofia cujo tema aborda os Direitos Humanos, pois acreditamos que reprimir esse assunto é uma espécie de censura, a qual se opõe à educação vigente em países – desenvolvidos, como a Suécia – cujo viés libertador aborda questões de cidadania, diversidade e educação sexual. Assim como a filósofa Hannah Arendt, valorizamos a ideia de um mundo comum, plural e diverso, capaz de valorizar a liberdade e impedir o totalitarismo e outras opressões; e temos a convicção de que as classes de Filosofia são essenciais para tanto, assim como a atuação da própria escola. Com isso, esperamos que as reivindicações aqui presentes, clamadas pelos estudantes, sejam atendida. Campinas, 10 de novembro de 2019. Sacou? Então, seguem algumas recomendações. Coloque o título que identifica o gênero Vocativo, como em uma carta, para identifica a que autoridade é dirigida Parágrafo inicial: Identificação de quem expressa o descontentamento, destacando que se trata de um abaixo-assinado. (Pode-se começar com "nós abaixo-assinados..) Depois do corpo do texto, local e data, à esquerda. Menção ao gênero Trecho injuntivo (imperativo) como forma de conclusão. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 67 5.3 Palestra O gênero esboço de uma palestra é um texto escrito que vai ser lido ou falado no momento em que a palestra será proferida. Além do conteúdo propriamente dito, é necessário cumprimentar brevemente a plateia, apresentar-se e contextualizar o público sobre o tema que se irá tratar no início da palestra. No final, é preciso agradecer a atenção do público e se despedir. Quanto à linguagem, essa situação de comunicação pede um tom coloquial, mas com uso de linguagem gramaticalmente correta, com vocabulário preciso. Ficha técnica: Abaixo-assinado Finalidade: manifestar-se publicamente em relação a algo de interesse público e envolvendo autoridades (opinião, ação institucional, omissão etc), revelando opinião e reivindicação. Sequências discursivas: Trata-se de um gênero no qual predomina o texto opinativo, mas há também sequências discursivas em que se propõe fazer algo, sequências injuntivas. Estrutura: Há uma estrutura formal consagrada: Título identificador : Destaca-se o gênero “Abaixo-assinado” Vocativo: depois da identificação do gênero, escreve-se a que autoridade se dirige Corpo do texto Introdução: O autor (normalmente coletivo) se identifica, aponta o motivo da escrita do abaixo- assinado, enfatizando o problema. Desenvolvimento: exposição da questão em si, apresentação dos motivos que levaram à problematização. No caso de haver revindicação, indicar uma possível ação e defendê-la. Ao final do corpo do texto, coloca-se local e data à esquerda. Conclusão: encerra o discurso, reiterando o descontentamento e sugerindo ou exigindo soluções. Linguagem: Linguagem formal e respeitosa; uso de expressões que indicam coletivadade, “nós” (isso depende da proposta), apesar de formal o estilo deve ser enfático para empolgar o leitor. Conclama-se a adesão de quem lê o texto. Marcas de Gênero: A própria estrutura fixa da carta e o primeiro parágrafo configuram para o leitor o gênero abaixo- assinado. Vale a pena fazer referência ao gênero no próprio texto, algo como “por meio desse abaixo-assinado). O título indicativo é outra marca desse gênero. *Nos vestibulares, não é preciso pular linha. Máscara: Nesse gênero a máscara é fundamental. Você é alguém que está indignado com alguma situação e escreve em nome de uma coletividade. Leia com atenção o comando e perceba a complexidade da questão. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 68 Tipologia textual Ainda que haja alguma interlocução com o seu público em alguns momentos, como no início e final da palestra, a tipologia textual predominante é a expositiva, na qual você expõe um conjunto de informações sobre a profissão de jornalista de maneira detalhada. Quanto à estrutura do texto, entende-se que ela se compõe de algumas partes: • Cumprimentar a plateia; • Apresentar-se; • Apresentar o objetivo da sua palestra (tese); • Argumentar • Concluir o seu raciocínio e terminar a sua palestra; • Agradecer à plateiae se despedir. Para que você possa compreender melhor, que tal um exemplo? Em 2018, a ÚNICAMP solicitou que o candidato atendesse as seguintes orientações: Você é um estudante do Ensino Médio e foi convidado pelo Grêmio Estudantil para fazer uma palestra aos colegas sobre um fenômeno recente: o da pós-verdade. Leia os textos abaixo e, a partir deles, escreva um texto base para a sua palestra, que será lido em voz alta na íntegra. Seu texto deve conter: a) uma explicação sobre o que é pósverdade e sua relação com as redes sociais; b) alguns exemplos de notícias falsas que circularam nas redes sociais e se tornaram pós-verdade; e c) consequências sociais que a disseminação de pós-verdades pode trazer. Você poderá usar também informações de outras fontes para compor o seu texto. Segue o texto acima da média. Boa tarde, pessoal! Primeiramente gostaria de agradecer ao Grêmio Estudantil pelo convite para dar esta palestra sobre um tema tão atual e importante: o fenômeno da pós- verdade. Certamente vocês já ouviram esse termo, não é mesmo? A pós-verdade foi eleita a palavra do ano de 2016 pela Universidade de Oxford e refere-se à tendência de as pessoas darem mais credibilidade a boatos do que a fontes confiáveis de informação. Vocês se lembram da máxima “Penso, logo existo” do filósofo Descartes? O fenômeno da pós-verdade parece tê-lo transformado em “Acredito, logo estou certo”. Percebem? Nessa nova situação, nós acreditamos naquilo que queremos, independentemente de ser verdade ou mentira. Nesse contexto, as redes sociais têm um papel muito “Facebook”, “Twitter” e “Whatsapp” são meios de comunicação nos quais os boatos se proliferam muito rapidamente e, assim, as informações falsas importante. ganham um enorme alcance e legitimidade. Imaginem que o seu melhor amigo compartilhou alguma Cumprimento informal (“pessoal”) Interlocução com o público e identificação de quem fala Interlocução com o Grêmio Argumentação t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 69 notícia falsa no “feed” de notícias dele. Vocês acreditariam na informação? Provavelmente sim, já que há uma relação de confiança entre vocês. Além disso, sabiam que o “Facebook” utiliza algoritmos para fornecer-lhes informações que confirmam o seu ponto de vista? Assim, forma-se uma bolha, na qual as pessoas são expostas apenas às informações nas quais já acreditam. (...) Máscara: Situação de interlocução Ficha técnica: Esboço de Palestra (ou também de discurso de formatura) Finalidade: Apresentar alguma uma opinião que deverá ser apresentada oralmente. Sequências discursivas: Trata-se de um gênero no qual predomina o texto opinativo. Estrutura: Há uma estrutura formal consagrada: Congratulações: Apresentar-se e também ao tema que se desenvolvido Desenvolvimento: apresenta os argumentos que o levaram a defender a tese apresentada. Conclusão: resumo das principais. Agradecimento. Linguagem: Marcas da linguagem informal, mas obedecendo às regras da língua padrão; interlocução constante com diálogo eu-tu; uso de perguntas. Marcas de Gênero: A própria interlocução e a apresentação que inclui o diálogo com a plateia já configuram o gênero. Máscara: Nesse gênero a máscara é fundamental. Como exemplo, pense nas perguntas que você deveria fazer para escrever a palestra citadas: Quem é você? O aluno de uma escola. Para que você escreve? Para ser apresentado em uma palestra sobre a profissão de jornalista em uma feira de profissões. Para quem você escreve? Para o público que comparece a uma feira de profissões: alunos, seus pais, professores. Quem o convidou? O Grêmio Estudantil Todas essas informações apareceram no texto. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 70 6.Propostas de Redação Eu escolhi duas propostas para que você possa exercitar o que foi discutido neste pdf. São dois artigos de opinião, sendo que o segundo permite uma abordagem contra-argumentativa. Bons textos Proposta 1 Autoral Modelo UFPR O texto a seguir é um artigo de opinião do filósofo Luiz Felipe Pondé, no qual ele discute a relação entre educação, novas teorias pedagógicas e marketing. Escreva um texto argumentativo posicionando-se em relação à tese principal do autor. O seu texto deve: ter de 10 a 12 linhas; explicitar em linhas gerais as ideias de Pondé; assumir uma posição contra ou a favor dela, contrapondo argumentos se for contra, ou reforçando os já apresentados se for a favor. Instituições de ensino são espécie de oficinas profissionais, que fingem ser uma plataforma de diversão semelhante à Netflix Na mesma medida em que muitas teorias pedagógicas modernas falam que a escola e a universidade devem ter o aluno como centro —e não o professor, como se uma coisa excluísse a outra—, essa posição, na verdade, coloca o estudante como um chimpanzé que fica no centro de um zoológico. E essa é umas das experiências mais difíceis de serem vistas. Precisamos prestar mais atenção no fato de o marketing, pouco a pouco, se transformar na ciência primeira —como Aristóteles falava da ontologia, a ciência do ser. O que isso quer dizer? Depois volto ao chimpanzé como centro do zoológico como analogia do aluno na escola. Dizer que o marketing se transforma na ciência primeira é constatar que suas narrativas determinam todo o resto do pensamento e da ação. Por consequência, influenciam na maneira como vemos o mundo, o que devemos fazer nele e o que valoramos nele. Tomar o marketing como ciência primeira é ver os alunos como um produto, fingindo que os enxergamos como um valor em si. O estudante deve ser formado apenas para as demandas do mercado, mesmo que empacotemos esse discurso com termos como “integração socioemocional”. t.me/CursosDesignTelegramhub https://agora.folha.uol.com.br/sao-paulo/2020/12/escolas-fazem-campanhas-divertidas-nas-redes-sociais-para-atrair-alunos.shtml https://agora.folha.uol.com.br/sao-paulo/2020/12/escolas-fazem-campanhas-divertidas-nas-redes-sociais-para-atrair-alunos.shtml ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 71 O grande truque é dizer que queremos atender a esses jovens que precisam escolher o que querem da vida. Essa máxima é uma mentira, pelo menos em dois níveis distintos, mas relacionados entre si. No primeiro, os jovens pouco sabem o que querem, mas devem escolher a sua profissão quando ainda não conhecem quase nada. O mito da informação em crescimento como índice de autonomia é uma das falácias que compõem a grande farsa do progresso moral da humanidade moderna. Não há progresso moral nenhum. (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde) Proposta 2 Na escola em que você estuda, durante quinze dias, o termo “cringe” circulou entre os alunos provocando risos e um pouco de confusão. Depois de uma discussão sobre o significado das gerações e seus posicionamentos na aula de Sociologia, você se dispôs a escrever um artigo de opinião que será postado no site da escola. Nele você deve: a) Situar a situação que gerou o texto. b) Apresentar uma opinião crítica sobre o termo “cringe” em contraposição à situação dos jovens no Brasil e à tradição dos movimentos juvenis. Para redigir seu texto, leve em conta os excertos apresentados a seguir. 1. O Brasil tem ¼ de sua população formada por jovens. São 50, 5 milhões de brasileiros na faixa etária entre 15 e 29 anos (dados do IBGE). Nunca tivemos e, conforme apontam estudos demográficos (se a tendência se mantiver) não teremos no futuro, tantos jovens como hoje. Esses dados seriam extremamente positivos se o país estivesse preparado para dar educação, qualificação profissional e empregos para todos. Infelizmente,a realidade é outra: quase metade dos desempregados do país é jovem (IBGE); 1/5 deles já tem filhos e, em média, ganham menos da metade do que ganham os adultos. Falta acesso ao ensino médio e profissionalizante e, em consequência disso, faltam empregos e segurança. Dados do Ministério da Saúde mostram que 70% da causa de morte nesta faixa etária é em função da violência (homicídios), de acidentes no trânsito e de suicídio, portanto causas externas evitáveis. https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=281080 2. A partir da década de 1960, intensas manifestações culturais e políticas juvenis indicavam que o papel do jovem começava a ter outro lugar. Nesse período, podemos destacar a ação do movimento hippie, que se contrapôs aos valores morais de sua época pregando ideais de “paz e amor”, criticando a sociedade de consumo e realizando intensa oposição à Guerra do Vietnã. Embalados pelo prazer, o uso de alucinógenos e o rock’n’roll mostraram o novo lugar da juventude. Com o esvaziamento desse primeiro movimento, a geração hippie deu lugar a uma juventude mais conservadora que não mais se simpatizava com a ação transgressora da geração anterior. Os chamados yuppies da década de 1980, mediante a expansão do capitalismo e a competitividade do mercado de trabalho, começaram a estudar cada vez mais cedo, buscando uma carreira profissional proeminente t.me/CursosDesignTelegramhub https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=281080 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 72 acompanhada do tão sonhado conforto material. A consolidação de um mundo cada vez mais integrado pelo processo de globalização provocou uma nova onda de movimentos juvenis que se colocam contra a própria sociedade que o exclui. O movimento punk é um claro exemplo de ação juvenil calcada pela crítica de um sistema que visa padronizar comportamentos em torno de um mundo cada vez mais atrelado aos resultados imediatos e à eficiência. Em contrapartida, essa reação à globalização também trouxe outras consequências. https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/sociologia-juventude.htm 3. O que significa ‘cringe’? Entenda a expressão que viralizou na internet Cringe, Millenials, Geração Z: difícil alguém que não tenha se deparado com alguma dessas expressões nos últimos dias. Nas redes sociais, o assunto tem gerado memes, testes e até reflexões sobre os conflitos e diferenças intergeracionais. No Brasil, a repercussão do termo “cringe” aumentou depois que a podcaster Carol Rocha publicou, no Twitter, uma pergunta sobre o que os jovens da Geração Z “acham um mico” nos Millenials. Na sequência, ela comentou: “(acho q falar mico já passou, é cringe ne)”. Não demorou para que os usuários povoassem a internet com as respostas. Alguns comentaram que gostar de Disney, usar emojis, tomar café da manhã, usar peças como calça skinny ou sapatilha de bico redondo, pentear o cabelo repartido para o lado e até usar a palavra “boleto” eram típicos exemplos de atitudes “cringes”. Mas o que significa essa expressão? O termo tem origem inglesa e é utilizado como uma gíria para se referir aos momentos em que as pessoas passam por situações desconfortáveis e constrangedoras. Nas redes sociais, inclusive, a palavra é bastante usada, significando algo como “vergonhoso”, em tradução livre. Para além do uso e do significado da expressão, a grande reflexão que o assunto tem gerado envolve as diferenças entre as gerações Milennials e Z. Em termos práticos, pessoas nascidas entre as décadas de 1980 e 1990 são definidas como “Millennials” ou “Geração Y”. À luz da Sociologia, o conceito fica ainda mais específico, abarcando quem nasce entre o início da década de 1980 até, aproximadamente, o final do século. Por sua vez, quem faz parte da “Geração Z” — também denominada “GenZ”, “pós-Millennials”, entre outros termos — são aqueles nascidos entre 1995 e 2010, os também chamados “nativos digitais”, uma vez terem nascido já imersos na tecnologia e na internet. https://www.istoedinheiro.com.br/o-que-significa-cringe-entenda-a-expressao-que-viralizou-na- internet/ 6.1Propostas comentadas Proposta 1 Comentário Esta proposta é simples, pois trata-se de um gênero bem conhecido pelos vestibulandos, “o artigo de opinião”. A situação de interlocução não é complexa, tampouco. Os alunos ficaram alvoroçados, como muita gente no Brasil, com o modismo passageiro de se discutir o que é “cringe”. t.me/CursosDesignTelegramhub https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/sociologia-juventude.htm ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 73 Lembrar dessa circunstância seria muito importante em vista do que se pede e do que é próprio desse gênero. Nas instruções está claro no item “a” que o artigo deve fazer referência ao episódio que levou à escrita do artigo. Rigorosamente, não era preciso tal indicação. Um artigo de opinião normalmente se inicia com o relato do motivo que levou à escrita do texto. Gênero Ficha técnica: Artigo de opinião Finalidade: Apresentar alguma uma opinião que será publicada em algum tipo de veículo de informação: jornal, blog, revista eletrôncia etc. Sequências discursivas: Trata-se de um gênero no qual predomina o texto opinativo. Estrutura: Há uma estrutura formal consagrada: Introdução: o autor apresenta o tema e tese. Desenvolvimento: apresenta os argumentos que o levaram a concordar ou discordar da ação ou do texto. Conclusão: parágrafo curto em que reitera sua forma de pensar. Título: necessário. Linguagem: Linguagem formal e respeitosa; uso do “eu”. Marcas de Gênero: O artigo de opinião tem título e o primeiro parágrafo, com o uso do eu e a configuração de uma ideia a ser defendida deixa claro de que gênero se trata. Alguma técnica especial? Capacidade de relacionar argumentos de forma coerente. É muito clara a proximidade entre artigo de opinião e dissertação, e, de fato, podemos dizer que o gênero artigo é a concretização no cotidiano do que escrevemos na escola como dissertação. Em todo caso, há algumas sutis diferenças que estão expostas no quadro abaixo. Artigo de opinião Dissertação - O uso da primeira pessoa é desejável e possível - O uso da primeira pessoa do singular deve ser evitado - Certa medida de pessoalidade - objetividade - Uso de recursos retóricos - Uso de recursos argumentativos objetivos - Interlocutor específico - Interlocutor universal -Estrutura: introdução, desenvolvimento conclusão -Estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão -Há três formas de introdução: - Introdução generalizante expondo o problema que será discutido. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 74 lançando uma tese, ambientando os fatos e dando um definição do assunto. Coletânea de textos Para ajudar a compor o texto, foram apresentados três textos. No primeiro, era possível encontrar alguns dados bastante desanimadores em relação ao jovem brasileiro entre 15 e 29 anos. O número absoluto de jovens é o mais elevado alcançado pelo país, mas eles não têm tido oportunidade no mercado de trabalho. Constituem quase metade dos desempregados, ganham metade do salário de um adulto e boa parte não tem acesso à educação de qualidade. Isso faz lembrar a geração nem-nem, título dado para aqueles que nem trabalham, nem estudam. Lógico que esse texto lança uma outra luz, um tanto quanto sinistra, sobre a brincadeira do que deve ser “cringe” ou não. A esse olhar econômico-social sobre a dita geração “Z” soma-se o questionamento sobre o papel social que esses jovens podem ter, quando se lê o segundo texto da coletânea. Nele, discute-se o papel ativo da juventude para as mudanças sociais a partir da década de 60. Aquilo que ficou conhecido como movimento de rebeldia da juventude parece ser coisa do passado, já que a oposição entreuma e outra geração se dá no plano de gostos pessoais que não revelam qualquer senso crítico mais profundo ou desejo de mudança. Por fim, o último texto, com teor didático, explica o sentido da palavra. Ela se aplica aos costumes da geração anterior que a nova acredita ser vergonhoso, dentre eles: “gostar de Disney, usar emojis, tomar café da manhã, usar peças como calça skinny ou sapatilha de bico redondo, pentear o cabelo repartido para o lado e até usar a palavra “boleto”. A definição do que seria geração “Z”, os nativos digitais, dá algumas pistas da causa de uma rivalidade tão trivial, afinal, essa geração parece estar totalmente enfronhada no mundo virtual no qual os horizontes de crítica não são tão largos. Teses e possíveis encaminhamentos Trata-se de um artigo de opinião, e, nesse caso, a tese deve manifestar uma visão crítica opinativa clara. No item “b”, pedia-se que se considerasse a discussão à luz do que foi apresentado nos textos 1 e 2. Isso é importante, devem-se contemplar as duas ideias. Ao se fazer isso, dificilmente seria possível louvar de alguma forma esse tipo de discussão. Seguem-se alguns tipos de teses possíveis, dentre outras. A discussão sobre quem é cringe mostra a alienação de jovens que estão excluídos do mundo do trabalho e não encontram condições de protestar como fizeram as gerações passadas. Esse perfil da geração Z propagada pelas mídias parece uma espécie de véu para encobrir o pouco espaço político que deixaram para esses jovens e a exclusão a que a geração mais velha os relegou. A forma descontraída de se contrapor às gerações passadas é uma forma bem-humorada para lidar com a exclusão econômica e a falta de engajamento político. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 75 Proposta 2 Comentário. Esse tipo de texto deve ter a estrutura de uma dissertação de forma geral, e mais especificamente um artigo de opinião. Bom lembrar quais seriam os critérios para correção desse texto. Apreensão do tema: indicação do problema e manifestação clara da tese a ser defendida (pontuação máxima 3,333) Apresentação das partes principais do texto: Estrutura do texto, posicionamento e justificativa da argumentação (pontuação máxima 8,3333). Emprego de recursos discursivos: gênero, coerência, adequação lexical, respeitos às normas de escrita ( pontuação máxima 8,3333). Gênero O tipo de texto é o dissertativo-argumentativo. Não é preciso título. Deve ter de 2 a 3 parágrafos. O autor do texto original usou a terceira pessoa. Seria mais apropriado o uso da mesma pessoa como uma espécie de resposta. Observe o comando. É preciso explicitar como se fosse uma introdução as ideias de Pondé. Seu posicionamento deve ficar claro. Apresente um ou dois argumentos que sustentem sua opinião. Apresentação do tema Para se perceber qual é a polêmica, deve-se fazer uma leitura atenta do texto do Pondé. Ele parte de uma espécie de mantra da educação que é tido como verdadeiro: o aluno deve ser o centro do aprendizado. Para o autor, essa frase, que aparentemente expressa preocupação pedagógica, simplesmente esconde o fato de que a educação se tornou mercadoria e, portanto, os pedagogos estão tratando os jovens como clientes a serem satisfeitos. Esse resumo ainda é longo. Para dar uma opinião, seria melhor simplificar a questão em forma de pergunta a ser respondida. Poderíamos pensar em algumas opções: - É válida a afirmação de que “ a escola e a universidade devem ter o aluno como centro”? - Tal afirmação é simplesmente uma frase de marketing? - O aluno não tem autonomia para ser o centro do ensino, até que ponto isso é verdade? Agora fica mais fácil pensar em posicionamento e também escolher as ideias do Pondé que devem ser explicitadas logo no começo do texto. Há duas maneiras de se começar o texto. t.me/CursosDesignTelegramhub https://agora.folha.uol.com.br/sao-paulo/2020/12/escolas-fazem-campanhas-divertidas-nas-redes-sociais-para-atrair-alunos.shtml ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 76 Na primeira, menciona-se o filósofo, o que ele disse e quando. Algo como: “Num artigo de opinião publicado na Folha de São Paulo, o filósofo Luíz Felipe Pondé colocava em xeque a tese pedagógica de que...” A outra forma, mais direta, consiste em apresentar as ideias como se fossem de circulação geral e conhecida por todos. É comum ouvir em entrevistas sobre educação que o aluno deveria ser o protagonista. Alguns atribuem a essa frase a intenção implícita de transformar alunos em clientes... O importante nesse primeiro momento é selecionar as informações com as quais você irá dialogar. Apresentação das partes principais do texto Depois da apresentação das ideias do Pondé, segue-se a tese, que deve ser clara e, também objetiva. Você concorda com a crítica de Pondé? Sim ou não. Depois de responder para você mesmo, você deve achar uma estratégia para deixar claro para o leitor o seu ponto de vista. No caso da estratégia de ter mencionado o filósofo e ter feito um resumo das ideias dele, basta uma frase dizendo: “Analisando os fatos, o filósofo tem razão (ou não tem razão)”. Devem-se escolher argumentos que sejam claros e de fácil exposição. Seguem-se dois exemplos, entre outros. Pondé tem razão. Uma possibilidade é explorar a ideia de que o aluno não é autônomo, como o próprio filósofo sugere, mas não explora. Considerar o aluno como quem deve determinar o ritmo da aula significa infantilizar o processo de aprendizado. Todo processo de aprendizado parte do pressuposto do encontro desigual de alguém experiente com alguém que precisa conhecer o mundo. É dessa diferença e das exigências dessa relação que o duro processo de amadurecimento ocorre. Pondé não tem razão. Uma das possibilidades para afirmar isso é destacar o erro que ele comete ao vincular esse pressuposto pedagógico ao marketing. Não é porque o mercado de educação use de forma conveniente, mas não verdadeira, essa ideia, que ela seja falsa. O que se propõe é não deixar que o aluno estabeleça o ritmo de aprendizado, mas que o professor pense em como estimular o aluno, ajudando-o a conseguir as respostas. Emprego de recursos discursivos Esse tópico é um velho conhecido. Trata-se de se valer de uma linguagem formal, buscando objetividade. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 77 Professor Fernando Andrade 7. Considerações finais Chegamos ao final desse pdf. Estou à disposição no Fórum e você tem correções ilimitadas. Aproveite todo esse apoio que oferecemos a você. Conte conosco. Boas redações, qualquer coisa conte comigo. Estou no fórum de dúvidas. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gêneros Modelares AULA 01 – Gêneros Modelares 78 t.me/CursosDesignTelegramhub